Capítulo Único
O atacante não tinha como negar que os últimos anos haviam sido os melhores de sua vida até o momento. Com o time do coração, havia conquistado diversos campeonatos, inclusive o de maior renome de sua carreira até agora: a Libertadores da América. Naquela mesma noite, o seu grande amor disse “sim” quando ele perguntou se ela gostaria de passar o resto da vida ao lado dele.
Todos dizem que após a tempestade vem a calmaria, mas o contrário também se aplica. Com tudo dando tão certo, em um jogo pelo campeonato estadual as coisas começaram a dar errado. Enquanto corria com a bola nos pés em direção a área adversária, sofreu um carrinho do jogador oponente. Caiu já sentindo muita dor e ali ficou, sendo retirado aos prantos em cima de uma maca. Mesmo não sendo médica, pela dor que via no rosto do amado, sentia e sabia que aquilo era sério, o que veio a ser confirmado após os exames realizados no melhor hospital da cidade: o atacante sofreu uma fratura na fíbula do tornozelo direito e teria de passar por uma cirurgia, ficando afastado dos gramados pelo período de quatro a cinco meses.
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estava sentindo-se extremamente cansada naquela semana, então quando o alarme do celular tocou às 6h30min daquela quinta-feira ela grunhiu em resposta, tateando a mesa de cabeceira para desligar o aparelho. Assim que abriu os olhos, deparou-se com o marido sentado à sua esquerda na cama. Ele estava desperto, mas seu olhar perdido em qualquer canto do quarto denunciava que sua mente estava girando sem parar e não de uma maneira boa. estava de molho em casa há apenas dois dias, mas para um jogador de futebol cada dia sem treinar ou jogar parece um ano. A dor, a ansiedade, o medo e a incerteza de seu futuro profissional estavam bagunçando-lhe por completo. Em alguns momentos sentia alguns lampejos de raiva do zagueiro que o havia machucado, mesmo sabendo que não havia sido de propósito.
Para , era torturante ver , que era sempre tão alegre, naquela situação. No entanto, naquele momento, achou melhor deixá-lo sozinho em sua bolha, por isso seguiu para o banheiro em silêncio.
– Você sabe o que sua sogra diz, não sabe? Cara fechada é sinal de fome. Então… – Ela imitou a voz da mãe e posicionou a bandeja com pés na cama. riu sincero como não fazia desde o dia do jogo e aquilo fez o coração da mulher ficar um pouco mais quentinho.
– Eu tenho sido um pé no saco nas últimas 48h e você ainda me mima? – Ele tinha uma pitada de desapontamento consigo mesmo enquanto falava.
– Meu amor, eu estou ao seu lado para honrar a promessa que fizemos naquele dia tão lindo de setembro. Permaneceremos juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza. – O homem sorriu, acariciando o rosto da esposa e sussurrando um “Eu tirei a sorte grande com você” logo em seguida.
– Destampa logo essas coisas que eu quero roubar algumas comidinhas também… – riu da cara de indignação que o marido fez, mas sabia que ele não se importava em deixá-la beliscar suas refeições. retirou a caneca branca da bandeja e notou que havia algo estranho no fundo da peça. Primeiro achou que era sujeira, mas assim que aproximou mais de seu rosto conseguiu enxergar melhor. Havia ali uma frase, mas não era uma frase qualquer, e sim uma que iria mudar sua vida para sempre. A fonte delicada, também em preto, trazia o seguinte anúncio: Você vai ser papai :).
– … é sério isso? – Ele questionou com os olhos já marejados e não segurou as lágrimas ao sinal positivo que a mulher lhe deu. Rapidamente posicionou a bandeja do outro lado da cama e puxou a esposa para o seu colo, envolvendo-a em um abraço tão carinhoso que a fez fungar em um choro baixinho de felicidade junto dele.
– Não era assim que eu planejava lhe contar, mas achei que você precisava de uma forcinha para enfrentar esse momento. – Ela confidenciou. Desde que o exame de sangue confirmou a gravidez, ela vinha pensando de que maneira faria o anúncio. Havia optado pela caneca, já que ambos eram amantes de café. Ela esperava fazer tudo com um belo planejamento prévio, mas seu coração simplesmente falou mais alto naquela manhã e ordenou que fosse feito daquela maneira mesmo.
– Como sempre, achamos um jeitinho nosso de fazer as coisas… e mesmo eu sendo um homem feito e futuro papai, você continua sendo a melhor pessoa para cuidar de mim.
– Eu te amo, .
– Eu te amo ainda mais, … e bebê. – Ele direcionou a mão para a barriga dela enquanto depositava um selinho demorado em seus lábios.
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– Familiares de ? – O médico que havia aparecido na sala de espera há poucos segundo questionou, observando três pessoas se levantarem: , sua sogra e seu sogro. – Podem me acompanhar, por gentileza. – Ele proferiu e apontou para o corredor a sua esquerda. Enquanto caminhavam em direção ao quarto onde o jogador estava se recuperando, o médico os tranquilizou em partes.
– A cirurgia foi um sucesso e obviamente o tempo de recuperação é longo, por isso conto com vocês para ficarem de olho para que ele não faça nenhum esforço… assim poderá voltar a nos dar mais alegrias em campo. – Essa última parte ele falou um pouco mais baixo, causando um riso controlado nos outros três. Eles agradeceram o trabalho do cirurgião e logo adentraram o cômodo, encontrando um cansado, mas aparentemente bem.
– Meu bebê! Como você está? – Com os olhos marejados, Martha questionou enquanto segurava as bochechas do homem com a mesma força que fazia quando ele era, de fato, um bebê.
– Mãe! – Ele protestou rindo. – Estar numa cama de hospital não é a coisa mais legal do mundo, mas estou bem. Eu juro. – Ele apertou as mãos da mais velha, que sorriu e finalmente o deixou livre para ser abraçado pelo pai e posteriormente pela esposa.
