Capítulo Único
Sentada em sua cama de casal, sentia suas mãos tremerem enquanto uma enxurrada de lembranças tomavam conta de sua mente.
Como em um filme, as cenas iam passando, lhe causando alguns sorrisos saudosos, seguidos por lágrimas de pesar e então suas mãos se cerrando em punho porque a raiva era o que prevalecia.
Sete anos.
Sete anos que haviam sido uma mentira.
Como ela havia sido tão cega? Estúpida! Idiota!
era o grande amor de sua vida, desde o começo ela se imaginava envelhecendo ao lado dele e desde o começo ele nunca havia mudado.
Um homem lixo sempre será um homem lixo.
Amassou uma das fotos da caixa onde costumavam guardar recordações, então mordeu os lábios, se sentindo indignada por estar chorando por ele. não merecia suas lágrimas. Ela se recusaria a se deixar abater.
Respirou fundo, secando suas bochechas e fechando a caixa. Colocou-a de volta em seu lugar e seguiu para o banheiro, a fim de tomar um banho e colocar em prática uma ideia que acabara de lhe surgir.
...
fechou a braguilha da calça e ajeitou a camisa por dentro dela antes de também tratar de fechar o cinto.
Ao lado de seu paletó atirado no chão, estava uma peça cor-de-rosa, com uns detalhes na renda que ele não tinha notado antes porque estava com pressa demais para ver o que ela cobria.
Com um sorriso de canto, ele pegou a calcinha e entregou para a morena à sua frente, que já tinha colocado o vestido e ajeitava seus cabelos olhando seu reflexo pelo celular.
— Você esqueceu isso — comentou, vendo a mulher encarar a peça e então sorrir de volta para ele.
— Será que esqueci? — ela riu, então sem pegar a pessoa de volta piscou para ele e saiu da sala de .
Ele balançou a cabeça em negação, voltou a encarar a peça e dando de ombros a atirou no lixo.
Se ele ficasse com cada calcinha que deixavam para ele, teria uma coleção bastante variada delas.
queria ter tomado jeito. Ele até tentou assim que se casou com , mas simplesmente não conseguia ser fiel. Ele não tinha nascido para ser de uma mulher só.
Às vezes se pegava pensando que aquilo não era justo com sua esposa. Ele sabia que ela era fiel é totalmente devotada a ele e a amava por isso. O melhor seria que ele pedisse o divórcio para que ela conhecesse alguém capaz de honrá-la, mas não conseguia. Ele era egoísta e não queria ver a esposa com outro. Fora que ele sabia que um divórcio destruiria sua mulher.
Juntou seu paletó do chão e o vestiu, pensando em ir ao andar dos fumantes pra alimentar seu vício. Apalpou os bolsos e sorriu satisfeito ao sentir a carteira de cigarros ali.
— Volto num instante, Lola — passou por sua secretária e seguiu para o elevador.
Quando entrou na área aberta, cumprimentou alguns colegas fumantes e seguiu para um canto onde pudesse ficar sozinho e relaxar. Se tinha uma coisa que odiava era que ficassem tagarelando com ele enquanto fumava.
Estava na metade do cigarro quando sentiu seu celular vibrar no bolso. Era uma ligação de sua esposa.
— Oi, meu bem — atendeu, com a voz animada, embora estivesse surpreso por ela ligar naquele horário.
— Oi, querido. Como estão as coisas aí na empresa? — a voz dela soava doce.
— Bem corridas, amor. Está tudo bem? — questionou, depois de mentir descaradamente. Só se transar com a gostosa do jurídico contasse.
— Tudo tranquilo. Só te liguei porque quero saber a que horas você sai hoje.
— Devo sair lá pelas 18 horas. Algum motivo em especial? — estava curioso.
— Talvez eu esteja preparando uma surpresa para você — ele sorriu maliciosamente, mesmo que ela não pudesse vê-lo.
— Que surpresa? — sua voz soou animada. Ele gostava de ser surpreendido, não ia negar.
— Você sabe que se eu contar, deixa de ser surpresa. Só me encontre no Grand Palace Hotel, às 20 horas. — o peito dele se agitou em expectativa.
— Mal posso esperar então — respondeu, olhando em seu relógio e verificando que ainda era quatro e vinte e três da tarde. O tempo ia passar devagar só para lhe deixar mais ansioso.
— Nos vemos lá, meu bem. Um beijo.
