Capítulo único
— A novata não é daqui, não, né? — perguntou Troyan Lee, sentando-se em um dos degraus da arquibancada do ginásio poliesportivo, ao lado de .
— É óbvio que não! — respondeu o garoto, meio irritado. — Você não viu o jeitinho dela? Não ouviu o sotaque, naquele dia no corredor?
Ele tinha reparado na aluna nova logo no primeiro dia de aula na St. Paul’s High School e, no seguinte, mostrara a menina para o amigo. Eles agora estavam na terceira semana do último ano do ensino médio, e ela vinha sendo o assunto sobre o qual mais falava com Troy.
— Sotaque, sim. Já esse negócio de jeitinho é coisa da sua cabeça, cara — discordou. — Pra mim, não tem diferença nenhuma entre ela e as outras garotas. Até prefiro o jeitinho de umas e outras que você conhece bem. — comentou, dando uma cutucada com o cotovelo no outro rapaz, que fez uma careta e devolveu o carinho com um soco no braço.
— Pois pra mim ela tem alguma coisa que eu ainda não vi em nenhuma outra garota dessa cidade — afirmou. — Fora aquele sorriso...
— Meu Deus, cara! — Troy balançou a cabeça negativamente, encarando um confuso . — Você tá caidinho — declarou, fazendo um coração com as mãos, para irritar o melhor amigo. — Falando sério, meu irmão: você tem que chegar na garota! Tá esperando o que?
— Uma oportunidade talvez? — usou o tom de pergunta para ironizar. — Eu não posso chegar, falando simplesmente Oi. Meu nome é . Quer sair comigo? Nem o nome dela eu descobri ainda! E, quando eu tentei puxar um assunto, na fila da cantina, no outro dia, ela levou a sério que eu queria saber do cardápio, listou tudo pra mim, da entrada até a sobremesa, e depois começou a mexer no celular.
— O Brutus sabe o nome dela, com certeza. Eles são da mesma turma — informou, se referindo a Hugh, o garoto do segundo ano que era pivô do time de basquete da escola e que estava bem em frente a eles, praticando lances livres, enquanto o grupo aguardava seu técnico para o treino daquela tarde.
— Isso eu sei, mas e daí? Eu não ia querer que um idiota como o Brutus soubesse que eu to a fim da garota, né?
— Deixa comigo — disse, já se levantando e indo em direção ao menino de quase dois metros de altura que não tinha como apelido o nome do truculento arqui-inimigo do Popeye à toa.
ficou preocupado, mas disfarçou, pegando uma bola e fazendo alguns movimentos, para aquecer. Escutou quando Troy perguntou a Hugh sobre a garota nova, usando a desculpa de que achava estranho alguém mudar de colégio quase no final do ensino médio. Descobriu que o nome dela era , que ela era de Detroit, e que sua família se mudara para Senoia porque seu pai se aposentara, estava em busca de uma vida tranquila e tinha parentes na cidade. Segundo Brutus, ela não era muito simpática e não parecia interessada em fazer amizades, mas a opinião dele não importava nem um pouco para .
Ele ficou aliviado ao ver o professor Carter chegar e dar instruções para que começassem a fazer alguns exercícios, pois ainda temia que Troy falasse demais, e ele acabasse se tornando assunto de fofocas que, se por si só não fossem desagradáveis o suficiente, ainda chegariam aos ouvidos da garota, o que seria extremamente constrangedor.
Depois da rotina física e de uma partida entre titulares e reservas, os dois rapazes tomaram banho e, enquanto se vestiam, voltaram a falar de , agora sabendo que este era o nome dela. Troy voltou a dizer que não podia ficar naquela paixão platônica, mas não concordava em abordar a menina, totalmente do nada. Precisava achar uma boa desculpa, para se aproximar e conhecê-la melhor, antes de propor um encontro. Acreditava que, se ela o conhecesse, pelo menos um pouco, a chance de recusa seria menor.
