— ? — Shoto chamou da porta, fechando-a atrás de si. A falta de resposta e sua ausência da sala de estar lhe disseram que ela devia estar se escondendo, então ele foi procurá-la. Ainda era estranho pensar que era uma mulher morando com ele, não um bichinho, e, desde que ele tinha descoberto alguns dias antes, as coisas estavam um pouco… bom, estranhas entre eles. Ela o estava evitando e ele sabia.
Sendo honesto, Shoto não a culpava. Ele também estava bem envergonhado, agora que a verdade tinha vindo à tona. Suas interações sempre tinham ultrapassado todos os limites do que era apropriado para duas pessoas que não tinham um relacionamento, e, enquanto ele podia alegar inocência, ele nunca o tinha parado. Tinha ativamente iniciado vários desses momentos. E isso sem mencionar coisas que ele não tinha entendido de verdade ainda, como quando Mirei tinha vindo ao apartamento com ele e tinha agido tão estranho — ciúmes, seus amigos tinham dito, muitos bichos de estimação fazem isso. Bem, ela não era um animal, então por que tinha feito isso? Não podia ser ciúmes, não fazia sentido nenhum.
Então nos últimos dias, ele não a tinha visto. Shoto ainda estava deixando comida e sabia que ela estava comendo porque, quando chegava do trabalho, não havia mais nada. Hoje não era exceção, mas ele precisava falar com . O homem continuou procurando, abrindo armários onde ela costumava se esconder, olhando embaixo dos móveis, mas acabou só suspirando derrotado, em pé no meio do quarto.
— Aparece por favor, preciso falar com você. — A mulher seguiu sem aparecer, mas Shoto viu movimento embaixo das cobertas, algo quase imperceptível. Com cuidado, levantou o cobertor e achou enrolada em uma bolinha de pelos laranjas. — Não tava escondida então — murmurou para si mesmo, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios. Sem pensar, acariciou as costas dela, fazendo com que se esticasse devagar, um ronronar baixinho preenchendo o ar. — Bom dia, dorminhoca.
piscou devagar, se espreguiçando e se inclinando na direção do seu toque até que ambos pareceram perceber o que estavam fazendo. Shoto travou por um instante, corando e afastando a mão, e ela desviou o olhar.
— Desculpa. Hm, eu queria conversar. — Ela o fuzilou com o olhar por um momento e ele balançou a cabeça. — Tenho algo pra você. Pra não precisar do Koda pra se comunicar até a gente descobrir como te trazer de volta. — Aquilo chamou sua atenção. Suas orelhas se levantaram e o rabo foi de um lado para o outro conforme ela se sentou e miou. — Vem comigo. — Shoto a guiou para a sala, onde começou a tirar da caixa as peças que Yaoyorozu tinha mandado. Posicionou os botões no chão e ligou na tomada. — Esses são atalhos. Palavras mais comuns pra respostas rápidas, eu comprei na internet.
Ela os estudou por um instante antes de apertar um deles:
— Obrigada — a voz robótica encheu o ar. As palavras associadas a cada botão estavam impressas no topo deles.
— E isso é pra coisas mais complexas. Pedi pra Yaoyorozu fazer. — Desta vez, ele pegou um teclado de verdade, mas grande o bastante para que as patas dela não pressionassem mais de uma tecla por vez. Ele o conectou ao computador, então correu uma mão pelo cabelo, acanhado sob o olhar curioso. — Assim você também pode interagir com outras pessoas. Falei com o detetive responsável pelo seu caso pra explicar a situação e perguntar se tinha alguém da sua vida com quem desse pra entrar em contato. Eles acharam uma tal de Aimi, que…
— Amigo. — Ela caminhou de um lado para o outro, rabo mostrando sua ansiedade.
— Eu sei. Eu… eu fui atrás dela. Ela disse que faz anos que vocês não se falam. Espero que esteja tudo bem, eu peguei o email dela. — Suas bochechas tinham assumido um tom levemente avermelhado e ele não estava exatamente encontrando o olhar dela.
congelou. Aimi ainda queria falar com ela depois de todo esse tempo?
— Mesmo?
— Não expliquei todos os detalhes, não sabia o quanto você ia querer contar. Só falei que não podia se encontrar pessoalmente por enquanto. Ela disse que era uma surpresa, mas ofereceu o email bem rápido. Sei que não sou o melhor em ler as pessoas, mas ela pareceu feliz de retomar contato com você. — O rapaz não estava tão certo se a informação seria bem recebida, mesmo que tivesse a melhor das intenções. Esfregou a nuca. — Desculpa se me meti onde não devia. É só que não parecia justo você só poder interagir comigo e com as minhas visitas.
— Obrigada. Obrigada. Feliz. — Shoto deu um suspiro de alívio.
— Não precisa me agradecer. É o mínimo que eu podia fazer. Também vou te ajudar a se estabilizar. Quer dizer, quando a gente descobrir como te trazer de volta.
— Obrigada — insistiu, apertando o botão mais uma vez quando ele abriu a boca para discordar. Ele só desistiu, encarando-a de volta.
— De nada.
— Desculpa — adicionou então.
— Pelo quê?
A mulher pulou na mesa, analisando o teclado e suas patas por alguns instantes antes de começar a digitar, tímida. Ele aguardou pacientemente que ela terminasse antes de ler a mensagem na tela.
Tudo. Você salvou a minha vida, me trouxe pra sua casa, cuidou de mim, e tudo o que eu fiz foi te trazer problemas. De novo e de novo. E mesmo assim você continua a fazer coisas por mim, continua ajudando, e por todo esse tempo eu nem tinha como te agradecer. Sem contar o período que você nem sabia que eu era humana. Eu realmente sinto muito. E nunca vou conseguir te agradecer o suficiente, mesmo que tente pelo resto da minha vida.
E de algum jeito, mesmo com tudo isso, você continua cuidando de mim e acabou de prometer me ajudar a recuperar a minha vida, me ajudar a sair dessa situação fodida, sem ganhar nada por isso.
— Não preciso ganhar nada pra querer te ajudar. E não precisa me agradecer tanto.
voltou para o teclado para responder, o que era devagar mas infinitamente melhor do que não ter essa habilidade.
Tenho sim. Será que não percebe o quanto está fazendo por uma completa estranha?
— Eu não diria que você é uma estranha a essa altura. Já tem quase nove meses que você mora comigo. — Ela o encarou.
Você nem sabia que eu era uma pessoa. Essa é a primeira conversa de verdade que a gente tem.
— Você se fez entender muito bem sem voz. — Deu de ombros. — E me ouviu falar mais do que a maioria das pessoas. Claro que tem muito que eu ainda não sei sobre você, mas não diria que é uma estranha.
Ela se segurou para não dizer que ele podia até não ser um estranho para ela, mas ela era uma estranha para ele. Uma estranha que estava apaixonada por ele, e tinha ultrapassado vários limites enquanto ele vivia em ignorância.
— Depois de dividir meu apartamento e minha cama com você por tanto tempo, e a quantidade de vezes que lidamos com os pesadelos um do outro, não consigo te ver como uma desconhecida. Não importa o que diga. — Contra argumentou antes que ela pensasse em outra justificativa. E odiava admitir, mas o herói tinha um bom ponto. — No mínimo, você é uma amiga em circunstâncias estranhas.
Estranhas definitivamente é a palavra certa.
Shoto lhe ofereceu um sorriso divertido antes de apontar para a cozinha.
— Vamos jantar?
Não foi como se por milagre o clima esquisito entre eles fosse embora, mas ambos sentiram que o pior daquela fase havia passado conforme caíam de volta na rotina que tinham criado.


❄️

As semanas que se seguiram foram estranhas. Nem Shoto nem sabiam muito bem como agir nessa nova dinâmica. Por um lado, estavam conversando praticamente a qualquer momento em que ele não estivesse no trabalho — ele insistiu em conhecê-la melhor, para que parasse de se considerar uma estranha, e, agora que ela conseguia responder, era como se estivessem tentando recuperar o tempo perdido —, mas, por outro lado, frequentemente esqueciam e caíam nos antigos hábitos. Ainda dividiam a cama de Shoto, e, mesmo que deitassem longe, sempre conseguiam acordar nos braços um do outro. Ele ainda esquecia que não devia ficar andando pela casa sem camisa, embora não se incomodasse nem um pouco. Ela esquecia que ele sabia que ela era humana nos momentos de quietude, como de manhã cedo e tarde da noite; esfregava sua cabeça na perna ou no braço dele e ronronar quando ele — também esquecendo por alguns segundos — acariciava suas costas ou atrás da sua orelha. A mulher também estava bem mais ansiosa, tremendo sua reação se descobrisse os verdadeiros sentimentos dela. Tudo isso significava que eles passavam muito tempo envergonhados e constrangidos, apesar dos esforços.
A personalidade dela pareceu surpreender Shoto. Ela não ficava tão insegura com seu jeito de falar, de xingar, de expressar o que pensava para ele, os últimos meses fazendo-a confiar nele mais do que na maioria das pessoas que tinha conhecido por muito mais tempo. Também ajudava que ele sempre parecia achar divertido ou impressionante, e claro, nunca a desencorajava.
Ele também tinha avisado as pessoas que ela tinha conhecido. Rei e Fuyumi tinham visitado e sido extremamente gentis. Alguns dos amigos de Shoto também tinham mandado emails pedindo desculpas por qualquer coisa que eles pudessem ter feito que a deixou desconfortável. Ela respondeu a todos agradecendo a paciência e compreensão, e lhes garantindo que estava tudo bem.
Também estava trocando emails com Aimi. contou a história toda e pediu mil desculpas pelo que havia acontecido anos antes, enfatizando o quanto estava feliz de ter essa chance de retomar contato. A outra mulher respondeu que só estava feliz de vê-la livre “daquele babaca”, e elas voltaram ao ritmo que tinham antes de se afastarem. Também contou sobre Shoto, sobre seus sentimentos, sobre como ele queria ajudá-la a reconstruir sua vida. Aimi adorou, imediatamente começando a ajudar com os planos para quando fosse humana novamente. Lhe conseguiu um emprego na mesma confeitaria onde estava trabalhando, um que esperaria por ela, e a convidou para morar com ela quando se transformasse de volta.
também tinha começado a fazer terapia. Shoto tinha mencionado o próprio tratamento um dia quando estavam falando sobre família, e a ideia de que talvez ela quisesse ajuda profissional para lidar com o que tinha acontecido lhe ocorreu. A princípio ela hesitou um pouco, pensando nas dificuldades que sua falta de voz trariam e não querendo que ele fizesse mais uma coisa por ela, mas acabou aceitando. Ele a ajudou a encontrar um terapeuta de quem gostasse e explicou a situação, então ela começou a ter sessões duas vezes na semana enquanto o herói estava no trabalho.
Naquela noite, Shoto tinha um evento ao qual não podia faltar. Ele a tinha lembrado de manhã antes de sair para trabalhar, avisando que viria um pouco mais cedo para se trocar e que Kirishima viria com junto. Ela ouviu os homens no corredor antes da chave estar na porta.
— Hey .
— Olá.
— Oi . Prazer te conhecer de novo. — O ruivo vestia um smoking, o que lhe disse que o que quer que fosse esse evento era chique.
Ela pulou na mesa do computador, digitando enquanto eles tiravam os sapatos.
— Não se preocupe. Não tinha como nenhum de vocês saber. — Shoto e ela tinham encontrado um software para ler as mensagens em voz alta, os libertando de precisar ficar perto da tela o tempo todo.
— Isso é irado. Deve ser bem mais fácil se comunicar agora.
— Sim.
— Eu vou me trocar, pode colocar o jantar pra ela? — disse Shoto da porta do quarto.
— Claro. Bakugo mandou comida pra você como pedido de desculpas por… bom, pelo comportamento normal dele — explicou, indo até a cozinha para pegar um prato e esquentar a comida.
Ela achou engraçado.
— Obrigada.
— Sabe, esse troço com o teclado e os botões parece maneiro, mas é só temporário, né?
— Sim. É só que ainda não descobrimos um jeito de me transformar em humana.
Ele parou por um segundo, parecendo refletir sobre o que ela disse. Franziu o cenho, e então sua expressão se abriu, animada.
— Ei, mano?
— Que foi? — Shoto respondeu através da porta.
— Você falou dessa história com o Aizawa-sensei?
— Não falei. Por quê? — Voltou para a sala ainda fechando os botões da camisa. só observou os dois, curiosa.
— Porque eu tenho quase certeza que a Eri-chan pode ajudar.
— Eri?
— Não tinha pensado nisso. — Ele se virou para a mulher e nossa, como ele ficava bonito assim todo arrumado. — A Individualidade da Eri faz as coisas retrocederem. Conhecemos ela desde o nosso primeiro ano na UA, ela treina pra ajudar e curar as pessoas desde aquela época. Ela é nova, mas muito poderosa, e não tinha nem passado pela minha cabeça pedir a ajuda dela.
— Ela conseguiria me trazer de volta? — perguntou hesitante, sem querer criar expectativas.
— Provavelmente. Eri-chan fez coisas bem impressionantes com muito menos treinamento do que ela tem hoje. A sua situação deve ser simples pra ela.
A mulher poderia chorar. Havia uma chance real de ela voltar a ser humana? Ela ia mesmo poder ter uma vida?
— Acha que Aizawa ia se importar?
— Duvido. Você devia perguntar. Mas talvez demore um tempinho pra conseguirem se encontrar com a Eri-chan, o Mirio levou ela pros Estados Unidos. Eles embarcaram acho que ontem, devem voltar em algumas semanas.
— Por favor. Por favor. — Seus olhos encontraram os de Shoto, implorando.
— Vou ligar pra ele a caminho do evento. Tudo bem se precisar esperar?
— Já esperei meses sem nem uma chance. — Ele assentiu.
— Vamos te devolver sua vida, . Logo. — Lá estava aquele fogo no seu olhar de novo, um que estava aparecendo com mais frequência a cada dia. A deixava com borboletas no estômago.
— Obrigada. Obrigada.
Ela viu Shoto começar a erguer a mão na direção dela, provavelmente para fazer carinho, mas ele se parou rápido. Assentiu de novo, desviando o olhar, e se afastou. pegou Kirishima observando os dois com um sorrisinho, e teria corado se fosse possível.
Mas a única coisa que ele disse foi:
— Vamos?
— Vamos. Eu vou voltar tarde, tá? Nào precisa esperar acordada. — Ele não encontrou os olhos ao dizer isso, só erguendo os dele quando chegou à porta.
— Boa noite. Tchau.


