Capítulo Único
They treat you like a criminal, but I'll still be your girl.
tateou o colchão ao seu lado a procura do corpo do namorado, mas encontrou o vazio. Ainda que seus olhos ardessem, implorando para deixá-los fechados por mais algumas horas, ela os abriu a procura de . O encontrou, ou o que parecia ser um bom borrão em seu formato, a alguns metros de distância, terminando de abotoar sua camiseta em frente ao espelho.
A garota grunhiu em desaprovação, levando seu olhar para o relógio no criado mudo para ter certeza de que tinha razão ao odiar aquela situação.
— São 5h00 da manhã, . Volta para a cama, por favor! – pediu, já sabendo de cor e salteado qual seria a resposta que receberia de volta.
— As melhores padarias de Williamsburg estão prestes a abrir e eu tenho trabalho a fazer. – disse, dobrando as mangas da camiseta e deixando à mostra o braço coberto de tatuagens.
revirou os olhos. Tinham aquele curto diálogo todas as manhãs pelo menos duas vezes por semana, nos dias em que o namorado substituía um amigo fazendo a entrega de uma distribuidora de pães e salgados por toda a cidade. Pagava pouco, mas ele insistia naquele bico pelos últimos dois meses.
— Tomou café, pelo menos? – perguntou. Ele balançou a cabeça, negando.
— A cafeteira quebrou, lembra?
Ela jogou os lençóis para o lado, forçando seu corpo a se levantar do grande e perfeitamente confortável colchão em que estava. Descalça e vestindo apenas a grande camiseta de que roubara há cerca de dois anos, ela foi até a cozinha.
— Vem, você vai aprender a fazer café sem uma cafeteira agora mesmo. – falou no caminho.
a seguiu, ansioso por aquilo. Não teriam dinheiro sobrando para consertar aquela cafeteira tão cedo e não gostava da ideia de sua namorada ter que levantar às 5h00 para lhe preparar café quando suas aulas começaram às 8h00.
— Você comprou tudo? – ele perguntou e ela assentiu, tirando uma pequena panela do armário.
— Dois copos de água são o suficiente para nós dois. – explicou, já colocando tudo no fogo. Sentado em um banco, ele a observava com atenção. – Agora, nós acrescentamos um pouco de açúcar e esperamos ferver. Enquanto isso, podemos ir preparando o pó. Você pega esse papel aqui. – disse, tirando de uma caixa algo em um formato parecido com um funil. – E coloca nesse negócio aqui que eu não sei o nome. Ele encaixa na garrafa. – o outro dispositivo era parecido, mas de plástico. – Agora nós vamos colocar três colheres de café para ficar forte o suficiente e pronto, é só esperar a água e jogar aqui em cima.
achava adorável a maneira como ela usava ‘nós’ para quase tudo.
Ao final, ela se sentou em seu colo, ainda esperando pela água.
— Como você sabe isso? Quer dizer... A nossa criação foi completamente diferente, mas eu sempre tive uma cafeteira na minha casa, nunca precisei aprender de outra maneira.
— A minha babá só fazia café assim. Ela não gosta do café das cafeteiras ou máquinas trabalhosas. – respondeu.
— Ah, claro. Aquela babá que te acompanhou até os seus 18 anos. – ele zombou, ganhando um tapa leve e brincalhão.
— Não começa! Já te expliquei que, a partir dos 12, ela funcionava mais como uma assessora.
— É claro. – respondeu, rindo rapidamente.
De alguma maneira, isso fez com que suas olheiras saltassem aos olhos de , que deslizou as mãos suavemente sobre elas.
estudava e trabalhava desde seus 15 anos. No colegial, para ajudar a mãe nas despesas e com todo o custo que era a locomoção para o seu colégio, uma instituição particular de preparação onde conseguira uma bolsa ao começar o ensino médio. Quando chegou a faculdade, NYU (Universidade de Nova York), onde ambos estudávamos e onde ele também conseguira uma bolsa integral ou nunca teria condições de pagar, apenas estudar não era uma opção. Ele tinha que pagar pelo dormitório ou passaria horas diariamente no metro. O rapaz sempre foi organizado e dedicado, conseguindo levar ambas as coisas muito bem.
Eles haviam se mudado para um pequeno apartamento em Williamsburg há dois anos. Não era barato, mas ficava a apenas 20 minutos de metrô da faculdade e, dividindo as despesas, eles conseguiam viver bem ali. O único problema, para , era que no último ano seu namorado decidira que precisava juntar dinheiro para os próximos que estavam por vir. No momento, ele tinha três empregos: o seu usual de atendente em uma loja de discos ali do bairro, trabalhava como garçom alguns dias da semana e nos finais de semana em um bar consideravelmente novo de Manhattan e, agora, também acordava às 5h00 para fazer entregas, ainda que tivesse trabalhado até às 1h00 na noite anterior. Ele precisava descansar, dormir bem, simplesmente fazer nada de vez em quando, mas isso havia se tornado impossível, afinal, quando não estava trabalhando, estava estudando para manter suas notas altas a fim de manter sua bolsa de estudos.
— Por favor, me diga que você vai voltar o mais rápido possível e dormir por mais algumas horas.
— Eu tenho aula às 9h00, , você sabe.
— E, pelos meus cálculos, isso te dá uma horinha e meia para tirar um cochilo. – ela sabia que ele estava prestes a revirar os olhos por causa de sua preocupação, então continuou. – Você já trabalha e estuda o tempo inteiro, o mínimo que pode é dormir bem, . Bom, dormir o melhor possível. Por favor.
— Não sei porque você insiste. Nós dois sabemos que, quando eu chegar, você vai me jogar na cama e me obrigar a ficar lá de qualquer maneira. – disse e ela assentiu, concordando com um sorriso.
— Sim, mas seria ótimo não ter que ter todo o trabalho. Você não é muito leve, sabia?
Ele realmente revirou os olhos dessa vez. Sabia que ela se preocupava com ele e apreciava aquilo, mas não achava que era necessário. sorriu ainda mais, o dando um beijo delicado nos lábios antes de ir terminar seu café.
Sete horas mais tarde, os saltos de ecoavam no corredor quase vazio da universidade enquanto ela tentava acompanhar os passos rápidos do namorado. Geralmente não usava sapatos do tipo para evitar situações como aquela, mas ela também não costumava usar terninhos. Naquele dia em especial, tinha uma entrevista de emprego para estagiar Naquele, o The Met, o Museu Metropolitano de Arte! Ela se sentia poderosa demais com aquele look para deixar que fugisse mais uma vez daquela conversa.
— Você pode continuar andando, eu vou continuar te seguindo incansavelmente! Tenho uma hora até a entrevista. – avisou.
— Você sabe que vai levar uma boa meia-hora de metrô até o museu, certo? E nós dois sabemos o quão importante é chegar cedo em uma entrevista.
Ela revirou os olhos, pensando que quem o via apenas por fora nunca saberia o garotinho que ele poderia ser as vezes.
— São só dois dias, ! – insistiu, ainda que já tivesse usado aquele argumento algumas milhares de vezes.
— Você sabe mais do que ninguém que dois dias na casa dos seus pais passam tão rápido quanto dois meses.
E ele sempre a derrotava com essa fala, porque sim, ela sabia e sabia muito bem. Os pais de podiam ser... Difíceis. De acordo com ela, eles tinham a incrível capacidade de fazer a ideia de bater a própria cabeça contra uma parede extremamente tentadora. Depois de vinte minutos, sair correndo e nunca mais voltar é a vontade que prevalece.
