Capítulo Único
andava totalmente distraído pelo pátio da escola, com seus fones de ouvido no volume máximo, sem se importar com as pessoas que passavam e o cumprimentavam. Ele não se importava com nada que acontecia naquela escola. Se dependesse dele, ele estaria bem longe dali, estaria vivendo seu sonho de ser um astro do rock em Los Angeles e o resto que se explodisse. Porém, ele ainda tinha 17 anos e já estava no último ano do ensino médio, então logo ele se veria longe daquela cidade.
As férias haviam sido um saco; seu pai o havia feito trabalhar na oficina da família e ele mal pudera sair com os seus amigos. Ele sabia que o pai o faria trabalhar nas férias. Não que ele não gostasse de trabalhar na oficina do pai, pelo contrário, ele era um amante de motos e havia a parte boa na história: ele teve um salário melhor do que nas férias passadas, já que agora ele fazia um serviço ainda maior e as horas trabalhadas haviam aumentado.
Fazia três anos que ele estava guardando dinheiro para poder se mudar para LA, desde que ele colocou na cabeça que viveria de música, começara a guardar todo dinheiro que caia em sua mão, nem que fossem centavos. Ele estava decidido: após a formatura, trabalharia alguns meses com seu pai e iria para Los Angeles, para poder realizar seu sonho.
Ele não era mais o garoto bobo de três anos atrás. Ele sabia que não seria fácil, que não conhecia ninguém na cidade e muito menos contaria com o apoio dos seus pais para qualquer eventualidade. Eles não aceitavam de maneira alguma que o filho quisesse viver de música; para eles, administraria a oficina em alguns anos com a eficiência e maturidade que tinha, casaria com alguma moça da cidade e viveria sempre por perto deles. Porém, o rapaz não queria essa vida para ele. Não queria criar ainda mais raízes em Stamford, ele não queria ter que aguentar ainda mais a hipocrisia daquela cidade. As pessoas olham para você sorrindo, mas no momento em que você dá as costas, elas te apunhalam com as palavras mais baixas possíveis e ele não queria mais ver nada disso.
Por mais que estivesse com os fones, ele sabia que algo estava errado na escola. As pessoas estavam cochichando mais do que o normal e ele não havia recebido os comprimentos que recebia todo dia.
Chegou próximo à mesa que seus amigos sempre sentavam e retirou um dos fones para poder conversar com a galera.
- Falou, ! Já sabe da novidade? – Disse Joshua antes mesmo de soltar o fone que estava em sua mão.
- Nem sei e nem quero saber. Você sabe que eu odeio fofoca. Vocês são piores que mulher quando se trata de falar da vida dos outros.
- Cavalo como sempre, né!? Mas vou dizer mesmo assim. Sabe o reverendo ? Aquela filha dele que foi estudar em um internato em Oklahoma voltou e vai estudar aqui. Aliás, ela já está aqui. Tive aula de física com ela. – Joshua praticamente sussurrava, enquanto o olhava com a sobrancelha arqueada.
- E daí? Não entendi o motivo de tanto cochicho. É apenas uma aluna novata, como todos os outros que vieram.
- Não, meu querido. O boato é que o reverendo a trouxe de volta porque o interno é praticamente um centro de lésbicas loucas por sexo e ele não queria que a filhinha dele imaculada se tornasse suja.
- Eu te pergunto novamente: E daí? Tanta coisa com que se preocupar e as pessoas vão se preocupar com qualquer besteira, eu hein. Sempre olham pra vida dos outros.
- , tu está muito estressado, cara! Todo dia eu falo a mesma coisa. Isso é falta de sexo. Temos que ir a algum pub beber e encontrar algumas gatinhas.
- Eu acho que quem tá precisando de sexo é você, vinte e quatro horas por dia você falando. Só vive de xvideos, por isso fica perturbando os outros.
- HA HA HA! Que engraçado! Alguém já disse que você poderia fazer stand up? – Joshua disse e revirou os olhos. – Ela continua do mesmo jeito.
- Quem?
- , retardado. De quem mais estamos falando?
- Estamos vírgula. Você que está falando dela. Aliás, a única coisa que você sabe fazer é falar da vida dos outros? É por isso que você sempre fica para recuperação.
- Isso não tem nada a ver!
- É claro que tem se...
- Cala a boca aí, lá vem ela! – Joshua interrompeu . Por reflexo, vira para olhar o que o amigo tanto encarava. Foi nesse momento em que ele viu .
A garota usava um vestido de tom azul claro de mangas, que ia até o joelho. Nos pés, um par de sapatilhas pretas com um laço singelo. Os cabelos levemente ondulados possuía uma franjinha que cobria toda sua testa e sobrancelha, parando próximo aos pequenos olhos da garota. – Quem usa esse tipo de roupa em pleno século XXI?
- E desde quando você é o especialista em moda feminina? – disse ainda encarando a moça. Ela estava distraída andando, mas o calor dos olhos do rapaz queimava seu corpo e a fez procurar quem tanto a encarava. Ela pousou seus olhos em e pendeu a cabeça para o lado e deu um pequeno sorriso em cumprimento. que quase nunca cumprimentava ninguém e maneou a cabeça em resposta. Ele virou-se para o amigo que o encarava com curiosidade.
- Que porra foi essa, mano?
- Não entendi.
- Você entendeu sim, não se faça de desentendido. Desde quando você fala com a Santa Imaculada?
- Primeiro, que esse apelido é horrível e nada engraçado. Segundo, minha família morou ao lado da casa da família dela.
- Você ter sido vizinho dela não quer dizer que vocês se falavam. Eu não falo com meus vizinhos.
- Então, quer dizer que se você não fala com seus vizinhos, eu também não devo falar, é?
- Eu não disse isso.
- Tá, tá. Eu vou para a aula de inglês.
- Mas ainda não começou. – Joshua disse enquanto se levantava do banco onde estava.
- Vou ficar sentado, ouvindo música. Até mais.
- Bom dia, turma. Antes de começar nossa aula, eu quero apresentar nossa nova aluna: ! Que não é tão nova para a maioria, mas vamos dá boas vindas à ela.
- Obrigada, mr. Jones. – falou pela primeira vez na frente de e só ouviu o que ela disse porque a turma estava em silêncio. Ela falara tão baixo que quase não dava para entender suas palavras.
- Disponha, querida. Pode se sentar. – Mr. Jones esperou sentar para poder continuar a aula. – Então, último ano. Não pensem que vai ser fácil, porque não. Aliás, já tenho toda nossa programação desse semestre e vou deixar avisado: não brinquem. Vocês estão no último ano, mas isso não quer dizer que já estão formados. Pelo contrário, agora que vocês vão provar que estão aptos. Vamos começar. Esse ano, vamos estudar uma das peças inglesas mais famosas do mundo: Romeu e Julieta! – Mr. Jones estava muito animado com a ideia, diferente do resto da turma. Ora, todos conheciam o clássico de William Shakespeare, mas não queriam enfiar a cara nos livros, justo no último semestre de aulas. Eles achavam que os professores iriam pegar leve, já que seria o último ano, mas eles estavam enganados.
puxou levemente os cabelos, uma mania que ele tinha desde quando era criança. era um dos alunos que não queria enfiar a cara nos livros logo agora. Queria puder apenas ficar compondo músicas ao invés de estar escrevendo redações. – Vamos começar estudando a literatura daquela época.
Estava um clima chuvoso, o que era surpreendente, pois os dias anteriores estavam bastante quentes e fez com que a temperatura baixasse e com que as pessoas ficassem um pouco aliviadas do calor. era uma dessas pessoas. Ela adorava o frio e detestava o calor. Claro que tudo era uma maravilha de Deus e ela tentava não reclamar muito disso.
Com o frio, ela podia usar seus cardigans sem sentir incômodo algum, diferente do clima quente. Ela continuava usando, pois adorava sentir a leveza que o tecido dava aos seus braços. Não gostava de shorts jeans e os evitava ao máximo. Apenas em casa ela usava, pois assim sentia-se à vontade.
