capítulo um: right
I could feel the mascara run
You told me that you met someone
Glass shattered on the white cloth
Everybody moved on
You told me that you met someone
Glass shattered on the white cloth
Everybody moved on
“ e terminaram."
Meu comentário distraído fez engasgar com o talharim que comia de maneira estranhamente silenciosa durante os últimos quinze minutos. Arqueei a cabeça, tão alarmada quanto surpreendida, pronta para descruzar as pernas e pular nele, gritando por ajuda. Todavia, meu namorado não estava azul ou cuspindo massa na mesa, apenas vermelho e levemente ofegante.
"Tudo bem?"
"Tudo." Balançou a cabeça, agarrando o copo d'água ao seu lado e perguntando antes de levá-lo à boca: "O que aconteceu?"
Dei de ombros, voltando a focar no penne em meu prato com um suspiro desanimado. Embora acreditasse fielmente que nossos melhores amigos iriam voltar, tinha plena consciência de que ambos estavam sofrendo agora, principalmente . Pelo que disse, ela quem colocou um ponto final. Tinha que conversar com eles depois. "Não sei. A disse que não dava mais. Talvez ele tenha voltado a beber."
pigarreou, dando de ombros. "Ou talvez só não desse mais."
"As pessoas não terminam só porque não dá mais, ." Respondi em tom de zombaria, largando o garfo prateado para encará-lo. Deus, eu nunca deixaria de perder o fôlego com o seu rosto perfeitamente moldado para mim: as sardas quase difusas em seu nariz, o qual tinha uma pequena dobra que só o tornava mais másculo, seu cabelo cor de ouro, seus lábios que sempre pareciam saber onde eu queria ser beijada, e seus olhos cor de jardim. Olhar para era como me apaixonar de novo e de novo, aquele tipo de sentimento que achamos só existir em Hollywood depois que se tem um coração perfeitamente bom quebrado pela primeira vez. Ele me olhou de volta com as sobrancelhas arqueadas, questionando silenciosamente o que eu tinha dito. "Sempre tem um motivo. Não existe essa de acordar e simplesmente não estar mais apaixonado. Tem que ter uma razão."
"Eu não acho." balançou a cabeça, "Às vezes, as pessoas só mudam de ideia, não temos controle dos nossos sentimentos." Antes que eu pudesse prosseguir meu argumento, sua mão segurou a minha sobre a mesa. ", você sabe que eu te amo, não é?"
"Sei?" A resposta soou mais como uma pergunta do que qualquer coisa, embora o carinho que ele espalhava com o dedão na minha palma fosse o suficiente para acalentar minha curiosidade do porquê ele estava trazendo à tona isso em meio a um assunto tão soturno. "Claro que sei, ."
"E eu sempre vou te amar." Suas orbes esverdeadas brilhavam e reluziam debaixo da luz tênue, no lugar que era nosso naquele restaurante desde o ensino médio. Bem onde tivemos nosso primeiro encontro, onde tivemos nossa primeira discussão, e onde me pediu em namoro alguns anos e lágrimas atrás. Ele iria...? ia me pedir em casamento! O olhar terno que me lançava, o nosso lugar, o nervosismo que ele demonstrou desde que sentou na mesa. Puta que pariu. Como eu não vi os sinais antes? Fazia todo o sentido. Por isso ele parecia distante ultimamente. "Mas a gente tem que terminar."
Sei que na maioria das vezes, quando algo dessa magnitude está prestes a acontecer, os romancistas descrevem suas emoções estrondosas como o coração pulou uma batida ou uma onda de adrenalina atravessou todo corpo, todavia, esse não era o caso aqui. Meu cérebro não havia enviado um pingo do hormônio milagroso através da minha corrente sanguínea, e o músculo na minha caixa tóxica não era a única coisa parada: todo o meu corpo congelou, e eu juro que era possível ouvir um grampo de cabelo cair bem quando eu senti o momento parar, naqueles meros segundos que duraram o tempo de uma vida.