🐈

Duas semanas depois

— Ok, agora eu oficialmente acabei por hoje. Kirishima disse que a Eri já tá esperando a gente. Tá pronta?
Shoto entrou de volta no escritório secando o cabelo com uma toalha. Tinha levado para a agência com ele, para que pudessem encontrar Eri assim que seu turno acabasse. A mulher tinha basicamente passado a manhã dormindo no escritório, encolhida na grande cadeira que cheirava como ele, e tentando não se preocupar com o perigo que ele corria. A experiência de ir até lá tinha sido curiosa para dizer o mínimo, já que o herói parecia ter contado a seus colegas de trabalho sobre a situação, e todos a cumprimentaram normalmente, como uma pessoa.
bocejou e se espreguiçou, pegando o sorriso de Shoto para ela. Então assentiu, pulando na mesa para chegar mais perto.
— Bom. O Bakugo e o Kirishima vão encontrar a gente lá, a Eri quer ver eles. — Fez uma pausa. — Se tudo bem por você.
Ela soltou o miado curto que eles haviam combinado como sim. Tinha aprendido a não se importar tanto com o jeito do herói explosivo, especialmente porque ele se esforçava para manter a voz um pouco mais baixa perto dela. Ele parecia uma pessoa carinhosa apesar de tudo, pelo que tinha observado. Já Kirishima sempre tinha sido um querido. E ela não podia exatamente reclamar, tinha sido ideia dele levá-la até Eri, a melhor chance de trazê-la de volta.
Saíram então, com aconchegada na mochila que Shoto tinha arranjado para levá-la com ele na moto, e chegaram à casa de Aizawa quase ao mesmo tempo que os outros, que estavam com Midoriya.
— Oi Todoroki-kun! Oi -san.
— Miau — Shoto a olhou por um segundo, mas ela gostava do rapaz de cabelos verdes, então assentiu.
— Oi Midoriya. Não sabia que você vinha.
— O Kacchan mencionou que eles vinham ver a Eri-chan, e eu meio que Devonian visita pra ela. Espero que não tenha problema.
— não parece ligar que você tá aqui.
— Larga de enrolar, Deku. A pirralha tá esperando a gente. — Kirishima só revirou os olhos para aquelas palavras, passando por eles para tocar a campainha. Aizawa abriu a porta no momento em que Shoto pegava a bolsa de roupas que Aimi tinha mandado.
— A Eri tá esperando vocês. — O herói mais velho parecia exausto e nem piscou quando seu olhar encontrou o gato. — Eu juro que vocês garotos-problema ainda conseguem me surpreender com as merdas em que se metem.
— Bom te ver também, Aizawa-sensei. — Ele acenou sobre o ombro, dando meia volta e entrando na casa sem esperar por eles.
O grupo o seguiu e encontraram uma menina de cabelos brancos que tinha certeza que ainda era criança.
— Oi gente! — disse animada.
— Eri-chan! Você tá enorme! — Kirishima a levantou em um abraço de urso, girando a garota. Midoriya a cumprimentou com a mesma animação.
— E aí, pirralha.
— E aí, gremlin. Quando vai me ensinar receitas novas? — Para a surpresa de , ela deu um soco de brincadeira no braço de Bakugo, respondendo no mesmo tom que ele lhe dirigia.
— Vou ver quando é meu próximo sábado livre. Mas não vou ensinar mais nada até você parar de cagar o que já aprendeu.
Em vez de responder, a menina revirou os olhos e se virou para Shoto.
— Oi Todoroki-san.
— Oi Eri. Obrigado por aceitar fazer isso.
— Claro que eu vou ajudar. É pra isso que eu treino. — Se ajoelhou no chão para ficar mais próxima da altura de , os olhos vermelhos estudando a gata. — Prazer conhecer você, -san. Obrigada por confiar em mim.
No lugar de uma resposta, lançou um olhar incerto para Shoto. Eles tinham mencionado que Eri era nova, mas não tão nova. A voz de Aizawa soou da cozinha, surpreendendo a mulher:
— Eri pode ser jovem, mas é bem mais responsável do que qualquer um desses moleques quando conheci eles. Ela também passou os últimos 7 anos treinando muito. Sabe o que tá fazendo.
Hesitou mais um momento antes de dar alguns passos à frente e esfregar sua cabeça contra a perna da jovem. Isso lhe arrancou uma pequena risada.
— Ok, vamos fazer isso. — Ela olhou para o herói meio a meio. — Trouxe o que eu pedi?
Ele assentiu, lhe entregando a bolsa.
— Ah, hm. A escreveu um negócio pra você. Tá aí dentro.
— Vem comigo — chamou, e a seguiu para dentro de um quarto, olhando Shoto uma última vez nesse corpo antes de a porta se fechar. — Todoroki-san mencionou que você tava machucada quando foi transformada em gato, então vou tentar te retroceder pra alguns dias antes, ok? — Respirou fundo e assentiu.
Eri então colocou as roupas no chão perto dela e parou para ler o bilhete. quis explicar um pouco da sua história, se desculpar pelo trabalho e agradecer por ajudar uma completa desconhecida. Agora queria que Shoto tivesse dito o quão nova Eri era, porque algumas das coisas que tinha dito talvez fossem um pouco pesadas para uma pré-adolescente, mas a garota não pareceu impressionada com a história. Quando seus olhos encontraram a mulher novamente, pareciam muito, muito mais velhos.
— Sinto muito pelo que você deve ter passado. E não precisa agradecer. Eu já fui a completa estranha sendo salva de uma situação péssima e perigosa, sabe. — Deu um sorriso triste. — Deku-san e Kirishima-san estavam na equipe que me resgatou. Quase morreram por mim. O mínimo que eu posso fazer é usar o meu poder pra ajudar os outros também.
esfregou a cabeça contra sua perna, reconhecendo as cicatrizes que a menina carregaria pelo resto dos seus dias, independente de quanto tempo passasse ou quanto sua vida mudasse.
— Vou fazer o processo ser o menos doloroso o possível, ma pode ser que sinta a dor dos machucados que você tinha no começo. Aí a gente vai achar alguma coisa mais quente pra você vestir antes de ir embora com o Todoroki-san.
Ela queria agradecer Eri, mas só conseguiu um miado curto. A garota se sentou à sua frente no chão e levantou uma das mãos na sua direção. O pequeno chifre na sua testa começou a brilhar, mas a princípio nada aconteceu. Vários segundos se passaram e sua garganta se fechou com o pânico de que não ia funcionar e ela ia ficar presa assim pelo resto da vida. Claro, ela tinha aceitado essa possibilidade, mas agora que tinha se permitido ter esperanças, doía o dobro pensar que nunca iria viver de verdade. Então, dor emanou de seu pulso por um instante, seguida pelos lugares onde Kaito tinha lhe batido, e ela se sentiu crescendo e mudando conforme a dor se dissipou. Não deviam ter passado mais que alguns minutos, mas o chifre de Eri parou de brilhar e estava ofegando, deitada nua no chão e tremendo, o tapete áspero contra sua pele. Pele, não pelo. Lágrimas escorreram antes mesmo que ela tivesse processado por completo que era humana de novo, uma risada de alívio escapando da garganta.
— Bem-vinda de volta, -san — disse suavemente.
Ela conseguiu se sentar, embora o movimento lhe parecesse muito estranho depois de tanto tempo em outro corpo.
— O-obrigada — gaguejou, reencontrando sua voz. Eri só sorriu, lhe ajudou a se vestir e ofereceu a mão para ajudá-la a levantar. Demorou alguns segundos até suas pernas parecerem estáveis — só duas! Não havia pelo a cobrindo e seus sentidos estavam mais fracos. Era tudo tão estranho.
— Quer que eu traga um pouco de água? — Balançou a cabeça.
— Eu… — falar tinha feito tanta falta que o som de sua própria voz só a fazia chorar mais. — Eu quero andar.
— Tudo bem. Vem comigo.
Eri a guiou para fora do quarto em direção à cozinha, mas os heróis não estavam por lá. Na verdade, tinha até se esquecido da presença deles por algum tempo, o bastante para, ao ouvir risadas e um grito, ela não percebeu serem Kirishima e Bakugo. Por meio segundo, a dor fantasma do pulso quebrado ainda ecoando no seu corpo a fez reagir instintivamente e, em pânico, fugir porta afora. Não olhou para trás para ver se Eri a seguia, não parou para colocar sapatos, só correu para o mais longe que conseguia de qualquer homem. As lágrimas embaçavam sua visão e ela não conseguia reconhecer as ruas, então corria sem rumo.
— Nem fodendo — disse uma voz familiar atrás dela de repente e estacou. Não não não não não. Uma mão grande agarrou seu pulso, assim como meses antes, e a girou para encarar a visão de seus pesadelos. — Como foi que conseguiu se transformar de volta, sua putinha? — Ela havia perdido a voz de novo, dessa vez por conta do pânico bloqueando sua garganta. — Não importa. Espero que tenha aprendido sua lição nesse tempo. E se não aprendeu, bem. Duvido que consiga escapar de mim uma segunda vez.
— Me solta — implorou num fio de voz e Kaito balançou a cabeça, sorrindo.
— Dessa vez não, amor.
— Fica longe de mim.
Ele ergueu uma mão, claramente com a intenção de agredi-la, e ela só fechou os olhos, mas a dor nunca veio. Em vez disso, Kaito soltou um grunhido surpreso, soltando seu braço.
— Eu não faria isso se fosse você.
— Mas que-? — Midoriya puxou o Chicote Preto, afastando o homem de .
— Por que não mexe com alguém diferente, cuzão? Ou é tão fraco que só se garante contra alguém que é metade do seu tamanho? — Provocou Bakugo, ele e Kirishima os tendo encontrado apenas um momento depois de Deku. Eri tinha corrido pela casa os avisando sobre o que havia acontecido depois de transformar de volta e todos saíram em busca da mulher. Ele não precisava ouvir muito para entender o que estava acontecendo.
— Não se metam na minha vida, heróis. — Desdenhou Kaito. — Essa é uma conversa entre adultos.
— Não, mano, acho que não. — Kirishima se posicionou à frente de , bloqueando ela da visão de Kaito. — Sabe, a gente ia se meter de qualquer jeito, mas a é nossa amiga agora.
— Ah, então você conseguiu enrolar esses pirralhos, foi? O que que ela prometeu? Porque eu garanto que a vadia não vale tudo isso.
Um vento gélido varreu a ruela, fazendo os cabelos de todos voarem.
— Péssima escolha de palavras, figurante — disse Bakugo simplesmente, vendo o homem se debater contra Midoriya para tentar alcançar .
— Cala a-
— Para. De. Falar. — A voz de Shoto ressoou, cheia de fúria. Ele marchou até Kaito, que Deku soltou, e agarrou o homem pelo colarinho, congelando o tecido na sua mão direita.
A preocupação em seus olhos se tornou escárnio.
— Ah, a vadia te tem na palma da mão, ná? Deixa eu adivinhar, ela me pintou como algum tipo de monstro? Vai em frente.
