14.Tinha Que Ser Eu

Capítulo Único

Eu já tinha lido milhões de histórias em que diziam que os opostos se atraem. Já tinha ouvido todos os nossos professores soltarem em meio as nossas brigas que existia uma linha tênue. Entre o amor e o ódio. Eu já tinha visto minha amiga fazer e refazer nosso mapa astral e dizer que nós dois éramos amigos dela e estava na cara que tínhamos que dar certo. Eu sabia de tudo isso. Eu já tinha ouvido demais. Mas nunca tinha parado pra pensar. Mas talvez porque não me dava tempo suficiente pra isso. Todas as vezes que eu pensava que possibilidade podia ser real. Ele soltava alguma baboseira daquela boca porca. E eu desistia. Éramos um grupo de oito pessoas. Esteffany, , Ana, Koenigkam, (Lê-se meu ranço.) Samuel, Gabriel e eu. Era o ultimo ano do colegial e consideravelmente o melhor. Apesar de gostar de sair com os meninos. Eu era adepta e preferia ficar em casa. Enquanto a chuva caia lá fora e eu lia meus livros... Dificultavam as coisas. Só que por mais que eu detestasse admitir. Eu me tornava alguém diferente com ele. Eu havia me apaixonado de verdade. E eu não queria aceitar tal fato. Eu não queria aceitar que tinha me exposto de tal forma pra um garoto. Que até dezembro eu odiava. Ou dizia odiar. Tanto faz. O problema é que o ultimo ano do colegial tinha mudado algo dentro de mim. E contribuía pra isso. Em dezembro em uma resenha de uns amigos em comum que tínhamos. Brigamos, fizemos uma aposta. E acabou rolando um beijo. Vários na verdade, mas depois que as aulas voltaram, tudo dificultaram um pouco. Parecia que voltamos a ser o que éramos ano passado. E eu não conseguia odia-lo menos do que ano passado. Eu não conseguia disfarçar, até tentava. Mas vê-lo no mesmo grupo de amigos. Na mesma sala. Duas cadeiras atrás de mim na fileira do lado. Não facilitavam as coisas. Dava um nó na garganta ao vê-lo e querer tudo de volta. Março era o meu mês preferido. Apesar de deslizes e burrices. Eu não queria admitir, mas nosso “fim”. Era minha culpa. Quando temos um relacionamento que durou muito e esse relacionamento volta do passado. O ser humano (burro que só, coitado.) Tende a querer reviver o passado. E eu fiz isso. Deixando completamente de lado e consequentemente acabando com tudo que podíamos ter. Talvez pelo medo de não ter dado certo. Eu odiava o fato de não poder contar pra todo mundo. Eu odiava a ideia de minha melhor amiga não me dar mil conselhos. Ou poder simplesmente chorar com ela. Por ter perdido alguém que era importante pra mim.
Sabe a típica história de opostos se atraem? Eramos essa história. Uma adaptação de Roberta e Diego de RBD, ou de Luna e Mateo de Sou Luna. Ou indo um pouco mais longe, uma espécie de Noite de Reis da atualidade. Querido Shekeasper.
Nós brigávamos horrores, eu era de Libra e ele de Touro. Uma combinação que poderia dar totalmente certo. Se eu não fosse tão complicada e ele tão chato. Durante todas as aulas nós brigávamos. Discutíamos por motivos sem nexo. Ou simplesmente por um olhar. E sempre diziam pra nós dois.
No fundo de todo ódio, existia amor.
Bobagem! – Eu pensava –É claro. apaixonado por mim? Eu era diferente do tipo de garota que ele pegava. Não me julgo inferior. Só diferente. Mas quando eu percebi que podia existir uma ponta de verdade em tudo que me diziam, eu resolvi arriscar. Naquela maldita resenha e naquele maldito beijo.
- Tá pensando em quê?
- Nada.
- , o que tá pensando? – me cutucou novamente.
- Eu só estou lembrando de uma coisa.
- De quem?
- Ninguém caramba.
- Grossa.
- Te amo também. – Dei ombros e olhei pra ela que sentava atrás de mim. Alternando meu olhar pra , que percebeu e voltou a olhar para o celular. Ele alternava o olhar para o celular e ria de alguma coisa com Gabriel. Porque mesmo o sorriso tinha que ser lindo? Por que ele é lindo.
Merda!
Não acreditava que eu pensava aquilo.
- Eu não te pergunto mais nada hoje. – disse de novo.
- Porque?
- Porque você fica encarando um ponto fixo e esquece do mundo. Agora você estava olhando para o .
- Eu não estava olhando para o .
- Estava sim.
- O que estão falando do meu nome aí? – Ele questionou e fez uma careta engraçada.
- Até parece que eu ia falar do seu nome. – Impliquei e vi ele erguer a sobrancelha.
- Não estou falando com você, menina.
- Falou alto e foi pra eu escutar. Então. – Fiz um gesto de “fazer o que?” com as mãos.
- Tampe os ouvidos.
- Cala a boca.
- Vem calar.
- Que nojo. – Eu mostrei língua e me virei pra frente ao ver o professor entrar na sala.
- Vocês não crescem? – Ouvi Koenigkam perguntar.
- Eu to bem crescida.
- , eu sei o que vocês tiveram e para de fingir que odeia o .
- Eu odeio o .
- E eu não gosto da Ana. – Ele disse e eu gargalhei e percebi que era verdade, minha mentira de dizer que eu não gosto do , dava na mesma do Koenigkam dizer que não gostava da Ana; Merda.
O sinal bateu e eu peguei minha mochila e meu cartão de ônibus. Desci pra portaria me despedindo de e dos meninos e segui o meu caminho. Que consequentemente era quase o mesmo que o de . Ele estava caminhando um pouco atrás de mim e eu fiz o máximo pra acelerar o passo e evitar que ficássemos tão próximos. Eu pelo menos tentaria isso.
- Tá correndo de mim?
- Não.
- Tá me evitando...
- Não.
- Não foi uma pergunta.
- Não foi uma resposta.
- Não precisa fugir.
- Eu nunca pensei que precisasse.
- Vai ficar na defensiva?
- Com você? É o único jeito.
- Para de andar e me escuta.
- Estou escutando, não preciso parar pra isso.
- Você sente falta?
- Do que você tá falando?
- Não se faz de boba.
- Então não faz pergunta difícil. – Eu parei e fiz cara de emburrada. – Tá, eu sinto.
- Eu também sinto. E vê se para de fingir que não sente as coisas.
- Não estou fingindo nada, .
- Eu vejo seus olhares, eu vejo quando você sorri de algo que lembrou nós dois. Eu vejo quando você abre minha conversa e fica só digitando.
- Não se superestime.
- Eu sou realista, .
- Então fique com o seu realismo. – Respondi e sai andando o mais rápido que pude para meu ponto de ônibus. Fugir de e dos meus sentimentos por ele, era a meta.