— Outro pra você, meu anjo. Te amo.
então desligou sem respondê-lo, mas nem se deu conta disso.
...
Quando chegou diante do quarto reservado para eles no Grand Palace, encontrou a porta destrancada, como havia lhe dito que estaria. Então ele a abriu e adentrou o ambiente, notando algumas rosas espalhadas pelo chão, o que lhe fez erguer a sobrancelha e esboçar um sorriso.
— Gostou do quarto? — escutou a voz da esposa, então ergueu seu olhar até ela e a encontrando com um incrível vestido vermelho, ressaltando seus cabelos cor de fogo.
Lembrava da primeira vez em que havia lhe visto e instantaneamente se apaixonado. era a mulher mais linda que ele já havia visto, sem mentira.
— É nosso aniversário de casamento? — tentou adivinhar o motivo daquilo tudo. soltou uma risada baixa.
— Não, bobinho. Quis fazer algo pra acender um pouquinho nossa relação. Andamos tão ocupados o tempo todo que mal temos tempo para nós ultimamente, não acha? — e, como uma gata, ela foi se aproximando do marido.
— Acho. Ô se acho — ele concordou com ela, nem pensando em dizer o contrário porque pelo jeito a coisa ia ficar boa entre os dois.
— Então. — ficou tão próxima dele que os corpos dos dois estavam a ponto de se tocarem. — Eu pedi um jantarzinho legal para nós dois. Comida tailandesa, a sua...
— Minha favorita. Mulher, eu não mereço você — disse, quando ela entrelaçou sua mão na dele e o puxou em direção à mesa, onde o jantar já estava servido.
Não, você não merece. - Foi o que pensou.
Antes que ela sentasse ao seu lugar, ele fez sinal para que ela parasse e foi até a esposa para puxar a cadeira para ela. Já que ela havia feito tudo aquilo, não lhe custava um pouco de cavalheirismo.
reprimia seus impulsos a cada momento. Ela queria socar e pulverizar cada ossinho daquele canalha. Queria fazê-lo engasgar com a própria língua mentirosa, mas não perderia a classe de maneira nenhuma. A hora certa chegaria logo, logo.
— Obrigada, cavalheiro — sentou-se e observou o quase ex marido se aconchegar diante dele.
fez uma careta, mas ela não se deu o trabalho de questionar qual era o problema. Ele logo ia desembuchar.
— Nunca gostei de sentar à sua frente, sabia? E se eu quiser te abraçar? — em sete anos ele nunca tinha pedido para sentar ao lado dela, nem nos primeiros encontros.
— Ah, meu amor. Mas eu faço questão de olhar em seus olhos. Isso é muito melhor de se fazer quando estamos de frente um para o outro. Você terá bastante tempo e oportunidade de me abraçar quando acabarmos o nosso jantar — piscou para ele, insinuando que ele poderia fazer muito mais do que isso, tipo ir para o inferno.
— Gosto disso — uma expressão maliciosa dominou suas feições.
, como a maravilhosa esposa que sempre foi, já havia deixado os pratos servidos. Caso quisesse comer mais ela colocaria mais comida para ele, mas sabia que ele não era de repetir.
Esperou que o homem desse a primeira garfada, observando a expressão dele, franzindo o cenho por alguns segundos e depois olhando para ela, que só então se pôs a comer.
— De onde foi que você pediu essa comida mesmo? — questionou, fazendo ela erguer uma sobrancelha.
— Do Zephyr, querido. Aquele que você adora — respondeu, bebericando um pouco de vinho.
— Eu logo imaginei — abriu um sorriso de prazer, voltando a se deliciar com a comida.
se limitou a continuar comendo também e não pronunciou nenhuma palavra até que ele resolveu puxar assunto.
— E aquele contrato que você estava prestes a fechar com a Golden? — questionou sobre mais uma parceria de sua agência de modelos.
— Está fechadíssimo, como era de se esperar. Eu não jogo parar perder, você me conhece — respondeu, simplesmente. soltou uma risada em concordância.
— Essa é a minha mulher — em outros tempos, ela se derreteria por ouvir aquilo, mas agora sentia vontade era de cuspir na cara dele. — Você sabe que não precisaria da sua empresa se decidisse vendê-la ou qualquer coisa do tipo, não é? Temos o suficiente pra nós dois só com a minha.
Como você ousa?
