Capítulo único
Era verão, na primeira vez que seus olhos se encontraram, foi como se eles pudessem escutar fogos de artifício naquele momento. Parecia que haviam estrelas dentro dos olhos dele, ela jurava que conseguia enxergar.
— Quem é aquele cara com aquele terno de Testemunha de Jeová nesse calor? — Perguntou às amigas que também estavam no churrasco.
— Ah, parece que é o vizinho do lado. — Mia respondeu. — E ele parece estar afim de você. — Riu, empurrando a amiga de leve para ir cumprimentá-lo. null não apresentou resistência ao incentivo de falar com o homem dos olhos estrelados.
— E aí?! — Disse, se aproximando.
— Ah, oi! — Respondeu, pegando um copo de cerveja. — null, não é? — A garota demonstrou surpresa ao ser reconhecida. — Perguntei seu nome ao Steve. — Explicou–se, apontando para o rapaz ruivo que acenou.
— Ah, faz sentido. — Ela riu. — Não está meio deslocado? — Perguntou, referindo-se ao terno.
— Você acha mesmo? — Brincou ele. — Eu acabei de chegar e os rapazes me convidaram para entrar, mas obviamente eles não me avisaram que o dress code era outro. — Os dois riram.
— Você mora em qual casa? — Perguntou null.
— Ah, não moro, a casa é de um amigo. — Respondeu ele, apontando para a casa do outro lado da rua. — Me emprestou para passar as férias, descansar um pouco, mas já cheguei vivendo o oposto de descanso. Perderam minha mala no aeroporto, então vou passar o resto do dia assim. Ah, e detalhe, o aeroporto não sabe se vai conseguir encontrar. — O homem suspirou, fazendo null rir.
— Bom… Como é mesmo seu nome? — Ela se deu conta de que não havia perguntado o nome do homem.
— Ah, me desculpe, é null, null. — Respondeu, meio sem jeito.
— Bom, null, você está no Havaí, uma bermuda basta. — Brincou — Veja se Steve tem algo para te emprestar e volta pra curtir a festa. — Sugeriu, levantando seu copo de cerveja.
— Só se você não fugir. — Brincou ele.
— Estarei bem aqui, meu caro, a casa é minha. — Respondeu ela, rindo.
— Então, volto logo. — Sam foi até Steve, deixando null suspirando, ele era um sonho. Ela nunca havia visto um homem tão bonito como ele, charmoso, engraçado e que ri das piadas bobas dela. Pelo pouco que conversaram pareciam ter o mesmo tipo de humor. Ela odiava criar expectativas, mas talvez esse verão fosse despertar algo em seu coração.
O homem voltou para a festa com uma bermuda claramente menor e que não combinava nada com ele, mas, combinava um pouco mais com a festa. Assim que pôs os olhos em null, que estava na piscina, ele foi até ela.
— E aí? — Perguntou, apontando para a bermuda.
— Bem melhor. — Ela riu. — Quer dar um mergulho?
— Ah, eu não sei… — null estava meio sem jeito, do ponto de vista de null.
— Entra aí, depois nós vamos na praia, te garanto que o que mais tem nessa casa é bermuda de homem.
— Já que insiste. — Respondeu ele, juntando-se a ela na piscina. A conversa fluía tão fácil e o riso era difícil de segurar, todos que estavam presentes naquele dia diriam que foi ali que tudo começou para os dois.
E obviamente aquilo se tornaria mais do que um simples romance de verão, porque quanto mais se conheciam, mais percebiam tudo que tinham em comum. null se esqueceu totalmente de quem era, parecia que com null ela podia mostrar o que ela sempre quis mostrar para as pessoas, mas nunca pôde. Diariamente ela era lembrada de quem era filha e de como sua família era a única coisa que ela deveria se importar, mas aquele não era ela, o único momento que ela podia se parecer um pouco com quem ela realmente era, eram nas férias de verão. E naquelas férias, ela parecia ter descoberto que algumas pessoas eram capazes de enxergá-la como era. Apesar de todo receio e medo de confiar, quanto mais conviviam, mas ela sentia que ele era quem ela procurava todo esse tempo, e ela torcia para que ele sentisse o mesmo, porque ele era alguém que a enxergava de verdade.
No último dia das férias, null e seus amigos sempre faziam um luau e soltavam fogos, era uma tradição desde a adolescência. Era a primeira vez que alguém que não fazia parte daquele ciclo participava do luau.
