14. She’s Not Afraid

Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Era uma tarde chuvosa de Novembro, meus filhos corriam pela casa enquanto eu, inultimente, os mandava para o banho, a tia deles iria chegar, com o marido, em meia hora para levá-los ao parque da cidade. Cansei de gritar e fui para o quarto, era complicado estar sozinho com eles, sem a minha mulher. Peguei uma caixa que tinha vários álbuns da época da universidade, talvez minha irmã fosse gostar de relembrar aqueles dias loucos. Me deparei com a foto de uma menina sorrindo, usava um vestido azul marinho, colado, cabelo solto e batom vermelho, era minha melhor amiga, . Ao seu lado, o rapaz usava uma blusa vermelha de manga curta, uma calça jeans, all star, o cabelo meio bagunçado e a barba por fazer.

~*~


- Você é uma egoísta, . É exaustivo pra porra amar você, porque eu não acho que você saiba amar alguma coisa. - falou e saiu do meu apartamento, batendo a porta com uma força desnecessária. Eu queria ir atrás dele. Queria dizer tudo o que estava preso na minha garganta, mas o meu corpo parecia não obedecer aos meus pedidos. Trovões e raios invadiram os céus, e eu apenas sentei no chão e chorei, enquanto a chuva se iniciava. Eu o tinha perdido. Eu tinha perdido o único cara que se importou comigo. Eu tinha perdido o único homem que me amou assim como eu o amava. Tudo isso simplesmente por nunca ter conseguido dizer aquelas três palavras. Tudo isso por medo dele quebrar meu coração. Tudo isso por ter medo dele ir embora assim que eu dissesse. E ele realmente tinha ido, mesmo sem nunca ter escutado um "eu te amo" da minha parte. Escutei o soar da campainha e me levantei imediatamente, ele tinha voltado.
- ... ?
- Que porra aconteceu com você? - não precisei responder, me joguei nos braços do meu melhor amigo, com as lágrimas tomando conta do meu ser.
- Ele foi embora, .
- ?
- Ele bateu a porta e não voltou.
~*~


era minha melhor amiga e eu só a descrevo em duas palavras: porra louca. nunca gostou de ser presa, sempre foi da vida, da liberdade. Ia para os bares com a galera, falava dez palavrões a cada dez palavras ditas, tinha um fascínio enorme por carros, adorava futebol e fazia contas com uma rapidez impressionante. Se fosse uma musica, dizia, sem sombra de dúvidas, que era inspirada em "Natasha" do Capital. Mas nem sempre foi assim. Ela já chegou a ser uma garota doce e gentil. Até que um filho da puta entrou na sua vida e acabou com a menininha que eu conheci. A menina doce, frágil e ingênua entregou o coração ao primeiro babaca que apareceu. entregou-se a com uma rapidez impressionante e, por conta disso, fez a maior besteira que poderia fazer. Aos 14 anos perdeu sua virgindade com ele. Dois dias depois, o filho da puta a chamou de vadia e terminou tudo o que eles tinham. Ao invés dela se fechar, ela mudou. E mudou para caralho. Saiu de casa com 16 anos, no mesmo ano que entrou na universidade, começou a dividir o apartamento comigo, pintou os cabelos loiros, de vermelho, e nunca mais se permitiu amar. não era mais a menininha que todos estavam acostumados, mas, para mim, continuava sendo uma criança na madrugada. Sua maquiagem, suas tatuagens e o clássico batom vermelho eram como uma espécie de proteção para aquele coração tão judiado. Só que aí, o chegou. Chegou e, com seu ar de estudante de humanas, conseguiu despertar em muito mais do que a vontade de ter só mais um cara, no final da noite, em sua cama. Ele mexeu com a cabeça dela mais do que aquelas fórmulas horrendas que o curso de engenharia fazia. Foi a primeira vez que vi me pedir conselhos sobre um cara. Foi a primeira vez, depois de anos, que a vi sorrir com uma mensagem e ficar puta da vida com a falta da mesma. Foi a primeira vez que a vi trocar uma balada por uma ida ao cinema, trocar um barzinho no final da aula para comer em algum restaurante. Foi a primeira vez que a vi amar alguém, mesmo nem ela sendo capaz de perceber isso.

