14. TiO

Finalizada em: 18/06/2017

Capítulo Único

1998

— Você vai ser um sucesso, ! — o homem gritou, estourando um champanhe caro e servindo um pouco em três taças, sem se importar que tinha apenas 16 anos e ainda precisaria de cinco anos para poder ingerir álcool legalmente.
Na verdade, sua mãe tinha acabado de emancipá-la, para que pudesse assinar o contrato milionário por conta própria. Talvez, sua independência não estivesse assim tão longe.
Apesar do medo, seu coração estava acelerado. Depois que assinou o contrato e o devolveu para o empresário, ela tinha aceitado ser dele pelos próximos 10 anos e ele a faria a maior estrela da música.
pegou a taça que lhe foi oferecida e tomou um gole. Era a primeira vez que ingeria álcool. As meninas de sua escola bebiam o tempo todo nas festas — naquelas que ela nunca era convidada — mas era novidade para . E não entendeu o porquê de todos gostarem tanto de bebidas alcoólicas.
Sorriu mesmo assim.
— Obrigada, senhor Winston.
O homem sorriu de um jeito amistoso e tentou se mostrar calma. Sua mãe também sorria ao seu lado.
— A partir de agora, acabamos com as formalidades! Pode me chamar de Paul! Seremos melhores amigos, !
Ela assentiu, concordando.
— Você acha mesmo que a minha filha tem potencial? — a senhora perguntou, só para ouvir novamente o empresário da menina dizer o quanto sua filha era boa.
— Eu tenho certeza! — respondeu, convicto — será o maior nome da música nos próximos anos! Com certeza ela vai ganhar tanto dinheiro com essa voz maravilhosa e esse talento inigualável que fará de nós ricos! Sua família, eu e a gravadora, é claro.
ficou refletindo sobre aquela frase por um bom tempo. Ela estava usando seu talento para apoiar o sistema capitalista que tanto odiava? Ao assinar aquele contrato, tinha vendido seu próprio talento?
Mal desconfiava, mas aquela sensação de medo e desconforto a seguiriam durante toda sua carreira.

***

— Não posso fazer mais nada por você, garoto. Pode ir para casa.
— Espera! — gritou, entrando em desespero — Você disse que gostou das minhas fotos!
O editor chefe da revista Famous!News Magazine suspirou e parou de arrumar papéis em sua mesa para dar um pouco mais de atenção para o garoto de dezesseis anos em sua frente, notando o quanto ele tremia, abraçando com força exagerada o portfólio que examinara segundos atrás.
— Você é novo demais. Nem terminou a escola ainda. Se forme e entre em uma faculdade e eu terei um emprego para você assim que passar pela minha porta.
— Eu posso fazer o que você precisar que eu faça. — continuou tentando. Precisava daquele emprego mais do que precisava da próxima batida do próprio coração — Estou procurando emprego tem um tempo já, mas não consigo achar nada! O senhor é minha última chance! E não posso voltar para casa sem um emprego.
O editor chefe notou o drama das palavras do garoto, mas não questionou. Por causa de suas roupas amassadas e do aspecto magro dele, podia imaginar que era um garoto de baixa renda, assim como ele próprio fora um dia.
— Não ache que vai começar tirando foto em premiações do Oscar!
O brilho nos olhos de deixaria Paris, a cidade luz, com inveja.
— Isso quer dizer que consegui o emprego?
— Você será o assistente do assistente do assistente! — o homem avisou, com a voz rude. Já estava fazendo uma boa ação, se fosse ainda mais bondoso, deixaria de ser conhecido como “o maior filho da puta do prédio”.
— Tudo bem! Eu posso fazer isso! — assentiu, sem se deixar abalar — Quando começo?
— Amanhã, às 16h. E como você não poderá vir na parte da manhã por causa da escola, precisará compensar de algum modo.
— Está certo, eu trabalharei aos finais de semana! — sugeriu, fazendo o editor se surpreender. A maioria dos garotos daquela idade não queriam trabalhar tanto assim.
— Pode ir agora.
agradeceu mais um milhão de vezes antes de sair correndo, querendo contar a novidade para a mãe grávida. Ele estava prestes a trabalhar em uma revista de fofocas no departamento de fotografia. Era metade da sua pretensão original, que era trabalhar com fotografia. Imaginava-se como um fotógrafo renomado de fotos artísticas e não um tonto competindo com outros tontos para tirar fotos de artistas fúteis. Mas, naquele momento, ele precisava de emprego e, só o fato de ter arrumado algo em sua área, já estava de bom tamanho.
não imaginava que sua vida acabaria acomodada.