— Você diz vender tudo e ficar só enfiada dentro de casa, meu bem? Acho que está me confundindo com alguém. Desde quando eu gosto de viver nas custas de alguém? Ainda mais as suas custas? — ela soou indignada, o que devia ser esperado por ele. Não era a primeira vez que sugeria aquilo, o que fazia ela sempre se questionar o motivo.
— Relaxa, meu amor. Eu só quero o melhor para você — ele continuava rindo, o que fez ela precisar de mais determinação para conter sua raiva.
— E o melhor para mim é trabalhar e ter meu próprio negócio, . Você sabe disso, mas acaba sempre esquecendo e eu me pergunto o porquê. — olhou para ele desconfiada. — Mas vamos esquecer isso, tudo bem? E apreciar nosso momento romântico.
— Você tem razão. Nada a ver falar de trabalho agora, não é? — ele concordou com ela, mas no fundo sabia que só tinha feito aquilo para agradar. Se aquilo continuasse, voltaria a tocar naquele assunto.
Todo o seu casamento foi uma tremenda perda de tempo, sendo bem sincera.
Uma boa parte do jantar se seguiu em silêncio. tentou puxar mais assunto, mas não conseguia responder de forma que uma conversa se instalasse e quando ela tomava iniciativa acontecia o mesmo com ele.
Os dois pareciam estranhos e uma análise bem rápida daquela situação fez com que a mulher se desse conta de que fazia tempo que eles não tinham uma conversa que não tivesse relação com o trabalho.
Se pegou encarando discretamente, analisando os traços do rosto do homem. Ela ainda o amava muito, seu coração sangrava por todas as coisas que ele havia lhe feito, mas ela o amava. E por mais que ela quisesse dar um basta naquela relação, a ideia de não estar mais com o marido lhe deixava quase sem ar.
Mas era forte, desde jovem, quando era , ela havia aprendido a enfrentar as adversidades de cabeça erguida e era isso que ela faria agora. Se ficasse difícil de respirar, ela seria sua própria máscara de oxigênio.
Quando o jantar acabou ela ergueu o olhar de seu prato e pegou o marido a encarando de forma curiosa. estava ansioso pelo que viria.
— Venha comigo, meu bem. — levantou e o chamou com o dedo. Como um cachorrinho bem treinado, ele a seguiu até a cama.
Se aproximou mais do homem de uma maneira sensual, levando sua mão até o peitoral dele e passando suas unhas compridas por ali antes de empurrá-lo de forma pouco delicada.
— Espere aqui — ela pediu, virando de costas para ele e caminhando até o banheiro. Sentiu o olhar de queimando sobre si e fez questão de rebolar a cada passo que dava.
Dentro do banheiro, com a porta fechada, ela pegou um sobretudo que havia deixado reservado bem ali e tratou de vesti-lo por cima do vestido, de forma que desse a impressão de que por baixo dele ela estivesse completamente nua. Olhou seu reflexo no espelho e sorriu com a maquiagem impecável, colocando as mãos nos bolsos do sobretudo e alargando o sorriso ao encontrar o que procurava.
Fez mais uma horinha ali no banheiro, só para disfarçar, então tornou a abrir a porta, encontrando um totalmente afoito.
Quando os olhos dele encontraram a mulher coberta apenas por um sobretudo, seu corpo imediatamente reagiu. Ele lembrava muito bem como as curvas de eram deliciosas e a ideia de percorrê-las com seus lábios lhe deixava ainda mais aceso.
fez menção de se levantar da cama e caminhar até ela, mas ela o impediu erguendo um dedo e sinalizando um não.
— Quietinho aí, mocinho. Hoje eu quero fazer uma brincadeirinha com você — disse, com uma voz sedutora.
— Ah é? E qual seria a sua brincadeira, mocinha? — ele entrou no jogo, passando a língua pelos lábios.
— Eu só tiro o que você quer, depois que você tirar toda a sua roupa para mim — uma expressão travessa tomou conta das feições dela.
Retribuindo seu olhar, ficou de pé e tratou logo de se despir, não ligando muito se estava sendo apressado demais. Ele queria e nada mais importava naquele momento.
— Bom menino — ela elogiou, então puxando algemas de dentro de um dos bolsos, o que fez o marido erguer uma sobrancelha em surpresa.
— Vai me prender, meu amor? — questionou, provocando-a.
— Te prender? Não, meu bem. Eu vou te algemar nessa cama e te ensinar uma lição — ela respondeu, sendo totalmente sincera, mas ele não captou o que ela realmente queria dizer. Levou aquilo na malícia, como ela esperava.