Queria dizer que ouvi um barulho, seja ele os pratos batendo ou o da minha alma quebradiça partindo-se em um milhão de pedacinhos. A gritaria corriqueira da cozinha, ou das conversas que rapidamente envelheciam entre os clientes, até mesmo compreender o que a boca de estava declamando. Eu tentei desesperadamente formar uma frase, uma palavra sequer, ainda assim parecia impossível. Nem mesmo seu aperto em minha mão, que ele devia achar ser reconfortante em certo ponto, me fez sentir qualquer coisa além de um oco com ecos gelados, tal qual uma cena pausada na televisão.
Todo o meu esforço parecia ser empurrado apenas para me ajudar a entender o que estava acontecendo.
Eu conseguia sentir o rímel correndo pelas minhas bochechas, lágrimas pesadas pela tinta pintando minhas bochechas, mas, se alguém me dissesse que estava chovendo no meu rosto dentro do restaurante, eu acreditaria nessa hipótese como um devoto acredita em um versículo. Parecia mais inteligente, mais real crer que alguma coisa externa estava acontecendo. Quem sabe, aquele era o modo do meu corpo se proteger do baque, igual a ursos que dormem ao invés de passar fome no inverno. Ou era uma idiotice, um daqueles erros que nosso organismo comete vez ou outra, como nos convencer de tirar a roupa quando estamos prestes a entrar em estado hipotérmico.
Uma puta de uma avalanche em um dia ensolarado; eu estava sem preparo, sem alento, e assustada demais para compreender que sentia frio.
"Eu não te traí, eu nunca faria isso com você ou com a gente. Mas eu conheci alguém." E foi como em um passe de mágica, enrolado com uma ironia clássica: o mesmo homem que me obriga a parar diz o feitiço perfeito para que eu reaja. No tempo de um segundo, minhas pálpebras piscaram e eu me movi, puxando minha mão para longe do seu aperto. Aquelas palavras queimavam como uma blasfêmia no altar das nossas promessas. O movimento brusco causou o primeiro chiado que chegou aos meus tímpanos: vidro da taça com vinho tinto debruçado e estilhaçado sobre a toalha de mesa branca. levantou com rapidez e eu empurrei a cadeira para longe da mesa em um reflexo momentâneo que veio a calhar. Sua feição se contorceu em preocupação à medida que ele se aproximava de mim. "Droga, . Você está bem? Se machucou?"
"." Quando suas mãos seguraram meus braços, examinando-me apressado em busca de alguma ferida externa, o nome dele escapou em um murmúrio pelos meus lábios, englobado em um tom choroso que era reservado por anos para instantes de prazer e não de pesar. Aqueles olhos que nunca tiveram que me ver chorar fixaram-se em mim e eu não pude evitar estudar seus traços, procurando por qualquer indício que apontasse o oposto do que ele havia dito. Contudo, o mesmo rosto que se deitou no travesseiro ao lado do meu por anos estava seco de amor, desprovido de qualquer coisa que não fosse culpa. "Por quê?"
O menino de olhos verdes simplesmente deu de ombros, franzindo o cenho igual a quem diz eu não sei; eu não sei o motivo de trocar de ideia, de não te amar, de ir. Como porra o cara que dizia me amar podia estar tão dormente ao fato de estar disposto a me despedaçar?
"Eu sinto muito, . Eu só espero que você possa me perdoar um dia." Ele murmurou com um sorriso vazio de qualquer felicidade. Aguardei a raiva, a tristeza, a aceitação, qualquer sentimento que se dispusesse a sentar naquela mesa comigo. Entretanto, o único tangível que se aproximou de mim era , seus dedos afundando nos meus braços, enquanto ele proclamava um beijo de despedida na minha testa, a mesma audácia que um cachorro tem de deitar em um sofá que ele estraçalhou. "Eu te amo. Sempre. Me desculpa."
Então, tão rápido quanto ele tinha entrado na minha vida, foi embora.
Ele me deixou.
capítulo dois: where
Did you ever hear about the girl who got frozen?
Time went on for everybody else, she won't know it
She's still twenty-three inside her fantasy
How it was supposed to be
Did you hear about the girl who lives in delusion?
Breakups happen every day, you don't have to lose it
She's still twenty-three inside her fantasy
And you're sitting in front of me
Time went on for everybody else, she won't know it
She's still twenty-three inside her fantasy
How it was supposed to be
Did you hear about the girl who lives in delusion?