— Sabe, eu não tenho o hábito de ajudar gente estúpida, mas você tem noção que a família dele tem um belo histórico de problemas de controle de raiva, né? E eu particularmente nunca vi o Meio a Meio tão puto.
— Vocês são heróis. Eu sou só um pobre civil. — Kaito provocou, seus olhos nunca desviando da expressão de Shoto. — Eu ia amar ver a opinião pública se ele me machucar.
— Na verdade, — Midoriya se pronunciou — você é um criminoso. Um vilão. O Todoroki-kun só estaria fazendo o trabalho dele, e depois eu vou te largar na delegacia mais próxima para ser preso.
— O herói número um admitindo que mentiria para proteger seu amiguinho? Só melhora.
— Cadê a mentira? Cara, é crime usar sua Individualidade pra machucar alguém sem uma licença de herói e a gente ta com a sua vítima bem aqui. Temos papelada sobre toda a coisa de gato. Sem mencionar os registros médicos do estado que ela tava quando saiu da sua casa. — Kirishima arqueou uma sobrancelha. — Pra todos os efeitos, você é um vilão e nós temos provas.
— Chama a gente de pirralhos o quanto quiser, tira sarro da carreira que a gente escolheu, não muda o fato de que é a sua palavra contra um monte de provas concretas. — Bakugo deu de ombros. — Sério, mesmo que o Todoroki opte por não estourar a sua cara, você ta fodido. E você tava prestes a agredir a de novo, então ele tem todo o direito de te fazer engolir essas palavras. Junto com uns dentes.
A expressão era quase imperceptível, mas os heróis a viram mesmo assim: medo. Finalmente Kaito entendia que não tinha como escapar das consequências de seus atos. Tentou se virar para a mulher em busca de apoio, de qualquer vestígio do controle que um dia exerceu sobre ela, mas Kirishima bloqueou sua visão e Shoto o sacudiu.
— Olha pra mim — exigiu. — Escuta, e escuta bem. Você nunca mais vai encostar um dedo na . Nunca vai nem olhar na direção dela se essa sua cara patética sair da cadeia algum dia. Entendeu? Porque eu não preciso do meu poder pra te fazer se arrepender de ter machucado ela.
Kaito não respondeu, nem mesmo um aceno de cabeça. Não queria aceitar a derrota, que não tinha nenhum poder nessa dinâmica, mas era a realidade. Bakugo tinha acertado na mosca sobre Kaito só se sentir bem enfrentando alguém menor e mais fraco, e nenhum dos heróis era. Para eles, o homem não chegava nem perto de intimidar.
Shoto quebrou o gelo entre seus dedos e empurrou Kaito para longe.
— Leva ele pra polícia, Midoriya. — O mais velho bufou assim que Todoroki se afastou, o que só o fez dar meia volta e acertar um soco no seu rosto.
— Eu avisei, babaca.
O impacto deixou Kaito tonto e Midoriya usou o Chicote Negro outra vez para imobilizá-lo, prendendo ambos os braços. Shoto seguiu direto até , que estava escondendo o rosto nas mãos e tremendo, claramente apavorada. Kirishima voltou para perto de seu namorado.
— … — suspirou, devastado de vê-la desse jeito. Ela não ficava mal assim há meses. Ergueu a mão na direção do seu braço, parando no ar pela incerteza. A última coisa que ele queria era assustá-la mais. Porém, ao ouvir a voz dele, a mulher ergueu o rosto por um instante e se jogou em seus braços. Shoto suspirou aliviado, a abraçando e acariciando seu cabelo enquanto ela soluçava contra seu peito, agarrada em sua camiseta. — Ele não pode mais te machucar. Não vou deixar, prometo. Acabou, bebê. — O apelido saiu sem pensar. Ele não a tinha chamado assim desde que descobriu que ela era humana. Shoto tinha plena ciência do quanto a interação dos dois os fazia parecer um casal, mas essa era a menor das suas preocupações. Gostava demais de , que precisava ser confortada e se sentir segura, e nada mais importava para o rapaz.
— Va-vamos p-pra casa, p-por fav-vor — sussurrou.
Olhos díspares encontraram os amigos os observando e Kirishima assentiu.
— Eu aviso a Eri-chan. Tenho certeza que ela vai entender.
— Então é i- hmpf! — Kaito tentou gritar mais um pouco, se debatendo, mas Midoriya cobriu sua boca com o Chicote. O olhar do mais velho estava cheio de ódio, não desviando de Shoto e .
— Só fica quieto. Guarda o fôlego pra polícia. — Deku acenou para os amigos. — Vejo vocês mais tarde. — Em seguida, saltou para o ar, levando Kaito com ele.
Shoto não estava completamente convencido de que falou do apartamento dele quando disse casa, mas, até onde ele sabia, era a única que ela tinha no momento. E com certeza não se sentia confortável com a ideia de deixá-la sozinha no momento, não quando qualquer som além da voz dele a fazia se encolher e segurá-lo com mais força.
— Ele já foi. Tá tudo bem.
— Beleza, se mexe, Picolé. — Lançou um olhar confuso para Baugo, mesmo notando que o loiro manteve a voz baixa e calma e não se aproximou. — A não tá com cara de que vai conseguir te largar tão cedo e alguém tem que dirigir. Eu deixo vocês, vamos.
— …Obrigado.
— Tá, tá.
Eles sentaram no banco de trás e, como Bakugo previu, não o soltou por um segundo. Estava praticamente enroscada no colo de Shoto como se ainda fosse um gato, os braços dele a envolvendo num abraço apertado para garantir que ele estava lá, toda a cautela de toques apropriados das últimas semanas abandonada conforme a mulher se agarrava a ele como se sua vida dependesse disso. Para facilitar o deslocamento, ele só a pegou no colo e carregou para o apartamento quando desceram do carro, acenando com a cabeça em agradecimento a Bakugo enquanto o loiro ia embora.
Shoto se perguntou o que fazer agora que estavam em casa. ainda estava muito abalada pelo que havia acontecido, e ele não tinha certeza se a transformação em humana tinha sido difícil para seu corpo, mesmo com todo o treinamento de Eri. Ele deveria lhe oferecer algo para comer? Água? Devia mesmo tentar soltá-la? Suas lágrimas tinham ensopado sua malha e ela tremia, embora o rapaz achasse que não tinha nada a ver com o frio.
Recorrendo ao que ele sabia funcionar para acalmá-la, só a carregou para a cama — cama dele? Deles? Não tinha mais certeza de como funcionava. Uma vez lá, se sentou com a mulher nos braços, enrolou ambos em um cobertor, aquecendo o próprio corpo só o suficiente para deixar a temperatura confortável, e começou a fazer carinho em suas costas e murmurar palavras de conforto no seu cabelo. Era exatamente o que ele tinha feito tantas vezes quando a acordara de pesadelos nos últimos dez meses, e por sorte ainda parecia funcionar. O tremor e o choro diminuíram aos poucos até desaparecer e ela estar só abraçada a ele, bem mais calma.
— Quer falar sobre isso? — murmurou.
inspirou, os dedos se apertando na malha, voz pouco acima de um sussurro:
— Eu… eu não achei que ia ter que ver ele de novo. Sei que te contei… um pouco… do que aconteceu, mas… — um arrepio a sacudiu.
— Imaginei que tivesse mais. Ele não pode mais te machucar, bebê. Nunca mais. Vou garantir isso. — Respirou fundo. — Não precisa me contar se não quiser.
— Eu quero. Preciso que alguém saiba, que alguém acredite em mim, me diga que eu não to maluca, eu… eu não consigo lidar sozinha. — Ela balançou a cabeça.
Shoto ficou em silêncio por alguns instantes antes de responder, voz bem mais baixa:
— Eu acredito em você. E sei que não tá louca. Assim como minha mãe não tava.
sabia que a família Todoroki era complicada, para dizer o mínimo, e tinha suspeitas e uma grande desconfiança de Endeavor que antecediam a revelação de Dabi anos antes, mas nunca achou que fosse tão ruim. E algo no tom dele a dizia que o herói não tinha presenciado só os efeitos colaterais da violência.
— Na noite que eu fugi, ele… o Kairo tinha… — ela mordeu o lábio.
— Ele te bateu. É isso que eram os hematomas. — assentiu.
— Mas não foi só isso. É verdade, foi a primeira vez que ele me bateu, mas… levou muito tempo pra eu entender tudo o que aconteceu. Ele… ele fazia… — engoliu em seco. — Não não queria dizer muita coisa quando vinha de mim. — Decidiu colocar daquela forma, a ideia de dizer estupro em voz alta ainda muito dolorosa. — Eu era só uma menina quando nos conhecemos… a guerra tinha acabado de acontecer, o mundo tava de ponta cabeça e eu tinha 19 anos e tava perdida. Ele tinha 32 e me fez sentir tão importante. Eu só queria me sentir segura e achei que ele ia me dar isso. — Soltou uma risada vazia. — Irônico, né? Segurança foi a última coisa que ele me deu. Isolamento, dor, traumas… isso, por outro lado, ele me deu bastante.
Shoto respirou fundo, sentindo raiva borbulhar em seu peito. Não era diferente do que ele sentia por Endeavor no início da adolescência, pelo que o pai tinha feito ele e sua mãe passarem, pela dor que não podia apagar do passado deles. Essa era uma dor que não poderia apagar do passado da mulher, e, embora algo dentro dele ansiasse por infringir o mesmo nível de dor em Kaito, ele tinha aprendido que não resolveria nada. Dabi garantira que a família toda aprendesse essa lição.
— Sinto muito que estivesse sozinha.
— Eu não tava. Não no começo. — Suspirou. — Quando falou que a Aimi queria falar comigo, não deu pra acreditar. O motivo da gente não ter se falado por tanto tempo foi que eu afastei ela por causa do Kaito. Eu… ela era minha melhor amiga. Viu o que ele tava fazendo comigo, tentou abrir meus olhos e me tirar daquilo. Tudo que eu fiz foi ficar puta e brigar com ela, achando que ele tava certo. — balançou a cabeça, mais algumas lágrimas escapando, seus ombros caindo. — Eu me isolei.
— Ele fez isso. Não você. — Depois de uma pausa, continuou: — E o que importa é que você não tá mais sozinha. Tem a Aimi de volta e tem eu. Ele não pode te machucar.
Ela sentou em silêncio por vários minutos, absorvendo as palavras de Shoto e tentando fazê-las entrar no coração. Fungou, engolindo outra leva de lágrimas.
— Obrigada. De verdade — sussurrou, as pálpebras pesando.
— Descansa — disse gentilmente, ainda acariciando suas costas. — Você teve um dia cheio. — Seus dedos se apertaram na blusa dele. — Eu não vou a lugar nenhum, .
Depois de hesitar por um momento, ela finalmente assentiu, deitando a cabeça no peito dele. Demorou apenas alguns segundos até sua respiração estabilizar, e o homem os deitou, uma mão correndo pelo cabelo dela até ele também cair no sono.


