15. Vai Entender
Postada em: 04/03/2018
E lá eu estava novamente, nos braços dele, me perguntando por qual motivo eu tinha que passar por aquilo.
Nossas noites sempre eram intensas, os beijos apaixonantes, as conversas sempre fluíam de uma forma que eu não conseguia explicar. Eu me sentia bem ao lado dele, mais ainda quando estava em seus braços. Era tudo intenso e forte demais.
- Não dá mesmo pra você passar a noite aqui? – Eu perguntei enquanto assistia ele se trocar, havia feito o convite há minutos atrás, mas o mesmo negou.
- Não vai dar, eu tenho um compromisso agora. – Respondeu seco, sem sequer me olhar.
A minha vontade era de colocar tudo pra fora, tudo o que eu sentia, tudo o que ele causava em mim. A minha vontade era gritar para que não ficasse dúvidas do efeito que ele tinha sobre mim. Mas a sua frieza me impedia, o seu jeito indeciso me fazia pensar que não valia à pena chegar nesse nível.
- Que compromisso você tem depois da meia noite? – Tentei puxar assunto, já que eu não tinha coragem de falar o que eu realmente queria.
- A gente se vê qualquer hora. – Ele me deu um beijo e saiu, ignorando por completo a minha pergunta.
E quando o barulho da porta quebrou o silêncio do quarto, as lágrimas rolaram pelo meu rosto sem permissão. Mais uma vez eu permiti que ele aparecesse e mais uma vez ele se foi, me deixando apenas com a minha confusão. Ao mesmo tempo em que eu queria estar nos braços dele para sempre, eu também queria acabar com aquela situação que me deixava louca.
Doía me sentir apenas um passatempo pra alguém que era tão importante pra mim. Doía não ser a primeira opção dele nos momentos em que ele queria uma companhia e não só uma noite de sexo. E doía mais ainda não ser forte o suficiente para colocar um fim naquela situação que mais me machucava do que me fazia bem.
Passei todo o restante daquela noite pensando em tudo o que aconteceu desde que ele chegou na minha vida. O meu maior erro foi ter me apegado nos momentos bons que sempre foram minoria. O “boa noite” dele me fazia esquecer todas as outras mensagens ignoradas. As poucas horas com ele me fazia esquecer todas as noites em que eu passei sozinha querendo uma companhia. E todas as suas chegadas não me deixavam lembrar dos momentos em que ele saia de um jeito que só me fazia pensar que não teríamos um outro momento juntos.
Acordei no dia seguinte feliz pela noite anterior, como das outras vezes. Apesar de tudo, ele sempre voltava e isso fazia com que eu me sentisse bem, de alguma forma. Não pensei duas vezes antes de mandar uma mensagem desejando um excelente dia a ele, queria que ele tivesse sentindo a mesma felicidade que eu. Ao perceber que eu tinha sido ignorada como sempre, toda a minha alegria sumiu como em um passe de mágica. Era sempre assim, ele sempre conseguia estragar tudo de alguma forma.
Mas ainda assim eu queria vê-lo, queria estar nos seus braços novamente, queria sentir todas as sensações que eu sentia quando estava com ele. Eram sempre as mesmas, mas pareciam ser únicas.
Talvez se eu não tivesse me apegado as coisas seriam mais fáceis. O sentimento é algo tão lindo, mas tão complicado. Eu juro que não foi escolha e, se pudesse escolher, optaria por não sentir.
Era horrível, quem te arranca sorrisos e quem te machuca tanto ser a mesma pessoa. Eu não queria gostar dele, não queria passar por tudo que eu passei. Mas eu simplesmente não conseguia deixar de sentir.
Se passaram dias e semanas sem notícias dele. Minha vontade era ligar, procurar, ir até ele para saber se estava tudo bem, mas não fui. Não sei se foi medo, maturidade ou amor próprio, mas alguma coisa fez com que eu não fizesse nada diante daquela situação. Ele nunca havia sumido por tanto tempo.
O pior, ou o melhor, de tudo era que eu estava bem. Eu estava vivendo a minha a vida normalmente e não era como se faltasse algo. Foi nesse momento que eu entendi que, embora eu quisesse muito ele em todos os momentos da minha vida, eu não precisava dele para nada.
O relógio já marcava mais de meia noite quando a campainha tocou. Era ele, como sempre, chegando sem avisar e tarde da noite. Abri o portão me sentindo fraca por não conseguir ignorá-lo.
- Oi, meu bem. – Ele me disse e me deu um selinho, que eu não consegui recusar.
Não consegui responder, tinha um nó na minha garganta que me impedia de falar. Ele entrou pro meu quarto sem precisar de um convite. Fui em direção ao mesmo cômodo sem pressa e quando cheguei ele já estava livrando-se das roupas.
Ao observar ele deitado na cama, eu quis esquecer tudo como das outras vezes e matar a minha vontade, mas aqueles pensamentos de que eu não precisava passar por aquilo ainda estavam vivos em minha mente.
- O que foi? – Ele pareceu notar que eu estava diferente.
- Veste sua roupa e vai embora. – Foi a única coisa que consegui dizer depois de ficar por alguns segundos em silêncio.
- O que deu em você?
- Eu cansei de disso, cansei de ser só um passatempo pra você. Se você tiver um pingo de consideração por mim ou vergonha na cara, não me procura mais. – Cuspi as palavras em sua cara, eu não queria dizer tudo aquilo, mas eu precisava.
- Você enlouqueceu. – Ele tentou falar, mas eu interrompi.
- Eu nunca escondi que eu gostava de você, mas eu tenho que gostar de mim também. Então a única coisa que eu quero te pedir é pra não me procurar mais.
Pela primeira vez eu estava mostrando um lado que ele não conhecia. E a sua ação de vestir a roupa não era que ele estava concordando comigo, era porque ele estava sendo contrariado e quis fugir quando viu que não conseguiria revidar.
- Eu nunca disse que você era um passatempo. – Ele quebrou o silêncio ao passar pela porta e parar de frente pra mim.
- Você nunca me disse nada.
- Você está querendo acabar com algo tão bacana que existe entre a gente. – Falou baixo, como se estivesse com medo do que eu poderia falar ou fazer.
- Nunca existiu nada entre nós dois, eu só cansei de deixar o tesão falar mais alto. Embora eu queira muito ficar com você, eu não preciso de você pra porra nenhuma.
Ele ainda abriu a boca pra tentar falar, mas nenhuma palavra saiu antes de me deixar sozinha mais uma vez com as minhas lágrimas.
A diferença era que aquelas lágrimas eram uma mistura de dor com alívio. Embora eu tivesse a consciência de que eu sofreria muito sem ele, eu sabia que ficar ao seu lado era alimentar algo que não tinha futuro. Naquele momento me coloquei em primeiro lugar e fiquei extremamente orgulhosa por isso.
Depois de um tempo, eu percebi que perder quem eu mais queria ao meu lado foi a melhor coisa que eu havia ganhado. Vai entender...
Fim.
Nota da autora: Sem nota.
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