Finalizada em: 11/01/2022

Capítulo Único

Cashing in my chips for forgiveness
Trading in my shame for perspective
Tired of being known for my sickness
It didn't work, I'm trying something different

observou com seus olhos semicerrados as partículas de pó sendo levadas pelo vento em direção ao oceano.
Por puro hábito, levou uma das mãos até o rosto, esperando enxugar uma lágrima. Contudo, se surpreendeu ao perceber que não havia lágrima nenhuma em sua face. Chorou tanto nas últimas semanas que já não tinha mais lágrimas para derramar; a fonte secara.
Cansada de sentir a maresia, ela virou as costas para o mar e começou a caminhar em direção a ponta da praia para se distrair. Arrastava os pés na areia, desanimada e sem muita motivação para andar.
A pequena caixa que carregava começou a irritá-la e tinha vontade de atirar o objeto na água com toda sua força e vê-lo afundar. Enfim, conseguiu controlar seus impulsos e não jogar a caixa, afinal, a família jamais a perdoaria por isso. Ademais, ela já teve sua cota de surtos recentemente.
Já cansada de andar, olhou ao redor buscando por algum lugar onde pudesse sentar em paz, longe de outras pessoas. Não queria ser vista, nem ver ninguém; ser ouvida ou ouvir ninguém. Quando a depressão vinha com tudo, como uma onda gelada e de correnteza forte, se desligava do mundo ao seu redor e só conseguia pensar em modo de sobrevivência, procurando desesperadamente por um lugar seguro onde pudesse ficar em silêncio com seus pensamentos.
Ela não gostava que as pessoas a vissem em momentos de tristeza, pois odiava toda a atenção que recebia. Os olhares de pena; as palavras de consolo vazias que não a faziam se sentir melhor; a sensação de que todas as pessoas estavam felizes, exceto ela. E pensar em chorar na frente de alguém era ainda pior.

apreciava a maresia que não sentia há tanto tempo. Tanto tempo que ele sentia que havia até esquecido como era a praia.
Agora o mar parecia muito maior do que antes. Ou talvez sua antiga visão de mundo é que tornava tudo pequeno. Ser capaz de sentir os grãozinhos de areia entre seus dedos do pé, ver as gaivotas e ouvir a buzina de um navio distante o faziam se sentir mais vivo do que nunca,e mais grato também.
De frente para o mar, com as mãos no bolso, seus pensamentos foram interrompidos de forma repentina. Sentiu um esbarrão em seu corpo e tirou sua atenção da água para olhar para o lado.
Uma garota mais baixa do que ele e com um olhar perdido estava ali.
- Sorry, dude! My bad. - A garota falou rapidamente enquanto passava os braços ao redor de uma caixa de metal, apertando-a contra o peito.
- It’s fine. - assentiu e deu um sorriso de lado.
A menina mantinha a cabeça baixa até então, mas ao ouvir a voz dele, ergueu seu rosto para olhá-lo. Sua expressão congelou por alguns segundos, antes de mudar para completo choque.
- May I help you? - questionou, espantado com a menina que a olhava com olhos semicerrados e boca aberta.
- Você… eu conheço você. Eu acho. - Ela dizia, meio confusa - Por acaso você é o ? Da ? Se não for, me desculpe.
- Sim, sou eu mesmo. - sorriu sem graça. - Mas faz muito tempo desde a última vez que alguém me reconheceu por conta da banda.
- Seria impossível eu não te reconhecer! Eu era muito fã da banda na adolescência e você era meu preferido. - sorriu e a acompanhou. - Caraca, suas músicas me acompanharam durante toda a adolescência.
- Que bom, fico feliz! É sempre bom ter meu trabalho reconhecido. - sorria de lado enquanto evitava fazer contato visual com sua fã de longa data.
- Como a vida é louca! Quando eu era adolescente, sempre sonhava em te encontrar por acaso, na fila de um Starbucks onde eu esbarraria em você por acidente, derrubaria seu café e ali começaria uma amizade. - arrancou uma risada de . - Mas isso só veio acontecer agora que já não sou mais sua fã.
assentiu e deu um sorriso amarelo.
- Quer dizer, não que eu não goste mais do seu trabalho. - Ela olhou para a areia clara e coçou a cabeça. - Eu só não sou tão fanática como era há uns anos, mas a gente cresce e muda, sabe como é…
riu com a tentativa de explicação. Levantou a mão num sinal para ela parar de falar.
- Tudo bem, sério! Não há problema nenhum em não ser mais minha fã. A maioria daqueles adolescentes já não nos acompanha mais. Nós sempre soubemos que nossa fama não seria eterna. Nosso público-alvo cresceria logo, então aproveitamos enquanto estava sendo bom. - Ele deu um suspiro pesado. - E quem é você? Não se apresentou até agora.
- Meu nome é .
- Muito prazer, . - Ele estendeu a mão para cumprimentar a garota, mas as mãos dela estavam ocupadas segurando uma caixa - Eu sou o , mas isso você já sabe.

