Capítulo Único
“A banda Parafilia estará na cidade a partir do dia vinte e sete de junho. Hunter, Eden, Psykho, Voyeur e D. Evil declararam-se prontos para tremer as bases de Landside e fazer um show completamente inesquecível para todos.
‘Será um prazer poder tocar em minha cidade natal. É sempre bom se sentir em casa’, frisou Hunter (ou ), que nasceu e viveu em Landside por boa parte de sua vida antes de arrastar multidões pelo mundo. ‘Estamos ansiosos para fazer história em Landside e deixar um pouco da nossa energia de forma positiva a todos os que nos acompanham’, ponderou D. Evil (também conhecido como ), que prometeu ainda uma setlist de fazer qualquer fã apaixonado perder a voz de tanto gritar.
Os ingressos estão esgotados desde março, quando o show fora anunciado.”
Por onde andasse poderia ouvir comentários excitados em relação ao show da Parafilia , que aconteceria dali três dias. As músicas deles não paravam de tocar em todas as rádios e cantos da cidade. Ela se sentia um pouco perseguida por tudo aquilo, mas sabia que era apenas coisa de sua mente que insistia em cutucá-la em relação a um e-mail e um crachá que recebera pelo correio há uma semana. O e-mail tinha como remetente Erica Labour, empresária da Parafilia. Seu conteúdo se tratava de uma convocação formal (afinal, não lhe parecia bem um convite que pudesse recusar mesmo se quisesse fazê-lo) para assistir ao show e acompanhar a banda de perto pelo dia em que ficariam em Landside.
A garota sabia que, no fundo, aquele convite tinha dedo de certo homem. Ou, quem sabe, sua mão grande e tatuada inteira, não apenas o dedo. Aquele cujo ela viu se tornar um homem bem-sucedido, famoso e com uma legião de fãs e groupies loucas para ter o mínimo de sua atenção. . Ou, como o mundo lhe conhecia, Hunter.
era a descrição perfeita do homem que os aspirantes a rockstar queriam ser. Sua presença de palco era elogiada pelos críticos mais ferrenhos do mundo do rock. Sua voz ressonava como um rugido de um leão na savana, mostrando quem era o rei por ali. Suas composições eram aclamadas e premiadas. Já colaborou tanto em músicas como no palco com bandas e artistas lendários da história do rock. Em mais de dez anos de banda, o sucesso dos últimos três foi meteórico o suficiente para deixá-lo marcado na história da música junto aos seus companheiros.
É claro que não é ignorável o quanto ele era lindo. “Arrumado”, corrigiu em sua mente. Seus olhos verdes pareciam passíveis de penetrar qualquer alma apenas no primeiro contato visual. Seu sorriso, que ostentava covinhas em suas bochechas quando aparecia, era capaz de fazer o mundo parar por alguns segundos apenas para admirá-lo. Ela ainda se lembrava do quanto se sentia protegida em seus braços grandes e fortes. parecia uma fortaleza, e não somente em termos corporais. Ele era o cara mais forte e batalhador que ela já conhecera, e que conseguira construir seu império e realizar seu maior sonho com maestria.
e eram melhores amigos desde a adolescência dele e a pré-adolescência dela. Ele sempre tivera o sonho de ser um musicista de sucesso, andando para cima e para baixo com seu caderno de composições. era tão ligada a música quanto ele, o que fazia a amizade fluir de forma ainda mais fácil. Ouviam as mesmas bandas, apresentavam músicas um ao outro e sempre acompanhava o processo de composição das canções de . Ela admirava seu talento inigualável e nunca duvidara que um dia ele fosse um estouro no mundo da música.
Ele e ela eram extremamente conectados, como se vissem um no outro um refúgio para o mundo a sua volta. Compartilhavam todas as suas dúvidas sobre crescer juntos, todos os seus conflitos, medos sobre o futuro, inseguranças. Confiavam um no outro de maneira incondicional, tinham um ao outro como base. O período de adolescência de ambos fora conturbado, como qualquer um, mas ver um ao outro como porto seguro o fez ser um pouco menos turbulento. Cada um tinha suas maiores dificuldades, porém sempre encontrava amparo no outro.
A história da Parafilia iniciara quando decidiu sair de Landside para tentar a vida na cidade grande. Ele já acabara a escola há dois anos e sabia que não queria seguir nada além de seu coração, que apontava para a música. Enquanto isso, o coração de se apertava em imaginá-lo tão longe. É claro que ele prometeu que iria visitá-la e visitar seus pais sempre que pudesse, também escrever e ligar sempre que possível. Essa história, no entanto, se choca com alguns momentos aos quais e se sentiam confusos diante ao que sentiam um pelo outro. E essa confusão se tornou ainda maior após o fim de semana anterior a viagem de .
Ambos decidiram comemorar o novo ciclo da vida de . O cronograma era simples: o sábado inteiro seria destinado a uma festa que aconteceria na casa de um dos amigos de e o domingo seria para se recuperar do estrago que fariam no dia anterior. Estaria tudo bem em seus planos se não ficasse bêbado demais no sábado, tendo que ser arrastado e cuidado por de volta em sua casa. Não seria um problema até ali se eles não tivessem se beijado antes que desmaiasse de sono. E não seria um problema tão maior se não tivessem transado no domingo seguinte com toda a lucidez que uma noite de sono poderia lhes proporcionar. Não seria maior ainda se não tivesse eternizado tudo aquilo em uma música que era um dos maiores sucessos da Parafilia . Até aí, tudo bem. O real problema seria o emocional e psicológico de ambos tão confusos num momento em que iria embora para sei lá quando voltar. E ele foi.
vinha pensando em por tanto tempo que se tornara uma rotina. E, claro, vinha sentindo sua falta com um vazio em seu peito que não parecia se preencher com nada. Como se aquele fosse um espaço no qual apenas coubesse. Ela continuava a ouvir a voz de em sua cabeça, em um replay torturante de como o envolvimento deles mudou a sua vida. E, claro, ela não tinha escolha em ouvir a voz dele pelas rádios e ambientes de Landside, que pareciam obcecados pela Parafilia .
Logicamente ambos seguiram a sua vida, independentemente do que acontecera naquela noite. tivera diversas namoradas, todas acompanhadas de perto por e algumas pela mídia desde que a banda estourou. chegara a noivar, no entanto, seu noivo desistira de tudo a três dias antes do casamento e fugira para a Califórnia com uma garota do café que ambos frequentavam. Mas tudo bem, ela nem queria casar mesmo.
chegou em casa, com sua cabeça lotada de pensamentos. Infelizmente, ela não conseguia controlar sua mente. Era tão estranho que, agora que ela se acostumara a estar sozinha, aquele turbilhão de sentimentos voltasse a lhe preencher. Ela não poderia, simplesmente, ficar numa boa com a volta de ?
Não, não podia.
A garota jogou sua mochila no sofá e pegou seu notebook em sua mesa, ligando-o. Não resistiu em dar uma olhada nas redes sociais da banda e, principalmente, na de . Na última foto que ele postara, estava dentro do que parecia ser um jatinho, segurando um pacote de Doritos e exibindo seus dedos sujos e corados de laranja. Ele sorria feito uma criança, o que arrancou um sorriso bobo de .
Ela decide, então, checar seus e-mails para rever novamente o horário e local em que deveria estar para que a produção da banda a levasse para o show. No entanto, ela se depara com outro e-mail de Erica Labour, no qual o assunto era “Abra isso ou sequestro seu unicórnio de pelúcia”. sabia bem que isso não era coisa da produtora, e já segurava seu riso abrindo o e-mail e imaginando seu conteúdo que, claro, era fruto de .
“Eu odeio essa coisa de e-mails, ugh. É coisa de avó. Mal posso esperar para você ter uma rede social em que possamos conversar normalmente.
Estou com saudades. Te vejo amanhã?
. Xx”
gargalhou ao ler a parte em que ele falava que “era coisa de avó”. Ela nunca gostou muito de exibir sua vida internet a fora, e mantinha seu e-mail a modo profissional. Ela não era muito boa com essa coisa de comunicação, globalização e todos esses blábláblás de internet.
“Hey, grandão, me respeite! Tenho alma de uma nobre senhora de 65 anos!
Vai me ver amanhã sim. Então se apresse, porque preciso de ajuda para ser jovem novamente.
Pare de hackear o e-mail da sua empresária, tomara que ela te dê uma bronca.”
Ela mandou o e-mail e voltou para sua caixa de entrada, checando o outro e-mail, realmente mandado por Erica, no qual estavam todas as informações que precisaria para amanhã. Anotou tudo em sua agenda, que levaria amanhã em sua bolsa. estava tão elétrica para o dia seguinte que sabia que não conseguiria dormir sem um bom banho e um chá quente de camomila. Decidiu, então, seguir esses processos para poder estar com energia o bastante para acompanhar o ritmo da banda no dia seguinte.
Antes de ir ao banheiro, observou com carinho um dos quadros que adornava sua parede. Uma foto sua com , na qual ela beijava sua bochecha e ele a abraçava de lado, sorrindo com os olhos fechados. Ela vestia a camisa dele do Guns N’ Roses, enquanto ele vestia outra do Nirvana. Tocou com a ponta dos dedos o rosto de , relembrando a falta que sentia daquele sorriso e daquelas covinhas.