— Hmm, isso eu quero ver — se aproximou lentamente dele.
— Shhh, quietinho — ela o repreendeu. — Deita na cama e me dá um de seus pulsos. — ordenou e ele atendeu prontamente. Ela enroscou um das algemas ali, prendendo na ponta da cabeceira da cama e sem aviso subiu em cima do marido, sem encostar no colo dele, apenas para provocá-lo mais.
— O outro — mandou e logo o outro punho de estava atado à cama.
O homem nem viu de onde surgiu a venda, mas no minuto seguinte está já envolvia seus olhos, poupando-lhe completamente a visão.
A sensação de não poder enxergar e ainda sentir a esposa em cima dele o deixou mais excitado, então ele mexeu os punhos, esquecendo por alguns segundos que estava algemado e tentando tocá-la. notou isso e sorriu maldosa antes de sair de cima de .
O homem sentiu seu corpo se arrepiar, prevendo que ela viria com mais alguma novidade e não errou. A mulher tocou então seu abdômen e começou a passar algo um tanto melado em sua pele, talvez, ele não conseguia definir o que era, mas algo que lhe dizia que ela iria limpar com a língua depois.
estava se deliciando com a cena e ansiosa para o que aconteceria a seguir.
Quando terminou sua obra de arte, ela caminhou até seu celular e o pegou pra registrar a cena com umas fotos, então tirou seu sobretudo, voltando a ficar de vestido.
estranhou a mulher não voltar a tocá-lo e franziu o cenho.
— ? — chamou, ficando receoso.
Ela não respondeu, estava adorando assisti-lo.
Voltou-se então para as roupas dele atiradas pelo chão e foi recolhendo todas as peças. Com gosto, ela então as levou até a janela aberta do quarto e as atirou ao relento, desejando que os carros passassem bem por cima para acabar com tudo de uma vez. Junto às roupas, foram as chaves das algemas.
— , isso não tem graça — escutou a voz do homem e até revirou o olhos.
Calmamente, ela voltou até a cama e puxou a venda dos olhos de . Posicionou mais uma vez a câmera do celular e bateu uma foto. A reação dela era impagável.
Quando olhou para e percebeu que ela ainda estava de vestido, o alerta tocou em sua mente.
— O que está fazendo? — exigiu saber, mas a mulher o ignorou.
Ele mexeu os punhos, tentando se soltar em vão e foi nesse movimento que ele se inclinou e viu o que a esposa havia passado em seu corpo.
Era caneta permanente e sentindo o rosto pegar fogo ele conseguiu ler o que ela tinha escrito.
Pinto pequeno.
— Que porra é essa? Isso não tem graça! — gritou, olhando enraivecido para ela e tentando de novo se soltar.
— Você sabe bem o que é isso, meu amor — retrucou, de forma irônica,
— Você é louca. Me solta, caralho! — a resposta dela foi uma risada diabólica.
— Eu não vou te soltar não, seu canalha. — e sem medo dele ela chegou mais perto, olhando fundo em seus olhos. — Sabe, , eu sinto pena de todas as mulheres onde você enfiou esse seu pau pequeno e que não tem a menor capacidade de causar um orgasmo.
— Sua desgraçada, filha da puta! Você merece ser uma chifruda da porra! — ele se exaltou e começou a xingar bem alto, torcendo que alguém lhe soltasse.
Calmamente, tirou mais umas fotos e fez vídeos dele a xingando só para rir depois.
— Qual é! Me solta!
— Isso daqui é para aprender a nunca mais enganar uma mulher. Ainda mais uma como eu.
Então ela virou as costas, ignorando todas as palavras e xingamentos dele.
Ouviu gritos ainda mais altos quando saiu do quarto, mas não deu a mínima, não cabia mais a ela.
Trocou um sorriso cúmplice com uma camareira daquele andar e seguiu feliz da vida para casa.
Enquanto dirigia, lembrou do laxante que tinha colocado na comida dele e desejava mesmo que encontrassem ele pelado, algemado na cama e todo cagado.
Gargalhou alto. Como era doce a liberdade. Agora ela podia voltar a sonhar com o que bem entendia.
...
Fazia um dia bem quente de verão e estava tranquila lendo mais um livro do John Green sentada no parque. Particularmente, gostava da escrita dele.
Estava bem imersa na leitura, mas, mesmo assim, uma pessoa de repente se sentou ao lado dela no banco.