Como fazia todos os dias no final da tarde, seguiu da escola para a oficina mecânica do padrasto, onde estava ajudando desde as férias, em troca de um aumento de cinquenta por cento na mesada. Não era muito dinheiro, mas somente assim estava conseguindo guardar alguma coisa, para não ir para a faculdade de bolsos totalmente vazios. Certamente conseguiria bolsa, por ser atleta, mas teria que se manter em uma outra cidade, e sua família não tinha condições de bancar tudo. Seria bom ter algum dinheiro para poder arrumar um emprego de meio período com calma.
Logo que entrou na oficina, o garoto escutou uma voz familiar, falando com um sotaque que, ao ser identificado, fez todos os pelos de seu corpo se arrepiarem. Seus olhos logo confirmaram a presença da Srta. no local, quando ele se aproximou mais do balcão onde a mãe fazia o papel de recepcionista, conversando com os clientes sobre orçamentos, formas de pagamento, prazos para que os serviços fossem feitos e tudo o mais.
— Oi, meu filho — ela o cumprimentou e a menina olhou em sua direção, franzindo levemente a testa, como se estivesse momentaneamente confusa. — Essa é a . Ela veio trazer o carro pra darmos uma olhada, porque tá fazendo um barulho estranho.
— Beleza. E alguém já olhou? — indagou ele.
— Não. Ela acabou de chegar.
— Você pode me mostrar? — perguntou, dessa vez se dirigindo à mais jovem.
— Você não quer se trocar primeiro? — a mãe sugeriu e ele demorou um pouco para registrar, pois estava, sem querer ou mesmo perceber, encarando a garota, que também o olhava, esperando uma resposta.
— Ah... claro.
Ele se retirou, indo para um banheiro que tinham nos fundos e mudando de roupa rápido, como se pudesse sumir, se ele demorasse. Quando voltou, ela o aguardava sozinha, sentada em um banco próximo ao portão. O carro dela estava estacionado no pátio e, enquanto caminhavam até o veículo, ela simplesmente jogou as chaves para ele, que felizmente conseguiu pegá-las no ar, evitando fazer papel de bobo.
— Acho que sua mãe não me disse seu nome.
— É .
— Então, ... Começou anteontem — ela disse.
— O que?
— O barulho — respondeu, como quem fala algo totalmente óbvio.
— Ah... claro. — achou que provavelmente estava deixando transparecer o quanto estava atordoado com a presença dela, e só pode torcer para que ela fosse extremamente distraída e não percebesse.
— Mas é preciso andar com ele pra ouvir — Ela continuou, parando perto da porta do carona. abriu o carro e os dois entraram. Ele deu uma volta pelo quarteirão, sentindo as mãos suarem, com ela ao lado dele, completamente alheia ao estrago que estava provocando em sua sanidade mental.
Durante o “passeio”, ele percebeu o tal barulho e falou sobre algumas possibilidades que teriam que ser averiguadas. Ela disse que poderia deixar o carro, para que a análise fosse feita, uma vez que morava a apenas três ou quatro quadras, então não seria problema voltar a pé para casa. Não quis, contudo, que ele entrasse em detalhes sobre o que poderia explicar o ruído. Os dois riram juntos, quando ela explicou que uma vez tinha levado o carro do pai ao mecânico e acabara causando um grande mal entendido, ao confundir os nomes de duas peças.
— O que você tá achando do St. Paul’s? — perguntou ele, já voltando à oficina e mais à vontade na companhia dela, decidindo que precisava tomar as rédeas da situação, afinal tudo o que ele queria era uma oportunidade de se aproximar dela, e a oportunidade tinha surgido quando ele menos esperava.
— Claro! É isso! Você estuda lá também. Eu sabia que te conhecia de algum lugar. — ela disse, tirando o cinto de segurança, virando-se no assento do carro e ficando quase de frente para ele. — Você gosta de lá?