Ela bufou ao mesmo tempo que via um zelador mais a frente sair de um pequeno cômodo que lhe parecia ser o lugar onde ele mantinha seus materiais. apressou seus passos na mesma hora, agarrando pela jaqueta de couro e forçando-o dentro do cubículo junto a ela.
— É ação de graças, por favor! Nós passamos o último ano com a sua família, agora é a minha vez!
— A diferença é que a minha mãe te adora, . Ela coloca chocolate no seu travesseiro, ela faz as suas comidas preferidas. Minha irmã gosta mais de você do que de mim, pelo amor de Deus! Mas a sua família inteira me odeia pelos motivos mais bestas e fúteis do mundo! – ele desabafou, cruzando os braços no peito.
Odiava que ainda tinham que ter aquela conversa. Odiava mais ainda saber que logo ele cederia porque a amava demais para lhe negar aquilo.
— Ei, eu sei que eles não são fáceis de lidar e eu sei que não vão ser os melhores dois dias do mundo, mas eu preciso que você faça isso por mim. Pensa nesses dias como um passo para fazer com que eles enxerguem o quão incrível você é!
— Eu não preciso da aprovação deles, . A opinião deles só é importante para você. – falou e ela suspirou, pois concordava.
Não importava o quanto sua família a tirava do sério, estava sempre buscando agradá-los. Apesar de tudo, ela ainda era grata por tudo que eles fizeram e ainda fazem por ela, afinal, há pouco mais de três anos saíra de uma pequena cidade com poucos milhares de habitantes para se mudar para New York, a capital mais movimentada e mais cara do mundo. Se não fosse toda a boa educação que eles pagaram para ela tivesse, se não fosse a ajuda financeira deles, ela não seria uma estudante da NYU.
— Eles são os meus pais, . – disse, mas ele nem mesmo a encarava, preferindo manter seu olhar no cabo da vassoura ao seu lado. – Você me ama, certo? – ela questionou depois de alguns segundos em silêncio.
— É claro! Precisa perguntar?
Só por estar inconformado com a pergunta, ele voltou seus olhos para ela. puxou as mãos do namorado para si, forçando-o a desfazer o cruzamento no peito.
— Bom, se você me ama...
— Ah, não! Você não vai jogar uma chantagem emocional para cima de mim, vai? Pensei que estivéssemos acima disso. – a interrompeu.
— É claro que não, me deixa falar! – mesmo a contragosto, ele ficou quieto. – Se você me ama como eu te amo, sabe que quer passar o resto da sua vida comigo. Mas eu venho em um pacote, . Com um pai, uma mãe e uma irmã. Todos preconceituosos e inconvenientes, mas é a minha família, eu os amo e quero te incluir nela. Então por favor, vem comigo para Kennebunkport durante o feriado de ação de graças, por favor!
respirou fundo, encostando a cabeça na parede atrás de si. Era hora de aceitar. Ele tinha esperanças de que, de uma hora para outra, sua namorada fosse desistir dessa viagem, assim poderiam passar o feriado sozinhos em seu apartamento. Ele cozinharia para ela sua comida preferida, compraria um bom vinho, talvez um presente simples só para vê-la sorrir mais ainda, e todo o clima os conduziria diretamente para a cama, lugar onde passariam o resto da noite. Não poderia imaginar nada melhor do que aquilo, mas, agora, não tinha opção a não ser deixar aquele dia para o próximo ação de graças.
— Tudo bem, , nós vamos para esse código que você chama de cidade...
o abraçou na mesma hora, com um sorriso gigantesco nos lábios. Sabia que ele não a decepcionaria. Era como se não tivesse essa capacidade, e ela fazia questão de deixá-lo saber o quanto era grata por ser tão confiável e incrível com ela.
— Podemos repassar mais uma vez? – perguntou ao ver a placa indicando que acabavam de entrar no limite de sua cidade natal, Kennebunkport. Imediatamente suas mãos apertaram o volante com mais força, nervosa.
— Pela terceira vez? – questionou, mas um olhar em direção ao rosto ansioso da namorada e ele já havia topado. – Tá bom...
— Certo. O que não mencionar? – ela começou.
— Tudo sobre a sua vida em Nova York, eu diria.
— !
— Suas tatuagens, seu gosto musical, seu gosto literário, que você não vai a igreja há mais de três anos, que você se forma em História no próximo ano e não vai fazer especialização em uma escola de medicina, que você tem feito alguns bicos em bares da cidade, qualquer coisa ligada a política... Peguei tudo?
— Sim, amor! Obrigada. – agradeceu, levando uma mão até a dele e apertando. – Agora, o que devemos mencionar sempre?
— Nossas notas altas, a vida tranquila e feliz que levamos, os planos para o futuro, que eu pretendo me especializar numa escola de advocacia, que estamos pensando em adotar um cachorro, o quanto nos amamos, o quão bem eu faço para você... É o suficiente?
— Acho que sim. – respondeu, ainda nervosa. Sabia que mesmo que enchesse sua família de boas notícias, eles ainda assim fariam daquele feriado um inferno, mas sempre tinha esperanças de que fosse diferente.
— Não acha estranho que logo você, uma estudante de história cheia de opiniões, se recusa a discutir política com o seu pai? – questionou.
— Meu pai é um homem de 64 anos e republicano roxo, . Você ainda não viu ele falando sobre política. Discussões saudáveis não entram naquela casa, só bagunça e ofensas. – ela explicou.
Se lembrava dos seus 15 anos, o auge da sua ingenuidade, quando ainda achava uma boa ideia entrar em discussões do tipo com o seu velho. Sempre saía frustrada e com raiva de todo o mundo. Em seus 21 anos de vida, aprendera a força quais tópicos eram e quais não eram bem-vindos em sua casa e buscava segui-los a fim de evitar problemas maiores.
— Tudo bem. Só não me obrigue a sorrir e acenar se ele disser que Donald Trump é o que a América precisa.
— Se ajudar, você também pode morder a própria língua. – ela sugeriu com um sorriso. Ele começou a retrucar, mas já viravam na esquina da rua do seu antigo lar. – Shhh! Estamos chegando.
De longe, já podia ver sua mãe sentada na frente da grande casa em que morara por toda a sua vida. Se tivesse sorte, seu pai só chegaria daqui algumas horas quando voltasse de sua fazenda. Jackson Holmes era um dos maiores fazendeiros da região e o pai mais protetor do mundo, de acordo com . O fato dela namorar um cara cheio de tatuagens, corte de cabelo questionável e com muitas peças de roupas de couro no guarda-roupa não ajudava muito.
Ella Holmes, a mãe coruja, os recebeu com um grande sorriso nos lábios. Também não era fã de seu companheiro, mas se dava o trabalhar de disfarçar de vez em quando, pois presava pela educação acima de tudo. Seu pai, mãe e irmã faziam a família perfeita, todos moldados para pensar exatamente do mesmo jeito, enquanto ela era a ovelha negra, ainda que não fosse uma pessoa ruim.
— Ah, minha querida, quanto tempo! – Ella exclamou no meio de um abraço. permaneceu de pé ao lado, tão desconfortável quanto só a casa dos pais da namorada podia deixá-lo.
— Me desculpe pela demora, mãe.
— Tudo bem. É seu último ano e você precisa se esforçar para entrar em uma boa escola de medicina, eu entendo.
assentiu, concordando com a mentira que tem contado pelos últimos três anos.
— Olha quem veio dessa vez! – anunciou, puxando para perto com um sorriso amarelo.
— Olá, rapaz. – disse, estendendo-o a mão.
— Ella, é bom vê-la de novo. Como vai? – perguntou, apesar do garoto teimoso dentro de si o mandar ignorar a mulher, assim como ela faria se ele não tivesse sido jogado a sua frente.
