Capítulo Único
estava tremendo. Sua boca estava seca e os olhos marejados. Ela ainda segurava o canudo com o diploma que acabara de receber.
Assim que os formandos jogaram os capelos para cima, anunciando o fim do ensino médio, a garota desceu do palco, sob olhares curiosos e alguns comentários provocativos — que ela não parou para prestar atenção — e correu para fora do salão. Chegou a ouvir uma ou outra pessoa chamar o seu nome, mas não deu atenção.
Agora, do lado de fora do colégio, escondida no jardim lateral, atrás de uma árvore, a garota ouvia a música tocando ao fundo, anunciando o início do baile de formatura. Ao mesmo tempo que pensava em entrar mais a fundo no jardim da escola, temia sujar os sapatos que tinha lhe emprestado. E pensar nisso, apenas fez com que a garota chorasse mais forte.
Meu Deus, como que ela havia chegado àquele ponto?
sabia que aquilo não daria certo. Ela sempre soube, na verdade. Odiava começos, mais do que odiava fins, e começar a estudar em uma nova escola, definitivamente, não era uma das suas atividades favoritas.
Quer dizer, já havia estudado em quatro escolas diferentes, e sempre havia odiado, igualmente, cada primeiro dia de aula. E com aquele novo colégio, não seria diferente. Especialmente quando o professor de química apontou onde ela deveria sentar — fala sério, ela não tinha mais dez anos para que os professores escolhem onde ela deveria se sentar — e a colocou como parceira dele.
A garota mal pôde esconder o desgosto de ter que se sentar ao lado do garoto mais mauricinho daquela turma. E olha que aquele colégio estava cheio de garotos metidinhos.
— Olá, muito prazer. Meu nome é . — ele disse com um sorriso político e a mão estendida como se fossem dois adultos se cumprimentando em uma sala de reuniões.
Putz, que cafona!
— . — ela respondeu, sem se importar em apertar a mão dele.
, que claramente a julgou mal educada pelo gesto — ou falta dele — colocou o jaleco da escola, como exigido a participação nas aulas de química, colocou os óculos de proteção e as luvas. E enquanto o professor dava as boas-vindas à turma, abriu o caderno na primeira página e deixou uma caneta ao lado, caso precisasse fazer alguma anotação.
Diferentemente da nova aluna, ele observou, que mal havia aberto a mochila ainda e ainda tinha a cara fechada como quem é acordado cedo demais em uma manhã sábado.
Rabugenta, ele pensou.
O professor passou o conteúdo programático para aquele ano, falou da importância da dedicação no último ano do ensino médio e, por fim, pediu para que se apresentasse para a turma.
A contragosto, e mantendo a promessa que fizera à sua mãe mais cedo naquele dia, ela tentou se comportar, respondendo o mais educadamente que pôde.
E assim a primeira aula, no primeiro dia, no colégio novo, começou.
E é claro que não iria conseguir cumprir a sua promessa de ficar longe de confusões.
— A culpa é toda sua, garota!
— Tá maluco? Eu nem relei nisso aí!
Em cima da mesa que e partilhavam, havia pedaços de vidros quebrados, resultado da experiência mal feita deles. E como se não bastasse ter estragado a experiência e ter chamado a atenção da sala toda, ainda tinha o seu caderno todo manchado de roxo.
— Eu nunca explodi nenhuma experiência! — ele reclamou.
— Para tudo tem uma primeira vez, e a sua foi hoje, porque isso não. Foi. Culpa. Minha.
falava pausadamente com os dentes cerrados, já quase perdendo a paciência com aquele garoto mimado. É claro que se havia algum culpado ali, era ele, que não deixou que a garota encostasse em nada, dizendo que que ele era o melhor aluno da turma e que iria comandar a experiência sozinho.
Pois muito que bem. Então que agora ele assumisse a culpa sozinho.
— Ah, ô professor! — ele reclamou, apontando para ela, esperando por uma posição de defesa do professor.
Ele veio até onde a dupla estava e parou na frente da mesa deles. Professor Theodoro olhou para a bagunça causada e pediu silêncio aos outros alunos.
— O que aconteceu aqui?
— Ele destruiu tudo-
— A culpa foi dela que-
— Ei, ei, ei! Sem briga na minha aula. — ele interrompeu a dupla. — Quem é que estava manuseando os instrumentos e quem ficou encarregado de manusear os elementos químicos?
cruzou o braço e deu um sorriso debochado. Não respondeu nada, mas apenas esperou que disse o que, ela sabia, iria incriminá-lo.
— Fui eu. Eu fiquei encarregado de fazer os dois.
— Bem, … Você quis fazer tudo sozinho, e acabou causando um incidente. Fico feliz que ninguém tenha se machucado, mas você precisa assumir a responsabilidade disso.
A surpresa em toda a sala foi audível. Albuquerque, o garoto mais inteligente da sala, o orador oficial do colégio em cada encerramento de ano letivo, o capitão do time de futsal e queridinho dos professores. O garoto que nunca erra e nunca havia tirado uma nota menor que 9,5, estava levando uma bronca do professor de química. Aquilo era novidade, e uma novidade que renderia uma fofoca enorme pelos corredores do colégio.
Enquanto mantinha o sorriso presunçoso, satisfeita por ter sido colocado no lugar dele, o rapaz tinha a cara fechada e extremamente mal humorada. Ele se sentia humilhado, constrangido na frente de todos os seus colegas. E apesar de, no fundo — beeeem no fundo — ele saber que a culpa tinha sim sido sua, o que mais o irritava não era a bronca que tinha levado, porque ele sabia que isso não iria interferir em nada nas suas notas. Não… O que o irritava era o sorrisinho satisfeito de . Aquela menina marrenta, que mal havia chego no colégio e já estava causando.
Quando tocou o sinal indicando o final da aula, “sem querer” esbarrou nos livros empilhados da garota, em cima da mesa.
— Ei! — ela reclamou.
— O quê? Vai falar que a culpa foi minha de novo?
— E foi!
Caramba, que garoto sem noção!, ela pensou.
