Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Once in a lifetime
Uma vez na vida
It's just right
Estava tudo adequado
We made no mistakes
Não fizemos erros
Not even a landslide
Nem mesmo um deslizamento
Or riptide
Ou uma correnteza
Could take it all away
Poderia nos tirar tudo que tínhamos


24 de Dezembro, 2014.


A mão de Amber se entrelaçou à dele, tranquilizando-o.
— 'Tá tudo bem, . É só um Natal.
— É. É só um Natal, cara. – Tyler deu um tapa em suas costas.
assentiu e soltou a mão da amiga quando percebeu que o namorado dela estava querendo segurar também.
Fazia quatro anos que não comemorava o Natal, e agora... Agora a melhor amiga dele estava o obrigando a deixar o apartamento quieto dele e enfrentar sua enorme família em um jantar, em outra cidade.
Amber abriu a porta da frente da sua casa e reprimiu a careta ao ouvir a gritaria de recepção.
— Gente, esse ano meu melhor amigo, , vai passar a ceia conosco.
— Sempre tem lugar pra mais um. – uma mulher muito parecida com Amber, provavelmente sua mãe, o puxou para um abraço.
Depois que foi para Los Angeles, se esqueceu de como era ter uma família e receber todo aquele carinho. Só percebeu realmente que sentia falta quando a Sra. McLaren o recebeu em seus braços.
— Sua família mora fora, querido? – perguntou, sentando o homem no sofá, ao redor de muitos olhos curiosos.
— É, a gente tem uma fazenda no Texas e eu saí pra estudar.
— Nos conhecemos na escola de Artes Cênicas, e agora ele vai estrelar comigo naquele filme novo.
— E por que você não foi pro Texas passar o final de ano com eles? – uma senhora perguntou.
— Vovó... – Amber a repreendeu, envergonhada.
— Ele deve ter conversado pelo Skype com eles, mamãe. É assim que eles fazem hoje em dia. – um homem abraçou a senhora de lado.
— Mas eu nunca deixei e nem deixaria meus filhos passarem longe de mim. Onde já se viu? Natal é pra se passar com a família...
, vem conhecer a casa. – Tyler chamou o amigo, o tirando da confusão.
Afastando-se em direção às escadas, o homem sussurrou:
— Valeu, cara.
— Ela não bate muito bem da cabeça. – Amby se explicou, seguindo o namorado e o amigo até o andar de cima.
A casa era espetacularmente grande, e visto que a maioria dos parentes de Amber morava em Rosemead, cidade que ela deixou para estudar Artes Cênicas, ela poderia ceder um quarto para o amigo e ainda ter outro para dormir com o namorado. Los Angeles não ficava muito longe dali, então a viagem não chegara nem perto de ser cansativa.
— Você vai ficar aqui, . – ela mostrou. – Depois você pega sua mala no seu carro. Não devia ter vindo em um carro separado, seu panaca.
— Vocês vão ficar pra passar o Ano Novo e eu espero ir embora amanhã.
— Mas você falou que ia ficar, ... Eu demorei duas horas te ajudando a arrumar as malas! – Amby reclamou.
— Deixa, amor. Ele é antissocial. Ainda acha que vai ser rico e famoso, coitado! – Tyler brincou, provocando o amigo.
— Cala essa boca. – empurrou o ombro do amigo, iniciando uma luta que não teria fim se Amber não fosse tão neurótica.
— Vocês estão arrumados! Não quero ver um amassado nessas roupas, principalmente nas suas, senhor Tyler. Quem é que passou essa camisa?
— Já paramos, já paramos. – riu, se sentando na cama. – Amber, eu já desço. Vou ficar um pouco aqui, 'tá?
— Pode deixar. Se quiser, eu te chamo quando anunciarem o jantar. Não deve demorar muito.
— É, claro. Quero sim.
— Tudo bem. Hum... Ty? Vai descendo. Quero falar com o um pouco.
— Não demora, encarar sua família sozinho é barra. – sorriu, deixando um beijo na ponta do nariz da morena e saindo do quarto.
Ela esperou alguns segundos para ver se iria desabafar, mas viu que teria que falar à força.
, o que ‘tá acontecendo? – perguntou, sentando ao lado dele.
— Eu também queria saber, Amby. Como foi que isso aconteceu? Quando seu pai falou do Skype... – negou com a cabeça, respirando fundo. – Nem isso eu lhes dou. No primeiro ano, eles foram me visitar. No segundo e no terceiro, eu liguei, mas... Desde o ano passado, tudo o que eu faço é mandar mensagens curtas.
Amber suspirou, afagando o cabelo dele.
— Eu nunca os visitei. Nem uma única vez, Amber. Em cinco anos, eu nunca voltei pra minha casa.
— E você só se sentiu culpado agora?
— Foi o jeito como sua avó falou. Eu percebi o quão péssimo filho venho sendo.
— Você se arrepende?
— De correr atrás dos meus sonhos? Não. Mas me arrependo de deixá-los pra trás.
— Então resolve isso. – ela ergueu um ombro. – Vai lá amanhã, faz uma surpresa.
— Assim, do nada? Nem dá pra ir de carro, vou levar dias e...
— Vai de avião. Quando foi a última vez que você os viu?
— Três anos atrás, no meu aniversário. E-eu ainda briguei com eles. Falei que não podiam aparecer sem avisar, praticamente os enxotei da minha vida. Eu não quis fazer isso, Amby...
— Família é tudo o que a gente tem, . É o que nós somos. Não podemos abandonar a família.
— Eu sei, mas... eu sempre estava ocupado, correndo atrás de testes e... E o tempo foi passando, Amber.
— A gente sempre pode resolver as coisas. Liga pra eles. Não fala que vai lá, só... Só diz o que você falou pra mim. Que você não queria deixá-los pra trás, que você se arrepende. Pede desculpas, principalmente.
olhou para ela, sorrindo.
— O que seria de mim sem você?
— Um bosta. – riu alto. – É melhor eu ir salvar meu namorado.
Ele assentiu e pegou o celular do bolso. Discou o número, mas travou na hora de chamar. Quando viu que já se passaram quinze minutos desde que Amber saiu do quarto, resolveu criar coragem e chamar.
Olhou para a mão livre e percebeu quão suada ela estava.
Alô? – ouviu a voz da mãe.
— Mãe? Oi. – sua voz saiu inexplicavelmente embargada.
? Ah, meu Deus! Filho?
— Oi, mãe. – abriu bem os olhos, percebendo que, se piscasse, choraria.
Está tudo bem?
— Sim, tudo... Eu vou trabalhar num filme, sabia? Como secundário, mas é melhor do que figurante, não é?
Que ótimo, filho! Eu... Eu ‘tô muito feliz por você. – a voz dela estava saindo com algumas falhas.
— Mãe, não chora. 'Tá tudo bem.
Você não liga faz tanto tempo que eu não me lembrava da sua voz...
De repente, o som do ambiente mudou. Ele ouviu uma voz masculina dizendo: "É o ?”e então escutou aquela voz que ele nunca ia esquecer.
"O ‘tá legal?"
Como será que ela estava? Será que estava bem? Sentia a falta dele? Seus pensamentos foram interrompidos pela mãe, que voltara a falar.
Está tudo bem, ele só ligou pra conversar.
— Mãe, posso falar com o papai? – perguntou, afobado.
Claro, querido. Bobby, venha aqui. Ele quer falar com você. – a voz dela saiu abafada, em virtude da distância do celular. – Filho?
— Pai... Como você ‘tá? Como estão as coisas? Eu... Eu sinto tanta falta de vocês.
Ah, meu filho... Nós também sentimos. Você nunca liga, sua mãe ficou preocupada. – o homem suspirou. – Vai passar o Natal sozinho mais uma vez?
— Não, na verdade... Uma amiga minha me chamou para passar com a família dela.
Amiga, é? – podia sentir a gozação na voz dele.
— Amiga, sim. Ela namora, pai. – riu, deitando-se na cama e olhando o teto do quarto. – O namorado dela é meu melhor amigo, aliás.
Sentia falta de deitar assim no telhado do celeiro ou da sua casa, com ela ao seu lado. Eles passavam horas a fio, olhando as estrelas, conversando sobre o futuro.
Ela sempre esteve presente nos planos, mas... Depois que ele foi embora, ela nunca deu sinal de vida. Nem uma ligação, nada. E ele nunca tentou entrar em contato, também. Os dois tinham culpa pelo distanciamento. Mas doía. Doía tanto pensar no que poderia ter sido se ele não fosse tão egoísta. Só que as possibilidades já tinham ido embora, e agora tudo o que ele poderia fazer era correr atrás de novas chances.
E você, filho? Você não namora ninguém?
suspirou, fechando os olhos.
— Não, pai. Eu sempre estive focado nos meus testes, nunca tive tempo... Você sabe o quanto é importante o meu trabalho.
Eu sei, eu sei...
— Mas eu provavelmente estou atrapalhando a ceia de vocês, então... Fala pra mãe que eu a amo. E eu te amo também, pai. A gente se vê logo.
Eu te amo, filho. Nos ligue de novo, nós estamos sempre aqui e você... A gente tem medo de ligar e você estar ocupado. Que nem aconteceu da última vez, nós nunca queremos te atrapalhar.
— Eu vou ligar, prometo. Toda semana. Que nem no começo. Agora acho melhor você ir. Tenho certeza de que a Maggie e o William estão aí.
A também está.
suspirou.
— Eu sei, ouvi a voz dela. Eu... tenho que resolver umas coisas antes da ceia, pai. Tchau.
Tchau, filho.
desligou antes que perdesse a coragem.
Largou o celular na cama e correu para o andar debaixo, sob olhares curiosos dos familiares de Amber, e saiu da casa. Abriu o porta-malas do carro e procurou pelo seu computador, levando alguns minutos para encontrar, no meio daquela bagunça toda.
— Hey. – ouviu uma voz e levantou a cabeça.
— Fala, Ty.
— Aconteceu alguma coisa? A Amby falou que você ia ligar para os seus pais, e você saiu desse jeito da casa...
— Eu só precisava do meu computador. – respondeu ranzinza, colocando o modem conectado no notebook.
— E precisa ser aqui fora? ‘Tá frio!
— Pode entrar, Tyler. Eu preciso resolver umas coisas.
— E eu não posso saber? Não adianta bancar o chato comigo, sabe que posso ser pior.
riu, negando com a cabeça.
— Ela contou que eu vou viajar?
Tyler assentiu, sentando no porta-malas ao lado do amigo.
— Preciso comprar uma passagem. O aeroporto é aberto no Natal?
— É quando eles mais têm viagens. É aberto, sim.
— Preciso achar um voo de Los Angeles para Dallas/Fort Worth, espero que não esteja lotado.
— Bom, você precisa agradecer por aqui não nevar.
assentiu, olhando a tela do computador.
— Aqui! Achei, achei! Mas... Ah, merda. É uma hora da manhã, já é quase meia-noite.
— Qual o próximo? – Ty tomou o computador do amigo. – Cinco da manhã.
— Vou precisar sair daqui três horas para chegar a tempo no aeroporto.
— É uma boa causa, amigo. Vai, compra de uma vez essa passagem. Você não tem nada a perder, tem?
Não tinha, na verdade. Ele precisava fazer aquilo. Por ele, pela família. Mas, principalmente, por ela.

