Capítulo 1 - Traição
Esta não é uma história de amor. Ao menos, não é uma história sobre o romance. Melhor dizendo: é uma história sobre o amor, mas como o amor, a vida pode nos inspirar a sermos melhores. É sobre uma jovem que se submeteu a uma vida que ela não queria para si. Quantas vezes nós mesmos não fazemos isso, diariamente? O quão difícil é para reconhecer isso depois? Para , talvez possa ter sido um pouco tarde, mas é como dizem... Antes tarde, do que nunca. se submeteu a uma vida amorosa e profissional sem muitos anseios de mudança. Permaneceu com seu namorado por longos dez anos e em um emprego maçante, em uma cidade cinza, fria e triste – Londres. e Logan firmaram um noivado... Mas por
Vocês podem estar achando que esta história não valha à pena. Como poderemos entender o que passou para decidir tomar um rumo tão diferente? Como foi o relacionamento de Logan e ? Por que ele decidiu traí-la?
Essas coisas, realmente, não são importante. Não vale o esforço ficarmos remoendo um relacionamento que, apesar de longo, não dera certo. , certamente, não o fez. O fato é que, realmente, ela não estava triste por terem terminado. Estava decepcionada por ele ter desrespeitado a relação de longa data que tiveram ao invés de chegar nela e ter terminado, o que seria muito mais simples e menos doloroso. Mas, às vezes, estamos tão acostumados com uma situação, que nunca tivemos a chance de pensar fora da caixa e avaliar a mesma. E precisava pensar. Ela não sabia o quanto amava Logan, e se o amava ainda. E por mais que estivesse difícil de admitir a si mesma, ela não queria voltar para aquele relacionamento que estava mesmo monótono. Imagine se tivessem se casado?
Com relutância, aceitou o conselho de sua amiga Jane. Precisava de férias. Desde que fora nomeada como editora da seção de comportamento da Metropolitan Magazine, há quase dois anos, nunca tirara férias. Até mesmo em suas folgas, ela trabalhava. E Jane percebia o cansaço no olhar de . Percebia o “não aguento mais” em suas palavras. Ela precisava viajar. Conhecer algo novo.
Para onde ir? O que conhecer? Qual lugar ela poderia esquecer, cem por cento, de sua vida real?
Juntas, escolheram o destino para a jovem . Sudão. Imagina-se o que devem ter pensado... Um lugar que poucas pessoas escolheriam para passar suas férias. Era uma experiência que jamais imaginou que teria. Não avisou Logan. Sequer se deu o trabalho de responder suas mensagens, ou retornar suas ligações na semana que antecedeu sua viagem. Ela ainda não estava pronta para falar com ele. Jane fora buscar suas roupas em um momento que Logan estivesse no trabalho, porque simplesmente não se sentia bem ao pensar em ter que entrar naquela casa.
Mas é o que dizem. Algumas coisas acontecem por acaso, outras não. Algumas acontecem para nos mostrar o caminho que nossas vidas estão seguindo e como queremos vivê-las a partir do agora. Às vezes, só precisamos comprar passagens para lugares sem sentido nenhum para nós, para podermos encontrar a felicidade que procuramos. Ou, até mesmo, o sentido nas coisas que fazemos.
Capítulo 2 - O Geógrafo
Estava um calor dos infernos. A viagem de demorou algumas horas, e ela conseguiu dormir parte dela, porém, em algum momento, ela acordou porque sentia que estava suando. E isso era um sinal de que ela estava próxima ao seu destino. Quer dizer, não exatamente. O voo seguia até a Etiópia e de lá, iria de ônibus para a capital do Sudão, Cartum. Talvez a ideia do lugar nos seja um pouco estranha, portanto, eis uma breve explanação.
Cartum ficava na junção dos rios Nilo Azul e Nilo Branco, mais à Leste do país. É uma região de clima quente e árido – o que fez levemente se arrepender da escolha do local, por ser literalmente o oposto da sua terra natal. Apesar de ser uma cidade de grande maioria pobre, havia algumas partes que eram bastante desenvolvidas (centro). Além do mais, grande parte do Sudão era contemplada pelo deserto do Saara, culturas árabes e belas pirâmides no trajeto Cartum-Cairo, no Egito. desceu do ônibus se sentindo perdida. Se encontrava em uma espécie de terminal rodoviário, onde havia outros ônibus também, com muitas pessoas andando para lá e para cá. Era ligeiramente aterrorizante estar em um lugar onde ela não conhecia nada nem ninguém, e ela mal tinha certeza se eles falavam sua língua por lá.
- Ei, por favor, preciso de uma informação. – ela pediu para um homem que passou por ela, que a ignorou, seguindo seu caminho apressadamente. – Ótimo. – ela murmurou para si mesma, revirando os olhos.
Pegou sua mochila e a colocou nas costas, subiu o puxador da sua mala de rodinhas e seguiu rodoviária adentro. Tratou de encontrar algum balcão de informações e logo fez seu caminho até ele. O homem que se encontrava ali falava no telefone. apoiou seus braços sobre o balcão, enquanto aguardava o homem desocupar. Quando ele terminou, ela abriu o sorriso amistoso.
- Olá. Você fala em inglês?
- Ahm... Sim? Todos falam inglês aqui. – ele respondeu com um sotaque engraçado.
- Oh. – ela piscou algumas vezes, constrangida, e pegou seu celular do bolso. – Eu gostaria de saber se tem algum ônibus que vá até esse endereço? – ela virou a tela do celular para ele, mostrando onde era o hostel que iria se hospedar.
- Sugiro que você pegue um táxi, já que é turista. Não ficará caro. Ali à direita. – ele apontou com a mão direita. – Tem uma agência de câmbio, caso não tenha libras.
- Libras? Mas eu tenho.
- Libras sudanesas, senhora.
- Oh, claro – ela respondeu, se sentindo bastante estúpida. – Obrigada.
saiu apressada de lá, indo até a agência que o homem falou. Após trocar todo seu dinheiro pela moeda local, foi até o ponto de táxi, onde conseguiu o veículo para o local que precisaria ir.
A cidade era completamente diferente do que esperava. Ela tinha feito uma rápida pesquisa sobre o local antes de decidir para onde ir na África, e o que ela imaginava sobre Cartum se resumia em três palavras: pobreza, deserto e rio Nilo. Mas ela se surpreendeu, positivamente. À medida que o motorista avançava pelo caminho que precisava ser feito até o hostel de , ela observava atentamente os altos prédios, residenciais e comerciais no centro da cidade. Havia pessoas andando de um lado para o outro. Vários comércios à beira do rio. As mulheres, imersas em suas vestes com hijab. Era incrível o conjunto das coisas que seus olhos captavam ao mesmo tempo.
Alguns minutos depois, o motorista deixou em seu destino. Ela lhe pagou, com uma generosa gorjeta, e se ajeitou com a mochila nas costas e sua pequena mala de rodinhas. O hostel que ela se hospedaria, chamado Kaballah, era, de acordo com o site que fez pesquisa, o melhor da cidade. Sua arquitetura era, em especial, atrativa. Um prédio enorme, que deveria ter dois andares, na cor branca, e sua entrada era uma clássica porta árabe, que já se encontrava aberta. Assim que adentrou, ficou encantada. Vários sofás espalhados pelo local, com algumas máquinas de refrigerante (alguns famosos, outros locais) e cheio de informações sobre o que fazer em Cartum, e curiosidades sobre a capital. Do lado esquerdo daquela sala, uma cozinha conjugada e ampla, cheia de mesas. Se aproximou do balcão, onde havia um homem conversando no telefone em árabe (ela supôs). O homem desligou o telefone e lhe abriu um enorme e amistoso sorriso.
- Marhabaan! – ele disse em seguida.
arqueou uma sobrancelha, confusa.
- Como...?
- Oh, americana.
- Britânica, na verdade... – murmurou, mais para si mesma. – Enfim. – ela chacoalhou levemente a cabeça e retribuiu o sorriso. – Eu tenho uma reserva aqui pelo próximo mês.
- Claro, só um momento. – ela não pôde deixar de reparar no engraçado sotaque do homem, que tinha um leve toque árabe. Ele checou no computador e voltou sua atenção à mulher. – Srta. , quarto individual?
- Isso mesmo.
- Ok. – ele pegou um molho de chaves da gaveta e lhe entregou em seguida. – Seja bem vinda ao Kaballah, Srta. . Nosso café da manhã começa às sete da manhã e segue até às dez horas. Você possui uma chave do quarto e uma chave para o armarinho disponível no quarto. – ele pegou um folheto que estava no canto do balcão de madeira e entregou à . – Essas são as rotas turísticas mais famosas de Khartum. – o homem falava e agia rápido, tanto que mal conseguia acompanhar direito. – Todos os dias fazemos trabalhos voluntários pela manhã na região metropolitana, então, caso queira participar de algum, é só aparecer aqui às oito da manhã. – ele terminou, com o mesmo largo sorriso.
- Ahm, certo. – ela retribuiu o sorriso. – Obrigada.
- Sem problemas. Meu nome é Dut e estou à sua disposição.
respondeu com um sorriso e subiu para seu quarto. E quando avistou a cama, rapidamente deixou sua mochila no chão e se jogou sobre ela, pois era isso que ela precisava. Olhou no seu relógio de pulso, que marcava oito horas da noite. Fechou seus olhos por uns minutos. Seus pensamentos não paravam em um ponto fixo. Eles transitavam de Logan para a revista, da revista para Logan. Ainda era difícil de acreditar nas coisas que aconteceram na semana anterior. Era difícil de acreditar que quaisquer problemas que estavam ocorrendo entre eles. Logan havia preferido trair sua confiança do que conversar. Ela não deixava de se sentir culpada. Ela sabia que, no fundo, estava mesmo evitando fazer com que este casamento saísse. Mas, se sentia mais culpada ainda por não querer se casar com o seu namorado de longa data. Despertou de seus pensamentos ao ouvir seu celular vibrando. Levou sua mão até o bolso da calça jeans e pegou o aparelho. Era uma mensagem de Logan.
Logan
Passei no seu escritório hoje. Disseram que você viajou em férias... Onde está?
mordeu seu lábio inferior, confusa por não saber se respondia. Acabou por decidir que Logan, mesmo com tudo o que aconteceu, merecia saber o que aconteceu com sua ex-noiva.
Não estou em Londres. Na verdade, não estou na Inglaterra.
Logan
Você poderia ter avisado...
Por quê? Até onde sei, não estamos mais em um relacionamento.
Logan demorou cerca de cinco minutos para responder. Porque ele não sabia o que dizer, e porque, doía ler aquilo.
Logan
Não fale assim. Tudo aconteceu tão rápido, a gente precisa se encontrar para conversar.
E, desta vez, quem demorou a responder.
Estou exausta. Tive um longo dia de viagem. Conversamos outra hora.
Logan
Durma bem. Eu te amo...
Era óbvio que não responderia àquela mensagem. Revirou os olhos, impaciente por Logan ter tido coragem de dizer aquilo quando, pelo menos para ela, não significava mais nada. Colocou seu celular de lado e deitou melhor na cama. Ligou o ar-condicionado do quarto – pois seria impossível de dormir com aquele calor – e se virou para o lado, agarrando o travesseiro que sobrou. Ela tinha viajado para dar uma folga à sua mente, uma folga de todo o trabalho estressante da revista e uma folga de Logan, que era um babaca traidor. Ela não queria perder um segundo se quer pensando nele, ou em qualquer coisa que deixou em Londres. E, com essa decisão, acabou adormecendo.
acordou sem despertador às sete horas da manhã. O sol já tinha saído. Ficou revirando na cama para tentar dormir novamente, mas era impossível. Ela estava suada. Era uma coisa que, com certeza, ela iria demorar a acostumar. Afinal de contas, quando é que na Inglaterra os termômetros marcariam trinta e dois graus, ainda mais sendo de manhã? Mas ela não estava reclamando. Na verdade, era algo que ela queria saber lidar o quanto antes, porque era novidade.