— Olha aqui, garota, eu não sei qual é a sua intenção, mas você acabou de chegar aqui, e acredite, não é querendo humilhar o melhor aluno do colégio todo que você vai ficar popular.
Pronto, era isso. havia colocado para fora tudo o que sentia sobre ela.
Ele sacou o jogo dela logo de cara: cabelos bagunçados e com mechas coloridas, uniforme todo customizado e cheio de taxa, pose de durona… Uma típica rebelde sem causa que só quer chamar atenção.
— Como é que é? — ela perguntou realmente surpresa.
— É isso mesmo que você ouviu. E pode tirar o cavalinho da chuva, porque esse foi o primeiro e o último momento de fama que você teve. Na próxima semana vou falar com o professor Theodoro e pedir para que ele mude a minha dupla.
A garota jogou a cabeça para trás, rindo irônica.
— Querido, se eu quisesse me aparecer, acredite, interagir com você seria a última coisa que eu faria.
Até parece que Santos iria querer se envolver com um filhinho de papai, arrumadinho e engomadinho. Caramba, aquele garoto não ficava com dor nas costas de ficar tão reto assim, o tempo todo?
— Até porque, se eu quisesse me tornar popular no colégio, eu faria as coisas certas, como uma experiência de química, por exemplo. — ela disse. — Errar a dosagem, na frente da sala toda, e fazer tudo explodir no primeiro dia do ano letivo, não é uma coisa muito inteligente de se fazer.
A garota recolheu os seus livros, jogou a mochila nas costas, e saiu do laboratório, deixando para trás, e sem ouvir uma resposta.
Ainda encostada na árvore, ouviu seu nome ser chamado. E como a voz foi ficando mais distante, a garota acreditou que seria seguro sair do seu esconderijo.
Mas… Ela iria sair dali e iria para onde? Para a sua festa de formatura quando, minutos atrás, havia fugido? Voltar para sua mãe que, com toda a certeza do mundo, iria querer entender o que aquele discurso significava e faria mil e uma perguntas sobre a vida amorosa da garota, além de não descansar até saber de todos os detalhes do seu breve romance?
Ew, não. sentiu um arrepio passar pelo corpo.
Não tinha paciência para lidar com a carência exagerada da mãe e sua incessante necessidade de ser “amiga” da filha. sempre havia sido uma garota muitíssimo independente e que não suportava drama. Sua mãe, por outro lado, como escritora de romances que era, era o completo oposto. E não estava com ânimo nenhum para lidar com a sua mãe agora.
— ?
A garota olhou assustada.
Ali, ao seu lado, embaixo da copa da árvore, estava , sua melhor amiga.
— Está tudo bem? — mas ela mal havia acabado de fazer a pergunta quando viu o rosto de molhado. — Você está chorando?!
poderia dizer que estava mais do que surpresa, estava chocada. Nunca havia visto chorar antes. Quer dizer, a garota tinha fama de ser a rebelde do colégio. A fortona, insensível. Que não ligava para a opinião de ninguém e vivia a vida de acordo com as suas vontades.
E ver a amiga daquele jeito era tudo o que ela não esperava.
— Você quer conversar?
— Não!
Esse era o instinto de , o de se afastar e de não demonstrar seus sentimentos, de não se expor.
Mas era sua amiga, e realmente precisava confiar em alguém naquele momento. Ela precisava conversar, mesmo não querendo. Mesmo sabendo que pensar naquilo faria o seu coração doer.
— Quer dizer… Sim. Não sei. Talvez.
Era muito difícil deixar o lado marrento de lado. Mas, por sorte, conhecia muito bem o temperamento difícil da amiga.
— Me conta. O que está acontecendo?
estava sentada no chão da coxilha, sobrando alguns tecidos usados na aula de teatro naquele dia. Ela não se importava, realmente, em ter que ficar até mais tarde para organizar as coisas, mas o que a incomodava de verdade eram as companhias.
A patricinha que só anda com bolsa da Gucci e a hippie esquisita. Esta última, em particular, estava tomando um chá estranho — como todos os outros que ela sempre carregava para cima e para baixo — e comendo um sanduíche mais estranho ainda.
Eca.
— Ei, o que é isso que você está tomando? — ela perguntou curiosa.
— É chá de ora pro nóbis, para aumentar a imunidade.
pensou por um minuto. Nem mesmo sabia o que era ora pro nóbis.
— Você tem a imunidade baixa?
— Não. Mas tomo mesmo assim porque meus pais tem uma plantação em casa.
É claro que eles têm, pensou.
— Eu tenho pavor de chás, odeio. Mas nunca recuso um bom suco verde, pois eles fazem muito bem à saúde.
E é claro que a patricinha de Beverly Hills seria fã de suco verde.
Eca. De novo.
— Você tem problemas de saúde?
— Não, mas eu não preciso ter para me cuidar, ok? — a garota respondeu à , que não escondeu a cara de nojo ao ver a cor do chá esquisito e do suco verde.
Ela estava muito bem, obrigada, com a sua Coca-Cola. E para provar isso, tomou dois goles da latinha, voltando à arrumação.
As meninas voltaram a ficar em silêncio, dobrando tecidos e empurrando caixas para o fundo da coxilha e empilhando os objetos das cenas em um armário de metal encostado na parede. Mas , a patricinha, resolveu quebrar o silêncio. já havia percebido isso na garota, nunca conseguia ficar muito tempo em silêncio.
— Preciso admitir… Fiquei feliz que vocês tenham ficado para me ajudar a arrumar as coisas.
franziu a testa.
— Mas é óbvio que eu ficaria para ajudar.
— Nunca ninguém fica. — deu de ombros. — Normalmente eu arrumo tudo sozinha.
e — a hippie esquisita — ficaram em silêncio, surpresas.
— Eu não fazia parte do grupo de teatro antes, mas a partir de agora, pode sempre contar comigo para qualquer coisa. — disse calma, com um sorriso lento.
retribuiu o sorriso dela, feliz por ter alguém do seu lado com quem pudesse contar.
— E por que você sempre arrumou tudo sozinha? — perguntou.
deu de ombros de novo.