Somehow it feels like nothing has changed
De alguma forma, parece que nada mudou
Right now, my heart is beating the same
Agora sinto que meu coração bate da mesma forma
Out loud, someone is calling my name
Em voz alta, alguém está chamando meu nome
It sounds like you
Parece você


18 de Julho, 2009.


já estava no telhado quando ela apareceu. Suas mãos estavam cheias de guloseimas e ela estava se atrapalhando toda, até que ele resolveu ajudá-la.
— Ai, obrigada. – ela sorriu, sentando-se na telha e arrumando o pote de sorvete e as colheres, junto com a cobertura de morango.
— Nosso quarto ano de namoro e você me dá sorvete? É por isso que não te peço em casamento! – brincou, recebendo um beliscão divertido em resposta.
— Acha que porque eu sou mulher, tinha que ter feito um jantar? É seu o dever de ser romântico, não meu! – sorriu, aproximando-se do namorado e roubando um selinho. – Além do mais, esse é o seu sorvete preferido.
— É? – perguntou, abaixando o olhar para o pote. – Então você ‘tá perdoada.
Ela deitou e o puxou para que fizesse o mesmo, antes que o garoto resolvesse comer o sorvete.
— Eu acho que nunca vi nada tão bonito quanto as estrelas. – ela assumiu. – Aqui, na fazenda... Parece que é ainda mais bonito.
— É realmente diferente. – ele assentiu, colocando o braço debaixo do pescoço dela. – Na cidade tem muita poluição, aqui é tudo limpo.
— Eu não quero ir embora nunca. – fechou os olhos. – Vou ser professora da escola ali da cidade.
— Você devia sonhar grande, amor. – virou-se para ela. – É a pessoa mais inteligente que eu conheço.
— Obrigada. – o observou por alguns segundos. – Por que cê ‘tá mordendo a bochecha?
— É mania, .
— Cê só faz isso quando mente. Ou quando vai mentir. Ou quando tá com medo. Que foi?
— Nada. – franziu o cenho.
— Olha aqui, , você não precisa dizer que eu sou inteligente só pra me deixar feliz... – foi se sentando, pronta para uma discussão.
— Não ‘tô mentindo sobre isso. É que eu quero te contar uma coisa. – se sentou também, nervoso.
— E você ‘tá querendo mentir ou é medo?
Ele suspirou e ela percebeu que era a segunda opção.
— Amor, o que aconteceu?
— Eu... Eu recebi uma carta. Daquela faculdade de Artes Cênicas.
— Você já abriu? Sabe se passou? – a garota perguntou, empolgada.
— Não, eu... Eu estava esperando você.
— Então abre! Meu amor, isso é ótimo! Se você passar...
— Se eu passar, você sabe o que significa, não sabe?
Ela franziu o cenho para ele, confusa.
— Eu vou me mudar para Los Angeles. Não vou vir todo final de semana, você sabe como é longe e caro. A gente... A gente vai ter que terminar.
— Mas... Mas a gente pode fazer isso dar certo, .
— Eu não quero namorar à distância, e também não quero deixar de ir. Eu não quero ver você numa tela de um computador e saber que vou ficar meses e meses sem te ver. Vai ser horrível pra mim, .
— Então, se você passar... Se você passar, você vai e eu fico. A gente termina, mas até você ir... Até você ir, você não sai de perto de mim.
Ele assentiu, encostando suas testas.
— Eu te amo.
— Eu também. – ela fechou os olhos. – Vamos abrir.
Ele assentiu, abrindo o envelope.
— Olha você. – pediu. – É melhor.
assentiu e tomou o envelope de suas mãos. Retirou o lacre e, com cuidado, o papel com o envelope.
A palavra “aprovado” estava grifada e ela imediatamente pulou em cima dele, o abraçando.
— Seu sonho, amor! Você vai conseguir!
— Eu passei? – se soltou dela, apenas para que pudesse a olhar nos olhos.
— Sim! Você começa em setembro! Faltam dois meses, isso é incrível!
— Você está feliz?
— Mas é claro! ... Quando duas pessoas nascem para ficar juntas, elas ficam. Não importa o tempo. Se nós nascemos para sermos um do outro, vamos ser. Se não, não vamos sofrer por isso. Você sempre sonhou grande e correu atrás, e você conseguiu. Eu não tenho nenhuma ambição na minha vida, a única coisa que eu quero ter é você. E se depois que você terminar a faculdade de Artes Cênicas, você ainda me amar, e eu ainda amar você... Aí a gente se resolve. Mas não pensa nisso agora, não. Pensa que você vai ser o que sempre quis.
Ele suspirou, enterrando o rosto no pescoço dela.
— Eu não acredito que você é real.
— Sou sim, olha. – beliscou o namorado, ouvindo-o rir. – Eu te amo, .
— Eu também, .
Ela sorriu e passou o nariz no dele, deixando um selinho em seus lábios.
Não contente, porém, o garoto a puxou pela nuca e a fez deitar sobre ele, as mãos procurando qualquer e todo lugar do corpo dela, ao mesmo tempo.
A menina sorriu entre o beijo, negando com a cabeça.
— Se meu pai esticar a cabeça para fora da janela, ele vai ver a gente. – estendeu a mão para o namorado. – E está esfriando.
— E as coisas? – apontou para as comidas, mas a agarrou assim que ela se virou novamente para ele. – Esquece. – riu, a puxando para o quarto dele.
Quando eles transaram naquela noite, a felicidade e emoção eram quase palpáveis. Não só pela conquista do garoto, mas também pelo aniversário de namoro. Os dois tinham tanto a comemorar ali, e o amor dos dois esteve sempre presente, durante todos aqueles anos. Eles dormiram agarrados um ao outro, sussurrando juras de amor e beijando qualquer espaço de pele que os lábios encontrassem.