🔥

— NÃO! Me solta! — Ela se debateu, tentando se afastar das mãos em seus braços, o coração acelerado. O medo era tão forte que nem notou a mudança do sonho para a realidade.
— Shhh, bebê, sou só eu. — A liberdade imediata pareceu muito estranha e, quando abriu os olhos para procurar a melhor rota de fuga, branco e vermelho chamaram sua atenção no escuro. Ela ainda levou alguns segundos para processar quem estava ali e que estava segura.
— Sh-Shoto?
— Foi um pesadelo. — Apontou, mãos erguidas.
A mulher já estava chorando, mas acordar completamente transformou as lágrimas em soluços. O herói abriu os braços e ela se lançou neles sem pensar duas vezes, precisando da segurança que ele oferecia — e querendo se desculpar por tê-lo confundido com Kaito, mesmo que só por um instante. Enterrou o rosto no peito dele, sua mão acariciando o cabelo dela.
— Shhh, ta tudo bem. Você ta segura.
— Des-desculpa, Sho-Shoto.
— Não esquenta, . — Mais uma vez, ele a abraçou até ela se acalmar, até parar de tremer completamente. — Ta melhor?
Respirou fundo, olhando para Shoto através de cílios cheios de lágrimas. Ele estava tão perto… seu olhar desceu para a boca dele por um momento antes de voltar aos olhos díspares e, sem se permitir pensar muito, se inclinou para beijá-lo. Seus lábios mal se tocaram e ele se afastou com um suspiro.
— … — Seu tom era cuidadoso, mas de repreensão. A pontada de dor por ser rejeitada trouxe lágrimas de volta para seus olhos, mas os do homem estavam fechados quando continuou: — Não posso fazer isso com você.
— O que… o que quer dizer? — Apoiou a testa contra a dela.
— Você ta machucada. E de coração partido. Não ta pensando direito. Se te beijasse agora, ia ser como se você tivesse muito bêbada e eu sóbrio. Não posso me aproveitar de você desse jeito. — A mulher fungou, a mão dele acariciando suas costas de forma calmante. — Você é uma mulher linda, mas não vai ser bom pra nenhum dos dois se fizermos isso agora e você se arrepender de manhã.
Ela quis dizer que não iria. Que queria beijá-lo há meses, muito antes de ele saber que ela era uma pessoa, que estava apaixonada por ele e isso não era algum jeito deturpado de buscar conforto num momento de vulnerabilidade. Mas não disse. Em vez disso, respirou fundo, engoliu as lágrimas e só escondeu o rosto no peito dele.


🐈

— , peraí. — Ela se interrompeu quando Aimi balançou a cabeça. — Respira fundo e vamos bater o que aconteceu, ok? Devagar. Porque da última vez que a gente se falou… bom, escreveu, mas você entendeu. A última coisa que você me contou foi que as coisas entre você e o Todoroki tinham saído da fase esquisita de descobrir que você era humana, tava tudo indo bem.
— Tava. Bom, eu achei que tava. Aí a gente achou um jeito seguro de me trazer de volta, uma garotinha que o Shoto e os amigos conhecem. — Suspirou, voltando a lavar a louça à sua frente. sabia que Yassuda-san tinha dito que podia ir devagar, saindo de um ano de gato, mas a jovem não queria causar problemas. — No dia que eu voltei, esbarrei no Kaito. — Balançou a cabeça. — Nem preciso dizer que foi horrível.
— Sinto muito.
— O Midoriya-kun me achou rápido o suficiente pra nada acontecer, e depois o Shoto foi ótimo, mas eu fiquei bem abalada. Uns segundos a mais e eu tava contando outra história.
— Claro. Ainda me surpreende como você ta bem, considerando tudo.
— É, minha terapeuta disse a mesma coisa. O tempo como gato não foi de todo ruim pra minha saúde mental. Mas naquele dia… eu fiquei muito mal. O Shoto me levou pra casa e me acalmou. Eu contei… — engoliu em seco — o que eu passei antes dele. — Silêncio caiu entre as mulheres. — Depois disso, a gente acabou dormindo.
— A gente? — Aimi arqueou uma sobrancelha e sentiu as bochechas esquentarem.
— Eu tava me sentindo péssima, ele tava tentando me consolar, tá? Se acostumou a fazer isso por causa dos pesadelos e não é como se tivesse duas camas, só tinha um humano morando lá até outro dia. Então sim, a gente dormiu — sibilou, voz pouco mais alta que um sussurro para impedir que os clientes na mesa perto da porta ouvissem.
— Devo assumir que a senhorita dormiu não só na cama dele, mas nos braços também?
— Fala baixo, Aimi! — A morena riu.
— Vou levar isso como um sim.
— Sim, foi isso mesmo, agora vai me deixar terminar ou vai continuaar interrompendo? — Aimi ergueu as mãos em rendição.
— Só to feliz de te ver agindo e falando mais como a que eu conheço, só isso. Parei.
— Tá, a gente dormiu. Umas horas depois, ele me acordou de outro pesadelo e recomeçou o processo de me acalmar. — Soltou a última parte com pressa, envergonhada e ainda chateada pela rejeição: — E aí eu beijei ele.
Aimi arregalou os olhos, mas estava sorrindo.
— Essa é a minha garota! Essa é a que eu lembro e adoro.
— Bom, essa foi rejeitada. E agora as coisas tão estranhas entre a gente de novo. Então pode tirar esse sorriso da cara.
Foi a vez de Aimi balançar a cabeça, incrédula.
— Não. Não, eu não compro essa. O cara que tava com um olhar apaixonado quando veio te deixar de manhã? O mesmo que se deu ao trabalho de me achar, uma amiga com quem você não falava há anos, só pra você ter algum contato com a sua vida enquanto ainda era um gato? Ele não faria isso.
— Aimi, para. — bateu ambas as mãos na bancada, frustrada. — Eu não to falando de possibilidades, to te dizendo que aconteceu. Ta bom? Eu beijei ele e ele se afastou e disse que não podia fazer aquilo.
— Não podia? — Franziu o cenho. — , o que exatamente ele disse?
— Pra que importa? Eu passei todos esses meses me apaixonando por alguém que nem sabia que eu era uma pessoa. — Piscou para segurar as lágrimas.
— Importa, . Só… só me fala o que ele disse e eu explico, ok?
Com um suspiro, ela se recordou das palavras exatas, queimadas em seus ouvidos pelos últimos dias.
— Ele disse que eu não tava pensando direito. Que tava de coração partido e ia me arrepender de manhã. Que, se me beijasse naquela hora, ia ser como se eu estivesse bêbada, e ele não podia fazer isso comigo. Satisfeita?
A morena respondeu devagar, parando para garantir que sua amiga ia absorver cada palavra:
— Então o que você ta me dizendo é que ele não te rejeitou, mas que ele sentiu que você não tava em condições de dar consentimento na hora.
— Bom…
— Porque é isso que parece pra mim. Que foi uma questão de consentimento em vez de rejeição.
— Eu… mas por que ele… eu não… — franziu o cenho, balançando a cabeça. — Isso não faz sentido nenhum.
Aimi respirou fundo, pegando suas mãos.
— Amiga, na verdade faz. Se ele deixou de te beijar porque não tinha consentimento, significa que ele respeita você e os seus limites, e isso é bom. Não significa que ele não te quer. — Balançou a cabeça, vendo os olhos cheios de lágrimas. — Eu sei que é muito diferente do que você se acostumou, mas é assim que um relacionamento saudável deve ser. Especialmente se considerar que ele sabe o que você passou.
— Mas se ele quisesse…
— O Todoroki nunca disse que não queria te beijar. Pensa comigo um pouquinho, ta? — Ela assentiu. — Você falou que ele é bem direto, né? E que normalmente fala o que pensa e sente sem problemas.
— É. Sempre arranja confusão por isso.
— Ok, bom. Agora, você não acha que ele teria dito se o problema fosse que ele não te quer? Porque você disse que o Todoroki é ruim pra entender deixas sociais, mas não é possível que ele não tenha entendido você beijando ele. Ele sabia o que você tava fazendo.
— Ele… ele sabia, sim. Mas… mas e se ele não sabia como me dizer ou não queria me deixar mais triste ou-
— Isso condiz com o comportamento normal dele? Mesmo conhecendo ele só na mídia, eu sei que ele não é muito de medir as palavras.
Ela inspirou, analizando as palavras da amiga. Ela tinha um ponto. Será possível que Shoto só estava tentando não piorar sua dor ao não beijá-la naquela hora? Parecia um comportamento tão absurdo perto do que ela tinha aprendido ser a regra.
— Ele não disse que não queria me beijar — sussurrou.
— Exato. Ele comparou com você estar bêbada.
— Comparou.
— Vamos visualizar a comparação dele um pouquinho. Se você estivesse trêbada e beijasse ele com ele sóbrio, e ele deixasse… — nem precisou terminas a frase e todo o sangue sumiu do rosto de . Ela tinha aprendido a não beber perto de Kaito, e só a ideia de Shoto fazê-la reviver um fragmento daquela experiência a embrulhava o estômago. Balançou a cabeça furiosamente. — Foi isso que ele quis dizer. Isso que ele não podia fazer com você. Entende agora?
Assentiu devagar.
— Então… não foi porque ele não queria me beijar.
— Não. Ele provavelmente queria, se eu fosse adivinhar.
— Bom, por que ele não disse nada depois? Já faz dias.
— Você disse?
— Claro que não! Achei que ele não me queria, pra que eu ia tentar ser rejeitada de novo?
— Te ocorreu que talvez ele também estivesse se sentindo mal pelo que rolou e não quis dizer nada pra não correr o risco de você dizer que ele tava certo, que você não queria beijar ele de verdade? E que ele queria, então também tava evitando uma rejeição?
deixou a cabeça cair com um suspiro.
— Óbvio que não. — Grunhiu de frustração. — O que eu faço agora?
— Olha, você pode deixar as coisas como estão e esperar que o tempo faça o constrangimento ir embora. — Ela franziu o cenho e Aimi sorriu. — Ou você pode acordar sua ousadia de novo e chamar ele pra um encontro. Talvez até tentar outro beijo.
— Isso pode ser uma ideia horrível.
— Ou maravilhosa.
— Ainda to morando com ele.
— Se muda lá pra casa semana que vem,
Depois de uma pausa, suspirou.
— Ah, foda-se. Não é como se eu pudesse deixar pior.
Aimi bateu palmas animada antes de ir ver como estavam os clientes.


