Capítulo Único
...Já era madrugada quando a polícia recebeu a denúncia. - Disse o âncora do jornal, relatando a notícia que mais havia sido comentada durante aquele dia. Essa era a atualização mais completa dos jornais até agora. - A gangue formada por dois homens e uma mulher, foi surpreendida ao atacar uma joalheria. Nikolai Ives e Antoniê DeLare estão foragidos, enquanto ; única mulher da gangue, aguarda sob custódia e se nega a dar informações sobre o paradeiro das jóias e dos comparsas...
Ele.
Respirei fundo e me pus a prestar atenção na tevê quando ouvi aquele nome. Estava, sem prestar realmente atenção, escutando o jornal apenas por estar buscando algo que pudesse me livrar da solidão que me encontrava todas as noites naquele apartamento. Mas agora, estava atônito observando-o, mesmo que o apresentador já estivesse puxando uma outra notícia. Eu simplesmente não acreditei quando ouvi e precisei respirar um pouco mais. Então eu respirei bem mais fundo seguidamente. Não podia ser real.
Não era.
Aquela notícia só poderia ser uma mentira. Aquela não era a garota com quem vivi os meus melhores momentos. Não era a garota que tinha grandes sonhos e lutava por eles. Aquela não era a minha garota. Esse não era o sonho dela.
Parei toda a pesquisa que estava fazendo e procurei seu nome no jornal impresso, não encontrando nada, já que a notícia ainda era recente. Precisava de uma afirmação do que realmente estava acontecendo, me encontrando exasperado no momento. Alguns contatos depois e ao menos e pude encontrar a delegacia onde ela estava reclusa, então juntei tudo o que pude e corri para lá. A reportagem só havia passado na tv a dez minutos.
Foquei meus pensamentos na menina intensa e divertida que eu conhecia, tentando tirar da minha cabeça a marginal que a mesma supostamente tinha se tornado. Era completamente insano e eu me recusava a acreditar. Da última vez que nos vimos, era uma universitária que cursava engenharia. E agora eu me culpava por ela não ser mais quem foi. Lembrei-me dos relatos de amigos que diziam ver minha namorada aos prantos todos os dias enquanto eu me afogava nos livros, de até então, medicina. Pude ver novamente seu rosto triste, dizendo que não precisávamos terminar, quando eu disse que viajaria para estudar direito. E depois de uma grande briga, recordei seus olhos vermelhos me desejando uma boa viagem.
Uma vez eu havia prometido cuidar dela. Era hora de mostrar o quanto essa promessa valeu para mim, após todos arrependimentos.
Eu não havia tido fracasso em nenhum dos meus processos como advogado, esperava que esse não fosse o primeiro. E pela minha experiência, não seria. Eu trataria de não deixarem prender minha garota. Se bem que ela, bom, essa já estava presa, dentro dessa que conheci através de uma notícia de jornal.
Eu tiraria da cadeia, mas quem eu libertaria seria a minha .
Ela.
Era um lugar horrível. E olha que aquilo era uma cadeia simples, não um presídio. E eu precisava sair daquele lugar asqueroso de qualquer maneira!
Eu não sabia o que faria, nem o que ia acontecer. Antoniê tinha dito que me livraria dessa, mas não pensou duas vezes antes de me deixar como distração para sua fuga. Agora eu só queria vê-lo morto, enterrado no meio das jóias que tínhamos roubado, mas não poderia e nem sabia como poderia simplesmente o entregar. Todos meus passos deveriam ser muito bem calculados a partir dali para que eu não ficasse efetivamente reclusa.
E na minha cabeça, só se passava uma coisa nesse momento: De que me valia todos aqueles milhões que ostentei em minhas mãos por alguns segundos? De que me valeu toda aquela sede por dinheiro, se agora nem ele todo pode me tirar daqui?
Eu só queria minha vingança à aqueles que me puderam nesse lugar. Mas primeiro teria que planejar como sair dali.
Vi os guardas rindo e falando besteiras. Talvez pudesse usar aquilo que chamo de "poder de sedução", mas teria que ser bem planejado. Não era simplesmente oferecer algum favor em troca de outro, então precisava medir meticulosamente cada passo a ser dado. Um erro e eu poderia ter assédio adicionado ao meu currículo penal, o que não seria de nenhuma forma, algum tipo de vantagem.
Tratei de imaginar por quais crimes estava sendo julgada, já que tínhamos um flagrante, um carro roubado e outros furtos que não sei se era do conhecimento da polícia. Primeiramente, então, pensei que deveria perguntar do que era acusada antes de começar a me defender, mas antes de formular qualquer discurso, pude ouvir passos apressados, cada vez mais próximos.
Talvez essa fosse a parte em que eu era puxada por um policial e jogada no carro que me levaria até a penitenciária, então me preparei. Nada que acontecesse poderia me abalar, exceto o que de fato aconteceu.
Era como ver uma bela piscina no meio de um deserto. Eu não estava de forma alguma preparada para aquele momento que tanto esperei que não chegasse.