2000

, se você quer que as pessoas gostem de você, precisa ser ousada! — recomendou Chloe, a herdeira da maior rede de hotéis do mundo. Elas haviam se conhecido em um desfile em Milão e se tornaram amigas logo de cara. A única reclamação de Chloe era sobre o quão “certinha” era na maioria das vezes.
— Eu já estou aqui, não estou? — retrucou, revirando os olhos. Elas estavam em uma boate em Nova Iorque, sendo que, no outro dia, tinha um show para promover sua primeira turnê mundial.
Estar aqui não é suficiente. Você precisa ver o lugar e deixar que as pessoas vejam você. Precisa se aparecer para se manter no radar! — Chloe revirou os olhos para a expressão confusa de e puxou a amiga para um canto mais silencioso — Você é a nova revelação do pop, não é? Não vendeu trocentos milhões de discos desde que lançou o seu primeiro? E agora está lotando arenas e, em breve, lotará estádios! Mas, para continuar famosa, precisa continuar chamando atenção.
bufou.
— Isso parece cansativo.
— E é mesmo. Tenho feito isso desde os cinco anos. Tive aula com a melhor professora, vulgo minha mãe. Mas nós temos 18 anos. Você é a “Miss Sonho Americano” desde os 17, quando lançou seu disco e todo mundo viu o quão legal você é! Precisamos nos divertir, acima de tudo.
E o pior era que o discurso de Chloe estava começando a fazer sentido.
— Eu sei o quanto é estressante ser famosa. As pessoas querem que você seja perfeita e você vive reclamando o quanto Paul quer que você mantenha o sonho de vida americano vivo nas pessoas usando sua imagem de princesinha. Bom, aproveita, então. Tira uma coisa boa de uma coisa ruim. Vamos nos divertir e fingir que ninguém está olhando! Afinal, vai sempre ter uma foto horrível nossa dizendo que somos “caretas demais” ou “putas demais”. Se nos divertirmos, pelo menos valerá a pena.
Depois disso, não precisou de mais incentivos.
As duas beberam como se fossem alcoólatras que passaram muito tempo em abstinência e dançaram como se fossem coreógrafas renomadas. Logo encontraram uma pessoa que tinha um pouco de erva e elas fumaram também. nunca havia ficado tão louca e tão chapada.
Enquanto isso acontecia do lado de dentro da boate, estava do lado de fora, procurando a irmã menor, enquanto sua mãe estava sozinha em casa, cuidando do seu irmão mais novo. Eles eram em três, sendo que era o mais velho, a do meio e o pequeno Henry o mais novo filho.
! — gritava, procurando na enorme fila pela menina de 15 anos. Não deveria ser difícil achá-la, já que precisava ser maior de 21 anos para entrar e todos ali eram velhos o suficiente para não poderem se passar por uma adolescente. Sua mãe havia lhe ligado quando ainda estava no trabalho, ajudando seu chefe com umas fotos para um edital sobre boybands, dizendo que tinha fugido para ir a uma balada de rico atrás de uma cantora. sabia que a mais nova obsessão da irmã era e logo viu que Chloe Sparkles — a herdeira mimada — estava na cidade. Fuçou mais um pouco e encontrou uma reserva em nome de West Sparkles em uma boate no centro da cidade. Depois disso, foi fácil fazer a conta e chegar à uma conclusão. Ele só esperava que não tivesse errado no palpite.
Encontrou a irmã segundos depois, parada na porta, discutindo com o segurança.
— Meu nome é ! — gritava a menina. E ela não estava realmente mentindo, seu nome era mesmo . Só seu sobrenome que nunca carregaria os milhões que os carregavam; sua irmã era uma , o que significava sempre ter a renda baixa e começar a procurar emprego depois dos 14 anos — Vou ligar para o meu empresário e ele vai fechar isso aqui, seu embuste! Onde já se viu, barrar ?!
correu e puxou a irmã pelo braço, querendo jogá-la no meio da rua e deixar que um caminhão a atropelasse.
— Você perdeu o juízo, porra?! — ele gritou, quebrando sua regra de não falar palavrão na frente dos irmãos — Você pode ser presa por mentir o nome, cacete! Você pode ser presa por estar com uma identidade falsa, que, graças à puta que pariu, você não usou! E você não faz ideia da quantidade de anos que ficará sem sair de casa depois que eu te levar de volta! Eu podia ter perdido o emprego, ! A mamãe me ligou e disse que vocês brigaram e você fugiu de casa pra ir encontrar uma cantora! Que porra você tem na cabeça?!
estava assustada por ter sido pega e com vergonha de ter seu irmão mais velho gritando com ela bem na frente de todo mundo.
— Será que dá pra você parar de gritar?
— Puta merda, eu não acredito em você, ! E ainda por cima quer agir como uma mimada só porque tem o mesmo nome que a cantora! , você precisa entender uma coisa: seu nome é e nunca será . Você pode obrigar eu e a mãe a te chamarmos de e pode mudar seu corte de cabelo o quanto quiser! Não pode mudar quem você é e o sobrenome que nasceu com você!
Os olhos da pequena estavam inundados de lágrimas que ela tentava não derrubar por causa do rímel que, por ser de uma marca barata, era facilmente removível com água e, consequentemente, lágrimas.
Foi aí que algo aconteceu. Houve uma pequena confusão na entrada da boate e duas mulheres usando vestidos curtos demais saíram, rindo escandalosamente. O salto delas era tão algo que ficou com dor no pé só de olhar. Elas estavam tão bêbadas que não conseguiam andar sem o apoio da outra e seus cabelos estavam um lixo de tão bagunçados, praticamente cobrindo seus rostos.
Mas a pequena gritou assim mesmo.
!
segurou a irmã que tentou correr na direção das duas bêbadas, que se distanciavam cada vez mais.
— Você não vai para lugar nenhum, . A sua noite acabou e você está de castigo até seu terceiro filho ter a sua idade!
, seja racional, eu a idolatro! Vim aqui e estou de castigo pra sempre só porque eu queria conhecê-la!
olhou para a irmãzinha como se ela tivesse acabado de dizer que queria explodir a América.
— Você não idolatra ninguém, . E, aquelas duas estão tão ruins que tenho medo de deixar você chegar perto dela e ela vomitar em você.
Para sorte da menina, as duas estavam seguindo pelo mesmo caminho que seguia para chegar ao carro. Elas pararam na esquina, tentando parar de rir. Ele viu quando ficou séria e colocou a mão sobre o estômago, fazendo a amiga parar de rir também. Elas falavam alto e ele ouvindo quando anunciou que ia vomitar.
— Vem, . — chamou, tapando a visão da irmã para que não visse sua heroína musical colocando os bofes para fora no meio da rua — Você não precisa ver isso.
Os dois atravessaram a rua e trancou a irmã no carro e, antes que ela pudesse reclamar, atravessou outra vez para se aproximar das duas meninas que passavam mal do outro lado da esquina.
Chloe havia prendido o cabelo de em um coque, para que ela pudesse vomitar sem se sujar tanto, mas o trabalho ficara bem mal feito. Olhando para aquela cena com ranço, ele interveio.
— Vocês precisam ir para casa. — anunciou, fazendo com que as duas se assustassem e desse um passo para trás.
— Quem é você? — perguntou Chloe, lhe lançando um sorriso fácil, como se sorrir fosse sua única reação para qualquer acontecimento. Ele podia tirar um fuzil das costas e ela ainda sorriria.
— Ninguém. — ele murmurou, balançando a cabeça, mostrando que não era importante — Vocês precisam ir embora. Podem ligar para alguém?
— Eu vim dirigindo. — respondeu, tentando respirar fundo apesar da azia.
balançou a cabeça.
— Vocês pretendiam voltar dirigindo?
As duas assentiram como se fosse a coisa mais normal do mundo e o louco fosse ele.
— Inacreditável. — sussurrou para si mesmo — Vou chamar um táxi para vocês.
E, usando seu telefone, ele ligou para um táxi e passou o endereço de onde estavam. Em alguns poucos minutos, as duas ricas e mimadas estariam em casa.
— Eu não vou aguentar, Chloe. — sussurrou, se curvando no chão e fazendo seu cabelo cair todo outra vez. Chloe, por sua vez, estava encostada no muro, escorregando devagar pela parede e abrindo as pernas para conseguir se apoiar e expondo toda sua calcinha para , que apenas revirou os olhos e correu para ajudar a outra.
— Você precisa expulsar o álcool do seu corpo. — ele orientou, segurando seu cabelo e pegando um elástico no pulso cheio de pulseiras de ouro para prender os fios em um coque no topo da cabeça, como fazia com sua irmã antes de ela ir para as aulas de educação física, quando ainda estudavam juntos — E depois tomar algum remédio para ressaca, porque vai acordar e se sentir como se fosse explodir de tanta dor de cabeça.
O mundo ao redor de girava.
— Eu não posso vomitar de novo. — ela disse mais para si mesma do que para o homem ao seu lado.
— Precisa, sim. Na hora que você entrar no táxi, o movimento do carro vai fazer o enjôo piorar, então é melhor vomitar agora.
Ela continuou se recusando e reconheceu: tinha força de vontade.
Era uma pena que bêbados, em geral, não tinham força de vontade.
Ele segurou sua cabeça com mais firmeza e deu uma chacoalhada por alguns segundos, o que a fez vomitar logo quando o movimento parou.
Depois de colocar praticamente o estômago para fora, ergueu a cabeça.
— Por que está sendo tal legal?
— Eu tenho a mania de cuidar das pessoas. — ele admitiu, sabendo que ela estava bêbada e nem se lembraria disso no outro dia.
Eles olharam para trás e encontraram Chloe dormindo, encostada no muro.
— Vocês conseguem a partir daqui. O táxi está chegando e eu preciso ir embora.
correu para longe antes que pudesse se despedir e ela estava bêbada demais para correr atrás dele ou gritar que esperasse. Agachou ao lado da amiga para tentar acordá-la antes que o táxi chegasse.
Do outro lado da rua, a pequena tinha visto tudo e estava um pouco chocada. A bêbada naquela calçada não se parecia com a mulher que via cantar na televisão. entrou no carro e ignorou as reclamações da irmã quando viu sua câmera profissional no banco do passageiro. Olhou para a cena das duas famosas na calçada e saiu do carro de novo, dessa vez com a câmera nas mãos.
Apoiando-se no teto do carro, ele olhou para pela câmera. Focou em seu rosto e nos movimentos de sua boca, enquanto ela tentava acordar Chloe. Clicou algumas vezes, querendo capturar aquele momento.
Não era porque era famosa e uma foto sua valia muito dinheiro e nem porque ela tinha o rosto ainda mais lindo do que quando olhado pela internet. Era porque a dor e o desespero contidos naqueles olhos eram simplesmente profundos demais para serem ignorados.
É claro que tirou algumas fotos que seriam, sim, constrangedoras se fossem vendidas, mas esse não era seu objetivo. Ele não pretendia vender ou mostrar aquelas fotografias para ninguém, talvez nem as colocasse em seu portfólio. Mas não podia ir para casa e fingir que não havia visto nada.
O táxi logo chegou e o motorista identificou as duas, ajudando-as a entrar no carro. Provavelmente, ia cobrar horrores das duas e elas pagariam, porque não tinham condições nem de entender o que estava acontecendo.
viu o táxi se afastar e voltou para o carro. Sua irmã havia ficado quieta e estava no banco de trás, pensativa.
— Desculpa. — ela murmurou, quando o carro começou a andar — Não quero ser igual à elas, . Não quero que um desconhecido precise me ajudar porque eu bebi demais e não lembro nem meu próprio nome. Eu só... Só gosto da ideia de ser alguém que tem algum talento por alguns instantes, entende?
Ele viu a maquiagem borrada de pelo espelho do retrovisor.
— Você é alguém. Só não sabe exatamente ainda quem é porque só tem quinze anos, .
— Você sabia quem era com quinze anos. — retrucou — Eu só sei brigar com a mãe e tirar nota baixa em todas as provas de exatas.
Você não precisava sustentar uma casa com quinze anos, ele pensou, mas não disse. Não era algo que sua irmã precisasse ouvir.
— Vai ficar mais fácil. — prometeu — Até porque você vai ter muito tempo para refletir sobre quem é, já que está de castigo.
bufou, mas não retrucou outra vez. Depois de ter visto caindo de bêbada, entendeu que o irmão só estava tentando protegê-la.
conhecia a dor no olhar das duas ’s: e . A primeira carregava a dor de aguentar o peso do mundo nas costas, enquanto a segunda carregava a dor de precisar crescer e se tornar adulta rápido demais.
Ele conhecia a dor; fotografá-la era o que lhe dava mais prazer.


2001

, você não pode mais continuar assim. — Paul começou, logo após entrar na sala de reuniões, usando um shorts tão curto que aparecia uma parte de suas nádegas — Os críticos estão acabando com a sua imagem.
, agora com 19 anos, já estava acostumada a ser fotografada e parada na rua. Havia começado tudo aquilo como uma menina inocente com talento e, agora, já era uma mulher que não podia mais se encaixar na imagem de boa moça de três anos atrás. Ela vira e passara por muita coisa para fingir que ainda era a mesma de 1998.
— E o que você quer que eu faça? Eles vão me criticar de qualquer jeito.
— Eles não vão criticar se você não der motivos.
revirou os olhos e se sentou no sofá de couro branco, cruzando as pernas.
— E o que você quer que eu faça? — ela repetiu.
— Precisa de novos amigos. Aquela Chloe Sparkles não é boa influência.
— Você não pode opinar sobre meus amigos, Paul. Existe um limite e você o está ultrapassando.
, precisamos fazer alguma coisa para melhorar sua imagem e precisamos fazer agora. Começar com seu círculo de amizades pode ser um bom começo.
— Paul, isso não vai ajudar nada. E eu vou entrar em turnê com os Boys ‘N Blue, de qualquer jeito. Vou ficar um tempo sem vê-la. Pensa em outra coisa.
Paul suspirou, mas concordou. Argumentar com costumava ser mais fácil, mas quanto mais ela crescia, mais opinativa ela se tornava. Queria saber tudo sobre o dinheiro que entrava em sua conta e os shows que faria. Nenhum contrato era assinado por ela sem antes ler todas as letras miúdas e, no álbum que lançara mais cedo naquele mesmo ano, ela foi a responsável por escolher todo o encarte do cd, não aceitou opiniões de mais ninguém.
estava se tornando uma mulher independente rápido demais, principalmente porque estava aprendendo sozinha e, na maioria das vezes, não era do jeito certo.

***

chegou em casa cansado. Era um sábado de noite e bateu em sua porta. Ele tinha 19 anos e ainda morava com a mãe, já que não tinha coragem de sair de casa e deixá-la sozinha para criar os irmãos. Não tinha conseguido bolsa para nenhuma faculdade e não podia pagar, então ainda estava juntando dinheiro para investir em sua carreira de fotógrafo.
... Eu posso entrar?
permitiu que ela entrasse. Tinha acabado de vestir seu pijama e estava se preparando para dormir. Não iria jantar, estava cansado demais para comer.
entrou no quarto, pisando devagar e hesitante. Logo, ele notou que havia algo errado.
— O que foi, ?
A menina respirou fundo e começou a chorar, caindo na cama do irmão. ficou assustado e pegou a irmã no colo, ignorando o fato de ela já ter 16 anos. Para ele, ela sempre seria sua irmãzinha mais nova e um dos seres humanos que ele precisava proteger.
— O que aconteceu, meu amor? — perguntou, alisando seus cabelos, desfazendo os nós ali — Pode me falar.
— Você vai me odiar, . A mamãe também vai me odiar. Todo mundo vai.
— Eu não conseguiria te odiar nem que tentasse. — ele confirmou, falando sério, para que a menina entendesse que não estava falando só da boca para fora — Fala comigo.
parou de chorar por alguns instantes para que pudesse falar, mas continuou com a cabeça enterrada no peito de .
— Estou grávida, .
A cabeça de começou a girar e ele se sentiu tonto. Continuou abraçando a irmã e não conseguiu falar nada.