🏠

— Shoto? — chamou baixinho, batendo à porta do quarto.
— Entra.
— Hey. — Ele ergueu os olhos do livro para encontrar o olhar de . Ela respirou fundo, juntando coragem para fazer o que tinha planejado. — Hm, eu tava pensando e… amanhã é seu dia de folga, certo?
— É.
— Também é meu último dia morando aqui.
— Certo — murmurou mais para si mesmo do que para ela. — Quer ajuda com a mudança?
— Não precisa, quer dizer, a maioria das minhas coisas já estão lá na Aimi. Na verdade eu, hm, queria te perguntar se talvez nós dois poderíamos fazer alguma coisa juntos. Tipo, aqui, mas também sair pra algum lugar. Meio que uma despedida do meu tempo aqui. Só uma última tarde pra gente passar junto antes de tudo mudar. — Ela fez uma pausa. — De novo, né.
— Você quer… quer passar o dia comigo?
— Se… — cutucou as unhas, nervosa que ele recusasse. — Bom, se você já não tiver planos, claro. Mas é, eu… eu queria. Se você quiser.
— Que horas você sai da confeitaria?
— O Yassuda-san vai fechar logo depois do surto do almoço, daí vou comer com a Aimi e to livre.
— Eu te busco então. Só me mandar uma mensagem. — Ela soltou a respiração que estava prendendo e assentiu, sorrindo.
— Tá bom. — A mulher finalmente andou até a cama, tomando cuidado para se deitar o mais longe possível dele. Era um exercício meio fútil, uma vez que eles haviam acordado enroscados um no outro todos os dias, como se ela ainda fosse um gato. Eles tentavam mesmo assim, no mínimo para fingir que não tinham ultrapassado todos os limites do que era apropriado.

Assim que fecharam a confeitaria, foi até a casa de Aimi se arrumar para o seu encontro com Shoto.
Meu Deus, um encontro. Será que ele tinha entendido que era isso? Ela não tinha certeza. Por mais que o homem tivesse aprendido a compreendê-la — meses sem voz realmente tinham ajudado nesse sentido —, ele ainda era muito ruim com dicas sociais. Ela ainda não tinha superado como ele simplesmente não tinha nem ideia de que a assistente estava descaradamente flertando com ele quando a trouxe para o apartamento. É, tendo isso em mente, ele provavelmente não tinha percebido. só não sabia se isso deveria deixá-la mais ou menos nervosa.
Aimi insistiu para que ela se vestisse como antigamente, quando ainda tirava alegria dessas coisinhas. Em outra vida. estava hesitante, pois tinha sido há muito tempo, e se Shoto não gostasse? Mas a morena conseguiu convencê-la por fim, e ela acabou pegando emprestado um par de botas até a coxa, que combinou com uma saia e um suéter. E então ela estava se sentindo um pouco mais como a garota que costumava ser e colocou um batom vermelho para finalizar.
Num impulso corajoso, pegou uma tesoura e pediu a Aimi que cortasse seu cabelo curto.
— Tem certeza? Quer dizer, eu acho que você fica incrível de cabelo curto, mas é uma grande mudança.
— Gosto do jeito que meu cabelo tá agora, mas deixei crescer pra agradar outra pessoa. É hora de deixar tudo pra trás. — Estava nervosa, mas sempre amou ter cabelo curto e sentia falta.
— Curto, então.
A mulher impediu a amiga de ver seu reflexo até que o corte estivesse completo e o cabelo, arrumado.
— Tem razão, é bom me ver de novo.
— É bom te ver sorrir de verdade depois de todos esses anos. — A campainha tocou naquele momento, e o sorriso de Aimi só cresceu. — E bem na hora também. Promete que vai se divertir hoje.
— Prometo.
— E não faça nada que eu não faria. — Piscou, e riu, abrindo a porta para encontrar Shoto do lado de fora.
Seus olhos começaram nos pés dela e subiram lentamente até o rosto, onde vacilaram nos lábios antes de encontrar o olhar dela. Ficou parada enquanto ele fazia isso, se esforçando para não recuar ou se esconder. Ele estava lindo como sempre, de jeans, uma camiseta de mangas compridas, uma jaqueta de couro — a que ela costumava deitar dentro —, e um gorro para cobrir o cabelo e chamar menos atenção.
— Você... uau — murmurou, pigarreando. — Você tá linda.
— Obrigada. — Corou furiosamente, o coração disparando. — Você também.
Ele deu um pequeno sorriso e um passo para trás, esperando que ela o seguisse. Aimi mal podia conter sua empolgação pela amiga, não perdendo o olhar que o herói tinha lhe dado ou o leve rubor nas bochechas dele.
— Tenham um ótimo dia, vocês dois! — gritou enquanto a porta se fechava.
Eles passaram uma tarde maravilhosa juntos. Shoto levou a um parque, onde caminharam e conversaram e mal viram as horas passar. Então disse a ela para escolher um lugar para comer, e a mulher escolheu um café onde comeram um bolo delicioso (e como ela sentiu falta de sentir doce), depois passearam e, quando voltavam para casa, Shoto parou em um mercadinho e lhe falou para escolher qualquer coisa que sentisse falta de comer.
— O quê?
— Você não conseguiu sentir o gosto de nada doce por meses. E não tinha uma dieta variada, eu não sabia que… — balançou a cabeça. — Sente falta de fazer coisas humanas. Acho que comer aquele bolo foi o momento mais feliz que vi você ter. Então escolha o que quiser. Eu pago.
Tímida, pegou alguns itens pequenos, coisas que conseguia segurar com uma mão. Racionalmente, ela sabia que Shoto não pensava assim, mas não conseguia ignorar as palavras de Kaito em sua mente dizendo que era gorda e indesejável. Como se lesse seus pensamentos e não quisesse saber, o homem se aproximou com uma cesta contendo pelo menos mais três de cada um dos itens que ela havia escolhido.
— A gente... não precisa disso tudo.
Ele simplesmente deu de ombros, acrescentando outros itens por conta própria.
— Não falei nada sobre necessidade. Eu disse qualquer coisa que você quisesse. E se não comermos tudo essa noite, pode levar com você ou eu posso guardar pra quando vier visitar.
Ele pegou ainda mais coisas, e eles atravessaram a loja com pegando mais poucas coisas e Shoto pegando qualquer coisa que ela olhasse por mais de dois segundos, ignorando seus protestos. Saíram da loja com uma sacola enorme que ele carregou com uma mão enquanto começavam a voltar para casa, planejando comer enquanto assistiam a um filme.
— Mas que filme?
— Qual é o seu favorito?
— Eu não sei… — estava tão acostumada a apenas ceder que não tinha pensado nisso em anos.
— Todo mundo tem um favorito. — Ela realmente não tinha uma resposta, e essa realização doeu. Em que ponto havia se perdido tão profundamente? E como ela não tinha notado? — Temos tempo até chegarmos em casa. Se não conseguir escolher um favorito até lá, podemos fazer uma lista juntos e escolher.
— Parece bom — suspirou. Shoto era incrivelmente compreensivo, e realmente não sabia o que fazer com isso. Testando as águas, ela acrescentou: — Mas nada de filme de terror. Eu realmente não gosto.
— Nada de filmes de terror. — Concordou imediatamente, e eles caíram num silêncio confortável pelos próximos minutos.
Ela sentiu a primeira gota e olhou para cima para descobrir de onde ela viera. Logo depois, outras caíram, o que fez a mulher rir abertamente.
— Meu Deus, tá chovendo!
Shoto não respondeu, apenas a empurrou de leve na direção de um prédio onde eles poderiam se esconder. Correram para lá, sentindo-se animados como duas crianças enquanto a água começava a encharcar seus cabelos e roupas. Quando escorregou no final do caminho, ele a segurou pela cintura com o braço livre, soltando um risinho enquanto ela ria abertamente. A mulher também se segurou nele, ambos não notando a proximidade a princípio.
— Você tá bem? — Ela assentiu, olhando para ele através de seus cílios.
Ele estava muito perto. O tempo congelou enquanto ela olhava nos olhos dele, vendo a realização surgir neles também, mas seu único movimento foi abaixar o olhar para seus lábios por um momento. Respirando fundo, ficou nas pontas dos pés e pressionou sua boca contra a dele.
— , o que… — limpou a garganta, a voz de repente rouca quando se afastou apenas um centímetro, — o que você tá fazendo?
— Na outra noite, eu não te beijei porque tava triste. — Explicou quase sussurrando, apoiando sua coragem no fato de ele não tê-la soltado, sua pegada ainda firme. — Minha cabeça não tava bagunçada sobre isso. Eu te beijei porque quero você, Shoto. Eu... eu quero há meses. — Seu coração batia forte em seu peito, mas ela continuou. — Minha vida é uma bagunça, eu sou uma ninguém sem Individualidade, não tenho muito a oferecer. E entendo se você não sentir o mesmo, ou ainda estiver se acostumando comigo sendo humana, ou quiser ser só um amigo, ou…
Para sua surpresa, foi a vez dele pressionar seus lábios contra os dela, apenas tempo suficiente para interrompê-la.
— Esse não é o caso, bebê. — Um arrepio percorreu sua espinha com o apelido, rolando tão facilmente de sua língua novamente, mas dessa vez carregando um significado muito mais profundo e tantas promessas não ditas. Ela não pôde deixar de sorrir. — Mas quero que você tenha certeza sobre isso. Sobre nós. Não faça algo que não esteja pronta só porque acha que é o que eu quero.
— Você é meio que a única certeza que eu tenho. Consertou meu coração sem nem tentar, sem nem saber. Ele é seu. Só preciso saber se você quer.
Ele estudou seu rosto silenciosamente por alguns segundos, procurando por dúvidas em sua expressão e não encontrando nenhuma. Então ele finalmente, finalmente permitiu a ambos o que estavam desejando há tanto tempo, beijando-a com paixão. derreteu contra ele, deslizando as mãos do peito dele para o cabelo, trazendo-o ainda mais perto. Quando se separaram, ambos estavam sem fôlego.
— Acho que é justo — sussurrou, o olhar cravado no dela.
“What is?”
Shoto’s small smile was probably the most beautiful thing she had seen her whole life. “Your heart for mine,” he replied nonchalantly, then reached up to caress her cheek.
“I guess it is.”
He hummed, tracing her bottom lip with his thumb. “I take back what I said earlier. This is the happiest I’ve seen you.”
chuckled, blushing furiously. “Despite having the same color scheme and being equally sweet, you’re better than strawberry shortcake.”
“Good.” He leaned down for another breathtaking kiss.
— O quê?
O pequeno sorriso de Shoto era provavelmente a coisa mais bonita que ela já tinha visto em toda a sua vida.
— Seu coração pelo meu — respondeu casualmente, em seguida, estendeu a mão para acariciar a bochecha dela.
— Acho que é.
Ele murmurou, traçando o lábio inferior dela com o polegar:
— Retiro o que disse antes. Isso é o mais feliz que já te vi.
riu, corando furiosamente.
— Apesar de ter a mesma paleta de cores e ser tão doce quanto, você é melhor que o bolo de morango.
— Ótimo. — Ele se inclinou para outro beijo arrebatador.