Ele emanava autoridade, mas seu olhar era perdido. Penso eu que, ele talvez nunca havia pensado em me reencontrar, ou que pelo menos fosse de uma forma um tanto que mais agradável..
sorriu quando me viu e eu não pude deixar de sorrir de volta. E com tanta força que sorri, não tive forças para dizer mais nada, e assim se passou um tempo.
De todas as pessoas no mundo, a última que imaginei ali era ele.
E por isso me senti suja. Quando me deixou, eu era a garota mais apaixonada que existia. Apaixonada por cada encanto que a vida pudesse me oferecer, por cada recordação que carregava comigo, por cada um da minha convivência... E ele era o centro desse amor.
Ele chamou o guarda, pedindo para que pudesse entrar e falar comigo e então eu me lembrei. Ele me deixou. Ele era meu tudo, e então me deixou sem nada. Ele era a perdição do meu mundo, da melhor e da pior maneira. E sim, também era culpa dele eu estar onde estou. Foi por culpa dele que meu mundo colorido se fechou num assombroso mundo de escuridão e sangue. Por culpa dele eu não quis enxergar mais as belezas do mundo, me fechei de todos e acabei deixando minha própria escuridão ofuscar meu brilho.
Mas uma coisa eu deveria agradecer. Isso tudo me fez mais forte. Fez-me conhecer quem eu realmente sou.
- Eu não acreditei quando te vi na tv, meu amor. - Ele ainda sorria. Da mesma maneira que eu sorria quando falava dele anos atrás, e que hoje só me causava repúdio e dor. - Achei que de tanto pensar em você, acabei misturando tudo, mas não, é você aqui mesmo, eu já não me caibo de saudades. - E me abraçou daquela forma que faz todo o mundo parecer correto. Mas eu não podia retribuir o abraço. Era hora de ele entender que já não tinha mais nada a ver comigo, e que ficar em Washington havia de ter sido sua melhor escolha.
- Você não devia estar aqui. - Disse fraco. Era só assim que eu conseguia me sentir com seus braços ao meu redor e sua respiração tão próxima de mim.
- Vim te tirar desse lugar. - Respondeu-me. - Essa não é você, roubar não é o que você faz, . – E ele estava completamente enganado em pensar que ainda me conhecia. Ri de sua ilusão.
- Sim, , é isso que eu faço.- Confirmei, a ele, e em partes a mim também. - É essa quem eu sou, é isso o que faço. - Sorri, tentando demonstrar autoconfiança. – Eu fui obrigada a mudar. Cada um se vira do jeito que pode.
- Cada um se vira do jeito que pode? Você tinha tudo na vida, meu amor. Desde quando você passou a ser essa garota? – Ele novamente tentou se aproximar.
- Desde quando você deixou de ser parte da minha vida. - Respondi fria, vendo-o dar um passo para trás assustado. Senti a mesma dor imensa e crescente de quando ele foi embora, mas dessa vez eu não era a boba apaixonada que se esconderia no canto e chorava. Dessa vez eu era uma mulher.
- Você está certa. - Fechou os olhos e em seguida tornou a os abrir, uma expressão mais triste no rosto. - Eu fui um grande egoísta pensando só em mim e me esquecendo de tudo o que me era mais importante...
- Você não vai conseguir me tirar daqui. - Interrompi já sabendo os rumos que a conversa iria levar. - Eu estou sendo acusada de crimes que nem devo ter cometido. Você só vai perder seu tempo.
- Eu devo todo o tempo do mundo a você. - Ele disse e eu queria sorrir. Sorrir como se nunca tivesse tido impedimentos na nossa relação, como se naquele momento, fossemos só e eu, sem as lembranças de uma dura época de faculdade e os delitos resultantes da minha parte.
Flashback
- Eu te amo. – Disse cercada por um e um buquê de flores. Ele não costumava ser tão fofo, o que tornara aquilo ainda mais especial. Ele me abraçou e retribuiu a frase, enquanto tudo o que eu pensava é que não poderia mais viver um dia sem aquele cara ao meu lado, mal sabendo que aquele seria o último dia 10 que eu iria comemorar mais um mês da nossa união.
Mas como todo bom momento dura pouco, logo o mesmo guarda que abriu a sala para estava pedindo para que ele se retirasse. Eu ainda tinha medo, porém sua promessa de me tirar dali ainda era válida, e era tudo o que eu tinha a me agarrar.
Ele.
Havia sido um longo processo. Entre queixas, denúncias e protestos, eu havia ganhado o caso para minha . Estava com o coração completamente acelerado enquanto percorria o caminho da minha casa até a penitenciária, pensando no que aconteceria dali em diante.
vinha sendo fria comigo assim como a temperatura do oceano banhante da Antártida. Não havia uma só demonstração de afeto, e eu bem que entendia isso. Porém, estava disposto a mudar tal situação.
Possivelmente ela não teria lugar para ficar, então dei um jeito de transformar o escritório em um confortável quarto. Até resgatei uma coleção antiga de livros que ela já havia tido como favoritos e os disponibilizei em um belo mobiliado. Era assim que da fria ressurgiria a minha doce e amada .