***

— Que merda é essa, Paul?
estava em um estúdio de fotografia, se preparando para uma sessão de fotos para uma revista famosa, onde ela daria uma entrevista falando sobre como era a religião era importante em sua vida, mesmo que não entrasse numa igreja desde os 10 anos.
Havia um balanço pendurado no meio do estúdio e um fundo verde, onde colocariam um fundo de jardim. Ela usaria uma coroa de flores e um vestido branco, como se fosse uma hippie.
— Vai parecer que você não é só festas e bebidas, . Vai mostrar que você também tem um lado calmo! E, se te deixa mais feliz, você não vai precisar usar tanta maquiagem! Viu como eu me preocupo com você? Sei que você odeia se maquiar, então preparei algo que te agradasse.
balançou a cabeça.
— Paul, as pessoas não são imbecis. Vão saber que isso é só uma jogada de marketing e minha imagem vai ficar ainda pior!
— Não é isso que a equipe de logística da gravadora pensa! E considerando que todos que trabalham na equipe são formados e possuem um diploma de faculdade, confio mais na palavra deles.
sentiu o fogo da humilhação queimar em suas veias. Graças à fama precoce, não tinha terminado o ensino médio e muito menos entrado em uma faculdade. E odiava quando era considerada burra só por não ter a porra do diploma.
Mesmo assim, ela respirou fundo e deixou que as fotos fossem publicadas e deu todas as respostas certas na entrevista.

***

— Filho, não poderemos ficar com a criança. — a senhora decretou, odiando a si mesma. Estava falando de seu primeiro neto — Eu já fiz as contas e não vou conseguir manter todo mundo. Ainda temos o Henry, que acabou de entrar na escola. Não podemos pagar um aborto para e não podemos mantê-la depois do nascimento. Precisamos dá-la para adoção.
estava tentando controlar as lágrimas enquanto sentia sua dor de cabeça agravar.
— Mãe, a quer ficar com o filho.
— Não é escolha dela! Ela nem conseguiu arrumar um emprego, ainda! E com certeza não arrumará nada agora que está grávida. E não podemos nem pedir ajuda para a família do pai, já que o garoto sumiu!
— Exatamente, mãe! A já está sofrendo porque o namorado fugiu! Se a obrigarmos a dar embora a criança, ela vai ficar ainda mais abalada!
— É a única coisa que podemos fazer agora, .
Eles pararam de discutir o assunto quando entrou na sala, segurando Henry no colo. Sua barriga ainda estava pequena e, se não soubessem que ela estava grávida, nunca desconfiariam. Ela sempre gostara de crianças e sempre fora apegada ao irmão mais novo, não se importando em ficar em casa de final de semana para cuidar do pequeno enquanto a mãe pegava um turno a mais na empresa, onde trabalhava de faxineira.
— Do que estão falando? — ela perguntou de modo inocente, sentando-se ao lado de , Henry em seu colo.
— De nada, meu amor. — respondeu, passando um braço ao redor da menina e beijando sua cabeça. Estou avisando a mãe que vou sair de noite. Você pode ficar olhando o Henry?
— Claro! Eu não pretendia fazer nada mesmo.
sorriu e agradeceu, lançando um olhar explicativo para a mãe. Subiu correndo para seu quarto, pegando sua câmera e se trancando ali.
Sentou-se na frente de seu computador e ficou olhando as fotos que havia tirado de sua irmã, no ano anterior. Ela adorava se aparecer e posar para fotos, então fazia dela sua musa número um. Naquelas fotos, eles estavam no Central Park em um dia de sol e estava descalça pisando na grama. Os quatro integrantes da família estavam fazendo um piquenique e aproveitou para capturar os melhores momentos.
Quando percebeu, estava chorando.
Seu pai fora embora quando sua mãe descobriu que Henry estava vindo. O homem trabalhava para sustentar a família toda e não agüentou a pressão de ter que sustentar outro filho. Sendo assim, achou que se desaparecesse a situação melhoraria. Desde então, se sentia responsável por cuidar da casa e da família.
E, agora que estava grávida, ele sentia exatamente a pressão que o imbecil que chamara de pai devia ter sentido. Sua irmã fora abandonada exatamente como a mãe fora e ele era o único homem que as duas tinham. Ele tinha um dinheiro que estava guardando para a faculdade, mas, agora, iria precisar usar o dinheiro com . Por sorte, tinham algumas coisas de Henry que poderiam reutilizar, mas logo o filho de precisaria ir para a escola e a própria iria para a faculdade... Eles simplesmente não podiam bancar tudo isso.
Deus, se sentia desesperado. Não aguentava mais. Ele tinha só 19 anos!
Abriu uma guia na internet, para procurar outro emprego. Talvez se trabalhasse dobrado, conseguiria aumentar a renda.
Uma notícia de um site de fofocas pulou na tela. Era de uma revista concorrente à que ele trabalhava. Falava sobre e como a queridinha da América estava preocupada com a imagem de boa moça, já que crescera e os escândalos que a envolviam estavam cada vez mais freqüentes. Automaticamente, se lembrou do dia que conheceu , um ano atrás.
Fotos. Ele tinha fotos de .
Nunca vendera as fotos porque eram comprometedoras demais e ele não era do tipo de ser humano filho da puta que destruía a vida das pessoas. Mas situações extremas pediam medidas drásticas. Sua irmã estava grávida e sua mãe tinha um filho pequeno para criar. Ele não conseguia pagar uma faculdade.
Tudo isso poderia ser resolvido se ele vendesse aquelas fotos. E, por causa do momento em que se encontrava, era capaz de aquelas fotos valerem ainda mais. Quer dizer, qual revista não pagaria horrores para provar que a queridinha da América está desesperada para fingir que é uma boa menina? Ele estava trabalhando em uma revista de fofocas há tempo suficiente para saber que fotos do passado revelavam bem mais do que fotos tiradas no presente.
Então ele iria mesmo — possivelmente — destruir a vida de para salvar sua família?
sempre soube que não havia nada que não faria por sua família.
Pegou a câmera e seu cartão de memória e correu para seu escritório. Era sábado, mas sabia que alguém lá dentro pagaria para colocar as mãos nas fotos que ele tinha.


2002

, o que você prefere: e Heath Logan confirmam um namoro!” ou “A queridinha da América e o bad boy da Boys ‘N Blue juntos!”?
riu.
— Faz diferença?
— Claro que faz. Uma das duas vai nos deixar mais ricos. — respondeu Ruth, sorrindo de lado.
Ele olhou para a colega de trabalho, sentindo seu coração acelerar. Eles estavam dividindo um escritório, já que ela era responsável por escrever matérias e ele tirava as fotos.
— Talvez algo como... e o bad boy da Boys ‘N Blue juntos!” seja a melhor opção.
— Uma junção das duas? , eu devia desistir e você devia pegar meu emprego. — ela brincou, dando um tapinha no ombro de . Ele hesitou por alguns segundos, mas finalmente parou de enrolar e resolveu tomar coragem para falar o que queria, desde que fora promovido.
— O que você acha de me recompensar saindo comigo?
Ruth arqueou uma sobrancelha.
— Tipo um encontro?
— É, pode chamar assim, se quiser.
Ruth sorriu. amava aquele sorriso.
— Vou pensar no seu caso.
Os dois sorriram e voltaram ao trabalho.

***

entrou na casa de Heath como um furacão. Queria matar alguém com as próprias mãos. Ele, de preferência.
— O que porra você quer dizer com “não”?! Eu não te pedi permissão para sair, Heath!
Heath revirou os olhos.
— Linda, você não precisava ter vindo até aqui para gritar comigo.
— Eu não teria vindo se você não tivesse desligado seu telefone. Quando te mandei mensagem dizendo que ia sair com Chloe, era um aviso e não um pedido! Há uma diferença.
, você tem tantas amigas! Precisa mesmo ser com Chloe? Ela é uma vagabunda!
— Pode fazer o favor de não ofender minha melhor amiga na minha frente? Obrigada, Heath.
Ela estava parada na frente dele, com os braços cruzados. Heath se levantou e acariciou seus braços tensos, tentando fazê-la se acalmar.
— Olha, não estou tentando dizer com quem você pode ou não sair. Eu nunca faria isso! Só estou dizendo que não gosto da Chloe. Quero proteger você, só isso.
suavizou um pouco.
— Eu sei, mas quando você me trata assim, faz parecer que eu sou uma pessoa horrível só por querer sair com meus amigos.
, eu já te disse e vou repetir: só quero te proteger!
balançou a cabeça.
— Eu sei. Desculpa por gritar com você.
— Está tudo bem. Você não tem culpa de ser tão ingênua.
Ela sorriu, feliz por ter alguém cuidando dela. Heath sorriu de volta e a beijou.

***

estava saindo da faculdade de fotografia quando seu telefone tocou e ele sorriu por ver que era Ruth quem ligava. Eles estavam namorando havia um mês.
— Oi, amor.
, você precisa vir pro hospital!
— O que aconteceu? Você está bem?
— Joshua está nascendo!
deu um pulo e começou a correr para pegar o ônibus para o hospital.
— E como está ?! Droga, como ela chegou no hospital?!
— Eu passei na sua casa para ver como ela estava, já que ela já estava de 40 semanas e aí aconteceu! A bolsa dela estourou e sua mãe entrou em pânico, queria ligar para você, mas eu não deixei.
— Por que não?! — perguntou, com um pouco de raiva. Já estava no ponto de ônibus, mas parecia que nenhum passava. Resolveu correr para o metrô.
— Porque você conseguiu entrar na faculdade com uma bolsa, ! Sua freqüência e notas precisam ser perfeitas! E sua irmã não precisa de você para ter um filho!
— Ruth, você não pode decidir isso!
— Desculpa, ! E, pra ser bem sincera, eu só lembrei de te ligar agora mesmo, porque vi a hora e lembrei que você estava saindo da faculdade. Antes disso, eu estava tentando acalmar sua mãe e o Henry. Todo mundo veio pro hospital e a está gritando com cada contração, como se pudesse fazer a criança nascer no grito.
riu.
— Não brinca com isso, coitada! Ela deve estar sentindo dor!
— Eu sei, mas você também sabe que eu faço piadas sem graça quando estou nervosa.
— Estou entrando no metrô, te ligo quando chegar no hospital, ok?
— Sim. Sua mãe quer ficar com a , mas ela quer que você segure a mão dela quando Joshua nascer.
O coração de se aqueceu.
— Me liga, caso eu perca.
— Não se preocupa, . Você não vai.
estava prestes a se tornar tio, mas sentia que o filho que sua irmã estava tendo era seu. Ele se tornaria responsável por Joshua, tinha certeza.
De qualquer jeito, ele mal podia esperar para segurar o pequeno sobrinho.