— Bom, essa é a nossa tradição de encerramento. — null explicou ao null. — Geralmente somos só nós, na verdade, já faz uns 10 anos que somos só nós. — Ela riu fraco.
— É uma honra, então, ser incluído nesse luau. — Respondeu ele, levando um tapa de leve de null, que riu.
— Você é meu convidado de honra, não precisa ficar tímido. — Brincou, mostrando a língua.
— E quem disse que estou tímido? — Respondeu, pegando um drink e mexendo no canudinho.
— Ah, me desculpe, a culpa é minha por ter te dado tanta confiança. — Os dois riram.
— De qualquer forma, acho uma pena que o verão esteja acabando. — Disse ele, passando um braço pelo pescoço da mulher.
— Eu ainda existo em outras estações, não fique triste. — Brincou ela. — Mas, realmente, não estava preparada para voltar ao mundo real.
— Não se preocupe, eu estarei lá no mundo real também. — O sorriso daquele homem fazia com que ela quisesse acreditar que daria certo fora dali.
— Eu torço para isso. — Ela respondeu, sorrindo.
— Ei, caras! — Jason gritou. — Venham ver os fogos. — O casal caminhou até a beira da praia, para observar o barco que os outros amigos estavam para soltar os fogos. Quando os fogos começaram, null abraçou null por trás.
— Qual é o seu pedido para o verão que vem? — Perguntou ela.
— Poder estar aqui novamente com você. — Respondeu ele, sussurrando em seu ouvido, fazendo um arrepio tomar conta de todo seu corpo, virando-se para um beijo apaixonado sob as luzes que refletiam do céu no mar. Os amigos presentes na praia aplaudiram o beijo.
— Que encerramento de verão! — Exclamou Mia.
— Nem me fala, que beijaço! — Lucy respondeu, seguido de um gritinho de comemoração.
1 mês depois.
— Não sei porque está tão nervosa, nem eu que vou conhecê-los pela primeira vez, estou assim. — null tentava tranquilizar null.
— Exatamente porque não os conhece que não está nervoso. — As mãos de null tremiam, null as segurou com força.
— Vai dar tudo certo. — Foi o que disse antes de entrar na sala onde estavam os pais da garota. Aquela casa era ainda maior e mais luxuosa do que a de veraneio, Sam não podia deixar de reparar, os pais de null com uma imponência que só pessoas com poder de verdade têm.
— null! — A mãe dela exclamou assim que se aproximaram. — Este deve ser null! — A mulher tinha um sorriso no rosto, enquanto o pai estava sério.
— Sim! Pai, mãe, este é null. null, esses são meus pais, Alyssa e Henry. — Disse null, Sam esticou a mão para cumprimentá-los, mas não obteve resposta.
— É um prazer. — Disse ele.
— Queria poder dizer o mesmo. — Henry resmungou. — Vamos adiantar a conversa para que não haja constrangimentos no jantar que me façam perder o apetite. — null ia dizer algo, mas null a interrompeu.
— Claro, senhor. — Respondeu ele, em tom sério.
— Vamos direto ao ponto, eu não me importo se você não tem onde cair morto, mas quero saber suas reais intenções com a minha filha. Eu não sou nenhum esnobe, mas preciso protegê-la. — Explicou-se.
— Eu conheci sua filha por acaso no começo do verão e não fazia ideia de quem ela era e quem eram seus pais, mas desde o momento que nossos olhos se cruzaram pela primeira vez… — Ele olhou nos olhos de null. — Eu soube que ela era a minha rainha. Digo, a dona do meu coração, a quem mais ele poderia pertencer, senão à ela? — Alyssa deu um sorriso, Henry apenas acenou com a cabeça em confirmação.
— Vamos jantar. — Disse o homem.
6 meses depois.
Aniversário de null.
— Aí está ela! Minha rainha! — Disse null, assim que null entrou na sala. Ele estava claramente alcoolizado.
— null, eu estava dando atenção aos outros convidados, por favor, para com isso. — Sussurrou ela.
— Tudo bem, atenção para todos e menos para mim. — Ele jogou a garrafa de cerveja que estava em sua mão no chão, pegou as chaves do carro e saiu pela porta da frente.
— Onde ele está indo? — Perguntou Mia, que veio correndo com os outros, assim que viu a cena.
— Eu não sei, não quero pensar nisso agora. — Respondeu null, enxugando as lágrimas que insistiam em descer do seu rosto, e subindo para o quarto. Naquele momento a festa acabou para ela, como aquele homem que ela acreditava que era o homem dos seus sonhos, podia destruí-la tão facilmente?