— Bem. Vamos entrar, eu vou fazer um café quentinho para a gente. Sua irmã deve chegar logo da escola e seu pai você já conhece.
Mesmo com a visita da filha, o pai só chegaria em casa quando terminasse completamente todo e qualquer serviço na fazenda, especialmente quando não iria trabalhar no dia seguinte.
A casa era a mesma de que se lembrava, como em todas as visitas anteriores. Sua mãe nunca permitia que nada saísse do lugar. A decoração era a mesma desde que tinha seis anos de idade, quando uma grande decoração foi feita. Sabia que se subisse até o seu quarto, veria tudo perfeitamente arrumado como o havia deixado na última vez, sem pó e sem vida.
— Então... Como estão as coisas em Nova Iorque? – Ella perguntou enquanto colocava água na cafeteira.
— Tá tudo bem. – respondeu, colocando o celular em cima da mesa onde o teria em vista. – Na verdade, eu tô esperando a resposta de uma entrevista de emprego que fiz essa semana.
colocou a mão em sua perna e apertou levemente, a olhando com um sorriso. Vai dar tudo certo, ele quis dizer, pois sabia a pilha de nervos que estava a namorada com a possibilidade de um novo e ótimo emprego além desses dois dias na casa dos pais. Dois dias de dor e tortura para ele.
— Que ótimo, querida! Onde?
— No museu metropolitano de Nova Iorque... – respondeu e no mesmo segundo se lembrou de que aquela era a resposta errada. – C-como... ahn, assistente da enfermaria de lá. É, isso. Acho que posso aprender bastante.
— Não acha que aprenderia mais em um hospital? Recepção, talvez na farmácia? Além dos contatos que você já pode conseguir, certo?
— Sim... Sim, faz sentido, é que... – seu olhar correu para o namorado, clamando por ajuda. Não sabia para onde seguir a partir de ali.
pigarreou, arrumando sua postura.
— Você sabe como é a sua filha, Ella. Muito doce, delicada... Nós pensamos que começar diretamente num hospital não fosse uma ideia muito boa, não é, amor?
assentiu, concordando agradecida pela ajuda. Na maior parte do tempo, estava longe de ser doce e delicada com certeza não seria uma característica apropriada para a sua pessoa, mas para viver em paz naquela casa, fora obrigada a criar uma imagem, imagem essa que tinha que manter a todo custo enquanto ainda dependesse tanto da ajuda dos pais.
— É, acho que essa é uma boa ideia. Coisas terríveis podem acontecer em hospitais, não queremos que a nossa garota desanime. – disse, dando leves tapinhas nas costas da filha. sorriu, apesar de, por dentro, sentir crescer mais ainda a vontade de sair correndo dali.
Eles ouviram a porta da frente se abrir e ela soube que sua irmã chegara. Apesar de serem completamente diferentes – Alicia Holmes era tudo que a irmã mais velha nunca fora, ainda que seus pais não soubessem –, elas se davam bem. Também tinham a capacidade de se irritar mais do que nunca hora ou outra, mas era assim que as coisas funcionavam quando se tinha uma irmã.
não podia dizer a mesma coisa. Alicia Holmes era seu inferno pessoal. Tagarela, irritante, enxerida e mimada. Já desconfiava disso antes, quando raramente a via ou ouvia suas conversas com a namorada, mas pôde confirmar todas as suas teorias e mais algumas nas últimas férias que ela passou morando em seu apartamento. Três semanas para , um ano inteiro para ele que se sentia torturado a cada minuto que tinha que passar na presença da garota.
— ! – a estudante gritou, pulando nos braços da irmã que já a esperava de pé.
— Que saudade do meu bebê! – exclamou e não pôde ver o olhar incrédulo de .
— Oi, . – Alicia disse a ele algum tempo depois em um tom entediado. – Pensei que fosse passar esse feriado com a sua mãe.
— Ah, você sabe como a sua irmã me ama mais do que qualquer coisa. Ela não aguentou ficar mais de dois dias sem mim. Quanto tempo faz que vocês não se veem mesmo, Alicia? Mais de dois meses, não é?
Apesar da completa falta de afeto pela menina, admitia que a presença dela ali facilitaria a sua vida de alguma maneira. Uma maneira muito pequena. Provocá-la nunca deixava de ser divertido, principalmente sabendo o quanto a ideia da irmã estar mais próxima dele do que dela a irritava.
— Espera... Você vai deixar a sua mãe passar o dia de ação de graças sozinha?! – ela questionou, fingindo choque e ignorando as perguntas do rapaz. – Uau! Eu com certeza nunca pensei coisas muito boas de vocês, mas deixar a mulher que te deu à vida e te criou sozinha em um dos feriados mais importantes do ano é meio cruel, você não acha?
forçou um sorriso, apoiando a braço sobre a mesa.
— Eu tenho três irmãs mais novas. E você conheceu elas.
— Ah, é... Não é engraçado como pobre tá sempre fazendo mais filhos do que tem condições de criar? – perguntou para a mãe, rindo, sabendo que a mulher mais velha concordaria com aquele pensamento.
— Tá legal, isso foi muito sem educação, Alicia. Peça desculpas! – mandou e a irmã deu de ombros, colocando no rosto a irritantemente constante expressão de tédio.
— Tudo bem, amor. Ela é uma criança, fala besteiras o tempo todo.
— Eu tenho 15 anos! – a adolescente exclamou, encarando com raiva seu nada querido cunhado.
— Mas age como se tivesse 7. – ele afirmou. Alicia ia gritar algo de volta, mas foi interrompida pela irmã.
— Parem, vocês dois! Vamos levar as malas para o meu quarto, . – o chamou, já se levantando. O namorado a seguiu.
— Isso. Eu arrumei o quarto de hóspedes para o . – Ella disse antes que deixassem o cômodo, fazendo com que o casal parasse para encará-la.
A filha estava surpresa por dois motivos: sua mãe havia se dado o trabalho de deixar o quarto limpo e arrumado para receber . Não devia estar tanto, pois sabia a anfitriã que tinha naquela casa, mas com todo o ódio que aquela família se juntava para mandar à ele, não pode deixar o choque de lado. O segundo também era sua mãe ter preparado o quarto de hóspedes. Estava claro em sua mente que dormiriam no mesmo quarto, afinal, já tinha seus 21 anos.
Não era muito boa em confrontar seus pais, mas não abriria mão daquilo. havia aceitado vir para literalmente o seu inferno pessoal, o mínimo que podia fazer era garantir que ele o passasse ao seu lado.
— Mãe, o vai dormir no meu quarto.
A expressão de Ella ao ouvir aquelas palavras foi ainda mais surpresa.
— Não fale besteiras, . Como espera que seu pai aceite o seu namorado e você dormindo juntos debaixo do nosso teto?
— Nós moramos juntos há dois anos, não é como se nunca tivéssemos feito isso...
— E mesmo dois anos depois, seu pai ainda tem dificuldades em aceitar. Vamos tentar não criar mais problemas, tudo bem? – Ella sugeriu, mas a filha negou balançando a cabeça.
— O meu namorado vai dormir comigo e pronto! Eu me resolvo com o papai mais tarde.
Naquele momento, todos no cômodo souberam que o jantar daquela noite seria tudo, menos pacífico.
— Tem certeza que isso é uma boa ideia? – perguntou ao fechar a porta do quarto de infância da namorada, o obstáculo responsável por mantê-los afastados por alguns minutos da marcação constante das outras duas mulheres na casa.
— Provavelmente não. – respondeu, se sentando em sua antiga cama de solteiro. O namorado dormiria no colchão agora jogado aos seus pés. – Mas eu não posso deixar que tenham tudo do jeito deles, posso?