– Como você está? – perguntou sugestivamente para , que o olhou com uma cara brava, pois não queria nem pensar na possibilidade da família desconfiar da surpresa antes da hora.
– Você fez uma cirurgia no tornozelo, mas eu fiquei nervosa como se fosse uma daquelas cirurgias cerebrais que fazem em Grey’s Anatomy… – Ela riu e ele lhe acompanhou. – Mas estou bem, muito bem. – Ela ergueu sugestivamente uma das sobrancelhas e ele apenas sorriu.
– O médico que lhe operou é o médico do time? – Sr. Wallace questionou.
– Não, pai. Foi um colega dele… Por quê?
– Antes de entrarmos ele deu a entender que é torcedor do e seu fã. Ainda bem, já imaginou se ele fosse torcedor adversário? – O mais novo agora gargalhava com o exagero causado pelo fanatismo do pai. , ao ver o esposo daquela forma, sentia-se mais tranquila. Parecia que ele finalmente havia “aceitado” o que havia lhe acontecido e agora faria de tudo para voltar aos campos assim que possível.
– Está com fome, filho? Você precisa comer para se recuperar!
– Mãe, calma. Tem uma equipe inteira preparada para cuidar de mim aqui, a senhora não precisa surtar. Não vai faltar nada. Em casa eu deixo você assumir um pouco do controle, ok? – Martha revirou os olhos e resmungou algumas palavras incompreensíveis, para riso de todos.
Mesmo sob alguns protestos, Wallace havia convencido a esposa a irem à cafeteria do hospital, deixando o casal mais jovem ter um pouco de privacidade. estava sentada na poltrona ao lado da cama apenas segurando a mão do marido quando ele sentiu que era hora de falar aquilo que estava o corroendo por dentro desde a contusão.
– Eu estou muito feliz que a cirurgia foi um sucesso e que eu vou poder voltar a jogar, mas… No momento, meu maior medo é nunca recuperar a performance que eu tinha antes da lesão. – Ele confessou, desviando o olhar para baixo pois esse era um medo real que ele tinha vergonha de admitir em voz alta.
– Eu te entendo, amor. Como professora, toda vez que começo a ficar rouca tenho receio de perder a voz e ficar afastada das aulas. Acho que posso entender um pouco do que você está sentindo, mas eu tenho plena certeza de que você vai voltar ainda melhor. Dê tempo ao tempo, ok? Estaremos aqui torcendo e te apoiando. – Ela levou uma das mãos dele ao seu ventre e ele sorriu sincero.
– Você pode não acreditar, mas eu agradeço todos os dias pelo ter te reencontrado e por ter colocado você no meu caminho novamente. Não sei o que seria de mim sem você do meu lado, princesinha.
– Vou ignorar o fato de você ter utilizado o pronome de tratamento de quando éramos adolescentes só pra não quebrar o clima… – Ambos riram e logo a porta do quarto foi aberta, anunciando que o pai e a mãe de haviam chegado para ver o genro favorito (e único).
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– Não acredito que nossas mães concordaram em chegar apenas na hora do jantar mesmo. – admitiu.
– Eu não acredito que meu pai convenceu minha mãe que ela não precisava se mudar para cá após a cirurgia.
– Sogrinho tem um ótimo poder de persuasão! – Riram. – Acho que agora vamos entender um pouco o que eles passaram e passam conosco, né?
– Não quero nem pensar nisso! Se no forninho já estou preocupado, imagina quando esse serzinho vier ao mundo. – disparou num timbre meio desesperado, fazendo a mulher rir novamente.
– Calma! Vamos tentar não sofrer por antecedência.– Ela frisou bem a palavra tentar, pois ansiosa como era e por estar carregando um ser dentro de seu ventre, entendia melhor que ninguém as preocupações do companheiro, que apenas assentiu sorrindo.
– Você está nervosa com o jantar?
– Estou é com medo de acabar revelando a surpresa antes da hora! Você sabe que eu tenho a boca grande…
– Tenho certeza de que dessa vez você vai conseguir controlar essa boquinha deliciosa. – Ele sorriu maroto ao que ela revirou os olhos.
Quando descobriu a gravidez, estava de oito semanas e, conforme recomendações médicas, o casal entrou em um consenso para anunciar a novidade apenas após as doze semanas. Fazia exatamente um mês que havia passado pela cirurgia no tornozelo e os três meses de gestação estavam completos. Utilizando o pretexto de “comemorar” a cirurgia e a boa recuperação do atacante, o casal convidou os pais para um jantar em família.
Após a refeição, estavam os seis reunidos nos sofás da sala conversando sem parar, como sempre.
– Ah! – bateu na testa, como se estivesse se punindo por ter esquecido algo. – Preciso mostrar pra vocês o vídeo da apresentação da minha turminha na semana passada! – Ela levantou-se e plugou um pen drive na televisão.
Assim que apertou o play, a mulher voltou a se sentar ao lado de , apenas para poder observar a reação dos familiares diante do que estavam prestes a descobrir.
Na tela, o fundo preto era preenchido por letras brancas que trazia uma data: 22 de abril de 2020. A data pouco a pouco foi sumindo e em seu lugar surgiu uma imagem cinza chiada, que foi se expandido conforme o som de um coração batendo ia ficando mais alto. Cerca de dez segundos depois, a direção da câmera foi trocada para uma e um sorridentes, que gritaram juntos “Parabéns, vovôs e vovós!”.
O casal não teve tempo de raciocinar ao fim do vídeo, pois estavam sendo abraçados por todos os lados. Mesmo sendo apenas eles seis ali, as vozes se misturavam em um murmurinho tão alto que era impossível assimilar tudo que estava sendo dito, mas eles conseguiram captar alguns “Não acredito!”, “Parabéns!” e também sentiam lágrimas caindo sobre si mesmos. Eles próprios não conseguiam conter a emoção e a alegria daquele momento com as pessoas mais importantes de suas vidas, que de agora em diante passariam a acompanhar ainda mais de perto cada momento daquele ciclo.