2004

— Não acredito que você vai fazer isso, ! — Chloe comentou, batendo o pé no chão — Você só tem 22 anos!
— Chloe, o amor não conhece idade.
— E você não conhece noção.
a ignorou e continuou passando o batom vermelho na boca.
— Amiga, Heath é um babaca controlador e casar com ele é a maior merda que você vai fazer na sua vida!
Elas estavam em um anexo do salão de festas chique que havia sido alugado para anunciar o casamento de e Heath Logan. e Chloe eram as únicas que tinham permissão para entrar naquele anexo. Bom, a senhora também tinha, mas ela estava gastando dinheiro em Paris e já tinha desejado boa sorte à filha por telefone.
— Eu amo ele, Chloe. — afirmou com convicção, se virando para a amiga — Heath pode ter seus defeitos, mas agora que ele saiu da Boys ‘N Blue e está tentando a vida de cantor solo, eu vi que ele é outra pessoa. O babaca estava na banda, o artista solo é totalmente diferente.
— Você diz isso porque ele passa tanto tempo ocupado com a porra do cd novo que nem lembra que você existe.
— Isso não é verdade. Nós passamos muito tempo de qualidade juntos.
— Passar o pouco tempo que vocês dois têm juntos transando não é tempo de qualidade.
se focou em Chloe.
— Mas foi esse tempo que me deixou grávida.
Chloe arregalou os olhos.
— Você... O quê?!
— Por favor, não faz escândalo!
— Não faz escândalo?! Caralho, , você está grávida! Mas que merda, é por isso que vai casar? Sabe que pode abortar, não é? Eu te levo em uma clínica do outro lado do mundo e pago quem tiver que pagar para manter isso em segredo. Ninguém nunca vai ficar sabendo!
balançou a cabeça, tentando fazer Chloe parar de falar.
— Não, amiga. Eu quero ter esse filho e quero casar com o Heath, tá?
— Ele já sabe?
— Já. Está muito feliz também. E ele tirou um anel do bolso na hora que eu contei. Ele já pretendia me pedir em casamento antes de eu contar que estava grávida.
Chloe não parecia convencida.
— Eu te amo, você sabe. Só quero o seu bem. Mas não acredito que ele vá ser um bom pai. Nem um bom marido.
— Chloe, vai ficar tudo bem.
Chloe suspirou e segurou as mãos da amiga.
— Você sabe que eu vou te apoiar no que acontecer, não sabe?
assentiu. Chloe a abraçou e elas ficaram presas naquele abraço por alguns segundos antes de se soltarem.
— O que você acha que a imprensa vai dizer? — perguntou Chloe, apenas curiosa. As matérias onde diziam que era uma vagabunda sem escrúpulos eram constantes e a notícia de sua gravidez só agravaria a situação.
— Ah, eu quero mais é que se fodam. Você viu que começaram a publicar matérias falando que eu traí o Heath? Só por causa daquela foto nossa se beijando!
— É por isso que eu não namoro. Ninguém enche meu saco.
As duas riram e se prepararam para sair do anexo. Já estava na hora da festa. Heath chegara primeiro para cumprimentar os convidados e ela estava terminando de se arrumar com Chloe, dispensando todas as maquiadoras que Paul tentou contratar para ela.
e Ruth estavam vestindo as roupas mais chiques que conseguiram. Ruth já tinha no armário o vestido vermelho longo que usava, mas o terno de era alugado. No pescoço de ambos havia uma credencial indicando que eles eram convidados da imprensa, sendo que no de também tinha uma câmera profissional pendurada.
— Quando será que vamos estar lindos e chiques assim de novo? — Ruth brincou, empurrando o namorado com o ombro.
— Talvez no dia do nosso casamento... — devolveu de modo casual.
Ruth parou de brincar.
— O quê?
— Ah, você sabe que não estou te pedindo em casamento agora, mas também sabe que vamos casar um dia, não sabe?
Ruth sorriu, tentando parecer neutra e não soltar o grito de felicidade que queria escapar de sua garganta. Apertou a mão de que estava entrelaçada com a sua.
— É claro que sei.
Eles trabalhavam para a revista de fofoca Famous Gossip, que era parceira da primeira empresa para qual trabalhou. Depois que vendeu as fotos de com apenas 18 anos e completamente bêbada em uma boate no centro de Nova Iorque, ele foi transferido para “o setor de fofocas” como gostava de chamar, em sua cabeça. Seu objetivo sempre fora fotos artísticas e ensaios privados, mas a cada passo em sua carreira, se afastava mais do que realmente queria. Apesar disso, não reclamava, já que fora por causa dessa promoção que conhecera Ruth, que ele tinha certeza ser a mulher de sua vida.
Os dois estavam no salão de festas, tomando uma bebida cara e brincavam para tentar adivinhar o que era o líquido alcoólico que ingeriam.
— Eu acho que é champanhe. — chutou .
— Acho que é licor. — Ruth também tentou, balançando a taça suavemente e cheirando o líquido — Talvez vinho branco.
— E vinho não é vermelho?
— Por isso que eu falei vinho branco!
Eles riram e continuaram bebendo.
Foi aí que a música parou e a voz de Heath Logan se fez presente nas caixas de som.
— Com licença... Gostaria de agradecer a presença de todos vocês. É com grande honra e emoção que eu lhes apresento minha futura noiva... !
De onde estava, reprimiu uma careta. Esperava que os dois anunciassem o noivado juntos. Mesmo assim, sorriu e caminhou até seu futuro marido enquanto os flashes de diversas câmeras disparavam em sua direção.
observou a mulher caminhar com graça até Heath Logan. Ela usava um vestido dourado com várias transparências pelo corpo, dando-lhe um ar ousado e evitando o tom vulgar que suas roupas tinham toda vez que fazia alguma aparição pública. Para completar a sensualidade daquela mulher deslumbrante, uma longa fenda no vestido deixava sua coxa toda à mostra. O cabelo estava arrumado em um coque no alto da cabeça e uma parte do cabelo solta, caindo em cachos por suas costas. Ele sempre a via — praticamente a perseguia para conseguir boas fotos para a revista — mas não se lembrava de já ter visto tão linda quanto naquele dia. Sabia que precisava tirar fotos boas e capturar os melhores momentos da festa para que Ruth pudesse colocar uma bela foto dos dois na matéria de capa com uma manchete que já deveria estar maquinando na cabeça, mas ele não conseguiu. Sua câmera não conseguia focar no casal, apenas na mulher com o vestido dourado.
— Isso vai ser um escândalo! — Ruth comentou ao lado do namorado — Só esse mês já escrevi umas três matérias sobre traindo o namorado. Tenho certeza que esse casamento é só um marketing pra eles continuarem juntos e ela poder promover o álbum solo dele.
— Ninguém se casa por marketing, Ruth! — devolveu, sem parar de clicar na direção de — Eles estão se casando porque se amam.
, pessoas como nós casamos por amor. Já pessoas como eles... Bom, pessoas como eles se casam por dinheiro e status.
ignorou a namorada. Ela era envolvida demais no mundo de fofoca das celebridades. Tinha sido promovida há uns meses e agora tinha uma coluna só dela na revista, que havia ficado extremamente famosa muito rápido. Ela era o motivo de eles estarem naquela festa; todos queriam ouvir uma boa crítica de Ruth Templeton. era apenas o fotógrafo acompanhante.
A festa continuou depois daquilo e, umas duas horas após a oficialização do noivado, ele correu para o carro guardar sua câmera. Não pretendia tirar mais fotos, já tinha gastado praticamente um filme todo com fotos de e Heath. Com certeza, uma das fotos que havia tirado serviria para a matéria de Ruth.
Ele estava voltando para dentro do salão quando ouviu uma gritaria nos fundos. Ia ignorar e voltar a seguir seu caminho para Ruth, mas o que o viu o fez ficar.
— Você não pode ir embora agora, Heath! Nós vamos dançar a nossa música!
— Linda, você sabe que eu queria mais do que tudo ficar, mas é realmente importante.
— Meu deus, isso é tão típico de você! Nós estamos discutindo algo importante pra mim e você precisa sair para resolver um compromisso importante para você!
, achei que essa discussão já estivesse encerrada.
— Não, não está! Não vou ceder, Heath! Não quero essa merda de casamento público! Quero me casar em uma ilha particular no Caribe e pronto! Não vamos usar nosso casamento para promover a sua carreira solo!
— Mas é a minha carreira solo que vai sustentar seu filho!
Houve um silêncio e então ouviu um estalo que só podia ter sido um tapa na cara. Ele esperava que fosse de , porque se Heath estivesse batendo em uma mulher perto dele, ele ia acabar intervindo.
— Que porra é essa, ?!
— Eu também posso sustentar o nosso filho! Nosso, Heath! Eu fiz o filho com o seu pau e não com o meu dedo!
— Olha essa sua boca! Você fica andando com aquela vadia da Sparkles e é assim que você acaba! Falando igual ela! Como uma vadia, também!
— Você me respeita, Heath!
— Você acabou de me dar um tapa na cara e quer falar de respeito?! Quer saber? Eu vou mesmo pra gravadora. Te encontro na sua casa amanhã, ok? Se acalma, repensa suas atitudes e aí a gente conversa.
não ouviu mais nada, a não ser passos. Logo, ouviu fungando e resolveu que já era seguro se aproximar.
A mulher estava sentada no chão, apoiada no muro do salão, com o rosto enterrado nas mãos. Havia tirado os saltos, que estavam jogados ao seu lado.
— Você está bem?
Ela deu um pulo. pensou que ela devia ter se assustado, mas não sabia como se aproximar de nenhum outro modo.
— Precisa de ajuda? — ele falou outra vez, estendendo a mão para ajudar a mulher a se levantar.
aceitou sua mão.
— Está tudo bem. — respondeu, limpando as lágrimas com as costas da mão. Sua maquiagem cara não havia borrado e estava tão perfeita quanto antes.
procurou uma credencial pendurada no homem, mas não encontrou nada. Imaginou que ele era um convidado de Heath.
— Na verdade, eu... Pode entrar pelo anexo comigo?
assentiu. Ela o conduziu por trás do muro, até chegar à uma porta que estava aberta. Logo que entraram, puderam ouvir a música no salão do outro lado da porta. fechou a porta.
— Você ouviu a briga, não ouviu?
Ele nunca soubera mentir, então apenas deu de ombros.
— Não é da minha conta...
— Tudo bem. Normalmente, minha vida é sempre da conta de todo mundo. Eu só estou um pouco cansada, sabe? Heath é tão egocêntrico... Não consegue pensar em ninguém além dele mesmo!
se sentou no sofá creme, pegando uma garrafinha de água que estava na mesinha de centro e bebendo goles generosos.
O DJ anunciou que o ritmo musical mudaria e a próxima música era dedicada aos noivos. Isso fez gemer.
— Que droga! Eu deveria estar entrando lá para dançar com Heath agora!
— Você não precisa ir se não quiser.
— Acontece que é a nossa música. Ele a dedicou para mim em um show. Fez um cover dela e me pediu em namoro no palco, na frente de toda a platéia.
se lembrava do acontecido.
— Você... Quer dançar? — ele perguntou quando as primeiras notas de Heaven de Bryan Adams começou a tocar. Ele tinha essa péssima mania de querer cuidar de todo mundo.
se levantou, hesitando.
— Mesmo?
assentiu e deu de ombros outra vez, mostrando que não era grande coisa para ele. sorriu e aceitou a mão estendida.
Ele a segurou pela cintura e ela pousou a mão em seu ombro. reparou que estava próxima dele o suficiente para sentir a fragrância que exalava da pele dele; tinha cheiro de homem de um modo viril que Heath nunca conseguia exalar se não fosse com algum perfume de marca.
As batidas lentas da música continuaram e ele a rodou pelo anexo.
— Você é dançarino? — perguntou.
— Não. Mas minha irmã menor gosta de dança e às vezes me obriga a ensaiar um passo ou outro com ela.
sorriu com isso.
— Qual o nome dela?
— Você acreditaria se eu dissesse que ela tem o seu nome?
?
.
se arrepiou. Fazia anos desde a última vez que alguém a chamara pelo nome completo e não pelo apelido artístico.
— E qual é o seu nome?
.
tremeu quando sentiu o quão próximo eles haviam chegado. As batidas da música e os rodopios que deram pelo pequeno espaço haviam aproximado-os e eles nem tinham percebido. estava hipnotizado pelo brilho nos olhos dela, sem conseguir parar de imaginar como seria chegar ainda mais perto. Ambos os corações aceleraram e tentou controlar sua respiração.
sentiu os lábios secos e molhou-os com a ponta da língua, vendo que acompanhou o movimento.
And baby you’re all that I want when you’re lying here in my arms. I’m finding it hard to believe we’re in Heaven. (E, amor, você é tudo que eu quero quando está deitada nos meus braços. Estou tendo dificuldades para acreditar que estamos no Paraíso).
E foi demais para . Ele estava sempre cercado de . No trabalho, ela sempre estava envolvida em alguma polêmica. Em sua casa, sua irmã estava sempre cantando as músicas dela. Até em sua câmera, havia mais fotos dela do que o recomendado.
Era como se ele estivesse segurando algo divinamente intocável e não uma pessoa.
Perdendo totalmente o controle, ele a puxou pela nuca, trazendo a mulher para si, beijando aquela boca que ele adorava fotografar.
Ele já havia imaginado como seria beijar muito mais vezes do que gostaria de admitir, mas a realidade era completamente diferente das suas fantasias. A boca dela era macia como veludo e ela não o empurrou ou recusou seu beijo; pelo contrário, se abriu para recebê-lo com prazer.
A mão que estava em sua cintura desceu para seu quadril e encontrou a fenda do vestido. Gemeu quando sentiu a pele quente contra seus dedos. Para mostrar que estava apreciando o toque, o beijou com mais vontade.
segurou sua coxa com um pouco de brutalidade e levantou sua perna, fazendo com que envolvesse seu quadril. Para que ela não perdesse o equilíbrio, levou uma mão à sua cintura e manteve a outra firme em sua coxa. Esse movimento o fez soltar o pescoço de , que viu a oportunidade perfeita para morder aqueles lábios agressivos contra os dela.
Prendeu o lábio inferior de entre seus dentes e o puxou para si, fazendo-o ofegar.
— Você me mordendo assim... Vai me fazer perder o juízo.
Um sorriso malicioso se apossou dos lábios de e ela o mordeu outra vez.
O toque dele era rude, tão diferente do modo cuidadoso com que tratava todos. já tinha sido tocada com aquela brutalidade, mas nunca tinha gostado. Pelo menos, não até agora. A mão dele em sua perna estava tão apertada que ela sabia que deixaria uma marca que a faria lembrar daquele momento.
Os lábios dele encontraram o pescoço exposto dela e soube que encontrara sua mais nova obsessão. O gemido baixo que emitiu o fez crescer dentro das calças.
— Onde Heath te escondeu esse tempo todo? — ela perguntou, prendendo as mãos nos cabelos compridos dele.
parou de beijar a pele cheirosa de seu pescoço.
— Heath?
— Você é amigo de Heath, não é?
olhou para baixo e percebeu que não usava a credencial de identificação. Devia ter deixado-a cair de seu pescoço quando guardou a câmera no carro.
tirou a perna do quadril de e ele odiou a perda de contato.
— Quem é você? Com quem você veio? — ela perguntou, assustada. Achou que o conhecia quando ele lhe estendeu a mão do lado de fora do salão, mas não tinha tanta certeza agora.
. Acho que perdi minha credencial. Vim com Ruth Templeton.
Ruth. Ele estava beijando enquanto sua namorada estava no salão, esperando por ele.
passou o polegar em seu lábio dormente por causa dos beijos que trocaram. Notou que havia batom ali e esfregou a área com mais força. entendeu o que ele fazia e lhe entregou uma caixinha de lenços que estava no balcão, junto com suas maquiagens e as de Chloe.
Ele agradeceu baixinho.
— Espera... Templeton... Ah, não! Você é o namorado daquela bruxa da Templeton! Ela não me deixa em paz! E você é o fotógrafo dela! Você tira fotos minhas onde eu estou horrível e ganha dinheiro com isso!
se sentiu levemente ofendido com a acusação. não estava errada, mas quando colocava daquele jeito, fazia parecer que era pior do que era na sua cabeça.
— Deus! Deve ter uma escuta em algum lugar do seu terno, não tem? Você filmou isso e vai publicar, espalhar por aí que eu sou uma vagabunda mesmo e que estou traindo o imbecil do meu noivo! Ah, como eu sou ingênua! Por que porra alguém ia querer me ajudar assim, do nada, voluntariamente?!
, por favor! Eu não estou filmando. Ninguém vai saber o que aconteceu aqui. Eu fui guardar minha câmera no carro e acabei ouvindo sua briga com Heath. Você estava chorando e resolvi ajudar. Foi só isso!
— E você pretendia me seduzir antes ou depois de “me ajudar”?
— O quê?! Eu não te seduzi, nada!
— Ah, claro! Porque eu saio mesmo beijando qualquer palhaço que aparece na minha frente!
— Olha aqui, não precisa ser grossa também! Eu só quis ajudar.
o empurrou pelo peito em direção à porta que dava para o salão.
— Cala a boca! Estou cansada de homens me prejudicando e depois colocando a culpa em mim e me dizendo que só querem ajudar! Querem porra nenhuma! Some daqui!
Ela o empurrou para fora do anexo, apenas parando de bater em seu peito para abrir a porta. Enquanto o fazia, não conseguia parar de imaginar como seu peito deveria ser definido por causa da firmeza que sentira ao empurrá-lo e dos toques roubados durante o beijo.
tirou o pensamento da cabeça e deixou um bilhete para Chloe, pedindo que levasse suas coisas para seu apartamento quando a festa acabasse. Ela não aguentaria mais um minuto naquela festa.