Algum tempo depois o celular tocou e era null, null enxugou as lágrimas e estava pronta para mandá-lo embora de sua vida.
— Alô?! — Disse, assim que atendeu o celular.
— Boa noite, aqui é do Hospital Health Care de Miami, este número está na lista de contatos de emergência do senhor null null. — null se levantou depressa.
— Sou a namorada dele. — Respondeu.
— Senhora, seu namorado sofreu um acidente… — null a interrompeu.
— Já estou à caminho. — Ela desceu as escadas correndo, ignorando os convidados que ainda restavam em seu aniversário, e saiu em alta velocidade para o hospital.
Quando chegou no hospital foi direto para a recepção.
— null null, por favor! — Disse, um médico que estava por perto se aproximou dela.
— Sou o plantonista, e a Senhorita quem é? — Perguntou, segurando um tablet em suas mãos.
— null null. — O semblante do médico mudou quando ela se apresentou.
— Senhorita null, por aqui. — O médico a acompanhou até a emergência. — Providencie um quarto. — Sussurrou para a enfermeira. — Seu namorado está bem, só quebrou a perna. Iremos providenciar um quarto o mais rápido possível, Senhorita null, se soubéssemos… — null apenas rolou os olhos e fez sinal para o médico parar de falar.
— null… — Falou baixinho, o homem abriu os olhos.
— null! — Exclamou, assim que a viu. — Me desculpe por ter estragado sua festa, me desculpe, de verdade. — null começou a chorar, e null tentou segurar as lágrimas.
— null, eu não sei se consigo… — Ela sabia que o amava, mas não tinha certeza se conseguiria perdoá-lo, o acidente não apagava os erros dele, e ela sabia.
— Eu bebi demais e perdi a cabeça, mas eu prometo que isso não vai acontecer de novo, por favor, null.
— Como eu posso confiar em você? Você tem sido alguém completamente diferente nos últimos meses. — Apesar de querer ceder, ela sabia que tinha que se manter firme.
— Me dá mais uma chance, por favor. A última. — Implorou ele, olhando para null naquela cama de hospital, ela jamais se imaginou naquela situação, onde ela estaria se esforçando tanto para manter aquele relacionamento, mas ela não queria desistir ainda, ela precisava se dar essa última chance.
— A última.
Início do Verão.
Desde que deu mais uma chance para null, null notou que no começo ele estava se esforçando de verdade, mas já fazia um tempo que as coisas haviam começado a desandar novamente, mas ela acreditava que com o início do verão, havia uma chance de resgatar seu relacionamento. Talvez se lembrando do começo, eles poderiam voltar a ser como eram. Para ela, que sempre desistiu de tudo quando ficava difícil, e sempre teve todo mundo ao seu dispor, era algo que ela deveria tentar. Ela não acreditava que pessoas pudessem ser descartadas assim, sem ao menos tentar.
Mas o verão seria diferente, esse ano, null a convenceu de ter privacidade na casa. Os amigos ficariam em uma pousada, os pais de null pagaram, sem que ela soubesse. Eles acreditavam que null estava tentando afastá-la dos amigos, assim como já havia feito com eles. Quando todos chegaram, se reuniram no bar próximo à praia.
— Oi! — Disse null, assim que viu seus amigos. Mia correu para abraçá-la e puxou a amiga para longe de null, disfarçadamente.
— Vocês estão bem? — Perguntou Mia.
— Sim, acho que as férias vão nos fazer bem. — Respondeu null, sorrindo. Mia suspirou, aliviada.
— Que bom, amiga! — Respondeu, dando um abraço na amiga. Algumas pessoas que estavam no bar, juntaram-se a eles, e null exibia null como se fosse um troféu. Parte dela adorava aquilo, sentia como se realmente estivessem voltando a ser como antes. Riram, beberam, dançaram, até que uma simples atitude a fez perceber que estava sendo ignorada e apagada por null. Acabando com a noite, no momento em que começou a falar e foi interrompida pela piada dele.
— Eu sequer escutei que você iria falar algo. — Disse null, tirando a camisa e jogando na cama.
— A noite inteira, null? Eu tentei falar a noite inteira! — Ele saiu andando para o banheiro e a deixou falando sozinha. — Na hora de me exibir como se fosse um troféu, você soube, mas me ignora quando não estão olhando, até sutilmente perto dos outros! Isso é amor? — Gritou, tirando os brincos.
— E o que você quer de mim, mulher? — Retrucou ele, voltando para o quarto.