Após colocar roupas confortáveis, depois de um longo banho gelado, resolveu descer para tomar seu café da manhã. Havia várias pessoas ali, conversando umas com as outras, mas não conseguiu identificar ninguém conversando em inglês. A propósito, estava mais desconfortável com uma questão: ninguém ali usava shorts jeans igual ela. Ou regata. Como conseguiam? Foi até a cozinha e começou a se servir de torradas e suco.
- Pessoal, prestem atenção. – ouviu uma voz alta e grossa atrás de si. Se virou para ver o que era e adentrou um pouco a sala. – Nós vamos sair em trinta minutos. Para quem não comeu nada ainda, recomendo fazer isso, porque vamos voltar só após o almoço. E, quem ainda não se inscreveu para o trabalho e quer participar, é só chegar aqui para assinar a lista.
A espinha de arrepiou-se inteira ao ouvir aquela voz. Ela a conhecia. Deixou o pequeno prato com suas torradas e foi até a sala para se certificar. Era um rapaz alto e magro, com os cabelos loiros e olhos verdes. Era claro que ele mudara bastante dentro desses oito anos em que não via John O’Callaghan, a começar por todas as tatuagens que fizera no braço. Quando ele se virou para o balcão e começou a escrever alguma coisa no papel, se aproximou, ainda surpresa.
- John? – ela o chamou.
Ele a olhou rápido. Ao erguer as sobrancelhas e arregalar os olhos, ela viu que ele estava tão surpreso quando ela. Ele logo abriu um enorme sorriso.
- ?! – ele se aproximou para abraçá-la, e ela retribuiu. – Meu Deus! – quando a soltou, ficou segurando os ombros da garota, para ter certeza de que não era uma visão. – Caralho, meu Deus.
riu, trêmula.
- Faz o quê? Uns sete, oito anos? – ela perguntou.
- É, por aí. – ele se apoiou no balcão e colocou a outra mão na cintura, ainda virado para a garota. – Jamais imaginaria que eu pudesse encontrar alguém conhecido nesse lugar.
- E eu, então? – ela cruzou os braços, se sentindo feliz por encontrar alguém conhecido. – Cara, o que você anda fazendo?
- Ah, você sabe... Me formei em Geografia.
- Geografia?! Que extremo. – ela disse, fazendo-o rir. – Digo, em relação à Biomedicina, né?
- É... Achei que Logan tivesse te dito.
- Ahm... – ela estremeceu ao ouvir o nome de Logan. – Não, ele não disse.
- Onde está ele, falando nisso?
mordiscou seu lábio. John e Logan eram praticamente inseparáveis na faculdade, antes de John trancar o curso e desaparecer da face da terra. John sabia da história dos dois, de como eles se conheceram ainda no ensino médio e, vez ou outra, conversavam, se atualizando da vida um do outro.
- Ahm, ele... Está em Londres. – ela disse, hesitante.
- Ué, por que? Vocês são inseparáveis.
E aí ela viu que a notícia do término dos dois ainda não tinha atingido os amigos de John.
- É... Nós éramos. A gente... Terminou.
- Uou. – John ficou sério. deu um sorriso amarelo, sem saber o que dizer. – Nossa, mas vocês não estavam noivos?
- Sim.
- Por que terminaram?
- Ele me traiu.
John arregalou os olhos. Ele não acreditava naquilo porque, pelo o que ele conhecia de Logan, ele sabia que aquela era a mulher da vida dele e que ele jamais teria coragem de fazer isso com ela. Bom, aparentemente, ele estava enganado.
- Não acredito.
- É, enfim. – deu de ombros e soltou um riso abafado, tentando mudar o tom da conversa. – Acontece, não é mesmo? – ela olhou para as pessoas ali na sala. – Então, o que é isso que você está organizando?
John acordou de seus pensamentos e deixou de encarar . Claramente, não era um assunto que ela gostaria de entrar e se sentia desconfortável. Ele bagunçou os cabelos e voltou para sua lista.
- Estou trabalhando no hostel em troca de estadia, e fico por conta das atividades que ele oferece. Hoje vamos fazer um trabalho voluntário em uma área perto de Cartum... Tá a fim de ir?
- Ahm, claro. O que tenho que fazer?
- Nada trabalhoso. Entregar alguns lanches, algumas garrafas de água... Ver se as pessoas precisam de atenção ou alguma coisa assim... E só.
- Parece legal. Eu topo.
- Ótimo. – ele sorriu de lado. – Só sugiro que troque de roupa. Está absurdamente quente, se você usa roupas curtas aqui, você se queima.
- Sério? – ela franziu a testa, e riu em seguida. – Tudo bem, então.
- E , eu termino as atividade às sete horas da noite. Você quer sair para comer alguma coisa? A gente pode aproveitar o tempo para conversar.
- Claro. – ela sorriu. – Seria muito bom.
- Acho que temos muito o que conversar, né? – John soltou um risinho abafado, ainda se sentindo mal pela situação.
Ela apenas concordou com a cabeça e subiu as escadas, de volta para seu quarto.
ainda não acreditava direito que havia encontrado John. A história, que ela sabia, era bem simples. John era colega de sala de Logan, no curso de biomedicina, depois que Logan transferiu o curso para Londres. Ele acabou se atrasando um pouco e tendo que refazer algumas matérias, mas John era calouro na época. Junto com alguns outros, eles sempre estavam juntos e eram muito amigos. acabava andando com eles, em algumas ocasiões, por ser a namorada de Logan. De todos os amigos de Logan naquela época, John era o mais amigável e simpático, e sempre fizera questão de tratar super bem, o que fez com que eles também se tornassem amigos. Foram várias ocasiões que John provou isso, e vice-versa. Mas então ele decidiu largar o curso. sempre imaginou isso acontecendo porque, pelo o que ela conhecia de John, ele não combinava com aquele curso. E, no fundo, ela sempre tivera uma certa inveja dele, por ter um espírito tão livre. No final das contas, John se mudou para algum lugar e eles nunca mais se viram, apenas conversavam ocasionalmente, mas o contato foi diminuindo. Até mesmo entre Logan e John foi enfraquecendo ao longo dos anos.
Ela estava feliz por ver um rosto amigo em um lugar desconhecido. Jamais imaginou que o veria novamente sem ser em seu casamento, e ainda mais naquela maneira que se reencontraram. Mas estava feliz. Não puderam conversar direito durante as atividades do voluntariado, que durou até a hora do almoço, porque ele tinha que coordenar tudo. Contudo, estava ligeiramente ansiosa de poder conversar com ele. Ela se lembrava de vários dos altos papos que tiveram na faculdade, sobre diversos assuntos, e ela gostava deles, porque é difícil encontrar alguém que pensa exatamente como você em quase tudo.
Decidiu usar uma roupa simples – calça e camisa – para se encontrar com John. Ele já a aguardava sentado em um dos sofás da sala de entrada do hostel. Estava anotando algumas coisas sobre aquele dia no seu caderninho, que sempre levava consigo. Ele precisava daquilo para concluir seu projeto num futuro próximo. Não havia parado de pensar em também. Era realmente bom em revê-la, mesmo que em uma situação nada comum, em um lugar nada comum. No fundo, se sentia mal pelo o que aconteceu entre Logan e . Ele jamais imaginou que isso poderia acontecer algum dia. Claro que ela ainda lhe explicaria melhor o que houve para terem chegado naquele ponto, mas ainda assim... John sempre tivera uma queda por quando estava na faculdade. Ele a achava muito parecida com ele em vários aspectos, mas nunca a desrespeitou. Era provável que ela nunca suspeitou disso. E quando se mudou de Londres, ele acabou se esquecendo disso, mesmo que sempre sentira um carinho por ela. Mas era isso, cada um havia seguido o seu rumo.
John despertou de seus pensamentos quando escutou alguém descendo as escadas rapidamente. Era . Ele lançou um sorriso ao vê-la e guardou sua caderneta dentro de sua bolsa à tiracolo, e se levantou para ir ao seu encontro.
- Demorei muito? – ela perguntou.
- Não. Vamos?
Foram andando até o café, que não era longe. Ficava de frente para o rio Nilo, tendo apenas uma larga avenida de carros separando os dois. Conversaram um pouco, e bem resumido, sobre várias coisas que aconteceram durante esses anos. Ao chegarem no café, logo se sentaram em uma mesa perto da janela.
- Mas você não sabe o que aconteceu com ele? – John perguntou, entre risos.
- Cara, a última coisa que ouvi sobre ele, foi que tinha se divorciado porque a esposa o pegou com um homem na cama.
John soltou uma deliciosa gargalhada, enquanto tampava o rosto. o acompanhava na risada.
- Gente, eu sabia! Drake nunca foi bom em esconder, eu não sei porque ele insistia em se fingir de hétero, como se fosse uma coisa grave ser gay.
- Ah, eu também não sei, mas não julgo né... Você conhece a família dele.
- É... – John estava com o rosto vermelho de tanto rir, mas logo se ajeitou na cadeira. – Verdade.
- Amei esse lugar! Super confortável.
- Não é? Conheci ele tem dois dias.
- Posso ajudá-los? – perguntou o garçom ao se aproximar da mesa.
- Bom, vou querer um expresso duplo e... – John começou e logo olhou para . – Você ainda bebe seu cappuccino com chocolate extra?
- Não acredito que ainda se lembra.
John acenou para o garçom finalizando os pedidos e voltou sua atenção para , com um sorriso torto.
- Qual é, , você me fazia de escravo quase todo dia para buscar para você.
- Ei! – a garota soltou um riso debochado. – Eu só pedia porque você já iria buscar de qualquer forma. – ela se apoiou na mesa com os braços e ficou olhando John. – Me diga, o que você fez da vida? Onde fez Geografia?
- Hum, essa história é boa. – John ficou na mesma posição que a garota. – Bom, depois que eu saí lá da UL, eu voltei pra Liverpool e fiquei trabalhando por um ano em um restaurante lá.
- Seu pai deve ter achado isso muito bom.
- Nossa... – ele revirou os olhos e se encostou na cadeira novamente. – Ele ficou, literalmente, umas duas semanas sem conversar comigo. – ele disse, fazendo soltar um riso abafado. – Mas então, eu juntei muito dinheiro no restaurante. Daí, cheguei no meu pai e mandei a real: “pai, eu gostaria que você me desse um dinheiro que me falta para eu fazer intercâmbio no Canadá”. – ergueu as sobrancelhas, prestando atenção no que ele dizia. – Ele não curtiu muito, para variar disse que eu ia gastar o dinheiro dele de novo, e eu disse que não, que tinha certeza que queria fazer Geografia em uma universidade lá.
- Ele não deve ter gostado de você ter largado biomedicina para fazer geografia.
- Não... Mas minha mãe entendeu melhor, então ela me ajudou. Depois de vários esforços, meu pai cedeu e eu fui para o Canadá fazer Geografia.
- Meu Deus... – o garçom voltou com os pedidos e deixou para os dois. – Mas por que o Canadá?
- Pergunta errada, cara . A pergunta é: por que não o Canadá? – ele tomou um gole da bebida. – Eu só sei que queria sair do país.
- E o que você tem feito desde então?
- Eu terminei a graduação, fiz o MBA de dois anos e agora estou fazendo o PhD.
- Caralho, John. – tomou um gole do cappuccino e riu. – Desde quando você é tão inteligente assim?
Ele riu.
- Eu não poderia estar tendo uma vida melhor, . Eu já viajei tanto que você ficaria surpresa.
- Imagino... – ela disse, tentando imaginar como seria essa vida. – E sobre o que é o seu PhD?
- Então, o tema é a relação das tribos africanas com a natureza selvagem. É mais um projeto fotográfico, na verdade... Vai ser um livro de fotos falando sobre essas tribos que eu visitei. Eu estou aqui na África faz quase seis meses, daí eu fico visitando as tribos, tiro umas fotos, faço umas anotações... Esse tipo de coisa.
- Nossa, John. Você realmente é inteligente. – ela brincou, o fazendo rir.
