Capítulo Único
Os longos fios de estavam espalhados pelos travesseiros brancos. O cheiro característico do perfume floral da mulher dominava todo o cômodo e a sua respiração era suave. Seu semblante era calmo e a forma que ela dormia, era o mais perto que a imaginação de tinha, do que poderia ser um anjo. Tinham acabado de ter uma das noites mais incríveis de todas as suas vidas. O cenário estava realmente perfeito, a não ser por aquele detalhe brilhante no dedo anelar esquerdo da mulher. O anel de diamantes de mais ou menos dois quilates chamava a atenção onde quer que ela fosse, e com a mão repousada sobre o peito dele, parecia que poderia cegá-lo a qualquer momento.
― . ― O homem sentiu a visão ficar meramente confusa quando escutou uma voz ao longe chamando seu nome. ― Amorim, acorda! ― A voz masculina estava mais perto e a visão tinha sumido totalmente dos olhos de e estava tudo escuro.
Ao abrir os olhos, sentiu a retina ardendo um pouco, pela claridade que entrou pelo quarto, quando a cortina foi bruscamente aberta. Lá estava ele, com as mesmas roupas do dia anterior, atravessado no meio da cama e com a maior dor no pescoço que ele já sentiu na vida.
― Que droga Amorim, que cheiro horroroso. ― A voz entrava latejando as têmporas do rapaz, que odiava como a própria alma toda e qualquer tipo de ressaca.
― Vai embora Arthur! ― disse enfiando a cabeça embaixo do travesseiro.
― Eu queria demais ficar mais algumas horas na minha cama mesmo, mas temos aquela entrevista daqui a algumas horas. ― Ele puxou o travesseiro do rosto do amigo. ― Caralho , eu disse que não era uma boa ideia ir aquela merda de boate.
― , não me encha, por favor, minha cabeça vai explodir, estou enjoado e não preciso de sermão uma hora dessas. ― se sentou na cama, praguejando em pensamento toda e qualquer pessoa que tenha marcado aquele compromisso para o grupo naquele dia. ― Eu a vi. ― por fim, ele soltou um suspiro derrotado, se lembrando do porque tinha bebido igual a um gambá na noite passada.
― Amigo, voltamos para o Maranhão, você queria o que? ― perguntou retoricamente, todos que conheciam minimamente , sabiam o que ele tinha deixado para trás quando resolveu ir para São Paulo atrás do seu sonho de ser cantor. ― E você foi logo à Love Killa, a boate do noivo dela, sério, você se sabota demais. ― Ele abriu a janela do quarto do amigo. Quando resolveu que dividiria a casa com o mais velho, não imaginou que teria de fazer as vezes de mãe dele.
― Ela estava tão linda, cinza combina tanto com os olhos dela, e aqueles brilhos todos, parecia uma estrela cadente, e eu só queria fazer um pedido para que ela voltasse a ser minha. ― jogou o peso do corpo para trás e voltou a se deitar, sentindo a derrota dos sentimentos atingirem ele em cheio. ― Porque eu sou assim ? Eu sabia que aquela era a área do , que tendo a ao lado dele, ele faria o que fosse preciso para deixá-la feliz em seu aniversário. ― Ele colocou as mãos nos olhos, respirando fundo. ― Que direito eu tenho de amar tanto essa mulher depois de tudo?
A cabeça dele não parava de pensar em como as coisas terminaram entre ele e há cinco anos atrás, quando ele simplesmente deixou tudo o que tinha para trás, atravessou o país e realizou o que mais almejava na vida.
Cinco Anos atrás…
― ! ― Ele chamou pela mulher que olhava para um ponto fixo ao longe pela vitrine de vidro da sorveteria que eles estavam sentados, um de frente para o outro.
― Hmm? ― Ela respondeu, sem desviar o olhar do ponto em que estava olhando.
― Você me ouviu? ― Estava impaciente, tinha aberto o coração, e a falta de resposta da namorada o deixou mais nervoso do que já estava quando resolveu entrar naquele assunto. Talvez falar sobre aquilo no aniversário de três anos de namoro deles não fosse o presente com o qual ela tinha sonhado, mas ele precisava fazer aquilo o quanto antes.
― Ouvi, mas você quer que eu fale o que ? Que eu peça para que desista do seu sonho e que fique aqui, continue cantando nos eventos medíocres que você consegue vez ou outra? ― Ela tinha a atenção toda para o rosto dele, e mesmo com o olhar vazio, ele sabia que ela estava analisando e assimilando a situação.
― Não sei, eu só queria que você falasse algo. ― Ele baixou o olhar e o silêncio se fez presente novamente.
Ele amava , mais do que amava a si mesmo, tinha certeza daquilo, e mesmo sabendo que não eram sentimentos legais de sentir, sentia que talvez não fosse possível viver sem a mulher, se conheciam desde pequenos e a maioria das memórias dele, ela estava lá. Eles eram o típico casal clichê que os filmes e livros de romance vendiam. Se conheceram ainda muito pequenos por morarem próximo um do outro, viraram os melhores amigos desde o jardim de infância e lá estavam em um relacionamento maduro e duradouro com seus recém completados três anos.
Quando recebeu uma mensagem de seu tio que morava em São Paulo que tinha ouvido falar do concurso para formação de um grupo de música com rapazes dentro da idade dele, não pensou em mais nada a não ser que deveria tentar a sorte em um lugar novo. Ali, onde morava no momento, não tinha conseguido despontar com a sua arte, a não ser, como já havia citado alguns pequenos eventos, que pagavam mal e que ele tinha que tocar a música que outras pessoas faziam. Foi uma decisão difícil, afinal, ele teria que se mudar provisoriamente para São Paulo e deixar todos que amava em São Luis. Teria de ir atrás de seus objetivos sozinho, não era justo e ele também não queria que as pessoas parassem suas vidas para que ele pudesse viver a sua.
De qualquer forma, poderia nem passar pela fase eliminatória, e por isso ele esperava que a reação da mulher que tanto amava fosse diferente daquele silêncio total que ela se limitou em fazer. Talvez fosse um sentimento egoísta, mas como sempre o apoiava e o incentivava, ele esperava uma outra reação de verdade.
― Então é isso? ― Ele quebrou o silêncio.
― Eu queria até te incentivar e dizer que eu estou feliz por você , mas acho que terminar nosso relacionamento assim, no nosso aniversário me afetou um pouco. ― Ela suspirou alto e voltou o olhar para qualquer ponto do lado de fora da sorveteria.
― Como assim , que papo é esse de terminar o relacionamento? ― disse alarmado, não tinha sequer pensado naquelas palavras, pensou em talvez um relacionamento à distância e no mais radical, que eles fossem juntos para São Paulo, mas termino, era algo que ele nem gostava de pensar, imagina pronunciar.
― Qual é , nós dois sabemos que você tem muito talento, vai passar, vai gravar e vai viver sua arte por São Paulo ou onde quer que esse grupo te leve e eu realmente não acho que um relacionamento a distância será o melhor pra nós nesse momento, e sempre tem aqueles contratos de namoro, não precisamos tornar isso mais difícil do que está sendo. Com você tomando conta da sua carreira e eu do meu futuro, ano que vem vou para a UFMA. Não vamos conseguir conciliar nossos horários, não vamos conseguir despistar os fãs ou a imprensa para ficarmos duas horas de qualquer feriado juntos. ― Ela olhou bem nos olhos enquanto falava, o pesar na voz dela era cortante e mesmo não querendo aceitar, sabia que estava certa em tudo que dissera.
― Mas nós nem sabemos se eu vou passar ou se vai dar certo, eu…
― Nós sabemos o artista incrível que você é, e sabemos mais ainda que é a sua chance, não pense que eu não achei sensacional, só não estou animada quanto o habitual, pela data e tudo mais. ― Ela respirou fundo e ele soube ali que não adiantaria muito, tinha tomado sua decisão e por mais que doesse, ele sabia que era o melhor pros dois.
xx
Pouco tempo depois, ele já estava instalado na casa de seu tio e inscrito no programa, aquele dia na sorveteria havia sido o último que passara com , talvez por ser covarde demais ou por sentir que talvez não conseguisse deixar o Maranhão para trás se a procurasse nesse meio tempo em que se organizava para a mudança e realmente se mudar. Com o passar do tempo em São Paulo antes mesmo do programa finalizar, ele não foi atrás da mulher, nem pra dizer que sentiu saudades, o que ele mais sentia desde que fora embora, nem para saber se estava tudo bem. O contato que ele tinha com os pais era restrito para conversas sobre a família e a saúde e bem estar dele. Talvez, todos o conhecem bem para nunca tocar no nome da mulher, ele tinha notícias dela, somente por alguns amigos em comum que comentavam sobre como ela vinha se saindo bem na faculdade ou como estava feliz com o novo namorado.