– Para quando é? – A senhora perguntou e foi seguida pela senhora questionando se eles já sabiam o sexo do bebê.
– Calma ou eu vou surtar! – riu. – Estou de 12 semanas e cinco dias, ainda não sabemos se teremos uma menina ou um menino. Segurem a ansiedade! – Antes que mais alguém pudesse falar algo, lhe dirigiu a palavra:
– Quero ver você tirar essas duas daqui de dentro agora – Ele apontou para a mãe e para a sogra que se fingiram de ofendidas, mas logo riram.
A noite seguiu com as duas senhoras contando os detalhes de quando elas haviam descoberto a gravidez, de como os maridos reagiram, dentre muitas outras histórias.
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– Olá, doutora! – e disseram juntos assim que adentraram a sala de exames no consultório da obstetra.
– Ah, vão se ferrar vocês dois! – respondeu rindo. Ela era ninguém mais ninguém menos que a melhor amiga de e atual namorada de , melhor amigo de .
– Nossa, dá pra denunciar essa grosseria para o Conselho Regional de Medicina?
– Para, amor! Já pensou se ela fica com raiva e engana a gente no sexo do bebê? – Ao proferir essas (absurdas) frases, cada um tomou um leve peteleco da amiga.
– Agora se me deixarem trabalhar.... , pode deitar. , vá para o outro lado da cama. – Ela ordenou e logo depois já espalhava o gel condutor pelo abdômen da paciente/amiga. – Tudo em ordem com a posição e o crescimento desse serumaninho. Vamos ouvir o coração.
Não importava quantas vezes eles já haviam escutado aquele som, principalmente nos vídeos que rodavam no repeat nos celulares de ambos, sempre era emocionante e sempre parecia como a primeira vez. Poderiam ouvir por horas, sem cansar.
– Estão preparados, papais? – questionou apenas para atiçar um pouco mais a curiosidade do casal. segurou uma das mãos de e juntos ele disseram um ansioso e animado “sim”.
– Eu sabia, rá! perdeu a aposta. – A médica exclamou vitoriosa, deixando os amigos incrédulos ao saber que estavam apostando o sexo do bebê.
– , para de me enrolar! Eu quero saber… – choramingou e não pode deixar de rir fraco.
– Parabéns, meus amigos! Vocês vão criar um cavalheiro. – Assim que ela terminou de dizer isso, tanto o homem quanto sua esposa choravam emocionados e teve de se controlar muito para não embarcar no choro com eles. Deixou que eles curtissem o momento juntos e depois aproveitou para abraçá-los.
– Posso confessar que eu sentia que teríamos um menino? – A mulher sussurrou para o marido enquanto eles andavam por uma loja infantil.
– Sexto sentido aguçado, né mamãe? – Ele parou no meio do corredor e a abraçou pela cintura. – Parece que sim…
roçou o nariz pelo pescoço dela e soltou a bomba. – Depois já podemos pensar em fazer a nossa menininha, né?
– TÁ MALUCO? Para, ! – Ela o encarava preocupada, mas ele logo começou a rir e ela não conseguiu segurar a carranca por muito tempo.
– Vamos achar as poltronas de amamentação, depois dessa eu preciso mesmo é me sentar. – Olha essa, amor. – O atacante apontou para uma poltrona branca.
– Maravilhosa! Mas você sabe como eu sou estabanada, eu daria um jeito de manchar em questão de minutos. – Ele riu concordando. – Que tal aquela? – Apontou para uma poltrona no canto direito, cujo estofado era cinza com bolinhas brancas, bem como o estofado do apoio para os pés.
sentou-se ali e fechou os olhos, imaginando o momento em que faria aquilo com seu menino nos braços. Abriu os olhos e sorriu para o marido, que captou a mensagem. Era aquela a primeira peça que eles levariam para compor o quarto do bebê.
– A gente que lute pra fazer a decoração combinar com essa poltrona! – A mulher declarou rindo, enquanto via o companheiro chamar um vendedor.
Como haviam se reaproximado pelo Instagram, achou ideal fazer uso daquela rede social para anunciar a novidade com seus seguidores. Selecionou a foto da roupinha do que havia comprado assim que descobriram que teriam um menino e escreveu a seguinte legenda:
Para aqueles que nos conhecem, sabem que tratamos nossos cachorros, Pingo e Tequila, como se fossem nossos filhos. Eles realmente são e ai de quem disser o contrário! Acontece que agora eles terão de compartilhar o posto com um ser humano, pois o vem aí para encher a família - com ainda mais amor! Parece que as coisas acontecem quando devem acontecer, né? Mesmo dentro da barriga da super mamãe @Pedra ele já vem dando um gás enorme na minha recuperação e eu mal posso esperar para deixá-lo orgulhoso do pai que tem. Aos que já sabiam, obrigada por terem controlado a língua até que estivessemos prontos para contar. Com carinho, e ♥
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Após 90 dias desde a lesão e de muitas sessões de fisioterapia, havia finalmente sido liberado pelo departamento médico do time para voltar aos treinos físicos com o resto do elenco. Ele mal podia conter a alegria com a novidade e isso era perceptível desde que saiu do carro no estacionamento. Sempre foi muito educado com todos os funcionários do clube, mas naquele dia ele estava simplesmente nas nuvens e não conseguia desmanchar o sorriso que já amanheceu em seus lábios.
– Fala, maninho! – Jeff, o meio campista titular, o cumprimentou assim que ele pisou no vestiário.
– E aí, cara. Vê se faz a bola chegar em mim hoje, hein. Tô a fim de incomodar… – disse rindo, levando o amigo com si.
– É seu primeiro treino e você já está assim?
– Qual é, Jeff? Tá com medo de não dar conta do recado? – provocou e recebeu um dedo do meio em resposta. – Mas pode deixar que eu serei o seu garçom.