- , querida. O café está pronto.
- Estou indo, papai. – desceu as escadas calmamente. Ela sempre acordava cedo para poder arrumar tudo o que precisava antes de sair para a aula. Fazia duas semanas que ela tinha voltado para Stamford, ou seja, duas semanas de aulas na sua antiga escola.
Ela havia esquecido o quão as pessoas da escola eram complicadas e um pouco fofoqueiras também. Ela sabia que as pessoas estavam falando dela, ela viu isso no primeiro dia de aula. Viu a maneira como cochichavam antes e depois dela passar por eles. E eles não se intimidavam, muito menos sentiam vergonha do que estavam fazendo. Achavam comum falar da vida das pessoas, mesmo sem saber o que falam. Ela sabia que seria motivo de fofoca assim que passasse dos portões da escola, mas ela tentava ficar calma, fingia que não ouvia os cochichos. O pai havia alertado como as pessoas poderiam atingi-la e falara para ela tentar não se importar e era isso que ela estava fazendo. Dizia bom dia e olá para aqueles que ela lembrava, mesmo que soubesse que haviam falado dela no segundo anterior. Isso parecia estar funcionando, pois os cochichos diminuíram.
Ao chegar à cozinha, sentiu o aroma perfumado do café que ela tanto gostava. Sentou-se à mesa e serviu-se com panqueca e salada de frutas. Comeu tudo com calma e após lavar a louça, deu um beijo no rosto do pai e saiu em direção à escola.
tinha uma bicicleta, mas ela gostava de ir andando, sentindo com calma os cheiros do mar e das árvores que ela encontrava no caminho.
havia adquirido o gosto de motos e carros pela influência de seu pai, ele não negava isso. Mesmo antes de ele nascer, seu pai já tinha a oficina e desde pequeno trabalha com o pai, mesmo que no começo tenha sido com brincadeiras.
O pai tinha o clássico Mustang 1980, o carro em que aprendeu a dirigir e já possuiu uma Harley Davidson, mas não era muito fã do modelo e já que o pai não andava muito na moto, ele vendeu e comprou uma honda CB 300F como presente de aniversário para o , já que ele havia se apaixonado pela moto.
Era na sua paixão que ia para a escola todos os dias. Na verdade, era onde praticamente vivia, pois todos os lugares que ele ia, ele tinha que ir na moto.
E era onde ele estava nesse momento, porém parado, esperando Joshua para poder seguir para a escola. Já cansado de esperar, ele buzinou pela centésima vez.
- Calma, porra! Já estou aqui! – Disse Joshua saindo rapidamente de casa.
- A madame vai casar? Porque aposto que nem uma noiva demora tanto como você demora.
- Tá, tá. Vamos logo, quanto mais cedo ir, mais cedo sairemos de lá.
Quase todos os alunos falavam ao mesmo tempo na turma, os lamentos eram grandes e ninguém fazia silêncio, exceto e . bufava e revirava os olhos, esperando que sua cabeça não latejasse com tanta gritaria, enquanto apenas passava os olhos entre os demais, até que seus olhos pousaram em , sentado do outro lado da sala. A garota pendeu a cabeça para o lado, curiosa, ao perceber que o mesmo estava silencioso como ela.
colocou o dedo indicador e do meio na testa, fazendo um pedido silencioso para que sua cabeça não começasse a doer.
- SILÊNCIO! – Mr. Jones gritou, conseguindo fazer a turma parar de gritar. – Porque vocês não conseguem dialogar sem gritaria? Eu não sou surdo! Não adianta gritar, espernear e muito menos chorar. Vocês vão fazer a peça Romeu e Julieta e ponto final. Agora, vocês podem escolher ficar gritando e tirar um zero bem redondo ou podem me deixar explicar e todo mundo ter uma bela festa de formatura. Vocês decidem. – A turma inteira ficou em absoluto silêncio, pois ninguém nunca viu Mr. Jones se exaltar. Isso fez dar um sorriso de escárnio. – Boa escolha. Primeiro, vamos escolher os personagens secundários, apenas por fim, escolheremos os principais. – Enquanto o professor ia listando na lousa todos os personagens usados em sua peça, teve uma ideia e começou a compor na última folha do seu caderno, perdendo total noção do que se passava na turma. Mr Jones pegou uma folha em que havia o nome de todos os alunos da turma e foi cortando, dobrando e por fim, colocando em um depósito. Após isso, começou a retirada dos papéis e anotando o nome de acordo com seu personagem. – Mercucio: Joshua Parker. – Joshua bufou ao saber que teria falas na peça e resmungou baixo. – Josebaldo, pai de Julieta: Adam Scott. – Mr. Jones pegou um papel. Romeu: . – Nesse exato momento, a atenção de foi da folha para o professor.
- Mas que porra! – Ele resmungou, o que fez o professor Jones o olhar torto.
- Julieta: .
Nesse momento, olhou assustada para o professor, enquanto o resto da turma estava em silêncio, pois todos estavam perplexos, com a boca aberta. A cabeça de estava a mil, ela engolia seco diversas vezes, não conseguia raciocinar diante do que o professor acabara de dizer. No papel de Julieta, logo ela que mal consegue olhar alguém por mais de um segundo, pois no segundo seguinte, seus olhos estão encarando o chão? Logo ela que não consegue dizer cinco palavras seguidas sem gaguejar? Ela estava incrédula, não conseguia pensar em nada, pois sua mente estava totalmente em branco, um vazio imenso. Entretanto, o silêncio não reinou por muito tempo e todas as garotas da turma começaram a falar ao mesmo tempo, tirando do seu transe.
- SILÊNCIO! – Professor Jones bradou mais uma vez e novamente, a turma ficou em silêncio. – Está tudo decidido. Próximo mês começaremos os ensaios, mas antes disso, na próxima aula eu estarei entregando o conteúdo da peça com as falas de cada um. – O sino para o intervalo tocou, fazendo todos se levantarem, afim de sair o mais rapidamente da sala. – Ah, já ia esquecendo. A peça irá valer 80% da nota final, ou seja, quem quiser desistir, tudo bem, mas irão ser reprovados. Bom intervalo a todos!
estava em total silêncio. Fazia vários minutos que a aula havia acabado e ele ainda estava pasmo com tudo que aconteceu no dia. Ele sabe quando um dia iria ser ruim desde o momento em que abre os olhos e foi isso que aconteceu. Primeiro, ele não ouviu o despertador do celular tocar, o que levou ao segundo, pois ele não teve tempo de comer com calma seu café da manha, apenas pegou uma caixinha de um suco que havia na geladeira e um misto quente que sua mãe havia preparado e correu, literalmente, para a escola. Terceiro fato foi ele ter chegado à aula de química atrasado, levando uma advertência. Então, veio o pior de todos: a maldita peça da aula de literatura inglesa que ele pegou logo o papel de Romeu. O que seria engraçado se não fosse trágico. Literatura era sua aula favorita depois da atividade extracurricular que ele tinha, aula de música, mas não queria dizer que ele queria fazer uma peça em que todos os alunos da escola mais os pais veriam e para piorar, ele ainda seria um dos personagens principais, ou melhor dizendo, o principal, juntamente com Julieta. seria Julieta e ele logo pensou na pobre garota. Ele sabia que era extremamente tímida e só não estava com mais pena de si próprio, pois estava com mais ainda pela garota. Mal havia voltado para cidade e ainda teria que passar por isso.
- , acorda! Terra chamando ! – Joshua falou, passando a mão na frente do rosto de .
- O que foi, cacete? Alguém morreu? – respondeu, dando um tapa na mão de Joshua que ainda estava próximo ao seu rosto.
- Estava no mundo da lua, cara? Há tempos eu falava contigo, ou melhor, achava que estava falando, pois eu estava falando sozinho! Então, comecei a falar alto e ver se você estava acordado ou estava... – Joshua ia falando rapidamente, mas foi interrompido por .