O fato de ela estar devolvendo a pergunta já dizia tudo. Era claro que ela não estava gostando do colégio! E ele não a culpava, afinal a considerava mesmo diferente dos outros alunos de lá, mais interessante, com muito mais estilo. Ele não podia dizer que não gostava da escola ou da cidade, pois eram os únicos que conhecia, e não se considerava nenhum infeliz por isso, mas podia imaginar que, para uma garota da cidade grande, a experiência estivesse sendo uma monotonia sem fim.
— Bom, eu nunca fui a outro colégio, então eu não tenho como fazer uma comparação — explicou, desligando o motor e tirando também o cinto. — É verdade que tem dias em que eu acho um saco acordar cedo e ir pra lá, especialmente se tiver aula de física, mas, no geral, é tranquilo — completou, dando de ombros.
— Eu acho que qualquer colégio é assim, né? Algumas aulas são mais chatas, outras são mais interessantes... — comentou, de forma casual, abrindo a porta do carro para sair.
Preferiu dizer só isso, pois achou que talvez ele pudesse se incomodar, se ela falasse que não estava gostando muito mesmo era dos colegas, que provavelmente tinham estudado com ele a vida toda. Ele parecia legal e diferente dos meninos da turma dela, que passavam o tempo todo fazendo piadas nas quais ela não achava graça nenhuma, e que só a incomodavam menos do que as meninas, que, por sua vez, forçavam o riso para agradá-los. Não havia por que chateá-lo sem necessidade.
— E a cidade? — ele continuou conversando, enquanto iam do pátio em direção à recepção. — Dá pra ver que você não é daqui... Chegou há pouco tempo?
— Só três meses.
— Muito ruim? — questionou, rindo, e ela ficou sem jeito. Não queria ter demonstrado desprezo pelo lugar onde ele provavelmente tinha nascido e crescido, mas é claro que ele percebera o quanto ela estava entediada.
— Eu ainda não conheci muita coisa, mas não deve ser — tentou convencer inclusive a si mesma, afinal ia morar naquele lugar por dois anos, até ir para uma faculdade. Teria que encontrar algum divertimento! — Eu só não me acostumei ainda. É muito diferente de Detroit. Eu sou de lá.
— Eu poderia te levar a algum lugar legal — ofereceu, mas ela olhou para o chão, mexeu no cabelo, mordeu o lábio inferior... — Mas tudo bem também, se você não quiser. — Ele não queria ser inconveniente e era realmente fácil perceber hesitação da parte dela.
— Desculpa, — ela pediu, olhando de novo para ele. — Você tá sendo super gentil em querer me mostrar a cidade, e eu não to sendo nada legal.
— Eu não to sendo gentil — discordou, se aproximando um pouco dela, para não precisar falar alto e ser ouvido pela garota que estava no caixa, recebendo o pagamento de um cliente. — Eu to te convidando pra sair.
Então ele viu no rosto dela um sorriso ainda mais bonito do que aquele que já o havia deixado babando na escola. Provavelmente porque até então ele só a tinha visto sorrir de forma educada e, naquele momento, ela estava sorrindo pra valer.
— Um encontro? — perguntou, animada.
Ela não tinha reparado em , na escola, mas tinha que reconhecer que não prestara atenção em ninguém, porque estava com bastante má vontade, revoltada ainda por seus pais terem resolvido deixar a cidade mais populosa do Michigan para viver em outra que, para ela, era quase um vilarejo. No entanto, durante a rápida volta de carro que haviam acabado de dar, tinha percebido que ele era bonito e fazia bem o tipo que ela gostava. Além disso, alguma coisa fazia com que sentisse que podia ser ela mesma com ele, e só isso já era bastante coisa, nos últimos tempos.
— Uhum — ele respondeu, sorrindo também.
— Nesse caso, eu to dentro — declarou. — Quando?
— Você pode sair durante a semana? — perguntou e ela riu.