Eles ficaram em silêncio por alguns segundos. John queria perguntar sobre o relacionamento dela com Logan, mas achava que ainda não fosse o momento. Ao invés disso, perguntou outra coisa.
- E a revista? Está na mesma ainda?
- Sim. Sou editora, hoje.
- Fiquei sabendo mesmo. Poxa, parabéns. Você deve estar nas nuvens.
- É... Mais ou menos. É muita responsabilidade e muito trabalho.
- Mas é o que você quer, não é?
Ela deu de ombros e evitou a resposta. Não porque ela não quisesse aquilo, mas porque estava muito frustrada como as coisas são dentro da revista.
- Vish... – John disse, finalizando a sua bebida e desviando o olhar.
- O que foi?
- Eu não senti firmeza. Diz aí, não é o que você queria?
não sentiu a necessidade de não ser verdadeira com John. Então, preferiu dizer o que sentia.
- Ah, John, eu não sei bem. É diferente do que eu esperava. Eu não tenho tanta liberdade quanto achei que teria. Eu quase não escrevo mais.
- Você não queria escrever um livro?
- Nossa, você ainda lembra disso? – ela estava mesmo surpresa com os detalhes que John se lembrava.
- Claro. Você me deu um rascunho para ler uma vez, porque queria uma opinião diferente da do Logan. – ele disse, sério.
- Verdade. Ah, sei lá... A vida tomou um rumo diferente.
Eles ficaram em silêncio novamente. Na visão do rapaz, parecia a mesma garota sonhadora da faculdade. Mas agora, ela estava frustrada e, ele arriscava dizer, infeliz. Perdida. Ele não sabia o que dizer, mas sabia o que fazer.
- Ei, quer ver um lugar?
- Que lugar?
John acenou para o garçom trazer a conta e sorriu, malicioso.
- Você vai ver.
John e voltaram ao hostel para que ele pegasse o carro que ele alugava desde que chegou ali. Ele se manteve misterioso durante todo o percurso para onde iriam e ela mal podia aguentar de curiosidade. Ele apenas disse que seria uma pequena viagem. Já estava completamente noite quando eles atingiram a estrada, onde podiam ver que era toda cercada pelo deserto.
- Esse é o deserto do Saara?
- Yep.
Ela continuou a observar. Como um monte de areia podia ser tão... Deslumbrante?
Quase uma hora depois, John parou seu carro em um local cheio de pirâmides. A garota ficou um pouco confusa.
- Nossa, eu não sabia que aqui tinha pirâmides.
- É – ele desceu do carro, seguido por . – Não são tão famosas quanto as de Gizé. – ele olhou para ela e percebeu que não sabia bem do que se tratava. – As do Egito.
- Ah sim. – eles foram andando lentamente até a pirâmide mais próxima. – Eu realmente não sei nada sobre esse lugar.
John riu levemente e parou de frente para a pirâmide. Ela, em particular, tinha o topo quadrado e não era absurdamente alta.
- Vamos subir?
- O que? Pode fazer isso?
- Qual é, ? Não tem ninguém aqui.
Ele começou a subir devagar para não pisar em falso. ainda não tinha decidido se começaria a subir ou não. Quando percebeu que não estava sendo acompanhado, John parou e olhou para trás.
- Você não vai subir?
- Não sei, John, e se alguém aparecer aqui?
Ele revirou os olhos.
- , tente quebrar as regras pelo menos uma vez na sua vida. Vai se sentir bem. Vem. – ele estendeu a mão para ela.
Ela se sentiu zombada e careta. Então, respirou fundo e começou a subir da mesma forma que o rapaz. Quando se aproximou o suficiente, pegou na mão dele. E assim, juntos, terminaram de subir a pirâmide.
Era uma vista incrível. , literalmente, nunca havia visto um céu tão limpo e estrelado. Afinal de contas, Londres vivia nublado, e quando não estava, as luzes da cidade não permitiam ver um cenário assim. Mas quando ela viu, ela se sentiu mais viva. Se sentiu mais próxima do céu.
- John, isso é lindo.
Ele riu e se sentou com as pernas cruzadas.
- E você não queria subir. – ele deu leves palmadas ao seu lado, indicando para que se sentasse, e assim ela fez.
- Ainda bem que você me fez subir.
Eles ficaram em silêncio por um tempo, apenas olhando o céu. A noite estava um pouco fria, o que fez se arrepiar por inteiro.
- O que aconteceu com você e Logan? – John resolveu lançar a pergunta, sem mais nem menos.
Ela o olhou, nervosa e desviou o olhar por várias vezes. Mordeu seu lábio, porque não queria falar sobre aquilo.
- Eu não sei direito, John. Quer dizer, eu sei o meu lado da história. Desde que eu fui promovida como editora, eu não parei de trabalhar, sério. E eu sei que fui deixando as coisas do casamento meio de lado, não fui dando bola, chegava tarde em casa... Então, o Logan usou como justificativa de que estava se sentindo sozinho e por isso me traiu.
John ergueu as sobrancelhas, surpreso por ouvir aquilo. Porque ele conhecia um pouco dos dois juntos. Era difícil acreditar que não tivesse tempo para cuidar de uma coisa tão importante para ambos. Mas antes que pudesse dizer algo, ela continuou.
- Sabe? Eu não vou mentir. – ela se virou um pouco para o rapaz, que fez o mesmo. – Eu não sei bem se eu queria casar. – ela mordiscou o lábio, um pouco tensa. – Sério, John. Eu não sei como, mas... A gente deixou de ser a gente, sabe? Parecia que o Logan queria as coisas tudo para ontem, e eu queria fazer tanta coisa ainda...
Ele concordou com a cabeça, assimilando o que a garota disse, mas não disse nada.
- O que foi? – ela quebrou o silêncio.
Ele soltou o ar pela boca, negando com a cabeça.
- Não, nada. Sinto muito por você e Logan. Mas sei lá, acredito que tudo aconteça por uma razão. Você só tem que tirar o proveito disso.
- Eu estou tirando. Você acha que ele iria querer vir para um lugar desse?
John soltou um riso sem graça e negou com a cabeça.
- Você tem razão. – ele respondeu, se deitando para olhar melhor o céu.
Ela respirou fundo. Ela não queria ser vista como uma coitada que perdeu o noivo, ou ser vista como aquela que não sabia como reconstruir a vida depois de uma desilusão amorosa.
- Sei lá, eu acho que as pessoas precisam desvincular a minha imagem da dele, entende? – ela disse, olhando para ele. – Acho que eu mesma preciso fazer isso. Preciso saber quem eu sou sem ele.
- Eu concordo plenamente. – ele respondeu, sem olhá-la. – Eu, particularmente, acho que a vida é muito mais do que um relacionamento duradouro, sabe? Não estou dizendo que não é importante, nem que devemos ter, mas sei lá... As pessoas só decepcionam.
o encarou por um momento, segurando o riso.
- Ai meu Deus, quem foi que quebrou o coração de John O’Callaghan?
- O quê? – ele a olhou rapidamente.
- Diga. – ela se virou mais para ele, com o sorriso estampado. – Achei que você era do tipo que nunca seria fisgado, rapaz.
Ele revirou os olhos, rindo.
- Esquece essa história.
- Não mesmo, senhor.
Ele voltou a se sentar e a olhou, enquanto alongava suas costas.
- Ai, ai. Não é ninguém demais, só uma garota com quem namorei por um tempo. Mas aí descobri que não tínhamos nada a ver e ela preferiu outra pessoa, é isso.
- Ok, já percebi que você não quer entrar nos detalhes.
- Eles não valem a pena. – John se levantou e estendeu a mão para ajudar a se levantar. – Acho melhor irmos.
Depois de uma hora, os dois chegaram no hostel. Algumas pessoas que estavam hospedadas ali faziam alguma social do lado de fora, com música e bebidas.
- Acho que vou dar uma chegada ali. Você quer ir?
- Ah, não, obrigada. Estou muito cansada, preciso de um banho e uma boa noite de sono.
- Ok. – ele sorriu. sorriu como forma de “até logo” e se preparava para subir as escadas. – Hey, . – e assim, ela se virou para John novamente. – Segunda feira eu vou até a tribo dos Dinkas, mais para o Suldão do Sul... É a última tribo que falta. Você não quer ir?
sorriu calorosamente, porque ficou feliz com o convite.
- Eu adoraria.
John sorriu de volta, um pouco envergonhado.
- Acho que vamos nos falando, então.
Ela concordou com a cabeça.
– Obrigada, John. Hoje foi ótimo.
E assim, se despediram. Sem mais nada. John foi até seus conhecidos se divertir, mas queria que estivesse ali também. Ele tinha adorado passar tempo com ela e sentia que precisava mais daquilo. Não porque ele tinha outras intenções, mas porque gostava da companhia de . Sempre gostou.
Capítulo 3 - A Aproximação
No domingo daquela semana, saiu para sua caminhada aos arredores do hostel. Queria saber mais sobre o que havia em volta em caso de necessidade. Enquanto caminhava, vários pontos se passaram pela sua cabeça. O que Logan devia estar fazendo naquele momento? Ele ainda se encontrava com aquela mulher? Ela deveria voltar para ele? E a revista? Como as coisas estavam sem ela lá para ajudar? sentia sim uma pontinha de culpa por ter fugido das suas responsabilidades, mas ela tentava driblar isso se concentrando nas suas férias e em seus passeios. John estava sendo uma grande ajuda para isso. Ele era incrivelmente interessante, sempre com coisas novas para mostrar para ela. E o que a deixava mais tranquila, era que ele não tocava no assunto “Logan”. Ela sentia que ele evitava ao máximo. No dia seguinte, eles pegariam a estrada para a tal tribo que ele a havia convidado. A ansiedade acompanhava .
John estava no balcão de recepção do hostel escrevendo em sua caderneta. Fazia parte das suas tarefas do hostel cuidar da recepção quando Dut precisava cuidar de outras coisas.
- Ei, cara, estava de procurando. – John ouviu a voz do amigo e levantou a cabeça. Ele se aproximava segurando um tablet.
- E aí, Garrett. Diga.
O rapaz se apoiou no balcão e estendeu o braço para que John pudesse acompanhar junto com ele.
- Bressner enviou umas ideias de layout para o livro. Eu particularmente gostei dessa aqui, mas se quiser dar uma olhada nos outros... Fique à vontade.
- Oh, ótimo. – John pegou o tablet e analisou a opção apontada pelo amigo. Depois, começou a arrastar o dedo pelo aparelho para ver as outras opções. – Ah, cara, acho que esse que você disse é o melhor mesmo. – John devolveu o aparelho para o amigo, que o pegou e desligou a tela. – Ele disse o que falta ainda?
- Parece que ele só vai finalizar e depois vai aguardar as nossas fotos e textos. Mas essa parte, vamos ter que fazer com ele.
- Beleza. – John passou as mãos no rosto e abriu um sorriso animado. – Cara, nem acredito que está acabando.
- Não é? – Garrett sorriu e prendeu os longos cabelos em um coque. – Mal posso esperar para ver ele pronto.
Neste momento, entrou no hostel, suada e ofegante. Além do calor, tinha de superar as várias ruas inclinadas que eram comuns na cidade. Quando viu John na recepção, resolveu aproximar-se.
- Olá. – ela disse, amistosa.
- Hey, . – ele respondeu, saindo de trás do balcão. O amigo deu espaço para olhar para a garota. – , esse é o Garrett. Ele está comigo no projeto do PhD.
- Ah, olá! – ela sorriu e estendeu a mão para cumprimentar o garoto, que fez o mesmo. – Prazer em conhecê-lo.
- O prazer é meu. Vai participar da festinha hoje? – Garrett perguntou. arqueou uma sobrancelha, confusa.
- Que festa?
- Ah, é que hoje vai ter uma confraternização com os hóspedes. Achei que tivesse visto o flyer no mural de informações. – John complementou.
- Eu não tinha visto... Mas bom, claro. Irei.
- Legal. – John sorriu com os olhos.