Estacionei meu carro atrás de um vecta preto, onde uma garota intoxicava seus próprios pulmões e os de todos ao redor; certamente a amiga da qual havia se referido como a garota que estaria a esperando. Não pude deixar de sorrir quando a vi sair por aqueles enormes portões de ferro e olhar na direção em que eu estava. Foi como me apaixonar de novo, pela mesma pessoa.
- Você conseguiu. - Ela sorria pra mim, os ventos bagunçando seus cabelos, fazendo-a agarrar o casaco que a protegia. - Espero que me deixe seu cartão para novas ocorrências, doutor .
- O que? Pra onde você vai? - Trêmulo, disse. No meu planejamento, ela me abraçava ali mesmo, iríamos para minha casa, faríamos um filho e comentaríamos comerciais da tv aberta. Mas não, a vida continuaria sendo injusta, e ela estava ali me dispensando.
- Você foi incrível pra mim, , eu realmente não sei o que aconteceria comigo se não tivesse você ao meu lado nesse momento, mas acabou. - Eu não estava acostumado a lidar com derrotas. - Você segue seu caminho, eu sigo o meu e é isso. A gente se vê. - Ela virou as costas, então segurei seu braço com tanta força que pude sentir seu sangue sendo bombeado.
- , não é assim. Olha só, depois de tanto tempo, a gente aqui junto de novo, você acha que é pura coincidência? - Ela ia me interromper, então fiz um sinal silencioso para que não o fizesse. De nada adiantou.
- Não existe essa de "a gente", isso é passado, . Você tá aí, um advogado famoso e eu sou feliz com o que eu faço. - Ela entristeceu. Eu desmoronei.
- Eu senti sua falta todos os dias.
- Você nem se lembrava da minha presença quando estava comigo. - Riu sarcástica. Nesse ponto, ela já se afastava de mim e eu sentia uma agonia desconfortável.
- Eu te amo. - Disse e ela fechou os olhos. - Posso ter sido um babaca e não demonstrado tanto desse amor, mas estou disposto a ser tudo o que você precisar. Eu te amo, , você não tem noção do meu arrependimento ao chegar em Washington. Eu estava rodeado de pessoas, mas estava só, porque ninguém podia substituir o que você era, é, e sempre será pra mim. - Ela me olhava nos olhos, e por eles eu tentava transmitir a imensidão de sentimentos que borbulhavam em desordem. - Eu te amo.
- Eu te amei, . Te amei tanto que não sobrou amor pra mais ninguém. Te amei tanto que estava disposta a abrir mão de tudo o que eu tinha e queria por você, mas eu aceitei que não era pra ser naquele momento. Eu te amava, mas você amava Georgetown.
- Eu posso reacender o foguinho desse amor que sobrou. - Implorei. E então ela despedaçou meu coração.
- Não tem fogo, não tem foguinho, não tem amor, não tem paixão. Acabou, , e acabou anos atrás. Eu não sou a mesma garota que você iludiu, transou e largou; eu sou a garota que batalha pelo que quer, e você não está incluído nisso. Durante todo esse tempo eu fui sincera contigo, você não me interessava em mais nada ao não ser me tirar desse lugar horroroso. Você conseguiu, parabéns. Agora eu compro uma passagem para você sumir da minha vida?
- Eu te conheço, , você só não está sabendo lidar com isso agora... A gente pode conversar...
- Eu sou uma pessoa má. - Ela tinha fogo nos olhos. - Eu sou um monstro, eu sou uma ladra, sou uma fora da lei, eu sou uma bruxa. Eu não tenho mais sentimentos, sou uma insensível, uma ogra. Eu sou tudo. Mas entenda uma coisa, ! Sua, eu não sou! - E não tive forças para segurá-la. A agonia no meu peito era insuportável, e eu não posso, nem sei descrever como cheguei em casa. Só sabia que aquilo não acabava ali. A frieza dela ia embora ao momento que o amor voltasse a preencher minha garota.
Ela.
Ele estava lá quando cheguei à casa. Como se fosse mesmo coisa do destino, seus olhos e os meus se encontraram no mesmo instante... Como havia sido das últimas vezes.
Eu ia a um restaurante. estava lá me esperando com meu prato favorito.
Eu ia a um clube. Logo quem aparecia lá para me estender uma toalha?
Eu provava uma roupa e ele logo estava lá para dar sua opinião.
E eu não conseguia afastá-lo. Nem queria. Havia agido feito uma maluca, não cedendo à minha mente que dizia "vá lá, pegue, é todo seu".
Eu só tinha medo de perdê-lo de novo. Medo de me machucar.
Mas ele ali, sempre insistente, respeitando meus limites e não forçando a barra, me remetia a memórias antigas. Dos momentos em que nossa felicidade era tudo. Eu me sentia feliz assim de novo. Eu não queria ser mais a garota que ele havia reencontrado daquela forma trágica. E sem querer, ele me transformou na garota de antigamente sem que eu tivesse como me proteger de tais mudanças.
Porém meu orgulho era bem maior. tinha tudo na vida, os melhores amigos, o escritório mais disputado, mas e eu? O que eu tinha ao não ser uma vida fracassada e dívidas. Eu não era digna de estar ao lado dele.
- Eu sabia que você estaria aqui hoje. - Ultimamente eu tinha a impressão de que ele me seguia às vezes. - Tão linda que acho que não te amo mais, eu te idolatro.