~*~


- , por que ele saiu daqui?
- Ele pediu para namorar comigo, disse que me amava e que queria me ter para sempre.
- E o que você disse?
- Que não queria namorar com ele e que nada era para sempre.
- Você é louca, porra? O é doido por você.
- Ele foi embora.
- Você queria que ele ainda estivesse aqui? Puta que pariu, ele tá há seis meses com você e a única coisa que você sabe dizer pra mim sobre ele é que é só sexo. Não é só sexo, porque ele mexe com a tua cabeça, não é só sexo, porque ele faz esse teu coração de merda bater mais forte. Não é só sexo, pelo simples motivo de que você ama ele. Você é burra? Puta que pariu, garota.
- ...
- é o caralho. Você não percebe que só está se afogando na merda? Você quer passar o resto da sua vida sendo a garota que transa e no outro dia nem lembra o nome do cara, que quebra os corações dos coitadinhos da universidade, a que parece ser inabalável, mas na realidade é só alguem frágil procurando por um refúgio? , tá na hora de parar com a procura e se fixar. O é o teu refúgio. O te ama e, se aguentou esse teu modo de vida, ele não é um cara qualquer.
- O que você espera que eu faça?
- Corre atrás daquilo que te faz feliz. Não deixa ele sair da tua vida de verdade. Ele não vai quebrar o teu coração, você mesma já está fazendo isso.
- Não vou saber o que falar para ele. Parece que tudo some quando eu estou perto dele.
- Arranja um jeito. - falou e, como se fosse óbvio, corri para o meu quarto e me tranquei ali. - Onde você vai às oito da noite, nessa chuva? - perguntou assim que escutou o barulho da porta.
- Vou atrás do .
- Você é muito louca, né, porra? A chuva tá forte e já é noite.
- Eu não vou mais esperar, . - Respondi e sai.
Saí de casa sem um pingo de dinheiro, então tive que andar cinco quadras embaixo da chuva monstruosa, até chegar em frente ao prédio de lajotinhas vermelhas que eu conhecia bem. Ivan nem se incomodou em anunciar minha subida, ele já me conhecia. Entrei no elevador e apertei o doze, em segundos eu já estava na porta do apartamento 1012, e com a porcaria daquela maldita dúvida martelando minha cabeça, "será que devo entrar ou não?". Mas meu impulso foi mais forte, meu dedo começou a apertar freneticamente aquele pequeno botão branco. Em segundos, ele abriu a porta com uma expressão de raiva, mas, assim que me viu, sua expressão ficou confusa. Como se ele fosse um mistério que eu não conseguia decifrar.
- O que você está fazendo aqui? Aliás, por que a tua maquiagem tá toda borrada, teu cabelo tá um negócio estranho... Você estava na chuva, ?
- Estava.
- Você é doente, porra? Você não sabe que tem problemas respiratórios? Esqueceu do dia que fomos para a praia à noite?
- Não. Eu fiquei espirrando a noite toda.
- Você não me deixou dormir. - Falou e a minha risada foi acompanhada pela sua, mas logo ficamos em silêncio. - Enfim, o que você está fazendo aqui?
- Quer a verdade?
- Por favor.
- Eu não sei. - Respondi e ele fechou a cara.
- Imaginei que não soubesse. Vai querer que eu chame um táxi para você voltar?
- Por que você está me tratando assim?
- Isso não é nem o terço que você fez comigo. Aliás, nós acabamos.
- Nós não acabamos. - Respondi firme e rápido, e ele deu uma risada irônica. - Isso é para você. - Falei e estendi o papel que estava no fundo do meu bolso, por sorte não estava tão molhado.
- Uma carta?
- Só lê essa porra.