E ele realmente foi. Jeff foi o responsável por passar a bola para os pés de , que driblou o zagueiro e chutou certeiro com a canhota direto para dentro da rede. Aquele era o primeiro gol marcado desde que ele havia voltado da lesão, e ele não poderia se importar menos com o fato de ter sido em um rachão e não em um jogo oficial. Ele estava feliz demais para se preocupar com os pormenores da situação. Comemorou o gol como nunca e recebeu os cumprimentos dos demais companheiros de jogo e da comissão técnica. Talvez a esposa estivesse certa, ele só precisava continuar trabalhando duro e dar tempo ao tempo e logo tudo estaria de volta em seu devido lugar.
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Em um lance rápido, o time do conseguiu um contra-ataque inacreditável. A bola passou de pé em pé até chegar no lateral direito Thomas. Ele estava próximo da linha final do campo quando avistou correndo em direção da pequena área, e não pensou duas vezes antes de cruzar a bola na cabeça do atacante. Embora ele tenha conseguido acertar o cruzamento, infelizmente não teve a mesma sorte e cabeceou a bola por cima da trave, para alívio do time adversário e para total decepção sua e de seu time. Pediu desculpas aos companheiros e viu o técnico lhe chamar de volta para a beirada do campo. “Certamente vou levar um esporro e serei substituído” foi o que ele pensou enquanto corria em direção ao comandante, que sabia que o estado psicológico de seu jogador andava abalado.
– Você está muito bem no jogo, não deixa isso te tirar do foco. Volta pra lá e mostra que você ainda é o melhor! – O homem deu um tapinha em suas costas e nada disse, apenas sorriu e assentiu com a cabeça, voltando para o jogo.
– Queria que você estivesse aqui pra gente burlar as regras e tomar uma cervejinha sem álcool juntos… – falou em meio a um bico. Eles estavam em uma chamada de vídeo, tendo em vista que o jogador havia viajado muitos quilômetros para o jogo daquela quarta-feira.
– Nossa casa, uma cervejinha e um carinho nesse barrigão era tudo que eu queria agora para esquecer aquele gol perdido. – Ele respondeu.
– Own, meu dengo! Quando você chegar a gente vai fazer isso sim. Foi só um gol, não um campeonato! E vocês ainda saíram com os três pontos da vitória, então para de se lamentar ou eu vou mandar uma mensagem pro Thomas e pedir pra ele dar uma passadinha ai no teu quarto e…
– Tá bom, eu me rendo! Não aguento mais ouvir as histórias sem pé nem cabeça daquele maluco. – Eles riram. – Tenho que lembrar de deletar e bloquear todos os jogadores do seu telefone quando voltar… – soltou como quem não quer nada e viu grunhir em resposta.
– E sem eles como é que eu vou te ameaçar ou ficar sabendo das pérolas que você solta quando não estamos juntos? – Ela questionou, erguendo uma das sobrancelhas.
– Esse é justamente o motivo pelo qual eu não quero que você tenha mais contato com eles! A zoação eu tolero, mas as ameaças estão ficando perigosas demais… – O homem colocou a mão sobre o lado esquerdo do peito, como se estivesse assustado. Depois que a mulher conseguiu conter o ataque de riso pelas palavras e pela cena feita pelo jogador, eles engataram uma conversa sobre aleatoriedades cotidianas até que ambos estivessem a ponto de dormirem como dois adultos extremamente cansados.
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Assim que retornou aos gramados, a maior parte das notícias sobre o atacante giravam em torno dos quatro meses em que ele esteve afastado. Foram quatro meses entre a lesão, a cirurgia, o descanso, a fisioterapia, os treinos sem bola, os treinos com bola… até que ele finalmente pudesse vestir a camiseta do novamente.
Estar de volta após tanto tempo afastado significava que ele não conseguiria aguentar de cara os 90 minutos de uma partida, ou seja, não voltaria tendo a mesma performance que tinha antes de se machucar. De fora, as pessoas apenas viam a luta dele com o lado físico, mas não com o emocional.
Enquanto os outros focavam nos meses afastado, ele focava em recuperar a confiança em si mesmo para que isso se traduzisse em gols dentro de campo. Não foi fácil, nem muito rápido, mas com o apoio de e de sua família, ele conseguiu. Claro que mesmo dentro da barriga, havia dado um gás a mais nessa volta por cima. No jogo da última quarta-feira ele havia marcado dois gols e começaria o jogo deste sábado como titular, esperando jogar sua primeira partida completa depois do retorno.
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Alguns meses depois….
– Já estava com saudade das nossas noites na Arena. – comentou com a amiga, que estava entretida comendo um cachorro-quente.
– Eu também. Sem contar que os lanches daqui apesar de caros são ótimos. – respondeu, fazendo um joinha enquanto mastigava mais um pedaço.
– Vou contar pro que você vem pela comida e não para apoiar teu amigo. Já aproveito e conto pro também, que tá lá embaixo cobrindo o jogo. – Lolly apenas semicerrou os olhos e mandou um “cala a boca” baixinho, sorrindo angelicalmente para , que não pôde fazer nada além de rir.
O jogo que havia começado de maneira calma logo se transformou em um jogo acirrado, com ambos os times partindo um para cima do outro. Embora fosse um jogo bastante ofensivo, até os vinte minutos do segundo tempo nenhum lado havia conseguido furar o bloqueio para balançar as redes. No entanto, em uma jogada rápida do tudo mudou.
– Puta que pariu! – exclamou em alto e bom tom assim que viu o marido ser atingido por um carrinho dentro da pequena área. Seus olhos instantaneamente encheram-se de lágrimas e, mesmo com dificuldade, ela se levantou da poltrona em que estava sentada. Felizmente, o atacante logo se levantou e fez um sinal positivo com as mãos em direção a casamata. As amigas que estavam sentadas nas arquibancadas acima dali respiraram aliviadas, mas não por muito. Quando colocou a bola embaixo do braço e se dirigiu a marca do pênalti o coração de disparou. Ela conhecia bem o longo caminho que o marido havia trilhado para chegar até ali novamente e sabia que a penalidade máxima poderia ser injusta. Por isso, agarrou a mão de até que a cobrança fosse feita. Ela torcia tanto por seu amor e pediu para que os deuses do futebol abençoassem naquele momento. Seu pedido foi prontamente atendido, já que o atacante realizou uma cobrança perfeita no cantinho onde a coruja dorme e abriu o placar para o time da casa.