Ela olhou de relance e percebeu que era um homem tão bonito que ela sentiu seu fôlego faltar.
Notando o olhar dela, ele a olhou de volta, então um sorriso brotou no canto dos lábios dela.
No final das contas, ela estava agora agradecendo pelos anos desperdiçados.
Como em um filme, as cenas iam passando, lhe causando alguns sorrisos saudosos, seguidos por lágrimas de pesar e então suas mãos se cerrando em punho porque a raiva era o que prevalecia.
Sete anos.
Sete anos que haviam sido uma mentira.
Como ela havia sido tão cega? Estúpida! Idiota!
era o grande amor de sua vida, desde o começo ela se imaginava envelhecendo ao lado dele e desde o começo ele nunca havia mudado.
Um homem lixo sempre será um homem lixo.
Amassou uma das fotos da caixa onde costumavam guardar recordações, então mordeu os lábios, se sentindo indignada por estar chorando por ele. não merecia suas lágrimas. Ela se recusaria a se deixar abater.
Respirou fundo, secando suas bochechas e fechando a caixa. Colocou-a de volta em seu lugar e seguiu para o banheiro, a fim de tomar um banho e colocar em prática uma ideia que acabara de lhe surgir.
Ao lado de seu paletó atirado no chão, estava uma peça cor-de-rosa, com uns detalhes na renda que ele não tinha notado antes porque estava com pressa demais para ver o que ela cobria.
Com um sorriso de canto, ele pegou a calcinha e entregou para a morena à sua frente, que já tinha colocado o vestido e ajeitava seus cabelos olhando seu reflexo pelo celular.
— Você esqueceu isso — comentou, vendo a mulher encarar a peça e então sorrir de volta para ele.
— Será que esqueci? — ela riu, então sem pegar a pessoa de volta piscou para ele e saiu da sala de .
Ele balançou a cabeça em negação, voltou a encarar a peça e dando de ombros a atirou no lixo.
Se ele ficasse com cada calcinha que deixavam para ele, teria uma coleção bastante variada delas.
queria ter tomado jeito. Ele até tentou assim que se casou com , mas simplesmente não conseguia ser fiel. Ele não tinha nascido para ser de uma mulher só.
Às vezes se pegava pensando que aquilo não era justo com sua esposa. Ele sabia que ela era fiel é totalmente devotada a ele e a amava por isso. O melhor seria que ele pedisse o divórcio para que ela conhecesse alguém capaz de honrá-la, mas não conseguia. Ele era egoísta e não queria ver a esposa com outro. Fora que ele sabia que um divórcio destruiria sua mulher.
Juntou seu paletó do chão e o vestiu, pensando em ir ao andar dos fumantes pra alimentar seu vício. Apalpou os bolsos e sorriu satisfeito ao sentir a carteira de cigarros ali.
— Volto num instante, Lola — passou por sua secretária e seguiu para o elevador.
Quando entrou na área aberta, cumprimentou alguns colegas fumantes e seguiu para um canto onde pudesse ficar sozinho e relaxar. Se tinha uma coisa que odiava era que ficassem tagarelando com ele enquanto fumava.
Estava na metade do cigarro quando sentiu seu celular vibrar no bolso. Era uma ligação de sua esposa.
— Oi, meu bem — atendeu, com a voz animada, embora estivesse surpreso por ela ligar naquele horário.
— Oi, querido. Como estão as coisas aí na empresa? — a voz dela soava doce.
— Bem corridas, amor. Está tudo bem? — questionou, depois de mentir descaradamente. Só se transar com a gostosa do jurídico contasse.
— Tudo tranquilo. Só te liguei porque quero saber a que horas você sai hoje.
— Devo sair lá pelas 18 horas. Algum motivo em especial? — estava curioso.
— Talvez eu esteja preparando uma surpresa para você — ele sorriu maliciosamente, mesmo que ela não pudesse vê-lo.
— Que surpresa? — sua voz soou animada. Ele gostava de ser surpreendido, não ia negar.
— Você sabe que se eu contar, deixa de ser surpresa. Só me encontre no Grand Palace Hotel, às 20 horas. — o peito dele se agitou em expectativa.
— Mal posso esperar então — respondeu, olhando em seu relógio e verificando que ainda era quatro e vinte e três da tarde. O tempo ia passar devagar só para lhe deixar mais ansioso.
— Nos vemos lá, meu bem. Um beijo.