- Amanhã, grandão. Só mais um pouquinho... – sussurrou para foto e para si mesma.
(...)
acordara atrasada, porém aquilo não era uma novidade em seu mundo. Ela tivera que fazer todo o seu processo de organização de vida pré-saída de casa em menos de dez minutos, algo que levaria mais de meia hora em dias normais. Enquanto corria em direção a sua moto, tentava colocar o casaco e, ao mesmo tempo, mantinha um sanduíche em sua boca e socava alguns objetos em sua mochila. Ela se amaldiçoava mentalmente por não ter acordado quando o despertador tocou e ficado naquela de “mais quinze minutinhos”.
Colocou a mochila apressadamente nas costas e montou em sua moto, ligando-a enquanto tentava engolir o resto do sanduíche que sequer mastigara direito. O caminho até o endereço indicado por Labour com certeza lhe renderia uma multa que pesaria muito em seu pequeno salário. No entanto, ela não poderia causar má impressão aos produtores e chefões da banda, afinal, lá estava ela como apenas uma mortal. No entanto, ela conseguiu chegar pontualmente no horário combinado, afrente do hotel onde a banda estava hospedada.
O hotel, por sua vez, estava cheio de fãs em sua frente, conversando entre si, com diversos cartazes e aparatos com os símbolos da banda e rostos de cada integrante. achava muito bonita a dedicação que os fãs da banda tinham, seguindo, acompanhando e dando suporte a todos os momentos. No entanto, ela sabia que não poderia levantar suspeitas de que estava ali justamente para ver a banda. Ela conversou rapidamente com o segurança, do hotel, que confirmou o nome dela dentro da lista de pessoas permitidas. Dessa forma, ela pode estacionar sua moto e subir para o andar o qual a banda se encontrava. A garota estava extremamente ansiosa, afinal, apenas alguns andares e passos a separavam de rever .
As portas do elevador finalmente se abriram no andar em que deveria parar e ela logo se deparou com o corredor cheio de seguranças. Porém, uma mulher baixa, de cabelos pretos e pele negra se destacava entre eles.
- ? – a mulher perguntou, e assentiu positivamente com a cabeça – Prazer, sou Erica Labour.
- O prazer é todo meu, senhorita Labour – ela estendeu sua mão e ambas deram um aperto de mão.
- Bom, vamos? falou na minha orelha o dia inteiro querendo saber de você – a mulher riu, sendo acompanhada por .
- Eu imagino, conheço essa ansiedade de . Pelo jeito, não mudou nada.
Ambas prosseguiram conversando até chegarem ao quarto onde à banda estava reunida. Era possível ouvir o som de música alta e conversas antes mesmo de atravessar a porta. Ao abrir, se deparou com um recinto cheio de pessoas, garrafas de cerveja, animação e, claro, um bom rock tocando ao fundo. Toda a produção por trás da banda estava ali, comemorando mais um show antes mesmo de acontecer, para tentar acalmar um pouco a tensão. Os olhos de buscavam sedentos por , mas não o encontravam em lugar nenhum.
Ela foi orientada por Labour a seguir para o canto da sala perto da janela, provavelmente a banda inteira estaria ali, e foi o que a garota fez. Tentando passar entre as diversas pessoas presentes por ali, se encontrava um pouco perdida e desorientada. No entanto, , que estava exatamente onde Labour sugerira, reconhecera de longe e não pode se conter em felicidade.
- ! – exclamou, pulando de sua poltrona e andando a passos largos em direção a garota.
Ela mal pode se virar para ver de onde ressonara a voz grossa quando se sentiu ser tirada do chão por dois braços enormes e cobertos por tatuagens, fazendo-a dar um gritinho de surpresa. a abraçou forte, girando-a em seu eixo. Ele mal podia acreditar que estava sentindo sua garota novamente em seus braços e que aquilo não era um sonho. Como ele ansiou por esse momento quando soube que faria um show em sua cidade natal com a banda. Agora ele poderia dizer que se sentia em casa.
- E aí, grandão? – ela tentou dizer com clareza, prensada no abraço do homem.
- Eu senti tanto a sua falta, pensei tanto em você quando estava vindo – ele confessou de olhos fechados, como se quisesse sentir o momento da forma mais visceral possível e guardá-lo em sua memória.
- Calma aí, Fera, você vai amassar a Bela – disse , percebendo que não tinha noção da própria força e que quase sufocava em seu abraço. O outro, percebendo que a apertava demais, tratou de soltá-la subitamente.
- Jesus, me desculpe, ! – ele tentou se desculpar, arrumando as roupas da garota no lugar e tentando dar um jeito em seu cabelo, agora bagunçado.
- Relaxa, grandão – ela respondeu rindo, afastando as mãos dele para se recompor ela mesma. Ele ficara um pouco constrangido, baixando sua cabeça e colocando as mãos dentro dos bolsos de sua calça jeans. sorriu e suspirou – Eu também senti muito a sua falta e só pensei em você o tempo todo.
A garota se aproximou de , levando suas mãos ao rosto com barba por fazer e acariciando os pelos aparados presentes ali. Ele sorrira abertamente, exibindo suas covinhas, pouco visíveis pela barba, mas ainda sim presentes em sua bochecha. Ele estava tão diferente daquele garoto por quem ela esperou pacientemente por tanto tempo. O apelido carinhoso que dera a ele apenas por sua altura, agora se justificava pelo corpo ainda mais volumoso e braços ainda mais fortes, lotados por tatuagens de todos os tipos, tamanhos e formas. O cabelo, que estava levemente raspado, se cobria por uma bandana preta e boné. Ele usava uma jaqueta de couro por cima de uma regata branca e jeans. Seu perfume era espetacular, e queria apenas senti-lo por horas a fio.
também não pode deixar de reparar no quanto havia crescido e adquirido uma postura madura. Ela lhe parecia à imagem da sanidade em meio à loucura que vivia durante todos aqueles anos longe de Landside. Não que fosse uma loucura ruim, obviamente, mas era bom poder se sentir em casa. E nada o fazia se sentir em casa mais do que os olhos e o abraço oferecido por . Ela era a casa dele.
- Eu mal pude esperar para chegar em casa, você nem imagina – ele confessou, acariciando os cabelos dela.
- Nem fale, a gente não aguentava mais de tanto ouvir seu nome – ela ouviu outra voz masculina interrompendo a conversa de ambos e virou-se para encontrar seu dono – Prazer, – o homem estendera sua mão, que foi prontamente apertada por – Então você é a famosa . Realmente, belíssima.
- Muito obrigada, eu acho... – ela respondeu um pouco tímida, encolhendo sua postura. tinha uma presença um pouco “forte demais”. Ele era tão alto e forte quanto , e seu olhar chegava a ser intimidador. Não algo ruim, mas algo que não estava acostumada a lidar.
- Sai fora, manézão, tá assustando a garota – outra voz soou, de outro homem que empurrara o corpo de para o lado – Oi, ! Eu sou ! – ele disse empolgado, recebendo um sorriso tímido em resposta de .
- Caralho, vocês não aquietam a bunda e esperam eu apresentar. Já falei pra vocês que ela é tímida – revirou os olhos, envolvendo em seu abraço – Os babacões você já conheceu, meu bem. Vou te apresentar a parte sóbria da banda. Esses são e .
- Ele fica todo babaca falando de você – alfinetou , dando um gole em sua cerveja – Prazer em conhecer a musa inspiradora da nossa Fera.
- Musa? – ela abaixou a cabeça, olhando para seus pés e sorrindo tímida – Quem me dera.
- Acredite, garota, metade das nossas letras de amor são para você, e a outra metade é para o quanto ele sente sua falta – confessou , que levou um chute na canela de em represália – Ai! Mas é verdade!
A essa altura, já estava mais do que enterrada no peito de e com o rosto em chamas. Ela sequer imaginava que ainda pensava nela após conhecer todos os benefícios da fama, quem dirá escrever músicas para ela. Logicamente ela conhecia uma música em especial, contudo nunca imaginaria que qualquer outra tenha sido escrita.
- Hey, prometo que quando o show acabar, nós teremos todo o tempo do mundo pra conversar e matar a saudade – sussurrou, e assentiu com a cabeça.
- , senta aí, pega uma cerveja e conta pra gente alguma história constrangedora do – disse , que parecia ser o mais descontraído entre todos da banda.
A garota sorriu tímida e sentou-se no sofá, sendo acompanhada por , que logo colocou o braço em volta de seus ombros. Ela começou a contar histórias sobre a infância de ambos em Landside, sendo ouvida atentamente por todos da banda e mais algumas pessoas da produção. intervinha em algumas das histórias, acrescentando algum comentário engraçado ou recontando a cena de seu ponto de vista.
A tarde seguiu com histórias descontraídas do dia-a-dia da banda, e pode conhecer um pouco mais de cada um ali e entender o quanto todos eram peças importantíssimas para que tudo relacionado a turnê saísse como planejado antes, durante e depois dos shows. Incluindo o show em Landside, que aconteceria dali algumas horas e o qual eles logo teriam que se preparar.