— Hoje mesmo, se você puder — retrucou, em tom desafiador, e ele esticou a mão para ela.
— Fechado!
Às sete da noite em ponto, estava na porta da casa de , e ela saiu quinze minutos depois, pedindo desculpas pela demora. O pai, que tinha escolhido aquela cidade pela tranquilidade, resolvera cuidar da vida dela muito mais do que antes, exatamente como se fosse o contrário, e eles estivessem em um lugar mais perigoso que Detroit.
O que mais irritava a garota era que ela sabia que o comportamento do pai nada tinha a ver com perigo, e sim com o pensamento conservador e preconceituoso dos parentes dele, que nunca tinham saído daquele lugar. Ela, contudo, estava determinada a esquecer a família, e todas as recomendações que praticamente faziam com que ela tivesse que fingir ser alguém que não era, e se divertir com , naquela noite.
E se divertir foi exatamente o que eles fizeram. levou a uma lanchonete estilo Anos 60, com direito a Jukebox e tudo, onde os frequentadores colocavam para tocar clássicos do rock n’ roll e alguns até arriscavam uns passos. Provavelmente se alguém tivesse feito menção antes a ir àquele mesmo lugar ela tivesse torcido o nariz, mas, estando com ele, a garota deu chance ao lugar e não se arrependeu. A comida era maravilhosa, a trilha sonora, perfeita, e o rapaz, naturalmente engraçado, do tipo que conta histórias e faz a gente rir até a barriga doer e pedirmos arrego.
Talvez ele ainda fosse um pouco certinho, comparado aos amigos que ela tinha em Detroit, mas ele não pareceu julgá-la mal por nenhuma história que contou, sobre as vezes em que matou aula só para passar o dia com amigos sem fazer nada, sobre as noites de festa e bebedeira, ou sobre quando experimentou maconha, em um acampamento de férias. Por isso, ela se sentiu confortável para perguntar se havia algum lugar onde pudessem parar a caminhonete dele e ficar na caçamba, conversando e olhando as estrelas, até um pouco mais tarde.
Ele também ficou feliz em não voltar para casa logo que saíram da lanchonete, e parou o carro em um parque, perto de um lago. era tudo o que ele tinha imaginado e mais um pouco, e ele não via a hora de ter mais um encontro com ela, sem que aquele nem mesmo tivesse acabado. Estava pensando se teria coragem de beijá-la, ainda naquela noite, quando fosse deixá-la na porta de casa, mas ela tinha planos mais audaciosos.
— Você já nadou nesse lago? — ela perguntou, de repente, olhando para a água, sem se importar em interrompê-lo, quando ele falava de um recente jogo de basquete.
— Algumas vezes — ele respondeu, estranhando a abrupta mudança de assunto.
— À noite?
— Não... — ele franziu a testa.
— Pelado? — ela sorriu maliciosamente, e ele sentiu uma súbita dificuldade para respirar, que só aumentou quando ela desceu da caçamba da caminhonete.
tirou a blusa, o short, o sutiã e a calcinha, bem ali, na frente dele, como se fosse a coisa mais normal do mundo, e ele ficou momentaneamente paralisado. Quando ela jogou uma das peças de roupa bem na sua cara, ele praticamente deu um salto e começou a se despir também. Terminou quando ela já estava mergulhando e foi atrás dela, rapidamente, como se estivesse com medo de que tudo aquilo fosse um sonho do qual pudesse despertar a qualquer minuto.
A água fria ficou quente, quando se pendurou no pescoço de , colando os lábios nos dele, e começando um beijo que foi de tirar o fôlego. Os dois não transaram dentro do lago, mas se provocaram muito, e o sexo rolou, mais de uma vez, quando voltaram ao carro. nunca contaria nada daquilo para Troy, mas ele agora sabia que estivera certo o tempo todo: tinha algo que ele jamais encontrara, ou achava que seria capaz de encontrar, em nenhuma menina da sua cidade.