— Respeito, para começo de conversa! — Respondeu, deixando um dos brincos cair no chão e se abaixando para pegar.
— Em qual momento eu não te respeitei, null? Você queria vir para a droga da casa da praia, e eu vim, queria sair com seus amigos e eu fui. Quando fizemos algo que eu quis? — Indagou ele, quando abriu a boca para responder, null observou uma caixa embaixo da cama, que nunca esteve ali. Enquanto null estava reclamando do quanto ela era egoísta e só pensava nela mesma, ela puxou e abriu a caixa de metal, que continha uma arma dentro. — Dá pra me responder?! — Ela se levantou e apontou a arma para ele, que levantou as duas mãos.
— Que porra é essa? — Perguntou ela. — Por que tem uma arma embaixo da nossa cama? Nós dormimos aqui!
— null, calma! — A voz do homem ficou trêmula.
— Eu estou bem calma. — Ela engatilhou a arma. — Fala agora.
— Eu… eu…
— Por que tem uma arma aqui? RESPONDE PORRA! — Gritou ela.
— Eu deveria te matar. — Murmurou ele.
— O quê?! — As mãos de null tornaram-se trêmulas.
— A minha missão, eu fui ativado, eu deveria… Mas eu não pude, eu nunca poderia… null, me escuta! — Ela disparou a arma na perna dele.
— Vai embora daqui… — Ele gritou de dor. — …antes que eu te mate.
— null…
— Eu vou fechar os olhos e contar até 10, se quando eu abrir, você ainda estiver aqui, eu te mato. — Ele engoliu seco, ela fechou os olhos. — 1… 2… 3… 4… 5… 6… 7… 8… 9… 10. — Quando abriu os olhos, ele já não estava mais na sua frente. Ela não acreditava em como havia sido estúpida, há quanto tempo seu futuro assassino dormia com ela? Como ela havia insistido naquele relacionamento? O verão havia sido destruído ali.
Último dia do Verão.
null observava de longe seus amigos velejando em seu barco, sozinha, sentada na praia. Ela torcia para que nunca mais encontrasse null na sua vida, mas seu coração queria escutar o que ele tinha a dizer, mas ela estava magoada demais quando descobriu, para sequer escutar.
— Sem fogos esse ano? — Ela escutou uma voz surgindo atrás dela.
— Não tem o que comemorar. — Respondeu, séria. — Eu disse para ir embora.
— Eu jamais poderia ir, sem ao menos me despedir. — Respondeu null, ela continuava de costas para ele.
— Alguma coisa foi real? — Perguntou ela, enquanto sentia uma lágrima escorrer pelo seu rosto.
— Todas as partes boas foram. — A voz do homem soava arrependida. — Eu tentei não me apaixonar por você, mas o riso era leve, nossas piadas se completavam, você tem esse coração enorme que eu nem consigo descrever, eu simplesmente me encantei por você. Mas eu tinha uma missão, e quando fosse ativado, eu tinha que cumprir. Eu estraguei seu aniversário para você nunca mais olhar na minha cara, mas aí eu sofri o acidente e a única pessoa que eu queria ver, era você. Quando você apareceu no hospital, eu me arrependi. Por isso, me esforcei tanto quando me perdoou, mas me dei conta que seria em vão, e tentei te afastar sutilmente. Eu não conseguiria te matar enquanto ainda te amasse, eu ainda não consigo, eu pensei que se partisse seu coração e terminássemos de uma forma horrível, eu conseguiria superar o sentimento e completar a missão.
— E isso aconteceu, então, está aqui para me matar? — Perguntou, ainda sem olhar para ele.
— Estou aqui para me despedir, não sei se existirá um mundo em que iremos nos reencontrar, mas certamente outra pessoa virá atrás de você. — Ele suspirou. — Você é a única herdeira de seus pais, sem você, terão que decidir outro.
— Então, tudo acaba onde começou? — Perguntou ela, o motivo era tão óbvio que ela nem se importava com aquilo, até porque, aquela não havia sido a primeira vez.
— Pelo visto, sim. — Respondeu ele, null se virou para olhar em seus olhos estrelados uma última vez.
— Adeus, null. — Disse, com um sorriso no rosto.
— Adeus, null. — Respondeu, antes de partir. A única coisa que iluminava o céu naquele momento, era a lua cheia, e foi graças a ela que null pôde observar null indo embora pela última vez.
Fim.
Nota da autora: oii gente, tudo bem? espero que sim! espero que tenham gostado, vou deixar meu insta de autora, pra vcs conferirem minhas outras fics, beijinhoss!
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