— Eu diria que você já deixa coisas demais do jeito deles, mas se isso te faz confortável... – disse, se sentando na sua cama improvisada e apoiando o queixo nas coxas cobertas por uma calça jeans da companheira.
— Confortável com certeza não é a palavra ideal para essa situação. – suspirou, desanimada. – Por que as coisas nessa casa são tão complicadas? Por que minha família não é aberta e perfeita como a sua?
— A minha família não é perfeita. – respondeu, rindo levemente. – E levou muito tempo para a gente chegar aonde estamos hoje. Você só precisa ter paciência. E parar de esfregar a minha presença na cara deles.
— Se eu não esfregar, eles nunca vão te aceitar!
— Eu não me importo. A única pessoa que eu preciso que me aceite já está ao meu lado há três anos. É o suficiente para mim.
sorriu, abaixando a cabeça para colocar sua testa a do namorado, questionando o que fez para merecer alguém tão compreensivo ao seu lado, especialmente depois de todas as desconfortáveis reuniões familiares em que o enfiou.
— Você é o melhor. – disse.
— Eu sei. Quer saber o que eu também sei? – perguntou e ela assentiu. – Que ainda assim você vai insistir.
— É importante para mim.
— Tudo bem, eu aguento. – respondeu com um sorriso. – Já estamos aqui, não estamos? E há o que? Meia-hora? É como se um dia inteiro já tivesse passado.
Odiava estar lá com todas as suas forças, mas não tinha mais como voltar atrás. Tudo que podia fazer agora era tornar aqueles dois dias o mais confortáveis possível para sua namorada.
Em algum lugar da casa, Ella e Alicia conversaram sobre o dia da menina na escola. Enquanto isso, arrumava a mesa e encarava aflita a tela de seu celular, um hábito que havia adquirido 48 horas antes.
— Você acha que isso significa alguma coisa? – questionou.
— Só se passaram dois dias, calma. Eles mesmo te falaram que tinham mais pessoas para entrevistar. – ele repetiu o discurso que vinha fazendo pelas mesmas 48 horas.
— Se tivessem gostado realmente de mim, não entrevistariam mais pessoas. Isso é um sinal ruim, . Talvez a mulher esteja demorando tanto para me ligar avisando que não consegui porque me achou simpática e nesse momento está se preparando para a notícia que vai piorar ainda mais esse feriado.
Ele riu, balançando a cabeça.
— Você cria umas histórias bem absurdas na sua mente, não acha? Já são quase sete da noite, , ela deve estar em casa descansando. Sejamos sinceros, você provavelmente só vai receber uma ligação depois de amanhã.
— Ah, não... – resmungou, não suportando a ideia de esperar mais quase outras 48 horas. Seu cérebro já começava a bolar um plano de ligar casualmente para a sua entrevistadora naquele momento quando foi distraída com o barulho da porta da frente.
— Melhora essa cara. Não queremos seu pai me culpando pela sua infelicidade, certo?
assentiu, pois sabia que o companheiro tinha razão. Ela poderia cortar o dedo na frente do pai e ele ainda assim encontraria uma maneira de culpar o rapaz. Para tornar suportável, ambos pensavam naquilo como algum tipo de superpoder.
Ela foi apressada até a sala de estar dar um abraço apertado nele e a seguiu. Apesar de todos os apesares, conseguia sentir muita falta de seu progenitor e de toda a segurança que estar por perto dele a oferecia. Com todos os defeitos, aquela era a sua família e seu coração não conseguia não amá-los mais que tudo mesmo com todos os problemas.
Já o namorado poderia facilmente passar o resto de sua vida sem ter contato algum com o sogro, mesmo que seu semblante carregasse um sorriso simpático no momento. Alicia e Ella não eram exatamente fãs, mas costumavam simplesmente ignorar sua presença, o que tornava tudo infinitamente mais fácil. Jackson, ao contrário, fazia questão de incluí-lo em casa conversa, sempre na tentativa de diminuí-lo ou simplesmente provocar algum tipo de reação por parte do rapaz que o faria por si mesmo. Com aquele homem na casa, se sentia como se estivesse constantemente pisando em ovos.
— ! Fico feliz que tenha decidido passar o feriado com a gente. – disse finalmente depois de encher de elogios a filha, seu orgulho, a futura médica da família.
— É bom eu já me acostumar com a rotina da família, não é? – provocou de leve ao mesmo tempo em que correspondia a um desconfortável e rápido abraço. Sabia que não deveria fazer aquilo, mas as vezes não podia resistir.
— Claro, claro...
Seu tom de voz já não era tão alegre. Jackson ainda via como um genro passageiro, afinal, toda garota eventualmente se apaixona por alguém que não presta. Pouco a pouco, as coisas evoluíam com o casal e não gostava nada daquilo. Sua filha tinha que se casar com um homem de negócios, talvez fazendeiro como o pai, não com um gibi de pernas que mal tinha como se sustentar.
— Vamos comer? O jantar está pronto, só estávamos te esperando. – disse, puxando-o pelo braço, na tentativa de tirar sua atenção do rapaz que definitivamente levaria uma bronca mais tarde. — MÃE, ALICIA, VAMOS COMER! – gritou para as duas no andar de cima.
— Você cozinhou? – Jackson perguntou, se sentando na ponta da mesa, o assento do chefe da família. De fininho, escolheu o lugar mais afastado possível.
— Sim, eu e o . O tempero dele é muito bom, tenho certeza que vão gostar.
— É bom. Não seria muito legal me servirem algo ruim depois do dia inteiro que passei trabalhando, não é?
— Não, papai, não seria.
Mãe e filha mais nova desceram as escadas conversando baixinho sobre algo que foi interrompido assim que pisaram na cozinha. A última deu às boas-vindas ao pai com um beijo na bochecha.
Pela segunda vez naquele dia, foi obrigada a mentir sobre seu talvez futuro emprego como assistente da enfermaria de um museu quando tudo que queria era gritar que na verdade poderia trabalhar na administração do lugar, pertinho de muitos historiadores que admirava. Mas, por saber exatamente o drama que seus pais fariam caso soubessem, optou por se comportar naquele momento.
— E você, garoto? Como vai a faculdade? – Jackson perguntou ao terminar o questionário da filha. forçou um sorriso. Já esperava que aquela hora chegasse.
— Vai bem. – respondeu simplesmente, esperando acabar rapidamente com a sua parte.
— No que é que vai se formar mesmo?
— O meu plano é conseguir uma vaga de especialização em Direito, senhor.
— Uau, você com certeza sonha alto. Não é nada fácil conseguir isso em uma instituição de prestígio. Acha mesmo que consegue?
— O é muito elogiado pelos professores, tem ótimas recomendações e notas excelentes. Ele vai conseguir. – afirmou em apoio ao namorado. Para o pai, foi como se nem mesmo tivesse aberto a boca.
— Na minha opinião, se quer ser mesmo um advogado, devia ter pensado um pouco melhor antes de encher o corpo de tatuagens. Essa é uma profissão séria, , e caveiras mexicanas não passam essa imagem, se me permite dizer.
Ele gostaria de não permitir, mas não tinha aquela opção.
— Eu não acredito que a minha aparência deva interferir em como eu trabalho. São duas coisas completamente diferentes. – disse o rapaz, trabalhando no tom amigável a fim de manter as aparências.
observava os dois, sempre preocupada com a fala seguinte, ao contrário da irmã que ficava ansiosa pelo que estava por vir. Suas palavras de criticismo a não valiam muito, principalmente porque ele tinha o dom de responde-la muito bem, já as do seu pai carregavam um grande peso. Ella, já acostumada e entediada com situações como aquela, ignorava-os, saboreando sua comida que, afinal de contas, estava deliciosa. Tinha que dar esse crédito ao genro.