- , para por favor. - Depois do dia em que o dei um fora na porta da penitenciária, inusitadamente ele e eu acabamos nos aproximando mais. Eu realmente queria ter o magoado tal dia, mas ele sempre fora mais forte, e insistia que o que eu havia dito era por puro narcisismo.
- Ué, eu amo mesmo. - Disse rindo. - E é bom esses caras saberem que se por acaso se aproximarem de você, já tem um cara pra brigar. - Eu ri. - É verdade, se você não é minha, não vai ser de mais ninguém.
- Eu ainda quero ter filhos, , você não pode me privar do meu sonho assim.
- Eu posso fazer um em você agora mesmo. - Ele se aproximou o suficiente para que o ar me faltasse. - Por falar nisso, tenho uma coisa pra você ali no carro.
- Eu não vou cair nessa. - Ele me olhou sério e logo desatou a rir. - É sério, .
- Achei que confiasse mais em mim, amor. - Eu tentava não sorrir, mas era cada vez mais difícil. Fato era que eu o amava, mas cadê a coragem de assumir e vivenciar esse amor de novo? Não sabia se o medo ou a vergonha tomavam a frente. - É só um presente. - Já caminhávamos até o carro dele. O vento soprando meus cabelos, me fazendo os engolir; o que me lembrava de como ele achava tal situação sexy. Eu ri e acho que ele se lembrou do mesmo que eu, pois sorriu daquele jeito nostálgico que eu tanto admirava. Ele abriu a porta de trás e de lá tirou O tempo e o vento, trilogia que ele dizia ter o título inspirado em mim. Minhas obras favoritas.
- Eu não acredito. - Segurei-os e o cheiro de velho me fez sorrir. Pelas manchas nas bordas das páginas, logo notei. - São os meus. - Ele afirmou e olhei interrogatva.
- Pedi para sua mãe que os deixasse comigo, era uma forma de te ter ali comigo. - Enrubesci, e ele se aproximou colocando suas mãos sobre minhas bochechas as alisando. - Se ela sente falta da menina dela, eu sinto duas vezes o dobro. - Fechei meus olhos, a vontade de chorar vindo com força total. O que eu estava fazendo com a minha vida? Porque eu estava me privando do único caminho para a minha felicidade? - Volta pra mim.
- , não. - Insisti sem querer.
- Esquece tudo. Esquece a faculdade, esquece nossas brigas e os nossos erros. Esquece que a gente se separou, vamos fingir que não houve nada até aqui.
- Eu te amo. - Ele me abraçou e eu tentava conter lágrimas. Não havia mais orgulho ou medo, meu cérebro só captava amor no momento.
- Casa comigo? - Eu ri alto, mas foi sem querer. Ele me olhou e riu, um riso bem forçado sem graça. Ele estava falando sério sobre a proposta.
- Não, , vai com calma.
- Eu quero você, , quero que você entenda que vai ser só você sempre.
- Eu confio em você. - Ele sorriu. Eu ainda estava nervosa. - A gente pensa nisso depois. Mas bem depois, não me apareça com um anel semana que vem.
- Vou com calma prometo. - Ele juntou nossos lábios e agora tudo fazia o mais pleno sentido. Eu era outra metade sem ele. E só assim eu era realmente eu.
Ele foi acelerando a velocidade do beijo e logo estava em seu colo, dentro do carro, sendo devorada por seus lábios selvagens. Era beijo, era paixão, era saudade, era alívio. Era amor.
Não houve festa, só houve ele e eu.
- Se eu soubesse que os livros fariam tanta diferença, teria os levado na primeira vez que te encontrei na delegacia. Você não imagina a dor de cabeça que teria me poupado.
- Desculpa. - Me agarrei ainda mais a ele, que elogiava a mim e à nossa reconciliação como se fosse a última oportunidade que fosse ter. - Eu precisava de um pouco de rebeldia pra te fisgar de novo.
- Você sempre foi uma garota rebelde. - Ele riu. - Eu acho até que você nunca foi uma boa garota, era ladra desde o começo.
- Eu era praticamente uma santa quando te conheci, . - Argumentei rindo.
- Eu me lembro do seu primeiro roubo.
- Não lembra não. - Discuti. - Você estava em Washington lendo seus milhões de livros e eu na Califórnia em uma praia. - Ele riu. - A bolsa daquela mulher era a única forma que eu tinha pra voltar pra casa.
- Eu lembro de você roubar uma coisa bem antes. - Ele riu e eu o questionei. - O meu coração. - Ele me beijou e eu enrubesci uns cinco tons de púrpura. Era clichê, mas eu estava vivendo o maior clichê de todos. Aquele que diz que, não importa o que aconteça, você sempre vai pertencer a uma pessoa só na sua vida. - E minha paciência, meu carinho, minha sanidade.
E eu estava rendida. A metade insana, descontrolada e revoltada estava sob segurança máxima. O amor, que era a outra metade ganhou o caso. Caso encerrado, realmente não perdia um. E dessa vez, nem eu iria perdê-lo.