Breakups happen every day, you don't have to lose it
She's still twenty-three inside her fantasy
And you're sitting in front of me
Setembro, 2005
"E aí, meninas." despejou a mochila na mesa e se jogou no espaço ao lado de e na minha frente em seguida. Quase suspirei de alívio com aquela distância. "Cadê o seu namorado, ?"
"Ele não é meu namorado." Minha melhor amiga semicerrou os olhos, fazendo-me rir em escárnio diante a sua negação escancarada, o que me custou um olhar fulminante. e eram um problema ambulante: garota com pânico de relacionamentos, adicionando um cara imaturo e meio doido por controle, que nunca parava em uma garota e sempre achava que podia lidar com tudo, enquanto minha amiga preferia só ir embora quando as coisas complicavam. Ainda assim, eles nunca se desgrudaram. "Mas respondendo a sua pergunta, ele teve aula de educação física no último horário. Daqui a pouco ele aparece. Aliás, volto já."
"Vai onde?" Arregalei os olhos quando ele fez menção de perguntar, implorando para minha amiga não permanecer à mesa. Estar sozinha com não era uma situação para a qual eu estava preparada depois da festa de Betty.
"No banheiro. Quer me ver fazendo xixi, por acaso?"
"Grossa." franziu o cenho e mostrou a língua para , que retrucou com um rolar de olhos.
"Pateta."
Crianças. Eu estava cercada por crianças.
Ignorando as discussões supérfluas corriqueiras dos dois, enfiei a mão na minha bolsa e agarrei o exemplar de Os Sertões. A comida sempre demorava em torno de vinte minutos, sem contar que ainda tínhamos que esperar o chegar, logo, dava tempo de ler algumas páginas. E, de quebra, não comprometer a minha sanidade com sentado ali.
Sem qualquer precedente, o livro foi arrancado das minhas mãos. Na boa, eu devia ter me tornado um vilão de desenho animado sem nem saber, só pode. Toda vez que eu planejava algo esse ano, outra coisa interrompia.
Ah, a beleza do ensino médio.
"Você tem que relaxar mais, sabe?" O garoto de olhos verdes desviou a atenção das páginas para mim.
"E você sabe que é ano de vestibular, né?" Bufei, inclinando-me sobre a mesa para roubar meu pertence de volta, todavia, ele fez questão esticar o braço, fazendo o livro ficar ainda mais longe. ", vai se pegar com uma das suas namoradas do mês e me deixa."
lambeu os lábios antes de me entregar o livro. "Você é a única que eu quero pegar."
"Que romântico." Ri irônica.
"Eu não quis dizer isso." Ele balançou a cabeça, aparentando frustração. Seu olhar concentrado apenas no meu rosto, fazendo-me segurar o fôlego sem nem ao menos notar. Era aquele tipo de olhar que as pessoas reservavam para obras de arte, e ele estava me dando em um velho restaurante. Onde estava a minha melhor amiga quando eu precisava dela? Ela tinha se afogado no banheiro? "Aquele beijo…"
Interrompi-o antes que dissesse algo de que nós dois iríamos nos arrepender, alcançando o clássico literário sobre o nordeste de volta. "A gente estava bêbado."
"Então, deixa eu te beijar sóbrio. Deixa eu te beijar drogado. Deixa eu te beijar no meio dessa cantina na frente desse bando de idiotas. Deixa eu te beijar na sala, embaixo da mesa com as luzes apagadas. Deixa eu te beijar na hora da saída." apoiou os antebraços na mesa, tão imerso em mim quanto eu estava nele. Minhas unhas fincaram na capa do livro, à medida que eu me inclinava para ele inconscientemente, assim como . Eu queria sentir o beijo dele de novo, o seu toque na minha pele, o calor do seu corpo. "Não importa, só me deixa te beijar de novo, , porque eu não consigo parar de pensar em você."
Janeiro, 2006
"Incrível, né?" forçou um sorriso que o fez parecer um maníaco. Era claro como o lustre extravagante dentro daquele restaurante que ele estava apreensivo, apontando ao redor do restaurante e puxando a gola do paletó a cada segundo. Eu meio que queria bater nele. "As flores são cheirosas."