Ah, Deus! Como ele gostava daquela garota de fora!
— É óbvio que não! — respondeu o garoto, meio irritado. — Você não viu o jeitinho dela? Não ouviu o sotaque, naquele dia no corredor?
Ele tinha reparado na aluna nova logo no primeiro dia de aula na St. Paul’s High School e, no seguinte, mostrara a menina para o amigo. Eles agora estavam na terceira semana do último ano do ensino médio, e ela vinha sendo o assunto sobre o qual mais falava com Troy.
— Sotaque, sim. Já esse negócio de jeitinho é coisa da sua cabeça, cara — discordou. — Pra mim, não tem diferença nenhuma entre ela e as outras garotas. Até prefiro o jeitinho de umas e outras que você conhece bem. — comentou, dando uma cutucada com o cotovelo no outro rapaz, que fez uma careta e devolveu o carinho com um soco no braço.
— Pois pra mim ela tem alguma coisa que eu ainda não vi em nenhuma outra garota dessa cidade — afirmou. — Fora aquele sorriso...
— Meu Deus, cara! — Troy balançou a cabeça negativamente, encarando um confuso . — Você tá caidinho — declarou, fazendo um coração com as mãos, para irritar o melhor amigo. — Falando sério, meu irmão: você tem que chegar na garota! Tá esperando o que?
— Uma oportunidade talvez? — usou o tom de pergunta para ironizar. — Eu não posso chegar, falando simplesmente Oi. Meu nome é . Quer sair comigo? Nem o nome dela eu descobri ainda! E, quando eu tentei puxar um assunto, na fila da cantina, no outro dia, ela levou a sério que eu queria saber do cardápio, listou tudo pra mim, da entrada até a sobremesa, e depois começou a mexer no celular.
— O Brutus sabe o nome dela, com certeza. Eles são da mesma turma — informou, se referindo a Hugh, o garoto do segundo ano que era pivô do time de basquete da escola e que estava bem em frente a eles, praticando lances livres, enquanto o grupo aguardava seu técnico para o treino daquela tarde.
— Isso eu sei, mas e daí? Eu não ia querer que um idiota como o Brutus soubesse que eu to a fim da garota, né?
— Deixa comigo — disse, já se levantando e indo em direção ao menino de quase dois metros de altura que não tinha como apelido o nome do truculento arqui-inimigo do Popeye à toa.
ficou preocupado, mas disfarçou, pegando uma bola e fazendo alguns movimentos, para aquecer. Escutou quando Troy perguntou a Hugh sobre a garota nova, usando a desculpa de que achava estranho alguém mudar de colégio quase no final do ensino médio. Descobriu que o nome dela era , que ela era de Detroit, e que sua família se mudara para Senoia porque seu pai se aposentara, estava em busca de uma vida tranquila e tinha parentes na cidade. Segundo Brutus, ela não era muito simpática e não parecia interessada em fazer amizades, mas a opinião dele não importava nem um pouco para .
Ele ficou aliviado ao ver o professor Carter chegar e dar instruções para que começassem a fazer alguns exercícios, pois ainda temia que Troy falasse demais, e ele acabasse se tornando assunto de fofocas que, se por si só não fossem desagradáveis o suficiente, ainda chegariam aos ouvidos da garota, o que seria extremamente constrangedor.
Depois da rotina física e de uma partida entre titulares e reservas, os dois rapazes tomaram banho e, enquanto se vestiam, voltaram a falar de , agora sabendo que este era o nome dela. Troy voltou a dizer que não podia ficar naquela paixão platônica, mas não concordava em abordar a menina, totalmente do nada. Precisava achar uma boa desculpa, para se aproximar e conhecê-la melhor, antes de propor um encontro. Acreditava que, se ela o conhecesse, pelo menos um pouco, a chance de recusa seria menor.