– … – , que não havia largado a mão da amiga nem para comemorar o gol, apertou seus dedos com um pouco mais de força, atraindo a atenção da mulher para si. – Acho que chegou a hora. – Apontou para baixo, indicando o local molhado em sua calça cinza de moletom.
– Porra, ! Era minha noite de folga! – ralhou, mas logo riu. Ela não perderia por nada a chance de trazer ao mundo o filho de sua irmã de coração e afilhado. – Fica calma, ok? – Beijou o rosto da amiga e começou gritar igual uma louca para o banco de reservas, pedindo para que eles avisassem para encontrá-las no hospital. Mesmo nervosa, sorriu com o carinho da amiga e tratou de respirar fundo, pois estava tudo bem. havia voltado a brilhar nos gramados e em breve eles teriam o título mais importante de suas vidas: papai e mamãe. Além disso, teriam nos braços o pacotinho de amor deles.
Todos dizem que após a tempestade vem a calmaria, mas o contrário também se aplica. Com tudo dando tão certo, em um jogo pelo campeonato estadual as coisas começaram a dar errado. Enquanto corria com a bola nos pés em direção a área adversária, sofreu um carrinho do jogador oponente. Caiu já sentindo muita dor e ali ficou, sendo retirado aos prantos em cima de uma maca. Mesmo não sendo médica, pela dor que via no rosto do amado, sentia e sabia que aquilo era sério, o que veio a ser confirmado após os exames realizados no melhor hospital da cidade: o atacante sofreu uma fratura na fíbula do tornozelo direito e teria de passar por uma cirurgia, ficando afastado dos gramados pelo período de quatro a cinco meses.
Para , era torturante ver , que era sempre tão alegre, naquela situação. No entanto, naquele momento, achou melhor deixá-lo sozinho em sua bolha, por isso seguiu para o banheiro em silêncio.
– Você sabe o que sua sogra diz, não sabe? Cara fechada é sinal de fome. Então… – Ela imitou a voz da mãe e posicionou a bandeja com pés na cama. riu sincero como não fazia desde o dia do jogo e aquilo fez o coração da mulher ficar um pouco mais quentinho.
– Eu tenho sido um pé no saco nas últimas 48h e você ainda me mima? – Ele tinha uma pitada de desapontamento consigo mesmo enquanto falava.
– Meu amor, eu estou ao seu lado para honrar a promessa que fizemos naquele dia tão lindo de setembro. Permaneceremos juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza. – O homem sorriu, acariciando o rosto da esposa e sussurrando um “Eu tirei a sorte grande com você” logo em seguida.
– Destampa logo essas coisas que eu quero roubar algumas comidinhas também… – riu da cara de indignação que o marido fez, mas sabia que ele não se importava em deixá-la beliscar suas refeições. retirou a caneca branca da bandeja e notou que havia algo estranho no fundo da peça. Primeiro achou que era sujeira, mas assim que aproximou mais de seu rosto conseguiu enxergar melhor. Havia ali uma frase, mas não era uma frase qualquer, e sim uma que iria mudar sua vida para sempre. A fonte delicada, também em preto, trazia o seguinte anúncio: Você vai ser papai :).
– … é sério isso? – Ele questionou com os olhos já marejados e não segurou as lágrimas ao sinal positivo que a mulher lhe deu. Rapidamente posicionou a bandeja do outro lado da cama e puxou a esposa para o seu colo, envolvendo-a em um abraço tão carinhoso que a fez fungar em um choro baixinho de felicidade junto dele.
– Não era assim que eu planejava lhe contar, mas achei que você precisava de uma forcinha para enfrentar esse momento. – Ela confidenciou. Desde que o exame de sangue confirmou a gravidez, ela vinha pensando de que maneira faria o anúncio. Havia optado pela caneca, já que ambos eram amantes de café. Ela esperava fazer tudo com um belo planejamento prévio, mas seu coração simplesmente falou mais alto naquela manhã e ordenou que fosse feito daquela maneira mesmo.
– Como sempre, achamos um jeitinho nosso de fazer as coisas… e mesmo eu sendo um homem feito e futuro papai, você continua sendo a melhor pessoa para cuidar de mim.
– Eu te amo, .
– Eu te amo ainda mais, … e bebê. – Ele direcionou a mão para a barriga dela enquanto depositava um selinho demorado em seus lábios.
– A cirurgia foi um sucesso e obviamente o tempo de recuperação é longo, por isso conto com vocês para ficarem de olho para que ele não faça nenhum esforço… assim poderá voltar a nos dar mais alegrias em campo. – Essa última parte ele falou um pouco mais baixo, causando um riso controlado nos outros três. Eles agradeceram o trabalho do cirurgião e logo adentraram o cômodo, encontrando um cansado, mas aparentemente bem.
– Meu bebê! Como você está? – Com os olhos marejados, Martha questionou enquanto segurava as bochechas do homem com a mesma força que fazia quando ele era, de fato, um bebê.
– Mãe! – Ele protestou rindo. – Estar numa cama de hospital não é a coisa mais legal do mundo, mas estou bem. Eu juro. – Ele apertou as mãos da mais velha, que sorriu e finalmente o deixou livre para ser abraçado pelo pai e posteriormente pela esposa.
– Como você está? – perguntou sugestivamente para , que o olhou com uma cara brava, pois não queria nem pensar na possibilidade da família desconfiar da surpresa antes da hora.