That's just the half of me (Essa é só a metade de mim)
Yeah you saw the half of me (Sim, você viu a metade de mim)
This is the life I live (Essa é a vida que eu vivo)
And that's just the half of me (E essa é só a metade de mim)
Ele.
Respirei fundo e me pus a prestar atenção na tevê quando ouvi aquele nome. Estava, sem prestar realmente atenção, escutando o jornal apenas por estar buscando algo que pudesse me livrar da solidão que me encontrava todas as noites naquele apartamento. Mas agora, estava atônito observando-o, mesmo que o apresentador já estivesse puxando uma outra notícia. Eu simplesmente não acreditei quando ouvi e precisei respirar um pouco mais. Então eu respirei bem mais fundo seguidamente. Não podia ser real.
Não era.
Aquela notícia só poderia ser uma mentira. Aquela não era a garota com quem vivi os meus melhores momentos. Não era a garota que tinha grandes sonhos e lutava por eles. Aquela não era a minha garota. Esse não era o sonho dela.
Parei toda a pesquisa que estava fazendo e procurei seu nome no jornal impresso, não encontrando nada, já que a notícia ainda era recente. Precisava de uma afirmação do que realmente estava acontecendo, me encontrando exasperado no momento. Alguns contatos depois e ao menos e pude encontrar a delegacia onde ela estava reclusa, então juntei tudo o que pude e corri para lá. A reportagem só havia passado na tv a dez minutos.
Foquei meus pensamentos na menina intensa e divertida que eu conhecia, tentando tirar da minha cabeça a marginal que a mesma supostamente tinha se tornado. Era completamente insano e eu me recusava a acreditar. Da última vez que nos vimos, era uma universitária que cursava engenharia. E agora eu me culpava por ela não ser mais quem foi. Lembrei-me dos relatos de amigos que diziam ver minha namorada aos prantos todos os dias enquanto eu me afogava nos livros, de até então, medicina. Pude ver novamente seu rosto triste, dizendo que não precisávamos terminar, quando eu disse que viajaria para estudar direito. E depois de uma grande briga, recordei seus olhos vermelhos me desejando uma boa viagem.
Uma vez eu havia prometido cuidar dela. Era hora de mostrar o quanto essa promessa valeu para mim, após todos arrependimentos.
Eu não havia tido fracasso em nenhum dos meus processos como advogado, esperava que esse não fosse o primeiro. E pela minha experiência, não seria. Eu trataria de não deixarem prender minha garota. Se bem que ela, bom, essa já estava presa, dentro dessa que conheci através de uma notícia de jornal.
Eu tiraria da cadeia, mas quem eu libertaria seria a minha .
Ela.
Era um lugar horrível. E olha que aquilo era uma cadeia simples, não um presídio. E eu precisava sair daquele lugar asqueroso de qualquer maneira!
Eu não sabia o que faria, nem o que ia acontecer. Antoniê tinha dito que me livraria dessa, mas não pensou duas vezes antes de me deixar como distração para sua fuga. Agora eu só queria vê-lo morto, enterrado no meio das jóias que tínhamos roubado, mas não poderia e nem sabia como poderia simplesmente o entregar. Todos meus passos deveriam ser muito bem calculados a partir dali para que eu não ficasse efetivamente reclusa.
E na minha cabeça, só se passava uma coisa nesse momento: De que me valia todos aqueles milhões que ostentei em minhas mãos por alguns segundos? De que me valeu toda aquela sede por dinheiro, se agora nem ele todo pode me tirar daqui?
Eu só queria minha vingança à aqueles que me puderam nesse lugar. Mas primeiro teria que planejar como sair dali.
Vi os guardas rindo e falando besteiras. Talvez pudesse usar aquilo que chamo de "poder de sedução", mas teria que ser bem planejado. Não era simplesmente oferecer algum favor em troca de outro, então precisava medir meticulosamente cada passo a ser dado. Um erro e eu poderia ter assédio adicionado ao meu currículo penal, o que não seria de nenhuma forma, algum tipo de vantagem.
Tratei de imaginar por quais crimes estava sendo julgada, já que tínhamos um flagrante, um carro roubado e outros furtos que não sei se era do conhecimento da polícia. Primeiramente, então, pensei que deveria perguntar do que era acusada antes de começar a me defender, mas antes de formular qualquer discurso, pude ouvir passos apressados, cada vez mais próximos.
Talvez essa fosse a parte em que eu era puxada por um policial e jogada no carro que me levaria até a penitenciária, então me preparei. Nada que acontecesse poderia me abalar, exceto o que de fato aconteceu.
Era como ver uma bela piscina no meio de um deserto. Eu não estava de forma alguma preparada para aquele momento que tanto esperei que não chegasse.
Ele emanava autoridade, mas seu olhar era perdido. Penso eu que, ele talvez nunca havia pensado em me reencontrar, ou que pelo menos fosse de uma forma um tanto que mais agradável..
sorriu quando me viu e eu não pude deixar de sorrir de volta. E com tanta força que sorri, não tive forças para dizer mais nada, e assim se passou um tempo.
De todas as pessoas no mundo, a última que imaginei ali era ele.