- Ok. Vejo vocês depois, então.
começou a subir as escadas lentamente, mas, quando subiu o primeiro vão, parou ao ouvir a voz de Garrett.
- Gata, huh? – ele disse, arrancando um riso sem graça de John. – Conheceu ela aqui?
- Não... Na verdade, a conheci na faculdade, em Londres.
- Caramba, que coincidência. Namorada?
- Namorada de um amigo meu. Agora ex-noiva, na real.
- Ah, vá? Do jeito que você olhou para ela, achei que fosse sua. – entortou a cabeça, sem entender, e tentou fazer força para ouvir melhor. John riu.
- Ai, cara, não viaja.
- Sério. Nunca rolou nada entre vocês?
- Ah... Não... – eles ficaram em silêncio por um momento. Garrett ergueu as sobrancelhas, sem dar muita credibilidade na resposta de John, que revirou os olhos. – Tá, eu tinha uma espécie de crush nela na época. Uma vez, a gente quase se beijou.
- Nossa. Mas aí você foi pra Montreal e nunca mais se falaram?
- Falamos. Mas, não tanto quanto na época da faculdade. Falava mais com o Logan, na verdade.
- Ah, aquele seu amigo? – John concordou com a cabeça. – Caralho, ela era noiva dele?
- Sim, cara... Namoraram por dez anos. – John deu de ombros. – Enfim, águas passadas agora. Preciso terminar de contabilizar o caixa aqui, o Dut deve estar pra chegar.
- Beleza, cara, vou subir pra me arrumar, então. – ambos se despediram com um toque deles, como um high-five. – Até depois.
rapidamente terminou seu caminho para o quarto, fechando a porta atrás de si, e então, ficou ali por alguns segundos, pensando no que ouviu. John teve um crush nela na época? Ela também nunca imaginou que ele se lembrava do dia da praia. Ela mesma mal se recordava, mas porque ela fez muito esforço para se esquecer. Ela se sentou na cama, ainda encarando o nada. Sentiu um calor aquecer seu coração. “John sentia alguma coisa por mim?”. Quando deu por si, estava estampando um sorriso no rosto. Sacudiu a cabeça, acordando daquele devaneio, e tratou de ir se arrumar para a festa.
Não era exatamente uma festa. Eram algumas pessoas, em torno de umas vinte, reunidas no quintal do hostel para tomar cerveja, escutar uma música e socializar. Quando avistou os dois garotos, se aproximou deles.
- Olá.
- Ei, você veio. – John sorriu. – Quer beber alguma coisa?
- Qualquer coisa gelada.
- Vou pegar uma cerveja para você.
Ele se distanciou deixando Garrett e sozinhos.
- Então, curtindo a cidade?
- Sim. Aqui é muito mais interessante do que imaginei. Esses dias fui no museu nacional.
- Lá é bem legal para saber da história. – Garrett tomou um gole da bebida e pigarreou. – John me contou que estudaram juntos.
- Ah, pois é... O mundo é pequeno, não é mesmo?
Ele olhou a garota por uns segundos e sorriu. Mas antes que pudesse dizer algo, o amigo voltou.
- Aqui está. – ele entregou a garrafa para , que abriu e logo tomou um gole. – Uou, vai com calma, hein?
Ela riu, envergonhada. Bom, era assim que ela estava se sentindo perto dele, agora.
Depois de algumas horas de festa, poderia se dizer que as pessoas já haviam atingido certo grau de embriaguez. não parava de rir de qualquer coisa que os rapazes diziam, e eles não paravam de falar bobeiras. Cansada de permanecer em pé, a garota se sentou em uma cadeira de plástico mais ao canto. Começou a arrancar, com o dedão, o rótulo da cerveja. Pegou seu celular para verificar se havia alguma mensagem. Queria saber o que Logan estava fazendo. Se estava tentando esquecê-la assim como ela estava fazendo naquele momento. Se ele se sentia mesmo arrependido. Guardou-o novamente no bolso e fechou os olhos. Sua cabeça rodava e rodava...
- Hey. – ela abriu os olhos em um pulo e respirou aliviada ao ver John sentado ao seu lado. O garoto riu, achando graça. – Calma, não vou roubar seus órgãos.
Ela riu, se ajeitando na cadeira para ficar menos deitada e deu outro gole na cerveja. Os dois ficaram em silêncio por um momento. Então ela respirou fundo e disparou:
- Se lembra daquele seu aniversário em Liverpool?
Ele a olhou de canto de olho e deixou um riso abafado sair da boca, antes de beber o resto de sua cerveja.
- Lembro. Por quê?
Ela deu de ombros e voltou a arrancar o rótulo com o dedão.
- Eu lembro de termos ficados todos muito bêbados naquele dia.
- Sim... – John se apoiou sobre seus joelhos e olhou para a garota, segurando a garrafa vazia com as duas mãos. – Jared vomitou na sala do meu pai naquele dia. Tive que limpar chorando.
Os dois gargalharam ao lembrar da situação.
- Patrick jogou beer pong com ele mesmo e desmaiou naquela poltrona que ficava no canto. – ela complementou. – Logan teve de carregá-lo para o quarto.
- É... – ele disse, com um sorriso envergonhado. Ele não queria completar as lembranças daquele dia.
- E a gente foi dar uma volta na praia porque já estava quase amanhecendo. – John olhou para , esperando que ela dissesse. Mas não falou nada. Ela o olhou. Ambos sabiam o que havia (quase) acontecido. Ela, então, continuou: - Foi a primeira vez que você me disse que iria sair da faculdade.
Ele mordeu seu lábio inferior, inseguro se queria continuar com aquela conversa. Olhou para a garrafa que segurava e, então, respirou fundo.
- Eu me lembro. – ele voltou a olhá-la, que estava ansiosa. – A gente se deitou na areia e você disse que sentiria minha falta, porque eu era o cara mais legal que você conhecia. – ele puxou o canto da boca em um meio sorriso.
desviou o olhar, um pouco envergonhada.
- Você lembra o que aconteceu?
Ele continuou a olhá-la. E, ela, tornou a encarar John. Ela queria que ele dissesse sim. Queria que ele... Fizesse aquilo de novo.
- A gente quase se beijou. – ele passou a mão nos cabelos, bagunçando-os, e se encostou na cadeira. – Aquilo não foi legal.
Ela não respondeu, porque naquela época, não teria sido mesmo.
- Porque eu namorava o Logan. – ela afirmou. Ele a olhou com as sobrancelhas erguidas. Ela mordia seu lábio, sem muita certeza do que dizer. Até que disse: - Mas eu não o namoro mais.
Ele continuou olhando para , sem botar muita fé naquilo. Não era uma coisa que ele estava profundamente esperando, mas aquilo parecia um convite. Ela continuou olhando para John com os olhos vidrados nele. Parecia que eles haviam retornado para aquele dia, como se fossem os mesmos jovens adultos. E, então, ele sentiu o desejo consumir o seu corpo. Sem se segurar ou sem pensar direito no que estava fazendo, juntando com o efeito do álcool no corpo, ele levou a mão para a nuca de e a puxou para um beijo. Ele sempre imaginara qual era o gosto daqueles lábios. Suas línguas se entrelaçaram em um beijo lento e quente. levou suas mãos no cabelo de John, os puxando sem força. Ela já havia se perguntado algumas vezes como seria beijar outra pessoa sem ser Logan. Mas, para sua surpresa, ela não se sentia culpada, nem ficava imaginando Logan ali. Naquele momento, era John mesmo quem ela queria. Os dois foram, lentamente, descolando seus lábios. permaneceu com os olhos fechados por um momento, antes de abri-los e se deparar com os olhos esverdeados de John sobre ela. Tanto ele quanto ela tentavam entender aquele desejo repentino – ou reprimido. Então, começou a rir.
- O quê? – ele perguntou, segurando o riso.
- Eu não sei. – ela respondeu, passando a mão no cabelo. o olhou, com um meio sorriso. – Só... Isso foi muito bom.
John abriu um sorriso torto e sedutor. O coração de deu um ou dois saltos, porque ela ficou encantada. Mas antes que aquilo tudo a guiasse para um lugar que ela não tinha certeza de que queria ir, se levantou, deixando o rapaz sem entender.
- Preciso ir dormir.
Ele se levantou em seguida, preocupado.
- Você está bem?
- Sim, só... Bêbada. E amanhã temos que acordar cedo, certo?
- Sim, verdade. – John levou uma mão no rosto ao se lembrar da visita que faria a última tribo da lista. – Certo, você tem razão.
se virara para adentrar o hostel, mas John a puxou pelo braço, colando seus corpos e fazendo com o que da garota se arrepiasse de cima a baixo. Antes que ela pudesse dizer algo, John a beijou novamente. Ela envolveu seus braços em torno do pescoço de John e ele se inclinou um pouco sobre o corpo de , subindo uma mão até o cóccix dela, para segurá-la. Ela se deixou levar por aquele beijo, que ela havia gostado tanto. E antes que pudessem aprofundá-lo ainda mais, John separou seus lábios rapidamente.
- Eu não vou fingir que esqueci disso amanhã. Nem depois.
Ela sorriu e deu um beijo demorado no pescoço de John, que se sentiu arrepiado.
- Nem eu.
E assim, foi dormir. Ela só precisou se jogar na cama e o resto estava feito.
acordou assustada às seis horas da manhã seguinte. Demorou um pouco para perceber que era seu despertador tocando pela terceira vez. Ela não se lembrava de ter recusado as outras duas vezes. Levantou-se rapidamente da cama, pegando sua toalha e a roupa que tinha separado para aquele dia e quase trombou com a porta, porque ainda se sentia tonta. Depois de tomar seu banho, arrumou uma pequena mochila com outras roupas e desceu para a sala do hostel. Poucas pessoas estavam acordadas ali. Encontrou Garrett carregando duas grandes mochilas para perto da porta.
- Hey, estou aqui. – ela disse em um tom de desespero.
O rapaz a olhou, um pouco assustado, mas riu em seguida.
- Bom dia.
- Desculpa ter me atrasado. Achei que tinham ido, até.
- Relaxa, a gente só vai às sete. A gente também não ia te deixar para trás.
- Ah, sim. – passou seus cabelos para trás da orelha, envergonhada. – Ahm, onde está John?
Garrett a olhou, com uma sobrancelha arqueada e com um sorriso sapeca no rosto.
- Preocupada? – ele perguntou, segurando o riso.
- Não, eu só... Perguntei.
- Aham. – ele deixou escapar um risinho, mas voltou a ajeitar as mochilas. – Fica tranquila, ele já está descendo. - ele disse, rindo, e foi até o carro alugado de John mais a frente.
- Olá.
A espinha de se arrepiou ao ouvir John falar tão perto de seu ouvido. Ele parou ao seu lado, em seguida. Ele estava lindo, em um ponto que ela se sentiu intimidada por ficar ao lado dele e ela nem ter se arrumado decentemente.
- Olá.
- Pronta? – ele colocou óculos escuros redondos e pegou a mochila de das suas costas.
Aproximadamente seis horas depois, os três chegaram em Takoi, próximo à fronteira do Sudão com o Sudão do Sul. A burocracia para atravessar para o Sudão do Sul era demorada e complicada e, com isso, John e Garrett não optaram por ver os maiores grupos Dinkas que ali habitavam. Mas, a mesma tribo possuía um grupo no sul do Sudão, então os dois viram que deveria bastar. Entraram em contato com Nyong Abbälah, uma descendente direta dinka que teve a oportunidade de ir para a cidade e cursar Antropologia, portanto, era uma importante ponte entre John e Garrett e a tribo, visto que ela era a única que falava as duas línguas – inglês e dinka.
- Bem-vindos! – disse uma mulher relativamente alta, para .
- Nyong? – John se aproximou da mulher e ela o abraçou, com um sorriso contagiante no rosto. – Muito prazer em conhecer você, finalmente.
- O prazer é todo meu, querido. – ela se virou para Garrett e o cumprimentou da mesma maneira. – Você deve ser Garrett? – ela segurou o garoto pelos ombros, que parecia mais uma criança ao lado da mulher.