— Mas deve concordar comigo que ela interfere na maneira como as pessoas te veem.
engoliu em seco.
— Sim... No entanto, eu confio no meu potencial como profissional. Tenho certeza que, assim que eu tiver a oportunidade de mostrar o que posso fazer, as tatuagens não vão ser nada além de uma característica física. – explicou calmamente, ganhando um sorriso agradecido e orgulhoso da namorada.
— Papai, eu preciso te contar... – Alicia começou a dizer, pensando, como todos naquela mesa, que o papo havia acabado, mas foi interrompida pela risada do homem mais velho.
— Me desculpa, mas... Imagine o tempo que vai levar até “reconhecerem o seu potencial”! Você acabou de me falar que pretende continuar nessa família e, , como eu posso confiar minha filha a um cara que não tem seu futuro certo? Como vai sustentar uma casa até lá?
— Ahn... Eu não acabei de falar sobre o meu possível novo estágio? Eu pretendo ter um salário, sabe? Ele não vai ter que sustentar nada sozinho. – se intrometeu, chateada por toda a responsabilidade sobre suas vidas estar sendo jogada injustamente em cima da pessoa que movia o mundo para garantir a família e a ela sempre o melhor.
— Tá tudo bem, amor...
— Não tá! Pai, o trabalha desde os 15 anos, já teve tantos empregos que perdemos a conta, ajudou e ainda ajuda a sustentar a família dele, então se ele diz que vai ficar tudo bem, eu quero que você acredite! – ela concluiu.
Todos largaram a comida de lado por algum tempo, o que deixou ainda mais triste. Não era para ser assim. Ela sabia que dificilmente passariam por aqueles dois dias sem trocas de faíscas, mas esperava conseguir sair daquelas situações com toda a calma e graciosidade que tanto fingia possuir.
— Não vamos brigar, tá bom? – Ella começou, em sua tentativa de acalmar os nervos. – Jack, eles estão bem crescidinhos e sabem o que fazem com suas próprias vidas. Não vamos nos intrometer.
Apesar das palavras da mãe parecerem doces, sabia que o que ela via como uma boa escolha para sua vida era terminar com e se envolver com alguém “de maior prestígio”.
Jackson pigarreou.
— Sua mãe tem razão. Além disso, a comida está deliciosa, não vamos desperdiçar, certo, ?
— Obrigada. – ele respondeu com um sorriso leve.
não pode deixar de notar que o pedido de desculpas não veio, mas um elogio a comida já era algo bom. Se contentou com aquilo.
Uma hora e meia depois, todos estavam na sala de estar assistindo a gravação de uma releitura de Romeu e Julieta, peça em que Alicia conquistou um dos papeis principais. Extremamente orgulhosa de seu feito, a menina já havia mostrado a irmã mais velha um álbum inteiro de fotos da apresentação e agora exibia o filme de uma hora.
Quando Julieta, uma influenciadora digital com seus trajes de grife e celular colado a palma das mãos, se mata, teve que conter um suspiro aliviado que denunciaria seu tédio. Era um bom trabalho, mas peças de teatro não o interessavam tanto quanto interessavam a , que tinha a cabeça apoiada em seu ombro e acompanhava com atenção cada pequeno movimento dos atores.
— Então, o que achou? – Alicia perguntou ansiosa ao final, convenientemente ignorando e sua opinião. Em momentos como aquele, ele agradecia ao universo pela birra da garota.
— Muito bom, Ali! Sua atuação foi ótima! E a história é um pouco absurda, mas isso acaba tornando ela interessante.
— Não é?! Todos os professores ficaram com um pé atrás quando contamos o enredo, mas no final ficaram completamente presos a história. Uma delas até sugeriu que a gente desenvolvesse algo original a partir do que criamos. – contou, animada.
— Uau! Se precisar de ajuda com algo, você já sabe que pode me procurar, não sabe?
Alicia assentiu em êxtase pela irmã ter gostado de seu trabalho. Jackson se levantou de sua poltrona e bagunçou o cabelo da menina em um gesto de carinho.
— Minha pequena estrela. Eu tive sorte ou não tive com essas duas, ?
— Opa! Muita sorte. – respondeu, pensando consigo em como seria divertido ver a cara de espanto do sogro se descobrisse que a filha mais velha não seguia exatamente o caminho que ele havia cuidadosamente montado para ela.
— Se vocês não se importam, eu vou me deixar, estou cansado. Ella, já mostrou para o rapaz o quarto em que ele vai ficar? – o chefe da casa perguntou e imediatamente todos ficaram um pouco tensos, com exceção de Alicia que carregava um sorriso, ansiosa pelo que poderia vir a acontecer.
— Ah, sobre isso... – a mãe começou a dizer, mas não soube concluir, então lançou um olhar significativo a .
— Pai... É...E-eu só queria dizer que... – olhou para as pessoas ao seu redor em nervosismo. – O amou o quarto dele.
— Que ótimo. – Jackson afirmou com um sorriso claramente falso antes de deixar a sala e subir para o seu quarto. – Boa noite, pessoal.
— ! Vai começar a mentir para o seu pai agora? – Ella exclamou em desaprovação assim que ouviu a porta do quarto se fechar no andar de cima.
Começar?, pensou, divertido.
— É uma mentirinha branca, mãe, para o próprio bem dele. Não queremos estressa-lo mais depois de um dia longo de trabalho, certo?
— Sabe o que não também não iria estressar ele? Vocês não dormirem no mesmo quarto. Tem bastante espaço lá fora para o seu amigo. – Alicia disse, fazendo a irmã mais velha revirar os olhos.
— Não fala nada para ele, mãe, por favor.
Alguns segundos depois, a mulher suspirou, se dando por vencida.
— Só não vou falar porque ninguém merece dormir com o seu pai de mau humor do lado. Tranquem a porta do quarto de hóspedes e do seu, . Não é um costume, mas vai que seu pai decide fazer uma surpresa para algum de vocês...
Dito isso, saiu com passos pesados, deixando para trás duas pessoas aliviadas e uma extremamente decepcionada.
— Ei. – sussurrou no escuro e silencioso quarto. abriu os olhos, encontrando o que parecia ser a cabeça da namorada o olhando da cama de cima.
— O que? – sussurrou de volta.
— Deita aqui comigo.
Ele sorriu e não demorou muito para se enfiar debaixo dos lençóis da garota, ficando frente a frente com ela, seus corpos colados porque estavam confortáveis assim e também porque a cama de solteiro não os dava muito espaço.
— Desculpa não ter contado para o meu pai que você ia dormir comigo. – ela disse, aconchegando seu corpo ao dele.
— Pensei que não quisesse falar sobre isso.
Ela deu de ombros.
— Não quero, mas acho que te devo uma explicação.
— Você não me deve nada. – disse e ela abriu um sorriso que o deixou abobalhado por alguns segundos.
— Eu só não queria arrumar mais confusão com o meu pai. E também, não é tão fácil enfrentar ele quanto é enfrentar minha mãe ou minha irmã. Você não o acha assustador?
— Um pouco. De qualquer maneira, não tem problema. Essa é a sua família e é você quem decide como lidar com ela.
— Obrigada.
se aproximou para juntar seus lábios em um selinho que eventualmente evoluiu para um beijo profundo e apaixonado. Enquanto saboreavam um ao outro, experimentando mais um pouco daquela sensação de euforia e desejo que ainda estava presente mesmo depois de três anos juntos, ela o puxou para ainda mais perto. Com cuidado para não machucá-la, deixou seu lado para cobrir o corpo dela com o seu. Sentindo um calor tomar conta dela, abraçou a cintura do namorado com as suas pernas, conseguindo o contato que desejava, e desceu os lábios para o seu pescoço, dando mordidas leves.