Quando já estava com bastante sucesso com o grupo, até se envolveu com algumas pessoas, mas em momento nenhum conseguiu tirar a mulher da mente ou pior do coração. Sentia falta da risada dela, os grandes olhos que sempre sorriam junto com os lábios, do cheiro floral característico que ela emanava, da forma que ela era doce e firme ao mesmo tempo, de sentir o toque suave da pele na dele. Sentia falta de tudo que viveram, sentia falta do que não viveram, do que ele imaginava que ela estava vivendo com o namorado novo.
Atualmente…
Cinco anos depois de tudo e ainda sentia tudo aquilo, com a mesma intensidade, porém de maneira mais dolorida. Enquanto só sabia das notícias e se mantinha longe, ainda era mais fácil de aguentar, mas com a volta para a cidade natal e ver com seus próprios olhos que aquele sorriso já não era pra ele, que os olhos não brilhavam mais por sua causa, que a felicidade que ela emanava, não era mais por ele estar em sua vida. era agora uma mulher, recém formada, com uma carreira promissora, alguns curtas premiados. Lindíssima como sempre e brilhava como nunca a viu brilhar antes. É claro que ele também não ficava para trás. Tinha vencido uma competição contra outros rapazes, fora seus companheiros de grupo, o grupo deu certo, muito tempo além dos minutos de fama que o programa trouxe para eles, ele tinha outro tipo de vida, outro tipo de condição emocional e financeira, era reconhecido nas ruas, a vida dele mudou muito durante aqueles anos. A única coisa que não mudou, foi o sentimento por .
― Vacilo seu! ― disse puxando o amigo para que ele fosse tomar um banho, o cheiro naquele cômodo estava muito ruim.
― O que eu poderia fazer ? Colocar ela dentro da minha mala e levar comigo? ― puxou o braço das mãos do amigo e bufou se levantando sozinho da cama.
― Nada tão psicopata assim , uma ligação, uma viagenzinha para ver ela vez ou outra não iria te matar, talvez se você mostrasse que ela era tão importante na sua vida, quanto sua carreira ou qualquer outra coisa, você não estaria cheirando a banheiro de boteco pé sujo de bairro, agora. ― era sempre quem incentivava o amigo a entrar em contato com a amada quando estavam em tours ou com algum tempo de folga, já tinha aguentado vários choros do mais velho sobre aquele assunto, e não reclamava, ele gostava de ser o amigo que os outros confiavam para dividir não só as coisas boas, mas era teimoso feito uma mula quase sempre.
― Ela não queria um relacionamento a distância!
― Ela disse que não queria um relacionamento a distância, não que você simplesmente sumisse e fingisse que ela não existia. Até eu largava mão de você com umas atitudes dessas. ― empurrou o amigo para o banheiro e jogou uma toalha sobre a pia do lavabo. ― Toma logo esse banho e para de chorar vai, não temos tempo para lamentações agora.
deixou no banheiro e sumiu no corredor para a cozinha, afim de fazer um café bem forte para o amigo e algo que ele conseguisse deixar no estômago, não poderia de maneira nenhuma aparecer com aquela cara de pão velho amanhecido que ele estava, em rede nacional, e que pessoas no mundo todo teriam acesso posteriormente por meio da internet.
Assim que terminou de fazer o café e colocar a mesa, ouviu o chuveiro ser desligado e quase que simultâneo a campainha soar. Estavam esperando o pessoal da equipe só mais tarde passar para buscar eles, talvez fosse o manager ou algum vizinho querendo alguma coisa. As filhas das mais importantes figuras da cidade, que moravam no mesmo condomínio que eles, sempre batem à porta para pedir algo emprestado, era muito engraçado.
― Só um minuto! ― respondeu alto, desligando o fogo dos ovos e indo até a porta.
― Quem é? ― perguntou enrolado somente com uma toalha na cintura e outra esfregando os fios dos cabelos.
― Não faço ideia, então some daqui que pode ser uma das vizinhas e eu não quero lidar com desmaios a essa hora da manhã. ― Ele riu e recebeu o dedo do amigo que foi em direção a cozinha, mas congelou quando escutou uma voz feminina que podia ser desconhecida para Arthur, mas que ela muito conhecida para ele.
― Oi, aqui é a casa de Amorim? ― Ela disse em um tom urgente, quase desesperada.
― Olha, desculpa, mas não gostamos de visitas de fãs. Sinto muito se eu pareço grosso ou algo assim, mas somos humanos como todos os outros e precisamos de um pouco de espaço e privacidade. Assino qualquer coisa que você tenha aí e tudo mais, mas não posso te convidar pra entrar e tratar essa invasão de privacidade como sendo algo normal ou até mesmo saudável. ― O tom sério de era firme, não entendia como ele conseguia ter uma postura tão madura e tão centrada em meio as fãs mais radicais – mesmo ele sabendo que aquela não era uma dessas situações – sempre que uma fã tentava invadir seu espaço, só conseguia sorrir e tentar se desviar, queria um dia ter a postura do amigo mais novo, ele achava aquilo incrível.
― Ah desculpe, mas eu não sou uma fã enlouquecida. ― Ela riu e deixou momentaneamente confuso. ― Claro que todo mundo sabe quem são vocês e todo esse glamour da vida de gente famosa, mas eu sou, hãan… Eu não sei como me classificar. ― Ela coçou a cabeça meio constrangida.
― Meu Deus ― soltou quando se deu conta de quem era.― ?
E depois de ouvir o amigo denunciar que mesmo sem eles se conhecerem ele já tinha ciência de quem a garota era, torceu silenciosamente para que Arthur, se desse conta da gafe que cometeu e no mínimo dissesse que ele não estava, já que congelou de toalha no meio do caminho entre a sala e a cozinha.
― Ah claro, todo mundo já ouviu falar dá cruel ex namorada que decretou o fim do namoro porque o pobre rapaz iria seguir seus sonhos. ― Ela riu alto, fazendo com que entrasse no clima de zoeira.
― Quase por aí mesmo, mas em que eu posso te ajudar? ― Ele perguntou, não sabia se ela queria entrar ou o só deixar um recado.
― Eu queria conversar com o Amorim, é uma boa hora? ― Perguntou ficando um pouco mais nervosa naquele ponto.
― Bom, temos uma entrevista mais tarde, mas se a conversa for rápida acho que tudo bem. ― Ele deu espaço para que ela entrasse. ― Vou terminar o café, coma alguma coisa com ele enquanto conversam, por favor. ― Apontou o sofá para que ela se sentasse, e percebeu pelo vulto rápido que sua visão periférica captou que tinha saído em disparada até o quarto para se trocar.
quase entrou em pânico quando conseguiu entrar em seu quarto, precisava pelo menos se arrumar para falar com a mulher. Não tinha dimensão do que ela queria com ele, ele já estava há algum tempo na cidade, muito provavelmente tinha visto ele na boate na noite anterior. E se ele tivesse feito algo, ou falado alguma merda? Tinha bebido demais e era super covarde colocar a culpa na bebida, mas volta e meia ele tinha atitudes covardes, se o tivesse feito seria somente mais uma entre tantas outras.
Depois que vestiu qualquer coisa que encontrou pelo quarto com um cheiro humanamente aceitável, respirou fundo mais uma sete vezes e finalmente tomou coragem, sabe-se lá de onde e foi se arrastando até a sala, onde a mulher estava sentada. Linda, como sempre, usava uma calça jeans de lavagem escura e uma camiseta lilás bem maior que o corpo dela, sempre gostou de se vestir confortavelmente e que bom que não largou aqueles hábitos.
― ? ― Chamou a atenção da mulher que tinha o olhar fixo em uma escultura que a mãe de tinha dado para ele de presente no último natal, algo sobre proteção e essas coisas.
― , uau, você está incrível. ― Ela sorriu permanecendo sentava no sofá.
― Eu vou ter que dar uma saidinha para comprar suco de abacaxi para meu suco detox, querem alguma coisa? ― anunciou já da porta, colocando um casaco e seus calçados.
― De boa ! ― respondeu e viu o amigo sair rapidamente, deixando os dois sozinhos.
― Bom, vou ao que interessa, porque seu amigo disse que vocês têm um compromisso mais tarde. ― Ela se adiantou quando o silêncio tomou conta do ambiente.
― Me desculpa. ― Ele soltou antes que ela conseguisse dar continuidade no raciocínio.