Ele acordou no meio da noite, querendo acordá-la também, para que pudesse entregar seu presente, já que no meio de toda a comemoração ele havia esquecido.
Mas assim que desceu o olhar para o rosto dela, que estava deitada em seu peito, toda encolhida, ele pôde ver as lágrimas. Ela sussurrava alguma coisa, grudada nos braços dele. Era uma prece, mas ele não entendia muito bem. Só que estava claro. Ela estava com medo de dizer na frente dele, mas parte dela não queria que ele fosse. Parte dela queria que ele ficasse na fazenda com ela, cuidando dos cavalos e nadando nu ao lado dela na cachoeira.
Mas era a pessoa mais altruísta que ele conhecia. Negava a própria felicidade pela de alguém que ela amava. E era egoísta. Fingiu não ter ouvido ou notado nada daquilo, para não precisar desistir de seu sonho pela garota. Tudo o que fez foi fechar os olhos e chamar o sono mais uma vez.

When I close my eyes
Quando fecho meus olhos
All the stars align
Todas as estrelas se alinham
And you are by my side
E você está ao meu lado
You are by my side
Você está ao meu lado

25 de Dezembro, 2014.


Tinha passado a noite toda acordada. Entre pensamentos sobre o motivo de ter ligado para os pais, depois de tanto tempo, e o porquê de aquele filho de uma puta não ter chamado por ela, a noite toda se passou e ela continuou com os olhos abertos. Ouviu sua mãe chamando por ela pouco depois do sol nascer, e resolveu que era a hora de se aprontar. Caminhou pelo quarto, procurando pelas roupas jogadas em todos os lugares.
— Querida? – sua mãe adentrou o quarto, chamando por ela.
— Já estou quase pronta, mãe. – sorriu, vestindo o short. – Como você ‘tá se sentindo?
— Bem. – sorriu. – Você pode ir até a casa da Lilian? Ela deve precisar de ajuda para arrumar a casa, e depois precisa fazer o almoço de Natal... Eu iria até lá, mas minha cabeça está doendo, e...
— Claro que vou, mãe! Não se preocupe. Ontem você ficou acordada até tarde, não dormiu muito... Pode descansar. Eu pergunto para a Lil se ela precisa de ajuda, não se preocupe, mãe.
— Você não precisa me tratar assim, querida. Estou bem, eu juro.
— E vai ficar ainda melhor se me obedecer e descansar. Por favor, mamãe. – beijou-a na bochecha. – Onde está o papai?
— Ainda está dormindo. Acho que exagerou no vinho noite passada. – riu baixo, colocando um fio de cabelo da filha para trás da orelha. – Como você está?
— Nunca estive melhor. – sorriu, mentindo.
— Filha...
— Tenho que ir, mãe. Eu preciso ver a Becky ainda hoje.
— Você sabe que vai ter que falar com alguém sobre isso. Todo mundo viu o quão abalada você ficou depois de ouvir a Lilian falando com o pelo telefone. Principalmente pelo jeito que você saiu da casa deles, como se estivesse pegando fogo. Seu pai demorou horas para te encontrar, ele ficou bem irritado.
A mais nova suspirou, assentindo.
— Eu sinto falta dele, mãe. Nunca deixei de sentir. Mas não é como se ele se importasse.
— Filha, não diz isso.
— Estou indo, te vejo no almoço. – beijou a testa da mulher e saiu do quarto, calçando as botas no caminho até a cozinha da casa.
Pegou uma pera para comer e saiu de casa, atravessando o gramado até a Casa Grande. Ainda não devia ser sete horas, mas assim que tocou a campainha, Lilian apareceu, com um pano de louça na mão.
! O que está fazendo aqui uma hora dessas?
— Minha mãe achou que você fosse precisar de ajuda. Ela não está muito disposta, então eu vim.
— Sua mãe não está se sentindo bem? – perguntou, abrindo espaço para que a mulher entrasse.
— Ela disse que não é nada, só cansaço. – sorriu fraco, tentando não revelar muita coisa. – Onde está o tio?
— Ele foi ver as vacas. Não está se sentindo bem em vendê-las.
— Isso tudo... não tem jeito?
— Vamos conseguir um bom dinheiro com as vendas. Pelo menos uns três anos sem precisar abrir mão de mais nada. É isso ou o volta pra cá. Ele é nosso único filho. A gente não vai deixá-lo se desfazer dos sonhos dele assim.
assentiu, olhando para os pratos que secava.
— Você está bem? – Lil pediu, cautelosa.
— Parece que todo mundo me pergunta isso hoje. – sorriu. – Estou bem, sim. E... ele? Eu fui embora ontem, antes que você pudesse contar. Eu quero te pedir desculpas por isso, Lil. Eu sei que você se importa comigo, e eu realmente não me senti confortável ontem. Eu espero que você me entenda.
— Você sempre passou o Natal com a gente, desde que estava na barriga da sua mãe, logo depois de eu ter dado à luz ao meu menino. Eu não me senti bem te vendo fugir daquele jeito, mas eu sei. Entendo que você ainda não superou, e talvez ele também não tenha superado. Faz tanto tempo, .
— Sei que faz. É que eu acho que fiquei chateada por ele não ter pedido por mim, sabe? Eu sinto falta dele.
— Quando você começou a namorar aquele menino, eu achei que você tinha esquecido meu filho. – Lilian secou as mãos, se apoiando na pia em seguida. – Você merece ser feliz, .
— Carter era um cara legal. Gostava bastante de mim. – admitiu, empilhando os pratos e os guardando. – Mas aí ele percebeu que eu não tinha esquecido o e a gente conversou. Não dava mais para ter um relacionamento assim, então a gente acabou.
— E você continuou amando meu filho, mesmo depois de todo esse tempo. – Lil sorriu, admirada. – Não existe ninguém para o se não você, .
— É, mas acho que agora é tarde demais. – sorriu fraco, colocando o pano no suporte. – Precisa de mais alguma coisa, tia?
— Não, meu bem. Não precisava nem que você secasse a louça, mas obrigada. – sorriu, agradecida.
— Por nada, Lil. Eu vou ver a Becky agora. – beijou a bochecha da mais velha, se despedindo.
— Você vem para o almoço, não vem?
— Claro que venho. – sorriu, já alcançando a porta. – Eu vou nadar na cachoeira, agora. Se precisar de mim, é só gritar!
— Tenho tudo sob controle. – Lil acenou, se despedindo.
Voltou para a cozinha e encarou a janela, onde a cachoeira podia ser vista.
— Ah, . Por que é que você teve que quebrar o coração dessa menina? – negou com a cabeça, se afastando para continuar a limpeza da casa.
passou bons minutos escovando Becky, sua égua. Ela era marrom e branca, a coisa mais linda do mundo todo.
— Vou montar em você mais tarde. – prometeu, beijando a testa da égua.
Quando ia deixar o celeiro, ouviu um relincho, e o som de patas batendo no chão. Virou-se a tempo de ver Faísca, o cavalo branco de , cavalgando até que ficasse ao seu lado.
— Oi, Faísca. – sorriu, afagando o animal. – Você precisa parar de abrir a porta do celeiro sozinho, sabia?
Ele relinchou mais uma vez, esfregando a cabeça na mão dela, pedindo por carinho.
— Você sente falta de correr, não sente? Vem, vou te levar até a cachoeira.
Montou nele e ouviu o relincho de sua égua, enciumada.
— Você vai mais tarde, Becky. Não adianta ficar nervosa. – se esticou para afagar sua cabeça, e então bateu de leve no pescoço de Faísca, o incitando a correr.
Ela amava cavalgar. Era a melhor coisa do mundo, uma das únicas coisas que ela realmente aproveitava na fazenda. Não que ela não gostasse de lá. Gostava, e muito. Mas o serviço pesado era sempre quem fez, e quando ele se foi, ela se obrigou a ajudar. O cavalo parou na beirada do rio, curvando-se para beber a água gelada.
desceu do cavalo, encostando-se numa grande rocha e tirando as botas. Entrou no lago e se escondeu atrás da rocha, de forma que se alguém passasse não a viria. Ela tirou toda a roupa e colocou em cima da pedra, mergulhando em seguida. Depois que ela e aprenderam que nadar sem roupa é melhor, nunca mais entraram na água vestindo alguma coisa. Nadou até a parte mais funda, onde não precisava se encolher para que a água tocasse seu pescoço. Os respingos da água que caía da cachoeira voavam em seu rosto. Apoiou o pescoço em uma das pedras, fechando os olhos. Ficou longos e longos minutos assim, até que decidiu sair. Voltou para a rocha e pegou sua calcinha, a vestindo. Vestiu o short, e então começou a procurar o sutiã, que não estava em lugar algum.
Olhou de relance para o cavalo e viu que ele tinha uma fitinha rosa na boca.
— Faísca! Devolve o meu sutiã! – puxou a alça da boca dele, vendo que já era um caso perdido. Ele havia destruído a peça. – Ah, merda.
Vestiu sua regata sem sutiã, e ficou irritada ao ver que marcava muito seus seios.
— Olha isso, Faísca! Você não presta. – brigou. Mas o cavalo achou que era uma brincadeira, e levantando, roçou a cabeça no braço da mulher, pedindo por cafuné. – Ah, sua peste. Não sei por que eu ainda gosto de você. – admitiu, sorrindo.
Montou nele e voltou ao celeiro, onde sua égua dormia, tranquila.
Ouviu o barulho do motor da camionete de Bobby e pulou na janela, sentando na mesma. Acenou para o tio, sorrindo. Mas parou quase imediatamente. Quando Bobby abaixava o vidro, para que pudesse acenar para a garota, ela pôde ver que tinha alguém do lado dele.
nunca se dera bem com surpresas. Quando ela levava um susto, geralmente desmaiava. Ela abaixou a mão, com os olhos arregalados. E quando pensou em fugir dali, tudo ficou preto.