— Outro pra você, meu anjo. Te amo.
então desligou sem respondê-lo, mas nem se deu conta disso.
— Gostou do quarto? — escutou a voz da esposa, então ergueu seu olhar até ela e a encontrando com um incrível vestido vermelho, ressaltando seus cabelos cor de fogo.
Lembrava da primeira vez em que havia lhe visto e instantaneamente se apaixonado. era a mulher mais linda que ele já havia visto, sem mentira.
— É nosso aniversário de casamento? — tentou adivinhar o motivo daquilo tudo. soltou uma risada baixa.
— Não, bobinho. Quis fazer algo pra acender um pouquinho nossa relação. Andamos tão ocupados o tempo todo que mal temos tempo para nós ultimamente, não acha? — e, como uma gata, ela foi se aproximando do marido.
— Acho. Ô se acho — ele concordou com ela, nem pensando em dizer o contrário porque pelo jeito a coisa ia ficar boa entre os dois.
— Então. — ficou tão próxima dele que os corpos dos dois estavam a ponto de se tocarem. — Eu pedi um jantarzinho legal para nós dois. Comida tailandesa, a sua...
— Minha favorita. Mulher, eu não mereço você — disse, quando ela entrelaçou sua mão na dele e o puxou em direção à mesa, onde o jantar já estava servido.
Não, você não merece. - Foi o que pensou.
Antes que ela sentasse ao seu lugar, ele fez sinal para que ela parasse e foi até a esposa para puxar a cadeira para ela. Já que ela havia feito tudo aquilo, não lhe custava um pouco de cavalheirismo.
reprimia seus impulsos a cada momento. Ela queria socar e pulverizar cada ossinho daquele canalha. Queria fazê-lo engasgar com a própria língua mentirosa, mas não perderia a classe de maneira nenhuma. A hora certa chegaria logo, logo.
— Obrigada, cavalheiro — sentou-se e observou o quase ex marido se aconchegar diante dele.
fez uma careta, mas ela não se deu o trabalho de questionar qual era o problema. Ele logo ia desembuchar.
— Nunca gostei de sentar à sua frente, sabia? E se eu quiser te abraçar? — em sete anos ele nunca tinha pedido para sentar ao lado dela, nem nos primeiros encontros.
— Ah, meu amor. Mas eu faço questão de olhar em seus olhos. Isso é muito melhor de se fazer quando estamos de frente um para o outro. Você terá bastante tempo e oportunidade de me abraçar quando acabarmos o nosso jantar — piscou para ele, insinuando que ele poderia fazer muito mais do que isso, tipo ir para o inferno.
— Gosto disso — uma expressão maliciosa dominou suas feições.
, como a maravilhosa esposa que sempre foi, já havia deixado os pratos servidos. Caso quisesse comer mais ela colocaria mais comida para ele, mas sabia que ele não era de repetir.
Esperou que o homem desse a primeira garfada, observando a expressão dele, franzindo o cenho por alguns segundos e depois olhando para ela, que só então se pôs a comer.
— De onde foi que você pediu essa comida mesmo? — questionou, fazendo ela erguer uma sobrancelha.
— Do Zephyr, querido. Aquele que você adora — respondeu, bebericando um pouco de vinho.
— Eu logo imaginei — abriu um sorriso de prazer, voltando a se deliciar com a comida.
se limitou a continuar comendo também e não pronunciou nenhuma palavra até que ele resolveu puxar assunto.
— E aquele contrato que você estava prestes a fechar com a Golden? — questionou sobre mais uma parceria de sua agência de modelos.
— Está fechadíssimo, como era de se esperar. Eu não jogo parar perder, você me conhece — respondeu, simplesmente. soltou uma risada em concordância.
— Essa é a minha mulher — em outros tempos, ela se derreteria por ouvir aquilo, mas agora sentia vontade era de cuspir na cara dele. — Você sabe que não precisaria da sua empresa se decidisse vendê-la ou qualquer coisa do tipo, não é? Temos o suficiente pra nós dois só com a minha.
Como você ousa?
— Você diz vender tudo e ficar só enfiada dentro de casa, meu bem? Acho que está me confundindo com alguém. Desde quando eu gosto de viver nas custas de alguém? Ainda mais as suas custas? — ela soou indignada, o que devia ser esperado por ele. Não era a primeira vez que sugeria aquilo, o que fazia ela sempre se questionar o motivo.
— Relaxa, meu amor. Eu só quero o melhor para você — ele continuava rindo, o que fez ela precisar de mais determinação para conter sua raiva.