***

! Você demorou! Onde...
Antes que Ruth pudesse terminar sua frase, segurou seu rosto e a beijou com ignorância. Ela foi pega de surpresa e acabou por cambalear um pouco para trás. A língua de estava sobre a dela, se movendo com a dela, como se estivesse exigindo que ela lhe respondesse do mesmo jeito. Tinha certeza de que aquele beijo era tão impróprio que eles poderiam ser presos por atentado ao pudor se um policial estivesse na festa.
Ruth soltou sua boca da de com dificuldade.
, o que é isso?
— Vamos para casa. Agora.
A ordem foi explícita e mesmo que Ruth tentasse negar, não conseguiria. empurrou o quadril em sua direção, fazendo com que sentisse a ereção no meio de suas pernas. Ruth ofegou.
Segundos depois, eles estavam deixando a festa.
Ruth entrou no carro no lado do motorista e se sentou do outro lado, jogando a câmera no banco de trás. Encontrou a maldita credencial no chão do carro, mas não se deu ao trabalho de pegá-la nem nada. Apenas enfiou a mão nos cabelos cacheados curtos de Ruth e a puxou para outro beijo faminto.
, se acalma, por favor.
— Não dá. — ele respondeu contra a boca dela, mordendo e lambendo o que pudesse alcançar. Ruth gemeu e se afastou, empurrando-o.
— Tudo bem, precisamos chegar em casa.
— Na minha não dá. — lembrou, afirmando o óbvio. Não tinha criado coragem de sair de sua casa e deixar a mãe com o filho pequeno e a irmã adolescente com o filho bebê. Sendo assim, ele e Ruth nunca podiam ter uma noite descente na casa dele.
— Ok, vamos pro meu apartamento.
assentiu e Ruth deu partida. O carro começou a acelerar e ele se jogou para o lado e prendeu a pele do pescoço da negra em seus dentes, querendo marcá-la. Descontar nela todo o tesão que estava sentindo.
Ruth gemeu e pegou uma das mãos de , posicionando-a em sua coxa. Ele não precisou de outra explicação, puxando o vestido dela para cima, para que pudesse enfiar a mão entre suas coxas.
Nesse ritmo, eles não conseguiram ir muito longe. Ainda estavam na estrada quando pararam no acostamento e Ruth pulou no colo de , que apertava seu corpo todo, deixando-a com marcas em toda pele.
Transaram no acostamento mesmo, no espaço apertado do carro. Depois, Ruth dirigiu até seu apartamento e eles continuaram transando durante toda a noite. O sol estava nascendo quando os dois se sentiram totalmente satisfeitos e dormiram.
achava que tinha tirado de seu sistema e, durante o sexo, a pele negra de Ruth era a única coisa que tomava conta de sua cabeça. Porém, quando pegou no sono, foi o brilho dos olhos de que ele viu.