Once in a lifetime
Uma vez na vida
It's just right
Estava tudo adequado
And we are always safe
E estávamos sempre seguros
Not even the bad guys
Nem mesmo os bandidos
In the dark night
Na noite escura
Could take it all away
Poderia nos tirar tudo que tínhamos


9 de Setembro, 2009.


O galo cantava alto e em bom tom. abriu os olhos, sonolenta. Passou a mão no outro lado da cama e encontrou o braço do namorado, todo estirado na cama. Abriu os olhos e ficou olhando-o por um tempo, sorrindo. Com o dedo indicador e o médio, fingiu que eles eram perninhas e começou a caminhar com os dois pelo peitoral do garoto, o fazendo se arrepiar com a mão gelada dela.
— Hm... Bom dia. – ele sorriu, abrindo finalmente os olhos.
— Bom dia, meu amor. – ela beijou o canto dos lábios dele. – Ansioso?
— Você não faz ideia. – admitiu.
A menina sorriu, assentindo.
— Bom, acho que é melhor você ser ansioso pulando a janela e tocando a campainha. Se meu pai sonhar que você dormiu aqui...
— Amor, ele não vai me matar hoje. Relaxa. – riu, a puxando para um beijo. – Seu pai sabe.
— Meu pai sabe o quê? – pediu, olhando aqueles olhos verdes maravilhosos.
— Que eu dormi aqui. Eu perguntei ontem se eu podia.
— Por que não me disse? Isso me renderia mais duas horas de sono, e não precisaria acordar uma hora da manhã com suas pedrinhas na minha janela.
— Ah, mas entrar escondido é bem melhor. – ele sorriu, beijando a bochecha dela. – Tenho direito a um banho com minha namorada, antes que eu me mude?
— Não sei, não. – brincou, fingindo-se de desinteressada.
— Linda, meu voo é em quatro horas. Você vai tomar banho comigo, e é melhor que seja por livre e espontânea vontade.
Ela riu, travessa. Ajoelhou-se na cama, fazendo com que o lençol escorregasse de seu corpo e ele percebesse que ela não usava nada, exceto a calcinha.
— Ah, é? E você vai fazer o quê? – desafiou, se preparando para correr.
Mas ela sabia, e contava com isso. Ele era mais rápido que ela. Quando tocou o pé ao chão, ele já estava com ela entre os braços, ignorando os falsos protestos. Colocou-a sobre o ombro e gargalhou enquanto sentia suas mãos socando suas costas, fraca que só.
— Me larga! Seu brutamonte, isso não é justo! – gritou, gargalhando, quando ele entrou no banheiro.
Ele só a pôs no chão quando o chuveiro já estava ligado, na água mais fria possível.
! Eu vou acabar com você! Me tira daqui. – pediu, chorosa. Ele a segurava pelos ombros, logo abaixo do jato de água. – Amor!
— Calma. – ele riu, após soltá-la.
A menina o encheu de tapas, encharcada. Ele ria, observando o esforço dela em machucá-lo.
Enquanto apanhava, ele caminhou até o chuveiro e consertou a temperatura, se enfiando debaixo dele sem nem se dignar a olhar a namorada.
— Não me ignora, ! – rosnou, fazendo-o rir.
Ele a puxou pela cintura, gargalhando.
— Adoro quando me chama pelo sobrenome. É bem excitante, sabe? – beijou o queixo dela, descendo a boca até que alcançasse o pescoço.
— Você é um idiota! Eu estou morrendo de frio. – reclamou, o puxando pelo cabelo até que seu rosto se alinhasse ao dela.
— Ah, menina. – grunhiu, chupando a língua dela em seguida.
Sentiu as mãos dela descendo o seu calção e sorriu na boca dela, negando com a cabeça.
— Não brinca comigo, não. – mordeu seus lábios, enquanto descia as mãos para arrancar a calcinha dela.
Segurou a bunda da garota e a levantou, fazendo com que ela sentasse em seu colo. Encostou-a à parede para que pudesse a sustentar, e então viu os olhos dela fecharem. Era aquela sensação que não ia abandonar os dois nunca. Aquela sensação de que eles não precisavam de mais nada, exceto aquilo.
E, talvez, fosse essa a verdade.

Somehow feels like nothing has changed
De alguma forma, parece que nada mudou
Right now, my heart is beating the same
Agora, sinto que meu coração bate da mesma forma
Out loud, someone is calling my name
Em voz alta, alguém está chamando meu nome
It sounds like you
Parece você


(Ainda) 25 de Dezembro, 2014.