– Você fez uma cirurgia no tornozelo, mas eu fiquei nervosa como se fosse uma daquelas cirurgias cerebrais que fazem em Grey’s Anatomy… – Ela riu e ele lhe acompanhou. – Mas estou bem, muito bem. – Ela ergueu sugestivamente uma das sobrancelhas e ele apenas sorriu.
– O médico que lhe operou é o médico do time? – Sr. Wallace questionou.
– Não, pai. Foi um colega dele… Por quê?
– Antes de entrarmos ele deu a entender que é torcedor do e seu fã. Ainda bem, já imaginou se ele fosse torcedor adversário? – O mais novo agora gargalhava com o exagero causado pelo fanatismo do pai. , ao ver o esposo daquela forma, sentia-se mais tranquila. Parecia que ele finalmente havia “aceitado” o que havia lhe acontecido e agora faria de tudo para voltar aos campos assim que possível.
– Está com fome, filho? Você precisa comer para se recuperar!
– Mãe, calma. Tem uma equipe inteira preparada para cuidar de mim aqui, a senhora não precisa surtar. Não vai faltar nada. Em casa eu deixo você assumir um pouco do controle, ok? – Martha revirou os olhos e resmungou algumas palavras incompreensíveis, para riso de todos.
Mesmo sob alguns protestos, Wallace havia convencido a esposa a irem à cafeteria do hospital, deixando o casal mais jovem ter um pouco de privacidade. estava sentada na poltrona ao lado da cama apenas segurando a mão do marido quando ele sentiu que era hora de falar aquilo que estava o corroendo por dentro desde a contusão.
– Eu estou muito feliz que a cirurgia foi um sucesso e que eu vou poder voltar a jogar, mas… No momento, meu maior medo é nunca recuperar a performance que eu tinha antes da lesão. – Ele confessou, desviando o olhar para baixo pois esse era um medo real que ele tinha vergonha de admitir em voz alta.
– Eu te entendo, amor. Como professora, toda vez que começo a ficar rouca tenho receio de perder a voz e ficar afastada das aulas. Acho que posso entender um pouco do que você está sentindo, mas eu tenho plena certeza de que você vai voltar ainda melhor. Dê tempo ao tempo, ok? Estaremos aqui torcendo e te apoiando. – Ela levou uma das mãos dele ao seu ventre e ele sorriu sincero.
– Você pode não acreditar, mas eu agradeço todos os dias pelo ter te reencontrado e por ter colocado você no meu caminho novamente. Não sei o que seria de mim sem você do meu lado, princesinha.
– Vou ignorar o fato de você ter utilizado o pronome de tratamento de quando éramos adolescentes só pra não quebrar o clima… – Ambos riram e logo a porta do quarto foi aberta, anunciando que o pai e a mãe de haviam chegado para ver o genro favorito (e único).
– Eu não acredito que meu pai convenceu minha mãe que ela não precisava se mudar para cá após a cirurgia.
– Sogrinho tem um ótimo poder de persuasão! – Riram. – Acho que agora vamos entender um pouco o que eles passaram e passam conosco, né?
– Não quero nem pensar nisso! Se no forninho já estou preocupado, imagina quando esse serzinho vier ao mundo. – disparou num timbre meio desesperado, fazendo a mulher rir novamente.
– Calma! Vamos tentar não sofrer por antecedência.– Ela frisou bem a palavra tentar, pois ansiosa como era e por estar carregando um ser dentro de seu ventre, entendia melhor que ninguém as preocupações do companheiro, que apenas assentiu sorrindo.
– Você está nervosa com o jantar?
– Estou é com medo de acabar revelando a surpresa antes da hora! Você sabe que eu tenho a boca grande…
– Tenho certeza de que dessa vez você vai conseguir controlar essa boquinha deliciosa. – Ele sorriu maroto ao que ela revirou os olhos.
Quando descobriu a gravidez, estava de oito semanas e, conforme recomendações médicas, o casal entrou em um consenso para anunciar a novidade apenas após as doze semanas. Fazia exatamente um mês que havia passado pela cirurgia no tornozelo e os três meses de gestação estavam completos. Utilizando o pretexto de “comemorar” a cirurgia e a boa recuperação do atacante, o casal convidou os pais para um jantar em família.
Após a refeição, estavam os seis reunidos nos sofás da sala conversando sem parar, como sempre.
– Ah! – bateu na testa, como se estivesse se punindo por ter esquecido algo. – Preciso mostrar pra vocês o vídeo da apresentação da minha turminha na semana passada! – Ela levantou-se e plugou um pen drive na televisão.
Assim que apertou o play, a mulher voltou a se sentar ao lado de , apenas para poder observar a reação dos familiares diante do que estavam prestes a descobrir.
Na tela, o fundo preto era preenchido por letras brancas que trazia uma data: 22 de abril de 2020. A data pouco a pouco foi sumindo e em seu lugar surgiu uma imagem cinza chiada, que foi se expandido conforme o som de um coração batendo ia ficando mais alto. Cerca de dez segundos depois, a direção da câmera foi trocada para uma e um sorridentes, que gritaram juntos “Parabéns, vovôs e vovós!”.
O casal não teve tempo de raciocinar ao fim do vídeo, pois estavam sendo abraçados por todos os lados. Mesmo sendo apenas eles seis ali, as vozes se misturavam em um murmurinho tão alto que era impossível assimilar tudo que estava sendo dito, mas eles conseguiram captar alguns “Não acredito!”, “Parabéns!” e também sentiam lágrimas caindo sobre si mesmos. Eles próprios não conseguiam conter a emoção e a alegria daquele momento com as pessoas mais importantes de suas vidas, que de agora em diante passariam a acompanhar ainda mais de perto cada momento daquele ciclo.
– Para quando é? – A senhora perguntou e foi seguida pela senhora questionando se eles já sabiam o sexo do bebê.