2007

entrou na sala da coletiva de imprensa com a câmera na mão e com sua nova parceira ao seu lado. Ela estava com um bloco de notas apertado firmemente contra o peito.
— Você precisa relaxar, Brizze.
— Estou relaxada. — a mulher respondeu, mas podia sentir sua mentira.
— Eles são pessoas como nós. O fato de serem famosos não muda absolutamente nada.
Eles se sentaram nos lugares indicados e ficaram esperando até que e Heath Logan aparecessem.
— Isso não pode acontecer, ! — Heath gritou. Eles estavam no quarto de hotel, se preparando para a coletiva de imprensa que havia sido convocada pelo empresário de — Nós não vamos nos divorciar!
— Vamos, sim. — respondeu, impassível enquanto a maquiadora suavizava as linhas de estresse em seu rosto — Você não pode decidir ficar casado sozinho.
— E você não pode se separar sem a minha autorização!
— Ah, meu bem, eu me separo de você a hora que eu quiser! Eu sou mais louca que o Henrique VIII e se eu precisar inventar uma igreja pra te largar, eu invento!
Heath balançou a cabeça em confusão, sem entender a referência histórica. Resolveu que não valia a pena tentar.
— Você não está grávida do meu filho, não é? Você nem deve saber quem é o pai disso aí na sua barriga!
se levantou exaltada e a maquiadora se assustou. queria que Heath estivesse mais perto para que ela pudesse lhe dar um tapa na cara.
— Vai se foder, seu imbecil! Eu vou me separar de você por causa disso! Porque você é um imbecil, machista, egocêntrico, não se importa com o nosso filho e nem com esse que está vindo! Eu vou me virar muito bem e vou cuidar dos dois muito melhor do que você faria!
— Nós só vamos nos divorciar se você fizer um exame de DNA dessa criança. Eu te conheço, tenho certeza que esse filho não é meu!
queria gritar, mas sua garganta já estava doendo de gritos anteriores.
— Antes eu tivesse mesmo fodido com o mundo todo e aí a sorte seria desse bebê! Já não basta o coitado do Max ser seu filho!
— E como você vai se virar sem mim, boneca? Você não pode cheirar cocaína com uma criança na barriga! Quem vai te tirar das drogas, se não eu? Aquela sua amiga vagabunda?!
— Você dobre a língua para falar de Chloe!
Alguém bateu na porta do quarto e eles pararam de gritar. Paul entrou segundos depois.
— Vocês dois podem gritar mais alto? Os jornalistas não ouviram no salão.
bufou.
— Ah, me poupe. Agora não, Paul.
— Sei que isso não é fácil, mas vocês precisam aparentar calma lá embaixo. Se lembram do texto que passamos ontem?
Os dois murmuraram em confirmação e Paul aproveitou o momento para passar mais instruções. Minutos depois, , Heath, Paul, Janice — a empresária de Heath — e mais três seguranças entraram na sala de imprensa e se prepararam para fazer aquilo.
— Nós convocamos essa coletiva de imprensa para dar uma notícia extremamente triste, porém necessária. — começou , olhando diretamente para todos os jornalistas e fotógrafos presentes. Sentiu repulsa ao ver alguns rostos conhecidos, principalmente o de . Ele a perseguia onde quer que ela fosse, tirava as fotos mais constrangedoras possíveis e ganhava dinheiro para arruinar sua vida.
— Há três anos eu e tivemos um dia muito feliz em nossas vidas, que foi o nosso casamento. Hoje, infelizmente, estamos aqui reunidos para anunciar nosso divórcio.
Um burburinho percorreu os jornalistas e perguntas começaram a ser gritadas. tomou um gole da água engarrafada na sua frente, tentando se controlar e não mandar todo mundo ir se foder e cuidar da própria vida.
— Por favor, silêncio. Nós abriremos para perguntas em breve. — Paul falou no microfone, esperando que isso silenciasse a multidão.
Silenciou.
— Apesar do pouco tempo de casado, eu e Heath nos gostamos muito e continuaremos amigos, principalmente porque esse casamento me deu a coisa mais importante da minha vida, que é meu filho Wesley.
— A coisa mais importante da nossa vida. — Heath corrigiu, fazendo querer matá-lo ali mesmo. Como ele se atrevia a dizer que se importava com Wesley se preferia passar a noite bebendo com os amigos à ir nas reuniões escolares com ela?
— Manteremos a guarda compartilhada de Wesley, mesmo que ele vá morar comigo. Heath será bem vindo para visitá-lo quando quiser. — ela disse, mas o que ela queria dizer era “esse filho da puta nunca mais vai olhar pro meu filho”.
Heath colocou a mão no microfone para abafar o som e virou-se para .
— Como assim o Wesley fica com você? — sussurrou para ela, em um tom baixo, mas indignado.
— Eu pari, eu fico com a criança.
Antes que Heath pudesse falar alguma coisa, se voltou para o microfone e usou seu sorriso mais falso para falar:
— E agora vamos abrir para as perguntas.
Várias mãos foram levantadas e escolheu a de aparência mais inofensiva.
— Vocês acham que o divórcio pode afetar a venda do disco que vocês lançaram em conjunto no ano passado?
— Isso pode acontecer, então resolvemos que o dinheiro que arrecadarmos com as vendas do disco após o divórcio será todo doado para uma instituição de caridade para crianças com câncer. Esperamos, com essa ação, manter as vendas altas.
A jornalista assentiu e agradeceu a resposta. Heath sinalizou para a próxima pergunta.
— O que a família e amigos de vocês pensam dessa decisão?
— Eles estão, assim como nós, tristes por não ter dado certo, mas entendem que o divórcio é a melhor solução.
queria gritar que não era da conta de ninguém a vida pessoal deles.
Mas aí ela se lembrava que estava em uma coletiva de imprensa para falar exclusivamente de sua vida pessoal e se sentia uma vadia hipócrita.
Responderam mais perguntas de modo automático e agindo como se ainda se amassem e fossem continuar amigos depois que assinassem os papéis do divórcio, sendo que planejava exatamente o oposto.
— Eu não posso fazer essa pergunta! — Brizzie praticamente gritou para , que revirou os olhos para a nova jornalista. Ruth era muito melhor, ela já teria se levantado e feito a pergunta sem ser chamada.
— Pode sim. Precisa! Essa é a pergunta que todo mundo quer fazer, mas ninguém tem coragem. Na hora que você perguntar, eu vou fotografar a reação da e vamos saber se ela mentiu ou não e você vai escrever uma matéria incrível que vai te render uma puta promoção.
— Você não pode perguntar por mim?
— Não, claro que não! Se eu perguntasse por você, não ia ter tempo para tirar a foto e capturar a reação dela! Vai, levanta aí e pergunta, mulher!
deu um tapa nas costas de Brizzie, fazendo-a ficar de pé para perguntar. Heath sorriu para ela e permitiu que fizesse a pergunta.
“Coragem”, murmurou com os lábios, sem fazer som. Brizzie assentiu e respirou fundo. Sempre fora apaixonada por Heath Logan e não acreditava que estava na mesma sala que o ídolo, falando com ele e armando uma pergunta que escandalizaria a vida de sua esposa.
— A minha pergunta vai para a . Recentemente, ouvimos rumores sobre uma possível gravidez, mas nenhuma confirmação. Se essa gravidez for real, o que irá acontecer com a criança?
O salão ficou em silêncio e apenas o som do clique da câmera de foi escutado. olhava diretamente para ele, assustada e deixando seus olhos revelarem toda a verdade. E, por incrível que pareça, viu o sorrisinho cruel que se formou nos lábios dele.
Todos esperavam que ela respondesse, mas não tinha resposta ensaiada para aquilo. Paul não sabia da gravidez e ela não achou que ninguém falaria nada, já que apenas alguns rumores baseados em fotos dela com roupas largas rolavam pelas revistas. Ela estava errada.
O sorriso cruel de continuava a encará-la. Ele sabia que tinha conseguido um furo de reportagem e tudo graças à falta de preparo dela. O maldito não tinha deixado-a em paz desde o anúncio de seu casamento e encontrar com ele em qualquer ocasião era um desprazer.
A pergunta. Só podia ser coisa dele. Aquela jornalista é nova demais para fazer uma pergunta desse tipo e ela não teria coragem.
O ódio acumulado explodiu em .
— Seu grande filho da puta! — ela gritou enquanto pulava da mesa, pronta para atacar , mesmo que tivesse que atropelar duas fileiras de jornalistas e fotógrafos antes de chegar nele.
O tumulto foi generalizado e os seguranças correram para segurar e tentar conter a bagunça. As câmeras disparavam flashes e acabou virando a mesa em sua frente, derrubando os microfones e as garrafas de água. A de Heath estava aberta — porque o jumento não fechou a garrafa depois de beber a água! — e o chão ficou todo molhado, fazendo uma das jornalistas tropeçar e cair.
não conseguiu matar naquela tarde, mas as manchetes do jornal e das principais revistas eram todas uma variação da mesma coisa: uma foto de descontrolada sobre a mesa da coletiva de imprensa e a chamada em letras grandes “ -LOGAN PERDE O CONTROLE DURANTE COLETIVA”.
Nesse mesmo fim de semana, e Ruth disseram “sim” em uma capela e se casaram.