ficou uns cinco minutos abraçado ao pai, no aeroporto da cidade vizinha.
Não parecia sentir tanta falta assim quando estava em Los Angeles. Quando entraram na camionete, enfiando todas as malas dele, e tomaram o caminho da fazenda, foi que ele realmente percebeu que estava indo embora.
Ele ainda tinha uns dias até as gravações. Começariam na segunda semana de janeiro, e como havia trazido o roteiro consigo... Não precisaria voltar para casa muito antes disso. Dois ou três dias, talvez, para ajudar Amber com as coisas para a mudança em Nova York, embora quase tudo estivesse pronto.
Quando viu o portão de madeira que ficava na entrada da fazenda, um arrepio estranho passou pelo seu corpo. Como se aquilo tudo fosse uma novidade para ele.
— Você não contou para a mamãe, contou? – perguntou, nervoso.
— Falei que ia dar uma olhada nas vacas, só isso. – contou, dando de ombros. – Não sei como ela ainda não me ligou, já faz umas boas duas horas. – riu, adentrando os portões.
viu uma coisa em movimento e virou o rosto. estava sentada na janela do celeiro, acenando para o pai dele.
— Ah, essa menina. Faz isso desde que aprendeu a andar. – sorriu, abrindo a janela.
não teve tempo de impedir o pai de fazer isso, e a primeira coisa que viu, quando o mais velho colocou o braço para fora, acenando, foi .
Os olhos dela se arregalaram e ela permaneceu alguns segundos paralisada, até cair para trás.
— Puta merda! – Bobby reclamou, parando o carro.
pulou para fora do carro, correndo até a janela do celeiro.
Ela tinha desmaiado, como ele havia imaginado.
— Ela ‘tá bem, filho? – o pai perguntou, um passo atrás dele.
— Ela desmaiou. – disse, pulando a janela. – ? – deu alguns tapinhas nas bochechas dela, incitando-a a acordar.
A primeira coisa que ela fez foi franzir o cenho, ainda de olhos fechados. Ele suspirou, aliviado. Ela abriu os olhos devagar, como quem acorda de um sono.
Quando finalmente o focalizou, seus olhos se arregalaram. Ela olhou para as mãos dele, que estavam em seus braços, e os sacudiu.
Tira a mão de mim. – rosnou.
Ele suspirou, obedecendo-a. Desceu o olhar pelo corpo dela, que havia ficado cinco anos sem ver. Ela... ela estava sem sutiã? Sério?
— Que é que você está olhando? – perguntou, alterada.
— Nada, nada. – colocou as mãos na frente do corpo, como se fosse se proteger caso ela resolvesse o atacar. – Eu estou... indo. – assentiu, se levantando e deixando o campo de visão dela.
— Ocê tem certeza de que ‘tá bem, filha? – Bobby perguntou, acariciando o cabelo da mulher.
— Estou, sim. Eu... já estava indo.
, entretanto, não conseguira deixar o celeiro. Faísca, seu cavalo, parecia estar nas nuvens. Estava querendo carinho, e não tinha como ele lhe negar.
— Ô, garotão. Eu senti sua falta, também.
Sorriu, beijando a testa do cavalo.
— Sentiu merda nenhuma! – ouviu o furacão, e, em um segundo, ela estava na sua frente, puxando Faísca para o lado. – Você é um filho da puta! Egoísta do caralho!
! – Robert a chamou, com o cenho franzido.
— Não, pai. ‘Tá tudo bem. – o homem acenou com a mão, ainda sem tirar os olhos dela.
— Você não devia ter voltado. Não devia ter voltado nunca. – ela sussurrou, o rosto a poucos centímetros do dele.
E então saiu correndo, como ela fazia.
— Filho, é melhor você consertar isso. – Bobby disse, colocando a mão no ombro do mais novo. – Ela só ‘tá magoada.
— Mas o que foi que eu fiz?
— Isso você vai ter que perguntar pra ela. – suspirou. – Vem, vamos ver a sua mãe.
O homem assentiu, seguindo o pai. Como combinaram, Bobby entraria primeiro e pediria um café para a esposa, e enquanto ela fosse para a cozinha, entraria e se sentaria ao lado do pai. Ela ia levar um susto, mas ficaria feliz da vida.
O garoto ficou lá fora, olhando à sua volta. Mas algo lhe prendeu a atenção. Na janela do quarto de , ele podia vê-la ali, escondida. Olhando para ele. Mas ela logo percebeu, e então fechou as cortinas.
. – pai o chamou, sussurrando. – Venha de uma vez!
riu, assentindo. Entrou na casa e se sentou no sofá, do lado oposto ao do pai, de frente para a cozinha.
— Querido, você demorou tanto no... – ela dizia, enquanto vinha para a sala.
A sombra de outra pessoa a fizera desgrudar os olhos das xícaras e identificar o intruso. Suas mãos deixaram a bandeja cair ao chão quando vira seu filho, seu menininho, ali, sorrindo pra ela.
?
— Oi, mãe. – sorriu, se levantando.
— Ah, meu Deus. É você mesmo. – ela sussurrou, levando a mão à boca.
O filho caminhou até ela, colocando as mãos no seu rosto.
— Não precisa chorar, mãe. Eu estou aqui. – sussurrou de volta, beijando sua testa.
Os braços da mulher se enroscaram nele, e ele a apertou, matando toda a saudade que ele sentiu todo esse tempo.
— Eu não acredito! Você voltou, você está aqui... – ela sussurrou, satisfeita.
— Voltei. – riu. – E estou morrendo de fome, mãe.
— Ah, é claro... E você! – apontou para o marido. – Você! Como ousa mentir pra mim? Eu tinha o direito de saber que meu menino estava nos visitando!
— ‘Cê sabe que sempre gostei de fazer uma surpresa. – Bobby riu, se aproximando da esposa.
— Vai limpar esse chão! – decidiu. – Não teria derrubado se você tivesse me contado. E você, meu filho... Vou te dar um pedaço de bolo! Eu e a fizemos ontem, para o Natal. Está delicioso, você precisa...
— Querida. – Bobby negou com a cabeça.
— Pai, está tudo bem. Ela mora aqui. Eu vou ter que vê-la uma hora ou outra. – ergueu um ombro, cuidadoso.
— Ah! Eu nem me toquei... – Lilian dizia, abrindo a geladeira e tirando um pote com vários pedaços de bolo de chocolate. – Aconteceu alguma coisa, filho? Você a viu?
— Ela me odeia. – afirmou. – Não quer nem olhar na minha cara.
— Você se lembra quando vocês terminaram, uma semana depois de começar o namoro? Você estava com ciúmes e ficou magoado. Ela te ganhou de volta em um dia.
— O que é que tem?
— É a mesma coisa. Ela está magoada, não te odiando. Vai dar tudo certo, você vai ver só. – acariciou o cabelo dele, sorrindo.
— Obrigado, mãe. Talvez dê tudo certo. – deu de ombros, receoso.
— Agora, coma esse bolo! E me diga, quanto tempo você vai ficar? – a mãe perguntou, se sentando.
— Eu não sei, mãe. Acho que vou ficar uma semana.
— Vou voltar no dia dois ou três. Eu preciso ajeitar as coisas para a mudança.
— Que mudança? – Bobby perguntou, curioso.
— Ah, eu... Esqueço que não conversei com vocês nos últimos tempos. Eu vou gravar um filme.
— Você me disse isso. – a mãe assentiu. – O que é que tem?
— É em Nova York. A mãe da minha amiga alugava uma casa lá, mas a família saiu e como nós precisamos, vamos alugar por um tempo. As filmagens são lá, e vocês dois sempre me mandaram mais dinheiro do que eu geralmente gasto, então vou conseguir viver como vivo em Los Angeles.
— E a casa de vocês em Los Angeles? Vai ficar abandonada?
— Vamos alugar. Conseguimos um cara, vai ser bom ter algum dinheiro vindo que não seja o de vocês.
— Você está conseguindo se virar bem com o dinheiro que enviamos, filho? – Bobby perguntou, se servindo de um pedaço de bolo, também.
— Sim, sempre sobra um pouco e eu estava guardando para os aluguéis em NY.
— E como vai ser esse filme? – a mãe perguntou, empolgada.
— A Amber, minha amiga, vai ser a protagonista. Na faculdade de Artes Cênicas, nós tivemos que formar grupos e apresentar uma peça. Éramos eu, Tyler e Amber. Alguns olheiros estavam lá, e a Amber, como é sobrinha de uma atriz famosa, chamou bastante atenção, também pelo seu talento. O trato era que o grupo com a melhor peça faria parte de um filme. Nós vencemos. Eu vou participar de dez ou quinze minutos, mas, pra início de carreira, isso é ótimo!
— Que bom, meu filho! Estamos felizes por você, de verdade. Agora, que tal ajudar a sua mãe com o almoço, enquanto seu pai vai limpar a bagunça na sala?
Bobby bufou, mas assentiu, já indo buscar o que precisava na lavanderia.
— O que você quer que eu faça?
— Vá na casa dos e peça se Maggie está se sentindo melhor. Aproveite e veja se está bem.
— Mãe...
— Ela me prometeu que almoçaria aqui hoje. Diga a ela que irei cobrar.
riu, negando com a cabeça.
— Se eu voltar aqui sem um olho, a culpa vai ser sua!
— Deixe de ser exagerado, moleque! – a mulher reclamou, sorrindo para ele.
Ele negou com a cabeça, saindo da casa e atravessando o gramado até a casa de . Tocou a campainha e se afastou da porta, aguardando.
O pai de , William, foi quem abriu a porta. O olhar de surpresa em seu rosto foi inegável.
Então ela não tinha contado.
? O que você...
— Oi, tio. Senti sua falta. – sorriu, abraçando o mais velho.
— Meu Deus, é você mesmo! – riu, se afastando. – Desde quando está aqui?
— Cheguei não faz uma hora. Minha mãe vai começar a fazer o almoço agora, e me pediu para ver se a tia Maggie está bem.
— Ela está dormindo, acordou muito cedo e, na condição dela, fica muito preocupada.
— Que condição? – perguntou, confuso.
— Você já viu a ? – perguntou, desviando o assunto.
Se sua filha não havia dito, não era ele quem iria.
— Sim, eu queria... conversar com ela. Pedir desculpas. Ela está aqui?
— No quarto dela, pode subir. É bom ver você de novo, .
— É bom ver o senhor também. – sorriu, se afastando para chegar às escadas.
Quando chegou em frente à porta negra da garota, respirou fundo. Bateu três vezes na porta, esperando que ela dissesse algo. Mas o silêncio prevaleceu, e ele começou a se agonizar.
, sou eu. Abre, por favor. A gente precisa conversar.
Escutou o trinco da porta se movendo e se afastou, vendo que ela abria a porta.
Os olhos dela estavam inchados, as bochechas, rosadas. Ela estava chorando.
— Não quero te ouvir.
, para com isso. Eu preciso conversar com você, a gente não pode se odiar pra sempre. Você não pode me odiar pra sempre.
— Eu não odeio você. Mas eu não quero conversar com você, também.
— Por que não, ? Eu fui embora. Eu corri atrás do que eu queria pra minha vida, você não pode decidir ficar brava com isso.
— Não é por isso! – enfiou a mão na testa, exausta. – Não é por isso. – sussurrou.
— É por quê, então?
— Eu te liguei. – o olhou, magoada. – Eu te liguei chorando, desesperada. E o que foi que você me falou?
— Eu sinto muito, . Eu não pensei que fosse nada sério.
— Mas devia ter retornado! Não foi só o fato de você ter dito aquilo, da forma como você disse. Você nem se importou em me ligar de volta. Nem ouviu o que eu tinha pra te dizer.
— Isso faz três meses, ! Eu estava ocupado com os testes, eu... Eu tinha mais coisa pra resolver! – elevou a voz também. – Meu mundo não gira em torno de você.
— Não gira. Gira em torno de você, seu egoísta. – rosnou. – E o meu girava em torno de você, também. Eu confiava em você, ! E você me jogou pra escanteio, agora é a minha vez. Some daqui! – gritou, abrindo a porta. – Sai agora.
— Você não pode simplesmente me expulsar do seu quarto. Eu quero saber.
— Quer saber o quê? – o encarou, cansada.
— O que você queria comigo aquela noite.
Ela riu, desacreditada.
— Você teve três meses para me perguntar isso. Eu passei cinco anos sem falar com você, . Se eu te liguei, apavorada daquela forma, de um jeito que não fiz em todos aqueles anos... Era porque eu precisava de você. Você não quis saber daquilo naquela noite, e não vai saber agora. Sai do meu quarto.
Ele assentiu, entendendo. Ele realmente não tinha o direito de querer saber disso agora.
— Você vai almoçar na minha casa? Minha mãe queria saber. – perguntou, miúdo.
— Eu prometi a ela. E costumo cumprir com as minhas promessas.
... – a encarou, magoado.
— Você pode ir? Eu preciso resolver algumas coisas. Diga à sua mãe que eu vou fazer a lasanha de hoje. – olhou para o chão, abrindo ainda mais a porta.
Sentiu quando ele saiu, suspirando, e fechou a porta, sentando ao chão. Abraçou os joelhos e soluçou, deprimida.
Ainda se lembrava daquela ligação.