Ela pôde acompanhar todo o processo de perto. O caminho até o local onde o show aconteceria, a passagem de som, os conhecimentos técnicos dos bastidores. Tudo era um universo completamente novo e surpreendente aos olhos da garota. Os preparativos corriam enquanto ela se mostrava uma peça alheia àquele quebra-cabeça. Era tudo rápido demais, elaborado demais, complicado demais.
, por sua vez, ao mesmo tempo em que tentava se concentrar nos preparativos pré-show, mantinha sua atenção voltada a e todo o seu encanto. Ele sentira tanto a falta dela que mal poderia descrever em palavras, e tudo o que queria era poder ficar sozinho com a garota e afogar toda aquela angústia que sua falta fazia. Angústia que ele não conseguia preencher com mais nada e com mais ninguém. Ela acalmava e trazia seus pés de volta ao chão, relembrando-o de suas raízes e a importância de nunca se esquecer de onde veio.
As horas passavam voando e o momento do show se aproximava, deixando nervoso e ansioso. Ele já era assim normalmente, afinal, sempre foi perfeccionista. Mas sua apreensão só aumentava pela carga de responsabilidade que era tocar em sua cidade natal e, mais, tocar tendo uma das pessoas mais importantes lhe assistindo. Era parecido como quando tocou em Los Angeles com a presença de sua mãe, porém tinha uma carga um pouco mais forte.
podia perceber que estava apreensivo, decidindo então se aproximar e tentar acalmá-lo. Ele estava sentado em cima de uma das caixas de som, olhando para um ponto fixo, porém distante em seus pensamentos. sentou-se ao seu lado.
- Você sempre fica nervoso antes dos shows? – ela perguntou, pegando em sua mão e sentindo-a suada – Ok, você está muito nervoso – ela apertou a mão dele entre as dela, tentando lhe passar conforto. riu.
- É normal, meu bem. Eu só estou um pouco mais por estar aqui. E por te ter aqui. Tudo precisa sair perfeito – ele respirou fundo, fechando os olhos e encostando a cabeça no ombro de .
- Não precisa ser perfeito, . Seja você. Mostre toda a sua energia e talento como você sempre faz. Eu já estou orgulhosa por ver aonde você chegou. Nada me faria mais feliz se você fosse você mesmo em casa – ela beijou o topo do boné na cabeça de – Eu sei que será perfeito da forma que sair.
- , três minutos! – um dos roadies da banda gritou, para que se posicionasse para entrar no palco.
- Lee! – chamou o roadie , que veio até nós – Tira uma foto minha e da e posta no meu Instagram, por favor?
- Claro, herói! – ele respondeu, já sacando o celular do bolso.
- Mas, , suas fãs não vão ficar um pouco... Incomodadas? – perguntou um pouco apreensiva, pois conhecia bem alguns fã-clubes do Parafilia , e sabia que algumas fãs eram um pouco... Radicais em seu amor.
- Eu quero que meus fãs vejam, . Vejam o quanto eu estou feliz e o quanto me sinto em casa, e todo esse sentimento é graças a você – ele respondeu, acariciando a bochecha da garota com o polegar.
levantou-se e pegou pela mão, fazendo-a levantar também. A abraçou e beijou o topo de sua cabeça. Ela por sua vez, aconchegou-se em seu peito e rodeou sua cintura com os braços. Lee aproveitou a pose de ambos para capturar o momento da forma mais espontânea que pode. sentia seu rosto corar um pouco de vergonha, porém não podia deixar de se sentir aconchegada nos braços de .
- Qual legenda? – Lee perguntou.
- “Casa”. Nada descreveria melhor – ele respondeu, beijando a testa de .
- , um minuto – Lee avisou. soltou seus braços de , sem antes apertá-la contra seu peito novamente.
– Fique com isso – disse , retirando rapidamente a jaqueta que vestia e colocando-a sobre os ombros de . A vestimenta sustentava o nome e símbolo da banda em suas costas, com o sobrenome de logo abaixo. Ela mal ousou responder negativamente àquilo.
- Arrebenta, grandão – sussurrou a ele, sorrindo abertamente e tendo certeza de que ele o faria.
A plateia gritando o nome da banda em coro já era ouvido em alto e bom som no backstage . apenas conseguia sorrir. Saiu correndo para sua posição, pronto para adentrar o palco e dar a Landside o maior e melhor show de suas vidas.
O toque do órgão de introdução da primeira música do show começara, levando a plateia a loucura. e iniciaram os primeiros acordes nas guitarras, juntamente com , que rodava e brincava com as baquetas enquanto dava as primeiras batidas da música. A plateia, por sua vez, já entonava em coro a introdução da música. Por último, entraram em conjunto no baixo e no vocal. O jogo de luzes, pirotecnia e cenário do palco deixavam tudo aquilo ainda mais emocionante. pulava, gritava e cantava do backstage como se estivesse no meio da multidão enlouquecida, fazendo alguns dos roadies da banda rirem com sua empolgação.
A banda emendou as três primeiras músicas, e o público permaneceu no embalo energético a todo vapor. Ao fim da terceira música, as luzes se apagaram por um momento e reacenderam novamente. estava bebendo água, enquanto ajeitava alguma coisa na guitarra que não conseguia ver. sorria empolgado enquanto fazia sinais exagerados para . , por sua vez, tomou a frente do palco para falar com o público.
- Como é bom estar em casa, puta merda. Boa noite, Landside! – entonou com animação no microfone, recebendo gritos histéricos em resposta – Não precisaria perguntar pela energia do caralho que senti de vocês, mas vocês estão prontos para um pouco de rock essa noite? – e entonavam alguns acordes aleatórios enquanto o público respondia novamente com animação – Ok, acredito em vocês! O que você está achando até agora, D. Evil?
- Ora, Hunter, acho que você deveria ter me trazido pra visitar sua casa antes – respondeu em seu microfone – Olhe só o que eu ganhei de presente daquela bela morena – ele exibiu o sutiã jogado no palco, que agora adornava sua guitarra.
- É um belo exemplar, D. Evil. Ficará lindo em seus belos seios – provocou em seu microfone e fazendo todos rirem.
- Ok, ok, garotos – ponderou, rindo – Não nos apresentamos ainda. Nós somos Parafilia . Eu sou Hunter, prazer. Esses fodidos na guitarra são D. Evil e Psykho...
- Satisfação, meninas. Prazer é só comigo, na cama – disse , cortando a fala de .
- Vocês já percebem que o ego do nosso D. Evil é tão grande que mal cabe no palco, não é mesmo? – todos riram e apenas fez uma distorção na guitarra, brincando – Aqueles senhores de respeito ali atrás são Eden e Voyeur. Vocês já imaginam quem seja o Voyeur, afinal, nosso querido baterista adora observar todos vocês ali na surdina.
- Qual é, Hunter? Eu não sou tão galante quando vocês, preciso mostrar meu talento de outras formas – respondeu .
- Nós te amamos, Voyeur. Mas já falamos demais, não é mesmo? Acho que agora prefiro ouvir vocês gritarem.
O baixo de deu a introdução de Scream. Alguns mosh-pits se abriram no meio do público, enquanto e pulavam e cruzavam o palco. decide, então descer do palco e se misturar ao meio da multidão enquanto solava. Um mar de gente pareceu engolir o homem, para depois elevá-lo e fazê-lo “surfar” pela multidão. se preocupou quando o viu desaparecer em meio a milhares de pessoas, porém respirou um pouco mais aliviada ao vê-lo sorrindo e cantando a plenos pulmões.
Ao final da música, já estava no palco, interagindo com enquanto cantava os versos finais. Ao fim, uma explosão de fogo se deu no palco, seguida por um apagar de todas as luzes novamente. Outra vez, interagiu com o público.
- Vocês não vão ficar decepcionados se diminuirmos um pouco o ritmo, não é? – perguntou, recebendo gritos de incentivo da plateia – Muitos de vocês já devem conhecer essa música, foi lançada há alguns meses – alguns gritos de excitação começaram a vir da plateia, fazendo o vocalista rir – Porém eu a escrevi quando ainda vivia aqui e era apenas um garoto com sonhos altos demais. É uma honra poder tocá-la em casa pela primeira vez. E, mais, tocar para a garota a qual essa música foi feita. , essa é pra você.
Os primeiros acordes de Addicted soaram, fazendo a plateia ir à loucura. sentiu seu coração acelerar de uma maneira que poderia parecer com taquicardia. Ela lembrava bem das circunstâncias as quais essa música foi composta. Ela lembrava bem de seus olhos revirando e suas costas se arqueando momentos antes de ter um clique de inspiração, saltar da cama nu e correr para seu bloco de composições. A música tinha uma carga sexual fortíssima, não apenas em sua letra, como em seu ritmo um pouco mais lento e focado na sensualidade do toque de guitarra que apenas sabia dar. Estava ali, para milhares de pessoas no show e milhões de pessoas no mundo a forma como se sentia quando estava com ela. Viciado em seu amor.