Healing got me lookin' for freedom
Happiness it used to be fleeting
History was always repeating
Not anymore

- Você está sozinha aqui na praia? - cerrou as sobrancelhas, curioso.
- Sim. Na verdade, eu estou fazendo essa viagem sozinha.
- Essas são as melhores viagens. - Ele sorriu.
- Bom, foi muito bom te conhecer, . Muito legal, de verdade! Não vou ficar aqui te incomodando enquanto você quer curtir um dia de praia. Tchau, tchau.
se despediu e já estava pronta para virar as costas e seguir seu caminho, mas o guitarrista a chamou.
- Eu estou numa mesa naquele bar ali. - Ele apontou para um estabelecimento à beira mar - Você gostaria de conversar? Há muito tempo não encontro uma pessoa brasileira aqui. E as viagens solitárias são as melhores, mas isso não significa que eu queira ficar sozinho o tempo todo. - Ele deu um sorriso de lado. lembrava muito bem como aquele gesto a derretia toda vez que ela o via num programa de tv ou num videoclipe.
Sua versão adolescente faria qualquer coisa para ter uma chance de conversar com por alguns minutos, e além disso, ela estava sozinha ali. Não tinha ninguém com quem se preocupar, nenhum compromisso; tudo o que fora fazer na Califórnia já havia sido feito.
- Claro. Obrigada pelo convite. - Ela deu um sorriso tímido e ele a acompanhou.
Foram em silêncio até o bar e sentaram na mesa onde havia deixado seus pertences.
O rapaz tirou seus óculos de sol e fitou o mar atrás de .
- Olha só isso. - Ele disse calmamente e olhou para trás em busca do que ele observava. - Como eles têm coragem de chamar esse lugar de praia? Praia é o que temos no Brasil! Nenhum lugar do mundo se compara.
riu enquanto colocava seu óculos novamente.
- Eu ouvi tantas histórias sobre como Venice Beach era linda, uma das melhores paisagens litorâneas nos Estados Unidos e quando chego aqui, me deparo com essa areia sem graça, água sem graça, e até palmeiras sem graça. Até o Piscinão de Ramos é melhor que essa merda!
- Uma merda americana! Qualquer merda aqui é mais chique, só porque estamos na América do Norte.
gargalhou e a acompanhou, jogando a cabeça para trás.
- É sua primeira vez aqui na Califórnia? - Ele perguntou.
- Sim! Minha primeira vez fora do Brasil, na verdade. Você já esteve aqui antes?
- Nunca.
- E tem curtido bastante?
engoliu em seco.
- Não tanto quanto eu gostaria. É a primeira vez que venho até a praia, pois o único lugar que visitei antes foi a Phoenix House.
- Phoenix House? Onde é? Nunca ouvi falar.
- Sorte a sua. - deu um sorriso sem graça. - É uma clínica de reabilitação. A última turnê da não terminou como eu esperava…
abriu a boca para dizer algo, mas a interrompeu, antes que ela se sentisse constrangida por não saber o que dizer.
- E você, , está tirando férias aqui?
apertou os lábios e balançou a cabeça em negação.