E por isso me senti suja. Quando me deixou, eu era a garota mais apaixonada que existia. Apaixonada por cada encanto que a vida pudesse me oferecer, por cada recordação que carregava comigo, por cada um da minha convivência... E ele era o centro desse amor.
Ele chamou o guarda, pedindo para que pudesse entrar e falar comigo e então eu me lembrei. Ele me deixou. Ele era meu tudo, e então me deixou sem nada. Ele era a perdição do meu mundo, da melhor e da pior maneira. E sim, também era culpa dele eu estar onde estou. Foi por culpa dele que meu mundo colorido se fechou num assombroso mundo de escuridão e sangue. Por culpa dele eu não quis enxergar mais as belezas do mundo, me fechei de todos e acabei deixando minha própria escuridão ofuscar meu brilho.
Mas uma coisa eu deveria agradecer. Isso tudo me fez mais forte. Fez-me conhecer quem eu realmente sou.
- Eu não acreditei quando te vi na tv, meu amor. - Ele ainda sorria. Da mesma maneira que eu sorria quando falava dele anos atrás, e que hoje só me causava repúdio e dor. - Achei que de tanto pensar em você, acabei misturando tudo, mas não, é você aqui mesmo, eu já não me caibo de saudades. - E me abraçou daquela forma que faz todo o mundo parecer correto. Mas eu não podia retribuir o abraço. Era hora de ele entender que já não tinha mais nada a ver comigo, e que ficar em Washington havia de ter sido sua melhor escolha.
- Você não devia estar aqui. - Disse fraco. Era só assim que eu conseguia me sentir com seus braços ao meu redor e sua respiração tão próxima de mim.
- Vim te tirar desse lugar. - Respondeu-me. - Essa não é você, roubar não é o que você faz, . – E ele estava completamente enganado em pensar que ainda me conhecia. Ri de sua ilusão.
- Sim, , é isso que eu faço.- Confirmei, a ele, e em partes a mim também. - É essa quem eu sou, é isso o que faço. - Sorri, tentando demonstrar autoconfiança. – Eu fui obrigada a mudar. Cada um se vira do jeito que pode.
- Cada um se vira do jeito que pode? Você tinha tudo na vida, meu amor. Desde quando você passou a ser essa garota? – Ele novamente tentou se aproximar.
- Desde quando você deixou de ser parte da minha vida. - Respondi fria, vendo-o dar um passo para trás assustado. Senti a mesma dor imensa e crescente de quando ele foi embora, mas dessa vez eu não era a boba apaixonada que se esconderia no canto e chorava. Dessa vez eu era uma mulher.
- Você está certa. - Fechou os olhos e em seguida tornou a os abrir, uma expressão mais triste no rosto. - Eu fui um grande egoísta pensando só em mim e me esquecendo de tudo o que me era mais importante...
- Você não vai conseguir me tirar daqui. - Interrompi já sabendo os rumos que a conversa iria levar. - Eu estou sendo acusada de crimes que nem devo ter cometido. Você só vai perder seu tempo.
- Eu devo todo o tempo do mundo a você. - Ele disse e eu queria sorrir. Sorrir como se nunca tivesse tido impedimentos na nossa relação, como se naquele momento, fossemos só e eu, sem as lembranças de uma dura época de faculdade e os delitos resultantes da minha parte.
Flashback
- Eu te amo. – Disse cercada por um e um buquê de flores. Ele não costumava ser tão fofo, o que tornara aquilo ainda mais especial. Ele me abraçou e retribuiu a frase, enquanto tudo o que eu pensava é que não poderia mais viver um dia sem aquele cara ao meu lado, mal sabendo que aquele seria o último dia 10 que eu iria comemorar mais um mês da nossa união.
Mas como todo bom momento dura pouco, logo o mesmo guarda que abriu a sala para estava pedindo para que ele se retirasse. Eu ainda tinha medo, porém sua promessa de me tirar dali ainda era válida, e era tudo o que eu tinha a me agarrar.
Ele.
Havia sido um longo processo. Entre queixas, denúncias e protestos, eu havia ganhado o caso para minha . Estava com o coração completamente acelerado enquanto percorria o caminho da minha casa até a penitenciária, pensando no que aconteceria dali em diante.
vinha sendo fria comigo assim como a temperatura do oceano banhante da Antártida. Não havia uma só demonstração de afeto, e eu bem que entendia isso. Porém, estava disposto a mudar tal situação.
Possivelmente ela não teria lugar para ficar, então dei um jeito de transformar o escritório em um confortável quarto. Até resgatei uma coleção antiga de livros que ela já havia tido como favoritos e os disponibilizei em um belo mobiliado. Era assim que da fria ressurgiria a minha doce e amada .
Estacionei meu carro atrás de um vecta preto, onde uma garota intoxicava seus próprios pulmões e os de todos ao redor; certamente a amiga da qual havia se referido como a garota que estaria a esperando. Não pude deixar de sorrir quando a vi sair por aqueles enormes portões de ferro e olhar na direção em que eu estava. Foi como me apaixonar de novo, pela mesma pessoa.
- Você conseguiu. - Ela sorria pra mim, os ventos bagunçando seus cabelos, fazendo-a agarrar o casaco que a protegia. - Espero que me deixe seu cartão para novas ocorrências, doutor .