— Eu me voluntariei no primeiro dia de aula, e ninguém mais quis ficar. E então, desde esse dia, tem sido assim.
não disse nada. Ela não era muito do tipo de falar, especialmente com pessoas que ela não conhecia. Mas prometeu a si mesma que nunca iria deixar as suas bagunças para que outras pessoas arrumassem. Ela podia ser uma rebelde, mas sempre assumiu tudo o que fez, e não colocaria as suas responsabilidades em cima de outras pessoas.
Então, se dependesse dela, nunca mais arrumaria as coisas do teatro sozinha, pois estaria sempre ali para fazer a sua parte.
soltou uma risadinha, interrompendo os pensamentos de .
— O que foi? — ela perguntou, já que ninguém havia contado uma piada para que começasse a rir.
A garota riu de novo.
— Esse grupo era realmente muito improvável.
— Que grupo? — perguntou.
— O nosso, ué. — ela apontou para as três.
— Nós não somos um grupo. Somos apenas três pessoas completamente diferentes que estão trabalhando juntas.
— E que, surpreendentemente, estão conversando há mais de uma hora sem querer se matar. — disse, acompanhando a risada de .
ainda pensou em responder alguma coisa, apenas para contrariar, mas não o fez. Realmente, estava gostava bastante de conhecer aquelas meninas e de conversar com elas. Quer dizer, elas não eram tão insuportáveis como tinha imaginado, mas isto, ela nunca iria admitir em voz alta.
Elas voltaram a ficar em silêncio, mas graças a — de novo — o silêncio foi quebrado. E de uma forma que fez com que até levasse um susto.
— Ô , vem cá, quando é que a sua rixa com o vai acabar, hein? Porque já está começando a perder a graça.
, que estava com a latinha de Coca-Cola na boca, quase engasgou.
— Eu não acho que está perdendo a graça. Acho até que vocês combinam super. — respondeu. E então, com um ar sonhador, continuou. — Inclusive, mal posso esperar para ver a cena do próximo capítulo.
E foi nesse momento que quase teve uma síncope.
— Ih, que cena, garota? Tá doida? — a garota estava tão desnorteada com o que ouvira que nem percebeu o seu tom de voz ficando mais alto. — Eu não sei de que graça que você está falando, porque o que eu faço não é para divertir ninguém não.
— É… Mas as brigas de vocês são mais assistidas que a nossa peça de teatro, isso eu posso garantir. — comentou em tom de provocação, mesmo que no fundo estivesse achando divertidíssimo provocar daquele jeito.
— Ah, isso é porque o é um ridículo que gosta de chamar atenção.
Sim, estava nervosa. Não, ela não estava sabendo disfarçar a sua raiva. Porque era isso que ela sentia quando o assunto era : raiva daquele garoto engomadinho que acorda cedo para passar o uniforme do colégio, o aluninho perfeito, que não pode ser uma atenção que já quer ser o centro dela.
E foi pensando nele, e no quanto ela não gostava de , que passou a dobrar os tecidos com mais força, e descontar a sua insatisfação jogando cada um deles dentro da caixa. Em uma de suas jogadas, a força foi tanta, que até mesmo os tecidos já dobrados, lá de dentro, ficaram bagunçados.
— Droga. — reclamou.
, então, foi até a caixa para colocar os tecidos que ela havia dobrado, colocando-o delicadamente, no topo, e arrumou os panos que estavam amassados.
Olhou para de canto de olho, e então perguntou:
— Só ele?
— O que você quer dizer com isso? — ela perguntou tentando controlar o nervoso.
— Ah, sei lá, né, . O que seria chamar a atenção para você, uma garota rebelde sem causa, que corta o uniforme e enche ele de tacha e que pinta o cabelo de uma cor diferente a cada semana?
deu de ombros, respondendo orgulhosa:
— Eu tenho estilo, é diferente de querer chamar atenção. é só mais um mauricinho que acha que o mundo gira ao redor dele. E eu, definitivamente, não faço parte desse mundo.
E então, já mais controlada, ela se levantou e pegou os últimos objetos espalhados, levando-os para o quartinho de bagunças, dizendo:
— Agora ‘bora terminar isso logo porque eu estou com fome e não, eu não quero um pedaço do seu lanche vegetariano esquisito, obrigada. — ela disse rápido, quando abriu a boca para oferecer partilhar sua refeição.
— Sobra mais para mim. — Ela deu de ombros, voltando a comer o seu lanche vegetariano.
apenas riu da situação toda, achando o surto de muitíssimo divertido. E ali, naquele momento, ela teve certeza de que veria muito mais desses surtos no futuro, especialmente quando se tratava do .
— … Você sabe como eu vim parar nesse colégio? — perguntou com uma risadinha no final. Não, ela não achava graça da história, mas apenas se surpreendia com a ironia que sua vida tinha se tornado.
— Você foi expulsa da sua última escola, não é?
— Não foi bem assim que aconteceu. — ela revirou os olhos.
— Então como foi que aconteceu?
já não chorava mais. Estava sentada em um banco de cimento posto ali perto, com do seu lado. O instinto de era o de se aproximar mais e abraçar a amiga, mas sabia que não iria gostar desse tipo de contato, especialmente quando, claramente, estava se fazendo de forte para segurar o choro.
— Quando eu era mais nova eu comecei a namorar um garoto. Ele era o maior babaca, mas eu não sabia disso na época. — ela começou. Limpou o rosto com a palma da mão, e então voltou a contar sua história. — Eu era nova, devia ter uns 14 anos. A gente namorou por pouco tempo, mas aí ele espalhou pra escola inteira várias mentiras sobre mim, inclusive que a gente tinha ido até o fim, sabe?
balançou a cabeça, deixando claro que havia entendido o que ela queria dizer.
— E aí a minha vida virou o caos. Meus pais foram chamados na escola, e o diretor quis me expulsar, porque dentre as mentiras, esse cara que eu namorei também tinha dito que eu colava nas provas e tal… Foi péssimo.