2008

— Saía da minha casa. — exigiu, mas a senhora Logan apenas continuou sentada no sofá, com toda a calma do mundo.
— Só vou sair quando você me entregar Wesley e Daphne, . Vou levar meus netos agora mesmo.
— Se você encostar nos meus filhos, eu chamo a polícia. Se levá-los, eu te mando presa por sequestro!
nunca tinha se dado bem com a mãe de Heath, mas ela até fazia um esforço. Depois do divórcio, ela não devia mais nada para aquela velha estúpida.
— Você não tem condição nenhuma de cuidar de uma criança! Quem dirá de duas!
— Daphne é um bebê e ainda está mamando. Não tem a menor condição de você querer tirá-la de mim!
— Não precisaria chegar à esse ponto se você deixasse meu Heath ver os filhos!
— Eu deixaria se ele não estivesse sempre cheirando a álcool.
— Que absurdo!
revirou os olhos e virou as costas para a velha. Não tinha paciência para esse tipo de pessoa que não enxergava defeitos nas próprias criações.
— Olha, senhora Logan. Eu estou cansada e preciso buscar Wesley na escola em uma hora. Daphne vai acordar para mamar daqui uns vinte minutos. Preciso recuperar minhas energias, tomar banho e avaliar todos os currículos das babás. Fazer a senhora entender que não tenho interesse nenhum na guarda compartilhada dos meus filhos e muito menos deixá-los passar um tempo em sua casa não está nos meus planos. Estou pedindo educadamente que se retire. Se não for possível, pedirei sem educação e chamarei a segurança para tirá-la daqui. Vou tomar banho agora e espero que, quando eu sair, a senhora já tenha se retirado.
correu para seu quarto, tropeçando em brinquedos de Wesley por toda a casa. Tinha demitido a empregada há um mês porque a louca estava vendendo fotos de sua casa no ebay e não tinha tido tempo de encontrar outra pessoa.
Tomou um banho rápido e apenas colocou um roupão, pois já estava ouvindo o choro de Daphne, que acordava exatamente no mesmo horário para mamar. Depois que alimentou a pequenina, deixou-a no berço e se vestiu da melhor forma possível para ir buscar Wesley na escolinha. Ele estava com três anos agora, aprendendo a falar. Wesley era uma criança bem independente, mas não conseguia se comunicar através de palavras.
Não precisaria passar pela correria se tivesse alguém para buscar seu filho na escola, mas a ideia lhe causava repulsa. Prendeu Daphne na cadeirinha no banco de trás e buscou Wesley, colocando-o sentado ao lado da irmã, que começou a chorar.
O trânsito em Nova Iorque estava caótico e ela só queria chegar em casa logo para poder descansar um pouco. Ela nunca admitiria, mas cuidar dos filhos sozinha era bem mais difícil do que as outras mães solteiras faziam parecer.
Por algum motivo, Daphne começou a chorar e Wesley começou a rir e a implicar com a menina. pediu para que parassem, pediu para que ficassem quietos, mas eles não paravam. Ela tentou se concentrar no trânsito, mas era impossível com os gritos de Daphne e Wesley. E as buzinas ao seu redor eram tão altas...
Quando ela viu, se encontrou no meio de um cruzamento, com uma batida no carro. Não fora nada demais, seu carro devia estar apenas amassado. Mas foi o bastante para fazer suas crianças chorarem ainda mais alto e continuou a chorar também.
O motorista em quem ela bateu desceu do carro, pronto para xingar e gritar, até que desceu do carro, tentando controlar o choro. Infelizmente, seu rosto andara em todos os outdoors nos últimos anos e não tinha ninguém naquele país que não a conhecia.
— Nossa, não acredito! É a !
E, de um minuto para o outro, haviam câmeras ao seu redor, tirando fotos dela. Estava calor e o vidro de seu carro estava aberto, então todos puderam ver que suas crianças estavam com ela.
Mais fotos.
Chorando e em pânico, voltou correndo para o carro.
Dois meses depois, perdeu a guarda de seus filhos.

***

entrou no apartamento que dividia com Ruth desde o casamento. Ela tinha decidido tirar uma folga do jornalismo e agora dedicava seu tempo à escrita, sendo que já tinha publicado dois best-sellers. Ser escritora sempre fora seu sonho, mas a vida de jornalista tinha se tornado um destino inevitável desde que saiu da faculdade.
estranhou a música suave que tocava no ambiente.
— Ruth? — ele chamou, fechando a porta.
— No quarto.
Ele tirou a jaqueta e deixou-a sobre o sofá. Sorriu quando entrou no quarto e encontrou a esposa usando uma lingerie ousada e uma garrafa de champanhe.
— Será que estou me esquecendo de alguma data importante? — ele perguntou, com um sorriso inevitável enquanto se aproximava da mulher, colocando as mãos em sua cintura para puxá-la para mais perto.
— Não. Só quero... Comemorar.
Ruth lhe entregou o champanhe e franziu o cenho.
— Ruth, esse champanhe é sem álcool.
— Eu sei. Comprei sem álcool porque não estou bebendo. Na verdade, não vou beber nos próximos nove meses...
arregalou os olhos.
Ele ia ser pai.


2009

As fotos de uma nua com mais duas mulheres e três homens rodavam pelo mundo. Ela lançou um disco novo com várias músicas onde reclamava do abuso que sofria da mídia, mas fechou um contrato com a revista Playboy e posou nua nesse mesmo ano. Só podia ver seus filhos com a permissão de Heath e sua mãe apareceu do inferno e deu uma entrevista chorando e pedindo sua “filhinha adorável de volta”. rebateu mandando a mãe ir à merda. Heath lançou uma música onde deixava claro a mensagem de que havia traído-o e Daphne nem era filha dele e ele cuidava dela como um favor. Antes do fim do ano, foi internada em uma clínica de reabilitação por ordem do juiz, após uma grande quantidade de cocaína ser encontrada em sua casa.
A situação de se complicou também. Ruth deu à luz a uma linda menina, mas morreu durante o parto, deixando sozinho com a criança.
2009 foi o pior ano da vida de e de .


