Capítulo Único
A música estava tão alta que eu jurava que no dia seguinte não ouviria nada. As luzes estavam me deixando tonta, mas eu não culpava apenas seus movimentos, já que eu estava no meu terceiro copo de Martini.
Tori, que havia me arrastado para o The Vale em uma quinta-feira à noite estava dançando com um cara qualquer da faculdade e eu estava sentada em uma bancada do bar completamente entediada.
Rolando os olhos por todo o pub achei, finalmente, algo que me interessasse. O indivíduo usava uma camisa social cor azul céu com algumas bolinhas brancas espalhadas por ela, com os botões mais de cima abertos, revelando uma correntinha que provavelmente custava mais do que minha casa. A calça preta era justa e mostrava bem suas finas e longas pernas, e nos pés não pude deixar de reparar em suas botas cor de caramelo.
Depois de ter praticamente secado o garoto por alguns minutos subi meu olhar até seu rosto, que tinha um sorriso lateral com seus olhos direcionados a mim. Instantaneamente ajustei minha postura e me permiti sorrir de volta. Alguns minutos trocando olhares e eu já estava ficando agoniada com aquilo, já que morria de vergonha quando alguém me encarava por muito tempo. Procurei Tori com os olhos e não achei de jeito nenhum.
Ao voltar o olhar para a parte de cima do mezanino o bonitão do cabelo grande não se encontrava mais lá, o que me fez suspirar. Minha única distração da noite havia sumido, e eu não me daria o trabalho de procurar.
- Acho que você está tão entediada quanto eu. - ouvi uma voz grossa repentinamente do meu lado, o que me fez dar um pulo da bancada
- Ahn... Você nem imagina o quanto. - tentei manter a naturalidade já que não fazia ideia de como ele havia aparecido ali em tão pouco tempo.
- Você é daqui? - ele perguntou mudando a totalmente de assunto e depois bebeu um pouco de seu Moscow Mule
- Sim, nascida e criada em Toronto. E você? - ele riu nasalado depois de eu terminar a pergunta e eu não entendi o porquê.
- Nasci em Homes Chapel mas moro em Los Angeles.
- Uau, LA! A terra dos famosos e ricassos. - fingi estar animada e ele riu, e percebi que seus dentes eram perfeitamente alinhados
- É... mas não é tão legal quanto parece nos filmes. É apenas um lugar com mais oportunidades pra quem quer seguir uma carreira. - ele disse perto do meu ouvido por conta da música alta, e eu tentei manter a compostura
- Não posso opinar, já que nunca fui pra lá. - ri nasalado e dei um gole na minha bebida - Na verdade, existem muitos lugares que eu nunca fui.
- E qual lugar você mais gostaria de visitar? - ele perguntou levantando uma sobrancelha, aparentemente curioso.
- Acho que Machu Picchu, no Peru. - eu indiquei, pensativo
- Uau, eu também nunca fui pra lá. Mas eu teria chutado Londres! - ele riu surpreso.
- O que? Por que? - eu finalmente olhei fixamente em seus olhos verdes e percebi que tinha um brilho ali
- Não sei, acho que porque você tem cara de inglesa. - ele deu de ombros e sorriu.
- Vou encarar isso como um elogio. - e pela primeira vez na noite eu tinha um sorriso no rosto - Você está acompanhado? - no momento seguinte que fechei a boca, percebi que a pergunta saiu mais maldosa do que eu planejava.
- Estou com meus amigos que estão com um camarote no mezanino. Você quer ir lá?.
- Tive uma ideia melhor. - e instantaneamente sorri, o puxando pela mão.
Puxando ele até a saída do pub percebi sua expressão de confuso, mas pude ver um sorrisinho ali também..
- Espera! Eu nem perguntei o seu nome. - parei instantaneamente nosso trajeto fazendo nossos corpos se chocarem.
- , e o seu? - ele perguntou sorrindo, enquanto me olhava, claramente confortável com nossa proximidade.
- , mas pode me chamar de . - disse meio sem graça, em seguida virando as costas e voltando a caminhar.
- Então, pra onde nós vamos, ? - senti uma ponta de provocação ao pronunciar meu apelido, mas deixei pra lá.
- Você já deve ter vindo pra Toronto algumas vezes, mas nunca conheceu a parte certa de Toronto..
- Então me mostre. - ele olhou fixamente em meus olhos e eu arrepiei, não só por conta do vento gelado da rua..