- Sim, sim e o que você quer? - Joshua olhou para os lados da lanchonete, pois muitos alunos da escola frequentava o local, já que a escola era próxima.
- Eu estava falando sobre a peça enquanto você estava viajando na maionese. – Joshua falou baixinho e revirou os olhos ao ouvir o que o amigo queria dizer.
- E daí?
- O que você vai fazer? – olhou como se ele fosse a pessoa mais idiota do mundo e talvez, naquele momento, fosse mesmo.
- Vou pegar a peça e decorar minhas falas? – falou e dessa vez, Joshua que revirou os olhos.
- Então, você vai fazer essa peça idiota mesmo?
- E o que você quer que eu faça, Josh? Bata o pé e digo que não e reprovo?
- Não, mas vamos tentar falar com o professor Jones com calma.
- Parece até que você não estuda aqui há anos. Você sabe que ele não vai mudar nossos personagens e muito menos acabar com a peça. Só nos resta aceitar. Ponto final.
A cada batida do relógio; um segundo se passava e o tempo parecia estar andando em câmera lenta. passava uma mão na outra a fim de parar o suor frio que saía de suas mãos, mas sem muito êxito. Seus olhos iam de suas mãos para o relógio, seu coração estava acelerado e sua garganta estava seca. Levantou-se para pegar um copo de água. No momento em que estava colocando o copo na pia, o barulho da porta se abrindo fez com que ela pulasse de susto e virasse bruscamente para trás. Seu pai chegara com uma sacola cheia de frutas, pois ele sabia que a garota só gostava de sucos naturais, nada industrializados. Ele se aproximou da filha dando um beijo em sua testa e deixou a sacola em cima da mesa.
- O que houve, filha?
- Pai, eu tenho algo a dizer sobre a escola. – Ela disse indo direto ao ponto.
- O que aconteceu? – O pai sentou próximo à filha. respirou fundo.
- Vai ter uma peça na aula de literatura. Romeu e Julieta, sabe? Do William Shakeaspere.
- Sim, eu conheço.
- Pois então, e eu fiquei com o papel da Julieta.
- Mas porque você está tão nervosa, querida?
- Porque eu terei que beijar um garoto, pai. Nunca beijei um na vida e provavelmente, vou ter que beijar na frente de dezenas de pais.
- Você quer que eu fale com o professor? Eu converso com ele se você não se sentir bem.
- Não, eu só... Eu só não quero que você fique com raiva de mim.
- E porque eu ficaria?
- Porque eu terei que beijar um rapaz e o senhor é... Bem, eu sou filha do senhor e o senhor é um pastor. Não vai ficar bem.
- Filha, olhe para mim. Não se preocupe com o que os outros vão pensar, se preocupe com Deus. Ele sabe que é uma tarefa escolar. Não pense no que eu poderia pensar e muito menos em outras pessoas, entendeu? Eu só quero seu bem. Eu me arrependo, às vezes, de ter te colocado naquele internato, mas eu tinha medo, filha. Eu sou humano e também erro.
- Eu entendo, pai. Só quero que você se sinta bem com isso.
- Eu me sinto. Agora, vamos jantar, certo?
O auditório fora reformado no ano anterior. Todas as poltronas foram trocadas por novas, mais acolchoadas. As cortinas antes pretas com um tom desbotoado, agora eram em um vermelho vivo. O piso fora trocado por um novo de linóleo que brilhava ao longe de tão limpo.
Mr. Jones estava totalmente satisfeito com o resultado e seu peito estava cheio de ego, pois ele que conseguira todas as mudanças no auditório. Fazia quase 10 anos que ele tentava reformar o auditório, mas sem sucesso. O antigo diretor era fã de cortar custos e detestava todo tipo de atividade extracurricular que ele achava desnecessário, o que incluía tudo, menos esportes, já que os melhores atletas conseguiam bolsas de estudos em boas universidades e fazia com que a escola fosse bem vista.
Os alunos estavam chegando e rapidamente estavam ocupando algumas poltronas do auditório. Mr. Jones esperou que todos se sentassem e se posicionou no meio do palco.
- Bom dia, meus caros alunos. Como todos já sabem, hoje iremos começar nossos ensaios. Antes de passar os textos com as falas do primeiro ato para vocês, quero informar que já consegui uma costureira para fazer os figurinos e nossa fada é mãe de um dos alunos. É a Claire ! – deixou seu queixo cair totalmente em surpresa, pois nem ele sabia que sua mãe ficara responsável pela confecção dos figurinos. Não era novidade para ninguém o quão bem a mãe de costurava, nem mesmo para , pois ela lembrava bem que a doce Claire sempre fizera consertos de suas roupas e até chegou a fazer uns dois a três vestidos para ela, o que a fez lembrar de encomendar novamente, já que voltara à cidade.
- É um prazer ter sido escolhida para fazer os figurinos e como tenho que fazer muitos, mr. Jones pediu que eu começasse o mais rápido possível e vou começar hoje mesmo a medir vocês.
Um por um foram medidos até não sobrar mais ninguém e após isso, Claire se despediu e logo mr. Jones voltou a se concentrar na turma.
- Vamos começar os ensaios? Ato I, cena IV.
acabara de passar pelos portões da escola quando escutou uma voz lhe chamando. Inclinou o corpo para trás, a fim de saber quem era a pessoa que falava com ela.
andava a passos rápidos, quase correndo, querendo chegar o mais rápido possível onde se encontrava. Ao ficar frente à ela, respirou fundo, querendo normalizar sua respiração que ficara agitada com a pressa que suas pernas andaram, e voltou sua atenção à garota que o olhava curiosa.
- Olá, . Eu gostaria de saber se poderíamos ter um ensaio da quinta cena, já que ela logo será ensaiada com o mr. Jones. – coçou a cabeça em sinal de vergonha. - Também não sei se você percebeu, eu não sou muito acostumado com essa coisa de peça e não quero que foder com todo o trabalho do professor. – estava com a cabeça pendida para o lado, logo que escutou o palavreado, arregalou os olhos em espanto. Claro que ela já ouvira outras palavras como a que ela acabou de ouvir, mas nunca ninguém havia proferido tal absurdo na sua frente. viu a reação da garota e lembrou com quem estava conversando e logo se retratou. – Desculpe, . Esqueci que eu não estava falando com uma pessoa normal. – novamente pendeu a cabeça e achou que ela ficara com mais cara de menina quando fazia tal gesto.
- E o que é uma pessoa normal, ?
- Droga! Desculpe novamente, . Não quis te ofender, pelo contrário. Quis dizer que você é uma pessoa diferente das outras.
- Por eu ser filha do pastor?
- Não, porque você é pura e melhor que qualquer um aqui. – Dizendo isso, ficou sem palavras. Não acreditava ser melhor do que ninguém, pelo contrário, era tão comum quanto qualquer outro.
- Fico agradecida pela gentileza, mas não sou melhor do que ninguém, eu sou igual a todos aqui.
- Não, , não mesmo. – O jeito com que falava a deixou com as bochechas coradas, o que fez acha-la mais admirável.
- An, bom, podemos ensaiar amanhã às 16h?
- Sim, pode ser lá em casa? Minha mãe pode fazer uns sanduíches enquanto ensaiamos na varanda, o que acha?
- Uma boa ideia, eu já estava pensando em ir à sua casa pedir para sua mãe fazer um vestido para mim. Dois coelhos com uma só cajadada. – Os dois riram.
- Combinado. Até amanhã.
- Até.
O dia amanheceu e surpreendentemente frio. vestiu um moletom preto e colocou uma camisa na mochila por precaução, já que ele não sabia se o frio iria durar o dia todo.
Desceu as escadas rapidamente sentou-se à mesa, observando sua mãe terminar as panquecas e colocá-las em cima da mesa. O cheiro subiu em suas narinas, o que fez seu estômago roncar em protesto.