"Meu anjo.
Chega até ser agoniante ter que te escrever algumas palavras para conseguir, ao menos, dizer o que eu realmente sinto por ti. Me desculpa, mas eu não sei. Não sei por onde começar, como continuar ou até mesmo como finalizar isso daqui. Mas uma certa pessoa disse que quando queremos uma coisa, devemos insistir até o último instante e é isso que estou tentando fazer. Insistindo mesmo quando parece que eu vou falhar. E eu estou querendo que você insista no seu erro também.
. Por que você apareceu? Por que você insistiu em mim? Por que você me quis mesmo sabendo que eu era uma filha da puta e nunca seria merecedora do que tens para me dar? Por que você não foi capaz de só transar comigo naquela noite e me deixar desaparecer na manhã seguinte? Volto a perguntar, por que você insistiu em mim?
Eu tô acostumada a ter pouco, . Não que isso seja uma desculpa para os meus atos, mas eu já amei alguém. E eu me fodi lindamente por isso. Então eu me tornei nessa merda de pessoa que eu sou. E acabei me acostumando a ser assim, uma porra louca, como costuma dizer. Eu me acostumei a não ter ninguém para dormir junto todas as noites, a acordar sem um rosto ao meu lado, me acostumei a ser sozinha. Só que você apareceu e fez com que tudo que eu estava acostumada, desaparecesse. Você chegou e fez, o que eu jurei nunca mais fazer, acontecer. Você fez eu gostar de estar com alguém, você fez eu começar a escutar folk, você fez com que eu trocasse o bar por um restaurante de comida japonesa, você fez com que eu saísse da balada e fosse para uma sala de cinema. Você fez com que eu passasse de impulso mal pensado, para uma menina que pensasse em cada ação. Você fez com que uma garota com mágoas do passado, voltasse a acreditar, a ter fé no amor.
Sim, é isso mesmo. Amor. É esse negócio complicado que, às vezes, dói e, no instante seguinte, te faz querer beijar a pessoa e não sair de perto dela nunca. Você conseguiu trazer de volta aquelas malditas borboletas no estômago, você conseguiu me deixar sem fala, você conseguiu fazer com que eu te amasse. Ah, merda. É isso mesmo, eu te amo pra caralho. Eu te amo mais do que um dia eu sonhei que poderia amar alguém. E a cada dia que passa, esse sentimento só cresce, porque dentre todos os meus erros, você foi o meu único acerto."


pareceu ler a carta várias vezes, como se não acreditasse que eu pudesse ter escrito aquilo. Como se não acreditasse que, pela primeira vez, eu despejasse meus sentimentos para alguém. Era perturbador e reconfortante ao mesmo tempo falar sobre o que se passava dentro de mim, aliás, eu só era uma garota filha da puta procurando por paz de espírito. E eu tinha encontrado aquela paz. Aquela tal paz tinha nome, sobrenome, um par de olhos pretos, cabelo cor de mel, em crescimento, sobrancelha grossa, barba por fazer, e estava bem na minha frente.
- Só me responde uma coisa. - Quebrou o silêncio depois de longos minutos, que pareceram horas.
- O quê?
- Isso tudo é verdade?
- Cada palavra.
- Então diz. - Falou e pegou nos meus ombros. - Diz, . Diz que você me ama e que me quer ao teu lado independente de qualquer coisa.
- ... - sussurrei e malditas lágrimas começaram a sair, era muito mais fácil escrever do que falar. Era muito mais fácil ele ler do que escutar.
- Você sabe o que sente, porra! - gritou e o nó na minha garganta só crescia. sacudiu meus ombros e eu pude ver a dor estampada nas suas íris, eu queria tanto que ele percebesse o pânico estampado nas minhas. - Do que você tem medo?
- Eu tenho medo de... - não consegui terminar. tirou as mãos dos meus ombros, passou pelos cabelos freneticamente e eu o vi chorar. Ele parecia frustado, irritado e, acima de tudo, machucado. pegou o vaso de cima da mesa e jogou na parede. - ...
- Eu só quero que isso dê certo. Mas você faz parecer que tudo isso é um erro, você faz parecer que toda a minha luta vai ser ou já foi em vão. - Gritou e cada palavra me perfurava. Ficamos calados e a única coisa que podia ser escutada era o som da nossa respiração acelerada. foi para a porta e, eu sabia que se ele abrisse aquela porra e me mandasse embora, eu nunca mais voltaria.
- Eu te amo. - Sussurrei e ele me olhou rapidamente.
- O que você disse?
- Que eu te amo, porra. Eu te amo e pra caralho. Eu pensei que pudesse ficar sem você, que tudo seria só sexo, que nada do nosso relacionamento iria me afetar e eu já estava planejando ir embora, simplesmente, porque eu pensei que nada iria durar. Mas você fez questão de mudar tudo. Você fez com que não fosse só sexo, você fez com que eu me sentisse uma pessoa melhor com sua presença. Caralho, você leu Romeu e Julieta para mim. Você foi a única pessoa que eu tive a paciência de ensinar a fórmula que estava escrito na minha apostila. Você é a única pessoa que entende meu fascínio por carros.
- ...
- Você foi o único que me desejou do jeito que eu sou. O único que fez questão de me ter ao seu lado. E é o único que eu realmente quis ter bem mais que uma transa.
sorriu, de canto, e me puxou fortemente pela cintura, fazendo com que o nossos corpos se juntassem, segurou minha nuca e eu passei meus braços pelo seu pescoço, em segundos nossas línguas estavam em uma batalha que não iria ter vencedor. Nós éramos como um quebra cabeça, duas pessoas totalmente diferentes se juntando para formar a correta, eramos o côncavo e convexo.
- Eu só vou te perguntar mais uma vez. - Falou ao grudar sua testa na minha.
- O quê?
- Você aceita namorar comigo?
- ... Eu sou toda errada.
- Você aceita ou não aceita?
- Aceito. - Respondi e pude ver seu rosto se iluminar. puxou meu lábio inferior e, em segundos, nós estávamos entregues a outro beijo. Suas mãos percorriam todo o meu corpo e as minhas faziam o mesmo percurso pelo seu, logo nossas roupas estavam jogadas em qualquer canto da sala de estar e, como se já fosse a nossa sina, nós éramos um do outro.
- ? - perguntou enquanto eu me aninhava em seu corpo no sofá.
- O quê?
- Você é o melhor erro que eu já cometi.