- O que? Pra onde você vai? - Trêmulo, disse. No meu planejamento, ela me abraçava ali mesmo, iríamos para minha casa, faríamos um filho e comentaríamos comerciais da tv aberta. Mas não, a vida continuaria sendo injusta, e ela estava ali me dispensando.
- Você foi incrível pra mim, , eu realmente não sei o que aconteceria comigo se não tivesse você ao meu lado nesse momento, mas acabou. - Eu não estava acostumado a lidar com derrotas. - Você segue seu caminho, eu sigo o meu e é isso. A gente se vê. - Ela virou as costas, então segurei seu braço com tanta força que pude sentir seu sangue sendo bombeado.
- , não é assim. Olha só, depois de tanto tempo, a gente aqui junto de novo, você acha que é pura coincidência? - Ela ia me interromper, então fiz um sinal silencioso para que não o fizesse. De nada adiantou.
- Não existe essa de "a gente", isso é passado, . Você tá aí, um advogado famoso e eu sou feliz com o que eu faço. - Ela entristeceu. Eu desmoronei.
- Eu senti sua falta todos os dias.
- Você nem se lembrava da minha presença quando estava comigo. - Riu sarcástica. Nesse ponto, ela já se afastava de mim e eu sentia uma agonia desconfortável.
- Eu te amo. - Disse e ela fechou os olhos. - Posso ter sido um babaca e não demonstrado tanto desse amor, mas estou disposto a ser tudo o que você precisar. Eu te amo, , você não tem noção do meu arrependimento ao chegar em Washington. Eu estava rodeado de pessoas, mas estava só, porque ninguém podia substituir o que você era, é, e sempre será pra mim. - Ela me olhava nos olhos, e por eles eu tentava transmitir a imensidão de sentimentos que borbulhavam em desordem. - Eu te amo.
- Eu te amei, . Te amei tanto que não sobrou amor pra mais ninguém. Te amei tanto que estava disposta a abrir mão de tudo o que eu tinha e queria por você, mas eu aceitei que não era pra ser naquele momento. Eu te amava, mas você amava Georgetown.
- Eu posso reacender o foguinho desse amor que sobrou. - Implorei. E então ela despedaçou meu coração.
- Não tem fogo, não tem foguinho, não tem amor, não tem paixão. Acabou, , e acabou anos atrás. Eu não sou a mesma garota que você iludiu, transou e largou; eu sou a garota que batalha pelo que quer, e você não está incluído nisso. Durante todo esse tempo eu fui sincera contigo, você não me interessava em mais nada ao não ser me tirar desse lugar horroroso. Você conseguiu, parabéns. Agora eu compro uma passagem para você sumir da minha vida?
- Eu te conheço, , você só não está sabendo lidar com isso agora... A gente pode conversar...
- Eu sou uma pessoa má. - Ela tinha fogo nos olhos. - Eu sou um monstro, eu sou uma ladra, sou uma fora da lei, eu sou uma bruxa. Eu não tenho mais sentimentos, sou uma insensível, uma ogra. Eu sou tudo. Mas entenda uma coisa, ! Sua, eu não sou! - E não tive forças para segurá-la. A agonia no meu peito era insuportável, e eu não posso, nem sei descrever como cheguei em casa. Só sabia que aquilo não acabava ali. A frieza dela ia embora ao momento que o amor voltasse a preencher minha garota.
Ela.
Ele estava lá quando cheguei à casa. Como se fosse mesmo coisa do destino, seus olhos e os meus se encontraram no mesmo instante... Como havia sido das últimas vezes.
Eu ia a um restaurante. estava lá me esperando com meu prato favorito.
Eu ia a um clube. Logo quem aparecia lá para me estender uma toalha?
Eu provava uma roupa e ele logo estava lá para dar sua opinião.
E eu não conseguia afastá-lo. Nem queria. Havia agido feito uma maluca, não cedendo à minha mente que dizia "vá lá, pegue, é todo seu".
Eu só tinha medo de perdê-lo de novo. Medo de me machucar.
Mas ele ali, sempre insistente, respeitando meus limites e não forçando a barra, me remetia a memórias antigas. Dos momentos em que nossa felicidade era tudo. Eu me sentia feliz assim de novo. Eu não queria ser mais a garota que ele havia reencontrado daquela forma trágica. E sem querer, ele me transformou na garota de antigamente sem que eu tivesse como me proteger de tais mudanças.
Porém meu orgulho era bem maior. tinha tudo na vida, os melhores amigos, o escritório mais disputado, mas e eu? O que eu tinha ao não ser uma vida fracassada e dívidas. Eu não era digna de estar ao lado dele.
- Eu sabia que você estaria aqui hoje. - Ultimamente eu tinha a impressão de que ele me seguia às vezes. - Tão linda que acho que não te amo mais, eu te idolatro.
- , para por favor. - Depois do dia em que o dei um fora na porta da penitenciária, inusitadamente ele e eu acabamos nos aproximando mais. Eu realmente queria ter o magoado tal dia, mas ele sempre fora mais forte, e insistia que o que eu havia dito era por puro narcisismo.