- Olá.
Em seguida, Nyong se virou para e ela sabia o que esperar. O abraço quase afogou e a fez se perder no corpo da mulher, imaginando quantos metros de altura ela deveria ter.
- E quem é essa linda mulher?
- Nyong, esta é , uma amiga que veio conhecer também.
- Ah, claro, você me disse pelo telefone. Bom, vamos, vou mostrar para vocês onde irão dormir.
Depois de se desfazerem das malas, foram até a tenda central, onde todos comiam. estava deslumbrada. Eram pessoas de uma etnia que a encantava. Assim como Nyong, todos eram muito altos – o que fez perceber que Nyong nem era tão alta assim. A pele dos membros da tribo era negra, mas de uma forma que a britânica nunca havia visto antes. A pele reluzia com o brilho do sol e combinava com as pinturas corporais que eles usavam. Era difícil se acostumar com o fato de que eles não usavam roupas como as pessoas da cidade usam, se é que poderiam ser consideradas roupas. As mulheres, no geral, usavam tangas ou lenços em partes do corpo, e não era incomum ver que algumas deixavam os seios ou virilhas expostos. Os homens usavam uma espécie de tanga, mas não era obrigatório também. Enquanto comiam, Nyong explicou os principais locais que John e Garrett poderiam ir para fotografar. voltou a prestar atenção na parte em que disse que no final do dia, algumas jovens da tribo iriam cantar na confraternização que fariam, o que animou os dois rapazes.
- Bom, acho melhor irmos, então. Temos muitas coisas pra fazer ainda. – disse John, se levantando junto de Garrett e pegando sua bolsa à tiracolo. De dentro dela, tirou uma máquina fotográfica.
Algumas horas se passaram quando John e Garrett retornaram à tribo em que estavam, para fotografar e catalogar as várias tendas e cabanas que serviam de abrigos para os dinkas. e Nyong se juntaram a algumas mulheres que estavam sentadas no chão, embaixo de uma tenda, para que a mais velha ensinasse à britânica como faziam os cestos com palha seca. se embananava várias vezes. Ela ria, porque era divertido participar daquela atividade e porque não achava que algum dia pudesse fazer qualquer coisa relacionada a artesanato.
- Pronto. – ela disse, tentando engolir o riso e colocando sua cesta na frente de suas pernas cruzadas. – Acho que terminei.
- Oh, querida, não sei o que é isso, mas não é uma cesta. – Nyong respondeu, gargalhando junto com , que deu de ombros.
- Para uma primeira vez, acho que está ótimo.
Nyong riu, deixando sua cesta de lado e já separando os materiais para uma nova. a observou por uns segundos e depois olhou para John, ao longe. Ele parecia muito animado e feliz. Tentava conversar com os outros através de mímicas, o que a fez rir discretamente. Ela gostaria de saber o que se passava na cabeça dele. De entender a sua visão de mundo e o seu jeito de ver a vida. Como as coisas pareciam tão simples para ele e como John conseguia ser tão desapegado. Queria saber de todas as coisas que ele tinha visto e vivido. Como Logan se sentiria ao saber que ela tinha beijado seu antigo amigo de faculdade? Ela mal entendia o que ela mesma sentia por ter feito isso. Ele disse que não iria fingir que esqueceu daquilo, mas até então não tinha falado nada sobre isso. E isso incomodava um pouco .
- Vocês formam um belo casal. – disse Nyong, interrompendo os pensamentos da garota.
- O quê? – ela perguntou, com um delay de entendimento sobre o que Nyong disse. – Ah, não. – sacudiu a cabeça, rindo envergonhada. – Não, eu e John, nós não... Não. – esfregou as mãos no rosto, como se tirasse a vergonha do mesmo.
Nyong riu, sem tirar os olhos da cesta em que trabalhava.
- Desculpa, achei que fossem. Ele é bem bonito. – ela disse, como se fosse para perceber isso também. A garota começou a encarar John, sem responder o comentário dela.
- É...
- Vamos. – Nyong esfregou uma mão na outra e se levantou. – Daqui a pouco iremos começar a preparar nossa celebração.´
se levantou com a mais velha e a seguiu para a enorme tenda central, onde se reuniram com as outras mulheres da tribo. O sol começava a se por, quando John e Garrett terminaram de documentar tudo o que queriam. Estavam satisfeitos com os trabalhos e sabiam que os resultados lhe trariam aquele sentimento de realização. Quando John olhava para trás e analisava sua trajetória, mal podia acreditar onde havia chegado. E quando olhava para , várias lembranças de dez anos atrás o alfinetavam para crer que muito havia mudado, ao mesmo tempo em que permaneciam as mesmas. Ele estava sendo quem finalmente gostaria de ser, e estava feliz. Algumas horas depois, todos estavam reunidos em torno de uma enorme fogueira, no meio do acampamento as tribo. Algumas mulheres batucavam em tambores, enquanto homens e mulheres dançavam. De acordo c Nyong, era um ritual de agradecimento às entidades que eles acreditavam, ao mesmo tempo em que era uma forma de dar boas vindas à novas relações sociais, no caso, para John, Garrett e . Após a calorosa dança, as pessoas entrosaram em animadas conversas entre si. Garrett entrevistava uma garota de, aparentemente, quinze anos, enquanto Nyong fazia a tradução para ambos. John estava sendo pintado no rosto por algumas mulheres que, intimamente, havia achado aquele homem extremamente bonito. Ele não entendia perfeitamente o que elas falavam, conhecia uma palavra dinka ou outra, mas ouviu o suficiente para compreender que elas falam sobre suas feições e seus olhos. Isso o envergonhara levemente, mas evitou dizer qualquer coisa e apenas ria quando elas riam. Por fim, estava sentada em um tronco, mais distante das outras pessoas. Ela estava se sentindo tímida e não sabia o que conversar com quem quer que fosse. Juntou seus pés e abraçou seus joelhos, sentindo uma brisa gelada passar naquele vale. Observava de longe as movimentações quando sentiu seu celular vibrar no bolso. Pegou para checar o que era. Era Logan.
Logan - 19:08
Sinto sua falta.
Ela não podia negar que sentira um aperto em seu coração. Encarou a mensagem por minutos que pareceram horas. Ainda não estava pronta para dizer tudo o que queria dizer. Se preocupava com ele, era claro, mas não o queria. E, então, quando resolveu que não responderia, John se aproximou de sem que ela percebesse.
- Ei. – desligou a tela do celular ao ouvir a voz do rapaz e tratou de abrir um sorriso amarelo. – Tudo bem? Por que não está ali com a gente? – ele perguntou e sentou-se ao seu lado.
- Ah, nada. – passou a mecha de seu cabelo para trás da sua orelha. – Só precisava de um tempo aqui.
O rapaz a olhou por um tempo, como se pudesse adivinhar o que se passava na cabeça dela. Bom, de certa forma, ele podia. olhou para John e caiu em gargalhadas, o que fez ele soltar risos envergonhados, sem entender.
- O que foi?
- Eu nem reparei que você estava com o rosto pintado.
- Ah! – ele riu, sacudindo a cabeça. – É. Eu acho que elas queriam casar comigo.
- Como assim? – ela disse, entre risos.
- Bom... As mulheres só pintam homens quando elas têm interesse romântico neles.
Ao dizer isso, John fez com que risse mais ainda.
- É, meu amigo... acho que você terá que ficar aqui.
Ele riu. Ao longe, avistou duas meninas novas, com a mesma pintura facial.
- Está vendo aquelas duas adolescentes ali? – concordou com a cabeça e John prosseguiu. – Elas estão com o mesmo desenho no rosto. Significa que são melhores amigas. – ela sorriu, compreendendo o que o rapaz lhe disse.
Então, ela avistou um homem e uma mulher conversando, e eles tinham as mesmas figuras e formas desenhadas no corpo.
- E aqueles também são melhores amigos? – ela apontou, fazendo John olhar para a direção, soltando um riso abafado.
- Não, não... Eles são um casal. – ele olhou para ela, que retribuiu o olhar. – Aqui eles têm uma visão diferente do amor. Provavelmente, estão juntos desde muito novos. Eles sempre tem, em sua maioria, um único companheiro para a vida.
- Mas e se eles descobrirem que não é quem eles escolheram?
- Isso não acontece. Quando se escolhem, eles se dedicam um ao outro. É um comprometimento fora de série... É incrível.
assimilou o que ele dissera, mas não respondeu. Apenas desejou que as coisas, principalmente as relações, fossem fáceis assim. E John percebeu que ela estava quieta e pensativa. Era óbvio, para ele, que a separação fora melhor para ela. E também entendia que ela não estava desolada por causa de Logan. Mas ficarmos sem uma coisa, ou pessoa, que você estava acostumado há dez longos anos, não devia ser fácil.
- Você pode me mostrar onde vamos dormir? – ela perguntou, depois de um momento em silêncio.
- Claro.
Eles se levantaram e atravessaram a área onde ocorria a festa. Garret já se encontrava sem sua camiseta, com o corpo todo pintado, o que fez John rir da situação, do entrosamento dele com as pessoas da tribo e de sua animação. Quando chegaram em frente à uma grande barraca, os dois pararam de frente um ao outro e olharam para tudo, menos um ao outro. Ao longe, a enorme fogueira conseguia, fracamente, iluminar onde eles estavam. John, então, entrou na cabana, atrás de sua mochila. Ele queria limpar as pinturas de sua face, e ao mesmo tempo, não conseguia pensar em nada de bom para dizer a . Encontrou um pacote de lenços umedecidos, se sentou e tirou um para começar a se limpar. Neste momento, adentrou parte de seu corpo na cabana, chamando a atenção de um John com o rosto borrado e apreensivo. Ela não pôde segurar seu riso abafado, ao vê-lo daquela maneira, então ficou sobre seus joelhos, sentando-se neles, bem de frente à John.
- Deixa comigo.
pegou a caixinha de lenços e começou a ajudar a tirar a tinta do rosto de John. Ele não falou nada, apenas ficou olhando para ela. O que a incomodou um pouco.
- O que foi?
- Você sente falta do Logan?
Ela sentiu um arrepio na espinha ao ouvir aquela pergunta, e sentiu um pouco desgostosa em ver que ele estava interessado nesse assunto, apenas não havia tido o momento para perguntar. Ela respirou fundo. Era uma pergunta complicada.
- Por que quer saber?
- Não sei. – ele deu de ombros. – Não falamos muito sobre isso desde que nos encontramos... E depois do que rolou ontem, eu acho importante saber.
A garota abaixou os braços e olhou John nos olhos.
- Como assim?
- Eu não quero que a gente tenha algo para você voltar para ele depois.
- Então, você está condicionando o que pode rolar entre a gente?
- Não, . Mas eu não quero ser a ponte entre o que você quer experimentar e o que você realmente quer. – ele manteve-se sereno. – Tipo um escape.
Na cabeça de , ele não queria que aquilo fosse uma aventura, para ela descobrir, depois, que não suporta estar com outra pessoa a não ser Logan. E também era de seu entendimento que aquilo era a chance que John não teve na época da faculdade, e que ele também gostaria de ver no que ia dar. Ela respirou fundo, mais uma vez, e sorriu.
- Eu não posso prometer coisas, sabe? Eu estou em um momento em que eu não sei nem o que eu quero. Mas, agora, neste momento... Eu não preciso sentir falta de ninguém se o meu amigo, John O’Callaghan, está aqui comigo.
John colocou a mão no peito e encenou como se tivesse tido um ataque cardíaco, provocando risos entre eles.
- Amigo. – ele repetiu.
- Mas você é, não é?
Ele sorriu, contendo os risos, e a olhou profundamente.
- Como sempre fui. – ele tentou se aproximar dela, ainda sentado, e ela estremeceu ao sentir o quão próximos estavam.