🔥

Esperaram a chuva diminuir por cerca de 30 minutos, metade dos quais foram gastos se beijando mais um pouco.
— Não acho que vá parar tão cedo — murmurou .
— Não estamos longe. Quer arriscar uma corrida até lá? — perguntou Shoto.
— A gente vai ficar ensopado. — Apontou, mas ele deu de ombros.
— Você ainda tem umas roupas. Ou eu posso secar essas. Não me importo.
— Tem certeza?
— Um pouco de chuva não faz mal. — Estudou seu rosto por um momento, e ela engoliu em seco. Isso era um teste? — Eu realmente não me importo. A menos que você não queira.
Ele não é o Kaito, ela teve que se lembrar. A mulher estava tão acostumada a ser recebida com raiva ou uma falsa sensação de calma que explodia quando ela inevitavelmente dava a resposta errada que, mesmo conhecendo Shoto, era difícil desaprender a reação automática. Ela balançou a cabeça, apertando a mão dele.
— Não, tá tudo bem. Vamos.
— Tem certeza?
— Tenho.
Então, eles correram. Foram apenas algumas quadras, mas, quando chegaram à porta do prédio de Shoto, estavam sem fôlego de tanto rir e completamente encharcados. parou no último degrau, esperando que ele pegasse as chaves. Havia tirado o gorro enquanto corriam, as mechas vermelhas e brancas grudando na testa e pingando no rosto. Ele estava lindo. Ela mordeu o lábio, tentando ignorar o impulso no fundo de sua mente.
— Que foi? — perguntou, divertido. Ele não é o Kaito. Ela colocou as mãos em seus ombros, ficando na mesma altura dele por causa dos degraus. Suas mãos imediatamente encontraram sua cintura. — Não quer sair da chuva?
— Tem algo que eu quero fazer primeiro — murmurou, o olhar caindo para seus lábios. Ele pareceu entender, inclinando a testa contra a dela, mas deixando-a decidir se cruzaria os últimos centímetros.
pressionou a boca na dele, mas desta vez foi diferente. Este beijo era urgente, faminto, exigente. Shoto correspondeu imediatamente, puxando-a contra seu peito enquanto suas mãos se enterravam em seu cabelo, suas línguas se entrelaçando. Ficou claro para a mulher que ele estava se contendo antes, e, embora ainda a deixasse ditar o ritmo, ela tinha a sensação de que ele ainda estava, o que enviou o tipo mais excitante de arrepio por sua espinha. A chuva fria continuou caindo sobre o casal, a temperatura contrastando com a mão esquerda de Shoto em suas costas. Quando a necessidade de ar se tornou impossível de ignorar, ele se afastou, segurando seu lábio inferior entre os dentes um momento a mais. Ele não disse uma palavra, apenas ficou lá com ela até que ambos se recuperassem.
— Agora entendo por que eles sempre fazem isso nos filmes.
— Hm — foi a resposta dele, dando-lhe um rápido beijo nos lábios e arrancando uma risada. — Devemos acrescentar romances à nossa lista de filmes?
— Não se importa?
— Por que eu me importaria? — O tom uniforme era o que ela havia aprendido a identificar como completa confusão da parte do rapaz, o que aqueceu seu coração. No entanto, o vento frio combinado com a chuva a fez tremer. — Vamos entrar.
— Ok.
Eles pararam no corredor, pôde sentir a temperatura subindo imediatamente, e logo Shoto estava quase completamente seco. Ele a abraçou, com o braço esquerdo em volta de seus ombros, o calor passando pelas camadas de suas roupas enquanto o elevador os levava para o andar certo.
Uma vez dentro do apartamento, ele colocou a sacola na mesa.
— Quer trocar de roupa ou quer que eu termine de te secar?
— Acho que vou trocar o suéter. Esse é de lã, vai demorar para secar. As outras roupas não estão mais tão molhadas.
— Ok, eu vou preparar o nosso jantar então.