É claro que o laço entre ambos não havia se dissipado em sua totalidade. Isso foi claro desde o primeiro encontro entre eles. A conexão entre e era mais forte do que qualquer coisa. Ela mal podia controlar seus pensamentos, não havia como esquecer, não havia como apaziguar. era tudo o que ela queria e, mesmo que ela não o tivesse mais ali, ao menos teria uma memória. E aquilo era mais do que suficiente.
O olhar de foi atraído como um imã para enquanto cantava. Aquela música, afinal, era dela. Ele caminhou até perto do canto esquerdo do palco, onde se embalava ao ritmo da música e olhava fixamente para ele. Tudo o que ele mais queria era beijar enquanto solava. Aquela melodia que o relembrava do corpo de sobre o seu, seus suspiros, seus olhos fechados em êxtase. , ao mesmo tempo, relembrava daqueles momentos, e perdia seu fôlego.
se distraiu tanto que mal percebeu o final do solo de , tendo que levar um cutucão de para voltar a cantar. Enquanto isso, claro, o público dava suporte e cantava música a plenos pulmões. Ao final da música, a plateia permaneceu gritando enlouquecida.
- Acho que nosso Hunter não conseguiu se concentrar muito bem porque sua musa está logo ali atrás – provocou – É o momento de reencontro da Bela e da Fera.
corou fortemente, tentando se esconder o máximo que podia por detrás das caixas de som. Os roadies a observavam, rindo de seu constrangimento. Enquanto isso, dava um tapa na cabeça de , fazendo público rir.
- Ok, Landside! Acho que vocês ainda não perderam o ritmo. Vocês aguentam mais uma? – perguntou, sendo respondido por gritos – Acho que não ouvi bem... Vocês estão prontos pra colocar tudo a baixo, Landside? – ele gritou, levando a plateia a gritar ainda mais alto em resposta – Ok... Eden, faça as honras.
tocou a intro de Break It Down, sendo logo acompanhado por . Enquanto isso, encarava admirada a presença de palco de todos ali. O show estava sendo um momento mágico e único, e ela se sentia tão feliz de poder estar acompanhando tudo aquilo tão de perto. A realização do sonho de , bem ali, na cidade deles, na casa deles. Ela não poderia estar mais orgulhosa.
Mais três músicas se passaram até que chegasse o momento da última música e despedida da banda. bebia sua garrafa de água, enquanto fazia graça, jogando água no público.
- Landside, tenho uma notícia muito triste... É a última música – vociferou em seu microfone, ouvindo o coro de decepção do público – Muito obrigado a todos vocês por estarem aqui conosco, compartilhando tanta energia. Nós somos muito gratos a cada um presente aqui.
- Muito obrigada por estarem aqui, vocês não imaginam o quanto isso significa para nós – interviu – É incrível para mim estar em casa, e mais ainda me sentir em casa depois de tanto acolhimento. Mas não vamos diminuir o ritmo. Agora já podemos abrir os portões.
solou o início de Open The Gates, o maior sucesso da Parafilia . não conseguia imaginar de onde todo aquele público tirava tanta energia para estarem tão animados até a música final. Ela já não se aguentava em suas pernas e sua voz já começava a falhar. E não imaginava também como a banda mantinha-se tão enérgica, interagindo com o público, pulando pelo palco... Era energia demais, e tudo aquilo fluía de uma forma incrível, numa troca entre banda e público.
Ao fim da música, todos da banda fizeram agradecimentos em seus respectivos microfones e jogaram objetos como palhetas, baquetas, toalhas... atreveu-se até mesmo a tirar sua camisa e jogá-la ao público, o que gerou um pequeno tumulto no meio da multidão. Foi nesse momento que ela pode reparar o tronco suado e repleto por tatuagens dele, imagem que a levou a morder o lábio inferior de maneira inconsciente. estava tão em transe que sequer percebeu que vinha correndo em sua direção até que ele a erguesse e joga-se seu corpo por cima de um de seus ombros, continuando a correr pelos bastidores.
- Hey, pra onde você está me levando? – ela perguntou com a voz trêmula pelas passadas rápidas de .
- Te prometi um tempo só nosso, não? – ele respondeu.
correu até o camarim com em seus ombros, chamando a atenção de todos no backstage e arrancando risos de alguns. Ao chegar, abriu a porta e, com brutalidade, a chutou para fechar. Colocou de pé novamente de forma delicada e lhe deu as costas, pegando sua toalha para direcionar-se ao banheiro. A garota, sem entender muito bem a razão daquilo, sentou-se na poltrona perto dos petiscos que sobraram do pré-show e saciou-se, aguardando que saísse.
Não demorou muito até que ele saísse do banheiro e caminhasse até , que estava distraída demais com a comida para se preocupar com sua presença ali. colocou as mãos nos ombros de , massageando a região na pressão correta a ponto de fazer a garota fechar os olhos e relaxar. Ele aproveitou-se do momento para dar a volta pela poltrona e ajoelhar-se na frente dela, para poder encará-la.
- Hey, baby, olhe para mim – ele disse com a voz baixa, acariciando a coxa de .
abriu os olhos devagar, porém teve um sobressalto ao encontrar apenas de toalha, com pingos de água ainda escorrendo por seu corpo e um sorriso sacana em seus lábios. Ela levou suas mãos até os olhos.
- Jesus Cristo, ! Vá colocar uma roupa – ela pediu, com a voz fina refletindo nervosismo.
- ... A intenção não era bem ficar de roupa – respondeu – Vamos lá, não é nada que você nunca tenha visto – ele pegou em seus pulsos, tirando as mãos de delicadamente de seu rosto. Ainda assim, ela permanecia de olhos fechados – Abra os olhos, , eu não vou morder se você o fizer.
Ela abriu os olhos, mas evitou a todo custo olhar em direção a . Ele sorria, vendo o rosto dela corado. pegou as mãos de e as acariciou.
- Eu senti sua falta, meu bem. Estive pensando muito em ti desde que fui embora – ele suspirou – Ninguém nunca me teve do mesmo jeito que você, . Ninguém me amou tão bem quanto você.
- Você tem milhões de mulheres aos seus pés, . Famosas e anônimas. Não faz sentido algo comigo – ela disse, surpreendendo-o – Eu não sei se isso seria certo.
- Elas me conhecem como Hunter, é isso que sou para elas. Com você, eu não sou o Hunter e nem preciso ser. Eu sou apenas o velho ... O seu grandão – ele sorriu com ternura, aninhando a mão de entre as suas para esquentá-la – Meu bem, eu não quero mais ninguém. Eu não preciso de mais ninguém.
atreveu-se a inclinar seu corpo sobre o dela, aproximando seus rostos. As mãos de automaticamente se dirigiram as bochechas dele, acariciando a barba por fazer. Seus narizes se tocaram, fazendo ambos fecharem os olhos e não mais evitar o que estaria por vir. Logo as bocas se uniram em um beijo apaixonado e carregado de saudade. As mãos de ambos passeavam por seus corpos, como se precisassem se reconhecer novamente e rememorar cada pedaço.
Muito mais do que seus corpos se fundiam naquele momento. Suas almas se reencontravam, acesas e emanando fogo da forma mais pura que a paixão poderia proporcionar. Era o momento onde podiam se perder um no outro sem pressa, desligando-se do mundo para criar o seu próprio. As promessas sussurradas entre ofegos pesavam em ambos os corações. Eles sabiam que não poderiam prometer o amanhã para o outro, porém, no momento, poderiam prometer uma noite.
(...)
estava distraída com as nuvens que passavam pela janela de seu quarto, relembrando os últimos momentos que passara com antes que a banda partisse. Ele ficara proibido de falar, ordens de Erica, de forma a descansar sua voz para o show seguinte. É claro que ele descumprira em alguns momentos, no entanto, a maioria das comunicações no dia foram feitas por bilhetes. Todos que, agora, estavam ao lado de , que os relia e sorria como uma boba.
“Eu queria que você se apressasse pra voltar da próxima vez”, se mostrava escrita por uma letra cursiva e pequena, caligrafia de . Embaixo, no entanto, outra letra cursiva e um pouco maior, caligrafada por , respondia: “Eu vou, princesa. Prometo que irei. Será mais rápido do que você imagina ;)”.
Ela suspirou, revirando-se em seus lençóis. Era incerto qualquer futuro entre ambos, tanto pela carreira de , como pelos planos de , que não pretendia sair tão cedo de Landside, e muito menos para rodar em turnê com a banda. Ela almejava sonhos diferentes e sabia que teria que correr atrás para realizá-los, com ou sem . Ficar sonhando apenas não lhe colocaria comida na mesa e muito menos pagaria suas contas.
Levantou-se de sua cama, decidida a sair do estado de inércia e pronta para voltar a produzir novamente. Procurou em seu guarda-roupa algo decente para aparecer na rua e decidiu por uma camiseta preta e lisa e um jeans. Pegou sua mochila, que continha seu notebook e material para estudos e traçou mentalmente seu cronograma e lista de livros que necessitaria na biblioteca da cidade. Saiu de casa, concentrada na música que soava em seus fones de ouvido, sem sequer perceber que estava sendo observada e fotografada.
- “ , a nova presa de Hunter”... Isso vai me render primeira página...