— O que pensa que está fazendo, ? – perguntou entre uma mordida e o rebolado da garota que o fez deixar escapar um gemido baixo.
— Depois de todos esses anos, eu tenho mesmo que explicar? – ela disse, trazendo sua boca de volta para a dele.
— Engraçadinha. – murmurou entre o beijo, se afastando um pouco. – Você sabe que não podemos fazer isso aqui.
— Não sei, não. – ela negou, sua boca formando um bico que tornava aquilo ainda mais difícil para ele. – Por quê?
— Estamos na casa dos seus pais, oras! É... estranho.
— Ah, qual é! Sério? Não é como se eles não fizessem nada...
— Por favor, não coloque essa imagem na minha cabeça.
revirou os olhos.
— Você é muito frescurento! – ela disse e riu, jogando novamente seu corpo para o lado da garota e a abraçou.
— Isso é só a frustração falando. Prometo te recompensar quando voltarmos para casa, tudo bem?
— Eu tenho alguma opção além de aceitar?
— Não. – ele respondeu, sorrindo, então assentiu. O conhecia bem o suficiente para saber que levaria horas de convencimento para que ele cedesse àquilo e precisava guardar suas energias para o dia seguinte.
— Droga.
Ainda era cedo para eles, acostumados ao ritmo agitado de New York, então ficaram ali, abraçados, conversando por algumas boas horas. Conversavam sobre o passado, presente e futuro, conversavam sobre as notícias do dia, sobre novas possibilidades de empregos, sobre suas respectivas aulas, até sobre o confortável colchão em que estavam deitados naquele momento. Conversavam com a cumplicidade e sintonia que só eles dois tinham.
Esfregar, enxaguar, escorredor, esfregar, enxaguar, escorredor, esfregar, enxaguar, escorredor. seguia aqueles paços há o que lhe parecia uma eternidade, pois sempre que estava prestes a terminar, Ella aparecia trazendo mais louça para lavar. Algum tempo antes, lavar as coisas e deixar a irmã ajudar na preparação do banquete de ação de graças lhe parecera uma boa ideia. Estava prestes a se arrepender. Por mais sedentário que fosse aquele pensamento, pelo menos Alicia podia picar os legumes sentada.
— Por que nós estamos cozinhando o jantar no meio da tarde mesmo? – perguntou enquanto enxaguava uma grande vasilha.
— Porque o jantar tem que estar pronto às 18h00. – a mãe respondeu.
— Eu errei a pergunta. Por que nós temos que jantar tão cedo no dia de ação de graças mesmo?
— É uma tradição, . Todo ação de graças nós temos a mesma conversa!
— É uma tradição, mãe.
Enquanto esfregava alguns utensílios, se concentrou na janela a sua frente que lhe dava uma boa visão do lado de fora da casa e da rua. havia saído com seu pai há mais de vinte minutos para dar uma volta e nada deles voltarem até agora. Por um lado, estava feliz pela iniciativa de seu velho de leva-lo junto. Por outro, se sentia culpada por sequer pensar na ideia, mas um dos pensamentos que corriam pela sua mente era a possibilidade deles discutirem e estarem se atacando por aí.
— Relaxa, . Não consegue ficar nem meia-hora longe daquele garoto? – Alicia disse, sempre irritada com a atenção que a irmã dava a um cara que, aos seus olhos, estava longe de ser o ideal para ela.
— Se vocês não ficassem atacando o a todo segundo, eu estaria relaxada.
— Quem vê pensa que ele é um santo. Ele teima comigo também, oras!
— Não começa, Ali. – falou dando mais uma olhada na rua. – O papai não anda mais com a arma dele para todo lado, anda?
— Não seja exagerada, garota! – Ella a repreendeu.
— Tá bom, tá bom.
Encolheu os ombros.
— Nós não queremos o mal dele, espero que saiba. Só concordamos que você tem potencial para estar com alguém muito melhor, mais centrado. Alguém que te puxe para cima e não para baixo. – sua mãe continuou.
— Quando é que o me puxou para baixo? – questionou, deixando a louça de lado por um tempo e se virando em direção a mãe e a irmã.
— Talvez ainda não tenha acontecido, mas vai, filha! Todas nós, mulheres, nos apaixonamos por algum bad boy eventualmente na vida e todas nós tivemos os nossos corações partidos por eles. Eu não quero que se magoe, só isso.
suspirou, achando aquilo absurdo, mas ao mesmo tempo compreensível. Sua mãe queria o melhor para a filha, só não havia percebido ainda que ela já havia encontrado o melhor.
— Mãe, se tem uma coisa que o não é, é um bad boy. Ele não tem nem coragem de matar uma barata. – Alicia riu com essa nova informação. – Toda vez que eu trago ele até vocês é na esperança de que abram os olhos e vejam o amor de pessoa que é, mas é como se vocês colocassem tapa olhos para não enxergar.
— Eu não vou ter essa discussão com você de novo, . – Ella concluiu e a filha suspirou, querendo dizer que nunca realmente tiveram aquela discussão, mas decidiu voltar à sua tarefa.
Quase meia-hora depois, viu pela janela o namorado e o pai chegarem em silêncio, carregando algumas sacolas. Com a louça finalmente – não por muito tempo – lavada, ela correu até a varanda para recebê-los.
— Ei, vocês demoraram! Onde foram?
— Ali no mercadinho do Julian, lembra dele? – ela assentiu. – Encontrei alguns colegas e ficamos conversando. Vou levar essas coisas para a sua mãe. – disse, pegando também as sacolas de e entrando na casa.
— E então? Vocês conversaram? Ele gosta de você? Ele te atura? – questionou, dando pulinhos de felicidade.
— Nós conversamos. Bem... Basicamente, seu pai falou o tempo todo. Eu sei os podres de todo morador daqui até o mercado. Isso é um avanço, não é?
— Sim, eu acho que é sim!
— Ah, mas tem outra coisa: ele não me apresentou para os colegas como seu namorado. Até onde todos sabem, eu sou apenas um amigo de New York. – disse e parou, agora chateada.
— E você não corrigiu ele?!
— Depois do pequeno avanço que tivemos na ida? Achei que seria estúpido.
— É, talvez. – concordou, suspirando. E então se animou novamente pela conquista. – Mas o importante é que tivemos um avanço! Um pequeno, mas significativo avanço! Agora, tudo o que temos que fazer é te encher de elogios durante o jantar, falar sobre seus projetos, sua família incrível, e assim vamos avançar mais ainda, eu tenho certeza!
— Não, pai, não foi isso que eu quis dizer! – resmungou pela terceira vez, já quase enfiando seu rosto no prato de comida a sua frente na tentativa de mudar o assunto.
— Eu trabalhei a minha vida inteira para dar a vocês a melhor educação, uma boa casa, mesa farta em todas as refeições, e você vem me dizer que um moleque que faz bicos por aí é, de alguma maneira, mais esforçado?
— Não, eu juro que não! Só me expressei mal.
Muito mal, teve que conter o impulso de completar, mas não queria piorar as coisas.
— Pelo amor de Deus, Jackson, ela já pediu desculpas, aceite-as! Será que não podemos ter um jantar tranquilo nem no dia de ação de graças? Por favor! – Ella o reprendeu e o marido encolheu os ombros. A contra gosto, ele concordou, engolindo várias lições de moral que queria dar a filha.
— Tudo bem.
— Alicia, conte para a sua irmã sobre a viagem que fez para Washington.
— Eu já contei, mãe...