Eles se olharam por um momento. Ambos queriam a mesma coisa, por mais que houvesse uma vozinha fina e quase imperceptível em suas cabeças dizendo que aquilo talvez não fosse uma boa ideia. Afinal, alguém acabará se machucando. Mas veremos isso mais adiante. O que importava, naquele minuto, era que John se sentia com vinte anos novamente. Sentia que a vida lhe dera aquele momento por um motivo, com a garota que ele sempre julgara certa para ele. não sabia bem como se sentir, mas havia algo em John que a provocava e a tirava do senso. Ela não se sentia aquela , certinha e seguidora da ética e da moral. E essa sensação era tão viciante... Uma sensação que ela já sentira com Logan, há bons anos atrás, mas que ela havia se esquecido de como era. Quando deram por si, estavam envolvidos em um beijo intenso e ardente, como jamais imaginaram que estariam um dia. John tentava envolver com seus braços e a trazia mais para perto de si, se fosse possível, ao tempo que ela puxava seus cabelos. Não aguentando mais aquela situação de não sentir por completo o que a garota podia oferecer, John foi deitando devagar no colchão em que eles estavam sentados dentro da barraca, enquanto passava sua mão esquerda pelo corpo dela e a beijava devagar. Resolveu explorar o território vagarosamente, até decidir colocá-la dentro da blusa da britânica, que se arrepiou ao sentir o calor da mão de John. Ela resolveu fazer o mesmo, mantendo o ritmo do beijo, enquanto subia a camiseta dele, até o ponto em que tiveram de separar os lábios para tirar a roupa.
estava nervosa sobre o que fazer. Apesar de tudo parecer automático, ela estava acostumada com certas coisas com Logan, obviamente. Mas era uma pessoa totalmente nova e ela se sentia como uma virgem. Mas era John, uma pessoa que ela supostamente deveria se sentir à vontade. E ele sabia que ela provavelmente estaria tendo essa confusão em sua cabeça, então queria fazê-la se sentir calma. Ele afastou um pouco, ao ponto em que poderia olhá-la nos olhos.
- Você está bem?
- Uhum. – ela respondeu, ofegante.
- Eu quero que se sinta bem. Não vai acontecer nada que não queira.
E neste momento, se sentiu grata por ele ter entendido suas preocupações e anseios, mesmo que ele não tenha falado muita coisa. Ela o puxou pela nuca, começando um beijo mais intenso e sincronizado do que antes. E desta maneira, ambos começaram a se despir, aguardando o momento em que sentiriam a excitação um do outro. John, sutilmente, colocou sua mão dentro da calcinha de , que sentiu seu corpo flutuar ao sentir o calor naquela região.
O que aconteceu naquela barraca, naquela noite, foi muito especial para ambos. John tinha medo mesmo de ser um estepe naquele momento da vida de , e ele simplesmente não queria se sentir daquela maneira. E mesmo que ela, de fato, não tenha feito promessas, ele gostava de pensar que ela realmente o queria, e muito. Mas eram tantas preocupações... O que aconteceria quando encerrasse suas férias e tivesse que voltar para a Inglaterra, ou John terminasse seu projeto e voltasse para o Canadá? Ficariam, novamente, oito anos sem se ver? Ela seguiria com sua vida, ou ele se apaixonaria por alguém? Pensar naquilo somente fez com que ele aproveitasse, mais intensamente, os vinte e dois dias seguintes, que seriam os últimos vinte e dois dias com , naquele país. E em um piscar de olhos...
Capítulo 4 - A Despedida
...Esses dias se passaram. John e jamais foram tão próximos quanto nos dias que se sucederam àquela noite da cabana. Era como se, para ele, fosse estar com alguém que ele podia conversar qualquer coisa; sobre medos, desejos... E para ela, estar com alguém que entendia suas frustações e anseios. Era como um casal perfeito.
Em um momento muito errado.
Quando chegou o último dia de no Sudão, o casal estava retornando de uma caminhada pelas avenidas principais de Khartoum. No caminho de volta, pararam no mesmo café em que saíram quando se encontraram, um mês atrás, e depois retornaram ao hostel. Eles não se lembravam que aquele dia seria o último juntos, mas estavam curtindo como se fosse. Se encontravam deitados na cama do quarto de John, sem suas roupas, ofegantes. estava deitada no peito magro de John, alisando seu corpo com a ponta dos dedos, enquanto ele mexia em seus cabelos. E, justamente por não se lembrarem (que era seu último dia juntos), John disse:
- Eu queria conhecer Cairo na próxima semana. A cultura egípcia é algo que sempre me chamou muito a atenção.
- Hum... Eu acho legal, também.
- Você poderia vir comigo. – ele a olhou pelos cantos dos olhos, quando ela levantou o olhar.
Um olhar de como se houvesse se lembrado.
- Ai, não, John... – ela se sentou na cama, fazendo com que ele fizesse o mesmo.
- O quê?
- Amanhã eu vou embora.
- Oh... – ele respondeu com um choque, ao se lembrar. Não era possível que ficaram tão anestesiados, todos esses dias, sem sequer falarem sobre isso. Ele se levantou, rapidamente, e começou a colocar suas roupas. – Bom, precisamos fazer alguma coisa.
- Como assim? – ela começou a fazer o mesmo.
- Não sei, precisamos ir jantar, e falar sobre quando vamos nos ver de novo, sobre o que você vai fazer em Londres.
Ela riu, achando graça e, ao mesmo tempo, amorosa sua atitude. E era o que ele queria. Ele não queria que aquele momento se esvaísse de suas mãos sem ao menos dar a ela uma memória para se recordar.
- John, relaxa. – ela disse, mas ele não parou, enquanto pegava seus objetos (como celular e carteira) e colocasse nos bolsos. – Não precisa.
- Mas, ... – ele, então, se virou para ela, ofegante. – Eu não sei quando vamos nos ver, nós nem conversamos sobre isso. Eu queria mesmo que sua última noite aqui fosse especial.
- John – ela se aproximou dele e colocou suas mãos no tórax do rapaz. – Foi especial. Todos os outros dias também. – ela desceu suas mãos até as dele e fez com o que o rapaz se sentasse junto com ela na beirada da cama. – Agora, sobre nos encontrarmos.
- Certo, hum... – ele desviou o olhar, pensativo. – Eu precisaria ir para a Inglaterra, eventualmente. Afinal, eu tenho família para visitar.
- E eu gostaria de conhecer o Canadá.
- Ótimo, já são duas oportunidades. – ele sorriu satisfeito.
- Sim. – ela fez o mesmo. – Só preciso ver quando terei outra folga no trabalho.
E neste momento, John inclinou a cabeça levemente para o lado, com uma expressão totalmente sem entender. Na cabeça dele, depois desse mês, depois de entender o quanto estava infeliz e o quanto queria fazer alguma coisa que ela realmente amasse, ela largaria o trabalho na revista para procurar o que ama. Não fazia sentido nenhum, para ele, ela continuar lá depois de, no máximo, três meses.
- Achei que você iria se demitir.
- Eu gostaria, John. – ela soltou as mãos do rapaz e cruzou os braços, um pouco defensiva. – Mas ser editora é o que eu sei fazer. Estar naquela revista é o que eu sei fazer. Eu não posso simplesmente largar.
- Claro que pode. Você odeia o seu trabalho.
- Sim, mas é o que eu tenho.
Ele revirou os olhos, um pouco impaciente, e se levantou da cama. Esfregou o rosto com as mãos, e tornou a olhar para .
- , por que você quer voltar para uma vida que você julga miserável e que, por mais que você tente, não consegue ser feliz com ela?
Sem entender o motivo, ela se sentiu ofendida. Ela soltou ar pela boca, impaciente, e não acreditava que estavam prestes a ter uma discussão por causa daquilo.
- Desculpa, John, mas não é todo mundo que consegue ser tão foda como “John O’Callaghan”, – ela fez aspas no ar ao dizer o nome dele. – que largou a faculdade e partiu para o Canadá, se aventurando pelo mundo e tendo uma vida incrivelmente perfeita, tá bem?
Neste momento, ele sentiu sua raiva subir, porque a última coisa que ele queria era passar a impressão de que fosse a pessoa mais incrível do mundo, apenas por seguir o seu coração. Ele era apenas um cara normal que tentou fazer o que achava certo.
- Não precisa me colocar em um pedestal, . Eu só fiz o que eu julguei certo. Ao contrário de você, que por mais que julgue errado estar em um emprego ruim, em um relacionamento ruim, não conseguiu se desfazer de nenhum deles.
- O quê? – respondeu, indignada. – Por que você trouxe Logan para isso?
- Porque é verdade. Você só conseguiu terminar com ele porque ele te traiu. Ou estou mentindo?
- Eu, sinceramente, não acredito que estamos tendo essa discussão porque eu não vou largar meu emprego. – pegou seu casaco que estava em cima da cômoda do quarto e fez o caminho para a porta. John respirou fundo, tentando se recompor.
- , por favor. – ao dizer isso, a garota parou na porta e se virou sem vontade alguma. – Não é porque você, simplesmente, não vai deixar seu emprego. É porque você está infeliz, e isso se exala de longe.
A garota sentiu seus olhos se encherem de água, porque no fundo, ela sabia que ele estava tentando alertá-la para algo que ele tinha mesmo razão. Mas ela não queria ver. Desistir era uma palavra que não cabia à ela, mesmo que fosse o certo a fazer. Ela passou as costas da mão no rosto, limpando a lágrima que desceu.
- Desculpa, John. – e ela sinceramente respondeu. – Eu gostaria de ser incrível como você.
Ela saiu do quarto, sem olhá-lo pela última vez. John se sentou novamente, na beirada da cama, e colocou as mãos no rosto, se sentindo um fracasso. Como ele conseguiu fazer um momento tão bom chegar naquela discussão inútil? Óbvio que ele estava tentando mostrar a ela que se preocupava mais do que Logan, que gostava muito dela para aceitar que ela fosse infeliz. Mas aquilo fora um desperdício. Ele se lembrava quando contou aos seus pais que largaria tudo para ir a outro lugar, estudar uma coisa que ele realmente gostava. Eles não ficaram satisfeitos, especialmente seu pai, mas ele era apenas um garoto de vinte anos, em uma idade perfeitamente compreensível em relação à essas confusões da vida. Ele não se colocara no lugar de . Na época, quando contara à amiga que largaria o curso para fazer outra coisa, ela o apoiou. Ela disse que se ele sentia aquilo no fundo de seu coração, então aquilo era o certo a fazer. E foi assim que ele gravou essas palavras em sua alma, porque ela lhe dissera isso antes. Hoje, oito anos depois, com vinte oito anos, formada, em um emprego relativamente estável, de fato era complicado largar tudo para começar do zero, sendo que ela sequer tinha ideia do que fazer depois. E John cobrá-la por isso era extremamente injusto e egoísta. Ele deitou seu corpo sobre a cama, respirou fundo e ficou encarando o teto. Talvez, ele quisesse retribuir o favor de anos atrás, e fizera isso da pior maneira possível. Ele fora estúpido e incompreensível. E foi quando ele se tocou que ele não era nada de para exigir uma coisa que não cabia a ela. Bom, eles eram amigos distantes de longa data, e tiveram um affair durante essas férias dela. Se nem seus pais, quando ele contara que desistiria da universidade, puderam fazê-lo mudar de ideia, porque isso era uma coisa que partira dele, por que ele acreditou que faria o mesmo? Talvez ele achasse que se ela provasse dessa felicidade que ele ofertava, ela viria que os anos de frustração foram anos perdidos. Mas, novamente, isso não cabia à ele.
Mas era para isso que John e estavam ali. Por força do destino, ou não, isso fez uma enorme diferença em suas vidas. Foi para isso que foi até lá. Para se conhecer, o que de fato aconteceu, mesmo que ela tenha percebido isso um tempo depois.
No dia seguinte, arrumou suas coisas rapidamente. Certificou-se, três vezes, que não havia esquecido nada. Foi quando decidiu que era hora de ir. Desceu um pouco mais cedo, pois estava na esperança de encontrar John e poder se redimir. Infelizmente, ao passar na recepção, encontrou Dut.
- Hey. Vim fazer o check-out. – ela disse, se aproximando com sua mochila e mala.