"Sim, está tudo ótimo." Respondi, arqueando as sobrancelhas e assentindo em concordância. Talvez aquele comportamento incomum fosse só o nervosismo do primeiro encontro. Afinal, nos conhecíamos há anos por conta da , a gente se pegava pelos corredores da escola e nos jardins das festas há meses, mas não era o mesmo que sair a dois.
"Você está linda." Por um momento, vi um lapso do que gostava naquelas palavras. A feição relaxada, sua mão que agilmente achou a minha e entrelaçou nossos dedos, acompanhado por um sorriso irritantemente incrível, rodeado por lábios ainda mais chamativos.
"Obrigada. Você não está nada mal. Você sabe, pra um boboca." Pisquei e ele riu, um pouco alto demais para o gosto dos ricaços divididos pelas mesas do restaurante, que nos encheram de encaradas reprovadoras. Eu ri, mas logo nossas gargalhadas leves foram substituídas por notas de piano suaves.
"Música maneira. Deve ser Beethoven." comentou, soltando a minha mão.
"É? Você escuta música clássica?"
Ele escarneceu: "Claro que escuto. Eu sou culto."
Vestindo um sorriso divertido nos meus lábios pintados de vermelho, questionei: "Que sinfonia é essa?"
"A segunda?" Ele franziu o cenho, limpando a garganta e pegando o cardápio. "Acho que vou pedir um rolinho de pato ao molho de escargot."
"Tá bom, chega." Grunhi, fechando o menu em suas mãos e prosseguindo, apesar da sua expressão confusa. "Você me trouxe nesse lugar super chique, mal olha pra mim, me deu flores, citou Beethoven que eu sei que você nunca ouviu e está prestes a pagar a um prato ridiculamente caro que tem escargot no nome. O que tem de errado com você?"
Ele suspirou, evitando me olhar. "Achei que você queria algo assim."
", você é o cara que me tira do sério desde sempre. Eu te conheço e você me conhece. Eu sei que você odeia pato e ama carne. Você sabe que eu odeio flores e gosto de lugares que dê pra gente rir alto. Eu quero ir para onde nós dois somos a gente, não importa se vai ser no banco de trás do seu carro, em um restaurante chique, ou no Drive-Thru do McDonald’s com o e . Eu não vou mudar só porque gosto de você, e nem quero que você mude, senão nem vamos saber de quem estamos gostando."
Tudo que ele me ofereceu de volta foi seu sorriso ladino de praxe, e aquilo era mais do que suficiente naquele momento. "Você gosta de mim, é?"
"Não acredito que foi isso que você absorveu do meu mini discurso." Balancei a cabeça, tentando não reparar no calor em minhas bochechas. Deus abençoe minha pele amendoada que não deixaria o rosado se destacar. "Cala a boca."
"Eu gosto de você também." Ele se inclinou, colocando um beijo carinhoso na minha têmpora. "E sei onde podemos ir."
"E esse lugar seria...?"
"Surpresa. Eu te mostro." piscou, abocanhando um dos pães quentinhos na mesa. "Quando terminamos de comer esses pãezinhos, porque eles são bons pra caralho."
", acho que a gente teria que jantar aqui para poder comer os pães de graça."
"Isso é uma regra?" Ele perguntou com a boca cheia e eu ri com divertimento.
"Meio implícito." Franzi o nariz ao responder, estudando seu rosto enquanto ele parecia pensativo.
" , você me daria a honra de fugir comigo se eles viessem atrás de mim?" pegou mais um pãozinho e o ofereceu para mim.
Não pude deixar de balançar a cabeça com a melhor incredulidade possível. "Só se você me deixar ser a pilota de fuga, senhor ."
É claro, ele me levou para o Olivia Garden depois, o nosso restaurante.
Novembro, 2008
"A disse que vai rolar a festa na casa de praia." Sentei à mesa, sinalizando uma garçonete conhecida com um sorriso amigável. Lavínia acenou em resposta, indicando que já iria nos atender "Me pediu pra te dizer para organizar o álcool com o ." prosseguiu quieto. "Acho que minha mãe deixa eu dormir lá."
Apesar da minha insinuação, ele simplesmente respondeu, ou melhor, resmungou um sonoro: "Tá."
", qual seu problema?"
"Nada."
"Aham. E eu sou a Meredith Grey."
Suas palavras, assim como as minhas, apareceram banhadas em sarcasmo. "Ela teve dois namorados também, não teve?"