- Isso tudo foi você? – Perguntou sua mãe.
- Bom dia também mãe, estou bem, obrigado por perguntar. – falou irônico, fazendo sua mãe revirar os olhos.
- Bom dia, querido. Tudo bom? Isso foi uma moto ou apenas seu estômago? – Sua mãe disse e dessa vez foi que revirou os olhos.
- Fazer o quê se ele sabe que as panquecas de Claire são as melhores?
- Fazer o quê se eu sou a melhor, não é mesmo? Coma logo para não se atrasar.
- Ah, que bom que a senhora falou isso. Lembrei que a virá hoje aqui em casa. – disse e começou a comer.
- , a filha do pastor? – A voz da sua mãe saiu uma nota mais alta que o normal, pois ela havia se espantado com a notícia. Ela sabia que e nunca foram grandes amigos, frequentavam os lugares diferentes. Eles eram totalmente diferentes!
- Porque o espanto? Esqueceu que ela é minha Julieta?
- Ah, sim. É verdade. Ela vem ensaiar com você?
- Sim e parece que ela quer que e a senhora costure um vestido para ela também.
- Entendi, aproveito e faço a prova com ela de um dos figurinos que ela irá usar, já está quase pronto. Aliás, o seu está pronto e mais tarde você aproveita e experimenta para ver se eu preciso ajeitar algo.
- Certo. – se levantou, lavou sua louça e voltou para pegar sua mochila. – Estou indo, mãe. – Se despediu com um beijo na testa de sua mãe e foi a caminho da escola.
Todas as aulas foram bem calmas e isso deixou uma sensação agradável em . Nada melhor do que uma calmaria em meio a tanto barulho que há na escola todos os dias.
saiu da escola e se pós a caminho de casa, mas antes desviou seu caminho e foi em um restaurante próximo a sua casa, comprar almoço para ela e seu pai. Seu pai quase sempre fazia o almoço e ela o jantar, sempre era assim, mas havia dias que o pai ficava muito ocupado e só chegava em casa tarde, então ela comprava a comida, pois sua fome não esperaria ela chegar em casa e ainda fazer.
Logo ela estava em casa e bem alimentada, guardou o almoço do pai e deixou um bilhete na geladeira, avisando onde a comida estava.
Embora ela não estivesse tão cansada, tomou um banho quente e foi tirar um cochilo antes de ir a casa de .
Ela dormiu por algumas horas e às 15:30 o despertador do seu celular tocou e ela se pós de pé e tomou um outro banho.
Vestiu uma roupa qualquer, penteou os cabelos e os deixou soltos, o que dificilmente acontecia, mas como seus cabelos precisavam ser lavados e ela não gostava muito do calor do secador, ela deixou assim mesmo, mas colocou uma liga de cabelo no pulso caso eles sequem e ela queira amarrá-los.
Pegou o celular e verificou a hora, vendo que faltava 10 minutos para as 16 horas, desceu as escadas e encontrou seu pai assistindo um programa qualquer na sala.
- Pai, eu estou indo para a casa do , como eu havia avisado.
- Certo, filha. Cuidado. Que Deus te acompanhe. A paz do Senhor, querida.
- Amém, a paz do Senhor, pai.
A casa de ficava alguns minutos, um pouco próximo ao centro da cidade. mal colocara os pés fora de casa, quando chegou em sua moto, a fazendo tomar um susto.
- Desculpa pelo susto.
- Aconteceu algo? Você veio avisar que não teremos mais o ensaio? – Ela estranhou estar ali, já que eles combinaram de ensaiar na casa do mesmo. a olhou pensativo por um momento e deu um longo sorriso.
- Não, vim te pegar, oras. – olhou para a moto e depois para assustada.
- Sem chance. Vou a pé, mas não subo nisso.
- Esse nisso tem nome, não é assim que se fala com o amor da minha vida, . – começou a rir desesperadamente e ficou sem entender. Ela achou graça do jeito que ele tratava a moto e pela chateação de com ela. – Não tem graça, . – Ele fez um bico sem querer e o achou totalmente fofo. Ela sempre o achara fofo, não que ele saiba e nem precise saber, óbvio.
- , eu morro de medo desse treco.
- Para de xingar minha bebê, ! E não tem nada demais, eu vou devagar e você vai com capacete. Trouxe até o capacete da minha mãe que tem essas flores aí. – deu um sorriso do jeito carinhoso que ele falava e assentiu.
- Tá bom, mas você coloca isso na minha cabeça e se segura porque eu não sei subir e não quero cair.
- Certo, capitã. – bateu continência, fazendo rir do jeito engraçado do rapaz.
- Mas é bobo. – se aproximou de e o rapaz colocou o capacete nela e prendeu o fecho.
- Vamos, vamos. Estamos perdendo tempo.
- Calma que eu sou nova nessa coisa de moto. – subiu de um jeito estranho e engraçado que fez dar uma boa gargalhada. – Para de rir de mim, . – olhou pelo retrovisor da moto. A garota nunca o chamara pelo apelido, aliás, quase ninguém o chamava e ele percebeu que gostou de como seu apelido saiu de forma melodiosa da boca da garota.
- Se segura em mim, . – obedeceu e passou os braços ao redor dele, se aconchegando ali e gostou do jeito delicado com que ela o abraçara.
Eles seguiram até a casa do rapaz e como prometido, ele guiou a moto devagar, mas logo eles chegaram e foram logo falar com Claire, que estava esperando os garotos.
deu um abraço e um beijo no rosto da mãe de que retribuiu.
- Olá, querida. Tudo bom?
- Tudo sim e com a senhora?
- Tudo ótimo. falou que você vinha ensaiar com ele e que queria também me encomendar um vestido.
- Sim, eu trouxe aqui na mochila o modelo que eu quero, é um vestido que eu tenho há anos e eu amo demais, mas já está velhinho. – mostrou o vestido e entregou na mão da mulher.
- Certo. , querido, porque não vai lá na cozinha e pega algo para a gente beber? Água, ? – Claire perguntou e assentiu. Virou-se para : - E fique uns minutinhos lá enquanto experimenta o primeiro figurino da peça. falou que eu já estou terminando seu primeiro figurino?
- Falou sim, aliás, estou muito curiosa.
- Você vai amá-lo como eu estou amando. Espero que você goste também!
colocou o pesado vestido no corpo. O traje era em um tom creme com um decote v pequeno no busto e todo busto estava cravejado com pedrinhas brilhantes, nos ombros tinhas umas alças caidinhas, que davam um jeito meigo ao vestido e logo abaixo tinha duas faixas finas de uma cor dourada brilhosa e a saia bem leve e lisa, sem mais detalhes. Era tão simples e a simplicidade deixava o vestido maravilhoso.
- Nunca vi um vestido tão lindo como esse. – estava totalmente deslumbrada com a beleza do vestido.
- Esse vestido ficou maravilhoso em você, querida. – Claire analisou de perto e sorriu. – Não precisarei fazer muitos ajustes. , venha aqui rápido! – Ela gritou e logo o garoto subiu. estava de frente ao espelho e de costas para , mas através do reflexo do espelho ela o viu e principalmente viu o garoto estático parado na entrada do cômodo. virou-se lentamente e deu um sorriso tímido. Ele abriu a boca algumas vezes, sem conseguir falar nenhuma palavra. O rapaz maneou a cabeça, tirou a cara de idiota que fazia e sorriu.
- Você está linda, . Quer dizer, mais linda ainda. Esse vestido foi feito para você. – sorriu sem graça.
- Obrigada, . É muito gentil de sua parte. – Claire levou os olhos de até e depois voltou para o filho. Sorriu. O clima que estava ali era muito agradável aos seus olhos, muito mesmo.
- Disponha. Vou descer e deixar você se trocar. Eu estou esperando na varanda.
estava em total silêncio. Seus pensamentos estavam confusos e ele tentava coloca-los no devido lugar, mas sem muito sucesso. Os dias estão sendo estranhos e hoje estava sendo o ápice de toda estranheza.