- Eu vim para cá por motivos familiares.
- Entendo. - O silêncio reinou entre os dois por alguns segundos. ponderava se valia a pena falar sobre aquele assunto. Ela apertou com mais força a caixinha que permanecia em seu colo.
- Eu… eu vim pelo meu namorado. Ele morreu há alguns meses e eu quis trazer as cinzas dele para serem jogadas no mar.
não sabia o que dizer. Esperava ouvir qualquer razão para a viagem da garota, exceto aquilo.
- Poxa, … meus pêsames. Eu sinto muito, não deveria ter tocado nesse assunto.
- Tudo bem. Esse assunto não é nenhum bicho de sete cabeças. Agora eu estou um pouquinho melhor e consigo pensar nele sem chorar até perder o fôlego.
- Ele gostava muito de Venice Beach?
- Na verdade não. Ele nunca veio aqui.
parou e olhou para por um momento, tentando entender a história.
- Se me permite perguntar, por que você espalhou as cinzas dele num lugar onde ele nunca esteve?
- O maior sonho dele era conhecer a Califórnia, mas não teve tempo de realizar. Desde a adolescência ele falava sobre morar nos Estados Unidos com tanto brilho no olhar, ele era uma dessas pessoas que acreditava que aqui era um lugar super desenvolvido, perfeito. Eu nunca compartilhei desse sonho, mas enquanto ele estava vivo prometi que iria com ele para qualquer lugar do mundo onde ele estivesse. - sorria delicadamente sem nem ao menos perceber - Depois… prometi que iria realizar esse sonho para ele.
- E foi o que você fez. - disse com convicção, relaxado no encosto da cadeira.
- É, acho que sim. Não era como eu imaginava que ele conheceria a Califórnia, mas foi o que eu pude fazer. - deu de ombros e sorriu de lado.
- Se eu pudesse, jamais deixaria o Brasil. Não há lugar melhor para se viver, mesmo com todos os problemas. Mas sei que falar isso parece white people problems, afinal, sou homem, branco e rico. O que eu sei sobre os problemas do Brasil? - disse enquanto levantava a mão para chamar um dos atendentes do bar.
riu e concordou com o rapaz.
- Não, eu te entendo! Tem que ser muito alucinado para deixar o Brasil para trás. Eu não vejo a hora de voltar.
O garçom se aproximou e pediu uma água com gás para ele e empurrou o menu na direção de , que balançou as mãos em negação.
- Não quero nada, obrigada.
- Por favor, me acompanhe! Você é minha convidada.
O jovem funcionário do bar esperava em pé ao lado da mesa deles, impaciente para anotar os pedidos de uma vez.
- Eu estou bem, , sério.
estremeceu ao ouvir o antigo apelido saindo da boca da garota. A última vez que foi chamado por seu apelido da época da banda, foi quando a ainda estava na ativa, antes da última turnê e sua internação.

I'm California sober
It doesn't have to mean the growing part is over
No, it ain't black or white, it's all of the colors
That I only just discovered