"Primeiro, eu disse que a série era legal. E você não dormiu, estava assistindo." Sorri prepotente, porém continuou esbanjando uma carranca e evitando me encarar. "Segundo, que história é essa?"
"Pergunta pro James."
Não acreditava que estava com ciúmes daquilo. Sim, James estava mais próximo a mim nos últimos dias, mas não passavam de conversas platônicas.
"Sério? Ele tem namorada."
"Isso nunca parou ele antes." pontuou, referenciando a traição que ele havia feito com Betty e August no verão passado. Um dos diversos motivos para e não suportarem o garoto. É, ele era babaca. "Ele queria ficar com você desde aquela festa, agora até te chamou pra ir na casa dele depois da aula. Qual é, ."
"Você está com ciúmes?"
"Não." Ele bufou, visivelmente desconcertado com a minha pergunta. Arqueei as sobrancelhas. "Não. Talvez… Sim. Ah, nem vem."
Aquilo era adorável. Tudo bem, eu sou feminista, e acredito com veemencia que não pertenço a alguém. Ainda assim, assistir , o cara que usou uma camisa dizendo ‘World’s Greatest Lover’ no primeiro dia de aula do ensino médio e estava sempre dando em cima de uma garota diferente, demonstrar ciúmes era algo inédito. Um sorriso largo fez-se presente no meu rosto sem que eu sequer tentasse, nem pensei em escondê-lo.
"Ele me pediu ajuda em matemática." Expliquei. Apesar dele não ter perguntado detalhes, quis dizer.
finalmente virou a cabeça, mirando suas orbes esverdeadas em mim. "Você é péssima em matemática."
"Eu sei." Soquei seu ombro de brincadeira, arrancando uma risada dele. "E foi isso que eu disse a ele. E ainda disse que meu namorado chato, ciumento, dengoso, gato e inteligente que me ajudava com o dever."
"Vai me dar fama de nerd." beijou minha clavícula, descendo para salpicar pequenos selinhos pelo meu pescoço, um milhão de pequenas correntes elétricas eram enviadas pelo meu corpo. "Se ele vier com esse papinho de novo, vou socar ele."
"Não vai precisar." Alcancei sua mão embaixo da mesa, descansando-a sobre a minha perna desnuda por conta do vestido. "Além disso, posso pensar em coisas mais interessantes para fazer com a sua mão."
Outubro, 2010
"Olha, você estudou tudo que tinha pra estudar, só relaxa." arriscou algumas palavras para me tranquilizar depois de fazer o pedido, todavia, aquilo não era suficiente. Os professores dizem que você deve relaxar no dia antes de uma grande prova, mas e se eu pudesse estar lendo um parágrafo, ou decorando uma fórmula que iria me permitir ganhar o ponto decisivo para entrar em alguma das faculdades escolhidas? "Respira, você vai conseguir."
Suspirei frustrada, gesticulando com as mãos. "E se eu não conseguir?"
"Aí, a gente tenta de novo." disse simplesmente. "E de novo, e de novo. Quem disse que você tem que acertar de primeira?"
"Eu disse."
Antes que pudéssemos continuar, Lavínia surgiu com nossos pedidos e aquele sorriso gentil de sempre, o qual eu e retribuímos de prontidão.
"As provas são amanhã, né?" Ela questionou, enquanto punha a mesa com o X-bacon gorduroso de , nossa porção de batata frita, uma coxinha e dois milkshakes.
"São sim, Lavis." Respondi, já que meu namorado estava ocupado demais babando pelo lanche. Dei um leve chute na sua perna para que recuperasse a atenção.
"!" Ele resmungou, antes de voltar à realidade. "São sim, Lavis. Um saco."
"Boa sorte." A garçonete desejou, terminando de colocar os molhos à nossa disposição. "Venham aqui depois da prova, vou preparar um petit gateau especial."
"Com certeza eu vou precisar disso." Choraminguei.
Lavínia esfregou meu ombro, sempre usando aquele modo de quem não tem uma preocupação no mundo e uma fé inabalável. Ela havia se tornado nossa amiga de tanto que visitávamos aquele restaurante. "Não se preocupe, . Vai dar tudo certo."
"É o que eu tô tentando dizer pra ela." cruzou os braços e se encostou na cadeira.