‘Será um prazer poder tocar em minha cidade natal. É sempre bom se sentir em casa’, frisou Hunter (ou ), que nasceu e viveu em Landside por boa parte de sua vida antes de arrastar multidões pelo mundo. ‘Estamos ansiosos para fazer história em Landside e deixar um pouco da nossa energia de forma positiva a todos os que nos acompanham’, ponderou D. Evil (também conhecido como ), que prometeu ainda uma setlist de fazer qualquer fã apaixonado perder a voz de tanto gritar.
Os ingressos estão esgotados desde março, quando o show fora anunciado.”
Por onde andasse poderia ouvir comentários excitados em relação ao show da Parafilia , que aconteceria dali três dias. As músicas deles não paravam de tocar em todas as rádios e cantos da cidade. Ela se sentia um pouco perseguida por tudo aquilo, mas sabia que era apenas coisa de sua mente que insistia em cutucá-la em relação a um e-mail e um crachá que recebera pelo correio há uma semana. O e-mail tinha como remetente Erica Labour, empresária da Parafilia. Seu conteúdo se tratava de uma convocação formal (afinal, não lhe parecia bem um convite que pudesse recusar mesmo se quisesse fazê-lo) para assistir ao show e acompanhar a banda de perto pelo dia em que ficariam em Landside.
A garota sabia que, no fundo, aquele convite tinha dedo de certo homem. Ou, quem sabe, sua mão grande e tatuada inteira, não apenas o dedo. Aquele cujo ela viu se tornar um homem bem-sucedido, famoso e com uma legião de fãs e groupies loucas para ter o mínimo de sua atenção. . Ou, como o mundo lhe conhecia, Hunter.
era a descrição perfeita do homem que os aspirantes a rockstar queriam ser. Sua presença de palco era elogiada pelos críticos mais ferrenhos do mundo do rock. Sua voz ressonava como um rugido de um leão na savana, mostrando quem era o rei por ali. Suas composições eram aclamadas e premiadas. Já colaborou tanto em músicas como no palco com bandas e artistas lendários da história do rock. Em mais de dez anos de banda, o sucesso dos últimos três foi meteórico o suficiente para deixá-lo marcado na história da música junto aos seus companheiros.
É claro que não é ignorável o quanto ele era lindo. “Arrumado”, corrigiu em sua mente. Seus olhos verdes pareciam passíveis de penetrar qualquer alma apenas no primeiro contato visual. Seu sorriso, que ostentava covinhas em suas bochechas quando aparecia, era capaz de fazer o mundo parar por alguns segundos apenas para admirá-lo. Ela ainda se lembrava do quanto se sentia protegida em seus braços grandes e fortes. parecia uma fortaleza, e não somente em termos corporais. Ele era o cara mais forte e batalhador que ela já conhecera, e que conseguira construir seu império e realizar seu maior sonho com maestria.
e eram melhores amigos desde a adolescência dele e a pré-adolescência dela. Ele sempre tivera o sonho de ser um musicista de sucesso, andando para cima e para baixo com seu caderno de composições. era tão ligada a música quanto ele, o que fazia a amizade fluir de forma ainda mais fácil. Ouviam as mesmas bandas, apresentavam músicas um ao outro e sempre acompanhava o processo de composição das canções de . Ela admirava seu talento inigualável e nunca duvidara que um dia ele fosse um estouro no mundo da música.
Ele e ela eram extremamente conectados, como se vissem um no outro um refúgio para o mundo a sua volta. Compartilhavam todas as suas dúvidas sobre crescer juntos, todos os seus conflitos, medos sobre o futuro, inseguranças. Confiavam um no outro de maneira incondicional, tinham um ao outro como base. O período de adolescência de ambos fora conturbado, como qualquer um, mas ver um ao outro como porto seguro o fez ser um pouco menos turbulento. Cada um tinha suas maiores dificuldades, porém sempre encontrava amparo no outro.
A história da Parafilia iniciara quando decidiu sair de Landside para tentar a vida na cidade grande. Ele já acabara a escola há dois anos e sabia que não queria seguir nada além de seu coração, que apontava para a música. Enquanto isso, o coração de se apertava em imaginá-lo tão longe. É claro que ele prometeu que iria visitá-la e visitar seus pais sempre que pudesse, também escrever e ligar sempre que possível. Essa história, no entanto, se choca com alguns momentos aos quais e se sentiam confusos diante ao que sentiam um pelo outro. E essa confusão se tornou ainda maior após o fim de semana anterior a viagem de .
Ambos decidiram comemorar o novo ciclo da vida de . O cronograma era simples: o sábado inteiro seria destinado a uma festa que aconteceria na casa de um dos amigos de e o domingo seria para se recuperar do estrago que fariam no dia anterior. Estaria tudo bem em seus planos se não ficasse bêbado demais no sábado, tendo que ser arrastado e cuidado por de volta em sua casa. Não seria um problema até ali se eles não tivessem se beijado antes que desmaiasse de sono. E não seria um problema tão maior se não tivessem transado no domingo seguinte com toda a lucidez que uma noite de sono poderia lhes proporcionar. Não seria maior ainda se não tivesse eternizado tudo aquilo em uma música que era um dos maiores sucessos da Parafilia . Até aí, tudo bem. O real problema seria o emocional e psicológico de ambos tão confusos num momento em que iria embora para sei lá quando voltar. E ele foi.
vinha pensando em por tanto tempo que se tornara uma rotina. E, claro, vinha sentindo sua falta com um vazio em seu peito que não parecia se preencher com nada. Como se aquele fosse um espaço no qual apenas coubesse. Ela continuava a ouvir a voz de em sua cabeça, em um replay torturante de como o envolvimento deles mudou a sua vida. E, claro, ela não tinha escolha em ouvir a voz dele pelas rádios e ambientes de Landside, que pareciam obcecados pela Parafilia .
Logicamente ambos seguiram a sua vida, independentemente do que acontecera naquela noite. tivera diversas namoradas, todas acompanhadas de perto por e algumas pela mídia desde que a banda estourou. chegara a noivar, no entanto, seu noivo desistira de tudo a três dias antes do casamento e fugira para a Califórnia com uma garota do café que ambos frequentavam. Mas tudo bem, ela nem queria casar mesmo.
chegou em casa, com sua cabeça lotada de pensamentos. Infelizmente, ela não conseguia controlar sua mente. Era tão estranho que, agora que ela se acostumara a estar sozinha, aquele turbilhão de sentimentos voltasse a lhe preencher. Ela não poderia, simplesmente, ficar numa boa com a volta de ?
Não, não podia.
A garota jogou sua mochila no sofá e pegou seu notebook em sua mesa, ligando-o. Não resistiu em dar uma olhada nas redes sociais da banda e, principalmente, na de . Na última foto que ele postara, estava dentro do que parecia ser um jatinho, segurando um pacote de Doritos e exibindo seus dedos sujos e corados de laranja. Ele sorria feito uma criança, o que arrancou um sorriso bobo de .
Ela decide, então, checar seus e-mails para rever novamente o horário e local em que deveria estar para que a produção da banda a levasse para o show. No entanto, ela se depara com outro e-mail de Erica Labour, no qual o assunto era “Abra isso ou sequestro seu unicórnio de pelúcia”. sabia bem que isso não era coisa da produtora, e já segurava seu riso abrindo o e-mail e imaginando seu conteúdo que, claro, era fruto de .
“Eu odeio essa coisa de e-mails, ugh. É coisa de avó. Mal posso esperar para você ter uma rede social em que possamos conversar normalmente.
Estou com saudades. Te vejo amanhã?
. Xx”
gargalhou ao ler a parte em que ele falava que “era coisa de avó”. Ela nunca gostou muito de exibir sua vida internet a fora, e mantinha seu e-mail a modo profissional. Ela não era muito boa com essa coisa de comunicação, globalização e todos esses blábláblás de internet.
“Hey, grandão, me respeite! Tenho alma de uma nobre senhora de 65 anos!
Vai me ver amanhã sim. Então se apresse, porque preciso de ajuda para ser jovem novamente.
Pare de hackear o e-mail da sua empresária, tomara que ela te dê uma bronca.”
Ela mandou o e-mail e voltou para sua caixa de entrada, checando o outro e-mail, realmente mandado por Erica, no qual estavam todas as informações que precisaria para amanhã. Anotou tudo em sua agenda, que levaria amanhã em sua bolsa. estava tão elétrica para o dia seguinte que sabia que não conseguiria dormir sem um bom banho e um chá quente de camomila. Decidiu, então, seguir esses processos para poder estar com energia o bastante para acompanhar o ritmo da banda no dia seguinte.
Antes de ir ao banheiro, observou com carinho um dos quadros que adornava sua parede. Uma foto sua com , na qual ela beijava sua bochecha e ele a abraçava de lado, sorrindo com os olhos fechados. Ela vestia a camisa dele do Guns N’ Roses, enquanto ele vestia outra do Nirvana. Tocou com a ponta dos dedos o rosto de , relembrando a falta que sentia daquele sorriso e daquelas covinhas.