- Two sparkling waters, please. - pediu para o garçom, mas olhava para enquanto falava. - Espero que goste de água com gás.
revirou os olhos, mas repentinamente suas lembranças transformaram sua expressão em pura melancolia.
Ela lembrava de quantas garrafas de água com gás ela compartilhara com o namorado, já que ele era a única outra pessoa que ela conhecia que também gostava da bebida. E ainda era a única pessoa com a qual ela dividia uma garrafa sem sentir nojo de encostar a boca no bico. “Já coloquei coisas piores na boca”, era o que ela sempre dizia quando ele questionava se ela não tinha nojo de beber na mesma garrafa que ele.
Sentindo a garganta secar, voltou seu olhar perdido para . No tempo em que ela se distraiu em silêncio entre suas lembranças nostálgicas, ele pegou um baseado e acendeu.
Ironicamente, aquilo também a fez lembrar do ex-namorado. Foi ele quem apresentou maconha à e quem tentava convencê-la a fumar mais. “Para acalmar essa sua ansiedade”, ele dizia.
Em poucos minutos, a fez pensar no ex muito mais do que poderia imaginar. cansou de ter suas memórias reviradas sozinha, e decidiu desviar a atenção de seus sentimentos fazendo falar.
- De qual vício você estava se tratando aqui? - Ela perguntou de maneira direta.
- Álcool, estimulantes… sabe como é né, os clichês. - Ele deu de ombros, simulando uma tranquilidade que não existia por trás de seu óculos de sol.
riu e balançou a cabeça. Apontando para a mão esquerda dele, ela perguntou:
- Certo, e vício em maconha não fazia parte do tratamento dessa rehab?
- I’m California sober, baby! - abriu os braços e falou de maneira meio enrolada, visto que o baseado estava preso entre seus lábios, o impedindo de pronunciar as palavras perfeitamente. - É assim que ficamos sóbrios por aqui. Nos livramos de tudo, menos da maconha. Ninguém é de ferro, né?!
- Se você diz. - debochou. - Eu posso…?
Ela balançou a cabeça e apontou para o baseado com o queixo.
- Claro! - se apressou em passar o cigarro para ela, que tragou com maestria.
- Não é a primeira vez que você fuma. - Ele disse em tom de afirmação.
- Eu já tinha uma vida antes de vir parar nessa praia. - deu mais uma tragada curta antes de devolver o beck para o rapaz. - Por quanto tempo você ficou internado?
- Um ano, entre idas e vindas. Agora eu saí de uma vez por todas, eu espero.
- E os outros caras da ? Estavam lá com você?
deu uma risada amarga ao ouvir aquela pergunta.
- Não, o único descontrolado que precisava de uma intervenção era eu. Cada um ali lidava com suas próprias merdas, mas eu perdi o controle. - refletiu sobre suas palavras e notou que seu tom era mais ácido do que pretendia e isso não era justo com seus amigos. - Veja bem, não me leve a mal. Eles me apoiaram durante todo o processo e realmente se preocupam comigo, como amigos de verdade fazem. Mas a reabilitação não é o lugar mais agradável do mundo para se estar. No fim, eu tive que exorcizar meus demônios sozinho.
- Sinto muito por isso. A última turnê da banda foi o que te trouxe aqui?