— Eu tenho certeza que você deixou alguns detalhes de fora. Vamos, conte tudo. – insistiu, em seu olhar a ordem para que a filha começasse a mudar de assunto e começasse logo.
E então Alicia começou a contar detalhe por detalhe da viagem que fizera algumas semanas antes. Com exceção de , todos já haviam ouvido, mas, com o objetivo de tornar aquele jantar o mais pacífico possível, ouviram mais uma vez como se fosse a primeira.
— New York pode ser um lugar divertido para vocês, jovens, mas você sabia que é aqui em Kennebunkport que a família Bush passa o verão, ?
Agora seu pai falava incansavelmente das maravilhas daquela pequena cidade, lugar onde nasceu, cresceu e permanece até hoje. Mesmo que todos os pratos já estivessem vazios, apenas esperando a sobremesa, ele continuava a tirar novidades do fundo de sua mente, focando especialmente no genro, que não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim. O que tinha plena certeza era de que não aguentava mais ouvir informações chatas sobre uma cidade que ele não gostava nada.
— Ah, é? – mas fingia interesse.
— Há alguns anos, eu mesmo dei de cara com o ex-presidente em uma dessas ruas, não é, Ella? O pai, não o filho. Conversamos por algum tempo e tudo mais. Que oportunidade incrível!
— Sobre o que vocês conversaram mesmo, papai? – Alicia perguntou.
— Sobre a cidade, o clima... Eu tirei um tempinho para elogiar o trabalho incrível que ele fez na Guerra do Golfo¹.
Nesse momento, e trocaram um olhar. O dela claramente dizia para ele ficar com a boca bem fechada mesmo depois da última declaração do seu sogro. se sentiu torturado.
— Eu ainda me lembro da sua animação quando chegou em casa naquele dia. – Ella comentou, sorrindo, e Jackson concordou.
— E você, , o que diria para ele se o encontrasse na rua?
O rapaz quis revirar os olhos, pois novamente a atenção estava nele.
— Nunca parei para pensar nisso, mas... Bom, depois de tudo o que ele fez, não sei se teria estômago para ter uma conversa pacífica com ele. O cara é um imbecil.
— Quase. – sussurrou para si mesma. ouviu, mas não teve coragem de encará-la depois de ir contra todas as suas regras com um simples comentário.
— Tudo o que ele fez? – Jackson questionou, apoiando os cotovelos na mesa. Estava calmo o suficiente para forçar um sorriso, mas seu tom não era nada convidativo. – Você quer dizer trazer glória e renome para o nosso país? Defender a nação?
— Podemos, por favor, não falar sobre política? Nós já sabemos que temos opiniões distintas. – disse, tentando inutilmente salvar a situação.
— Ei, o que há de mal em um debate saudável sobre política, ?
— Pai, com todo respeito, você não tem a capacidade de participar de um debate saudável. É impos...
— Me deixa ouvir o seu namorado, por favor. Afinal, eu fiz uma pergunta. – interrompeu, a calando.
Ela encolheu os ombros e se afundou na cadeira, agora torcendo pelo bom senso do de acabar com aquilo antes que realmente começasse.
— Eu estou falando das decisões estúpidas que ele fez durante o governo. Ele não foi reeleito por um motivo. Se você quer falar sobre a Guerra do Golfo: ele e a mídia transformaram tudo em um verdadeiro show, manipularam uma população inteira. Na verdade, eu posso te indicar um texto do Kellner, ele fez uma análise int...
— Ah, por favor! O que é que você sabe? Não havia nem nascido durante o mandato dele.
— Eu estudo para ser um advogado, tenho que saber esse tipo de coisa.
Apesar de estar calmo, todos já podiam ver uma veia se destacando na testa de Jackson, o que significava que ele estava se controlando para não explodir. tapou o rosto, já vendo o caminho pelo qual estavam indo. Tantos assuntos para discutirem sobre e logo política havia sido selecionada de baixo do teto do maior republicano que ela conhecia.
— Eu não estou surpreso, essas universidades de hoje em dia parecem fazer algum tipo de lavagem cerebral em vocês. Deixa eu adivinhar: você é um grande fã do Obama! – exclamou, praticamente pingando veneno e nojo pelo seu tom de voz.
— Eu não sou fã de nenhum político. Não acho que eles façam mais do que sua obrigação, mas eu simpatizo, sim, com o Obama.
Jackson balançou a cabeça, rindo sarcasticamente.
— É claro que gosta dele. O que seria da sua família, afinal, se não fosse pela caridade que ele garantiu a vocês?
franziu o cenho, confuso. Também não gostava que ele tivesse achado uma maneira de enfiar a sua família na discussão. E não ficaria nada feliz se ele o tivesse feito pelo motivo que desconfiava.
— Caridade?
— Aquela frescura de AffordableCare Act², oras! Todos nós trabalhamos para pagar por um bom plano de saúde, aí chegam famílias como a sua que conseguem tudo de mão beijada.
— Pai, olha o que fala! – exclamou, notando como a mão do namorado se fechou em um punho ao ouvir a frase. – É da minha sogra e das minhas cunhadas que você está falando!
— A coisa vai ficar feia. – Alicia sussurrou para a mãe, que a deu uma cotovelada para ficar quieta.
— A minha mãe trabalhou a vida inteira para sustentar eu e as minhas irmãs, senhor. Ela nunca pediu ajuda ao governo a não ser que realmente precisasse e, sim, ela precisou hora ou outra. Esse programa ajuda muito aqueles que não tem condições parecidas com a sua. Você deveria, ao menos, ter consciência disso.
— Sabe como eu cheguei às condições que estou hoje, rapaz? Muito trabalho e suor. Ninguém me deu nada de mão beijada.
— Ninguém está falando que você não merece o que tem, papai...
— Ninguém te deu nada? De onde veio a fazenda que você tem? Do seu pai, pelo que a me falou. Você não conquistou tudo sozinho.
— Quando meu pai passou a fazenda para o meu nome, nós mal produzíamos. Você saberia o quanto ela cresceu se tivesse interesse em conhecer o patrimônio da família que você tanto diz querer permanecer!
— Me desculpe se eu tô pouco me fodendo para conhecer a fazenda de um cara que se acha melhor que eu e minha família juntos. – disse, forçando um sorriso para o sogro que já tinha sangue nos olhos.
— Você tem muita coragem para falar assim comigo dentro da minha própria casa, depois de comer a minha comida. O que você veio fazer aqui nesse feriado mesmo? Sua mãe não trabalhou o suficiente para fazer um banquete pra vocês esse ano, foi?
— Pai!
— Eu tô aqui porque a sua filha me pediu. Fale o que quiser, quantas vezes quiser, me ofenda, me xingue, mas enquanto ela querer a minha presença, meu amigo... Você vai ter que me engolir!
— Então não vou te ver muito mais vezes então. Eu tô contando os dias para a acordar e ver o verdadeiro marginal que você é! Todos nós aqui concordamos, meu amigo.
grunhiu em seu lugar, nervosa e cansada de ser constantemente ignorada. Tinha ali as pessoas que mais amava em sua vida, não achava justo que se atacassem como se fossem inimigos. Não achava justo que tivesse que ficar no meio daquilo tudo, então arrastou sua cadeira para trás e se levantou. Só respirou bem quando chegou no gramado da frente de sua casa e sentiu a brisa do começo da noite balançar seus cabelos.
Sabia que trazer era uma péssima ideia, mas a esperança de que dessa vez fosse diferente falou mais alto. Praticamente obrigara o namorado a ouvir todas aquelas ofensas e se manter calado. Não podia nem mesmo ficar brava com ele por começar a responder. Até sua sogra, uma das mulheres mais doces e gentis que conhecera, havia sido ofendida pelo pai tão cabeça dura que não conseguia enxergar um palmo além da sua realidade. Não cometeria aquele erro novamente.