Errou o número três vezes, tão trêmulas suas mãos estavam. Quando finalmente ligou, sua ansiedade estava à mil. Ele nunca demorava para atender, será que havia acontecido alguma coisa?
Quando pensou em desligar, escutou a voz dele.
Alô? – dava para escutar alguns risos no fundo, o próprio estava rindo de algo que ela não se importava realmente.
? É a , eu...
? Desculpa, não posso falar muito agora.
— É um assunto sério. – implorou, soluçando.
, eu estou ocupado. Depois eu te ligo, você não precisa chorar pra fazer cena e chamar atenção, meus pais me disseram que você se rebelou e eu realmente não tenho tempo pra isso. Eu te ligo mais tarde. Tchau.
Cena? Se rebelar? Ela tinha razões! Tinha motivos que ele desconhecia, ele não podia simplesmente falar daquele jeito com ela. Não era justo!
! Eu preciso de você. – se desesperou, agarrando o telefone. – Não me deixa assim...
Ouviu o som que indicava o fim da ligação e encarou o celular, incrédula.
Voltou para a cama e observou os exames, mais uma vez. Ia ter que lidar sozinha com isso. Não tinha mais jeito.


Entrou no quarto da mãe e se sentou na beirada da cama, sorrindo da forma como ela dormia. Passou as unhas levemente pelo couro cabeludo dela, fazendo um carinho calmo.
— Hm... – a mulher resmungou, sorrindo. – Oi, filha. – abriu os olhos.
— Pensei que estivesse dormindo.
— Acordei há pouco, mas estava me recusando a levantar da sua cama. Ouvi alguns gritos, mas decidi não interromper. O que aconteceu?
voltou. Nós brigamos, nada que não estivesse previsto. – riu.
— Meu bem, você precisa se resolver com ele. Porque ele vai embora de novo. E só Deus sabe o quanto você vai sofrer se ele for embora e vocês estiverem brigados.
A mais nova assentiu, encarando sua mãe.
— Tudo bem, talvez ele mereça me dar uma explicação. – riu fraquinho. – Vou fazer a lasanha do almoço, tudo bem?
— Quer ajuda?
— Não, mãe. Obrigada, mas você precisa...
— Já descansei. Estou bem, querida.
— A senhora tem certeza? – pediu, cuidadosa.
— Sim, minha menina. Ajudou a Lilian?
— Ela não queria ajuda, mas eu sequei a louça para ela.
— E que horas são? – perguntou, já se levantando da cama.
— Umas dez... – procurou pelo celular no bolso da calça. – Quase dez.
— Então é melhor a gente começar essa lasanha.
— Mãe, eu realmente não preciso de ajuda. – riu, seguindo a mãe até a cozinha.
— Mas vou ajudar da mesma forma. Eu não preciso que você fique cuidando de mim, mas você faz isso. – sorriu.
— Eu só tenho medo, mãe. – sussurrou, miúda.
— Ah, meu anjo. Eu sei. – segurou o rosto da filha entre as mãos. – Eu também tenho. Acredite. Mas isso é uma coisa que não está em suas mãos. Eu não quero deixar você, meu bem. E talvez eu não precise. Talvez a gente consiga o dinheiro antes que um acidente aconteça.
— Eu não quero te perder, mãe. – chorou, abraçando a progenitora e se enterrando no pescoço dela.
— Você não vai, meu anjo. A gente vai dar um jeito nisso.
— Por que você não aceita de uma vez que eu posso pedir pra Lilian? Ou pro tio Bobby?
— Já falamos sobre isso! – brigou. – Não vou aceitar dinheiro deles. Eles estão passando por um momento difícil.
— E nós também! Nós só temos metade do dinheiro. São oitenta mil, mãe. Como vamos conseguir isso?
— Ouviu bem o que o médico disse. Pode demorar trinta anos para estourar.
— Assim como pode demorar trinta segundos! Você não pode me culpar por ter medo de você morrer!
— O que está acontecendo aqui? – William entrou na cozinha, as mãos trazendo algumas cenouras recém-colhidas.
— Ela está insistindo na história de pedir dinheiro para a Lilian.
— Mas é a melhor solução, meu bem. – deixou as cenouras na pia e lavou bem as mãos, antes de se aproximar das duas. – A gente não quer perder você.
— É todo dia essa história! Não aguento mais. – se irritou. – Vocês dois vão ter que aprender a respeitar a minha vontade. Não vão preocupar a Lilian ou o Bobby. Eles dois têm problemas demais com a fazenda.
— O que é uma fazenda perto da saúde de uma pessoa? – pediu, franzindo o cenho.
— Exatamente! Eles vão querer ajudar, . Eu não posso pedir isso.
A menina assentiu, secando os olhos, e se virou de costas para os pais, se preocupando com o prato que teria que fazer.
— Filha... – Will colocou a mão no ombro dela, mas a garota se encolheu.
— Mãe, você pode pedir se tem queijo na Lil? Acho que esse não dá para a lasanha inteira, e eu não quero ir lá. – se virou para a mãe, que tinha os olhos marejados.
— Posso, claro. – assentiu, saindo da cozinha.
Quando ela não estava mais na cozinha, largou a massa pronta e encarou o pai.
— Ela pode não querer pedir ajuda. Mas não dá mais, pai. Cada dia que passa, eu morro de medo de alguma coisa acontecer.
— Nós estamos guardando dinheiro, querida. E mais a sua poupança, que sua mãe se recusa a abrir, nós conseguimos 45 mil.
— Ainda assim, faltam 35. A Lilian pode ajudar. Eu sei que está difícil, mas...
— Se ela perguntar, eu não sei de nada. – sorriu, cúmplice. Abraçou a filha, beijando sua testa. – Não joga a notícia de uma vez só para Lilian. Ela realmente ama sua mãe. As duas são amigas desde criancinhas.
— Eu não vou falar agora. Eu tenho que pensar num jeito... Mas isso é comigo, pode deixar.
— O que é com você? – ouviu a voz da mãe e olhou para a entrada da cozinha.
— A salada de cenoura. O papai queria fazer, mas eu falei pra ele não se preocupar.
— Você vai fazer tudo sozinha? Nem pensar. – a mulher negou com a mão livre, largando o queijo na mesa. – Pode deixar isso comigo. E você, paixão, aproveita para tomar um banho. Está todo sujo de terra.
— Antes eu vou ao celeiro.
— Solta a Becky pra mim? – pediu . – Ela ficou magoada por eu ter levado o Faísca em vez dela para a cachoeira.
— Vai recolhê-la antes do anoitecer?
— Vou sim, pai.
O mais velho assentiu, beijando os rostos das duas mulheres da sua vida, saindo pela porta de trás no outro segundo.
— Meu amor. – a mãe chamou. – Sei que você e seu pai estão preocupados. Mas você entende meus motivos, não entende?
— Eu não quero falar sobre isso, mãe. – disse e Maggie assentiu.
Ela ia resolver aquela situação, mesmo que demorasse. Lilian não ia se importar. Não ia se importar nem um pouco.