- Ué, eu amo mesmo. - Disse rindo. - E é bom esses caras saberem que se por acaso se aproximarem de você, já tem um cara pra brigar. - Eu ri. - É verdade, se você não é minha, não vai ser de mais ninguém.
- Eu ainda quero ter filhos, , você não pode me privar do meu sonho assim.
- Eu posso fazer um em você agora mesmo. - Ele se aproximou o suficiente para que o ar me faltasse. - Por falar nisso, tenho uma coisa pra você ali no carro.
- Eu não vou cair nessa. - Ele me olhou sério e logo desatou a rir. - É sério, .
- Achei que confiasse mais em mim, amor. - Eu tentava não sorrir, mas era cada vez mais difícil. Fato era que eu o amava, mas cadê a coragem de assumir e vivenciar esse amor de novo? Não sabia se o medo ou a vergonha tomavam a frente. - É só um presente. - Já caminhávamos até o carro dele. O vento soprando meus cabelos, me fazendo os engolir; o que me lembrava de como ele achava tal situação sexy. Eu ri e acho que ele se lembrou do mesmo que eu, pois sorriu daquele jeito nostálgico que eu tanto admirava. Ele abriu a porta de trás e de lá tirou O tempo e o vento, trilogia que ele dizia ter o título inspirado em mim. Minhas obras favoritas.
- Eu não acredito. - Segurei-os e o cheiro de velho me fez sorrir. Pelas manchas nas bordas das páginas, logo notei. - São os meus. - Ele afirmou e olhei interrogatva.
- Pedi para sua mãe que os deixasse comigo, era uma forma de te ter ali comigo. - Enrubesci, e ele se aproximou colocando suas mãos sobre minhas bochechas as alisando. - Se ela sente falta da menina dela, eu sinto duas vezes o dobro. - Fechei meus olhos, a vontade de chorar vindo com força total. O que eu estava fazendo com a minha vida? Porque eu estava me privando do único caminho para a minha felicidade? - Volta pra mim.
- , não. - Insisti sem querer.
- Esquece tudo. Esquece a faculdade, esquece nossas brigas e os nossos erros. Esquece que a gente se separou, vamos fingir que não houve nada até aqui.
- Eu te amo. - Ele me abraçou e eu tentava conter lágrimas. Não havia mais orgulho ou medo, meu cérebro só captava amor no momento.
- Casa comigo? - Eu ri alto, mas foi sem querer. Ele me olhou e riu, um riso bem forçado sem graça. Ele estava falando sério sobre a proposta.
- Não, , vai com calma.
- Eu quero você, , quero que você entenda que vai ser só você sempre.
- Eu confio em você. - Ele sorriu. Eu ainda estava nervosa. - A gente pensa nisso depois. Mas bem depois, não me apareça com um anel semana que vem.
- Vou com calma prometo. - Ele juntou nossos lábios e agora tudo fazia o mais pleno sentido. Eu era outra metade sem ele. E só assim eu era realmente eu.
Ele foi acelerando a velocidade do beijo e logo estava em seu colo, dentro do carro, sendo devorada por seus lábios selvagens. Era beijo, era paixão, era saudade, era alívio. Era amor.
Não houve festa, só houve ele e eu.
- Se eu soubesse que os livros fariam tanta diferença, teria os levado na primeira vez que te encontrei na delegacia. Você não imagina a dor de cabeça que teria me poupado.
- Desculpa. - Me agarrei ainda mais a ele, que elogiava a mim e à nossa reconciliação como se fosse a última oportunidade que fosse ter. - Eu precisava de um pouco de rebeldia pra te fisgar de novo.
- Você sempre foi uma garota rebelde. - Ele riu. - Eu acho até que você nunca foi uma boa garota, era ladra desde o começo.
- Eu era praticamente uma santa quando te conheci, . - Argumentei rindo.
- Eu me lembro do seu primeiro roubo.
- Não lembra não. - Discuti. - Você estava em Washington lendo seus milhões de livros e eu na Califórnia em uma praia. - Ele riu. - A bolsa daquela mulher era a única forma que eu tinha pra voltar pra casa.
- Eu lembro de você roubar uma coisa bem antes. - Ele riu e eu o questionei. - O meu coração. - Ele me beijou e eu enrubesci uns cinco tons de púrpura. Era clichê, mas eu estava vivendo o maior clichê de todos. Aquele que diz que, não importa o que aconteça, você sempre vai pertencer a uma pessoa só na sua vida. - E minha paciência, meu carinho, minha sanidade.
E eu estava rendida. A metade insana, descontrolada e revoltada estava sob segurança máxima. O amor, que era a outra metade ganhou o caso. Caso encerrado, realmente não perdia um. E dessa vez, nem eu iria perdê-lo.
Yeah you saw the half of me (Sim, você viu a metade de mim)
This is the life I live (Essa é a vida que eu vivo)
And that's just the half of me (E essa é só a metade de mim)
Fim
Nota da autora: (01/08/2020) Clique aqui para seguir à página da autora.
Essa é uma das histórias mais diferentes que escrevi. Espero que tenham curtido.
Essa é uma das histórias mais diferentes que escrevi. Espero que tenham curtido.
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