— Meu deus, amiga…
— Pois é. E como se não bastasse, a escola inteira ficou contra mim, como se eu fosse alguém que as pessoas tivessem que manter distância. — se tinha algum resquício de lágrima nos olhos, esse resquício desapareceu. Ela era puro ódio. — A sorte era que eu já era uma garota meio rebelde na época, e minha mãe, desesperada e controladora do jeito que é, tinha acesso a todas as mensagens que eu trocava com ele.
— Sua mãe te espiava?
— Minha mãe sempre foi uma louca controladora. Mas eu sei que tudo o que ela fazia era porque era muito preocupada comigo e não sabia como lidar com uma adolescente rebelde. Sem falar que minha mãe engravidou muito cedo e precisou me criar sozinha… Hoje ela não me controla mais, e na época nós tivemos uma briga muito feia, mas a paranoia dela veio a calhar. Porque ela conseguiu provar que eu nunca colei em prova nenhuma, enquanto meu namorado, na época, tentava me convencer a ajudar ele a roubar as provas dos professores.
— Caramba!
sempre foi uma garota muito fechada, e raramente falava do seu passado. E agora sabia porquê.
— De qualquer forma, depois que as primeiras mentiras dele foram descobertas, ele acabou admitindo que havia mentido sobre tudo: que nós nunca tínhamos ido até o fim, que eu nunca tinha colado em prova nenhuma e por aí vai. Ele foi expulso da escola, o diretor pediu desculpas pra mim e para a minha mãe, mas a merda já tinha sido feita, né? Porque por mais que o meu ex-namorado tenha sido obrigado a pedir desculpas para mim na frente de toda a escola, as pessoas continuaram olhando torto para mim. Por onde eu passava tinha risadinhas, tinha comentários maldosos… Enfim. Foi um inferno.
— Ai, amiga… — chegou a abrir os braços para abraçar , mas a garota afastou a amiga apenas com um olhar. — Ok, nada de abraços… Ainda.
revirou os olhos.
— De qualquer forma, depois disso eu saí dessa escola e fui para outro colégio, meio que começar do zero, sabe? Mas aí eu nunca mais fui a mesma. Se eu já era rebelde antes, eu piorei quando fui para esse novo colégio, especialmente depois que o meu pai, que só aparece para dar ordens sobre a minha vida, me obrigou a começar a fazer terapia.
tentou segurar o sorriso.
— Você? Se abrindo com uma estranha?
— Pois é! Viagem total, né? E eu precisei ir na psicóloga por mais de um ano, até que ela me deu alta do tratamento.
— Espera! — franziu a sobrancelha. — A psicóloga disse que você não precisava mais ir às consultas?
E então soltou uma risadinha.
— Eu meio que aprendi a falar as coisas que ela queria ouvir, e eu meio que mentia sobre como me sentia. Eu sei, foi errado, e ninguém deve fazer isso! Mas pelo menos eu consegui me livrar dela.
também soltou uma risadinha, metade surpresa, metade conformada, porque aquilo não a surpreendia em nada. era mesmo uma figura…
— Enfim… Depois que eu consegui me livrar da psicóloga, eu finalmente consegui convencer meu pai a me mudar de colégio.
— Por que você queria mudar de colégio de novo? Aconteceu alguma coisa nesse novo?
demorou um segundo para responder.
— Não, mas meu pai precisou fazer alguns favores para pessoas importantes para conseguir uma vaga para mim, já que era um colégio muito difícil de se entrar. E eu só quis causar mesmo. Desafiar meu pai é um dos meus hobbies favoritos. — ela disse dando de ombros e rindo em seguida. — E então eu vim parar aqui.
esperou que continuasse a falar, pois sabia que a história ainda não havia acabado. Percebeu a mudança de humor da amiga, de relaxado para tenso de novo. O sorriso sumiu, e no lugar apareceu a feição de preocupação.
— Quando eu descobri o que o meu ex-namorado tinha feito, eu prometi que não iria mais me apaixonar por ninguém, nunca.
— Por quê?
— Porque eu não queria passar por tudo aquilo de novo. É realmente uma merda se apaixonar e quebrar a cara. É horrível confiar em alguém e contar que essa pessoa vai estar ao seu lado para sempre, e depois perceber que você estava sendo feita de otária.
mordeu o lábio, sentindo o peso das palavras de , quase como se sentisse o medo da garota em se apaixonar de novo. E ainda era tão jovem…
— Eu prometi para mim mesma que nunca mais iria me apaixonar… Mas eu não consegui cumprir a minha própria promessa.
e estavam na quadra do colégio, um ao lado do outro, com as caras fechadas e os braços cruzados. Definitivamente, eles não queriam estar ali.
Por serem dupla na aula de química — não, o professor Theodoro não mudou de de turma, mesmo ele pedindo várias e várias vezes — eles tiveram que apresentar, juntos, um trabalho na feira de ciências do colégio.
A nota do trabalho valeria metade da nota do semestre e, por esse motivo, e somente por esse motivo, e se deram uma trégua temporária para que pudessem trabalhar juntos e montarem uma experiência perfeita. A trégua, contudo, foi muitíssimo difícil, uma vez que não parava de querer ditar regras, enquanto apenas queria seguir as orientações do livro.
— Para de querer inventar coisa. — ela reclamou um dia.
— Nosso trabalho não pode ser um cópia e cola do livro, isso não é nada original! — ele rebateu.
E as brigas continuaram, continuaram e continuaram mais um pouco. A trégua foi esquecida logo no segundo dia. E por alguma sorte, que eles não sabiam de onde tinha vindo, o trabalho para a feira de ciências finalmente tinha ficado pronto.
Mas então eles começaram uma segunda (ou terceira, ou quarta) briga para decidir quem deveria ficar responsável pelos cuidados do projeto até o dia da feira.
— Eu, é claro. — disse depressa. — Nós fizemos na minha casa e é aqui que o trabalho vai ficar!
— Ah! Só fizemos na sua casa porque o seu pai não deixa o filhinho de ouro dele sair nos finais de semana. — respondeu. — Você parece uma criança.
— Não fala assim de mim!
— O quê? A verdade?
E as brigas continuaram, dia após dia.