ouviu o chamado da mãe e foi à cozinha ajudá-la.
— Coloque os pratos para mim? – pediu, tirando o arroz do forno e o colocando sobre a mesa.
— Está com um cheiro maravilhoso, mãe.
— Obrigada, . Quando você e a eram pequenos, comiam metade dessa forma.
— A gente competia, eu me lembro. – riu. – Ela sempre ganhava.
— Mas você ganhava dela na corrida de cavalos.
— E na competição de pegar a galinha! – gargalhou. – Ela nunca conseguia.
— Quer tentar agora? – escutou a voz dela atrás de si e se virou, assustado. – Tenho certeza de que não vai me vencer.
— Você nunca me ganhou, . – ele riu, surpreso por ela estar falando com ele.
Mas não queria estragar isso agora, então decidiu entrar no jogo dela.
— Ah, meu amor. Ela é boa. – a mãe dele riu, pegando a lasanha das mãos dela. – Obrigada pela lasanha, querida.
— Eu que fiz! – William entrou na cozinha, brincando.
— Mentiroso. – a filha o recriminou, sorrindo.
— Parece uma delícia. – Bobby também apareceu, com Maggie ao seu lado.
— É claro que está! Fui eu quem fez. – riu, se sentando à mesa.
! – Maggie sorriu, levando as mãos à boca. – Menino! Como você cresceu!
— E você não mudou nada. Continua linda! – sorriu de volta, indo abraçar a mulher. – Senti bastante falta dos seus bolinhos. Lá em Nova York, se a gente quer comer essas coisas, só indo nos cafés. Ninguém sabe fazer essas coisas gostosas em casa.
— Nem a Amber? – Lil perguntou, sentando-se e incitando todos a fazer o mesmo.
— Ela não faz nada. Eu cozinho sempre, lá em casa. Ou o Tyler.
— Amber? – franziu o cenho, curiosa demais para quem não queria nem falar com o garoto um tempo atrás.
— É a minha melhor amiga. – o garoto falou. – Acho que o Ty vai pedi-la em casamento. – arregalou os olhos, encarando a mãe.
— E você vai morar com os dois? – o pai dele pediu, curioso.
— O que é que tem? Já moro agora. – deu de ombros, enchendo o prato.
— Eles não se importam? – William perguntou.
No meio de toda uma falação sobre a vida dele, percebeu que estava quieta demais. Ia tentar puxar um assunto com ela, mas a mãe o interrompeu quando ele abriu a boca.
— A me falou que você estava mal hoje à tarde, Mags. O que é que você tem?
— Ah, não é nada. – sorriu, abanando a mão. – É só uma dorzinha de cabeça.
Mãe. rosnou.
. – William negou com a cabeça.
— Ah, vocês querem saber? Que se dane. Não vou mais assistir isso. Se você não quer aceitar, tudo bem. Eu não sou obrigada a ficar fingindo que nada está acontecendo! – se levantou da mesa, irada.
! – o pai gritou, tentando impedir que a garota saísse da casa, mas foi em vão.
— O que está acontecendo? – Lilian perguntou, assustada com a reação da garota.
— Não é... – Maggie tentou, mas foi logo interrompida pelo marido.
— Querida. – pediu, segurando a mão dela.
piscou, desnorteado.
— Eu vou atrás da . – avisou, já se levantando.
Lilian encarou a amiga, com um desespero palpável no olhar.
— E então, Lilian? O que é que está acontecendo?

abraçou os joelhos e permaneceu nessa posição até ouvir um trovão. O tempo colaborava sempre com o humor dela, era impressionante. Bufou, irritada, encarando o céu negro acima de si. Estava sol até meia hora atrás!
— Não pode se esconder pra sempre, sabe? – ouviu a voz do ex-namorado e bufou mais uma vez, secando as bochechas. – Sabia que ia estar aqui.
— Era o seu esconderijo, não era? – ela sussurrou, encarando o homem que estava se sentando ao seu lado, no telhado do celeiro.
— Não sei por quê. Você sempre me achou. – ele confessou. – Eu era péssimo no pique-esconde, nunca ganhava.
— Eu sempre fui melhor em tudo. – riu, brincando.
Encarou o céu mais uma vez antes de suspirar.
— Ela tem um aneurisma cerebral. – confidenciou, olhando para um ponto fixo no nada. – A gente não tem plano de saúde, sabe? – finalmente o encarou.
— Nossos pais decidiram que não era importante. Eles sempre guardaram dinheiro. – falou. – Isso pode ajudar, . Eles guardavam dinheiro para não precisar pagar um plano de saúde, assim, se algo acontecesse...
— Eles teriam dinheiro. É, eu sei. Quebrei a perna um ano depois que você foi embora, e meu pai precisou de uma cirurgia de apendicite. Sua mãe deslocou o ombro e, só nessas brincadeiras, a gente gastou quase tudo nas cirurgias e consultas. Eu tenho uma poupança, para a faculdade. Consegui uma bolsa aqui na cidade mesmo, então não precisei gastar. Com o dinheiro que meu pai tinha, mais a minha poupança... Temos 45 mil.
— E isso não basta, para a cirurgia?
— Não. Custa 80 mil, nós... Nós vamos demorar pra conseguir, . Eu queria conversar com a sua mãe, pedir ajuda. A gente daria um jeito depois. Não importa se meus pais ficassem sem salário por anos e anos a fio. Pelo menos minha mãe estaria viva. Ela... Ela pode morrer a qualquer momento, e, hoje, quando ela disse que não era nada... Nossa, como isso me irritou. – soluçou. – Eu amo tanto ela. Quero o melhor pra ela. E... mesmo com a crise dos seus pais, acho que... Acho que eles iam querer ajudar a gente, se soubessem.
olhou nos olhos da garota, assustado.
— De que crise você está falando? – perguntou, alterando seu humor. – Eles vão se separar?
— Ah, ótimo. Você não sabia. – enfiou a mão na testa. – Não, não vão se separar. Seus pais se amam.
— Então o que é?
— Seu pai confiou no cara errado, dois anos atrás. Ele extorquiu o tio Bobby e depois... A gente ficou sem nada. Nós todos, aqui. O dinheiro todo da conta corrente do seu pai, do meu... Tudo sumiu. Foi aí que gastamos um pouco da grana da poupança. A gente precisava. Desde então, seu pai anda trabalhando duro, e aí... Aí a gente não teve dinheiro para os pesticidas, e metade da safra foi perdida... Nós estamos nos reestabelecendo, mas seu pai vai ter que vender boa parte das vacas.
— O que você está dizendo? Nós estamos falidos? Mas... meu pai me envia dinheiro. Todo mês. Por que... Por que ele faria isso se nós falimos?
— Eu não sabia que ele enviava. – admitiu, encolhendo os ombros. – Acho que é porque ele não queria que você se preocupasse, ou talvez que os culpasse. Uma vez, eles ligaram para você. Sempre que eles ligavam, seu pai me chamava porque ele sabia que eu sempre estava desesperada por alguma notícia sua. Eles te ligaram e você os mandou nunca mais fazerem isso, que só atrapalhavam... Foi aí que eu comecei a sentir raiva de você.
— Eu me lembro disso. Foi a última vez que me ligaram, mas só porque eu pedi. Eles sempre esperaram uma ligação minha que nunca veio. E aí eu passei o Natal na casa da minha amiga e senti falta, sabe? E... E aí eu voltei. Mas eu nunca ia culpá-los por isso, .
Ela assentiu.
— Agora eu sei. Quando você voltou... Você estava completamente diferente da ideia que eu tinha de você agora. Eu achava que você estava metido, só ia em festas...
— Eu mudei bastante. Toda vez que meus pais me ligavam, e eu não tinha conseguido uma nota boa na faculdade, ou um papel de algum teste... Eu descontava neles, sabe? E agora eu decidi voltar, para compensar o tempo que passei longe deles. De você.
assentiu, encarando os pés.
— Me desculpe. Por aquele dia. Eu nunca teria falado com você daquele jeito se soubesse, mas pouco antes eu tinha falado com meus pais, e... eles me falaram que, de uns dias pra cá, você estava irritada, brigando com todo mundo... Pensei que você estivesse querendo chamar atenção. Fui um idiota.
— Foi. – assentiu, séria, arrancando um riso dele depois. – Mas você é um idiota desde que nasceu, então está perdoado. – riu alto, levando um empurrão de ombro dele.
? – chamou. – Eu sinto muito, por tudo. Não devia ter deixado de te ligar. Eu só não queria sofrer, ou te magoar. Uma hora, um ou outro ia seguir em frente.
— Você namorou alguém? Durante esse tempo? – ela pediu, brincando com as unhas.
— Nada sério, só...
— Ah, não me diz que virou um galinha! – acusou, com falsa irritação.
Ele riu, acompanhando-a.
— Nada disso. Mas de vez em quando eu ia a festas, e... Você sabe. – riu. – E você?
— Namorei o Carter, o filho do mecânico, lembra? – o olhou.
— Ele cuidou de você?
Assistiu-a assentir, e então suspirou.
— Acabou por quê?
— Acho que meu coração nunca deixou de te pertencer. – assumiu, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e desviando o olhar.
E então ele percebeu.
Ela estava dando uma chance a ele, de consertar tudo, juntos. Os dois estavam errados e queriam consertar os erros, e era preciso só um gesto. Um puxão de cabelo, e ele grudou a boca na dela.
E foi ali que ela soube. Não precisava de mais nada. Ele sempre foi a sua rocha, e enquanto o tivesse por perto, não precisaria se preocupar em desabar. Ele sempre a trouxe de volta.