― Ta se desculpando por quê?
― Por qualquer coisa que eu tenha feito ontem, eu nem devia ter isso lá, eu sabia que era seu aniversário e que era a boate do . ― Ele olhou para os próprios pés.
― Mas você não fez nada além de deixar uma gorjeta extremamente generosa para o barman. ― Ela riu do nervosismo dele, não é como se ela mesma não estivesse nervosa em estar ali, mas ele sempre ficava extremamente engraçado naquelas situações. ― Não vim brigar com você por ter ido ontem, eu só queria saber o motivo, depois de ter sumido da minha vida, ter aparecido lá.
― Eu não sei!
― Qual é , eu disse que não queria um relacionamento a distância, não que fingisse que eu estava morta, e agora que eu consegui seguir em frente você volta para cá e na primeira oportunidade vai me observar de longe, isso não é legal, você sabia? ― disse em um tom magoado, girando a aliança no dedo em sinal de nervosismo.
― Eu, eu, me desculpa! ― Ele olhou nos olhos dela, que pediam alguma resposta concreta para aquilo. E seu coração se partiu em mil pedaços quando ela disse que havia seguido em frente.
― Eu não consigo te desculpar, porque não sei o que te motivou, eu só queria uma conversa adulta e respostas, mas se você só pode de dar um pedido de desculpas, então estamos perdendo tempo aqui. ― Ela se levantou e se direcionou ao caminho de saída.
― Não, espera! ― disse respirando fundo. ― Eu achei de início você não queria mais saber de mim por isso eu sumi. ― Foi sincero.
― Você não pensou em me perguntar antes de tirar essas conclusões? ― Ela perguntou recuando alguns passos para trás.
― Mas porque o culpado sou eu? Pelo que eu saiba, você também não veio atrás de mim? ― Ele assumiu uma postura defensiva que definitivamente não queria assumir naquele momento.
Silêncio!
Só o tic tac do relógio de ponteiro, que foi presente da mãe de Chang, se fazia presente como som no ambiente, e não era como se não tivesse nada para falar, ela só não queria ser cruel, como o discurso na mente dela estava sendo.
― Não fui eu quem foi embora! Eu estive o tempo todo aqui. ― Ela disse em um tom menos agressivo possível.
― Pensei que você me apoiasse? ― O tom dele era amoado, não entendia o porquê daquela fala da mulher, quando, no passado ela dissera que ele não podia perder aquela oportunidade.
― E eu apoiei. Mas eu não podia simplesmente fingir que tava tudo ok você se mudar para outro estado, do outro lado do país e além de tudo, depois de ter dado certo você, simplesmente sumir. ― Ela não controlava mais sua agressão naquele momento. Ela mais que ninguém naquele mundo torcia pelo sucesso do rapaz. Colocou sua felicidade e seus planos de lado para que ele vivesse aquele sonho e agora ele a acusava daquela maneira?
― Não é o que parece falando assim! Você não quis nem tentar nada a distância, disse que tínhamos terminado e ponto, eu respeitei a sua decisão, eu tô respeitando ela até agora, caramba! ― A acidez no tom de voz dele era notável também, estava com aquelas palavras entaladas por muito tempo em sua garganta.
― Eu quis que você não se desconcentrasse do seu objetivo quando se mudou, que não se preocupasse com mais nada naquele momento, parece que você fez mesmo, só pensou no seu bem estar, parabéns, isso é ótimo, você só deveria continuar vivendo dessa maneira pra sempre. Que direito você tem de aparecer na minha vida novamente, quando fez com que eu saísse da sua da pior forma possível? ― estava mais perto dele nesse momento e tinha explodido, quase chorando de raiva.
― Não fui eu quem te procurou para essa “conversa” ― Ele foi debochado, fazendo aspas com os dedos. Realmente depois de todo aquele tempo, mesmo amando, como amava ela, não entendia o porquê dela estar tão brava com o retorno dele, já tinha até seguido em frente, com aquele anel ridículo pendurado no dedo.
― Tem certeza que não apareceu lá na boate ontem, no dia do meu aniversário, só porque estava querendo curtir a noite ? ― Ela foi firme e ele só conseguiu engolir em seco, não esboçando nenhuma resposta. ― Foi o que eu pensei. Eu quero que entenda, que eu não queria levar um relacionamento a distância, não queria ser uma distração naquele momento, mas em momento nenhum eu queria que me cortasse da sua vida como fez, nós éramos os melhores amigos, desde sempre. Nem sua família me dava notícias direito, eu passei anos sendo a bruxa má do oeste nesta cidade, por ter partido o pobre coração do coitadinho do , só porque ele queria seguir seus sonhos, e aparentemente pra você também né? ― Ela se afastou um pouco, não queria perder o controle das emoções, não podia se permitir aquilo.
― Eu não sabia que te tratavam assim, eu... ― Ficou pensativo, não sabia que os conhecidos em comum fariam aquilo, mas ele não podia julgar ninguém, afinal, ele mesmo tinha feito aquilo, tirando conclusões precipitadas e não conversando mais efetivamente quando estivessem com os ânimos mais calmos.
― Além de quê, como eu iria te procurar se você mudou seu contato e desativou as redes sociais? Acha mesmo que depois do programa, o pessoal que fazia ou faz suas relações publicas, iam passar seu contato pessoal ou passar mensagem de uma louca, dizendo ser sua ex namorada? ― Ela riu em deboche, era patético, até para ele cobrar algo desse tipo dela.
― Eu não tinha pensado nisso. ― Ele disse baixando a guarda.
― Não pensou, como não pensou que terminar um relacionamento amoroso não apaga toda a amizade e vivência que teve com outra pessoa, como não pensou que nosso aniversário de namoro seria um péssimo dia para me dar aquela notícia, como não pensou que quando eu te visse tão perto assim novamente, eu poderia simplesmente colocar em cheque todas as minhas escolhas dos últimos cinco anos até aqui, você claramente não pensa em mais nada além de você mesmo, seguiu direitinho meu pedido, mais uma vez, parabéns! ― Ela não conseguia controlar a sua angústia no tom de voz.
E com certeza aquelas palavras tinham o atingido em cheio, como assim ela a presença dele lá mexia com ela, depois de tudo, depois daquele anel gigante no dedo dela, depois daquele sorriso tão grande e brilhante que ela estampava no rosto.
― Eu precisava te ver, era seu aniversário e eu sei da fama do seu noivo. ― disse, se sentia derrotado, estavam entrando em um assunto que ele evitou tocar, durante muitos anos de sua vida.
― Pra que? Porque não foi me procurar lá em casa, ou sei lá, porque não só fingiu que eu não existia mais? ― A voz dela era embargada e as lágrimas escorriam livres pelo rosto dela naquele momento, tentou segurar os sentimentos, mas não conseguia mais ser forte. ― Escolheu um momento feliz na minha vida, você mais que ninguém devia saber que aniversários são as datas que eu mais amo na vida. ― Ela limpou as lágrimas do rosto e olhou sério pra ele.
― Eu não sei, eu acho que meu inconsciente sempre amou seus sorrisos nessa data, então por impulso eu fui até lá, eu nunca te esqueci, nunca te tirei de mim , que saco, depois de tantos anos eu ainda te amo. ― E as palavras saíram rasgando da garganta dele, que não conseguia mais impedir que nada saísse de dentro de si, ela tinha ido atrás da verdade e aquela era a única verdade que existia. ― Eu não queria que terminássemos, não queria me afastar, mas se o fiz, não só pelo seu pedido naquela tarde, mas porque eu achei que assim conseguiria seguir em frente. E cá estou eu, sozinho, e vendo a mulher que eu sempre amei feliz ao lado de alguém, que deu pra ela o que eu não consegui.
Silêncio novamente!
― Isso é loucura . ― , disse em um fio de voz, estava processando todas aquelas informações. ― Como você me ama e simplesmente me evitou todos esses anos? Porque você dificultou tanto assim pra gente? ― Ela olhava fixamente para um ponto aleatório na parede enquanto falava. ― Ta, eu sei que eu terminei o que tínhamos, mas caramba, eu te esperei por três anos, esperei depois que o grupo estreou esse tempo para que você conseguisse colocar sua vida nos eixos e me procurasse, segui meu sonho nesse tempo e você simplesmente sumiu do mapa, que droga. Eu te odeio, odeio o que eu estou sentindo agora, eu estava feliz, eu realmente tinha aceitado minha nova realidade.
― Você ama o ? ― Foi a única coisa que conseguiu pronunciar depois de tudo aquilo.