"Pois diga mais, porque parece que ela vai surtar a qualquer momento." Ela replicou audaz, causando um riso em mim e . Uma voz masculina esganiçou seu nome e a morena revirou os olhos. "Tenho que atender os clientes chatos. Qualquer coisa, podem me gritar." Respondemos com um obrigado. voltou a salivar pelo x-bacon e eu comecei a me encher de milkshake de nozes, ainda com a mente cheia de pensamentos barulhentos.
"Ei." O homem de olhos esmeralda me chamou, eu larguei o canudo e segurou minhas bochechas. "Não precisa esquentar a sua cabecinha linda, ok? De verdade. Não tem que conseguir de primeira, nem saber o que você quer fazer da vida nessa idade."
Essa era a coisa sobre , ele era o mais relaxado entre nós. Não no sentido de displicente ou algo do tipo, mas ele só deixava as coisas acontecerem naturalmente, não tentava apressar nada e se sentia confortável com isso. Mas, eu? Eu nunca deixava as coisas como estavam, cavando a cova antes mesmo de ter um corpo para enterrar. Minha mãe dizia que eu só tinha aprendido a andar para poder correr, e não dava para negar isso. Era mais do que só idôneo ou satisfatório ter alguém como ele para me acalentar nessas horas, mais para divino, doce e terno.
Ainda assim, essa diferença, em teoria e majoritariamente em prática boa, também me assustava vez ou outra. Afinal, perfeição não existe e combinações queimam uma atrás da outra, e se esse fosse o nosso caso? E se esses pontos paralelos se tornassem motivo de discussões? Nossa relação era tão brilhante, mas e se ela se tornasse um amor calamitoso? Aprendi tanto sobre ele, e ele sobre mim, e podia não ser o suficiente. Assim como o tanto que havia estudado para a prova mais importante da minha adolescência.
Como se lesse meus pensamentos nas entrelinhas da quietude, enrolou os braços ao meu redor, escondendo seu rosto no meu pescoço. Não dissemos nada por alguns segundos, assistindo o desenrolar do mundo à nossa volta com olhares vagos. Sua respiração calma contra a minha garganta abafando os ruídos do nosso restaurante e, ao contrário da lógica, me trazendo de volta a realidade. Apoiei o cotovelo em seu ombro, fazendo cafuné no seus cabelos curtos, um pequeno sinal de que estava tudo bem agora. aproveitou o carinho um pouco e depois se afastou, me dando um selinho. Imaginei que ele faria uma piada ou atacaria seu hambúrguer, sendo que ele apenas me encarou.
"." Sua voz proclamou meu nome com fragilidade.
“O quê?"
Ele passou a mão pelo cabelo e acenou. "Deixa."
", me diz." Procurei pela sua mão e apertei, tentando enviar algum conforto. encarou meus olhos, pressionando seus lábios juntos em uma linha.
Sua fala veio tão quieta quanto um murmúrio: "Eu acho que não quero mais medicina."
"O que quer, então?" Pisquei diversas vezes, mais por surpresa do que qualquer coisa. Sem dúvida, apoiaria em qualquer decisão, e achava bem melhor ele mudar de ideia nos quarenta e cinco do segundo tempo do que passar seis anos estudando.
"Artes cênicas." Um nossa surpreso escapou da minha boca. deu uma risada sem graça e balançou a cabeça. "É doideira, né? Esquece."
"Não, não." Disse prontamente, acariciando sua mão. Seja lá o que fosse fazer, eu sabia que ele teria sucesso. Sentia isso nos meus ossos, e sempre o apoiaria. "Eu te apoio totalmente. Até já posso imaginar você nessa tv."
"Sério?"
"Sério." Seu sorriso mistificante se refletiu na minha expressão. "Eu acredito em você. E estou super orgulhosa." Beijei os nós dos seus dedos, depois sua bochecha e a ponta do seu nariz. me puxou para mais perto, aquele perfume único me mantendo no seu colo. Adicionei: "E tenho certeza que seus pais também vão."
"Eu te amo tanto, ." Descansei a mão em sua bochecha e ele se inclinou ao meu toque.
"Eu também te amo, ." Ele esmagou sua boca contra a minha, tudo parecia tão certo, como deveria ser.