Quando viu aquele que acreditava ser o homem da sua vida vindo com passos apressados em sua direção, ela correu para os seus braços, já encaixando o rosto no vão do seu pescoço, onde poderia sentir seu cheiro. Ele a acalmava por inteiro.
— Ei, tá tudo bem? – perguntou, acariciando a nuca da garota.
— Me desculpa por te trazer aqui, por te obrigar a ouvir todas aquelas coisas... Foi uma ideia horrível. Eu prometo que nunca mais vou tentar te forçar a engolir minha família e sua presença.
— Não tem problema, eu já te falei... Faço qualquer coisa por você. Além do mais, tudo que seu pai me fala entra por um ouvido e sai pelo outro. Eu já esqueci absolutamente todos os fatos chatos que ele contou sobre a cidade.
riu, lhe causando cosquinhas, e então se afastou.
— Mesmo assim, eu não posso permitir que você seja tratado assim. Você não merece, é incrível demais para isso.
sorriu, puxando o rosto da namorada para si em um selinho rápido. Quando se afastaram novamente, ela o pegou pelas mãos e puxou-o para perto da rua.
— Presta atenção em mim. – ela pediu com uma mão em cada lado do seu rosto.
— Sempre.
— Preciso que me prometa uma coisa. – disse, deixando-o curioso. – Só me ouve, tá bom? Depois você pode responder e quero que saiba que tem a liberdade de responder o que quiser, independente de como eu vá me sentir. – ele assentiu. – Eu venho te dizendo isso há muito tempo, mas quero enfatizar aqui, agora, que você é a melhor coisa que já aconteceu comigo. Você faz de mim uma pessoa melhor, mais centrada e... Romântica, aparentemente. Eu não estou disposta a abrir mão disso, de tudo de bom que você me faz sentir, então eu preciso que você me prometa que isso que nós temos é real, é sério, é para sempre! Preciso que me prometa que não vai partir meu coração, que vai estar ao meu lado independentemente de qualquer coisa porque só assim eu posso... Fazer o que eu quero fazer.
a encarou por bons segundos, sentindo o peso daquelas palavras. Quando assimilou cada uma, sorriu, mesmo que as mãos aflitas da namorada dificultassem aquele movimento. Não precisava pensar para responder, pois tinha tudo aquilo consigo como verdades desde o momento em que a beijou pela primeira vez.
— Você sabe que eu prometo. Prometo isso tudo e qualquer outra coisa que quiser que eu prometa desde que isso signifique estar com você.
Os olhos da garota se iluminaram com aquelas palavras, mesmo que já tivesse ouvido coisas parecidas dele milhares de vezes. Nunca se cansaria daquilo. De alguma maneira, ganhou um gás para fazer o que tinha que fazer, então começou a andar e puxa-lo junto de volta para dentro da casa, contrariando todas as expectativas dele de darem um beijo apaixonado como no final de um filme.
Quando chegou novamente na sala de estar, Ella e Alicia tiravam a mesa enquanto Jackson observava. parou logo atrás dela.
— Mãe, pai... Alicia, eu tenho confissões a fazer.
— Ah, Deus, e eu pensei que tivesse acabado. – a mãe reclamou, já puxando uma cadeira para se sentar. Por algum motivo, sentiu que aquela seria uma boa ideia.
Seu pai estava prestes a falar algo, mas se apressou para confessar logo. Não poderia dar nenhuma chance do destino retirar sua coragem.
— Eu não vou estudar medicina. Na verdade, eu estou prestes a me formar em História. – ela nem deu tempo dos olhos terminarem de se arregalar antes de seguir para a próxima. – Eu tenho quatro tatuagens e duas delas são em lugares que eu definitivamente não posso mostrar para vocês. Minha banda preferida é a Black Sabbath e não os Jackson 5. Na verdade, talvez vocês queiram saber que o é fã até demais dessa última. Eu não vou na igreja regularmente desde... Bem, o último final de semana antes de eu me mudar para New York. Eu perdi a minha virgindade com 16 anos e não com esse cara aqui, como eu contei para a Alicia e tenho certeza que ela contou para vocês dois. Mãe, aquele livro erótico que você encontrou no meu quarto alguns anos atrás não era da minha amiga, era meu. Eu gostaria de ter ele de volta, inclusive. O que mais? Ah! Eu tenho ficha na polícia. E antes que vocês tenham a oportunidade de culpar o , saibam que aconteceu duas semanas antes de eu conhecer ele. Não se preocupem, eu não roubei ninguém. Eu e algumas amigas achamos que seria uma boa ideia mostrar os peitos para dois policiais... O que talvez seja bem pior na cabeça de vocês... Enfim, deu para entender ou querem que eu continue?
Silêncio. Nem um pio sequer de sua família. As cigarras do lado de fora nunca soaram tão altas.
— Amor? – o interrompeu alguns segundos depois.
— Huh?
— Talvez você queira chamar uma ambulância.
— Vai ficar tudo bem, certo? – perguntou, mas ao invés de receber uma resposta, só ouviu gargalhadas do seu lado. – Quer parar?!
— Você quase deu um ataque cardíaco nos seus pais!
— Não seja exagerado, foi só um susto.
— Que seja. Eu com certeza pagaria para ver a sua irmã perdida daquele jeito de novo. – comentou, voltando a rir.
— Não seja malvado. – disse enquanto abria o vidro do carro para entrar um pouco de vento.
Quase já podia sentir o cheirinho de New York: ferrugem, alguns temperos duvidosos e muita poluição, mas aquela cidade era a casa que Kennebunkport nunca fora.
— Como vão ser as coisas agora? – perguntou depois de alguns minutos de silêncio.
— Para começar, eu vou poder parar de usar roupas floridas quando eles estiverem por perto. Talvez, com o tempo, eu possa falar um pouco mais sobre as minhas paixões. Não tenho certeza quanto a Alicia... Às vezes eu vejo um pedacinho de mim nela, você não?
— Definitivamente não!
Não queria brigar com os pais, mas estava cansada de permitir que, mesmo de longe, eles controlassem tanto de sua vida. Por mais bravos que estivessem naquele momento, tinha esperanças de que eventualmente o amor e necessidade da família unida os fariam voltar atrás. Só o fato de terem permitido que dormissem mais uma noite na casa deles já era algo a se considerar, era o que ela queria acreditar.
— Obrigada por suportar esses dois dias e por ficar comigo. – agradeceu, cobrindo a mão dele sobre a marcha do carro. virou a sua, entrelaçando seus dedos.
— Não me agradeça. Você tem muito que me recompensar por isso.
— E eu vou. Me aguarde, Knight.
O sorriso que ele abriu a fez ter mais certeza ainda que tinha feito a escolha certa ao se abrir aos pais. Queria ver aquela expressão sempre, mesmo com toda a sua família e a dele no mesmo cômodo, e iria até o inferno para conseguir.
that you'll be there when I need 'cause I wanna tell them they Just don't know you.
¹ A Guerra do Golfo foi um conflito no Oriente Médio, em 1991, que se iniciou quando o Iraque invadiu o Kuwait.
² É uma lei “de proteção e cuidado acessível ao paciente” sancionada pelo Barack Obama em 2010 cujo objetivo é ampliar o acesso do cidadão norte-estaduniense ao sistema de saúde.
Fim.
Nota da autora: E aííí, o que acharam? Particularmente, eu sou bem apaixonadinha por esses pps. Quem sabe um dia eu me animo para escrever alguma outra short pra eles, né? Espero que tenham curtido e não se esqueçam de dar as suas opiniões nos comentários! <3
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