― Que? ― foi pega de surpresa com aquela pergunta.
― Perguntei se você ama verdadeiramente o , ele é bom pra você? ― Ele repetiu a pergunta. ― O que isso tem a ver com tudo isso? ― Ela respondeu ainda confusa. ― Se a sua resposta for sim, eu dou um jeito de sumir, de você não saber mais de mim, a não ser pelos noticiários, ou sei lá. ― Ele foi sincero, se ela o amasse verdadeiramente, não queria ser o motivo do sofrimento dela novamente, se ele sofreu como no inferno, não queria imaginar como foi igualmente difícil para ela.
― Eu gosto dele, eu sempre fui sincera sobre meus sentimentos, eu achava que nunca mais conseguiria amar na vida, daí você voltou e eu estou extremamente confusa, você está entendendo o porquê eu precisava de respostas? ― Respirou fundo, sentindo que o choro estava tentando voltar aos seus olhos. ― Eu sou feliz, eu me amo e eu gosto muito mesmo do , mas nunca o amei da mesma forma que eu te amei. ― Ela baixou o olhar ― Ele sabe disso, eu sempre fui sincera, quando ele me pediu em casamento eu reforcei tudo e eu me sinto péssima por não poder retribuir a altura. ― A exaustão na voz dela era palpável e aquilo deixou com ele ficasse ainda mais dolorido com toda aquela situação.
― Eu entendi e eu sinto muito, muito mesmo por isso. Vou te deixar em paz, eu vou tentar não aparecer mais onde você estiver. Eu, sei lá, vou tentar convencer o pessoal a mudarmos de cidade por enquanto. ― Ele estava nervoso com aquela situação, e não conseguia se manter parado, andava de um lado para o outro.
― Eu não sei se eu quero que você suma novamente, você não entende que despertou em mim, sentimentos e sentidos que eu jurei que nunca voltaria a sentir, eu tentei demais, como eu tentei voltar a sentir esse tipo de euforia que eu senti, quando meus olhos encontraram sua figura naquela boate. ― , estava com o rosto molhado pelas lágrimas que escorreram, enquanto ela falava tudo aquilo.
― Não chora , por favor, eu não queria te causar nenhum desses sentimentos. ― Ele se aproximou da mulher, limpando as lágrimas do rosto dela com os dedos.
E naquele momento em que seus dedos tocaram o rosto dela, novamente, sentiu como se o chão sumisse de seus pés, era no mínimo torturante estar tão perto dela daquela maneira, o cheio floral havia invadido todos os seus sentidos e o tempo parou, pelo menos para ele, naquele momento.
sentiu o corpo congelar, quando sentiu os lábios da mulher grudar nos seus, depois daquela aproximação deles. Não sabia se estava tendo o sonho mais louco da sua vida, ou se o choque de rever tinha afetado parte de seu raciocínio e lucidez, mas ele estava sentindo os lábios dela pressionando contra dos seus, parecia que as bocas eram imãs. O beijo que deram, começou desesperado e saudoso, era como se a vida deles dependesse daquele contato, o gosto, o toque tudo naquele momento pareceu tão certo e preciso. Quando a falta de ar se fez presente, eles separaram os lábios e o peso do ato, caiu como um cometa sobre os dois.
― Meu Deus! O que eu to fazendo?? ― parecia em choque com os próprios atos. ― Eu não posso fazer isso com o , nem com você, ou comigo. ― Ela tentava processar o que acabara de fazer, por qual motivo se sentiu tão atraída por aqueles lábios e porque deixou que aquele beijo acontecesse.
não disse nada, estava mais estático que em qualquer momento já esteve, a maciez e delicadeza dos lábios dela continuavam os mesmo, o cheiro, a pele macia do rosto, os olhos grandes e sempre atentos. Ele lembrava perfeitamente de todos aquele detalhes e ali estavam eles, à sua frente, quase tendo um surto, com toda aquela situação.
― Eu não quero que se afaste, mas eu preciso de um tempo pra por minha cabeça e meus sentimentos no lugar. ― disse rápida, se encaminhando até a porta.
― Como você quiser . Eu entendo como deve ser difícil e desgastante todo esse sentimento e pensamentos e tudo mais, eu vou respeitar seu tempo e principalmente seus sentimentos. ― Ele foi sincero e com isso eles terminaram aquela conversa que foi no mínimo estranha.
foi embora e algumas horas depois, mesmo com a cabeça cheia e um pouco distraído, ele seguiu com o cronograma do dia.
Dias se passaram desde aquela conversa, e tudo que queria saber era se estava bem, sabia que quando os sentimentos e nervos dela eram afetados por algo ou alguém, isso se refletia em alguma doença ou mal estar físico. Talvez aquilo tenha mudado durante aqueles, não?! Mas de qualquer forma era a lembrança que ele tinha dela.
Um mês depois daquele encontro, conseguiu se distrair, e mesmo sem nenhuma tentativa de contato de , ele estava tranquilo, sabia que precisava de tempo e já tinha aceitado dentro de seu íntimo que qualquer que fosse a decisão que ela tomasse, ele respeitaria e viveria sua vida. Claro que as idas ao consultório psicológico estavam ajudando ele nessa aceitação e no “desligamento” em qualquer coisa que o prendia se sentir o que deveria sentir, de maneira saudável e legal.
― Amorim? ― chamou pelo amigo que estava com a mente distraída.
― Oi! ― respondeu, abrindo seu melhor sorriso.
― Vamos sair pra beber alguma coisa? ― O amigo questionou, estava entediado e precisava de alguma distração urgente
.― Va... ― sentiu o celular vibrar no bolso da bermuda que vestia.
Assim que os olhos chegaram até a tela do celular, sentiu a visão escurecer, não podia acreditar naquilo.
Número desconhecido:
Oi, sou eu a , consegui seu número com seu irmão, eu tomei minha decisão, será que podemos nos encontrar agora?
Deixando o amigo no completo vácuo, respondeu a mensagem de forma rápida e objetiva e dez minutos depois, já estava dentro de seu carro, indo até onde indicou na última mensagem que mandou.
Dois anos depois…
A decoração da igreja estava encantadora, os detalhes em amarelo e laranja, deixou tudo com mais cara de verão, que a própria estação poderia deixar. O casamento de dia, pedia uma decoração tão linda e alegre, quanto os noivos que celebrariam sua união naquele lugar.
As madrinhas vestiam vestidos leves, porém elegantes na mesma cor de amarelo, os assentos estavam quase todos ocupados, pelos convidados e o padre já estava a postos, atrás do altar, todos só esperando a entrada triunfal de .
Quando escutou a música de entrada da noiva tocar, sentiu seu interior se revirar de nervosismo. Lá estava ela, linda, com um vestido longo, não muito armado, nem muito colado, com rendas delicadas pelo seu decote e mangas que caiam pelos seus ombros, a cauda enorme, cobria quase todo o tapete vermelho que mostrava o caminho até o fundo da igreja. Nas mãos dela um buquê com flores amarelas e em seu rosto, fora algumas lágrimas de emoção, o sorriso era lindo e brilhante, como ele gostava. Assim que ela chegou até o altar, seu pai a “entregou” para seu noivo. E ali, do outro lado da igreja, , viu a mulher que tanto amou, de braços dados com outro homem.
― Aceito!
Ele ouviu o pronunciar!
― Aceito!
Trice também respondeu a pergunta imensa que o sacerdote disse, o que era de praxe para todas as cerimônias de casamento.
― Eu os declaro, marido e mulher. Pode beijar a noiva.
E com aquelas palavras, saiu da cerimônia sem ser visto, não queria atrair atenção desnecessária naquela região da cidade e por ventura estragar o grande dia de . Já dentro de seu caso, ele desabou em um choro estranho, em um misto de felicidade e tristeza. Estava feliz, que tinha escolhido ser feliz, por si e para si, e escolheu quem estava ao seu lado te amando e te querendo bem. Mas estava triste porque tinha “perdido” seu grande amor para sempre. Claro que ele tinha respeitado a decisão dela há dois anos, mas isso não significava que seria fácil. Ele tentou desamar ela e não conseguiu, então ali ele decidiu que a amaria de longe, que desejaria seu bem e torceria por sua felicidade, independente de qualquer coisa. Depois daquela conversa dos dois, o grupo se mudou de volta para Seul, e retomou as longas viagens e turnês não só pelo país, como pelo mundo todo. Se focar era o que ele tinha que fazer. E foi o que fez. Focou em si, e foi feliz da sua maneira. Pelo menos, até aprender a amar outra pessoa, como um dia amou .