- Amanhã, grandão. Só mais um pouquinho... – sussurrou para foto e para si mesma.
acordara atrasada, porém aquilo não era uma novidade em seu mundo. Ela tivera que fazer todo o seu processo de organização de vida pré-saída de casa em menos de dez minutos, algo que levaria mais de meia hora em dias normais. Enquanto corria em direção a sua moto, tentava colocar o casaco e, ao mesmo tempo, mantinha um sanduíche em sua boca e socava alguns objetos em sua mochila. Ela se amaldiçoava mentalmente por não ter acordado quando o despertador tocou e ficado naquela de “mais quinze minutinhos”.
Colocou a mochila apressadamente nas costas e montou em sua moto, ligando-a enquanto tentava engolir o resto do sanduíche que sequer mastigara direito. O caminho até o endereço indicado por Labour com certeza lhe renderia uma multa que pesaria muito em seu pequeno salário. No entanto, ela não poderia causar má impressão aos produtores e chefões da banda, afinal, lá estava ela como apenas uma mortal. No entanto, ela conseguiu chegar pontualmente no horário combinado, afrente do hotel onde a banda estava hospedada.
O hotel, por sua vez, estava cheio de fãs em sua frente, conversando entre si, com diversos cartazes e aparatos com os símbolos da banda e rostos de cada integrante. achava muito bonita a dedicação que os fãs da banda tinham, seguindo, acompanhando e dando suporte a todos os momentos. No entanto, ela sabia que não poderia levantar suspeitas de que estava ali justamente para ver a banda. Ela conversou rapidamente com o segurança, do hotel, que confirmou o nome dela dentro da lista de pessoas permitidas. Dessa forma, ela pode estacionar sua moto e subir para o andar o qual a banda se encontrava. A garota estava extremamente ansiosa, afinal, apenas alguns andares e passos a separavam de rever .
As portas do elevador finalmente se abriram no andar em que deveria parar e ela logo se deparou com o corredor cheio de seguranças. Porém, uma mulher baixa, de cabelos pretos e pele negra se destacava entre eles.
- ? – a mulher perguntou, e assentiu positivamente com a cabeça – Prazer, sou Erica Labour.
- O prazer é todo meu, senhorita Labour – ela estendeu sua mão e ambas deram um aperto de mão.
- Bom, vamos? falou na minha orelha o dia inteiro querendo saber de você – a mulher riu, sendo acompanhada por .
- Eu imagino, conheço essa ansiedade de . Pelo jeito, não mudou nada.
Ambas prosseguiram conversando até chegarem ao quarto onde à banda estava reunida. Era possível ouvir o som de música alta e conversas antes mesmo de atravessar a porta. Ao abrir, se deparou com um recinto cheio de pessoas, garrafas de cerveja, animação e, claro, um bom rock tocando ao fundo. Toda a produção por trás da banda estava ali, comemorando mais um show antes mesmo de acontecer, para tentar acalmar um pouco a tensão. Os olhos de buscavam sedentos por , mas não o encontravam em lugar nenhum.
Ela foi orientada por Labour a seguir para o canto da sala perto da janela, provavelmente a banda inteira estaria ali, e foi o que a garota fez. Tentando passar entre as diversas pessoas presentes por ali, se encontrava um pouco perdida e desorientada. No entanto, , que estava exatamente onde Labour sugerira, reconhecera de longe e não pode se conter em felicidade.
- ! – exclamou, pulando de sua poltrona e andando a passos largos em direção a garota.
Ela mal pode se virar para ver de onde ressonara a voz grossa quando se sentiu ser tirada do chão por dois braços enormes e cobertos por tatuagens, fazendo-a dar um gritinho de surpresa. a abraçou forte, girando-a em seu eixo. Ele mal podia acreditar que estava sentindo sua garota novamente em seus braços e que aquilo não era um sonho. Como ele ansiou por esse momento quando soube que faria um show em sua cidade natal com a banda. Agora ele poderia dizer que se sentia em casa.
- E aí, grandão? – ela tentou dizer com clareza, prensada no abraço do homem.
- Eu senti tanto a sua falta, pensei tanto em você quando estava vindo – ele confessou de olhos fechados, como se quisesse sentir o momento da forma mais visceral possível e guardá-lo em sua memória.
- Calma aí, Fera, você vai amassar a Bela – disse , percebendo que não tinha noção da própria força e que quase sufocava em seu abraço. O outro, percebendo que a apertava demais, tratou de soltá-la subitamente.
- Jesus, me desculpe, ! – ele tentou se desculpar, arrumando as roupas da garota no lugar e tentando dar um jeito em seu cabelo, agora bagunçado.
- Relaxa, grandão – ela respondeu rindo, afastando as mãos dele para se recompor ela mesma. Ele ficara um pouco constrangido, baixando sua cabeça e colocando as mãos dentro dos bolsos de sua calça jeans. sorriu e suspirou – Eu também senti muito a sua falta e só pensei em você o tempo todo.
A garota se aproximou de , levando suas mãos ao rosto com barba por fazer e acariciando os pelos aparados presentes ali. Ele sorrira abertamente, exibindo suas covinhas, pouco visíveis pela barba, mas ainda sim presentes em sua bochecha. Ele estava tão diferente daquele garoto por quem ela esperou pacientemente por tanto tempo. O apelido carinhoso que dera a ele apenas por sua altura, agora se justificava pelo corpo ainda mais volumoso e braços ainda mais fortes, lotados por tatuagens de todos os tipos, tamanhos e formas. O cabelo, que estava levemente raspado, se cobria por uma bandana preta e boné. Ele usava uma jaqueta de couro por cima de uma regata branca e jeans. Seu perfume era espetacular, e queria apenas senti-lo por horas a fio.
também não pode deixar de reparar no quanto havia crescido e adquirido uma postura madura. Ela lhe parecia à imagem da sanidade em meio à loucura que vivia durante todos aqueles anos longe de Landside. Não que fosse uma loucura ruim, obviamente, mas era bom poder se sentir em casa. E nada o fazia se sentir em casa mais do que os olhos e o abraço oferecido por . Ela era a casa dele.
- Eu mal pude esperar para chegar em casa, você nem imagina – ele confessou, acariciando os cabelos dela.
- Nem fale, a gente não aguentava mais de tanto ouvir seu nome – ela ouviu outra voz masculina interrompendo a conversa de ambos e virou-se para encontrar seu dono – Prazer, – o homem estendera sua mão, que foi prontamente apertada por – Então você é a famosa . Realmente, belíssima.
- Muito obrigada, eu acho... – ela respondeu um pouco tímida, encolhendo sua postura. tinha uma presença um pouco “forte demais”. Ele era tão alto e forte quanto , e seu olhar chegava a ser intimidador. Não algo ruim, mas algo que não estava acostumada a lidar.
- Sai fora, manézão, tá assustando a garota – outra voz soou, de outro homem que empurrara o corpo de para o lado – Oi, ! Eu sou ! – ele disse empolgado, recebendo um sorriso tímido em resposta de .
- Caralho, vocês não aquietam a bunda e esperam eu apresentar. Já falei pra vocês que ela é tímida – revirou os olhos, envolvendo em seu abraço – Os babacões você já conheceu, meu bem. Vou te apresentar a parte sóbria da banda. Esses são e .
- Ele fica todo babaca falando de você – alfinetou , dando um gole em sua cerveja – Prazer em conhecer a musa inspiradora da nossa Fera.
- Musa? – ela abaixou a cabeça, olhando para seus pés e sorrindo tímida – Quem me dera.
- Acredite, garota, metade das nossas letras de amor são para você, e a outra metade é para o quanto ele sente sua falta – confessou , que levou um chute na canela de em represália – Ai! Mas é verdade!
A essa altura, já estava mais do que enterrada no peito de e com o rosto em chamas. Ela sequer imaginava que ainda pensava nela após conhecer todos os benefícios da fama, quem dirá escrever músicas para ela. Logicamente ela conhecia uma música em especial, contudo nunca imaginaria que qualquer outra tenha sido escrita.
- Hey, prometo que quando o show acabar, nós teremos todo o tempo do mundo pra conversar e matar a saudade – sussurrou, e assentiu com a cabeça.
- , senta aí, pega uma cerveja e conta pra gente alguma história constrangedora do – disse , que parecia ser o mais descontraído entre todos da banda.
A garota sorriu tímida e sentou-se no sofá, sendo acompanhada por , que logo colocou o braço em volta de seus ombros. Ela começou a contar histórias sobre a infância de ambos em Landside, sendo ouvida atentamente por todos da banda e mais algumas pessoas da produção. intervinha em algumas das histórias, acrescentando algum comentário engraçado ou recontando a cena de seu ponto de vista.
A tarde seguiu com histórias descontraídas do dia-a-dia da banda, e pode conhecer um pouco mais de cada um ali e entender o quanto todos eram peças importantíssimas para que tudo relacionado a turnê saísse como planejado antes, durante e depois dos shows. Incluindo o show em Landside, que aconteceria dali algumas horas e o qual eles logo teriam que se preparar.
Ela pôde acompanhar todo o processo de perto. O caminho até o local onde o show aconteceria, a passagem de som, os conhecimentos técnicos dos bastidores. Tudo era um universo completamente novo e surpreendente aos olhos da garota. Os preparativos corriam enquanto ela se mostrava uma peça alheia àquele quebra-cabeça. Era tudo rápido demais, elaborado demais, complicado demais.