Inclusive, a dupla começou o dia brigando, quando chegou cedo na feira, mas se atrasou e, consequentemente, atrasou a entrega do projeto de ciências deles.
— Desculpe, eu me atrasei.
— É, eu percebi… Parece que você só chega na hora quando é para ir em um jogo de futsal. — ela provocou.
— E como você sabe disso? Por acaso foi me assistir no último jogo? — tinha um sorrisinho de lado.
— Eu não, credo. — disse dando de ombros, mal conseguindo esconder as bochechas coradas.
Talvez ela tivesse aceitado o convite das amigas para ir a um jogo de fustsal na semana passada — mas só porque queria ter certeza de que era tão ruim no futsal como era ruim em química.
Os professores passaram de projeto em projeto. Ouviram cada uma das duplas explicar o que os levou a pesquisas sobre aquilo, e anotaram as notas em uma prancheta. O trabalho da feira, além de valer metade da nota semestral, também renderia, à dupla vencedora, um troféu para levar para casa com os dizeres “vencedor da XII feira de ciências”.
— Se ganharmos, o troféu vai ser meu. — sussurrou no ouvido de , enquanto esperavam pelo resultado.
— Quando ganharmos, eu vou levar o troféu para casa. — ela respondeu.
Eles estavam lado a lado, com a atenção voltada para o palco, onde o diretor segurava um envelope com o nome da dupla que levaria o troféu para casa. , que frequentemente ganhava prêmios no colégio, não queria deixar esse passar. E , que nunca ligou para essas premiações idiotas, apenas queria ganhar para esfregar na cara de que a sua ideia para o projeto tinha sido a vencedora.
— E a dupla vencedora do terceiro ano é… e !
— AAAAAAAAAAAAH!
A garota ficou tão feliz que, por um momento, esqueceu-se de que odiava , e o abraçou. E , que por um segundo se esqueceu do porquê não suportava , abraçou-a de volta e mais, tirou a garota do chão a rodou no ar.
E quando olharam para o rosto um do outro, os rostos estavam tão próximos, as bocas quase se tocando, que até pôde sentir o aroma do chiclete dele.
— Vocês não vão lá em cima receber o prêmio? — o professor de química perguntou ao lado deles.
E foi instantâneo. soltou na hora, e a garota quase o empurrou para longe. Ela saiu pisando forte, andando na frente dele, querendo manter a maior distância possível do garoto que, ela jamais iria admitir, mexia com ela. Mexia muito.
era parte constante dos seus pensamentos, e o coração disparado de , ao tê-lo tão perto de si, apenas serviu para comprovar o que ela já imaginava: estava apaixonada por ele.
Merda!
— Amiga, desculpa falar isso, mas estava na cara que você gostava dele.
e já haviam sacado os sentimentos de , com relação ao , há muito tempo. Por mais que a garota tentasse esconder, mentir e inventar desculpas, as amigas haviam percebido que havia algo rolando ali.
O problema era que sempre foi muito independente e nunca foi do tipo que fala sobre seus sentimentos. Ela não gostava de parecer uma pessoa fraca — e para , estar apaixonada e ir contra a sua ideia de “o amor era uma mentira”, era ser fraca.
e respeitaram o espaço da amiga e não comentaram nada, mesmo quando viam que soltava sorrisinhos ao passar perto de , ou quando ela nem mesmo se esforçava mais para responder às provocações dele.
Diferentemente do que esperava, contudo, a reação de foi simplesmente a de revirar os olhos.
— … É mais complicado do que isso.
— O que você quer dizer?
— Cara, não inventa. — disse rindo.
Os amigos dele começaram a rir também.
Carlos, um dos seus companheiros de futsal, bateu seu braço no de e, com um olhar divertido, perguntou:
— , falando sério agora… Você e a estão namorando?
deixou o queixo cair.
— Tá maluco, cara?! Aquela garota é doida, eu quero ela longe de mim, isso sim.
Os garotos começaram a rir de novo. Já estavam acostumados a ouvirem falar assim da dupla de química.
— Ah, mas vai falar que você não gostou do beijo. — outro amigo provocou.
Ah, claro… O beijo.
Sim, e se beijaram. E o garoto se arrependeu de ter contado para os amigos.
Porque aquele beijo… Aquele beijo não estava programado, mas não estava mesmo.
se lembrava de ter ficado até tarde na feira de ciências da escola. No final da tarde, ambos foram para o estacionamento do colégio para esperar que seus pais os buscassem. Cada um tinha um troféu na mão — já que tiveram sorte do colégio preparar dois troféus para cada projeto vencedor.
— Ainda bem, porque senão a gente iria ter que sair na porrada. — comentou, ainda emburrada pelo que aconteceu mais cedo.
revirou os olhos.
— Por que você é sempre tão agressiva, garota?
— Porque você é sempre tão certinho, garoto? — ela perguntou em tom de deboche, ainda que estivesse segurando uma risada.
E percebendo a risada presa dela, foi quem fechou a cara.
— Vem cá, você está rindo da minha cara?
E aquilo foi o suficiente para que se esquecesse do motivo de estar emburrada e envergonhada de ficar na frente dele. Brigar com sempre melhorava o seu humor.
— Não sei, tenho motivo? — ela perguntou em tom de provocação.
revirou os olhos de novo, pronto para discutir com ela — como sempre fazia, todos os dias, desde o dia em que chegou ao colégio. Mas nunca chegou a rebater ela, já que começou a rir, dessa vez sem disfarçar.
— Eu realmente não te entendo. — ele disse batendo os braços os braços nas laterais do corpo. — Você é muito difícil, sabia?
já não ria mais, mas sorria de uma forma leve, conformada com o que ouvia, como se escutasse isso todos os dias e já estivesse acostumada.
— Eu não sou difícil. As pessoas é que desistem fácil demais.
se surpreendeu. Esperava ouvir alguma resposta cortada, como normalmente, mas não aquilo.