― . ― O homem sentiu a visão ficar meramente confusa quando escutou uma voz ao longe chamando seu nome. ― Amorim, acorda! ― A voz masculina estava mais perto e a visão tinha sumido totalmente dos olhos de e estava tudo escuro.
Ao abrir os olhos, sentiu a retina ardendo um pouco, pela claridade que entrou pelo quarto, quando a cortina foi bruscamente aberta. Lá estava ele, com as mesmas roupas do dia anterior, atravessado no meio da cama e com a maior dor no pescoço que ele já sentiu na vida.
― Que droga Amorim, que cheiro horroroso. ― A voz entrava latejando as têmporas do rapaz, que odiava como a própria alma toda e qualquer tipo de ressaca.
― Vai embora Arthur! ― disse enfiando a cabeça embaixo do travesseiro.
― Eu queria demais ficar mais algumas horas na minha cama mesmo, mas temos aquela entrevista daqui a algumas horas. ― Ele puxou o travesseiro do rosto do amigo. ― Caralho , eu disse que não era uma boa ideia ir aquela merda de boate.
― , não me encha, por favor, minha cabeça vai explodir, estou enjoado e não preciso de sermão uma hora dessas. ― se sentou na cama, praguejando em pensamento toda e qualquer pessoa que tenha marcado aquele compromisso para o grupo naquele dia. ― Eu a vi. ― por fim, ele soltou um suspiro derrotado, se lembrando do porque tinha bebido igual a um gambá na noite passada.
― Amigo, voltamos para o Maranhão, você queria o que? ― perguntou retoricamente, todos que conheciam minimamente , sabiam o que ele tinha deixado para trás quando resolveu ir para São Paulo atrás do seu sonho de ser cantor. ― E você foi logo à Love Killa, a boate do noivo dela, sério, você se sabota demais. ― Ele abriu a janela do quarto do amigo. Quando resolveu que dividiria a casa com o mais velho, não imaginou que teria de fazer as vezes de mãe dele.
― Ela estava tão linda, cinza combina tanto com os olhos dela, e aqueles brilhos todos, parecia uma estrela cadente, e eu só queria fazer um pedido para que ela voltasse a ser minha. ― jogou o peso do corpo para trás e voltou a se deitar, sentindo a derrota dos sentimentos atingirem ele em cheio. ― Porque eu sou assim ? Eu sabia que aquela era a área do , que tendo a ao lado dele, ele faria o que fosse preciso para deixá-la feliz em seu aniversário. ― Ele colocou as mãos nos olhos, respirando fundo. ― Que direito eu tenho de amar tanto essa mulher depois de tudo?
A cabeça dele não parava de pensar em como as coisas terminaram entre ele e há cinco anos atrás, quando ele simplesmente deixou tudo o que tinha para trás, atravessou o país e realizou o que mais almejava na vida.
― ! ― Ele chamou pela mulher que olhava para um ponto fixo ao longe pela vitrine de vidro da sorveteria que eles estavam sentados, um de frente para o outro.
― Hmm? ― Ela respondeu, sem desviar o olhar do ponto em que estava olhando.
― Você me ouviu? ― Estava impaciente, tinha aberto o coração, e a falta de resposta da namorada o deixou mais nervoso do que já estava quando resolveu entrar naquele assunto. Talvez falar sobre aquilo no aniversário de três anos de namoro deles não fosse o presente com o qual ela tinha sonhado, mas ele precisava fazer aquilo o quanto antes.
― Ouvi, mas você quer que eu fale o que ? Que eu peça para que desista do seu sonho e que fique aqui, continue cantando nos eventos medíocres que você consegue vez ou outra? ― Ela tinha a atenção toda para o rosto dele, e mesmo com o olhar vazio, ele sabia que ela estava analisando e assimilando a situação.
― Não sei, eu só queria que você falasse algo. ― Ele baixou o olhar e o silêncio se fez presente novamente.
Ele amava , mais do que amava a si mesmo, tinha certeza daquilo, e mesmo sabendo que não eram sentimentos legais de sentir, sentia que talvez não fosse possível viver sem a mulher, se conheciam desde pequenos e a maioria das memórias dele, ela estava lá. Eles eram o típico casal clichê que os filmes e livros de romance vendiam. Se conheceram ainda muito pequenos por morarem próximo um do outro, viraram os melhores amigos desde o jardim de infância e lá estavam em um relacionamento maduro e duradouro com seus recém completados três anos.
Quando recebeu uma mensagem de seu tio que morava em São Paulo que tinha ouvido falar do concurso para formação de um grupo de música com rapazes dentro da idade dele, não pensou em mais nada a não ser que deveria tentar a sorte em um lugar novo. Ali, onde morava no momento, não tinha conseguido despontar com a sua arte, a não ser, como já havia citado alguns pequenos eventos, que pagavam mal e que ele tinha que tocar a música que outras pessoas faziam. Foi uma decisão difícil, afinal, ele teria que se mudar provisoriamente para São Paulo e deixar todos que amava em São Luis. Teria de ir atrás de seus objetivos sozinho, não era justo e ele também não queria que as pessoas parassem suas vidas para que ele pudesse viver a sua.
De qualquer forma, poderia nem passar pela fase eliminatória, e por isso ele esperava que a reação da mulher que tanto amava fosse diferente daquele silêncio total que ela se limitou em fazer. Talvez fosse um sentimento egoísta, mas como sempre o apoiava e o incentivava, ele esperava uma outra reação de verdade.
― Então é isso? ― Ele quebrou o silêncio.
― Eu queria até te incentivar e dizer que eu estou feliz por você , mas acho que terminar nosso relacionamento assim, no nosso aniversário me afetou um pouco. ― Ela suspirou alto e voltou o olhar para qualquer ponto do lado de fora da sorveteria.
― Como assim , que papo é esse de terminar o relacionamento? ― disse alarmado, não tinha sequer pensado naquelas palavras, pensou em talvez um relacionamento à distância e no mais radical, que eles fossem juntos para São Paulo, mas termino, era algo que ele nem gostava de pensar, imagina pronunciar.
― Qual é , nós dois sabemos que você tem muito talento, vai passar, vai gravar e vai viver sua arte por São Paulo ou onde quer que esse grupo te leve e eu realmente não acho que um relacionamento a distância será o melhor pra nós nesse momento, e sempre tem aqueles contratos de namoro, não precisamos tornar isso mais difícil do que está sendo. Com você tomando conta da sua carreira e eu do meu futuro, ano que vem vou para a UFMA. Não vamos conseguir conciliar nossos horários, não vamos conseguir despistar os fãs ou a imprensa para ficarmos duas horas de qualquer feriado juntos. ― Ela olhou bem nos olhos enquanto falava, o pesar na voz dela era cortante e mesmo não querendo aceitar, sabia que estava certa em tudo que dissera.
― Mas nós nem sabemos se eu vou passar ou se vai dar certo, eu…
― Nós sabemos o artista incrível que você é, e sabemos mais ainda que é a sua chance, não pense que eu não achei sensacional, só não estou animada quanto o habitual, pela data e tudo mais. ― Ela respirou fundo e ele soube ali que não adiantaria muito, tinha tomado sua decisão e por mais que doesse, ele sabia que era o melhor pros dois.
Pouco tempo depois, ele já estava instalado na casa de seu tio e inscrito no programa, aquele dia na sorveteria havia sido o último que passara com , talvez por ser covarde demais ou por sentir que talvez não conseguisse deixar o Maranhão para trás se a procurasse nesse meio tempo em que se organizava para a mudança e realmente se mudar. Com o passar do tempo em São Paulo antes mesmo do programa finalizar, ele não foi atrás da mulher, nem pra dizer que sentiu saudades, o que ele mais sentia desde que fora embora, nem para saber se estava tudo bem. O contato que ele tinha com os pais era restrito para conversas sobre a família e a saúde e bem estar dele. Talvez, todos o conhecem bem para nunca tocar no nome da mulher, ele tinha notícias dela, somente por alguns amigos em comum que comentavam sobre como ela vinha se saindo bem na faculdade ou como estava feliz com o novo namorado.
Quando já estava com bastante sucesso com o grupo, até se envolveu com algumas pessoas, mas em momento nenhum conseguiu tirar a mulher da mente ou pior do coração. Sentia falta da risada dela, os grandes olhos que sempre sorriam junto com os lábios, do cheiro floral característico que ela emanava, da forma que ela era doce e firme ao mesmo tempo, de sentir o toque suave da pele na dele. Sentia falta de tudo que viveram, sentia falta do que não viveram, do que ele imaginava que ela estava vivendo com o namorado novo.
