Capítulo 1
“Eu me lembro bem da primeira vez que a vi. Usava um jaleco branco e saltos pretos de bico fino correndo pelos apressada pelos corredores do hospital em que trabalhava. Era chefe da cirurgia geral, seu nome era ouvido pelo alto-falante diversas vezes.
E o que eu estava fazendo ai? Era voluntário na ala infantil duas vezes por semana. Costumava ler poesias e cantar músicas para alegrar aquelas crianças que estavam em fase terminal. E foi saindo da ala infantil com um nariz de palhaço e uma peruca colorida que nos esbarramos pela primeira vez. Ela segurava um grande copo de suco de laranja quando nos esbarramos. Não, ninguém tomou banho de suco. Ela não viu a placa de piso molhado e entrou correndo pelo corredor. É isso mesmo que você imaginou, ela levou um tombo daqueles e as pessoas em volta não sabiam se a ajudavam ou se ficavam chocados com a cena. Eu prontamente fui até ela, estiquei minha mão na intenção de ajudá-la, mas ela ignorou totalmente. Levantou-se como se nada tivesse acontecido puxou sua saia para a posição original e seguiu andando.
- Doutora , você está bem? – Pude ouvir um de seus residentes perguntar enquanto tomava café no refeitório.
- Estou. Derrubei todo o meu suco e um cara estranho com peruca colorida me ofereceu me ajuda, pensei ter sido algum paciente da ala psiquiátrica que acabou se perdendo.
- Aquele ali? – O residente apontou para mim sem a menor sutileza e percebi que o assunto era eu e meu nariz de palhaço. – Ele é voluntário na ala pediátrica. Crianças com câncer terminal. Ele vem aqui duas vezes por semana, há quase um ano.
Pude ver que que a doutora arqueou uma das sobrancelhas enquanto me olhava. E aquela foi a primeira troca de olhar que tivemos.”
Pude ouvir os aplausos do público que estava a minha frente. Quem diria que eu, , deixaria de ser um escritor de poesias que participava toda semana de uma roda de leitura publicaria seu primeiro romance, ainda baseado numa história real.
- Perguntas? – Eu tive a liberdade de me manifestar e vi uma quantidade imensa de braços levantados. – Você com camiseta rosa.
- é real? Você foi tão detalhista no livro que fico impressionada que seja apenas uma personagem fictícia.
- Sim. A doutora é real. – Respondi rapidamente sem pensar duas vezes.
Pude ouvir o alvoroço do público.
[...]
Após a leitura do prólogo, perguntas e uma longa fila para autografar todos os livros, deixo a livraria e vou caminhando lentamente até o carro. Sinto meu telefone vibrar no meu bolso e assim que pego vejo uma foto de , ela estava ligando. Deixei a ligação cair e entrei no carro.
Conectei o celular ao carro pra selecionar alguma música que me deixasse distraído até o caminho de casa. Assim que estacionei na frente do prédio cogitei não descer do carro, mas eu precisava enfrentar essa fera, nem que fosse uma última vez.
- Antes tarde do que nunca. – Mal fechei a porta atrás de mim e já estava gritando dando início a mais uma discussão.
- Eu estava no lançamento do meu livro. Que você se recusou a ir e que inclusive leva o seu nome. – Disse calmamente.
- Eu assisti a transmissão, vi que você disse a um dos leitores que sou real.
- Não acho que tenha necessidade de esconder quem você é. É muito importante.
- Muito bonitinho tudo isso, mas agora eu preciso voltar pro hospital.
- Me conte uma novidade, .
- A gente vai começar com isso de novo, ?
- O que você quer que eu diga? Sua carreira está em primeiro lugar, sua pesquisa, a chefia da cirurgia. Tudo consegue ser prioridade, menos o nosso relacionamento.
- Você sempre soube que a minha vida era assim, eu deixei isso claro desde o início.
- Eu sei. Eu escolhi isso porque achei que aos poucos você fosse relaxar, acreditava que a gente fosse capaz de construir algo especial juntos.
- Mas eu nunca quis nada disso, não te prometi uma família feliz com filhos e uma casa com piscina. – cuspia as palavras com uma calma, nunca tinha visto ser tão verdadeira.
- Como eu disse, você sempre está em primeiro lugar. Eu não aguento mais isso de ficar me submetendo a esse papel de sombra da médica bem sucedida que precisa de um marido para posar nos eventos e nas fotos do hospital.
- Então é melhor você ir...
- Assim? Fácil? Você só quer que eu vá?
- Não tenho tempo pra implorar que fique, nem pra continuar com essa discussão. Você deveria me entender, ou pelo menos tentar. A escolha que eu fiz é pra viver em função do trabalho, permiti que você se aproximasse achando que seria diferente de qualquer outro relacionamento que tive antes, mas nada mudou.
- Tudo bem , ou melhor Doutora . Tenha um bom dia no trabalho.
Ela bateu a porta atrás de si e ali estava eu naquele apartamento sozinho. Eu realmente irei embora, mas preciso deixar-lhe um bilhete antes. Então peguei um pedaço de papel e uma de suas canetas preferidas e escrevi:
“Você é o sol. Um sol que brilha e faz tudo girar ao seu redor. Mas eu também me tornei um sol graças a você e por tudo sou grato. Espero que entenda que de longe estarei te dando todo o apoio que precisar e estarei pronto para te aplaudir com conquistar tudo o que deseja. Até breve, .”