Não fazia a mínima ideia do porque, mas eu queria muito mostrar o The Underground pra ele. Esse sempre foi um lugar especial pra mim, eu ia pra lá com meus amigos quando não aguentava mais a faculdade e sempre acabávamos nos divertindo. Passamos o caminho inteiro conversando sobre acontecimentos de nossa vida e pude reparar que ele era extremamente engraçado. E bonito. E gentil.
- Na verdade eu não gosto muito de festas. Ainda mais quando faz frio aqui. Prefiro mil vezes ficar em casa. - falei dando de ombros, enquanto acariciava meus braços rapidamente, com intuito de passar o frio.
- Eu também não sou muito fã, mas sempre tem um ritual de irmos em alguma festa nos países que visitamos. - disse com naturalidade.
- Quem é ? - perguntei curiosa
- Ahn... É um amigo, da faculdade... Nós viajamos muito juntos. - ele coçou a nuca
- Entendi... - falei meio receosa com o jeito que ele respondeu, mas deixei de lado
Acho que acabou percebendo que eu estava toda encolhida por conta do vento e acabou me abraçando de lado. Foi um ato totalmente repentino e natural. Ele colocou seu braço esquerdo por cima dos meus ombros e passou o direito pelo meu tórax, segurando meu braço esquerdo. Meu Deus ele era extremamente grande. E cheiroso.
Depois de alguns segundos completamente estática meu corpo reagiu contra os meus instintos e colocou minha mão em cima de seu braço esquerdo. O que o fez sorrir de lado pra mim.
Continuamos caminhando em silêncio, já que ele não era nenhum pouco incomodativo. Estávamos curtindo a presença e o toque um do outro.
- Você faz faculdade? - perguntei totalmente curiosa
- Ahn... Faço sim. De música. - ele respondeu olhando pra frente.
- Sério? Que legal! Eu sempre quis saber cantar, mas minha mãe sempre me deu a real e disse que nunca iria rolar. - gargalhou e sua risada acabou me contagiando.
- Aposto que sua voz não é tão ruim assim! - ele disse, ainda rindo.
- Posso te provar! - falei animada, me desvencilhando dele enquanto apontava para um karaokê da primeira rua do The Underground.
Puxei até chegarmos no local e paguei por uma mesa. Ele praticamente me xingou já que eu nem hesitei em dividirmos a conta e eu apenas o ignorei.
- Vamos, eu começo! - chegamos perto de um palquinho e eu peguei o microfone, procurando por uma música enquanto se sentava, com um olhar divertido.
Acabei escolhendo Obsessed da Mariah Carey e pareceu aprovar minha escolha. Nos primeiros segundos da música comecei a dançar de um jeito engraçado e tapou os olhos, já começando a rir. Eu não sabia a música totalmente de cor, então tinha que dividir meus olhares entre o visor com a letra e os olhares de .
Tentei dançar do jeito mais sensual possível enquanto cantava o refrão e engoliu em seco, se ajeitando na cadeira. Com certeza se não fossem aqueles 3 copos de Martini eu não estaria fazendo isso. Que vergonha.
Mas assim como eu, parecia estar se divertindo muito, fazendo até algumas dancinhas enquanto mexia os lábios de acordo com a letra.
Quando acabei de cantar, o visor mostrou a pontuação de 75% e eu fiquei super feliz, já que no máximo fazia 50%. me aplaudiu e fez questão de levantar. Ele chegou perto de mim e segurou minha cintura, me fazendo arrepiar involuntariamente.
- Minha vez. - ele piscou e pegou o microfone da minha mão, antes fazendo um carinho ali.
rolou as opções até escolher Juice da Lizzo. Eu sorri, já que também adorava aquela música. Ele começou a cantar e eu jurava que tinha babado. Ele tinha uma voz tão, mas tão boa que por um momento eu jurei que ele era um cantor profissional.
, provavelmente imaginando que eu teria aquela reação, sorria cantando e olhando pra mim. Mesmo meio duro, ele dançava e fazia movimentos engraçados. E eu estava rindo muito, com certeza trazê-lo pra cá foi uma ótima ideia.
Quando ele terminou de cantar fiz questão de aplaudir de pé e assobiar. ficou todo envergonhado e desceu de lá, sorrindo pra mim como um anjo que caiu do céu. Eu estava tão hipnotizada com sua beleza que só voltei pro mundo real quando o visor marcou 100% de pontuação.