Cinco anos depois de tudo e ainda sentia tudo aquilo, com a mesma intensidade, porém de maneira mais dolorida. Enquanto só sabia das notícias e se mantinha longe, ainda era mais fácil de aguentar, mas com a volta para a cidade natal e ver com seus próprios olhos que aquele sorriso já não era pra ele, que os olhos não brilhavam mais por sua causa, que a felicidade que ela emanava, não era mais por ele estar em sua vida. era agora uma mulher, recém formada, com uma carreira promissora, alguns curtas premiados. Lindíssima como sempre e brilhava como nunca a viu brilhar antes. É claro que ele também não ficava para trás. Tinha vencido uma competição contra outros rapazes, fora seus companheiros de grupo, o grupo deu certo, muito tempo além dos minutos de fama que o programa trouxe para eles, ele tinha outro tipo de vida, outro tipo de condição emocional e financeira, era reconhecido nas ruas, a vida dele mudou muito durante aqueles anos. A única coisa que não mudou, foi o sentimento por .
― Vacilo seu! ― disse puxando o amigo para que ele fosse tomar um banho, o cheiro naquele cômodo estava muito ruim.
― O que eu poderia fazer ? Colocar ela dentro da minha mala e levar comigo? ― puxou o braço das mãos do amigo e bufou se levantando sozinho da cama.
― Nada tão psicopata assim , uma ligação, uma viagenzinha para ver ela vez ou outra não iria te matar, talvez se você mostrasse que ela era tão importante na sua vida, quanto sua carreira ou qualquer outra coisa, você não estaria cheirando a banheiro de boteco pé sujo de bairro, agora. ― era sempre quem incentivava o amigo a entrar em contato com a amada quando estavam em tours ou com algum tempo de folga, já tinha aguentado vários choros do mais velho sobre aquele assunto, e não reclamava, ele gostava de ser o amigo que os outros confiavam para dividir não só as coisas boas, mas era teimoso feito uma mula quase sempre.
― Ela não queria um relacionamento a distância!
― Ela disse que não queria um relacionamento a distância, não que você simplesmente sumisse e fingisse que ela não existia. Até eu largava mão de você com umas atitudes dessas. ― empurrou o amigo para o banheiro e jogou uma toalha sobre a pia do lavabo. ― Toma logo esse banho e para de chorar vai, não temos tempo para lamentações agora.
deixou no banheiro e sumiu no corredor para a cozinha, afim de fazer um café bem forte para o amigo e algo que ele conseguisse deixar no estômago, não poderia de maneira nenhuma aparecer com aquela cara de pão velho amanhecido que ele estava, em rede nacional, e que pessoas no mundo todo teriam acesso posteriormente por meio da internet.
Assim que terminou de fazer o café e colocar a mesa, ouviu o chuveiro ser desligado e quase que simultâneo a campainha soar. Estavam esperando o pessoal da equipe só mais tarde passar para buscar eles, talvez fosse o manager ou algum vizinho querendo alguma coisa. As filhas das mais importantes figuras da cidade, que moravam no mesmo condomínio que eles, sempre batem à porta para pedir algo emprestado, era muito engraçado.
― Só um minuto! ― respondeu alto, desligando o fogo dos ovos e indo até a porta.
― Quem é? ― perguntou enrolado somente com uma toalha na cintura e outra esfregando os fios dos cabelos.
― Não faço ideia, então some daqui que pode ser uma das vizinhas e eu não quero lidar com desmaios a essa hora da manhã. ― Ele riu e recebeu o dedo do amigo que foi em direção a cozinha, mas congelou quando escutou uma voz feminina que podia ser desconhecida para Arthur, mas que ela muito conhecida para ele.
― Oi, aqui é a casa de Amorim? ― Ela disse em um tom urgente, quase desesperada.
― Olha, desculpa, mas não gostamos de visitas de fãs. Sinto muito se eu pareço grosso ou algo assim, mas somos humanos como todos os outros e precisamos de um pouco de espaço e privacidade. Assino qualquer coisa que você tenha aí e tudo mais, mas não posso te convidar pra entrar e tratar essa invasão de privacidade como sendo algo normal ou até mesmo saudável. ― O tom sério de era firme, não entendia como ele conseguia ter uma postura tão madura e tão centrada em meio as fãs mais radicais – mesmo ele sabendo que aquela não era uma dessas situações – sempre que uma fã tentava invadir seu espaço, só conseguia sorrir e tentar se desviar, queria um dia ter a postura do amigo mais novo, ele achava aquilo incrível.
― Ah desculpe, mas eu não sou uma fã enlouquecida. ― Ela riu e deixou momentaneamente confuso. ― Claro que todo mundo sabe quem são vocês e todo esse glamour da vida de gente famosa, mas eu sou, hãan… Eu não sei como me classificar. ― Ela coçou a cabeça meio constrangida.
― Meu Deus ― soltou quando se deu conta de quem era.― ?
E depois de ouvir o amigo denunciar que mesmo sem eles se conhecerem ele já tinha ciência de quem a garota era, torceu silenciosamente para que Arthur, se desse conta da gafe que cometeu e no mínimo dissesse que ele não estava, já que congelou de toalha no meio do caminho entre a sala e a cozinha.
― Ah claro, todo mundo já ouviu falar dá cruel ex namorada que decretou o fim do namoro porque o pobre rapaz iria seguir seus sonhos. ― Ela riu alto, fazendo com que entrasse no clima de zoeira.
― Quase por aí mesmo, mas em que eu posso te ajudar? ― Ele perguntou, não sabia se ela queria entrar ou o só deixar um recado.
― Eu queria conversar com o Amorim, é uma boa hora? ― Perguntou ficando um pouco mais nervosa naquele ponto.
― Bom, temos uma entrevista mais tarde, mas se a conversa for rápida acho que tudo bem. ― Ele deu espaço para que ela entrasse. ― Vou terminar o café, coma alguma coisa com ele enquanto conversam, por favor. ― Apontou o sofá para que ela se sentasse, e percebeu pelo vulto rápido que sua visão periférica captou que tinha saído em disparada até o quarto para se trocar.
quase entrou em pânico quando conseguiu entrar em seu quarto, precisava pelo menos se arrumar para falar com a mulher. Não tinha dimensão do que ela queria com ele, ele já estava há algum tempo na cidade, muito provavelmente tinha visto ele na boate na noite anterior. E se ele tivesse feito algo, ou falado alguma merda? Tinha bebido demais e era super covarde colocar a culpa na bebida, mas volta e meia ele tinha atitudes covardes, se o tivesse feito seria somente mais uma entre tantas outras.
Depois que vestiu qualquer coisa que encontrou pelo quarto com um cheiro humanamente aceitável, respirou fundo mais uma sete vezes e finalmente tomou coragem, sabe-se lá de onde e foi se arrastando até a sala, onde a mulher estava sentada. Linda, como sempre, usava uma calça jeans de lavagem escura e uma camiseta lilás bem maior que o corpo dela, sempre gostou de se vestir confortavelmente e que bom que não largou aqueles hábitos.
― ? ― Chamou a atenção da mulher que tinha o olhar fixo em uma escultura que a mãe de tinha dado para ele de presente no último natal, algo sobre proteção e essas coisas.
― , uau, você está incrível. ― Ela sorriu permanecendo sentava no sofá.
― Eu vou ter que dar uma saidinha para comprar suco de abacaxi para meu suco detox, querem alguma coisa? ― anunciou já da porta, colocando um casaco e seus calçados.
― De boa ! ― respondeu e viu o amigo sair rapidamente, deixando os dois sozinhos.
― Bom, vou ao que interessa, porque seu amigo disse que vocês têm um compromisso mais tarde. ― Ela se adiantou quando o silêncio tomou conta do ambiente.
― Me desculpa. ― Ele soltou antes que ela conseguisse dar continuidade no raciocínio.
― Ta se desculpando por quê?
― Por qualquer coisa que eu tenha feito ontem, eu nem devia ter isso lá, eu sabia que era seu aniversário e que era a boate do . ― Ele olhou para os próprios pés.
― Mas você não fez nada além de deixar uma gorjeta extremamente generosa para o barman. ― Ela riu do nervosismo dele, não é como se ela mesma não estivesse nervosa em estar ali, mas ele sempre ficava extremamente engraçado naquelas situações. ― Não vim brigar com você por ter ido ontem, eu só queria saber o motivo, depois de ter sumido da minha vida, ter aparecido lá.
― Eu não sei!