~*~


Não vou dizer que e eram um exemplo de casal. Eles eram loucos, cometiam tantas loucuras que chegava a fazer inveja para aqueles que se diziam sãos. Eles podiam não ser um exemplo de casal, mas eram um exemplo de amor. Aquele amor que enfrenta tudo e que nunca desiste, independente da circunstância. O cara que tinha medo que só quebrasse o coração da menina que não tinha medo de nada, se tornou marido. E eles estavam juntos há sete anos. casou em uma igrejinha, com poucos convidados, a cerimônia foi linda, a lua de mel dos dois foi um mochilão pela Europa, que durou cinco meses. agora era professor de História Geral na universidade e era uma engenheira mecânica conhecida, trabalhava em uma grande marca de carro (e era dona de um carro de dar inveja). Os dois juntos tinham dinheiro pra caralho, mas viviam em uma simplicidade de dar inveja. Minha irmã, melhor amiga, agora mãe, eles tiveram uma menina linda, chamada Alice. E agora eles estavam a caminho da minha casa para buscar João e Fernanda.
Saí do quarto ao escutar a campainha tocar, atendi a porta e lá estava minha melhor amiga, que na realidade era irmã, e com a menina no colo. Entraram sem cerimônia, aliás, eles eram de casa.
- Cadê os dois, ?
- Devem estar se arrumando ou brigando.
- Papai, eu quero brincar com meus primos! - Alice ordenou e a colocou no chão.
- , se essa menina cair, você vai juntar entendeu?
- Eu tenho culpa dela ser igual a você e tropeçar na sombra? A filha é sua.
- Ah, é. Eu fiz sozinha, com o dedo, né, palhaço? - perguntou e riu, alto, roubando um beijo, ri junto, aqueles dois não mudavam nunca.
- Olhem o que eu achei. - Falei e dei a fotografia para .
- Caralho, isso faz muito tempo.
- Faz mesmo. - concordou, pegando a foto da mão do marido. - Mas parece que algumas coisas não mudaram em nada.
E ela tinha razão. Tem coisas que não mudam nunca e nós éramos a prova viva daquilo. Minha amizade com ela só cresceu, o amor dos dois também. Mas o cabelo bagunçado do junto de sua barba por fazer continuaram, assim como o batom vermelho, inseparável, dela.




Fim



Nota da autora: Sem nota.



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