🏠

Ao final do primeiro filme, uma comédia romântica que Shoto achou que ela ia gostar, estava aconchegada contra o lado esquerdo dele, ambos rindo abertamente. Estavam beliscando o que compraram, os itens agora em uma bandeja no braço do sofá. Ele passou a mão suavemente pelo cabelo dela.
— Você tá linda.
— Acha mesmo? Não fico... infantil com esse cabelo? — Ela evitou o olhar dele, a incerteza a atingindo profundamente.
— Não. Você parece… — Shoto fez uma pausa, tentando encontrar a palavra certa. — Mais leve. É, mais leve. — Assentiu. — Fica bem em você.
— Como você sempre consegue dizer a coisa certa? — soltou um pequeno riso, segurando as lágrimas. Ele arqueou as sobrancelhas.
— Tenho várias testemunhas de que não consigo. — Isso arrancou uma risada genuína da mulher.
— Comigo você consegue, bolinho. Sempre. — Ela virou a cabeça para olhar nos olhos dele e foi recebida com um sorriso.
— Bolinho? — Levantou uma sobrancelha, divertido, e ela corou. Tinha pensado no apelido, mas não pretendia que ele escapasse.
— Desculpa. É que você mencionou aquela coisa do bolo de morango antes e… — Ela balançou a cabeça. — Não vou fazer de novo.
— Eu gostei.
— Gostou? — Seus olhos se arregalaram.
Ele não respondeu, apenas acariciou o rosto dela. Seu olhar caiu para os lábios dela e a mulher não pensou duas vezes antes de se inclinar para um beijo. No começo, foi doce, ambos tentando transmitir o sentimento que era tão difícil de expressar em palavras. Mas uma energia diferente começou a tomar conta deles, e o beijo mudou. A mão de se enfiou nas mechas vermelhas e brancas enquanto o braço de Shoto se apertava ao redor dela, tentando eliminar qualquer distância entre o casal. A urgência de antes voltou e, quando percebeu, estava sentada no colo de Shoto, com uma de suas mãos em sua cintura. Ela recuou, ofegante e corada. Os olhos bicolores pareceram confusos por um momento antes de se arregalaram de leve.
— Merda, . Fui rápido demais?
Ela ponderou a pergunta e a verdade era que... ela não tinha certeza. Uma parte dela sentia que era, se perguntava se podia realmente confiar nele assim tão rápido. Mas outra, a parte maior, só queria seus lábios e mãos de volta em sua pele. A grande questão era se ela podia confiar nele com algo tão delicado. E, assim como com o seu corte de cabelo, ela decidiu se arriscar. A mulher balançou a cabeça.
— Eu quero isso. Quero você. — Se inclinou para outro beijo, acariciando o rosto dele, mas ele se afastou brevemente, apenas o suficiente para falar.
— Me fala quando for pra parar — sussurrou, então a beijou ferozmente.
pressionou todo o corpo contra ele, o aperto de Shoto se intensificando. Sua mão se enroscou no cabelo dela, enviando um arrepio por sua espinha e arrancando um suspiro. Suas línguas se encontraram, seus movimentos lentos, mas confiantes, de uma maneira que mandava faíscas de desejo por seu corpo e a fazia querer mais, mais, mais.
Quando não puderam mais evitar se separar para respirar, ele moveu a boca em uma trilha de beijos por seu maxilar e pescoço. Sua mão pousou em seu joelho, sobre a meia, e começou a subir lentamente por sua perna.
— Tudo bem? — Suspirou contra a pele dela.
Nada disso a ajudou a recuperar o fôlego, mas ela não se importava, então assentiu. Um arrepio percorreu seu corpo quando as pontas dos dedos frios alcançaram sua pele, e ela puxou levemente seu cabelo.
queria sentir mais dele, queria tocá-lo também, mas a incerteza a atingiu. E se ela estragasse tudo? E se...?
— Ei, volta. — A voz profunda de Shoto a tirou da espiral de pensamentos, e ela piscou, encontrando seu olhar. — Quer parar?
— Não. — Balançou a cabeça. — Desculpa. — Suas pupilas estavam dilatadas, os lábios inchados, o cabelo todo bagunçado pelas mãos dela, e a mulher juraria que ele nunca tinha estado tão lindo. Ela mordeu o lábio inferior enquanto ele estudava seu rosto.
— O que foi, bebê?
— Eu… — seus dedos coçaram de vontade de tocá-lo, olhos descendo por seu peito por um instante. — Desculpa, eu não… — engoliu em seco, evitando seu olhar. Ótimo, agora ela tinha definitivamente estragado tudo.
Depois de alguns segundos em que o único som era a respiração pesada deles, logo antes de sua vergonha a dominar completamente e fazê-la ir embora, ele falou outra vez:
— Sei que sou ruim em comunicação, mas pode me dizer como se sente ou o que quer. Seja honesta comigo.
Posso? Ela queria perguntar. Não só não estava mais acostumada a querer, mas passou tanto tempo ouvindo que seus desejos eram errados ou vergonhosos que não pôde evitar temer a reação dele. Ele passou a mão por seu cabelo suavemente e ela se inclinou para o toque.
— Eu… — tentou novamente, lutando contra as dúvidas. — Eu quero… — Deixando escapar um som de frustração, decidiu que ações talvez fossem mais fáceis, então deixou as mãos descerem para puxar sua camiseta de leve. — Posso? — sussurrou, o coração batendo descontrolado.
Seus olhos escureceram imediatamente e as mãos saíram de sua pele para tirar a peça. Seus dedos coçavam para tocá-lo, explorar sua pele e correr sobre a maldita tatuagem que cobria suas costas, mas ela começou lentamente, primeiro só no pescoço.
— Me mostra o que você quer — pediu, se inclinando para tomar seus lábios.
E ela mostrou. Trilhou seus ombros, depois começou a descer pelas costas, cada arrepio e arquejo lhe dando confiança. Shoto era surpreendentemente reativo ao seu toque, e isso a incentivou. Ambas as mãos dele voltaram a subir por suas coxas, por dentro da saia, mandando fogo por suas veias.
Quando a mulher passou as unhas bem fraquinho pelo rabo do dragão, que dava a volta na cintura dele e terminava no seu abdômen, o toque suave passou a agarrá-la, mas ele a soltou quase que de imediato e pediu desculpas:
— Eu não quis…
— Eu gostei. — Admitiu, envergonhada. Ele se afastou o suficiente para encontrar seu olhar, inclinando a cabeça de lado. — É diferente com você. É bom.
— E depois sou eu que sempre digo a coisa certa — murmurou, tomando sua boca mais uma vez.
Com uma confiança recém construída, se jogou no beijo com tudo de si, mãos correndo sobre músculos como se quisesse gravá-lo na memória, arquejos escapando por conta das carícias em suas coxas. O calor dentro dela cresceu e se espalhou, e quanto mais ela sentia, mais precisava. Seus quadris se moveram por conta própria contra os dele em busca de fricção, e ambos soltaram gemidos sôfregos.
— Posso? — Shoto imitou sua pergunta de antes, soltando suas pernas para puxar a malha.
— Uhum. — Assentiu, a necessidade falando mais alto que qualquer outra coisa.
Ele se afastou para remover a peça, mas seu olhar estava fixo no seu rosto até ela lhe dar permissão para olhar. Não estava usando uma blusa, então agora a única coisa cobrindo seu peito era o sutiã de renda — um bonito que Aimi a convenceu a comprar e usar, mesmo que ninguém fosse ver. Olhos bicolores absorveram lentamente sua figura, adoração clara como a luz do dia neles.
— Você é linda. — Shoto soltou, as mãos começando na cintura dela.
Esperou outro aceno de cabeça antes de se mover, primeiro subindo pelas costas, depois descendo, e então indo para seu peito. Olhos se fecharam com os toques leves como pena que a excitavam mais do que ela achava ser possível. Se assustou com o gemido ofegado que lhe escapou quando ele cobriu seu seio sobre o tecido, mas o homem parecia querer mais daquilo. Correu os dedos por seus mamilos, massageou seus seios, distribuiu beijos por seus ombros, qualquer coisa para lhe arrancar mais sons como aquele.
Quando não conseguia aguentar mais, o puxou pelo cabelo para trazer seus lábios até os dela. Uma de suas mãos voltou à sua perna, acompanhando o limite da sua calcinha na junção da coxa com o quadril. Ela estremeceu e, quando ele combinou isso a um pouquinho mais de pressão no seu seu mamilo, choramingou:
— Mais.
— Gosta quando eu te toco desse jeito, bebê?
A pergunta a pegou de surpresa, assim como o tom quente que tomou sua voz. Mas ela descobriu que até tinha gostado.
— Gosto, bolinho, eu gosto… — o arquejo cortou as palavras e o herói engoliu tudo com um beijo de tirar o fôlego.
— Deixa eu te mostrar mais.
O gemido se transformou em um “por favor”, e seus dedos desceram, a leve pressão fazendo os olhos dela revirarem. Ele a tocou por cima do tecido e seu corpo respondeu de imediato, ondulando contra ele em uma busca desesperada por mais. Shoto a foi estimulando, o prazer arrancando arquejos e gemidos da sua garganta. Ela não conseguia lembrar a última vez que tinha se sentido tão bem, se é que já tinha.
Ondulou os quadris contra seus dedos, precisando de mais pressão, e ele estava mais que feliz em conceder. Plantou uma trilha de beijos pelo seu pescoço, correndo os dentes de leve sobre a pele dela.
— Deixa eu te ouvir, .
— É tã-tão bom, Sho.
— Quer mais?
— Sim! — Em resposta, o rapaz puxou a calcinha dela de lado e a penetrou apenas com a ponta do dedo, o polegar massageando seu clítoris. A mulher enterrou as unhas nos seus ombros, precisando de algo para se ancorar, qualquer coisa, porque o prazer era muito para ela.
— Assim mesmo, bebê. Você ta indo bem. — Foi mais fundo e ela choramingou, a voz grossa meio sussurrada em seu ouvido fazendo arrepios descerem por sua espinha.
Ele começou a fazer um lento vai e vem com seu dedo, os múltiplos pontos de estímulo fazendo um nó se apertar em seu âmago.
— Sho- Shoto, eu…
— Gosta disso?
— Muito… eu… puta que pariu! — A última palavra saiu arrastada, o orgasmo a abalando.
Os lábios dele encontraram os dela enquanto era tomada pelas ondas de prazer, os outros movimentos dele perdendo velocidade para deixá-la recuperar o fôlego. Quando sentiu que conseguia falar de novo, os dedos dele não mais na sua buceta, se afastou para olhá-lo e encontrou um Shoto muito Satisfeito a encarando de volta.
— Por… por que você…?
— Você faz os sons mais perfeitos — foi sua única resposta.
Se surpreendendo, a mulher estava longe de estar saciada. Ainda queria mais dele, queria dar mais de si, então levou as mãos às costas para abrir o sutiã. Os olhos dele se arregalaram um pouco.
— Tem certeza? — Respondeu retirando a peça e se levantando para tirar também a saia. Ela lutou contra o impulso de esconder a barriga enquanto os olhos dele percorriam seu corpo, apreciando os detalhes. Em seguida, ele se levantou também, entrelaçando seus dedos.
— Você não faz ideia de quão deslumbrante você é, bebê.
Sentiu suas bochechas queimarem com o elogio, ficando nas pontas dos pés para beijá-lo. jogou os braços em volta de seu pescoço enquanto Shoto circundou sua cintura com um braço, o outro muito ocupado removendo suas calças para chegar ao mesmo estado de nudez que ela. Ele chutou as roupas para longe deles, agora com as duas mãos na base das suas costas, mas essa nova posição não permitia a mesma proximidade de antes.
— Vai dormir aqui? — perguntou de repente, e demorou alguns segundos para ela processar.
— Eu... eu não sei. Por quê? — Ela franziu a testa. Por que ele estava perguntando isso? Ele não queria que ela ficasse?
— Eu gostaria que dormisse. — Demorou mais um momento antes que ela percebesse que a escolha de palavras soava estranha porque ele realmente estava perguntando, em vez de impor, lembrando-a das palavras de Aimi de que se importar com o consentimento dela mostrava o quanto ele a respeitava e se importava com ela. Ele queria que ela ficasse, mas a escolha era dela. Assentiu. — Podemos voltar pros nossos filmes depois? — Outra confirmação, e suas mãos passaram para seus quadris, agarrando-a e levantando a mulher. Ela gritou, travando braços e pernas ao redor dele para não cair, seu toque passando para a parte de trás das coxas.
— Shoto! Eu sou muito pesada, me põe no chão!
— Não parece pesada pra mim. — Ele começou a carregá-la de volta para o quarto.
— Sério, para de graça, vai machucar a coluna. — Sem diminuir o ritmo por um segundo, seu olhar encontrou o dela e ele não parecia estar fazendo muito esforço. — To falando sério. Posso te colocar no chão se você não gosta de ser carregada, mas seu peso com certeza não é um problema para mim. — Em seguida, após uma pausa, ele acrescentou: — de nenhum jeito.
desviou o olhar, envergonhada, metade dela insistindo que isso não era verdade. Era... incrivelmente difícil se livrar desses pensamentos, sair do buraco em que os últimos anos a colocaram. Era doloroso ver Shoto ter que trazê-la de volta tantas vezes em um período tão curto, e ela só podia torcer que ele não perdesse a paciência.
— Desculpa — murmurou, mas ele balançou a cabeça.
— Não precisa se desculpar. — Eles passaram pela porta. — Vou só te mostrar a verdade até você enxergar também. — Seu tom resoluto não deixou espaço para discussão, e, embora sua voz fosse suave, um fogo determinado queimava em seus olhos.
Ele a deitou na cama, iniciando uma trilha de beijos lentos em seu pescoço, depois descendo para seu colo. Isso fez maravilhas para distraí-la de suas inseguranças, a ternura de seu toque aquecendo seu coração. passou as mãos pelo cabelo dele com os olhos fechados.
— , — Shoto suspirou, e ela fez um som para mostrar que estava ouvindo. — Tem algum lugar que você não queira que eu toque?
— Eu… — ela parou para considerar sinceramente sua pergunta, imaginando suas mãos e lábios por toda a sua pele para tentar medir qualquer desconforto. Com a voz pouco mais alta que um sussurro, disse: — Não na minha barriga. Só… — Ela balançou a cabeça.
Era tudo o que ele precisava dela, e seus beijos reiniciaram, lábios seguindo em direção ao seu peito. Sua mão esquerda ficou na cintura dela, a direita subindo para cobrir um de seus seios enquanto sua boca cobria o outro. Um gemido lhe escapou quando ele lambeu seu mamilo, mão a massageando até ela estar tão sedenta por ele que quase duvidava que tinha acabado de gozar.
Quando Shoto se deu por satisfeito, se afastou para levar os beijos às suas coxas. Ele se sentou, sustentando seu olhar enquanto removia devagar o resto das roupas dela, como se estivesse abrindo um presente. Quando estava completamente nua, o homem se abaixou entre suas pernas, beijando a parte interna da sua coxa, e lambeu sua intimidade.
— Porra — sibilou, olhos revirando. Ele repetiu o ato, dessa vez gemendo contra ela, que teve que se esforçar para ficar parada.
— Você é deliciosa — murmurou. Um dedo gelado deslizou para dentro dela com facilidade, estocando enquanto a boca de Shoto se fechava em seu clítoris. Ela enterrou as unhas em sua nuca, enlouquecendo com as sensações.
— Shoto! — exclamou ao sentir um segundo dedo em sua entrada. Ele se afastou só um pouco, beijando a pele delicada da sua coxa.
— Devo parar?
— Não! — Ele riu, continuando. — Sho, por favor… — A essa altura, ela não conseguia formar pensamentos coerentes o bastante nem para saber exatamente o que estava pedindo. Por sorte, ele pareceu entender mesmo assim.
Subiu para pressionar um beijo casto em sua boca, sua mão esquerda desaparecendo de seu quadril. Ele se afastou e levantou para tirar a cueca, mas não se deitou por cima dela. Em vez disso, Shoto deitou ao seu lado, sorrindo suavemente para a expressão confusa. Suas mãos encontraram sua cintura mais uma vez e ele os girou para que ela ficasse por cima dele, montada em seus quadris.
— Você tá no controle — sussurrou, só então deslizando a camisinha sobre seu membro.
Respirando fundo, ela se inclinou para envolver uma mão em torno da base dele, fazendo-o inspirar bruscamente, e deslizou ele para dentro de si, centímetro por centímetro. O rapaz segurou seus quadris, dando-lhe apoio, mas seus dedos tremiam com o esforço para ficar parado. O único som no quarto era a respiração pesada deles até que ela finalmente se sentiu capaz de se mover, ambas as mãos apoiadas no abdômen de Shoto.
— Puta merda — soltou entredentes, ondulando seus quadris.
— Olha pra mim, bebê — chamou ele, voz rouca de prazer. Suas mãos agarravam a bunda dela, guiando seus movimentos de um jeito delicioso.
Foi difícil abrir os olhos, mas Deus, ela ficou feliz de ter conseguido. O fogo nas íris bicolores, o jeito que sua expressão se contorcia de prazer, a faziam sentir linda e poderosa. Seus olhares permaneceram um no outro quando ela começou a cavalgá-lo, qualquer pensamento que não fosse aquele momento apagado de sua mente. enterrou as unhas na pele dele, os sons que escapavam de seus lábios a incentivando conforme se aproximavam cada vez mais do ápice. Ele começou a encontrar suas estocadas no meio do caminho, os movimentos se tornando mais rápidos e erráticos enquanto perseguiam seu prazer, perdidos um no outro.
— … — gemeu, revirando os olhos. — Quero sentir-porra! Quero sentir você gozar no meu pau, bebê. — Sua única resposta foi um gemido arrastado, e logo ambos estavam chegando às estrelas, seus orgasmos os atingindo quase ao mesmo tempo.
Ela desabou em seu peito, cansada mas saciada, e muito feliz. A mulher conseguia ouvir o coração dele batendo tão rápido quanto o dela, suas mãos se movendo preguiçosamente pelas costas dela enquanto tentavam recuperar o fôlego.
Vários minutos se passaram no confortável silêncio daquele momento, o casal desfrutando de estar nos braços um do outro, até que Shoto suspirou.
— Peraí. — Ele os girou na cama, levantando-se e deixando a mulher sozinha. Ela franziu o cenho, bilhões de possibilidades passando por sua cabeça nos poucos segundos que ele levou para retornar, o preservativo fora de vista quando ele voltou para a cama e a puxou para perto de seu peito. — Assim ta melhor. — Depois de outro intervalo de silêncio, falou novamente: — Sabe, talvez você deva deixar o resto das suas coisas aqui.
— O que você quer dizer? — Ela inclinou a cabeça para encontrar seus olhos e ele soltou um pequeno sorriso.
— Você vai morar com a Aimi agora, e eu acho isso ótimo. Mas você podia ter umas coisas aqui também. Daí pode ficar sempre que quiser.
— Você quer que eu fique?
— Eu quero que você reconstrua sua vida. Aprenda de novo a estar no controle, a ser livre, a ser feliz. Eu sei que você precisa do seu próprio espaço para isso. — Ele deu de ombros. — Mas gostaria de estar ao seu lado durante o caminho.
— Também gostaria que estivesse aqui. — Ela ouviu o coração dele dar um salto antes da próxima frase sair de seus lábios.
— Como seu namorado? Se não for cedo demais. — Acrescentou hesitante.
não pôde evitar o sorriso que se espalhou por seus lábios.
— Eu adoraria. — Ela afastou as mechas de cabelo dele dos olhos, acariciando seu rosto. O casal permaneceu assim pelo resto da noite, enroscados um no outro e aproveitando seus novos papéis.