- Eu seria muito hipócrita se dissesse que sim. A tour realmente não foi o sucesso que esperávamos, com alguns cancelamentos e arenas com lugares vazios a perder de vista. Eu me droguei muito durante o fracasso dessa tour, mas se fosse um sucesso eu também teria usado para comemorar.
O baseado entre seus dedos já havia queimado cerca de 1/3. olhava a fumaça saindo aos poucos com certa admiração.
- Você acredita que achamos que aquela porcaria que fumamos no Brasil é maconha? Aqui é lixo radioativo prensado. Isso aqui é maconha de verdade!
- Eu gostaria de ter ido na turnê de despedida da , mas eu já não era mais fã, então não fui. - falou, involuntariamente ignorando .
- Pois é, você não era a única. Aparentemente muitos dos nossos fãs adolescentes cresceram e mudaram.
- É uma pena…
- Uma pena? Eu acho do caralho! Todo mundo muda, a própria banda mudou. Não poderíamos pedir que nossos fãs que começaram a nos acompanhar aos 11 anos continuassem a ouvir o mesmo tipo de música ou nos acompanhando com o mesmo fanatismo de sempre. Que bom que cresceram e amadureceram, eu fico feliz por eles.
- Bom, mas do meu ponto de vista eu posso afirmar que é uma pena que a gente envelheça e perca a diversão que é ser fã! Madrugar nas filas dos shows; viajar em caravanas com os amigos para ver vocês em outra cidade; conhecer amigos virtuais de fã clubes do Brasil inteiro; passar o show todo chacoalhando um cartaz esperando vocês notarem a gente por alguns segundos que seja. A maneira como nossos corações disparavam no momento em que os portões do estádio eram abertos e tínhamos que correr para conseguir pegar grade no show. Cara, que saudade disso tudo! Era tão bom quando minha maior preocupação era fazer mutirão de votação para vocês ganharem premiações. Todo jovem deveria ter essa experiência.
- Não acredito que você fez tudo isso! - riu animadamente - Era muito bom receber tanto carinho, mas sempre achei uma loucura fazer todo esse esforço por pessoas que não te conhecem.
- E fiz mais ainda! Por acaso você se lembra de uma caneca branca e preta, com o logotipo daquela marca de motos… qual é mesmo o nome? - fechou os olhos e estalava os dedos, tentando lembrar o nome da empresa. - HARLEY-DAVIDSON! Eu te dei de presente uma caneca da marca num meet and greet. Foi pouco tempo depois de você comprar sua primeira moto.
tinha uma expressão de quem havia acabado de fazer uma descoberta incrível.
- VOCÊ me deu aquela caneca? Não acredito! Quando? A gente ganhava tantos presentes dos fãs, impossível lembrar de todos.
- Foi em um meet and greet que vocês fizeram numa rádio. Era a primeira vez que eu iria conversar com você, então quis levar um presente para agradar e causar uma boa impressão. Minha mãe me achou louca por gastar dinheiro para presentear um cara rico que podia comprar tudo o que quisesse. - fez rir alto com o comentário.
- Eu adorava aquela caneca e a usei por muito tempo! Até que uma ex-namorada a derrubou e quebrou. - levantou os ombros, chateado. - Pô, valeu pelo presente. Pelo menos eu ainda tenho a minha moto Harley-Davidson que inspirou seu presente. Foi a primeira coisa legal que eu comprei com meu dinheiro.