, por sua vez, ao mesmo tempo em que tentava se concentrar nos preparativos pré-show, mantinha sua atenção voltada a e todo o seu encanto. Ele sentira tanto a falta dela que mal poderia descrever em palavras, e tudo o que queria era poder ficar sozinho com a garota e afogar toda aquela angústia que sua falta fazia. Angústia que ele não conseguia preencher com mais nada e com mais ninguém. Ela acalmava e trazia seus pés de volta ao chão, relembrando-o de suas raízes e a importância de nunca se esquecer de onde veio.
As horas passavam voando e o momento do show se aproximava, deixando nervoso e ansioso. Ele já era assim normalmente, afinal, sempre foi perfeccionista. Mas sua apreensão só aumentava pela carga de responsabilidade que era tocar em sua cidade natal e, mais, tocar tendo uma das pessoas mais importantes lhe assistindo. Era parecido como quando tocou em Los Angeles com a presença de sua mãe, porém tinha uma carga um pouco mais forte.
podia perceber que estava apreensivo, decidindo então se aproximar e tentar acalmá-lo. Ele estava sentado em cima de uma das caixas de som, olhando para um ponto fixo, porém distante em seus pensamentos. sentou-se ao seu lado.
- Você sempre fica nervoso antes dos shows? – ela perguntou, pegando em sua mão e sentindo-a suada – Ok, você está muito nervoso – ela apertou a mão dele entre as dela, tentando lhe passar conforto. riu.
- É normal, meu bem. Eu só estou um pouco mais por estar aqui. E por te ter aqui. Tudo precisa sair perfeito – ele respirou fundo, fechando os olhos e encostando a cabeça no ombro de .
- Não precisa ser perfeito, . Seja você. Mostre toda a sua energia e talento como você sempre faz. Eu já estou orgulhosa por ver aonde você chegou. Nada me faria mais feliz se você fosse você mesmo em casa – ela beijou o topo do boné na cabeça de – Eu sei que será perfeito da forma que sair.
- , três minutos! – um dos roadies da banda gritou, para que se posicionasse para entrar no palco.
- Lee! – chamou o roadie , que veio até nós – Tira uma foto minha e da e posta no meu Instagram, por favor?
- Claro, herói! – ele respondeu, já sacando o celular do bolso.
- Mas, , suas fãs não vão ficar um pouco... Incomodadas? – perguntou um pouco apreensiva, pois conhecia bem alguns fã-clubes do Parafilia , e sabia que algumas fãs eram um pouco... Radicais em seu amor.
- Eu quero que meus fãs vejam, . Vejam o quanto eu estou feliz e o quanto me sinto em casa, e todo esse sentimento é graças a você – ele respondeu, acariciando a bochecha da garota com o polegar.
levantou-se e pegou pela mão, fazendo-a levantar também. A abraçou e beijou o topo de sua cabeça. Ela por sua vez, aconchegou-se em seu peito e rodeou sua cintura com os braços. Lee aproveitou a pose de ambos para capturar o momento da forma mais espontânea que pode. sentia seu rosto corar um pouco de vergonha, porém não podia deixar de se sentir aconchegada nos braços de .
- Qual legenda? – Lee perguntou.
- “Casa”. Nada descreveria melhor – ele respondeu, beijando a testa de .
- , um minuto – Lee avisou. soltou seus braços de , sem antes apertá-la contra seu peito novamente.
– Fique com isso – disse , retirando rapidamente a jaqueta que vestia e colocando-a sobre os ombros de . A vestimenta sustentava o nome e símbolo da banda em suas costas, com o sobrenome de logo abaixo. Ela mal ousou responder negativamente àquilo.
- Arrebenta, grandão – sussurrou a ele, sorrindo abertamente e tendo certeza de que ele o faria.
A plateia gritando o nome da banda em coro já era ouvido em alto e bom som no backstage . apenas conseguia sorrir. Saiu correndo para sua posição, pronto para adentrar o palco e dar a Landside o maior e melhor show de suas vidas.
O toque do órgão de introdução da primeira música do show começara, levando a plateia a loucura. e iniciaram os primeiros acordes nas guitarras, juntamente com , que rodava e brincava com as baquetas enquanto dava as primeiras batidas da música. A plateia, por sua vez, já entonava em coro a introdução da música. Por último, entraram em conjunto no baixo e no vocal. O jogo de luzes, pirotecnia e cenário do palco deixavam tudo aquilo ainda mais emocionante. pulava, gritava e cantava do backstage como se estivesse no meio da multidão enlouquecida, fazendo alguns dos roadies da banda rirem com sua empolgação.
A banda emendou as três primeiras músicas, e o público permaneceu no embalo energético a todo vapor. Ao fim da terceira música, as luzes se apagaram por um momento e reacenderam novamente. estava bebendo água, enquanto ajeitava alguma coisa na guitarra que não conseguia ver. sorria empolgado enquanto fazia sinais exagerados para . , por sua vez, tomou a frente do palco para falar com o público.
- Como é bom estar em casa, puta merda. Boa noite, Landside! – entonou com animação no microfone, recebendo gritos histéricos em resposta – Não precisaria perguntar pela energia do caralho que senti de vocês, mas vocês estão prontos para um pouco de rock essa noite? – e entonavam alguns acordes aleatórios enquanto o público respondia novamente com animação – Ok, acredito em vocês! O que você está achando até agora, D. Evil?
- Ora, Hunter, acho que você deveria ter me trazido pra visitar sua casa antes – respondeu em seu microfone – Olhe só o que eu ganhei de presente daquela bela morena – ele exibiu o sutiã jogado no palco, que agora adornava sua guitarra.
- É um belo exemplar, D. Evil. Ficará lindo em seus belos seios – provocou em seu microfone e fazendo todos rirem.
- Ok, ok, garotos – ponderou, rindo – Não nos apresentamos ainda. Nós somos Parafilia . Eu sou Hunter, prazer. Esses fodidos na guitarra são D. Evil e Psykho...
- Satisfação, meninas. Prazer é só comigo, na cama – disse , cortando a fala de .
- Vocês já percebem que o ego do nosso D. Evil é tão grande que mal cabe no palco, não é mesmo? – todos riram e apenas fez uma distorção na guitarra, brincando – Aqueles senhores de respeito ali atrás são Eden e Voyeur. Vocês já imaginam quem seja o Voyeur, afinal, nosso querido baterista adora observar todos vocês ali na surdina.
- Qual é, Hunter? Eu não sou tão galante quando vocês, preciso mostrar meu talento de outras formas – respondeu .
- Nós te amamos, Voyeur. Mas já falamos demais, não é mesmo? Acho que agora prefiro ouvir vocês gritarem.
O baixo de deu a introdução de Scream. Alguns mosh-pits se abriram no meio do público, enquanto e pulavam e cruzavam o palco. decide, então descer do palco e se misturar ao meio da multidão enquanto solava. Um mar de gente pareceu engolir o homem, para depois elevá-lo e fazê-lo “surfar” pela multidão. se preocupou quando o viu desaparecer em meio a milhares de pessoas, porém respirou um pouco mais aliviada ao vê-lo sorrindo e cantando a plenos pulmões.
Ao final da música, já estava no palco, interagindo com enquanto cantava os versos finais. Ao fim, uma explosão de fogo se deu no palco, seguida por um apagar de todas as luzes novamente. Outra vez, interagiu com o público.
- Vocês não vão ficar decepcionados se diminuirmos um pouco o ritmo, não é? – perguntou, recebendo gritos de incentivo da plateia – Muitos de vocês já devem conhecer essa música, foi lançada há alguns meses – alguns gritos de excitação começaram a vir da plateia, fazendo o vocalista rir – Porém eu a escrevi quando ainda vivia aqui e era apenas um garoto com sonhos altos demais. É uma honra poder tocá-la em casa pela primeira vez. E, mais, tocar para a garota a qual essa música foi feita. , essa é pra você.
Os primeiros acordes de Addicted soaram, fazendo a plateia ir à loucura. sentiu seu coração acelerar de uma maneira que poderia parecer com taquicardia. Ela lembrava bem das circunstâncias as quais essa música foi composta. Ela lembrava bem de seus olhos revirando e suas costas se arqueando momentos antes de ter um clique de inspiração, saltar da cama nu e correr para seu bloco de composições. A música tinha uma carga sexual fortíssima, não apenas em sua letra, como em seu ritmo um pouco mais lento e focado na sensualidade do toque de guitarra que apenas sabia dar. Estava ali, para milhares de pessoas no show e milhões de pessoas no mundo a forma como se sentia quando estava com ela. Viciado em seu amor.
É claro que o laço entre ambos não havia se dissipado em sua totalidade. Isso foi claro desde o primeiro encontro entre eles. A conexão entre e era mais forte do que qualquer coisa. Ela mal podia controlar seus pensamentos, não havia como esquecer, não havia como apaziguar. era tudo o que ela queria e, mesmo que ela não o tivesse mais ali, ao menos teria uma memória. E aquilo era mais do que suficiente.