- Oh, claro, Srta. . – ele mexeu no computador por uns instantes e lhe deu um sorriso. – Espero que tenha gostado da sua estadia.
- Obrigada, Dut. – ela sorriu de volta. – Será, sem dúvidas, inesquecível. – ela ainda aparecia abatida, pela situação da noite anterior, e não sabia se ela estava ou não brigada com John. – Você sabe onde está John?
- Bom, ele saiu hoje cedo para resolver umas coisas com o Garrett. Disse que era urgente.
- Ah... – ela respondeu, completamente desanimada. Estava prestes a ir embora sem se despedir do amigo. – Bom, diga que eu mandei um tchau, e diga à ele que eu sinto muito.
- Está tudo bem?
- Sim. Bom, preciso ir. Obrigada.
E assim, ela pegou um táxi. Sua sorte, desta vez, é que conseguira um vôo direto do Sudão para a Inglaterra. Então, foi até o aeroporto. Neste meio tempo, John tentava, o mais rápido que conseguia, voltar do museu que tinha ido com Garrett para verificar uma informação que esqueceram de inserir durante a visita à tribo dos Dinkas. Por mais que fizera de tudo para chegar rápido, o trânsito atrapalhou bastante. Ao chegar no hostel, entrou em disparada pela recepção, com tempo apenas de cumprimentar Dut. Ele iria direto ao quarto de e dizer o quão estúpido ele era.
- Hey! – Dut respondeu de volta, lembrando-se imediatamente de passar o recado. – pediu para te dizer tchau, e que ela sente muito.
Na mesma hora, John parou no primeiro degrau e foi até o balcão.
- Ela já foi? – ele perguntou, nervoso. Não era possível que ele não conseguiria vê-la antes de ir embora.
- Sim, ela saiu tem uns vinte minutos. – ele respondeu.
Sem dizer mais nada, John fez o caminho de volta para o carro. Trombou com Garrett, que ficou confuso, mas nada disse. Ele não tinha tempo para explicar. E assim, entrou no carro e deu partida para o aeroporto.
- Clientes do vôo 8135, com destino à Londres. A aeronave encontra-se em solo. Por favor, passageiros das fileiras 1 à 19, permaneçam com seus documentos em mãos. Daremos prioridade aos clientes com...
O restante, não ouviu. Só sabia que era o seu vôo e que ela estava se sentindo extremamente mal em prosseguir. Se levantou, colocou sua mochila nas costas e pegou seus documentos da bolsa. Junto com outras pessoas, se posicionou na fila para entrar na sala de embarque.
- !
Ela achou ter escutado seu nome, ao longe. Deu uma olhada para trás, em busca de alguém, mas não havia nenhuma movimentação. Achou que pudesse estar delirando, então voltou a prestar atenção na fila. Deu um passo. E escutou novamente.
- !!!
Agora, ela tinha certeza. Era John. Quando olhou para trás, ele vinha correndo em direção à ela. Era exatamente como em uma cena de filme, que ela já imaginou certa vez, mas nunca achou que seria John a correr atrás dela. E ela respirou aliviada. Saiu da fila, indo em direção dele, diminuindo a distância entre os dois. E quando ele a alcançou, ela não teve tempo de dizer alguma coisa. John abraçou tão forte, que a garota quase se sentiu sufocada, mas não achou ruim. Ela também queria aquilo.
- Me desculpa, me desculpa, me desculpa. – ele disse, antes de voltar a olhá-la. – Deus, achei que você já tivesse ido.
- Me desculpa por não ter esperado, eu precisava vir. – ela respondeu. – Olha, eu...
- Shhh. – ele a silenciou com um selinho, e voltou a olhá-la, com as mãos em seus braços. – , me perdoa. Eu fui um escroto ontem, e quando parei para pensar... No dia que eu te contei que ia abandonar a universidade.. Você lembra do que me disse? – ela fez uma expressão sem entender, então ele continuou. – Você disse que estaria do meu lado, e que queria que eu fosse feliz. – ele sorriu, satisfeito. – Você foi super legal comigo e depois que você saiu do quarto ontem, eu parei para pensar no tanto que tinha sido egoísta e totalmente incompreensível com você. Então, eu retiro o que eu disse. É óbvio que eu quero que você seja feliz, mas você é dona da sua vida e você tem que fazer o que você achar melhor.
Ela sorriu, surpresa com essas afirmações. colocou a mão no pescoço do John.
- John, eu... Me desculpa. Eu sei que você tem razão...
- , sério. Eu não quero que você se sinta mal por as coisas que eu te disse. De verdade, eu fui muito estúpido. Escroto. Infeliz. Idiota. Baba...
- Ok, ok, entendi o seu ponto. – ela o interrompeu, os fazendo. – No momento, só estou feliz por ter conseguido essa oportunidade de ver você antes de ir.
Ele sorriu, também estava feliz por isso. John a segurou pela cintura e beijou , com vontade. Ele não gostava de fazer esse tipo de coisa em público, mas naquele momento, não importava. É aquele clichê: era como se estivessem somente os dois.
Ao terminarem, ele a olhou nos olhos. Colocou uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha e a acariciou no rosto.
- Me avisa quando chegar, ok?
Ela concordou com a cabeça e deu mais um abraço no rapaz. E, sem muito esforço e sentindo seu coração bater fortemente, ela voltou para entrar na sala de embarque.
entrou no avião, sentindo-se radiante. Seriam algumas horas de viagem. A imagem de John não saía da sua cabeça. Na verdade, ela tinha certeza que não sairia tão cedo.
Seu escritório não era mais o mesmo quando colocou os pés nele. Ela sentia uma energia diferente, como se faltasse alguma coisa. As pessoas, a cumprimentando enquanto ela fazia seu caminho para a sala... Ela não sentia mais que tinha que estar ali, como se fosse a única coisa certa a fazer. Ela contornou sua mesa e se sentou. E neste momento, soltou um riso abafado. Como se tivesse acabado de se tocar.
- Filho da mãe... – ela disse, baixo.
Quando Jane entrou animada em sua sala, soube exatamente o que fazer. Anunciou sua demissão. A amiga achou que ela estivesse brincando, mas desta vez, era mais sério do que nunca. xingou John por ele ter tido a razão desde o começo. E quando ela soltou aquelas palavras para Jane, ela se sentiu livre, como se um peso tivesse saído de seus ombros.
Obviamente, há mais neste cenário que seria interessante vermos. Ver , toda cheia de si, tendo certeza de quem ela era e indo atrás para resgatá-la de si mesma. Ver, em como ela disse à Logan que não podia continuar com ele, não por ele tê-la traído, mas porque o único sentimento que ela tinha por ele, era carinho. Ela não amava ele. E ela precisava descobrir quem era sem Logan.
O que ela iria fazer agora? Ela não sabia. Mas sabia que podia pegar o dinheiro da rescisão e fazer uma última viagem. Ela precisava ver a pessoa mais responsável pelos acontecimentos atuais de sua vida. Precisava esperar um mês para ir na data exata.
A data do lançamento do projeto de John.
sabia que era loucura. As únicas informações que ela tinha era que a apresentação seria no auditório da Universidade de Montreal, às 11h da manhã. Ela levava consigo apenas uma mochila, vestida em várias roupas de frio. Estava nervosa, afinal, não sabia o quão John acharia louco. Mas ela tinha tanto para falar... Havia preparado um texto em sua cabeça, e nem sabia se conseguiria dizer tudo. O mais importante era que ela queria mostrar que ela não teria conseguido se livrar da vida que levava se não fosse por ele.
Muitas pessoas estavam ali para assistir. Na entrada, um pequeno hall, com um mural com fotos de John e Garrett, inclusive da viagem. Ela conseguia sentir uma ponta de orgulho dos dois estarem prestes a lançar o que batalharam muito para conseguir. Alguns minutos depois, todos se direcionaram às suas cadeiras no auditório, e poucas pessoas permaneceram em pé, inclusive ela, no fundo do auditório. Ela conseguiu avistar John entrar no palco e se sentar em uma das cadeiras que havia ali no mesmo, ao lado do pódio com o microfone. Sentiu seu coração ir à boca ao vê-lo. Estava tão lindo... O cabelo penteado para trás, vestido formalmente. Não conseguia conter o sorriso por estar tão perto – e ao mesmo tempo, tão longe. Um homem subiu em seguida e foi até o microfone posicionado no pódio.
- Prezados, sejam bem vindos. Estamos aqui para prestigiar um excelente projeto, o qual eu tive o prazer de orientar, dos doutorandos John O’Callaghan e Garrett Nickelsen, de Geografia Urbana. – neste momentos, todos começaram a bater palmas, inclusive . – Por favor, recebem os autores do projeto fotográfico, Hello África: por trás do senso comum, John e Garrett. – mais aplausos, e assim, John e Garrett se dirigiram até o microfone.
- Olá. – John disse, envergonhado. tremia, especialmente depois de ouvir sua voz. – Bom, é incrivelmente ótimo ver uma coisa que Garrett e eu ficamos muito tempo planejando, depois, muito tempo fazendo, ficar finalmente pronto. Mas esse projeto não foi feito somente por nós. Muita gente fez parte, inclusive Richard, nosso orientador. Então, só tenho a agradecer a todos...
Neste momento, os olhos de John encontraram os de . Seu coração parou por uma fração de segundo e ele se perdeu completamente em seus pensamentos. Ele não sabia o que ela estava fazendo ali, ainda mais sem avisá-lo, e aquilo fora a coisa mais legal que acontecera no dia. estava mesmo ali – ele se certificou disso, depois de piscar várias vezes com força. E então, sem fazer som algum, disse um “olá”, timidamente. Afinal, ela estava se sentindo da mesma maneira que ele. Ele abriu um sorriso, aquele que ela ficava encantada, aquele sorriso torto, e respondeu “olá”, sem pronunciar. Após cair em si, pigarreou e tentou, rapidamente, retornar aos seus pensamentos. estava ali. Não, o projeto.
- Todos, que... É... Fizeram parte de alguma forma. Muito obrigado. – John se afastou um pouco do microfone, sinalizando para que Garrett tomasse seu lugar. Este último, confuso, o fez, completamente atrapalhado, pois não estava pronto para assumir o microfone naquele momento.
- Obrigado. Ahm... Bom, esse projeto foi idealizados há bons anos atrás, quando éramos apenas estudantes de graduação... – e assim, Garrett continuou seu monólogo por longos vinte minutos.
As pessoas aplaudiram, confusas, e se levantaram para voltarem ao hall de entrada, ao tempo em que as pessoas em cima do palco se organizavam para sair também.
Já no hall, olhava com atenção as fotos do mural de John e Garrett em vários países da África, até que ouviu algo que chamou sua atenção.
- John! – um senhor disse, indo apresentar o rapaz, que o cumprimentou, sem jeito. – Sem palavras para seu livro. Muito orgulho em ter sido seu professor.
- Ah, obrigado, Sr. Polanski... – John respondeu, dando tapinhas nas costas do senhor, até que encontrou , mais atrás, olhando a situação. – O senhor poderia me dar licença?
- Claro, meu jovem.
E a passos preguiçosos, os dois se aproximaram, sem acreditar que estavam ali. John colocou suas mãos nos bolsos, ao parar de frente para .
- Hey. – ele disse.
- Hey. – ela sorriu.
John retribuiu e, lentamente, tirou as mãos do bolso para abraçar a garota, em uma ação que fora completamente impulsiva.
- Meu Deus, eu não acredito que você está aqui.
Ela retribuiu o abraço, o mais forte que conseguia.
- Eu mesma não acredito. – ela disse, se distanciando do rapaz, ao mesmo tempo em que arrancara risos abafados do mesmo.
- Uau. – ele exclamou, sem tirar os olhos da garota. John ainda estava tendo dificuldades para acreditar que ela estava ali. E quando abriu a boca para falar alguma coisa, fora interrompido.
- John! – um senhor, com cabelos ralos e grisalhos, se aproximou do casal, indo em direção ao rapaz. John olhou para o homem, o qual ele reconheceu bem, e logo abriu o melhor o sorriso para cumprimentá-lo.