Como fazia todos os dias no final da tarde, seguiu da escola para a oficina mecânica do padrasto, onde estava ajudando desde as férias, em troca de um aumento de cinquenta por cento na mesada. Não era muito dinheiro, mas somente assim estava conseguindo guardar alguma coisa, para não ir para a faculdade de bolsos totalmente vazios. Certamente conseguiria bolsa, por ser atleta, mas teria que se manter em uma outra cidade, e sua família não tinha condições de bancar tudo. Seria bom ter algum dinheiro para poder arrumar um emprego de meio período com calma.
Logo que entrou na oficina, o garoto escutou uma voz familiar, falando com um sotaque que, ao ser identificado, fez todos os pelos de seu corpo se arrepiarem. Seus olhos logo confirmaram a presença da Srta. no local, quando ele se aproximou mais do balcão onde a mãe fazia o papel de recepcionista, conversando com os clientes sobre orçamentos, formas de pagamento, prazos para que os serviços fossem feitos e tudo o mais.
— Oi, meu filho — ela o cumprimentou e a menina olhou em sua direção, franzindo levemente a testa, como se estivesse momentaneamente confusa. — Essa é a . Ela veio trazer o carro pra darmos uma olhada, porque tá fazendo um barulho estranho.
— Beleza. E alguém já olhou? — indagou ele.
— Não. Ela acabou de chegar.
— Você pode me mostrar? — perguntou, dessa vez se dirigindo à mais jovem.
— Você não quer se trocar primeiro? — a mãe sugeriu e ele demorou um pouco para registrar, pois estava, sem querer ou mesmo perceber, encarando a garota, que também o olhava, esperando uma resposta.
— Ah... claro.
Ele se retirou, indo para um banheiro que tinham nos fundos e mudando de roupa rápido, como se pudesse sumir, se ele demorasse. Quando voltou, ela o aguardava sozinha, sentada em um banco próximo ao portão. O carro dela estava estacionado no pátio e, enquanto caminhavam até o veículo, ela simplesmente jogou as chaves para ele, que felizmente conseguiu pegá-las no ar, evitando fazer papel de bobo.
— Acho que sua mãe não me disse seu nome.
— É .
— Então, ... Começou anteontem — ela disse.
— O que?
— O barulho — respondeu, como quem fala algo totalmente óbvio.
— Ah... claro. — achou que provavelmente estava deixando transparecer o quanto estava atordoado com a presença dela, e só pode torcer para que ela fosse extremamente distraída e não percebesse.
— Mas é preciso andar com ele pra ouvir — Ela continuou, parando perto da porta do carona. abriu o carro e os dois entraram. Ele deu uma volta pelo quarteirão, sentindo as mãos suarem, com ela ao lado dele, completamente alheia ao estrago que estava provocando em sua sanidade mental.
Durante o “passeio”, ele percebeu o tal barulho e falou sobre algumas possibilidades que teriam que ser averiguadas. Ela disse que poderia deixar o carro, para que a análise fosse feita, uma vez que morava a apenas três ou quatro quadras, então não seria problema voltar a pé para casa. Não quis, contudo, que ele entrasse em detalhes sobre o que poderia explicar o ruído. Os dois riram juntos, quando ela explicou que uma vez tinha levado o carro do pai ao mecânico e acabara causando um grande mal entendido, ao confundir os nomes de duas peças.
— O que você tá achando do St. Paul’s? — perguntou ele, já voltando à oficina e mais à vontade na companhia dela, decidindo que precisava tomar as rédeas da situação, afinal tudo o que ele queria era uma oportunidade de se aproximar dela, e a oportunidade tinha surgido quando ele menos esperava.
— Claro! É isso! Você estuda lá também. Eu sabia que te conhecia de algum lugar. — ela disse, tirando o cinto de segurança, virando-se no assento do carro e ficando quase de frente para ele. — Você gosta de lá?