Primeiro, ele estava gostando de muitas coisas em em apenas um dia e segundo, ele ficara boquiaberto ao vê-la vestida de Julieta. Nenhuma outra pessoa acharia tão espantoso, já que ela não estava com maquiagem e nem cabelos penteados, mas a beleza singular que ela apresentava a fazia ficar mais linda do que ela já era. Aliás, ele não tinha percebido o quão linda ela era, até o presente momento e, sim era linda, e muito. Sentiu um arrepio percorrer seu corpo e balançou a cabeça. O que tudo isso queria dizer? Infelizmente – ou felizmente – seus pensamentos foram levados para o fundo da mente, no momento exato em que chegou e sentou-se na poltrona que estava frente a ele.
- Podemos começar? – perguntou e apenas meneou a cabeça positivamente. – Pois bem. A quinta cena era a cena da festa na casa dos Capuleto. Você leu a cena, certo? – Novamente Ele meneou a cabeça. – Certo, vamos pular as falas dos criados, já que seremos apenas nós dois.
e começaram o ensaio da cena e erraram algumas vezes e riram em algumas das falas dificílimas que encontravam.
Ele errava de propósito, não queria chegar ao momento que ele a beijava. Já estava nervosa, pois beijaria .
O garoto sabia que não poderia errar mais, pois já estava ficando tarde e sua mãe avisara que estava preparando o lanche e que logo chamaria.
Recomeçaram as falas e ele começava a engolir seco e enquanto percebia que suas mãos suavam frio. parou abruptamente sua fala e o olhou sem entender.
- Você se sente à vontade de fazer a cena do beijo ou...
- Tudo bem, . Sem problemas. – Ele assentiu e eles voltaram a cena do começo. Tudo estava normal e logo a cena do beijo se aproximava.
- Os santos e devotos não têm boca? – disse encenando. - Sim, peregrino, só para orações.
- Deixai, então, ó santa! Que esta boca mostre o caminho certo aos corações.
- Sem se mexer, o santo exalça o voto.
- Então, fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados. - olhou profundamente nos olhos e se aproximou lentamente. Passou a língua no lábio inferior. Pôs uma mecha do cabelo da garota que caía sobre seu rosto e afagou o rosto dela carinhosamente. Ela o olhou timidamente, mordendo o lábio inferior, em sinal de nervosismo. colou seu corpo no de e sentiu seu hálito quente e com cheiro de hortelã ricochetear levemente em seu rosto, o fazendo arrepiar. inalou profundamente o cheiro do perfume amadeirado dele, algo que ela sempre quis fazer, pois amava o cheiro do perfume do rapaz. Ele colocou uma mão em sua cintura e a outra na sua nuca e ela pôs automaticamente os braços ao redor do pescoço do rapaz. Ele desceu o olhar dos seus olhos até a boca dela e ela repetiu o gesto do garoto. Ela foi fechando os olhos, ao passo em que ele se aproximava mais ainda e devagar dos lábios da garota.
- , ! VENHAM COMER! – Claire gritou de dentro da casa, assustando e que se afastaram bruscamente.
deixou ir à sua frente. Coçou a cabeça e depois passou a mão na testa, retirando o suor que ele nem percebeu que havia ali. Seus pensamentos estavam mais conturbados do que antes. Se antes estavam confusos, agora estavam loucos. Ele nunca se sentira ansioso e muito menos nervoso antes de beijar alguma garota, sempre foi muito monótono para ele. Mas era diferente, sua mente o lembrou. E sua mente tinha total razão, era diferente de qualquer garota que ele conhecia. Era linda, meiga, inteligente, pura. Ajudava sem querer algo em troca, era bondosa e educada. Totalmente diferente das garotas da escola que eram cruéis, falsas e pisavam nas pessoas sem dó.
Com certeza ela era diferente e todas suas qualidades chamavam a atenção de . E havia algo que ele achava dela e que ele sabia que ninguém achava e que se as pessoas soubessem, principalmente Joshua, iriam chama-lo de louco. Para ele, era a garota mais atraente que ele já viu na vida, mas óbvio que o garoto não iria sair dizendo o que pensa, não queria ouvir piadinhas de mau gosto, não queria ter raiva de ninguém, isso não faria bem a ele.
percebeu que não saíra do lugar quando ouviu sua mãe gritar mais uma vez, o chamando para comer.
- Venha, filho. Tem misto quente, com patê de frango e bolo de chocolate, porque eu sei que é o preferido de . – Sua mãe disse e estreitou os olhos.
- Você é minha mãe e faz os gostos dela? Não entendi o raciocínio. – Ele pôs uma mão no queixo em um gesto pensativo, o que fez rir e Claire o olhar repreensiva.
- , isso são modos! Não te dei essa educação, não. – Claire disse em um tom risonho e fez a garota rir mais ainda.
- Olha aí, mãe, ela está rindo da senhora!
- Eu estou vendo, não sou cega.
- Outch! Eu poderia dormir sem essa.
- Fala o que quer, ouve o que não quer. Vamos logo.
- Para onde? – Ele respondeu e sua mãe revirou os olhos.
- Olha só, se mostrando só porque a está aqui! – Sua mãe disse rindo e aconteceu algo que nunca aconteceu com : ele ficou envergonhado e suas bochechas coraram ao ponto de confundi-lo com um tomate. Claire percebeu e não deixou isso passar. – Eu estava certa, afinal! com vergonha, quem te viu e quem te ver, hein querido! – que apenas olhava, começou a corar também e sua vontade era de enfiar sua cara em um buraco. – Vamos deixar de conversa e comer, não quero ninguém passando fome na minha casa. – Ela se sentou e fez o mesmo, enquanto ainda estava em pé.
- Como passar fome aqui se você me enche de comida? Olha só, estou ficando gordo! – levantou a blusa, mostrando todo seu peitoral e abdômen, que não eram nada gordos, mas também nem muito malhado. Para , na medida certa. Céus, não acredito que pensei isso dele, ela falou em sua mente. Na realidade, ela jamais pensava isso de alguém, nunca passou pela cabeça dela algo do tipo.
deu um beijo na testa da mãe e abraçou Claire e deu um beijo em seu rosto, se despedindo.
- Venha mais vezes, querida.
- Claro, com certeza ainda temos mais ensaios pela frente. – Ela disse sorrindo para a mais velha. – Até mais, dona Claire. Aliás, o vestido ficou belíssimo.
- Ficou mesmo. – O garoto disse pensativo, mas ao perceber o que disse, balançou a cabeça e voltou à atenção para sua mãe. – Estamos indo, mãe.
- Cuidado, crianças e , vá devagar com a , certo? – Ele assentiu e abraçou sua mãe.
Eles saíram da casa e novamente o rapaz colocou o capacete na garota e novamente, com dificuldade, ela subiu na garupa da moto. Passou os braços em torno da cintura dele e logo eles partiram.
estava gostando da sensação do vento batendo levemente em seu rosto, dando um certo frescor. , entretanto, não estava nem prestando atenção em vento algum, apenas na sensação calorosa dos braços da garota em seu corpo e ele estava gostando muito disso, até demais.
Ao chegar, ela desceu devagar enquanto retirava seu capacete e pendurava no retrovisor. Retirou calmamente o capacete dela e colocou sobre o banco da moto.
Eles ficaram olhando um para o outro, em total silêncio, todavia, seus pensamentos gritavam loucamente, embaralhando a mente dos dois. Em uma coragem súbita, ele aproximou-se lentamente da garota, esperando que ela recuasse, mas ela não fez, apenas ficou parada, observando os passos do rapaz. Ele levantou o braço e passou as costas da mão na maçã do rosto dela, fazendo o coração da garota acelerar drasticamente e arrancando um suspiro da mesma. Ela fechou os olhos se deleitando com o carinho que ele fazia. acabou com o resto de espaço que havia, colando o corpo dele suavemente no dela, fazendo com que ela abrisse os olhos. olhou nos olhos da garota que corava levemente diante de tamanha intimidade. Entretanto, eles foram interrompidos pela porta da casa dela que se abrira de repente, fazendo recuar rapidamente e ficar mais desnorteada do que já estava.