2013

deixou Ruth na escola com um sorriso no rosto. A pequenina lhe deu um beijo na bochecha e correu para dentro.
— Estarei aqui na hora da saída. — ele prometeu, com prometia todo vez. Ruth assentia e acenava de longe.
Logo depois de deixar a filha na escola, ele ligou para seu chefe e se demitiu. E então dirigiu para uma enorme casa afastada do centro de Nova Iorque. Não sabia quanto tempo demoraria, então ligou também para sua irmã e pediu que ela fosse buscar Ruth.
Ele dirigiu calmamente e levou mais ou menos uma hora até chegar aos enormes portões da mansão.
? — o porteiro perguntou pelo interfone. emitiu um ruído para confirmar e posicionou o rosto na frente da câmera, para que pudesse ser visto. Segundos depois, os portões se abriram e entrou.
Dirigiu com cuidado pelo enorme jardim. Aquela casa era uma mansão do tipo que só se via nos filmes, enorme e toda branca, com uma fonte no meio de um jardim. Parou o carro bem na entrada e um motorista apareceu para levar seu carro. Ele pegou tudo o que precisaria para trabalhar e entregou as chaves.
Na porta da casa, uma mulher com um uniforme de empregada doméstica abriu a porta e permitiu sua entrada.
— A senhorita já está esperando pelo senhor. Queira me acompanhar.
E seguiu a mulher baixinha com um sorriso de deboche no rosto.
estava retocando a maquiagem em frente à um enorme espelho na sala branca. Todos os móveis daquela sala eram brancos, desde as paredes até a mobília, que era composta apenas de um sofá grande, um tapete felpudo e um espelho que ocupava toda a parede. Quando se entrava na sala, era possível se deparar com uma parede de vidro, que se abria para uma linda piscina.
— Se precisar de qualquer coisa, estarei disponível. — concluiu a empregada, falando com .
não a via havia anos.
Desde a morte de sua esposa, ele havia desistido da vida de paparazzi. Tinha dinheiro o suficiente para se manter por causa de seus trabalhos anteriores e o que Ruth deixou. O dinheiro das vendas dos livros dela entrava diretamente para ele e ela vendia muito. Ele estava desanimado e não tinha vontade de fazer nada, além de ficar com sua filha.
Então, ele se lembrou de seu sonho de anos atrás, aquele que teve quando tinha 16 anos. sempre quis tirar fotos artísticas e ser famoso por isso. Nunca quis ser um paparazzi.
Ele tinha 31 anos agora e sentia que nunca tinha feito nada de importante na vida.
Foi quando ele resolveu que se Ruth tinha largado a vida de jornalista para seguir o sonho de ser escritora, ele podia fazer o mesmo. Com todos os contatos que tinha, não foi difícil conseguir o número de . Ela tinha acabado de sair da reabilitação e estava morando longe do centro em um casarão comprado pela mãe na década passada. Quando conseguiu falar com ela, lhe propôs um acordo: ele tiraria as melhores fotos artísticas dela, para usar como quisesse, desde que ele pudesse anexar cinco fotos em seu portfólio para vender como fotografia artística. Ele se beneficiaria por ter conseguido fotografá-la após a reabilitação e ela poderia exibir fotos de uma mulher renovada e totalmente capaz de recuperar a guarda dos filhos.
Depois de algumas brigas, aceitou o acordo.
E lá estava ele, então.
Lá estava ele, observando depois de anos sem vê-la. Seu cabelo estava bem mais comprido e ela tinha engordado. Antes, seu corpo era magro e pequeno, seco por causa das drogas que costumava a usar o tempo todo. Suas bochechas estavam coradas de um modo diferente, que indicava o quão saudável ela estava. não conseguiu evitar não se lembrar do beijo que tinham trocado há quase dez anos e de como o gosto dos lábios dela ficara impresso em sua memória.
. — cumprimentou — Achei que nunca mais fosse ouvir falar de você.
— Não posso dizer o mesmo de , posso? Você sempre volta aos holofotes.
Ela se aproximou dele e eles deram as mãos em um cumprimento casto. deixou suas coisas sobre o sofá, enquanto se posicionou na parede branca lisa, de frente com o espelho.
— Como vai funcionar? — perguntou.
— Do mesmo modo que combinamos. Eu tiro as fotos, fico com cinco. As outras são suas para usar como achar melhor.
Assentiu, concordando. continuou arrumando sua câmera enquanto um silêncio pesado caiu sobre eles. Eles não eram amigos. Nunca nem se gostaram. sempre acreditou que fora por causa de que sua vida começou a dar errado; afinal, ele vendeu fotos suas comprometedoras mais do que qualquer outro paparazzi.
— É isso que vai usar? — ele perguntou, se preparando para tirar as fotos.
— Sim, por quê? — ela devolveu, olhando para suas próprias roupas. Como pretendia usar as fotografias para tentar recuperar seus filhos, usava um terninho simples, mas que lhe dava uma aparência profissional, como se ela fosse uma advogada centrada e muito boa no que fazia. Ninguém diria que ela tinha acabado de sair de uma clínica de reabilitação.
— Por nada. — desconversou, se preparando para tirar as fotos. Em sua cabeça, ele queria gritar que aquelas roupas eram simplesmente estranhas e não combinavam com ela.
já tinha tirado muitas fotos e feitos muitos ensaios. Sabia como se portar e sabia quais eram seus melhores ângulos. Mesmo assim, sentia que não estava indo bem. E quando ela pediu uma pausa e concordou rapidamente, ela soube que ele concordava.
— O que você acha de beber alguma coisa? Posso pedir para Madeleine.
— Beberei o que você beber.
assentiu e chamou a empregada, pedindo para trazer uma garrafa de vinho e duas taças.
— Vinho? Você está bebendo?
— Fui internada por causa de cocaína e não por causa de álcool. Posso aguentar um pouco de vinho.
não respondeu.
— Se importa se eu colocar alguma música?
— Não, eu até prefiro.
pegou seu celular e colocou em uma playlist de música aleatória. Madeleine pediu licença e entrou com um carrinho com as taças e a garrafa de vinho, servindo um pouco para os dois e se retirando logo depois.
— Eu não faço isso há um bom tempo. — comentou, depois de alguns goles — Seria bom se você me desse alguma instrução.
— Você só precisa ser... Natural. E vai estar ótima.
revirou os olhos, não acreditando em uma palavra dele. “Ser natural” tinha levado-a para uma clínica de reabilitação e feito-a perder a guarda de seus filhos.
Prendeu o cabelo em um coque alto e bem feito, para mostrar seu rosto. Paul sempre dizia que seu rosto era lindo e ótimo de ser visto.
bateu mais algumas fotos antes de suspirar.
, você precisa se soltar. Está muito dura.
— Eu não acho. Estou perfeitamente confortável. — dizendo isso, ela encheu novamente a taça de vinho e tomou mais um gole.
se aproximou dela.
— Eu posso ver. Sempre gostei de fotografar seu rosto porque sempre fiquei imaginando quando conseguiria fotografar através da máscara que você usa.
— Que máscara?
— A máscara de tristeza.
ficou imóvel, apenas observando os movimentos de , tentando adivinhar qual seria o próximo.
— E o que você sugere?
Ele parecia estar lutando contra algo, mas tocou assim mesmo.
— Primeiro, desfaça esse coque ridículo. O seu cabelo é lindo, você precisa mostrá-lo.
Dizendo isso, ele a virou de costas e começou a mexer em sua cabeça, tirando os grampos que mantinham seu cabelo no lugar. Depois, quando conseguiu livrar todas as mechas, passou os dedos pelos fios, soltando-os e deixando-os livres. Um aroma doce saía de e amou aquele cheiro.
— Agora está melhor.
Eles começaram a ouvir uma melodia suave e perceberam que a música que tocava no celular de era Heaven, exatamente a música que dançaram há quase dez anos.
A música que dançaram antes de puxar pela cintura e atacar sua boca como um morto de fome.
Ele se lembrava perfeitamente de como a perna da mulher havia envolvido sua cintura e de como suas mãos exploraram aquele corpo com tanta vontade que ele quase rasgou as roupas frágeis que ela usava.
Quando olhou para , percebeu que ela se lembrava exatamente da mesma coisa.
coçou a garganta.
— Podemos continuar?
assentiu e voltou para sua posição.
Mais fotos foram tiradas e resolveu trocar a lente. A iluminação da sala era muito boa e estava parecendo um anjo ali, se não fosse pelas roupas cinza.
Eles tomaram mais vinho.
A garrafa já tinha acabado quando se irritou.
— Quer saber? Tira tudo.
foi pega de surpresa.
— O quê?
— Tira toda essa maquiagem. Tira. Agora.
— Eu não estou entendendo.
, você tem um rosto lindo. Não precisa ficar com essa merda na cara. Tira, agora.
Ela ficou tão confusa que resolveu não responder. E o modo autoritário como tinha dito aquilo... resolveu culpar o vinho pelo arrepio que percorreu seu corpo. Não conseguia parar de imaginar mandando nela daquele jeito em outras... Situações. Ele era sempre tão carinhoso e cuidadoso, não conseguia vê-lo como um homem autoritário.
Sua bolsa de maquiagem estava ali porque pretendia retocar quando fosse necessário. Não imaginara que teria que limpar o rosto e retirar tudo o que tinha feito.
Mas ela tirou.
— Melhor?
olhou para de um jeito faminto que a fez tremer.
Bem melhor.
— É estranho. Meu rosto está limpo demais. Nunca fico assim sem maquiagem nenhuma.
— É perfeito. Você disse que queria construir uma nova imagem sua não disse?
concordou. Estava de frente para o espelho analisando o rosto limpo quando se aproximou por trás dela e, por impulso, posicionou as mãos em sua cintura.
— Você é linda, .
Era estranho ouvi-lo chamando-a pelo nome, sem o apelido. Ninguém fazia isso há muito tempo.
Ela se virou para ele, mas se afastou e encostou as costas no espelho. Olhando para , abriu alguns botões da camisa, dizendo que estava calor.
— Você sempre me atormentou, . Me perseguia com a maldita câmera e tirava todas as fotos erradas. Não posso acreditar que está aqui para tirar as fotos certas.
O olhar dele estava caído no decote que ela havia criado há minutos.
— Sempre fiz meu trabalho, apenas. — ele deu de ombros. Sem que percebesse, se inclinou para frente, apoiando o braço no espelho acima da cabeça de — Vou ajudar a nós dois agora.
Ele se afastou dela e tirou uma foto de com a mão no decote e outra na coxa. Seu coração começou a bater mais rápido.
— Você não pode ficar de costas para o espelho. — explicou — Vamos trocar de lugar. Você fica na minha frente, podendo se ver e faça o que quiser fazer, contanto que se sinta confortável, tudo bem?
assentiu e eles trocaram de lugar.
— Melhor ainda, faça qualquer coisa que te faça se sentir linda.
Ela tinha algumas ideias.
Tirou o paletó e ficou só com a camisa e a calça social. Jogou os cabelos para um lado enquanto a mão ficava na cintura, apertando a região e fazendo o tecido se franzir. Ela se inclinou para frente em outra pose, deixando que visse bem mais do que seu decote deixava a mostra.
Então, ele abaixou a câmera. Sua expressão havia mudado.
— Tira tudo. — ele ordenou.
— O quê?
— Essa roupa ridícula. Tire.
se sentiu molhada com o pedido dele, instantaneamente. Não que ela fosse admitir.
— Você não pode estar falando sério.
— E você não pode estar mesmo vestindo isso! , eu te conheço desde que você tinha 16 anos! Você nunca usaria um terninho desses. Essa imagem que você está querendo que eu construa é quase tão ridícula quanto a que você deixou antes da reabilitação! Nenhuma delas é você.
— E você quer que me fotografar sem roupa?
— Não. Quero fotografar você tirando a roupa.
Ela ficou sem fala. E o pior era que ela queria tirar a roupa na frente dele. Não conseguia parar de pensar no beijo que ele lhe roubara anos atrás desde que o viu.
sempre se envolvera nos piores tipos de escândalo. O que seria mais um ensaio sem roupa?
Então, ela começou a desabotoar a blusa.
posicionou a câmera e não poupou os cliques. A cada botão que ela abria, era um clique em sua câmera. Aos poucos, sua pele foi sendo exibida e tinha capturado cada momento.
Ele já tinha visto sem roupa — era só procurar na internet que qualquer um acharia uma foto — mas nunca a vira tão despida quanto ela estava naquele momento, praticamente vulnerável.
jogou a blusa branca de seda no chão e ficou apenas de sutiã branco rendado e a calça social em sua frente.
— Está bom? — ela perguntou, só para provocar.
— Está ótimo. — respondeu, tentando usar um tom profissional, mas sabendo que estava falhando.
Ele queria mais do que tudo morder aquela boca.
começou a abrir o zíper invisível da calça, deixando que a peça escorregasse lentamente por seu corpo. Fechou os olhos e imaginou que o tecido era o toque de , descendo pelas suas pernas.
Virou de costas para ele e jogou o cabelo para frente. salivou com a visão das nádegas perfeitas e da calcinha minúscula branca, que combinava perfeitamente com o sutiã. olhava para ele enquanto desabotoava o sutiã, logo soltando-o e deixando-o cair. Cobriu os seios com as mãos e ficou de frente para ele, que não tinha parado de fotografar nem por um segundo sequer. Sentiu seu corpo superaquecer ao notar o volume na frente dos jeans dele.
Retirou as mãos com cuidado, usando seu cabelo comprido para cobrir os mamilos, que ela sabia que já estavam duros. Colocou as mãos não cintura e evitou mover a cabeça para que o cabelo ainda a cobrisse.
— Não tem mais o que tirar, . — ela comentou, olhando fixamente para ele.
— Nós dois sabemos que tem. — ele retrucou, se referindo à calcinha intacta.
— Bom, então por que você não vem aqui e tira você mesmo?
não precisava de um pedido mais formal.
Soltou a câmera e a jogou sobre o sofá. Pegou pelo cotovelo e a pressionou contra a parede de espelhos, puxando-a para que ela prendesse as pernas em sua cintura.
— Quero suas pernas em mim desde o momento em que te vi. — confessou com a boca a centímetros da dela.
— Que bom. Eu também estava pensando nisso.
Ele não queria responder. Só queria beijar aquela boca que atormentava seus sonhos há anos.
E foi exatamente o que ele fez.
As mãos de se perderam no cabelo rebelde do homem, enquanto as mãos dele trabalhavam no elástico da calcinha, querendo tirá-la o mais rápido possível, mesmo que isso fosse difícil de fazer quando os dois corpos estavam entrelaçados.
— Não gosto de você totalmente vestido e eu totalmente sem roupa. Tire, agora.
odiava receber ordens, mas, por algum motivo, aquele comando conseguiu excitá-lo mais do que qualquer outro estímulo.
Ela foi colocada no chão para que ele pudesse tirar a camiseta preta simples que vestia. A visão do abdômen dele a deixou salivando e implorando por mais.
Atacou o pescoço do homem mordendo e lambendo como se pudesse tirar um pedaço, enquanto suas mãos desciam para explorar aquele pedaço de pele que ela havia acabado de descobrir. Alcançou o elástico da cueca que ele vestia e brincou com o dedo ali, prendendo-o na trilha de pelos ralos que desciam para sua virilha. Ouviu gemer em seu ouviu e então ele a puxou para que voltasse a beijá-lo.
As mãos dele eram grandes e um pouco ásperas. Ela soluçou quando ele agarrou sua bunda com força e puxou o elástico da calcinha, fazendo-a estalar em sua pele. Aproveitou a provocação e alcançou a braguilha de sua calça, abrindo o zíper e sentindo a ereção estourando o tecido. salivou.
— Você é como eu. — ele comentou, mordendo o lábio inferior dela — Se desmonta para entreter as pessoas, para cuidar delas. No final, acaba esquecendo de você mesma.
— Não é justo. — ela retrucou, enfiando as mãos por dentro da calça dele e apertando aquela bunda que sempre a atormentou — Você sabe tudo sobre mim, mas eu não sei nada sobre você.
— Temos tempo.
Aquelas duas palavrinhas soaram como uma promessa para .
As últimas peças de roupa voaram para longe e entrou em enquanto chupava seus mamilos e ela puxava os cabelos dele. Os dois caíram no sofá e pegou sua câmera, onde tirou mais algumas fotos, que ele não pretendia vender e nem mostrar para ninguém. Não, aquelas imagens de gemendo seu nome e suando sob seu corpo ficariam guardadas para ele e só para ele.
Afinal, ele sempre amara fotografar .


2014

...


Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.




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