O fato de ela estar devolvendo a pergunta já dizia tudo. Era claro que ela não estava gostando do colégio! E ele não a culpava, afinal a considerava mesmo diferente dos outros alunos de lá, mais interessante, com muito mais estilo. Ele não podia dizer que não gostava da escola ou da cidade, pois eram os únicos que conhecia, e não se considerava nenhum infeliz por isso, mas podia imaginar que, para uma garota da cidade grande, a experiência estivesse sendo uma monotonia sem fim.
— Bom, eu nunca fui a outro colégio, então eu não tenho como fazer uma comparação — explicou, desligando o motor e tirando também o cinto. — É verdade que tem dias em que eu acho um saco acordar cedo e ir pra lá, especialmente se tiver aula de física, mas, no geral, é tranquilo — completou, dando de ombros.
— Eu acho que qualquer colégio é assim, né? Algumas aulas são mais chatas, outras são mais interessantes... — comentou, de forma casual, abrindo a porta do carro para sair.
Preferiu dizer só isso, pois achou que talvez ele pudesse se incomodar, se ela falasse que não estava gostando muito mesmo era dos colegas, que provavelmente tinham estudado com ele a vida toda. Ele parecia legal e diferente dos meninos da turma dela, que passavam o tempo todo fazendo piadas nas quais ela não achava graça nenhuma, e que só a incomodavam menos do que as meninas, que, por sua vez, forçavam o riso para agradá-los. Não havia por que chateá-lo sem necessidade.
— E a cidade? — ele continuou conversando, enquanto iam do pátio em direção à recepção. — Dá pra ver que você não é daqui... Chegou há pouco tempo?
— Só três meses.
— Muito ruim? — questionou, rindo, e ela ficou sem jeito. Não queria ter demonstrado desprezo pelo lugar onde ele provavelmente tinha nascido e crescido, mas é claro que ele percebera o quanto ela estava entediada.
— Eu ainda não conheci muita coisa, mas não deve ser — tentou convencer inclusive a si mesma, afinal ia morar naquele lugar por dois anos, até ir para uma faculdade. Teria que encontrar algum divertimento! — Eu só não me acostumei ainda. É muito diferente de Detroit. Eu sou de lá.
— Eu poderia te levar a algum lugar legal — ofereceu, mas ela olhou para o chão, mexeu no cabelo, mordeu o lábio inferior... — Mas tudo bem também, se você não quiser. — Ele não queria ser inconveniente e era realmente fácil perceber hesitação da parte dela.
— Desculpa, — ela pediu, olhando de novo para ele. — Você tá sendo super gentil em querer me mostrar a cidade, e eu não to sendo nada legal.
— Eu não to sendo gentil — discordou, se aproximando um pouco dela, para não precisar falar alto e ser ouvido pela garota que estava no caixa, recebendo o pagamento de um cliente. — Eu to te convidando pra sair.
Então ele viu no rosto dela um sorriso ainda mais bonito do que aquele que já o havia deixado babando na escola. Provavelmente porque até então ele só a tinha visto sorrir de forma educada e, naquele momento, ela estava sorrindo pra valer.
— Um encontro? — perguntou, animada.
Ela não tinha reparado em , na escola, mas tinha que reconhecer que não prestara atenção em ninguém, porque estava com bastante má vontade, revoltada ainda por seus pais terem resolvido deixar a cidade mais populosa do Michigan para viver em outra que, para ela, era quase um vilarejo. No entanto, durante a rápida volta de carro que haviam acabado de dar, tinha percebido que ele era bonito e fazia bem o tipo que ela gostava. Além disso, alguma coisa fazia com que sentisse que podia ser ela mesma com ele, e só isso já era bastante coisa, nos últimos tempos.
— Uhum — ele respondeu, sorrindo também.
— Nesse caso, eu to dentro — declarou. — Quando?
— Você pode sair durante a semana? — perguntou e ela riu.
— Hoje mesmo, se você puder — retrucou, em tom desafiador, e ele esticou a mão para ela.