O olhar de foi atraído como um imã para enquanto cantava. Aquela música, afinal, era dela. Ele caminhou até perto do canto esquerdo do palco, onde se embalava ao ritmo da música e olhava fixamente para ele. Tudo o que ele mais queria era beijar enquanto solava. Aquela melodia que o relembrava do corpo de sobre o seu, seus suspiros, seus olhos fechados em êxtase. , ao mesmo tempo, relembrava daqueles momentos, e perdia seu fôlego.
se distraiu tanto que mal percebeu o final do solo de , tendo que levar um cutucão de para voltar a cantar. Enquanto isso, claro, o público dava suporte e cantava música a plenos pulmões. Ao final da música, a plateia permaneceu gritando enlouquecida.
- Acho que nosso Hunter não conseguiu se concentrar muito bem porque sua musa está logo ali atrás – provocou – É o momento de reencontro da Bela e da Fera.
corou fortemente, tentando se esconder o máximo que podia por detrás das caixas de som. Os roadies a observavam, rindo de seu constrangimento. Enquanto isso, dava um tapa na cabeça de , fazendo público rir.
- Ok, Landside! Acho que vocês ainda não perderam o ritmo. Vocês aguentam mais uma? – perguntou, sendo respondido por gritos – Acho que não ouvi bem... Vocês estão prontos pra colocar tudo a baixo, Landside? – ele gritou, levando a plateia a gritar ainda mais alto em resposta – Ok... Eden, faça as honras.
tocou a intro de Break It Down, sendo logo acompanhado por . Enquanto isso, encarava admirada a presença de palco de todos ali. O show estava sendo um momento mágico e único, e ela se sentia tão feliz de poder estar acompanhando tudo aquilo tão de perto. A realização do sonho de , bem ali, na cidade deles, na casa deles. Ela não poderia estar mais orgulhosa.
Mais três músicas se passaram até que chegasse o momento da última música e despedida da banda. bebia sua garrafa de água, enquanto fazia graça, jogando água no público.
- Landside, tenho uma notícia muito triste... É a última música – vociferou em seu microfone, ouvindo o coro de decepção do público – Muito obrigado a todos vocês por estarem aqui conosco, compartilhando tanta energia. Nós somos muito gratos a cada um presente aqui.
- Muito obrigada por estarem aqui, vocês não imaginam o quanto isso significa para nós – interviu – É incrível para mim estar em casa, e mais ainda me sentir em casa depois de tanto acolhimento. Mas não vamos diminuir o ritmo. Agora já podemos abrir os portões.
solou o início de Open The Gates, o maior sucesso da Parafilia . não conseguia imaginar de onde todo aquele público tirava tanta energia para estarem tão animados até a música final. Ela já não se aguentava em suas pernas e sua voz já começava a falhar. E não imaginava também como a banda mantinha-se tão enérgica, interagindo com o público, pulando pelo palco... Era energia demais, e tudo aquilo fluía de uma forma incrível, numa troca entre banda e público.
Ao fim da música, todos da banda fizeram agradecimentos em seus respectivos microfones e jogaram objetos como palhetas, baquetas, toalhas... atreveu-se até mesmo a tirar sua camisa e jogá-la ao público, o que gerou um pequeno tumulto no meio da multidão. Foi nesse momento que ela pode reparar o tronco suado e repleto por tatuagens dele, imagem que a levou a morder o lábio inferior de maneira inconsciente. estava tão em transe que sequer percebeu que vinha correndo em sua direção até que ele a erguesse e joga-se seu corpo por cima de um de seus ombros, continuando a correr pelos bastidores.
- Hey, pra onde você está me levando? – ela perguntou com a voz trêmula pelas passadas rápidas de .
- Te prometi um tempo só nosso, não? – ele respondeu.
correu até o camarim com em seus ombros, chamando a atenção de todos no backstage e arrancando risos de alguns. Ao chegar, abriu a porta e, com brutalidade, a chutou para fechar. Colocou de pé novamente de forma delicada e lhe deu as costas, pegando sua toalha para direcionar-se ao banheiro. A garota, sem entender muito bem a razão daquilo, sentou-se na poltrona perto dos petiscos que sobraram do pré-show e saciou-se, aguardando que saísse.
Não demorou muito até que ele saísse do banheiro e caminhasse até , que estava distraída demais com a comida para se preocupar com sua presença ali. colocou as mãos nos ombros de , massageando a região na pressão correta a ponto de fazer a garota fechar os olhos e relaxar. Ele aproveitou-se do momento para dar a volta pela poltrona e ajoelhar-se na frente dela, para poder encará-la.
- Hey, baby, olhe para mim – ele disse com a voz baixa, acariciando a coxa de .
abriu os olhos devagar, porém teve um sobressalto ao encontrar apenas de toalha, com pingos de água ainda escorrendo por seu corpo e um sorriso sacana em seus lábios. Ela levou suas mãos até os olhos.
- Jesus Cristo, ! Vá colocar uma roupa – ela pediu, com a voz fina refletindo nervosismo.
- ... A intenção não era bem ficar de roupa – respondeu – Vamos lá, não é nada que você nunca tenha visto – ele pegou em seus pulsos, tirando as mãos de delicadamente de seu rosto. Ainda assim, ela permanecia de olhos fechados – Abra os olhos, , eu não vou morder se você o fizer.
Ela abriu os olhos, mas evitou a todo custo olhar em direção a . Ele sorria, vendo o rosto dela corado. pegou as mãos de e as acariciou.
- Eu senti sua falta, meu bem. Estive pensando muito em ti desde que fui embora – ele suspirou – Ninguém nunca me teve do mesmo jeito que você, . Ninguém me amou tão bem quanto você.
- Você tem milhões de mulheres aos seus pés, . Famosas e anônimas. Não faz sentido algo comigo – ela disse, surpreendendo-o – Eu não sei se isso seria certo.
- Elas me conhecem como Hunter, é isso que sou para elas. Com você, eu não sou o Hunter e nem preciso ser. Eu sou apenas o velho ... O seu grandão – ele sorriu com ternura, aninhando a mão de entre as suas para esquentá-la – Meu bem, eu não quero mais ninguém. Eu não preciso de mais ninguém.
atreveu-se a inclinar seu corpo sobre o dela, aproximando seus rostos. As mãos de automaticamente se dirigiram as bochechas dele, acariciando a barba por fazer. Seus narizes se tocaram, fazendo ambos fecharem os olhos e não mais evitar o que estaria por vir. Logo as bocas se uniram em um beijo apaixonado e carregado de saudade. As mãos de ambos passeavam por seus corpos, como se precisassem se reconhecer novamente e rememorar cada pedaço.
Muito mais do que seus corpos se fundiam naquele momento. Suas almas se reencontravam, acesas e emanando fogo da forma mais pura que a paixão poderia proporcionar. Era o momento onde podiam se perder um no outro sem pressa, desligando-se do mundo para criar o seu próprio. As promessas sussurradas entre ofegos pesavam em ambos os corações. Eles sabiam que não poderiam prometer o amanhã para o outro, porém, no momento, poderiam prometer uma noite.
estava distraída com as nuvens que passavam pela janela de seu quarto, relembrando os últimos momentos que passara com antes que a banda partisse. Ele ficara proibido de falar, ordens de Erica, de forma a descansar sua voz para o show seguinte. É claro que ele descumprira em alguns momentos, no entanto, a maioria das comunicações no dia foram feitas por bilhetes. Todos que, agora, estavam ao lado de , que os relia e sorria como uma boba.
“Eu queria que você se apressasse pra voltar da próxima vez”, se mostrava escrita por uma letra cursiva e pequena, caligrafia de . Embaixo, no entanto, outra letra cursiva e um pouco maior, caligrafada por , respondia: “Eu vou, princesa. Prometo que irei. Será mais rápido do que você imagina ;)”.
Ela suspirou, revirando-se em seus lençóis. Era incerto qualquer futuro entre ambos, tanto pela carreira de , como pelos planos de , que não pretendia sair tão cedo de Landside, e muito menos para rodar em turnê com a banda. Ela almejava sonhos diferentes e sabia que teria que correr atrás para realizá-los, com ou sem . Ficar sonhando apenas não lhe colocaria comida na mesa e muito menos pagaria suas contas.
Levantou-se de sua cama, decidida a sair do estado de inércia e pronta para voltar a produzir novamente. Procurou em seu guarda-roupa algo decente para aparecer na rua e decidiu por uma camiseta preta e lisa e um jeans. Pegou sua mochila, que continha seu notebook e material para estudos e traçou mentalmente seu cronograma e lista de livros que necessitaria na biblioteca da cidade. Saiu de casa, concentrada na música que soava em seus fones de ouvido, sem sequer perceber que estava sendo observada e fotografada.
- “ , a nova presa de Hunter”... Isso vai me render primeira página...
Fim
Nota da autora: Oi! Acho que é a primeira vez que deixo uma nota e, mais ainda, a primeira vez que deixo um final tão em aberto quanto esse. Essa história esteve em minha mente por muito tempo e, sim pretendo transformá-la em algo maior. Não sei quando, não sei como, porém tenho certeza que o farei. Muito obrigada se você leu até aqui e espero que tenha gostado. <3
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