— E o melhor para mim é trabalhar e ter meu próprio negócio, . Você sabe disso, mas acaba sempre esquecendo e eu me pergunto o porquê. — olhou para ele desconfiada. — Mas vamos esquecer isso, tudo bem? E apreciar nosso momento romântico.
— Você tem razão. Nada a ver falar de trabalho agora, não é? — ele concordou com ela, mas no fundo sabia que só tinha feito aquilo para agradar. Se aquilo continuasse, voltaria a tocar naquele assunto.
Todo o seu casamento foi uma tremenda perda de tempo, sendo bem sincera.
Uma boa parte do jantar se seguiu em silêncio. tentou puxar mais assunto, mas não conseguia responder de forma que uma conversa se instalasse e quando ela tomava iniciativa acontecia o mesmo com ele.
Os dois pareciam estranhos e uma análise bem rápida daquela situação fez com que a mulher se desse conta de que fazia tempo que eles não tinham uma conversa que não tivesse relação com o trabalho.
Se pegou encarando discretamente, analisando os traços do rosto do homem. Ela ainda o amava muito, seu coração sangrava por todas as coisas que ele havia lhe feito, mas ela o amava. E por mais que ela quisesse dar um basta naquela relação, a ideia de não estar mais com o marido lhe deixava quase sem ar.
Mas era forte, desde jovem, quando era , ela havia aprendido a enfrentar as adversidades de cabeça erguida e era isso que ela faria agora. Se ficasse difícil de respirar, ela seria sua própria máscara de oxigênio.
Quando o jantar acabou ela ergueu o olhar de seu prato e pegou o marido a encarando de forma curiosa. estava ansioso pelo que viria.
— Venha comigo, meu bem. — levantou e o chamou com o dedo. Como um cachorrinho bem treinado, ele a seguiu até a cama.
Se aproximou mais do homem de uma maneira sensual, levando sua mão até o peitoral dele e passando suas unhas compridas por ali antes de empurrá-lo de forma pouco delicada.
— Espere aqui — ela pediu, virando de costas para ele e caminhando até o banheiro. Sentiu o olhar de queimando sobre si e fez questão de rebolar a cada passo que dava.
Dentro do banheiro, com a porta fechada, ela pegou um sobretudo que havia deixado reservado bem ali e tratou de vesti-lo por cima do vestido, de forma que desse a impressão de que por baixo dele ela estivesse completamente nua. Olhou seu reflexo no espelho e sorriu com a maquiagem impecável, colocando as mãos nos bolsos do sobretudo e alargando o sorriso ao encontrar o que procurava.
Fez mais uma horinha ali no banheiro, só para disfarçar, então tornou a abrir a porta, encontrando um totalmente afoito.
Quando os olhos dele encontraram a mulher coberta apenas por um sobretudo, seu corpo imediatamente reagiu. Ele lembrava muito bem como as curvas de eram deliciosas e a ideia de percorrê-las com seus lábios lhe deixava ainda mais aceso.
fez menção de se levantar da cama e caminhar até ela, mas ela o impediu erguendo um dedo e sinalizando um não.
— Quietinho aí, mocinho. Hoje eu quero fazer uma brincadeirinha com você — disse, com uma voz sedutora.
— Ah é? E qual seria a sua brincadeira, mocinha? — ele entrou no jogo, passando a língua pelos lábios.
— Eu só tiro o que você quer, depois que você tirar toda a sua roupa para mim — uma expressão travessa tomou conta das feições dela.
Retribuindo seu olhar, ficou de pé e tratou logo de se despir, não ligando muito se estava sendo apressado demais. Ele queria e nada mais importava naquele momento.
— Bom menino — ela elogiou, então puxando algemas de dentro de um dos bolsos, o que fez o marido erguer uma sobrancelha em surpresa.
— Vai me prender, meu amor? — questionou, provocando-a.
— Te prender? Não, meu bem. Eu vou te algemar nessa cama e te ensinar uma lição — ela respondeu, sendo totalmente sincera, mas ele não captou o que ela realmente queria dizer. Levou aquilo na malícia, como ela esperava.
— Hmm, isso eu quero ver — se aproximou lentamente dele.
— Shhh, quietinho — ela o repreendeu. — Deita na cama e me dá um de seus pulsos. — ordenou e ele atendeu prontamente. Ela enroscou um das algemas ali, prendendo na ponta da cabeceira da cama e sem aviso subiu em cima do marido, sem encostar no colo dele, apenas para provocá-lo mais.