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Três semanas tinham se passado depois da pseudo conversa que tivemos. Nós estávamos em uma festa no condomínio que ele morava. Eu tinha ido com uma prima e sem intuito algum de me aproximar dele. – Talvez. –
Minha prima estava conversando com melhor amigo dele e eu checava as mensagens em meu celular. Até que Lucas saiu de perto da minha prima, escutou algo que falou em seu ouvido e riu vindo em minha direção.
- quer conversar com você.
- Pra?
- Não se faz de boba, .
- Não se faça de idiota, Lucas.
- Vá logo conversar com ele. – Ele disse e saiu andando. Vi que saiu da porta do apartamento e caminhei atrás dele prestando atenção em quem estava próximo de lá.
- Me dê três bons motivos pra estar aqui conversando com você.
- Primeiro, você veio até aqui por livre e espontânea vontade. Então queria conversar comigo, porque quer resolver isso tanto quanto eu.
- Segundo?
- Você sente saudades. – Ergui a sobrancelha e reclamei do que ele disse em um resmungo.
- Terceiro? - Ele se aproximou soltando aquele sorriso que eu sabia que cada borboleta revivia no meu estômago quando eu o via. Escorou uma mão atrás da minha cabeça na parede e se abaixou. Eu sabia que não ia negar. Eu sabia o que ia acontecer aqui. Então eu simplesmente fiz como de costume e o beijei. Como se tivesse ao menos um ano que estivéssemos separados. Como se toda falta que eu senti dele pudesse ser demonstrada ali.
- Terceiro motivo é que se não quisesse, teria me parado. – Ele riu e me abraçou pela cintura.
- Convencido.
- O pai aqui é realista.
- Se poupe, . – Ele riu e voltou a me beijar.