— Mas sabe, por um lado eu até gosto. — deu de ombros. — Porque afasta de mim gente covarde e…
Ela foi interrompida. Foi interrompida por um que deu os três passos que os separavam e a beijou. Ali mesmo, no portão do colégio, na frente de várias pessoas. Pessoas conhecidas e pessoas desconhecidas, mas que com certeza fariam o bom trabalho de espalhar aquela fofoca.
— Pior que não, cara. — continuou falando com os amigos. — Acredita que ela mordeu o meu lábio?
Os garotos fizeram um coro de provocação.
— Não, não. Doeu pra caramba. Ela me machucou, é sério!
Os meninos começaram a rir
— É sério, eu nunca mais quero ver essa garota doida na minha frente.
Seus amigos continuaram com as provocações, mas os ignorou por um instante. Seu celular tocou, anunciando a chegada de uma mensagem.
— Ah, é o meu pai, ele chegou. Tchau, gente.
se despediu dos amigos e seguiu para o corredor. Cumprimentou algumas pessoas — a maioria que ele nem sabia quem eram, mas que sempre abanavam a mão para ele de qualquer forma — e chegou ao estacionamento do colégio. Olhou para um lado e para o outro, e então, por não ver ninguém conhecido, ele deu a volta na construção, e foi até os jardins laterais. Procurou pelo banco de pedra entre as duas maiores árvores do jardim, mas mal conseguiu chegar até ele.
O garoto foi puxado para atrás de uma árvore, e antes que pudesse contestar, já estava retribuindo o beijo de .
Largou a mochila ali no chão, e a empurrou até que a encostasse na árvore atrás da qual se escondiam há meses.
— Que delícia de beijo.
A garota sorriu envergonhada, ainda não acostumada a ouvir elogios vindos dele. Mas a timidez passou rápido, e ela deu um tapa nele.
— Não era isso que você estava falando para os seus amigos.
— E você estava me espiando, é? — ele provocou.
— Nem estava. — deu de ombros. — Acontece que eu estava passando por perto e acabei ouvindo sem querer.
riu.
— Você acha que eu exagerei?
pensou por um instante, e então voltou a abraçar .
— Não, você foi perfeito. — ela riu divertida.
— Você acha que eles caíram?
— Claro que sim. — a garota deu de ombros. — As pessoas morrem de medo de mim.
Enquanto ria divertida, gostando muitíssimo da situação em que se encontravam, e do fato de estarem namorando escondidos, a abraçou de volta, pela cintura.
— Eu queria poder ficar assim com você na frente de todo mundo, poxa. — ele reclamou.
— Não, isso não!
quebrou o contato entre eles, afastando-se imediatamente. Deu um passo para trás, e então olhou para , que a olhava preocupado.
— A gente já conversou sobre isso.
— Eu sei, mas…
— Não tem “mas”, . Eu não quero ter outro namoro no colégio. O primeiro já foi horrível o bastante para eu nunca mais querer namorar ninguém.
fez uma careta.
— Nem eu?
— Não, você não… Quer dizer, você sim. — ela fez carinho no rosto dele. — Eu quero namorar você, mas não quero que ninguém saiba.
Eles ficaram em silêncio por um momento. A garota se sentou no chão e sentou atrás dela, encostando as costas no tronco da árvore, com encostada no seu peito.
— Pensei que nunca mais fosse gostar de alguém como gosto de você. Meu primeiro namorado foi a pior pessoa do mundo comigo e mentiu para o colégio inteiro sobre mim. Eu quase fui expulsa. Mas mesmo depois que a direção e o colégio todo descobriram a verdade, as coisas não melhoraram, porque a minha fama já tinha pegado. Foi um inferno terminar o ano letivo.
conhecia aquela história. havia contado para ele logo no início, quando o que tinham começou a ser algo mais sério. Ele sabia das limitações dela e respeitava isso. Por outro lado, precisava saber que ele era diferente do seu ex-namorado.
— Você sabe que eu jamais faria algo assim, não sabe?
— É claro que eu sei, mas mesmo assim… Eu prefiro manter o nosso namoro só entre nós dois. — e após um instante de silêncio, comentou. — Até porque é bem divertido namorar escondido, sem ter ninguém para encher o nosso saco.
sorriu.
— É verdade.
virou para trás, para beijar o garoto.
— Já parou para pensar que se eu não fosse uma rebelde sem causa no meu antigo colégio o meu pai nunca teria me mandado para cá?
— E então a gente nunca teria se conhecido…
— …E você ainda seria um mauricinho mimado…
— Ei!
— Eu estou brincando. — ela disse rindo, virando o corpo para abraçá-lo e beijar o namorado de novo.
tinha ambas as mãos na frente da boca, surpresa.
Sim, é verdade que ela já havia sacado os olhares de para , e na forma com que ele falava dela, mas…
— Vocês estão namorando escondido esse tempo todo?!
Era bem verdade que e já haviam comentado, várias e várias vezes, dos olhares trocados entre e . Também era verdade que eles mal conseguiam esconder os sorrisinhos que trocavam vez ou outra. chegou a desconfiar que eles poderiam ter ficado uma ou duas vezes, mas nunca imaginaria que eles poderiam estar namorando.
Agora tudo fazia sentido.
— Desculpa não ter contado nada para você e nem para a , mas é que…
— ! — a interrompeu. — Então aquela declaração que o fez na hora do discurso…
fechou os olhos com força e passou as mãos nos cabelos, deixando os cachos completamente bagunçados.
— Aquele discurso foi para mim. E eu surtei. E fugi.
e tinha um acordo: namorar escondido, sem contar para ninguém do colégio, e nem mesmo para as suas famílias. era muito popular no colégio, era o queridinho dos professores, o atleta com maior número de medalhas do último ano, o orador oficial da turma desde o nono ano. Ele também era muito influente entre os meninos, e chamava muita atenção das meninas.
, por outro lado, era conhecida no colégio por ser a rebelde revoltada que foi expulsa da sua última escola — mentira esta que ela preferiu deixar todo mundo acreditar como verdade — e que, mesmo chegando no último ano do ensino médio, havia conseguido se tornar uma das melhores alunas da classe, passando até mesmo a pontuação geral de . Mas o que tinha de inteligente, ela tinha de revoltada — ou, pelo menos, era como as pessoas no colégio a enxergavam, fama esta que ela também não se importou em mudar.