― Qual é , eu disse que não queria um relacionamento a distância, não que fingisse que eu estava morta, e agora que eu consegui seguir em frente você volta para cá e na primeira oportunidade vai me observar de longe, isso não é legal, você sabia? ― disse em um tom magoado, girando a aliança no dedo em sinal de nervosismo.
― Eu, eu, me desculpa! ― Ele olhou nos olhos dela, que pediam alguma resposta concreta para aquilo. E seu coração se partiu em mil pedaços quando ela disse que havia seguido em frente.
― Eu não consigo te desculpar, porque não sei o que te motivou, eu só queria uma conversa adulta e respostas, mas se você só pode de dar um pedido de desculpas, então estamos perdendo tempo aqui. ― Ela se levantou e se direcionou ao caminho de saída.
― Não, espera! ― disse respirando fundo. ― Eu achei de início você não queria mais saber de mim por isso eu sumi. ― Foi sincero.
― Você não pensou em me perguntar antes de tirar essas conclusões? ― Ela perguntou recuando alguns passos para trás.
― Mas porque o culpado sou eu? Pelo que eu saiba, você também não veio atrás de mim? ― Ele assumiu uma postura defensiva que definitivamente não queria assumir naquele momento.
Silêncio!
Só o tic tac do relógio de ponteiro, que foi presente da mãe de Chang, se fazia presente como som no ambiente, e não era como se não tivesse nada para falar, ela só não queria ser cruel, como o discurso na mente dela estava sendo.
― Não fui eu quem foi embora! Eu estive o tempo todo aqui. ― Ela disse em um tom menos agressivo possível.
― Pensei que você me apoiasse? ― O tom dele era amoado, não entendia o porquê daquela fala da mulher, quando, no passado ela dissera que ele não podia perder aquela oportunidade.
― E eu apoiei. Mas eu não podia simplesmente fingir que tava tudo ok você se mudar para outro estado, do outro lado do país e além de tudo, depois de ter dado certo você, simplesmente sumir. ― Ela não controlava mais sua agressão naquele momento. Ela mais que ninguém naquele mundo torcia pelo sucesso do rapaz. Colocou sua felicidade e seus planos de lado para que ele vivesse aquele sonho e agora ele a acusava daquela maneira?
― Não é o que parece falando assim! Você não quis nem tentar nada a distância, disse que tínhamos terminado e ponto, eu respeitei a sua decisão, eu tô respeitando ela até agora, caramba! ― A acidez no tom de voz dele era notável também, estava com aquelas palavras entaladas por muito tempo em sua garganta.
― Eu quis que você não se desconcentrasse do seu objetivo quando se mudou, que não se preocupasse com mais nada naquele momento, parece que você fez mesmo, só pensou no seu bem estar, parabéns, isso é ótimo, você só deveria continuar vivendo dessa maneira pra sempre. Que direito você tem de aparecer na minha vida novamente, quando fez com que eu saísse da sua da pior forma possível? ― estava mais perto dele nesse momento e tinha explodido, quase chorando de raiva.
― Não fui eu quem te procurou para essa “conversa” ― Ele foi debochado, fazendo aspas com os dedos. Realmente depois de todo aquele tempo, mesmo amando, como amava ela, não entendia o porquê dela estar tão brava com o retorno dele, já tinha até seguido em frente, com aquele anel ridículo pendurado no dedo.
― Tem certeza que não apareceu lá na boate ontem, no dia do meu aniversário, só porque estava querendo curtir a noite ? ― Ela foi firme e ele só conseguiu engolir em seco, não esboçando nenhuma resposta. ― Foi o que eu pensei. Eu quero que entenda, que eu não queria levar um relacionamento a distância, não queria ser uma distração naquele momento, mas em momento nenhum eu queria que me cortasse da sua vida como fez, nós éramos os melhores amigos, desde sempre. Nem sua família me dava notícias direito, eu passei anos sendo a bruxa má do oeste nesta cidade, por ter partido o pobre coração do coitadinho do , só porque ele queria seguir seus sonhos, e aparentemente pra você também né? ― Ela se afastou um pouco, não queria perder o controle das emoções, não podia se permitir aquilo.
― Eu não sabia que te tratavam assim, eu... ― Ficou pensativo, não sabia que os conhecidos em comum fariam aquilo, mas ele não podia julgar ninguém, afinal, ele mesmo tinha feito aquilo, tirando conclusões precipitadas e não conversando mais efetivamente quando estivessem com os ânimos mais calmos.
― Além de quê, como eu iria te procurar se você mudou seu contato e desativou as redes sociais? Acha mesmo que depois do programa, o pessoal que fazia ou faz suas relações publicas, iam passar seu contato pessoal ou passar mensagem de uma louca, dizendo ser sua ex namorada? ― Ela riu em deboche, era patético, até para ele cobrar algo desse tipo dela.
― Eu não tinha pensado nisso. ― Ele disse baixando a guarda.
― Não pensou, como não pensou que terminar um relacionamento amoroso não apaga toda a amizade e vivência que teve com outra pessoa, como não pensou que nosso aniversário de namoro seria um péssimo dia para me dar aquela notícia, como não pensou que quando eu te visse tão perto assim novamente, eu poderia simplesmente colocar em cheque todas as minhas escolhas dos últimos cinco anos até aqui, você claramente não pensa em mais nada além de você mesmo, seguiu direitinho meu pedido, mais uma vez, parabéns! ― Ela não conseguia controlar a sua angústia no tom de voz.
E com certeza aquelas palavras tinham o atingido em cheio, como assim ela a presença dele lá mexia com ela, depois de tudo, depois daquele anel gigante no dedo dela, depois daquele sorriso tão grande e brilhante que ela estampava no rosto.
― Eu precisava te ver, era seu aniversário e eu sei da fama do seu noivo. ― disse, se sentia derrotado, estavam entrando em um assunto que ele evitou tocar, durante muitos anos de sua vida.
― Pra que? Porque não foi me procurar lá em casa, ou sei lá, porque não só fingiu que eu não existia mais? ― A voz dela era embargada e as lágrimas escorriam livres pelo rosto dela naquele momento, tentou segurar os sentimentos, mas não conseguia mais ser forte. ― Escolheu um momento feliz na minha vida, você mais que ninguém devia saber que aniversários são as datas que eu mais amo na vida. ― Ela limpou as lágrimas do rosto e olhou sério pra ele.
― Eu não sei, eu acho que meu inconsciente sempre amou seus sorrisos nessa data, então por impulso eu fui até lá, eu nunca te esqueci, nunca te tirei de mim , que saco, depois de tantos anos eu ainda te amo. ― E as palavras saíram rasgando da garganta dele, que não conseguia mais impedir que nada saísse de dentro de si, ela tinha ido atrás da verdade e aquela era a única verdade que existia. ― Eu não queria que terminássemos, não queria me afastar, mas se o fiz, não só pelo seu pedido naquela tarde, mas porque eu achei que assim conseguiria seguir em frente. E cá estou eu, sozinho, e vendo a mulher que eu sempre amei feliz ao lado de alguém, que deu pra ela o que eu não consegui.
Silêncio novamente!
― Isso é loucura . ― , disse em um fio de voz, estava processando todas aquelas informações. ― Como você me ama e simplesmente me evitou todos esses anos? Porque você dificultou tanto assim pra gente? ― Ela olhava fixamente para um ponto aleatório na parede enquanto falava. ― Ta, eu sei que eu terminei o que tínhamos, mas caramba, eu te esperei por três anos, esperei depois que o grupo estreou esse tempo para que você conseguisse colocar sua vida nos eixos e me procurasse, segui meu sonho nesse tempo e você simplesmente sumiu do mapa, que droga. Eu te odeio, odeio o que eu estou sentindo agora, eu estava feliz, eu realmente tinha aceitado minha nova realidade.
― Você ama o ? ― Foi a única coisa que conseguiu pronunciar depois de tudo aquilo.
― Que? ― foi pega de surpresa com aquela pergunta.
― Perguntei se você ama verdadeiramente o , ele é bom pra você? ― Ele repetiu a pergunta. ― O que isso tem a ver com tudo isso? ― Ela respondeu ainda confusa. ― Se a sua resposta for sim, eu dou um jeito de sumir, de você não saber mais de mim, a não ser pelos noticiários, ou sei lá. ― Ele foi sincero, se ela o amasse verdadeiramente, não queria ser o motivo do sofrimento dela novamente, se ele sofreu como no inferno, não queria imaginar como foi igualmente difícil para ela.