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Dois meses em que eu e estávamos juntos novamente. Estava cada vez mais difícil de esconder as coisas de , que parecia perceber em cada detalhe que eu e ele tínhamos alguma coisa. Eu estava voltando do colégio com ela e Esteffany e nós engatávamos um papo completamente sem noção.
- Mas o tem cara que é bom de cama. – Esteffany comentou.
- Será? – disse como uma pergunta retórica. O problema é que Esteffany já sabia, então me encarou e gargalhou.
- Pergunta pra . Ela te conta. – Eu esperei um tapa ou alguma briga. Ou qualquer coisa. E encontrei a cara de espanto de .
- Você ‘ficou com o ?
- Eu namoro com o .
- Você o que? – Ela questionou e parou no meio da calçada.
- Namoro. – Eu ri nervosa ao ver seu semblante.
- Desde quando? Como? Hein?
- Vamos por partes. De verdade, desde dezembro do ano passado e com idas e voltas, namorando desde abril. Foi numa resenha. Hein, eu não te contei porque fiquei receosa.
- Eu quero saber de tudo.
- O seu tudo é o quê?
- Tudo?
- Aconteceu, amiga.
- Isso é tudo?
- E eu estou apaixonada?
- Eu nasci pra ver isso. – Ela riu e Esteffany gargalhava das reações.

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Oito meses haviam se passado desde nosso inicio de relacionamento. Oito meses que resultaram na nossa formatura. O dia em que eu estava mais feliz e mais surpresa em toda minha vida. O dia em que eu morri de medo de perder tudo que construí ali. O dia em que eu tive medo de perder .
- Você mal conversou comigo hoje. – Ele me abraçou por trás com a beca que vestia e falou em meu ouvido.
- Eu não tô legal.
- O que aconteceu?
- Nada demais
- ...
- Não quero mentir pra você.
- Mas...?
- Mas não quero falar e parecer uma boba.
- Nunca vai parecer uma boba.
- Eu tô com medo de perder você.
Ele ia me responder mais o chefe de cerimônia nos chamou e fez com que nos posicionássemos.
Eu entraria com e isso fez com que nossa conversa ficasse pra depois...

>>>

Rubens Mendes, suba pra receber seu certificado de formada. – Eu caminhei respirando fundo por ouvir aquela frase. Eu finalmente tinha concluído uma fase importante da minha vida. Eu finalmente tinha concluído o que eu mais almejei durante muito tempo.
- As homenagens de familiares e amigos podem começar. – Meu pai me entregou meu anel de formatura e vi sair do seu lugar e caminhar até mim com um buque de flores cor de rosa. E estranhei sua atitude. Continuei no meu lugar e vi que ele começou a falar.
- Eu tinha preparado um longo e tedioso texto. Mas pra sorte de vocês, essa mocinha bagunçou minha vida. Meu texto e todos meus planos. Ela é uma menina tímida e calada e prefere ficar em casa. Gosta de ler antes de dormir, o autor preferido é Machado de Assis. Eu sou o completo contrario. Gosto de baralho, barzinhos e sou o mais desligado dessa relação. Ela curte ver essas novelas fofas. E eu vejo, no máximo futebol e já desligo a tela. Ela é de libra e eu sou de touro. E agora devem estar se perguntando o que temos em comum. O amor de um pelo outro. Eu vim dizer pra vocês que foi uma ironia, porque somos a prova viva que os opostos se atraem quando existe amor. E no fundo eu sabia que essa tal menina, aos olhos de outro cara não ia ter valor e que tinha que ser eu, aqui e agora. Dizendo pra ela que ela é a pessoa mais importante do mundo pra mim. E que eu a amo.
E o encarando ali eu corri até ele o abraçando. E tive certeza que nem minhas inseguranças. Nem a vida adulta. Seriam capazes de me separar dele.
- Meu coração te escolheu. – Sussurrei e finalmente o beijei.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.



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