- Ah, eu sabia que havia escutado um barulho de moto e pensei que era . Cuidado com minha menina nessa moto, rapaz. – Disse o Mr. , brincando com o garoto.
- Sempre, mr. . Tenho total cuidado com .
- Fico feliz por ouvir isso. Quer entrar?
- Obrigado, mas preciso ir. Boa noite, mr. . – Ele se virou para a garota. – Boa noite, . Até mais.
- Boa noite, . Até.
Há dias não conseguia dormir direito e nem se concentrar nos ensaios da peça, muito menos nas aulas e tudo isso era culpa de uma coisa, ou melhor, alguém: . Ela não saía dos seus pensamentos e ele estava ficando louco, pois não entendia o porquê dela atormentar sua mente tão facilmente.
E para piorar, ele tentava ao máximo ficar perto dela, deixando Joshua várias vezes comendo sozinho no refeitório só para sentar-se com ela e era exatamente isso que Joshua reclamava no momento, enquanto andavam em direção à saída da escola.
- Caralho, . Só essa semana você foi para a mesa da Santa Imaculada duas vezes, pensei que me deixaria solitário a semana inteira. – revirou os olhos e bufou diante das palavras do amigo. - Deixa de ser idiota, Josh. Para de chamar a assim. Outra coisa, você não está ficando com sei lá quem? Deveria sentar com ela.
- ‘Tá doido? Eu já evito o máximo de contato com a Tiff porque só quero curtir um sexo casual, se eu ficar de grude, ela vai pensar que eu quero compromisso.
- Pois você deveria deixar de ser idiota e ou largar a menina ou assumir de vez, saco isso.
- Vejo que tem alguém aqui de mau humor hoje.
- Esqueceu que com você eu sempre estou de mau humor?
- Não, não esqueci. Agora, me conta. Como é o beijo da Julieta, caro Romeu?
- Você está tão interessado nisso. Por quê? – perguntou curioso. Joshua sempre perguntava sobre o beijo de , isso tudo era birra ou ele estava interessado nela? Só de pensar sentiu seu sangue ferver e suas veias dilatarem, mas respirou fundo e respondeu calmamente.
- Nem nos seus maiores sonhos você saberia a resposta, caro Tebaldo. – Ele avistou saindo pelos portões e a ansiedade que sentia voltou a aparecer. – Se me der licença, preciso dar um recado de minha mãe à . – O garoto apressou os passos e gritou chamando atenção dela, que parou de andar quando ouviu a voz dele chamando-a. Fixou seu olhar nele, esperando que ele falasse algo. – Olá, . Tudo bom?
- Olá, . Tudo bem, obrigada por perguntar. E com você?
- Também, obrigado também. Eu gostaria de saber o que você vai fazer amanhã.
- Amanhã? Só para o culto à noite, por quê? Quer ensaiar?
- Não, eu gostaria de saber se você gostaria de sair comigo. Um picnic, talvez?
- Sair com você?
- Sim, tem problema?
- Não, é que achei estranho.
- Estranho por quê?
- Ninguém nunca me chamou para sair. - Ele abriu um largo sorriso que deixou a garota pensando em o quão ele ficava mais lindo sorrindo.
- Fico honrado em saber que fui o primeiro. Então... Você aceita?
- Aceito sim. Um picnic, hm?
- Sim, não se preocupe com nada, leve só um protetor. A comida e os jogos são por minha conta!
- Tudo bem. Que horas?
- Amanhã às 8h está bom?
- Está sim.
- Vai me pegar na sua moto? Diz que não, por favor! – Ela uniu as mãos e fez um bico que fez soltar uma gargalhada.
- Sinto desapontá-la, mas é no meu bebê que vou te buscar. Sinta-se privilegiada por desfrutar disso.
- Com certeza eu sinto. – Ela disse rindo e o garoto adorou a melodia que se formava quando ela ria.
- Te vejo amanhã, . Até mais.
- Até, .
nunca, nunca mesmo se preocupou com que vestiria, ela simplesmente batia os olhos em algo e vestia. Entretanto, àquele dia era totalmente diferente. Ela teria um encontro com um garoto, algo que ela nunca fez antes. Isso embrulhava seu estômago e fazia com que suas mãos soassem frio. Pela primeira vez na vida, a garota vasculhou o guarda-roupa inteiro tentando encontrar algo que ficasse bonito e achou um vestido azul-piscina com uns detalhes com renda. Aliás, ela ganhou esse vestido, mas nunca usou. Ela estava tendo várias primeiras vezes em um só dia e isso a deixou satisfeita e assustada ao mesmo tempo.
estava totalmente nervoso, como nunca estivera antes. Ele quase não pregou o olho na noite passada e seis horas da manhã estava de pé, fazendo flexões de braço no chão do quarto para tentar conter a ansiedade. Ele ainda não acreditava onde surgiu coragem para chamar para sair, todavia, ele se arriscara e ela o surpreendeu mais ainda aceitando. O rapaz não imaginava que ela iria aceitar sair com um cara tão qualquer como ele, mas ela aceitou. Isso porque ela não sabe das suas reais intenções., sua mente brandou-lhe. Ele tentava colocar na sua mente que eles são apenas bons amigos, nada mais e esse encontro era apenas isso: encontro de dois amigos.
As horas se arrastavam e quando o relógio do seu celular o mostrou ser 7:50, ele saiu em direção a casa da garota.
Faltando poucos minutos para às oito horas, ele tocou a campainha da casa de e segundos depois, a garota atendeu a porta trazendo consigo seu perfume suave que ele tanto gostava.
A garota teve a mesma sensação. Mal abrira a porta e o cheiro do perfume amadeirado do rapaz tomou conta de suas narinas, dando-lhe um prazer grande, fazendo com que seu sorriso saísse mais largo.
deu um passo à frente, segurou o rosto dela com as duas mãos e beijou suavemente sua testa, trazendo um sentimento de paz ao coração de ambos. Eles se olharam por mais alguns segundos até o garoto quebrar o silêncio:
- Olá. Você está linda.
- Você também.
- Está pronta? – Ela assentiu a cabeça levemente e logo estavam partindo em direção ao parque mais próximo da cidade.
- , esse sanduíche de frango está bom demais. Foi sua mãe que fez, não foi? – Ele riu do jeito infantil com que ela estava comendo, se lambuzando inteira. Ele pegou um guardanapo e limpou onde ela estava suja.
- Por que não poderiam ter sido preparados por mim?
- Porque eu conheço o tempero da sua mãe e não sei se você cozinha tão bem quanto ela. – Ele fez cara de ofendido que a fez gargalhar. Como ele gostava da sua risada!
- Para seu governo, minha mãe me ensinou a cozinhar, mas realmente não fui eu que fiz os sanduíches de frango, mas os de pizza fui eu.
- Eu estava pensando nesse sanduíche. Passa pra cá! – Ela saboreou o sanduíche de modo misterioso, sem mostrar o que pensava a respeito do sanduíche feito por ele. Aliás, ela estava amando aquele sanduíche, com certeza o melhor sanduíche que ela já comeu na vida. A garota sabia que não era só porque o sanduíche era bom, mas sim porque fora feito por ele e tornava mais especial. Ela também ficou radiante ao saber que ele mesmo fizera esses sanduíches, fazendo-a pensar que ele se importou com o encontro.
- Então, o que achou?
- O melhor sanduíche que já comi na vida.
- Sério? – O rapaz perguntou surpreso e ela apenas assentiu.