❄️

Quatro meses depois

— Tem certeza, bebê?
Ela respirou fundo, depois assentiu.
— Tenho.
Ele respondeu sentando-se no banquinho ao lado dela e oferecendo-lhe a mão, que ela prontamente segurou.
nunca foi tão feliz. Ela estava feliz em seu emprego, sua amizade com Aimi nunca esteve tão forte, ela havia acabado de começar a faculdade, e seu relacionamento com Shoto estava melhor do que tudo o que ela poderia ter sonhado. Claro, eles tinham problemas de vez em quando, mas sempre conseguiam superá-los. Ela também estava recuperando mais de si mesma a cada dia, deixando as cicatrizes de seu passado para trás de forma lenta, mas constante.
Aquele dia era exatamente sobre isso. Ela estava retomando a posse de seu corpo. Nunca tinha realmente pensado em fazer tatuagens, mas parecia certo, e teria Shoto ao seu lado o tempo todo.
— Posso começar?
— Vá em frente.
O processo levou algumas horas. A mulher estava tatuando uma Medusa sob os seios, a obra de arte detalhada enquadrando suas curvas. Não foi nada confortável, mas doeu menos do que ela esperava, e ficou impressionante quando terminou. Ela não conseguia parar de sorrir ao se ver no espelho, mesmo que isso chamasse a atenção para a sua barriga.
— E onde você quer a sua? — Ouviu a tatuadora dizer e virou-se, surpresa.
— Também vai fazer uma tatuagem, bolinho?
Ele ofereceu a ela um pequeno sorriso.
— Uma pequena, vou.
Ela estreitou os olhos para ele, sua expressão indicando que ele estava aprontando alguma coisa, mas não disse nada. O herói tirou a camisa também, sentou-se na cadeira onde ela estava antes e apontou para o coração.
— Aqui — foi tudo o que ele disse.
Ela apenas olhou de um cliente para o outro, um pequeno sorriso aparecendo em seu rosto antes de se inclinar para trazer a agulha ao peito dele. Levou apenas cerca de 5 minutos até a pata estar gravada em sua pele, fazendo com que a garganta de sua namorada se fechasse.
— Você é tão clichê. — Ela soltou uma risadinha e ele encolheu os ombros, levantando-se. Shoto entrelaçou os dedos deles e beijou o topo de sua cabeça.
A Individualidade da artista fez com que suas tatuagens já estivessem cicatrizadas quando saíram do estúdio, o que foi ótimo, porque o herói tinha um evento de gala naquela noite e ia levar como acompanhante.
— Tenho uma coisa pra você.
— Sério? Outra surpresa? — Ela arqueou uma sobrancelha enquanto eles guardavam os capacetes.
— Sim. Tá lá em cima.
Ela ia se arrumar no apartamento dele para o baile, e estava realmente nervosa com isso. E se o vestido dela não fosse apropriado? E se não estivesse arrumada o suficiente? Ela não queria envergonhar Shoto ou a si mesma.
Deixando de lado essas preocupações por um momento, eles pegaram o elevador e entraram no apartamento. Havia uma grande caixa na mesa, que parecia muito com uma caixa de boutique.
— Sho…
— Tava preocupada com o que vestir esta noite. Eu te arranjei uma alternativa. — Deu de ombros simplesmente.
soltou a mão dele para abrir a caixa, revelando um veludo azul claro. Ela levantou o vestido, segurando-o diante de si, e era deslumbrante. O decote provavelmente era baixo o suficiente para mostrar um pouquinho da tatuagem, seguido de uma estrutura estilo corpete e uma saia reta com uma fenda bem alta. Era lindo e muito mais sofisticado do que o vestido que ela tinha. Shoto a abraçou por trás.
— Gostou?
— É lindo.
— Por que não experimenta?
— Tem certeza de que vai servir em mim?
— Aimi me ajudou com o tamanho.
— Então vocês dois fizeram isso pelas minhas costas, hein?" Ela riu, virando a cabeça para encontrar o olhar dele. — Vamos ver se você tá certo.
Ela entrou no banheiro, tomou um banho rápido e experimentou o vestido. Era verdadeiramente deslumbrante, ajustando-se perfeitamente às suas curvas. O veludo caía na saia e a fenda quase até o quadril a fazia parecer mais alta.
— O que acha? — perguntou, voltando para o quarto.
— Acho que vou ter que exercitar meu autocontrole a noite toda. — A mulher corou levemente, desviando o olhar. Ele entrelaçou os dedos deles e beijou as costas de sua mão. — Você parece uma deusa.
Ele a puxou para um beijo de tirar o fôlego, mas ela não permitiu que continuasse por muito tempo.
— Vamos nos atrasar.
— Tenho certeza que ninguém se importaria.
— Shoto — advertiu, recebendo um suspiro brincalhão.
— Tá bom.
fez o cabelo e a maquiagem enquanto ele se arrumava e, em seguida, desceram para o carro.
O evento estava lindo e correu sem problemas, apesar de seus medos. Ela estava muito nervosa de estar em um ambiente tão público, mas acabou que a maioria dos amigos de Shoto que ela já conhecia estavam lá, e, além dos paparazzi na porta da frente, era apenas um jantar muito chique. O casal dançou a maior parte do tempo e ele mal a deixou sozinha.
Saíram para uma sacada mais tarde à noite, querendo um pouco de ar fresco.
— Você tá bem? — perguntou, passando o braço ao redor de sua cintura. — Sei que é muita coisa.
— É diferente, eu diria. Mas não é ruim. Eu podia me acostumar com isso. — Ela o abraçou de volta.
— Nunca me acostumei. Não de verdade. Mas fica mais fácil com boa companhia. — Sorriu. Ambos se inclinaram para o beijo ao mesmo tempo, dando vazão ao desejo que estavam contendo. As mãos dela deslizaram para as mechas bicolores e ele apertou sua cintura, movendo os lábios para seu pescoço quando precisaram respirar. — Talvez você possa vir a todos os eventos comigo daqui pra frente.
— Tem certeza? Não vai enjoar de mim?
— Duvido. Eu te amo. — Seu coração pulou uma batida com aquelas palavras e ela se afastou para encontrar seu olhar. Seus lábios exibiam um sorriso doce, mas havia certa preocupação em seus olhos. Ele nunca tinha dito aquilo antes.
— Você… — engoliu o nó na garganta. — Você vai acabar com a minha maquiagem. — Soltou um riso choroso, olhando para cima e piscando várias vezes.
— Desculpa — murmurou, murchando um pouco com a reação dela. encostou a testa na dele, fechando os olhos.
— Eu te amo — sussurrou contra sua boca e o beijou outra vez, o sorriso aliviado dele perceptível. Ele abraçou sua cintura e a girou, ambos soltando risinhos extasiados.

Nota da autora: Sem nota.

QUER FAZER UMA AUTORA FELIZ? DEIXE SEU COMENTÁRIO AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.