– Calma ou eu vou surtar! – riu. – Estou de 12 semanas e cinco dias, ainda não sabemos se teremos uma menina ou um menino. Segurem a ansiedade! – Antes que mais alguém pudesse falar algo, lhe dirigiu a palavra:
– Quero ver você tirar essas duas daqui de dentro agora – Ele apontou para a mãe e para a sogra que se fingiram de ofendidas, mas logo riram.
A noite seguiu com as duas senhoras contando os detalhes de quando elas haviam descoberto a gravidez, de como os maridos reagiram, dentre muitas outras histórias.
– Ah, vão se ferrar vocês dois! – respondeu rindo. Ela era ninguém mais ninguém menos que a melhor amiga de e atual namorada de , melhor amigo de .
– Nossa, dá pra denunciar essa grosseria para o Conselho Regional de Medicina?
– Para, amor! Já pensou se ela fica com raiva e engana a gente no sexo do bebê? – Ao proferir essas (absurdas) frases, cada um tomou um leve peteleco da amiga.
– Agora se me deixarem trabalhar.... , pode deitar. , vá para o outro lado da cama. – Ela ordenou e logo depois já espalhava o gel condutor pelo abdômen da paciente/amiga. – Tudo em ordem com a posição e o crescimento desse serumaninho. Vamos ouvir o coração.
Não importava quantas vezes eles já haviam escutado aquele som, principalmente nos vídeos que rodavam no repeat nos celulares de ambos, sempre era emocionante e sempre parecia como a primeira vez. Poderiam ouvir por horas, sem cansar.
– Estão preparados, papais? – questionou apenas para atiçar um pouco mais a curiosidade do casal. segurou uma das mãos de e juntos ele disseram um ansioso e animado “sim”.
– Eu sabia, rá! perdeu a aposta. – A médica exclamou vitoriosa, deixando os amigos incrédulos ao saber que estavam apostando o sexo do bebê.
– , para de me enrolar! Eu quero saber… – choramingou e não pode deixar de rir fraco.
– Parabéns, meus amigos! Vocês vão criar um cavalheiro. – Assim que ela terminou de dizer isso, tanto o homem quanto sua esposa choravam emocionados e teve de se controlar muito para não embarcar no choro com eles. Deixou que eles curtissem o momento juntos e depois aproveitou para abraçá-los.
– Posso confessar que eu sentia que teríamos um menino? – A mulher sussurrou para o marido enquanto eles andavam por uma loja infantil.
– Sexto sentido aguçado, né mamãe? – Ele parou no meio do corredor e a abraçou pela cintura. – Parece que sim…
roçou o nariz pelo pescoço dela e soltou a bomba. – Depois já podemos pensar em fazer a nossa menininha, né?
– TÁ MALUCO? Para, ! – Ela o encarava preocupada, mas ele logo começou a rir e ela não conseguiu segurar a carranca por muito tempo.
– Vamos achar as poltronas de amamentação, depois dessa eu preciso mesmo é me sentar. – Olha essa, amor. – O atacante apontou para uma poltrona branca.
– Maravilhosa! Mas você sabe como eu sou estabanada, eu daria um jeito de manchar em questão de minutos. – Ele riu concordando. – Que tal aquela? – Apontou para uma poltrona no canto direito, cujo estofado era cinza com bolinhas brancas, bem como o estofado do apoio para os pés.
sentou-se ali e fechou os olhos, imaginando o momento em que faria aquilo com seu menino nos braços. Abriu os olhos e sorriu para o marido, que captou a mensagem. Era aquela a primeira peça que eles levariam para compor o quarto do bebê.
– A gente que lute pra fazer a decoração combinar com essa poltrona! – A mulher declarou rindo, enquanto via o companheiro chamar um vendedor.
Como haviam se reaproximado pelo Instagram, achou ideal fazer uso daquela rede social para anunciar a novidade com seus seguidores. Selecionou a foto da roupinha do que havia comprado assim que descobriram que teriam um menino e escreveu a seguinte legenda:
Para aqueles que nos conhecem, sabem que tratamos nossos cachorros, Pingo e Tequila, como se fossem nossos filhos. Eles realmente são e ai de quem disser o contrário! Acontece que agora eles terão de compartilhar o posto com um ser humano, pois o vem aí para encher a família - com ainda mais amor! Parece que as coisas acontecem quando devem acontecer, né? Mesmo dentro da barriga da super mamãe @Pedra ele já vem dando um gás enorme na minha recuperação e eu mal posso esperar para deixá-lo orgulhoso do pai que tem. Aos que já sabiam, obrigada por terem controlado a língua até que estivessemos prontos para contar. Com carinho, e ♥
– Fala, maninho! – Jeff, o meio campista titular, o cumprimentou assim que ele pisou no vestiário.
– E aí, cara. Vê se faz a bola chegar em mim hoje, hein. Tô a fim de incomodar… – disse rindo, levando o amigo com si.
– É seu primeiro treino e você já está assim?
– Qual é, Jeff? Tá com medo de não dar conta do recado? – provocou e recebeu um dedo do meio em resposta. – Mas pode deixar que eu serei o seu garçom.
E ele realmente foi. Jeff foi o responsável por passar a bola para os pés de , que driblou o zagueiro e chutou certeiro com a canhota direto para dentro da rede. Aquele era o primeiro gol marcado desde que ele havia voltado da lesão, e ele não poderia se importar menos com o fato de ter sido em um rachão e não em um jogo oficial. Ele estava feliz demais para se preocupar com os pormenores da situação. Comemorou o gol como nunca e recebeu os cumprimentos dos demais companheiros de jogo e da comissão técnica. Talvez a esposa estivesse certa, ele só precisava continuar trabalhando duro e dar tempo ao tempo e logo tudo estaria de volta em seu devido lugar.
– Você está muito bem no jogo, não deixa isso te tirar do foco. Volta pra lá e mostra que você ainda é o melhor! – O homem deu um tapinha em suas costas e nada disse, apenas sorriu e assentiu com a cabeça, voltando para o jogo.