Eles terminaram os lanches em silêncio, cada qual com seus pensamentos perturbadores. A garota não sabia como agir, já que ela nunca teve um encontro e mesmo que ele já tivera vários encontros, o rapaz não sabia como agir, pois esse era diferente, era especial. Ela não era parecida com nenhuma outra garota, nenhuma chegava aos pés de . Para ela, era um rapaz muito especial. Tinha uma personalidade um pouco bruta e poderia parecer arrogante para quem não o conhecesse, mas o garoto era muito doce e gentil, ele a tratava de uma forma diferente do que ela tinha costume, pois a maioria das pessoas sempre fez bullying e chacota. Entretanto, ele sempre fora bondoso com ela e isso fazia a garota se encantar cada vez mais.
- , eu queria te perguntar uma coisa. – Ela disse timidamente.
- Pergunte o que quiser.
- Na verdade, não é bem uma pergunta. Sempre me perguntei o porquê de todo mundo me tratar mal, mas você não. Você nunca me tratou mal, sempre foi bondoso comigo.
- Qual motivo eu teria para te tratar mal, ? Você sempre foi muito legal comigo.
- Sim, mas você sabe...
- Sei, eu sei. As pessoas são maldosas, são cruéis, não pensam que palavras machucam e muito. Mas, você é uma pessoa extraordinária, . A melhor pessoa que eu já conheci.
- Obrigada pela gentileza, você é uma pessoa maravilhosa, .
- , desculpa, mas eu sinto uma vontade imensa de te beijar. – Enfim, ele relevou o que o seu coração e pensamentos tanto pediam que ele fizesse e ela não sabia que seu coração pudesse acelerar mais do que já estava.
- Eu tenho medo. – A garota também relevou. Ele pendeu a cabeça para o lado e isso a fez sorrir. Ela adorava o jeito de menino que ele tinha, um jeito que só ela via.
- Você tem medo que eu te machuque, ? – Ela apenas assentiu levemente e isso o fez a olhar carinhosamente. – Eu nunca machucaria você, ! Por Deus, nunca! Eu quero cuidar de você, baby. Deixe-me fazer, por favor? Confie em mim? – Novamente, a garota apenas assentiu.
Ele levantou o braço e com as costas da mão afagou o rosto da garota, que apenas fechou os olhos, sentindo o carinho do rapaz. Ele não sabia o que estava fazendo direito, apenas deixou-se levar pela sensação que seu coração transmitia. Aproximou seu corpo do dela lentamente, da maneira mais suave que poderia existir. Ela sentiu o quão próximo ele estava quando sentiu o hálito quente dele próximo ao seu rosto e ela só conseguiu suspirar levemente, fazendo o coração de quase saltar pela boca. Ele a fitou bem, olhando seus olhos fechados, as mãos do rosto totalmente coradas, o que a tornava mais linda ainda perante seus olhos. Seus cabelos estavam soltos e brilhava tanto quanto a luz do dia.
Voltou os olhos para a boca da garota, o lugar mais atrativo que existia para ele. O rapaz nunca viu uma boca tão bonita e chamativa quanto à dela, moldada perfeitamente em seu rosto. Enquanto ele a analisava, ela abriu os olhos suavemente, tomando a atenção de . Os olhos da garota tinha uma tonalidade única que fora projetado unicamente para ela. Ele achou parecido com uma estrela que protagonizava o céu: havia um brilho próprio, um brilho único que tornava a garota mais especial ainda. Por fim, ele juntou seus lábios ao dela, fazendo explodir uma extensão de emoções em ambos. Seus lábios tocavam suavemente os dela, sem pressão alguma, apenas lábios com lábios. deixou que ela se familiarizasse com aquela sensação, até que a sentiu relaxar em seus braços. Ele pediu passagem com sua língua e lentamente ela o fez. Suas línguas dançavam levemente, em total harmonia. Ela pousara suas mãos em torno do pescoço do garoto, enquanto ela havia a tomado nos braços pela sua cintura.
não sabia o que estava sentindo, todavia, não queria que aquele beijo parasse jamais, mas ambos estavam ficando sem fôlego e logo eles foram parando o beijo até que se tornassem pequenos selinhos.
Com as testas encostadas uma na outra, eles respiravam fundo.
desencostou sua testa da dela devagar e levantou a boca até a testa da garota, deixando um beijo suave no local.
- Eu estou perdidamente apaixonado por você, .
Os preparativos para a peça estava a todo vapor, faltavam apenas duas semanas para o grande dia e exato um mês para o baile de formatura, mas não pensava em nada disso. Seu único e exclusivo pensamento era sempre sobre . Ela estava perdidamente apaixonada pelo garoto, sua forma de trata-la, sua forma de beijá-la era, provavelmente, de outro mundo.
Eles passavam o tempo que pudessem juntos mesmo que fosse apenas para ensaiar ou até estudar.
Todavia, a garota tinha muita insegurança, não queria que ninguém soubesse do romance, nem mesmo seu pai. Ela não queria imaginar a reação do seu pai ao saber do namoro dos dois. sabia que seu pai tinha medo que alguém machucasse, sabia que não foi por mal que o pai a deixou em um colégio interno por vários anos e não queria magoá-lo também.
queria espalhar aos quatro ventos o que sentia por ela, o que eles tinham, porém a garota tinha medo e pedia para ele não deixar suspeitas. Claro que ele entendia o porquê, o rapaz sabia que as pessoas iriam zombar deles. Ele não se importava, mas se importava com o que passaria e não deixaria ninguém fazer mal algum à sua garota.
- Hey! Tudo bom? – Ela disse se aproximando do local em que ele estava sentado, no auditório. Eles teriam ensaio, aliás, esses últimos dias antes da peça estavam sendo sufocantes, entretanto, ambos contavam as horas para o ensaio, pois poderiam estar próximos, beijando. Para eles era como estar no céu.
- Tudo sim e com você, baby? – Ele falou baixinho e ela deu um sorriso, o sorriso que ele tanto amava.
- Estou bem. Vou passar mais tarde na sua casa, pegar aquela blusa que deixei lá para sua mãe consertar e também fazer os ajustes finais nos figurinos.
- Quer carona? – Ele perguntou e a garota assentiu levemente.
Antes que o rapaz pudesse dar continuidade na conversa, professor Jones chegou e começou a falar sobre algumas pessoas que estavam com dificuldade, mas logo prosseguiu com o ensaio do dia.
Eles já haviam conseguido ensaiar quase todas as cenas, menos as últimas e, que provavelmente, são as mais importantes. As cenas ocorrem bem, sem muita interferência. Quando o ensaio acabou, o professor chamou e , já que eles tinham muitas falas e além do mais eram os personagens mais importantes.
- Muito bem, chamei vocês de lado porque preciso falar sobre as últimas cenas. Aqui está complicado ensaiar, pois estamos ajustando alguns erros, então preciso que vocês se reúnam e fiquem ensaiando essas cenas. Vejo que os dois estão muito evoluídos, já sabem todas as falas, têm uma ótima sincronia e não preciso nem falar da química maravilhosa que vocês têm juntos. Vocês são muito bons juntos e eu poderia jurar que não é encenação, mas sim real. – Mr. Jones deu uma piscadela que fez a garota engolir seco. Ele sabia, ela pensou. – Não se preocupem, minha boca é um túmulo. Agora, podem ir e, por favor, ensaiem.
Os dois saíram em silêncio. estava feliz por outra pessoa, fora eles, saber do seu namoro, entretanto estava nervosa. Ela tinha medo de que o professor pudesse deixar escapar. Não que ela não gostasse do garoto, pelo contrário, ela estava apaixonada por ele, porém a garota tinha medo da reação das pessoas e, principalmente, do seu pai. Claro que ela sabia que se o relacionamento firmasse de vez teria que contar ao pai e assumir para as pessoas.
Eles caminharam no estacionamento do colégio, indo em direção à moto do rapaz. O estacionamento estava lotado de alunos, professores e funcionários do colégio. Ela ficou petrificada, como subiria na moto dele sendo que eles estavam rodeados de pessoas? O garoto olhou para ela, esperando que ela subisse na moto.