― Eu gosto dele, eu sempre fui sincera sobre meus sentimentos, eu achava que nunca mais conseguiria amar na vida, daí você voltou e eu estou extremamente confusa, você está entendendo o porquê eu precisava de respostas? ― Respirou fundo, sentindo que o choro estava tentando voltar aos seus olhos. ― Eu sou feliz, eu me amo e eu gosto muito mesmo do , mas nunca o amei da mesma forma que eu te amei. ― Ela baixou o olhar ― Ele sabe disso, eu sempre fui sincera, quando ele me pediu em casamento eu reforcei tudo e eu me sinto péssima por não poder retribuir a altura. ― A exaustão na voz dela era palpável e aquilo deixou com ele ficasse ainda mais dolorido com toda aquela situação.
― Eu entendi e eu sinto muito, muito mesmo por isso. Vou te deixar em paz, eu vou tentar não aparecer mais onde você estiver. Eu, sei lá, vou tentar convencer o pessoal a mudarmos de cidade por enquanto. ― Ele estava nervoso com aquela situação, e não conseguia se manter parado, andava de um lado para o outro.
― Eu não sei se eu quero que você suma novamente, você não entende que despertou em mim, sentimentos e sentidos que eu jurei que nunca voltaria a sentir, eu tentei demais, como eu tentei voltar a sentir esse tipo de euforia que eu senti, quando meus olhos encontraram sua figura naquela boate. ― , estava com o rosto molhado pelas lágrimas que escorreram, enquanto ela falava tudo aquilo.
― Não chora , por favor, eu não queria te causar nenhum desses sentimentos. ― Ele se aproximou da mulher, limpando as lágrimas do rosto dela com os dedos.
E naquele momento em que seus dedos tocaram o rosto dela, novamente, sentiu como se o chão sumisse de seus pés, era no mínimo torturante estar tão perto dela daquela maneira, o cheio floral havia invadido todos os seus sentidos e o tempo parou, pelo menos para ele, naquele momento.
sentiu o corpo congelar, quando sentiu os lábios da mulher grudar nos seus, depois daquela aproximação deles. Não sabia se estava tendo o sonho mais louco da sua vida, ou se o choque de rever tinha afetado parte de seu raciocínio e lucidez, mas ele estava sentindo os lábios dela pressionando contra dos seus, parecia que as bocas eram imãs. O beijo que deram, começou desesperado e saudoso, era como se a vida deles dependesse daquele contato, o gosto, o toque tudo naquele momento pareceu tão certo e preciso. Quando a falta de ar se fez presente, eles separaram os lábios e o peso do ato, caiu como um cometa sobre os dois.
― Meu Deus! O que eu to fazendo?? ― parecia em choque com os próprios atos. ― Eu não posso fazer isso com o , nem com você, ou comigo. ― Ela tentava processar o que acabara de fazer, por qual motivo se sentiu tão atraída por aqueles lábios e porque deixou que aquele beijo acontecesse.
não disse nada, estava mais estático que em qualquer momento já esteve, a maciez e delicadeza dos lábios dela continuavam os mesmo, o cheiro, a pele macia do rosto, os olhos grandes e sempre atentos. Ele lembrava perfeitamente de todos aquele detalhes e ali estavam eles, à sua frente, quase tendo um surto, com toda aquela situação.
― Eu não quero que se afaste, mas eu preciso de um tempo pra por minha cabeça e meus sentimentos no lugar. ― disse rápida, se encaminhando até a porta.
― Como você quiser . Eu entendo como deve ser difícil e desgastante todo esse sentimento e pensamentos e tudo mais, eu vou respeitar seu tempo e principalmente seus sentimentos. ― Ele foi sincero e com isso eles terminaram aquela conversa que foi no mínimo estranha.
foi embora e algumas horas depois, mesmo com a cabeça cheia e um pouco distraído, ele seguiu com o cronograma do dia.
Dias se passaram desde aquela conversa, e tudo que queria saber era se estava bem, sabia que quando os sentimentos e nervos dela eram afetados por algo ou alguém, isso se refletia em alguma doença ou mal estar físico. Talvez aquilo tenha mudado durante aqueles, não?! Mas de qualquer forma era a lembrança que ele tinha dela.
Um mês depois daquele encontro, conseguiu se distrair, e mesmo sem nenhuma tentativa de contato de , ele estava tranquilo, sabia que precisava de tempo e já tinha aceitado dentro de seu íntimo que qualquer que fosse a decisão que ela tomasse, ele respeitaria e viveria sua vida. Claro que as idas ao consultório psicológico estavam ajudando ele nessa aceitação e no “desligamento” em qualquer coisa que o prendia se sentir o que deveria sentir, de maneira saudável e legal.
― Amorim? ― chamou pelo amigo que estava com a mente distraída.
― Oi! ― respondeu, abrindo seu melhor sorriso.
― Vamos sair pra beber alguma coisa? ― O amigo questionou, estava entediado e precisava de alguma distração urgente
.― Va... ― sentiu o celular vibrar no bolso da bermuda que vestia.
Assim que os olhos chegaram até a tela do celular, sentiu a visão escurecer, não podia acreditar naquilo.
Número desconhecido:
Oi, sou eu a , consegui seu número com seu irmão, eu tomei minha decisão, será que podemos nos encontrar agora?
Deixando o amigo no completo vácuo, respondeu a mensagem de forma rápida e objetiva e dez minutos depois, já estava dentro de seu carro, indo até onde indicou na última mensagem que mandou.
A decoração da igreja estava encantadora, os detalhes em amarelo e laranja, deixou tudo com mais cara de verão, que a própria estação poderia deixar. O casamento de dia, pedia uma decoração tão linda e alegre, quanto os noivos que celebrariam sua união naquele lugar.
As madrinhas vestiam vestidos leves, porém elegantes na mesma cor de amarelo, os assentos estavam quase todos ocupados, pelos convidados e o padre já estava a postos, atrás do altar, todos só esperando a entrada triunfal de .
Quando escutou a música de entrada da noiva tocar, sentiu seu interior se revirar de nervosismo. Lá estava ela, linda, com um vestido longo, não muito armado, nem muito colado, com rendas delicadas pelo seu decote e mangas que caiam pelos seus ombros, a cauda enorme, cobria quase todo o tapete vermelho que mostrava o caminho até o fundo da igreja. Nas mãos dela um buquê com flores amarelas e em seu rosto, fora algumas lágrimas de emoção, o sorriso era lindo e brilhante, como ele gostava. Assim que ela chegou até o altar, seu pai a “entregou” para seu noivo. E ali, do outro lado da igreja, , viu a mulher que tanto amou, de braços dados com outro homem.
― Aceito!
Ele ouviu o pronunciar!
― Aceito!
Trice também respondeu a pergunta imensa que o sacerdote disse, o que era de praxe para todas as cerimônias de casamento.
― Eu os declaro, marido e mulher. Pode beijar a noiva.
E com aquelas palavras, saiu da cerimônia sem ser visto, não queria atrair atenção desnecessária naquela região da cidade e por ventura estragar o grande dia de . Já dentro de seu caso, ele desabou em um choro estranho, em um misto de felicidade e tristeza. Estava feliz, que tinha escolhido ser feliz, por si e para si, e escolheu quem estava ao seu lado te amando e te querendo bem. Mas estava triste porque tinha “perdido” seu grande amor para sempre. Claro que ele tinha respeitado a decisão dela há dois anos, mas isso não significava que seria fácil. Ele tentou desamar ela e não conseguiu, então ali ele decidiu que a amaria de longe, que desejaria seu bem e torceria por sua felicidade, independente de qualquer coisa. Depois daquela conversa dos dois, o grupo se mudou de volta para Seul, e retomou as longas viagens e turnês não só pelo país, como pelo mundo todo. Se focar era o que ele tinha que fazer. E foi o que fez. Focou em si, e foi feliz da sua maneira. Pelo menos, até aprender a amar outra pessoa, como um dia amou .
Fim
Nota da autora: Olá Jiniers, como estamos? Talvez com um pouco de raiva por causa desse final? Kkkkk ok, talvez eu goste de finais assim? Talvez não, eu adoro mesmo, acredito mesmo que sejam finais felizes, mesmo quando os PPS não ficam juntos. Mas eu sigo amando todos os personagens, aff hahaha e então espero que vocês gostem. Divirtam-se!!!
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AH NÃO DEIXEM DE COMENTAR, ISSO É MUITO IMPORTANTE PARA SABERMOS SE ESTAMOS INDO PELO CAMINHO CERTO NESSA ESTRADA, AFINAL O PÚBLICO É NOSSO MAIOR INCENTIVO. MAIS UMA VEZ OBRIGADA POR LEREM, EU AMO VOCÊS. BEIJOS DA TIA JINIE.
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