– Queria que você estivesse aqui pra gente burlar as regras e tomar uma cervejinha sem álcool juntos… – falou em meio a um bico. Eles estavam em uma chamada de vídeo, tendo em vista que o jogador havia viajado muitos quilômetros para o jogo daquela quarta-feira.
– Nossa casa, uma cervejinha e um carinho nesse barrigão era tudo que eu queria agora para esquecer aquele gol perdido. – Ele respondeu.
– Own, meu dengo! Quando você chegar a gente vai fazer isso sim. Foi só um gol, não um campeonato! E vocês ainda saíram com os três pontos da vitória, então para de se lamentar ou eu vou mandar uma mensagem pro Thomas e pedir pra ele dar uma passadinha ai no teu quarto e…
– Tá bom, eu me rendo! Não aguento mais ouvir as histórias sem pé nem cabeça daquele maluco. – Eles riram. – Tenho que lembrar de deletar e bloquear todos os jogadores do seu telefone quando voltar… – soltou como quem não quer nada e viu grunhir em resposta.
– E sem eles como é que eu vou te ameaçar ou ficar sabendo das pérolas que você solta quando não estamos juntos? – Ela questionou, erguendo uma das sobrancelhas.
– Esse é justamente o motivo pelo qual eu não quero que você tenha mais contato com eles! A zoação eu tolero, mas as ameaças estão ficando perigosas demais… – O homem colocou a mão sobre o lado esquerdo do peito, como se estivesse assustado. Depois que a mulher conseguiu conter o ataque de riso pelas palavras e pela cena feita pelo jogador, eles engataram uma conversa sobre aleatoriedades cotidianas até que ambos estivessem a ponto de dormirem como dois adultos extremamente cansados.
Enquanto os outros focavam nos meses afastado, ele focava em recuperar a confiança em si mesmo para que isso se traduzisse em gols dentro de campo. Não foi fácil, nem muito rápido, mas com o apoio de e de sua família, ele conseguiu. Claro que mesmo dentro da barriga, havia dado um gás a mais nessa volta por cima. No jogo da última quarta-feira ele havia marcado dois gols e começaria o jogo deste sábado como titular, esperando jogar sua primeira partida completa depois do retorno.
– Já estava com saudade das nossas noites na Arena. – comentou com a amiga, que estava entretida comendo um cachorro-quente.
– Eu também. Sem contar que os lanches daqui apesar de caros são ótimos. – respondeu, fazendo um joinha enquanto mastigava mais um pedaço.
– Vou contar pro que você vem pela comida e não para apoiar teu amigo. Já aproveito e conto pro também, que tá lá embaixo cobrindo o jogo. – Lolly apenas semicerrou os olhos e mandou um “cala a boca” baixinho, sorrindo angelicalmente para , que não pôde fazer nada além de rir.
O jogo que havia começado de maneira calma logo se transformou em um jogo acirrado, com ambos os times partindo um para cima do outro. Embora fosse um jogo bastante ofensivo, até os vinte minutos do segundo tempo nenhum lado havia conseguido furar o bloqueio para balançar as redes. No entanto, em uma jogada rápida do tudo mudou.
– Puta que pariu! – exclamou em alto e bom tom assim que viu o marido ser atingido por um carrinho dentro da pequena área. Seus olhos instantaneamente encheram-se de lágrimas e, mesmo com dificuldade, ela se levantou da poltrona em que estava sentada. Felizmente, o atacante logo se levantou e fez um sinal positivo com as mãos em direção a casamata. As amigas que estavam sentadas nas arquibancadas acima dali respiraram aliviadas, mas não por muito. Quando colocou a bola embaixo do braço e se dirigiu a marca do pênalti o coração de disparou. Ela conhecia bem o longo caminho que o marido havia trilhado para chegar até ali novamente e sabia que a penalidade máxima poderia ser injusta. Por isso, agarrou a mão de até que a cobrança fosse feita. Ela torcia tanto por seu amor e pediu para que os deuses do futebol abençoassem naquele momento. Seu pedido foi prontamente atendido, já que o atacante realizou uma cobrança perfeita no cantinho onde a coruja dorme e abriu o placar para o time da casa.
– … – , que não havia largado a mão da amiga nem para comemorar o gol, apertou seus dedos com um pouco mais de força, atraindo a atenção da mulher para si. – Acho que chegou a hora. – Apontou para baixo, indicando o local molhado em sua calça cinza de moletom.
– Porra, ! Era minha noite de folga! – ralhou, mas logo riu. Ela não perderia por nada a chance de trazer ao mundo o filho de sua irmã de coração e afilhado. – Fica calma, ok? – Beijou o rosto da amiga e começou gritar igual uma louca para o banco de reservas, pedindo para que eles avisassem para encontrá-las no hospital. Mesmo nervosa, sorriu com o carinho da amiga e tratou de respirar fundo, pois estava tudo bem. havia voltado a brilhar nos gramados e em breve eles teriam o título mais importante de suas vidas: papai e mamãe. Além disso, teriam nos braços o pacotinho de amor deles.
Fim.
Nota da autora: Confesso que eu nem conhecia essa música, peguei apenas para salvar o ficstape e me apaixonei, tanto pela canção quanto pela história que eu criei para esse casalzinho que teve início na fanfic “Taça do Amor”. A gravidez não foi planejada, e saiu quando eu pedi uma opinião para a Lala (obrigada, migs!)... e eu amei demais esse plot twist! Nunca fiquei tão orgulhosa de algo que escrevi (até agora) e espero que vocês também gostem.
Não deixem de conferir as outras histórias inspiradas no Bangerz e se quiserem deixo abaixo o link das minhas outras fanfics.
- 02. Can't Keep My Hands Off You
- Around Here
- Taça do Amor
- Turma de 2003
- Turma de 2003: Após o reencontro
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
- 02. Can't Keep My Hands Off You
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- Turma de 2003: Após o reencontro