- Qual o problema, amor?
- Está cheio de gente aqui. – Ela disse olhando para os lados e ele apenas riu.
- Óbvio, baby. Todo mundo está indo embora e nós também.
- , mas e se as pessoas ficarem falando? – O garoto olhou sério para ela.
- Eu entendo seu receio, , mas estou apenas te dando uma carona. As pessoas já falam porque estamos fazendo papel na peça juntos e sempre irão falar. Acho melhor você tentar se acostumar. Por favor, baby, suba na moto. – Então, ela subiu e o que ela mais temia aconteceu. Todos ficaram olhando e cochichando a cena que acabara de acontecer. A garota estava sem capacete e pôde encostar sua cabeça nas costas do rapaz, que relaxou com o contato dela. Todavia, não estava nada relaxada, pelo contrário. Lágrimas grossas começaram a rolar do seu rosto e logo ela se viu soluçando baixinho. que ia guiando não pôde escutar porque estava com capacete e o barulho que havia em torno não deixava.
Eles chegaram à casa de e foi nesse momento que ele viu que a garota estava chorando.
- O que aconteceu, amor? Por que você está chorando? Vamos entrar, venha. – Ele a guiou até o sofá. Ela estava prendendo o choro, mas não conseguiu aguentar e se pôs a chorar novamente. O rapaz não sabia como reagir, vê-la naquele estado partia seu coração em milhões de pedaços, ele só queria protegê-la, guarda-la de todo mal que havia no mundo.
- Eu só... É difícil tudo isso para mim, meu bem. É que eu nunca passei por isso, você sabe que eu nunca havia beijado ninguém. Você foi o primeiro, . Como o meu pai irá reagir quando souber do nosso namoro? Tenho medo.
- Você quer que eu fale com ele?
- Eu não sei. Tenho medo dele não aceitar, você sabe o porquê.
- , nem que precise eu me ajoelhar aos pés dele, nem que for preciso que eu vá sempre à igreja com você, eu nunca irei abrir mão de você.
Pessoas iam e vinham, barulhos de todo tipo eram possíveis ouvir: vozes, celulares tocando, secadores de cabelo ligados. Um professor nervoso passeava por todos que estavam ali, chegando se tudo estava no seu devido lugar. Mr. Jones estava feliz com o que estava vendo ali. Todos estavam empenhados.
Meia hora depois a peça havia começado. Tudo estava perfeito, ninguém estava errando nada, tudo saindo melhor do que ele imaginara. e foram os melhores Romeu e Julieta que ele poderia querer. O casal desempenhava bem o papel, mas ele sabia que não era só isso. O professor sabia que a relação ia além da peça. Ele via no olhar deles quando se viam. Era real e verdadeiro.
Uma hora depois, a peça era encerrada e os aplausos e assobios eram dados pela plateia que assistira à peça. Logo ele se juntava com os alunos para receber os aplausos.
se aproximou e cochichou no ouvido do professor que apenas assentiu. Mr. Jones pegou um microfone e voltou sua atenção para a plateia.
- Obrigado a todos que vieram. Agradeço também aos meus alunos que fizeram essa peça dar certo. Quero dizer a vocês meu sincero obrigado, vocês são demais. Um dos nossos alunos, , que fez o papel do nosso Romeu quer dizer umas palavrinhas.
- Primeiro, quero dizer que eu jamais pensei que faria uma peça na vida e que eu faria o papel do protagonista. Confesso que eu detestei quando fui sorteado porque nunca fui fã de peças e muito menos de romance. Para mim, romance só existia em filmes e livros, não era algo real. Não acreditava que duas pessoas poderiam mesmo se apaixonar. Sempre acreditei que as pessoas estavam juntas por algum tipo de interesse, sendo financeiro ou esteticamente, mas mudei minha opinião. Não porque eu fiz uma peça que trata de um amor puro entre dois adolescentes, mas porque eu, , estou vivendo um romance digno de filmes. Começou como um brotar de flores após um outono forte, devagar, mas que logo floresceu. Eu sabia que ela era diferente de todas as garotas que eu conheci e que conheço, parecia ter vindo de outro mundo. Ver ela era como olhar para as estrelas, brilhantes e únicas. Seu jeito doce de agir me fez ficar completamente e perdidamente apaixonado por ela. Preciso mesmo dizer quem é? Porque a única garota que tem todas essas qualidades está aqui nesse palco. – virou-se e olhou para a garota que estava com os olhos lacrimejados. Aproximou-se dela e ajoelhou-se. – , você é tudo o que eu queria para mim. Quero gritar ao mundo que você é a garota dos meus sonhos. Realiza meu desejo? Aceita namorar comigo? – Ela estava totalmente emocionada e só pôde assentir. levantou-se e abraçou a garota, em meio às palmas que as pessoas batiam.
O relógio na parede mostrava que já eram 18:45 e terminava de se arrumar. Ela não era fã de maquiagens, nada dessas coisas que a maioria das garotas gostavam, mas tentou fazer algo no seu rosto, mas não viu muita diferença. Deu de ombros e desceu as escadas. Seu pai estava sentado no sofá e olhava para a televisão desligada.
Seu pai havia sido muito compreensivo e até aceitara bem o namoro da filha depois do que viu no dia da peça. Ele percebeu que a filha estava apaixonada pelo rapaz e autorizou o namoro, entretanto, expôs suas regras que foram totalmente seguidas por .
A garota sentou-se ao lado do pai e beijou seu rosto.
- Obrigada por me apoiar, pai. O senhor está sendo maravilhoso, não sei como agradecer a não ser dizendo obrigada.
- Não precisa agradecer, só continue sendo essa boa moça, está bem querida? – Ela assentiu e logo escutou a buzina da moto de soar. Abriu a porta e o namorado veio em sua direção. Deixou seus lábios encostar na testa dela e afastou-se para que ele pudesse olhar para o sogro.
- Olá, mr. . Às 22hs estarei trazendo para casa. Tudo certo?
- Sim, meu rapaz. Cuidado.
subiu na moto e logo após subiu, sentando-se de lado porque o vestido longo não deixava.
O caminho até o colégio foi tranquilo e minutos depois eles estavam entrando na quadra de basquete, onde ocorreria o baile.
Todas as garotas estavam deslumbrantes e isso fez a garota ficar cabisbaixa.
- O que foi, amor?
- As meninas estão muito lindas e eu estou do mesmo jeito.
- Ficou doida? Você é a garota mais linda dessa festa. Quer dizer, a garota mais linda do mundo inteiro. Como você não vê que é linda sem precisar se esforçar? Essas outas garotas se esforçam tanto para chegarem ao padrão de beleza que a sociedade impõe, enquanto você tem seu próprio padrão que a torna a mais bela que os meus olhos já viram.
- Você diz isso porque é meu namorado.
- Não, eu digo por que é o que eu vejo e agora, vamos dançar?
Ele a conduziu até o meio da quadra, onde alguns casais estavam. Ele pôs suas mãos em torno da cintura dela, enquanto ela colocava seus braços no pescoço dele. Eles começaram a dançar timidamente, mas de uma maneira muito suave. O garoto a puxou, acabando com o pouco espaço que havia entre os dois. Deixou seus lábios pousarem sutilmente na testa da garota. Afastou os lábios e deixou seu olhar ir de encontro com o olhar dela, que festavam fixos nele. Aproximou-se e colou seus lábios nos dela, em um beijo lento e apaixonado. Deixou ficar assim por alguns instantes e logo sua língua pediu passagem que ela concedeu prontamente. Seus corpos e dançavam em ritmos iguais, lentamente, porém profundamente. Eles terminaram o beijo e encostou sua testa na da garota.
- , eu te amo.
- Eu amo você, . Você é como o ar que eu respiro, é o meu pensamento ao acordar e ao dormir. É em você que eu penso quando me lembro de amor. Você e só você.