Por serem duas pessoas extremamente diferentes, sabia que se assumissem o namoro, eles seriam o tema de todas as fofocas do colégio e estariam na mira e todos os olhares curiosos. estava acostumado a chamar atenção, mas não. E ela queria manter as coisas assim, especialmente depois do que aconteceu da última vez que ela namorou na escola.
Não. Ela não deixaria a história se repetir. Não deixaria que as pessoas zombassem dela, nem tirassem conclusões sobre a sua vida. Não deixaria que um garoto contasse vantagem sobre ela, e nem que ela saísse de cabeça baixa de novo. Ela nunca mais abaixaria a cabeça para ninguém.
— Amiga… Mas por quê?
suspirou.
— Porque mesmo que ele não tenha falado o meu nome, todo mundo olhou para mim e começou a fazer gracinha e…
— , as pessoas estavam surpresas.
— …E começaram a fazer comentários…
— Eram comentários positivos, todo mundo achou linda a declaração que ele fez para você.
— …E eu virei o centro das atenções, exatamente como da última vez.
falou absurdamente rápido, com a voz chorosa, sem prestar atenção no que a amiga respondia.
— Ok, vamos por partes. — respirou fundo, procurando as palavras certas, sabendo que estava na defensiva e dificilmente iria acolher bem o que tinha para dizer. — Primeiro ponto: você virou o centro das atenções porque estava, claramente, falando de você. Mas ele não estava falando nenhuma mentira, nem nada do tipo, , ele estava se declarando!
chegou a abrir a boca para responder à , mas não teve tempo para isso.
— Segundo, a situação atual não é nada, nadinha, igual à anterior. O seu ex-namorado foi um babaca com você, e é tudo, menos um babaca. Pelo contrário. Ele está completamente apaixonado, e deixou isso claro no meio do discurso de formatura na nossa colação de grau.
sentiu as bochechas corarem.
— Tem ideia do quão romântico é isso?! Quantas garotas não gostariam de estar no seu lugar?
— Mas…
— Mas nada. — a interrompeu, firme. — , você é a garota mais marrenta, teimosa e cabeça dura que eu já conheci. Mas também a pessoa mais confiante, corajosa e decidida de todo o colégio. Você não precisa se importar com a opinião de ninguém, porque isso não vai fazer a mínima diferença. A única opinião que importa aqui é a sua e a do . E de mais ninguém.
, então, pensou por um instante. Lembrou-se de todas as conversas que tivera com e das promessas que ele fez. Promessas que não eram vazias, e nem terminavam com um risinho de graça, como as promessas do seu ex-namorado. Porque não era aquele cara que fez da vida de um inferno. era um filhinho de papai mimado e arrumadinho.
E o amava.
— Ah, meu deus!
— O quê? — perguntou preocupada.
— , eu acho que fiz besteira.
saiu correndo e deixou em cima do palco sozinho, com um sorriso lindo no rosto, cheio de expectativas, apenas para fechar a cara no instante em que ela se levantou e saiu do salão. nem tentou ligar para ela. Não foi procurá-la — sabia disso, porque ali, onde estava escondida, era o esconderijo deles. Se estivesse a procurando, ele a encontraria rápido.
— Nada de pânico, amiga! ainda é apaixonado por você e está te esperando lá dentro.
se levantou com um pulo.
— Ele está? Está me esperando mesmo?
mordeu o lábio.
— Eu tenho certeza que ele só está esperando um sinal seu, qualquer coisa que demonstre que o que ele sente é recíproco.
— Mas é! É recíproco! Eu amo o , senão eu não estaria com ele todo esse tempo.
também se levantou. Pegou as mãos da amiga, e disse:
— Então fala isso para ele.
não teve tempo de falar mais nada, pelo menos não para . Ela foi tomada por uma onda de inspiração e medo. Inspiração em relação ao que ela estava sentindo, e medo em ser rejeitada depois do que ela fez.
— Dane-se.
correu para dentro do colégio. Viu alguns casais entrando escondido em salas destrancadas, e outros se beijando nos armários, sem se preocupar em se esconder. Continuou correndo até chegar no salão de festas, do outro lado do colégio. Tinha certeza de que a maquiagem que fizera mais cedo já deveria estar borrada, e os cachos mais armados e bagunçados do que nunca.
O salão estava cheio, mas foi fácil encontrar . Enquanto seus amigos dançavam ali perto, ele estava sentado em uma mesa mais afastada com seus pais.
A garota engoliu em seco e foi até ele.
— .
O rapaz olhou para cima e ergueu as sobrancelhas, como se não esperasse vê-la tão cedo.
— Posso falar com você?
Ela então olhou para os pais de , que a encaravam com curiosidade. O pai dele, com toda a certeza, estava julgando o estado bagunçado que a menina se encontrava. A mãe dele, por outro lado, parecia em êxtase por ver uma garota conversando com o filho. quase revirou os olhos. Eles nem imaginavam que por trás da pose de filho perfeito havia um garoto que já tinha saído com metade do colégio.
não respondeu nada, e nem se preocupou em dar uma satisfação aos pais. Levantou-se e foi até o outro lado do salão, longe da pista de dança, próximo do bar — que não estava servindo bebidas alcóolicas para menores de 18 anos, segundo o letreiro de neon.
— …
— Pensei que a essa hora você já estaria longe.
Ela mordeu o lábio inferior.
— Não daria para ir para tão longe com esses saltos. — ela disse com um sorrisinho fraco, mas ele não achou graça da piada dela. — De qualquer forma, eu queria conversar com você.
— É, você já disse isso.
Ela precisou respirar fundo, sabendo que estava dificultando, de propósito, as coisas para ela.
— E então? — ele perguntou dando de ombros, ainda com a cara fechada, quase fazendo um biquinho.
— Eu… Eu reagi exageradamente, e agora você está triste.
Ele bufou.
— Você acha?
A garota revirou os olhos.