— Fechado!
Às sete da noite em ponto, estava na porta da casa de , e ela saiu quinze minutos depois, pedindo desculpas pela demora. O pai, que tinha escolhido aquela cidade pela tranquilidade, resolvera cuidar da vida dela muito mais do que antes, exatamente como se fosse o contrário, e eles estivessem em um lugar mais perigoso que Detroit.
O que mais irritava a garota era que ela sabia que o comportamento do pai nada tinha a ver com perigo, e sim com o pensamento conservador e preconceituoso dos parentes dele, que nunca tinham saído daquele lugar. Ela, contudo, estava determinada a esquecer a família, e todas as recomendações que praticamente faziam com que ela tivesse que fingir ser alguém que não era, e se divertir com , naquela noite.
E se divertir foi exatamente o que eles fizeram. levou a uma lanchonete estilo Anos 60, com direito a Jukebox e tudo, onde os frequentadores colocavam para tocar clássicos do rock n’ roll e alguns até arriscavam uns passos. Provavelmente se alguém tivesse feito menção antes a ir àquele mesmo lugar ela tivesse torcido o nariz, mas, estando com ele, a garota deu chance ao lugar e não se arrependeu. A comida era maravilhosa, a trilha sonora, perfeita, e o rapaz, naturalmente engraçado, do tipo que conta histórias e faz a gente rir até a barriga doer e pedirmos arrego.
Talvez ele ainda fosse um pouco certinho, comparado aos amigos que ela tinha em Detroit, mas ele não pareceu julgá-la mal por nenhuma história que contou, sobre as vezes em que matou aula só para passar o dia com amigos sem fazer nada, sobre as noites de festa e bebedeira, ou sobre quando experimentou maconha, em um acampamento de férias. Por isso, ela se sentiu confortável para perguntar se havia algum lugar onde pudessem parar a caminhonete dele e ficar na caçamba, conversando e olhando as estrelas, até um pouco mais tarde.
Ele também ficou feliz em não voltar para casa logo que saíram da lanchonete, e parou o carro em um parque, perto de um lago. era tudo o que ele tinha imaginado e mais um pouco, e ele não via a hora de ter mais um encontro com ela, sem que aquele nem mesmo tivesse acabado. Estava pensando se teria coragem de beijá-la, ainda naquela noite, quando fosse deixá-la na porta de casa, mas ela tinha planos mais audaciosos.
— Você já nadou nesse lago? — ela perguntou, de repente, olhando para a água, sem se importar em interrompê-lo, quando ele falava de um recente jogo de basquete.
— Algumas vezes — ele respondeu, estranhando a abrupta mudança de assunto.
— À noite?
— Não... — ele franziu a testa.
— Pelado? — ela sorriu maliciosamente, e ele sentiu uma súbita dificuldade para respirar, que só aumentou quando ela desceu da caçamba da caminhonete.
tirou a blusa, o short, o sutiã e a calcinha, bem ali, na frente dele, como se fosse a coisa mais normal do mundo, e ele ficou momentaneamente paralisado. Quando ela jogou uma das peças de roupa bem na sua cara, ele praticamente deu um salto e começou a se despir também. Terminou quando ela já estava mergulhando e foi atrás dela, rapidamente, como se estivesse com medo de que tudo aquilo fosse um sonho do qual pudesse despertar a qualquer minuto.
A água fria ficou quente, quando se pendurou no pescoço de , colando os lábios nos dele, e começando um beijo que foi de tirar o fôlego. Os dois não transaram dentro do lago, mas se provocaram muito, e o sexo rolou, mais de uma vez, quando voltaram ao carro. nunca contaria nada daquilo para Troy, mas ele agora sabia que estivera certo o tempo todo: tinha algo que ele jamais encontrara, ou achava que seria capaz de encontrar, em nenhuma menina da sua cidade.
Ah, Deus! Como ele gostava daquela garota de fora!