- ! Caralho, você canta muito bem! - falei encostando nas laterais de seus braços.
- Se você diz... - ele tinha um sorriso envergonhado nos lábios e um brilho único naqueles olhos verdes esmeralda.
Pedi pra que esperasse antes de irmos embora - pra que eu pudesse apresentar as outras partes do bairro antes que fosse tarde demais - para eu tirar uma foto com sua pontuação.
- Vou mostrar pra Tori e dizer que fui eu que fiz essa pontuação. Ela não vai acreditar! - disse animada enquanto olhava a foto e gargalhou ao meu lado.
Entrelacei seu braço no meu e fomos andando para as outras partes do bairro. comentou o quanto tinha gostado da iluminação e das músicas de fundo, que tinham uma pegada mais R'B.
O próximo lugar seria a sorveteria do senhor Lenny. com certeza iria me agradecer depois de provar o sorvete de baunilha.
- , esse é o senhor Lenny, senhor Lenny esse é meu novo amigo, . - falei animada ao encontrar o melhor sorveteiro de Toronto
- Muito prazer senhor Lenny! - falou esticando a mão para cumprimentá-lo.
- Olá meus jovens! O que vocês vão querer hoje?br> - Dois de baunilha, por favor! Quero apresentar o melhor sorvete do mundo pra ele! - falei sorridente, enquanto me sentava em um dos bancos.
apenas assentiu e sorriu. Ele chegou perto de mim, ficando em minha frente, e colocou suas mãos em minhas coxas, fazendo um leve carinho ali. Eu pude jurar que morreria ali mesmo, não estava esperando aquela demonstração de carinho.
Subi meu olhar, que estava em suas mãos, para seu rosto. Ele sorria sapeca e tinha um olhar carinhoso. Eu retribui e coloquei minhas mãos sobre as suas, entrelaçando nossos dedos.
Minutos depois o senhor Lenny tinha trazido nossos sorvetes e eu sorri aliviada depois de ver a cara de prazer do depois da primeira "mordida". Sentamos em uma das mesas que tinha ali e ficamos conversando por pelo menos umas duas horas.
- Então... Quando você volta pra Los Angeles? - perguntei, mesmo sem querer ouvir a resposta.
- Ahn, sábado. Temos um compromisso amanhã de noite e nosso voo é sábado de manhã. - ele se mexeu na cadeira, parecendo estar desconfortável.
- Entendi. Mas, sabe... Você acredita que eu nunca vou estar longe demais? - me encarou por alguns minutos sorrindo antes de responder.
- Sorte a minha.
Estava quase amanhecendo quando eu e pedimos um táxi para irmos pra casa. No caso, eu pra minha casa e ele para um hotel que estava ficando. Me permiti deitar em seu peitoral e aproveitar seu perfume maravilhoso enquanto ele acariciava meus cabelos, antes de chegarmos na minha casa.
- Vou te passar meu telefone, mas você tem que jurar que não vai passar pra ninguém. - ele falou, pegando meu celular do meu bolso.
- Tá bom, senhor super importante. - debochei rindo, enquanto me olhava meio assustado
- Eu tenho a manhã livre amanhã, se você quiser fazer alguma coisa... - ele disse, receoso.
- Eu conheço um restaurante ótimo, te mando o endereço depois. - respondi, deixando um beijo em sua bochecha e descendo do táxi logo sem seguida.
Eu e a tínhamos combinado de almoçar hoje e eu estava mais nervoso do que deveria. Acho que ela nem imaginava que eu queria ter beijado-a desde o primeiro momento em que a vi no pub.
O que mais me surpreendeu foi ela não ter me reconhecido, nem quando eu citei que estava com o . Ou talvez ela fosse uma ótima atriz.
Confirmei que a última alternativa era totalmente idiota e continuei me vestindo. Coloquei uma blusa branca, uma calça jeans preta e as mesmas botas de ontem, já que não costumava trazer muitas roupas na mala quando estávamos em turnê.
Chamei um táxi e esperei ansiosamente por alguma mensagem da . Mas nada.
Chegando lá, soltei um suspiro que eu nem sabia que estava segurando quando a vi.
Ela estava incrivelmente linda. Com um vestido amarelo mostarda, um vans branco e uma bolsa da mesma cor. Ao me aproximar dela senti seu perfume doce e minha vontade de beijá-la só aumentou.