E o que eu estava fazendo ai? Era voluntário na ala infantil duas vezes por semana. Costumava ler poesias e cantar músicas para alegrar aquelas crianças que estavam em fase terminal. E foi saindo da ala infantil com um nariz de palhaço e uma peruca colorida que nos esbarramos pela primeira vez. Ela segurava um grande copo de suco de laranja quando nos esbarramos. Não, ninguém tomou banho de suco. Ela não viu a placa de piso molhado e entrou correndo pelo corredor. É isso mesmo que você imaginou, ela levou um tombo daqueles e as pessoas em volta não sabiam se a ajudavam ou se ficavam chocados com a cena. Eu prontamente fui até ela, estiquei minha mão na intenção de ajudá-la, mas ela ignorou totalmente. Levantou-se como se nada tivesse acontecido puxou sua saia para a posição original e seguiu andando.
- Doutora , você está bem? – Pude ouvir um de seus residentes perguntar enquanto tomava café no refeitório.
- Estou. Derrubei todo o meu suco e um cara estranho com peruca colorida me ofereceu me ajuda, pensei ter sido algum paciente da ala psiquiátrica que acabou se perdendo.
- Aquele ali? – O residente apontou para mim sem a menor sutileza e percebi que o assunto era eu e meu nariz de palhaço. – Ele é voluntário na ala pediátrica. Crianças com câncer terminal. Ele vem aqui duas vezes por semana, há quase um ano.
Pude ver que que a doutora arqueou uma das sobrancelhas enquanto me olhava. E aquela foi a primeira troca de olhar que tivemos.”
Pude ouvir os aplausos do público que estava a minha frente. Quem diria que eu, , deixaria de ser um escritor de poesias que participava toda semana de uma roda de leitura publicaria seu primeiro romance, ainda baseado numa história real.
- Perguntas? – Eu tive a liberdade de me manifestar e vi uma quantidade imensa de braços levantados. – Você com camiseta rosa.
- é real? Você foi tão detalhista no livro que fico impressionada que seja apenas uma personagem fictícia.
- Sim. A doutora é real. – Respondi rapidamente sem pensar duas vezes.
Pude ouvir o alvoroço do público.
[...]
Após a leitura do prólogo, perguntas e uma longa fila para autografar todos os livros, deixo a livraria e vou caminhando lentamente até o carro. Sinto meu telefone vibrar no meu bolso e assim que pego vejo uma foto de , ela estava ligando. Deixei a ligação cair e entrei no carro.
Conectei o celular ao carro pra selecionar alguma música que me deixasse distraído até o caminho de casa. Assim que estacionei na frente do prédio cogitei não descer do carro, mas eu precisava enfrentar essa fera, nem que fosse uma última vez.
- Antes tarde do que nunca. – Mal fechei a porta atrás de mim e já estava gritando dando início a mais uma discussão.
- Eu estava no lançamento do meu livro. Que você se recusou a ir e que inclusive leva o seu nome. – Disse calmamente.
- Eu assisti a transmissão, vi que você disse a um dos leitores que sou real.
- Não acho que tenha necessidade de esconder quem você é. É muito importante.
- Muito bonitinho tudo isso, mas agora eu preciso voltar pro hospital.
- Me conte uma novidade, .
- A gente vai começar com isso de novo, ?
- O que você quer que eu diga? Sua carreira está em primeiro lugar, sua pesquisa, a chefia da cirurgia. Tudo consegue ser prioridade, menos o nosso relacionamento.
- Você sempre soube que a minha vida era assim, eu deixei isso claro desde o início.
- Eu sei. Eu escolhi isso porque achei que aos poucos você fosse relaxar, acreditava que a gente fosse capaz de construir algo especial juntos.
- Mas eu nunca quis nada disso, não te prometi uma família feliz com filhos e uma casa com piscina. – cuspia as palavras com uma calma, nunca tinha visto ser tão verdadeira.
- Como eu disse, você sempre está em primeiro lugar. Eu não aguento mais isso de ficar me submetendo a esse papel de sombra da médica bem sucedida que precisa de um marido para posar nos eventos e nas fotos do hospital.
- Então é melhor você ir...
- Assim? Fácil? Você só quer que eu vá?
- Não tenho tempo pra implorar que fique, nem pra continuar com essa discussão. Você deveria me entender, ou pelo menos tentar. A escolha que eu fiz é pra viver em função do trabalho, permiti que você se aproximasse achando que seria diferente de qualquer outro relacionamento que tive antes, mas nada mudou.
- Tudo bem , ou melhor Doutora . Tenha um bom dia no trabalho.
Ela bateu a porta atrás de si e ali estava eu naquele apartamento sozinho. Eu realmente irei embora, mas preciso deixar-lhe um bilhete antes. Então peguei um pedaço de papel e uma de suas canetas preferidas e escrevi:
“Você é o sol. Um sol que brilha e faz tudo girar ao seu redor. Mas eu também me tornei um sol graças a você e por tudo sou grato. Espero que entenda que de longe estarei te dando todo o apoio que precisar e estarei pronto para te aplaudir com conquistar tudo o que deseja. Até breve, .”