Used to live in fear of always slipping
But living for perfection isn't living
I ran a little slower, now I'm tripping
A beautiful and magical beginning

- Você ainda a tem?
- A moto? Claro! Mas já não piloto há um tempo. - baixou levemente seu tom de voz, quase envergonhado em falar sobre aquilo em voz alta. - Eu a deixei guardada num galpão depois de sofrer um acidente.
- Sinto muito. Você se machucou muito?
- Um pouco. - Ele disse entre dentes enquanto desviou o olhar para o oceano calmo a sua frente. - Eu e a moto ficamos bem, mas machuquei gravemente uma pessoa; ela quase morreu.
- Você estava… - começou a falar, mas interrompeu sua frase antes de chegar ao fim, pois sentiu que estava indo longe demais.
- Sim, eu estava chapado. Tinha usado de tudo naquela noite e perdi o controle na avenida e subi na calçada. Eu tive alguns arranhões leves, acho que vaso ruim não quebra, né?! - riu sem graça. - O morador de rua que estava deitado ali não teve a mesma sorte. Depois disso, minha família e a banda decidiram que era hora de eu me tratar. Mas ele sobreviveu, não se preocupe. Minha família bancou todo o tratamento dele, pagou algumas cestas básicas para quitar minha dívida com a justiça e garantiu que ele fosse conduzido para um abrigo social depois de receber alta. And here I am! - Ele fez um gesto com a mão, apontando para si mesmo.
- Foi assim que ele morreu, sabe? O meu namorado. Num acidente de trânsito. Ele sempre dizia que dirigindo era a maneira como ele gostaria de partir, pois estaria fazendo algo que ama. Mas para quem morre é sempre mais fácil, né?! Difícil é para nós que ficamos aqui, pensando que não importa a forma como eles se foram; a dor ainda é a mesma.
- Eu queria ter papel e caneta aqui, . Parece que a história de vocês daria uma boa música.
- Mas uma música triste, né Dani?! Nada a ver com as músicas alegres e românticas da .
- Eu não penso mais na . Acredito que meu destino está na música, mas não num projeto tão grande. Foi uma experiência incrível, mas já foi o suficiente para uma vida inteira.
- Como fã, eu sempre achei que você era o membro da banda que lidava com a fama de maneira mais tranquila.
- Todos achavam isso. Talvez por isso eu consegui usar drogas por tanto tempo sem chamar a atenção de ninguém para o meu vício; todos me achavam “de boa”, mas nem imaginavam que eram as drogas que me deixavam assim. E quanto mais me parabenizavam por me adaptar à indústria pop, mais eu me sentia uma fraude e me afundava no vício.
O som da chama do isqueiro sendo acesa chamou a atenção de . acendeu seu baseado novamente e deu uma tragada forte, logo passando para a garota, sem ela precisar pedir. Ele soltou a fumaça de maneira longa e vagarosa.
- Eu escutava milhares de pessoas gritando meu nome; meus seguidores nas redes sociais só aumentavam a cada dia; adolescentes que ainda não sabiam nada da vida falavam com toda a convicção que eu havia salvado a vida deles com minha música e que fariam qualquer coisa por mim. Eu me sentia um deus! Aí no fim da noite, só existia eu e o silêncio do quarto de hotel numa cidade do outro lado do país onde eu não conhecia ninguém. E eu percebi que era impossível ser mais solitário do que isso.
- É, eu sinto algo parecido. Aquela solidão que faz todos ao meu redor dizerem “poxa, querida, isso é tão triste e um momento tão difícil, mas nós compartilhamos da sua dor e vamos passar por isso juntos” e blá blá blá. Mas isso simplesmente NÃO É verdade! Essa solidão é minha e ninguém pode vivê-la por mim. Não importa quantas pessoas eu tenha do meu lado agora, eu ainda me sinto sozinha. Eu tinha certeza de que duraria para sempre; até que não durou. - deixou as palavras saírem do fundo de seu peito tão rapidamente como uma avalanche.
piscou algumas vezes, atordoado com as informações e disfarçando sua expressão para não deixar transparecer a imensa compaixão que sentia por aquela garota. Ele sabia exatamente como ela se sentia. Se soubesse o esforço que ele fazia para não deixá-la pensar que sentia pena, ela agradeceria profundamente, pois a pena era um dos sentimentos que ela mais abominava no mundo.

Trading judgment for freedom
Found something new to believe in
Something inside of me screaming
Don't be so hard on yourself
Look up, something has shifted
My heavy spirit is lifted
I found myself

- Melhora com o tempo. - disse num tom despreocupado.
- O quê?
- Essa coisa toda de morte. Eu já perdi pessoas também e fica mais fácil de lidar com o tempo, você só precisa ter paciência e essa é a parte mais difícil.
- Pois é, todo mundo diz isso. - riu sem graça - “O tempo cura tudo”. Mas quando nós mais precisamos da ajuda do tempo, cada dia parece durar 1.000 horas e não mais 24.
sorriu de lado e deu uma forte tragada no baseado, que se findaria em pouco tempo. Esticou a mão, passando-a para .
- Bom, vejamos pelo lado positivo: se seus dias parecem durar mil horas, então nós temos, deixe-me ver… - Ele fingiu olhar para seu relógio de pulso - Mais ou menos 997 horas para conversar ainda.
Os dois sorriram abertamente e decidiram ficar ali e tentar ser felizes, só por mais um dia.




Fim!



Nota da autora: Oie, gente! Obrigada por ter lido minha história, espero que tenha gostado. Me deixe saber o que você achou aqui nos comentários! E se quiser conhecer mais do meu trabalho, me sigam no Insta @autoraluanac <3





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