Puxou o lençol para cobrir o corpo dela e a olhou, admirado.
Ela abriu os olhos, desacreditada de tudo o que havia acabado de acontecer. Finalmente, as gotas da chuva começaram a cair, fazendo um barulho gostoso ao cair no telhado da casa. Virou o rosto para o outro lado da cama e sorriu ao perceber que estava sendo observada.
— Oi.
— Oi. – ele respondeu aos sussurros, se aproximando para beijá-la de novo. – Deve estar uma bagunça lá em casa.
— Nós deveríamos ir ver o que está acontecendo. – passou o indicador pelo peitoral do homem.
— Minha mãe deve estar desesperada, e, de quebra, vai aborrecer sua mãe.
— É, vamos lá. Aquilo é mais importante. Podemos continuar o que fizemos aqui depois que resolvermos tudo. – beijou o queixo dele, se levantando e começando a se vestir.
Quando ele começou a fazer o mesmo, ouviram vozes no andar de baixo.
— Ela deve estar no quarto dela. Procuramos por todos os lugares. – era a voz de Will.
— Se veste de uma vez! – reclamou, atacando a blusa dele em seu peito. – Não vai querer que...
A porta do quarto se abriu e Lilian arregalou os olhos ao dar de cara com a bunda nua do filho.
!
— Mãe! – se virou para ela, cobrindo suas partes com a camisa.
— Ah, meu Deus! – a mulher tapou os olhos, puxando a porta e a fechando.
Ele se virou para mais uma vez, que mordia os lábios, reprimindo o riso.
— Não teve graça!
— Você viu a cara dela? Ela vai ficar traumatizada! – gargalhou.
— Claro que não, minha bunda é linda. – riu junto, vestindo a calça de uma vez por todas.
— É a mesma coisa que pegar seus pais transando. Ela vai ter pesadelos.
— Nós não estávamos transando quando ela entrou. – se defendeu, esperando que ela colocasse um vestido e então a puxou pela mão. – Vem aqui. – beijou sua boca mais uma vez. – Pronto. Agora podemos ir.
Ela empurrou o ombro dele, rindo. Tomou a sua frente e desceu as escadas em passadas largas, encontrando todos os quatro moradores da fazenda ali, sentados na sala. Sentiu o olhar de Lilian queimando seu corpo, mas não ousou olhá-la, porque estava muito envergonhada.
— Você não pode sumir assim! – Maggie abraçou a filha, preocupada.
— Eu precisava de um tempo. – deu de ombros. – Me desculpe por falar daquele jeito com você.
— Talvez fosse do que eu precisava. Se tivesse percebido antes que isso magoa tanto você, eu pediria ajuda.
— Nós vamos dar um jeito nisso, . – Bobby abraçou a garota pelos ombros. – Eu te prometo.
— Eu posso ajudar. – disse. – Eu tenho um dinheiro guardado. Não é muito, mas eu posso ajudar.
, você não precisa... – negou com a cabeça.
— Não preciso. Mas eu quero.
— É o dinheiro do seu aluguel, filho. – Lilian negou com a cabeça. – A gente resolve isso.
— Não. Eu posso ficar com um pouco do dinheiro, e se vocês continuarem com a mesada... Não vai me faltar nada.
— Mas você estava guardando o dinheiro.
— A saúde da tia é mais importante, pai. – decidiu. – E eu não quero ver a triste por uma tragédia. E vocês, vê se agora fazem um plano de saúde! – rolou os olhos, brincalhão.
— Ah, . Muito obrigada. – se jogou no pescoço dele, o abraçando com toda a força que tinha. – Obrigada de verdade.
— Você faria o mesmo por mim, não faria? – sussurrou no ouvido dela.
— Você me conhece bem demais para o meu próprio bem. – sorriu, beijando-o de uma vez e esquecendo que tinham outras pessoas naquela sala.
Não importava mais.

When I close my eyes
Quando fecho meus olhos
All the stars align
Todas as estrelas se alinham
And you are by my side
E você está ao meu lado
You are by my side
Você está ao meu lado


3 de Janeiro, 2015.


estava ajudando com a mala, dobrando tudo o que ele socava dentro da mesma.
— Eu não acredito que você está indo mais uma vez. – admitiu, dobrando uma camisa.
... – a encarou. – Vem comigo.
— O quê? – arregalou os olhos.
— Vem comigo pra Los Angeles, e depois pra Nova York. Você tem que correr atrás dos seus sonhos. Não sei qual é, mas você precisa descobrir. Vem comigo. E se você não gostar, eu te trago de volta.
— O quê? Eu não posso ir! – riu, desacreditada. – Você não pode chegar e me pedir uma coisa dessas.
— Por que não?
— Minha mãe está com a cirurgia marcada, eu não posso ir embora assim! Ela não ia suportar. – negou com a cabeça. – E o que eu ia fazer lá? Uma caipira no meio de toda aquela gente?
— Por que não, ? Vem. A gente vai poder ficar junto.
, quando é que você vai entender? A minha família importa mais! Mais do que a gente. Não posso acreditar que está sendo egoísta desse jeito de novo. – bufou. – Adeus, .
— Você vai se despedir de mim desse jeito? – arregalou os olhos. – Me desculpa, eu só queria encontrar uma forma...
— Você nunca vai deixar de ser egoísta, . Eu deveria ter percebido antes. – riu, negando com a cabeça. – Tenha uma boa viagem.
E, apesar das tentativas de , aquela foi a última vez que se falaram antes do voo. Ela havia saído com a sua moto e ninguém a encontrou para que se despedisse.

You are by my side
Você está ao meu lado
You are by my side
Você está ao meu lado
Once in a lifetime
Uma vez na vida
You were mine
Você me pertenceu


19 de Janeiro, 2015.


Amber se enfiou nos braços do namorado, tremendo o queixo.
— Nossa, amor. Nem está tão... – Ty abriu a porta dos fundos do prédio que utilizavam para as gravações. – Frio. Puta que me pariu.
— Ah, merda. Não estou acostumado com isso. – esfregou os braços, puxando a porta atrás de si para fechá-la. – Na minha cidade nunca fez menos que dez graus, eu juro. E em L.A.? Impossível! – riu.
— L.A. é uma delícia, mas essa neve é tão linda! – Amber falou, caminhando pelo grande estacionamento do estúdio.
— Fala, Brady! – Tyler acenou para o porteiro, que abriu o portão para eles saírem.
— Senhor , uma moça está te esperando ali fora. Disse que não queria entrar, mas faz uma boa hora que ela apareceu.
— Tá de namorada nova, né? Safado! Eu sabia! – Amber sorriu, batendo palmas. Os três saíram pelo portão e olhou à sua volta, procurando quem o havia esperado numa neve dessas por uma hora inteira.
Seus olhos se arregalaram levemente quando viu os cabelos negros que reconheceria em qualquer lugar. tinha as bochechas coradas de frio, e segurava um copo de café da cafeteria do outro lado da rua. A ponta do seu nariz estava vermelha, e ela abaixou um pouco o gorro que usava, protegendo-se um pouco do frio. Ela levantou os olhos e encontrou os de , que continuava parado, de boca aberta.
...
... De ? – Tyler arregalou os olhos.
— É, acho que sim, amor. – Amber sussurrou, assentindo.
— O que você está fazendo aqui? – perguntou, tentando escolher se ficava apavorado ou animado. – Aconteceu alguma coisa? A cirurgia da sua mãe foi bem, não foi? Minha mãe me disse...
— Ela está em casa, em recuperação. – assentiu, se aproximando do garoto.
Amber puxou o namorado até a cafeteria, percebendo que provavelmente era um assunto de casal.
— Então o quê... Por que...
— Minha mãe me disse uma coisa parecida com o que você sempre me falou, quando eu chorei no seu colo porque você tinha ido e eu tinha brigado com você.
passou a língua pelos lábios, caminhando até que nenhum passo a mais fosse possível. Ela levantou a cabeça para encará-lo e sorriu, olhando cada detalhe de seu rosto.
— O que ela disse? – ele sussurrou, tendo que se controlar para não beijá-la antes que a mulher dissesse o que importava de verdade.
— Disse que eu preciso correr atrás de meus sonhos. – colocou as mãos em volta no pescoço dele. – O meu sonho é você, .





FIM



Nota da autora: Ficstape <3
Gente, essa fic é meu novo xodó! Tô apaixonada, e eu geralmente não gosto muito do que escrevo, HAHAHA. Eu amo essa música, amo esses pps, amo esse final, amo escrever e amo vocês, leitoras. Então, por favorzinho, comentem pra que eu saiba se está boa o suficiente. Um beijasso!
Até a próxima,
Xoxo.

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