— Vai deixar eu terminar de falar? — por mais inspirada que estivesse, tinha zero paciência para dramas. Além disso, ela detestava ser interrompida.
fechou a cara de novo.
— Eu reagi exageradamente, eu sei. Te puni por algo que você não fez, e agora você está triste comigo. E eu entendo. Juro que entendo. Pensei que eu tinha motivo para atacar, mas não. É tudo culpa minha. Na minha cabeça, eu pensei que a gente só daria certo se ficássemos em segredo, porque o que eu mais tinha medo era de que me decepcionar de novo e virar piada no colégio.
já não tinha mais a expressão brava. Definitivamente, ele não esperava ver falando tão abertamente.
— Por que eu tive que quebrar o que eu tanto amo? — ela perguntou para si mesma baixinho.
— O que que você falou? — era a primeira vez que ouvia a famosa palavrinha com “a” sair da boca dela; precisava de uma confirmação.
— Que eu sou a culpada. E para de me interromper ou eu vou embora daqui e aí sim eu vou para longe, hein.
precisou segurar a vontade de sorrir. Ali estava a que ele conhecia. A marrenta e impaciente, que estava lhe mostrando o seu lado sensível.
— Me desculpe por ter te machucado. Eu fiquei assustada, por um minuto foi como se tudo o que mais temesse estivesse acontecendo. Eu senti como se você estivesse zombando de mim e fazendo graça na frente do colégio todo…
— Eu nunca faria isso, …
— Eu sei! Agora eu sei. Quer dizer, eu sempre soube. Mas na hora eu só… — ela suspirou. — Eu surtei e exagerei. Me desculpe por ter feito isso com você. E eu sei que eu não sou uma pessoa fácil, pelo contrário. Sei que não deveria ter fugido como fugi, e que você merece mais do que isso. Então… eu entendo se você não quiser mais ficar comigo. Mas eu só quero deixar claro que eu não quero te perder e não quero perder isso que eu tenho com você.
Sim, estava com medo. Com medo de ter feito a coisa errada e não ter a chance de corrigi-la. E se não quisesse perdoá-la, quem poderia culpá-lo? Eles eram completamente diferentes, opostos. Ela era uma rebelde (quase) sem causa e ele era o garoto prodígio do colégio. As pessoas tinham medo de falar com ela e disputavam a atenção dele. A garota nunca imaginou que eles poderiam dar certo mesmo. Mas então se lembrou dos últimos meses e da forma como se sentiu — da forma como ele a fez se sentir — e ela já não queria mais se importar com as suas diferenças. queria poder viver sem medo, ao lado de . Bastava apenas saber se ainda queria ficar com ela.
Ele passou as mãos no rosto e as levou para o cabelo perfeitamente penteado.
— , eu só fiquei surpreso. Não pensei que você fosse ficar tão chateada.
— Mas eu não fiquei! — e então ele olhou para ela, duvidando da fala da garota. — Tá, eu fiquei… Mas só no começo. Depois eu gostei.
— Gostou mesmo?
Ela deu de ombros, sentindo as bochechas corarem.
— Nenhum garoto havia se declarado daquele jeito antes. Foi legal. — ela deu um sorrisinho de lado. — Mas não faça isso de novo. Nunca! Quer dizer, se você ainda quiser continuar namorando comigo.
Foi a vez de sorrir. Um sorriso lindo, feliz e completamente satisfeito com o que tinha acabado de ouvir.
— É claro que eu quero continuar namorando com você, garota maluca.
— Sério? — ela fez uma careta, não acreditando que tinha sido tão fácil reconquistar .
— Sério. — ele riu. — Eu estava esperando um pedido de desculpas, mas recebi muito mais do que isso. Recebi uma declaração de amor linda da minha namorada mais linda ainda. — ele disse segurando o rosto dela.
— Que declaração o que, garoto? Não fiz declaração nenhuma não.
estava sorrindo, assim como , e as coisas estavam normais de novo. Ele a chamava de maluca, e ela agia como tal. Ela o provocava, e ele se deixava provocar, caindo nas brincadeiras dela. Eles se entendiam tão bem, que alguém de fora nunca poderia entender. Eles se completavam, duas metades completamente opostas. e formavam um casal completamente fora do convencional, mas era isso que o tornava tão especial.
Fim.
Nota da autora: Sim, eu sou fã de Rebelde. Ainda hoje eu assisto a novela pelo YouTube (a original, mexicana, e a brasileira - que eu amoooo). Eu estava louca para fazer uma fanfic colegial, e essa foi a oportunidade perfeita. Espero que gostem <3 Deixem um comentário cheio de amor e recomendem a fanfic para as amigas.
Beijos de luz!
Angel
Outras Fanfics:
Finalizada:
Ainda Lembro de Você
Em andamento:
It’s Always Been You
Shortfics:
21 Months ● Accidentally in Love I ● Accidentally in Love II ● Ainda Lembro de Nós ● Babá Temporária ● Beautifuly Delicious ● Because of the War ● Café com Chocolate ● Elemental ● Give Love a Try ● O Amor da Minha Vida ● O Conto da Sereia ● O Garoto do Metrô ● Reencontro de Natal ● Refrigerante de Cereja ● Rumor ● She Was Pretty ● Sorry Sorry ● Suddenly Love I ● Suddenly Love II ● Welcome to a new word ● When We Met
Ficstapes:
02. Cool ● 05. Paradise ● 06. Every Road ● 07. Face ● 10. Sol Que Faltava ● 10. What If I ● 11. Woke Up in Japan ● 12. Epilogue: Young Forever ● 15. Does Your Mother Know
MVs:
MV: Change ● MV: Run & Run ● MV: Hola Hola
Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Beijos de luz!
Angel
Outras Fanfics:
Finalizada:
Ainda Lembro de Você
Em andamento:
It’s Always Been You
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Ficstapes:
02. Cool ● 05. Paradise ● 06. Every Road ● 07. Face ● 10. Sol Que Faltava ● 10. What If I ● 11. Woke Up in Japan ● 12. Epilogue: Young Forever ● 15. Does Your Mother Know
MVs:
MV: Change ● MV: Run & Run ● MV: Hola Hola