— O outro — mandou e logo o outro punho de estava atado à cama.
O homem nem viu de onde surgiu a venda, mas no minuto seguinte está já envolvia seus olhos, poupando-lhe completamente a visão.
A sensação de não poder enxergar e ainda sentir a esposa em cima dele o deixou mais excitado, então ele mexeu os punhos, esquecendo por alguns segundos que estava algemado e tentando tocá-la. notou isso e sorriu maldosa antes de sair de cima de .
O homem sentiu seu corpo se arrepiar, prevendo que ela viria com mais alguma novidade e não errou. A mulher tocou então seu abdômen e começou a passar algo um tanto melado em sua pele, talvez, ele não conseguia definir o que era, mas algo que lhe dizia que ela iria limpar com a língua depois.
estava se deliciando com a cena e ansiosa para o que aconteceria a seguir.
Quando terminou sua obra de arte, ela caminhou até seu celular e o pegou pra registrar a cena com umas fotos, então tirou seu sobretudo, voltando a ficar de vestido.
estranhou a mulher não voltar a tocá-lo e franziu o cenho.
— ? — chamou, ficando receoso.
Ela não respondeu, estava adorando assisti-lo.
Voltou-se então para as roupas dele atiradas pelo chão e foi recolhendo todas as peças. Com gosto, ela então as levou até a janela aberta do quarto e as atirou ao relento, desejando que os carros passassem bem por cima para acabar com tudo de uma vez. Junto às roupas, foram as chaves das algemas.
— , isso não tem graça — escutou a voz do homem e até revirou o olhos.
Calmamente, ela voltou até a cama e puxou a venda dos olhos de . Posicionou mais uma vez a câmera do celular e bateu uma foto. A reação dela era impagável.
Quando olhou para e percebeu que ela ainda estava de vestido, o alerta tocou em sua mente.
— O que está fazendo? — exigiu saber, mas a mulher o ignorou.
Ele mexeu os punhos, tentando se soltar em vão e foi nesse movimento que ele se inclinou e viu o que a esposa havia passado em seu corpo.
Era caneta permanente e sentindo o rosto pegar fogo ele conseguiu ler o que ela tinha escrito.
Pinto pequeno.
— Que porra é essa? Isso não tem graça! — gritou, olhando enraivecido para ela e tentando de novo se soltar.
— Você sabe bem o que é isso, meu amor — retrucou, de forma irônica,
— Você é louca. Me solta, caralho! — a resposta dela foi uma risada diabólica.
— Eu não vou te soltar não, seu canalha. — e sem medo dele ela chegou mais perto, olhando fundo em seus olhos. — Sabe, , eu sinto pena de todas as mulheres onde você enfiou esse seu pau pequeno e que não tem a menor capacidade de causar um orgasmo.
— Sua desgraçada, filha da puta! Você merece ser uma chifruda da porra! — ele se exaltou e começou a xingar bem alto, torcendo que alguém lhe soltasse.
Calmamente, tirou mais umas fotos e fez vídeos dele a xingando só para rir depois.
— Qual é! Me solta!
— Isso daqui é para aprender a nunca mais enganar uma mulher. Ainda mais uma como eu.
Então ela virou as costas, ignorando todas as palavras e xingamentos dele.
Ouviu gritos ainda mais altos quando saiu do quarto, mas não deu a mínima, não cabia mais a ela.
Trocou um sorriso cúmplice com uma camareira daquele andar e seguiu feliz da vida para casa.
Enquanto dirigia, lembrou do laxante que tinha colocado na comida dele e desejava mesmo que encontrassem ele pelado, algemado na cama e todo cagado.
Gargalhou alto. Como era doce a liberdade. Agora ela podia voltar a sonhar com o que bem entendia.
Estava bem imersa na leitura, mas, mesmo assim, uma pessoa de repente se sentou ao lado dela no banco.
Ela olhou de relance e percebeu que era um homem tão bonito que ela sentiu seu fôlego faltar.
Notando o olhar dela, ele a olhou de volta, então um sorriso brotou no canto dos lábios dela.
No final das contas, ela estava agora agradecendo pelos anos desperdiçados.
FIM.
Nota da autora: Olá, anjo! Gostou da história? Então não se esqueça de comentar, vai me deixar muito feliz.
Beijinhos e até mais!
Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Beijinhos e até mais!