- Brandon, como vai? – ele disse, dando um tapinha amigável nas costas do homem, que retribuiu.
- Que espetacular esse seu projeto. – o tal Brandon, então, pareceu notar a presença de e se virou para ela. – E essa adorável senhorita, sua namorada?
Os dois se entreolharam rapidamente e tiveram a mesma reação: rir, debochadamente, e negar, consecutivamente.
- Não, não, ela é minha amiga de Londres, .
- Muito prazer em conhecê-la. – o homem estendeu a mão para cumprimentá-la e depois voltou a olhar para John. – Olha, acho que precisamos conversar sobre a divulgação do seu livro.
- Claro. Pode me dar um minuto? – o homem assentiu e John puxou para um lugar mais isolado. – Essas pessoas vão me prender aqui pelo resto da manhã.
- Ah, ok. Bom, acho que podemos nos encontrar mais tarde.
- Relaxa, eu só preciso de uma hora. Me encontra no café na frente da universidade?
concordou e fez seu caminho até ele. Ela ficou a próxima hora inteira pensando no que iria dizer para John, afinal, ele com certeza tinha muitas perguntas. Começou a se sentir uma idiota. Por que, afinal, ela estava ali? O que ela tinha de fato para dizer a ele? Parecia que ela tinha agido por impulso desde o momento em que se demitiu até o momento em que apareceu na frente de John, e só então a ficha havia caído, que talvez estivesse fazendo um papel de trouxa. Seu estômago começou a se revirar repetidamente, até que ela apoiou seus cotovelos sobre a mesa e tampou seu rosto com as mãos. John iria achar que ela era uma tonta por estar ali, e ela só queria ir embora. Mas quando resolveu pegar sua bolsa para ir, olhou na entrada e John já estava ali, procurando pela garota no café. Ela, lentamente, ergueu a mão para que ele visse, e quando ele a avistou, abriu um sorriso e fez o caminho até ela. queria vomitar, mas respirou fundo e decidiu continuar com o que tinha planejado.
- Finalmente. – ele disse, colocando sua pasta à tira-colo de lado e se ajustando no sofá em que se sentou. – Sério, eu achava que não iria sair de lá mais.
- Que bom que saiu. – ela disse, e se xingou por ter dito aquilo. Em sua cabeça, tudo o que ela estava fazendo, desde então, parecia ser de uma garota estúpida e ela estava odiando pensar aquilo dela mesma. – Seus pais vieram?
- Não, não. – ele acenou para a garçonete lhe trazer um café e voltou a olhar para . – Eles vão vir semana que vem para comemorarmos. Essa semana foi bem ruim para eles.
- Ah, sim. – a garçonete se aproximou e serviu café para os dois. evitava ao máximo olhar para John, que percebeu o desconforto da menina. Depois de ambos darem um gole no café e John abrir a boca para perguntar se ela estava bem, resolveu falar. – Me desculpa.
- Pelo o que? – ele arqueou uma sobrancelha, em dúvida.
- Por estar aqui sem te avisar. – ela disse, finalmente olhando para ele.
- Está brincando? Eu adorei que você veio. Foi a única amiga minha que veio me prestigiar em um dia importante.
- Sério? – ao ouvir aquilo, sentiu um alívio enorme.
- Sim. – ele deu um gole no café e prosseguiu. – Está tudo bem?
E agora, tinha duas opções. Fingir que o único motivo de ela estar ali, naquele momento, era para prestigiar John, ou dizer o texto que programou em sua cabeça no último mês. No final, tudo saiu improvisadamente.
- Eu saí do meu emprego. – ela disparou, fazendo John arregalar os olhos.
- Sério? – ele perguntou, sorridente. – Nossa, isso é uma surpresa.
- E o motivo de eu estar aqui foi este. – ela continuou, sem avaliar muito as palavras que saiam de sua boca.
- Como assim?
Ela respirou fundo. Não havia necessidade para o nervosismo que ela estava sentindo. Ali, na sua frente... Era John. Ela o olhou, em seus olhos, e prosseguiu.
- Quando eu cheguei no meu escritório, finalmente havia me caído a ficha que você estava certo sobre o que havia dito. Não sei, depois de tudo o que eu tive durante as minhas férias, eu não queria me prender novamente em um lugar que não me fazia feliz nem um pouco. – ela pausou para tomar um ar, e John ouvia atentamente. Maravilhado. – Foi tudo tão... Espontâneo, entende? Quando eu vi, eu já havia dito que queria demissão.
John a observou por uns segundos, atenciosamente.
- E como se sentiu?
De todas as palavras que procurou em seu cérebro, apenas uma fazia sentido em tudo o que ocorrera em sua vida nos últimos dias.
- Livre.
John sorriu satisfeito ao ouvir dizer isso. Tomou um gole de seu café, e tornou a olhá-la.
- Estou feliz por você. – ele arrastou suas mãos sobre a mesa até que foram de encontro com as dela, e as segurou.
- E eu, por você. – ela respondeu.
- E agora? O que vai fazer.
- Ah, ainda não sei bem. – ela soltou as mãos de John e voltou a segurar sua xícara de café. – Eu tenho um dinheiro que juntei durante os anos... Mais o que recebi pela demissão... Pensei em viajar.
- Eu acho que é a melhor ideia que você pode ter.
mordeu seu lábio inferior, em dúvida sobre o que dizer, mas resolveu arriscar. Porque, se ela não tivesse dito o que iria dizer agora, muita coisa não teria acontecido nos anos seguintes. Mas isso é uma outra história.
- Pensei que você pudesse ir comigo.
John ergueu as sobrancelhas, surpreso em ouvir o convite, e sorriu em seguida, extremamente feliz por aquilo.
- Sim! – ele respondeu, imediatamente. – Claro!
sorriu, feliz por ter recebido uma resposta positiva.
- Pensei que talvez podíamos ir até Moscow, sei que você não conhece lá. Apesar que tem muito lugar que eu quero conhecer e que você já conhece.
continuou falando sobre os planos que iam surgindo em sua cabeça, enquanto John concordava com tudo. Ele se sentia animado sobre aquilo, até que um pensamento surgiu em sua cabeça. E ele percebeu que não poderia fazer aquilo. Não com , a garota com a qual ele se importava e possuía sentimentos e queria estar junto, apesar de tudo, mas... Ah, sempre existe aquele mas...
- Não posso fazer isso. – ele disse baixo, fazendo com que interrompesse sua fala, confusa.
- Como?
Ele respirou fundo e olhou para a garota, desanimado.
- Não posso fazer isso com você, .
- Como assim? Por que não?
John começou a pensar nas palavras que poderia usar para explicar à o que ele pensou, sem que ela pensasse que ele não queria ir com ela. Mas ele sabia que estava certo. Então, a olhou nos olhos, honestamente.
- ... Você passou os últimos dez anos da sua vida com alguém que você não amava, e pelo menos os últimos cinco anos em um emprego que você odiava. E, agora, você finalmente tem a chance de ser quem você realmente é, por sua conta. Eu não posso atrapalhar isso.
- Mas John, eu quero que você vá.
- Eu sei, eu quero também. – ele voltou a segurar as mãos de por cima da mesa. E, então, John resolveu ser sincero sobre seus sentimentos com ela. – E você não sabe por quanto tempo eu queria ser a pessoa que você chegaria e convidasse para ficar dias viajando com você. Você não sabe o quanto eu esperei para ter o lugar que era do Logan, entende? Porque eu... Eu gosto de você. E é por isso que eu não posso deixar que você dependa de outra pessoa para se sentir completa. Eu preciso que você se sinta assim consigo mesma.
As coisas estavam confusas na cabeça de . Até porque, para ela, parecia que John estava procurando desculpas para não ter que ficar com ela. Sendo que, na cabeça dele, ele estava fazendo o que era certo, por mais que ele não quisesse. Porque, diversas vezes, ele se colocou no lugar de , e em outras vezes, lembrava de quando decidiu ir atrás do que ele gostava. Ele precisava de , mas precisava dela tendo certeza do que queria. Ele não queria ser, como ele já havia dito para ela, uma válvula de escape da vida real da garota, portanto, precisava que ela fosse até ele querendo estar, de verdade, com ele, e não porque ela se sentia diferente perto de um espírito tão aventureiro quanto John. E apesar de sentir seu coração pulando para fora do peito, precisava fazer aquilo. Era o certo. Era o certo. Era o certo... soltou as mãos de John e voltou a encostar-se no sofá.
- Só... Se permita sentir esse êxtase que vai ser. Confie em mim Tenho certeza que é para isso que você está aqui.
Ela sabia que ele, de certa forma, estava certo.
- Tudo bem. – ela respondeu, depois de certo tempo, um tanto seca. E, agora, ela se sentia exatamente como no começo. Após um período de silêncio, John resolveu falar.
- Mas nós podemos ter uma prévia, ok? Quando você vai voltar para Londres?
- Ahm... – ela deu de ombros. – Semana que vem, acredito. Preciso achar um hotel, inclusive.
- Está brincando, certo? Você vai ficar comigo.
- John, não... Não precisa se incomodar.
- Eu vou me sentir extremamente incomodado se você ficar em um hotel.
Relutante, concordou.
- O que nós temos para fazer aqui?
- Vou organizar um roteiro. Todo dia um lugar diferente.
O casal começou a conversar, normalmente, sobre o que fariam no Canadá. voltou a ficar animada por estar ali, apesar daquele leve incomodo do fora de John continuar em suas entranhas. Mas John estava empenhado para mostrar a o quanto ele a queria, com ele, pelo maior tempo possível. Por um momento, ele achou que diria que a amava, até parar para pensar que seria completamente estranho. Mas aquele era um sentimento que ele tinha certeza que tinha desde o momento em que a viu novamente, no Canadá. Era um sentimento que ele achava que tinha naquele mês que ficaram juntos na África. Era um sentimento que ele sabia que havia criado há oito ou nove anos atrás. Era difícil dizer quando eles se reencontrariam novamente, ou se estavam destinados a ficarem juntos, e eles sabiam disso. Então, aquela semana fora a melhor que eles se propuseram a fazer. Foi como se nunca tivessem ficado distantes, e a sensação fora incrível.
Mas, eventualmente, as coisas voltaram a ser como antes e, ao mesmo, estavam completamente diferentes. voltou para o Reino Unido e John permaneceu no Canadá, com a promessa de que se encontrariam dentro de um ano. viajou o máximo de lugares que pôde e ela, novamente, fingiu John. Porque, depois de alguns meses, ela agradeceu aos céus por ele não ter ido. Ela nunca imaginara que poderia sentir tudo aquilo que sentira, aquela sensação de liberdade, como se tivesse levantado um véu de uma parte de seu cérebro que distorcia como ela realmente poderia enxergar a vida, e aquilo fora transformador. Ela conseguiu empoderar-se e ver que a única pessoa que ela precisava era ela mesma, e John conseguiu ver isso antes mesmo que ela. Afinal, era amedrontador se encontrar em uma situação onde ela não precisava decidir com terceiros, porque cabia somente a ela, e foi ótimo, pois nunca teve a chance de poder fazer esse tipo de coisa. Não que em seu relacionamento com Logan ela não tivesse certa autonomia, mas com certeza era bem diferente de liberdade.
Esta não é uma história de amor. É apenas um breve conto sobre uma mulher infeliz que conseguiu redescobrir-se, e se apaixonar por si mesma. Há tanto o que contar sobre a vida, e os rumos que ela toma. Afinal, o que houve com Logan? e John realmente se encontraram depois? Enfim. A abstração que é possível tirarmos, é que nunca podemos lamentar os caminhos que fazemos, pois sempre há uma alternativa para redirecionarmos nossos objetivos. Mas saibam: nenhum objetivo é alcançado sem sacrifícios. Contudo, sempre somos premiados ao final de nossa jornada. Porque é assim a busca pela felicidade. É assim a busca pela nossa identidade. É para isso que viemos até aqui.
E você? O que tem feito?