Como se ela tivesse lido meus pensamentos, se colocou na ponta de seus pequenos pés e me deu um selinho demorado.
- Bom dia. - ela sorriu envergonhada.
Sem nem responder a puxei de volta pela cintura pra perto de mim e a beijei. Pode parecer tosco e ilógico, mas assim que senti o quente de sua língua parecia que minha tatuagem de borboleta tinha criado vida em meu estômago.
Terminando o beijo com um selinho, sorrimos um para o outro antes de eu entrelaçar meus dedos nos seus para entrarmos no restaurante.
Eu ainda estava extasiada com o que tinha acabado de acontecer e meu corpo implorava por mais. Sentamos em uma mesa, um de frente pro outro e o carinho que fazia nas costas da minha mão estava me deixando louca.
Conversamos por horas depois de comermos e quando eu sabia que era a hora de irmos embora meu peito apertou. Eu sabia que naquele momento que estávamos sentados ali seria um adeus.
fez questão de pagar a conta e eu acabei deixando. Paramos, novamente na frente do restaurante, e nos despedirmos.
Nos abraçamos tão forte que eu pensei que nosso corpo fosse se fundir em um só. Desencostei minha cabeça de seu peito e deixei um beijo em seus lábios, que logo depois se tornou em um dos beijos mais intensos que eu dei na vida. E eu tinha certeza absoluta que nunca iria esquecer daquilo.
Duas semanas haviam se passado desde que fomos embora de Toronto. A tour tinha sido encerrada e estávamos muito felizes e satisfeitos com o resultado.
Hoje era aniversário do e eu tentei fazer de tudo para tirar aquela canadense da cabeça, mas até quando fizemos um brinde depois do parabéns eu desejei que ela estivesse ali.
Dois anos haviam se passado desde o dia em que eu e tínhamos nos conhecido. E apenas dois meses depois eu descobri que ele era , um dos membros da banda mais famosa da história.
Não respondi as mensagens do por semanas, já que me senti completamente burra e envergonhada.
Sim, nós continuamos conversando, ele realmente é a pessoa mais carinhosa,
legal e gentil que eu conheci.
foi uma das pessoas que mais me ajudou quando meu avô, que eu considerava meu pai, faleceu.
"Você sabe que eu estarei ao seu lado a qualquer hora que você estiver precisando de mim."
E desde essa mensagem eu aceitei que estava completamente e estratosfericamente apaixonada por .
[...]
Minha mãe acabou surtando com o falecimento do meu avô e inventou uma viagem para o Peru de última hora.
Eu nem sabia qual era a razão de ela estar me levando, mas fiquei animada em saber que conheceria Machu Picchu.
Eu e não estávamos nos falando tanto, já que ele estava trabalhando em um álbum solo e eu estava focada nas provas finais da faculdade. E isso me deixava inconscientemente triste.
Meu produtor enchia minha cabeça todos os dias dizendo que eu estava estressado e sem foco, então assim nunca terminaríamos meu novo álbum.
Ele inventou que iríamos viajar para algum lugar da América do Sul, porque lá havia "lugares especiais para desestressar". Eu realmente não sabia o porque eu estava indo já que era uma ideia tosca e sem sentido, mas deixei com que esses dias de folga levassem tudo de ruim que havia no meu pensamento.
Eu estava tão feliz que estávamos em Machu Picchu que até perdi as contas de quantas fotos tirei! Mesmo com um tempo meio nublado e com muito vento, nada podia estragar aquele momento. Minha mãe estava feliz novamente, e eu sentia como se sua energia tivesse sido renovada.
Tínhamos decidido que iríamos parar um pouco para descansar e beber água enquanto admirávamos aquela incrível vista.
Após um tempo hipnotizada com a beleza do lugar minha atenção foi direto para um par de tênis cor verde florescentes que caminhavam pela paisagem.
Meu coração acelerou só de pensar que realmente podia ser ele. Usava um boné e agora tinha deixado a barba crescer. Mas as pernas finas e longas, as tatuagens e os anéis nas mãos não deixavam dúvida.
- ? - gritei enquanto me levantava e tentava enxergar por baixo de seu boné
Ele instantaneamente olhou para cima, ficando estático assim como eu. Mas logo depois abrindo aquele sorriso encantador que só ele tinha.
But it's not the end
I'll see your face again
And you will find me
In places that we've never been,
For reasons we don't understand,
Walking in the wind.