Outubro, 2012
Era fatalmente peculiar.
"Senhora, com licença."
Não existia, na minha língua materna, uma maneira poética ou bela para descrever aquele exato instante. O homem que eu amei por tanto tempo havia ido embora a passos leves, usando as botas marrons com as quais eu o tinha presenteado no natal passado. simplesmente escreveu em mim todas as suas dedicatórias, me manchou com as suas digitais e me arrancou de si, amassando e arremessando o papel que eu tinha em sua vida no chão, sem nem se importar em procurar a lata de lixo mais próxima.
"Senhora, pode levantar os pés pra que eu possa varrer?"
Sendo que ele não me rasgou; palavras, marcas, rasuras, tudo ainda estava no rascunho descartado. Eu ainda lembrava de tudo, especialmente das memórias esparramadas por cada lugar do nosso restaurante, da primeira vez que viemos aqui até o momento que ele atravessou aquela porta de vidro, realizando um ótimo trabalho em fazer parecer que me deixar era tão fácil quanto simplesmente andar alguns passos despreocupados. E ainda assim, eu não era capaz de me relacionar com o pesar, a ansiedade, ou a crise que vem depois de perder alguém que você ama sem qualquer aviso prévio.
Eu fiquei lá, com meu rabo de cavalo acumulando poeira, de pernas cruzadas sob a luz tênue, encarando a cadeira vazia de como se ainda tivesse uma história ali. Bem, todo mundo sabe que, quando uma pessoa se vai, o que ela deixou para trás é passado. Mas, e quem fica? Devemos só seguir com nosso dia? Fingir que a decisão também foi nossa? Ou o mais seria aceitável surtar? É possível só parar por um instante para recuperar o fôlego?
Não possuo essa informação, infelizmente e tristemente, talvez até fatalmente. De qualquer maneira, eu fazia um bom papel de passado, petrificada e estancada no tempo, tentando não prestar atenção nos olhares de pena dirigidos a mim.
"Senhora, já pode pisar no chão, está limpo. Só vou buscar uma nova toalha de mesa, tudo bem?"
Então, formei a mim mesma novas perguntas, minha natureza escrutina faminta por razões. Porém, assemelhava-se bastante a ter a mente cansada após duas noites em claro, sem ao menos conseguir raciocinar. Aliás, não conseguia nem me mexer, além das mãos trêmulas. Eu esperava mais de mim mesma naquela situação: levantar e gritar com , xingá-lo de todos os nomes possível, ir embora por aquela porta, tentar convencê-lo do contrário, perguntar o motivo, tacar a cadeira nele, pedir minhas próprias desculpas sabe-se lá por quê. Ainda assim, não possuía destreza, energia, ou fôlego para realizar essas ações. Era frustrante e humilhante e eu só desejei que tudo parasse, mas não daquele jeito. Não sem a oportunidade de uma contraposição. Eu devia estar no controle dos meus sentimentos, não à mercê de qualquer decisão de um controle imaginário, uma atriz, um fantoche para o choque. Pelos céus, eu era uma jornalista, não deveria saber como reagir em situações inusitadas? Não deveria ser detentora de palavras coesas? Não deveria conseguir entender uma informação dada, desvinculada do quão trágica era ela?
"Senhora, pedi na cozinha para prepararem outro petit gateau, por conta da casa."
Tentei formular uma resposta adequada, imaginei cenários e frases de efeito para sair de lá, até arrisquei-me a assistir o assento e esperar minha mente montar o que eu deveria sentir ali. Não dava. Eu me encontrava despreparada para aquilo, isso, ou seja lá o que fosse. A única coisa na qual minha mente atordoada estava apta a focar era no vidro estilhaçado no pano branco, manchado com o vinho derrubado, que criava linhas correndo para lados diversos da mesa redonda, a ilusão de vários caminhos a serem seguidos. Não pude impedir a mim de imaginar que eu deveria me sentir daquela maneira: quebrada, tal como no primeiro momento, e repleta de caminhos para seguir. A questão é, e se quem está no meio da encruzilhada decide que não quer seguir nenhum caminho? Talvez esteja confortável.
"Senhora, pode se afastar um pouco? Tenho que limpar o vidro antes que se machuque."
Pobre taça quebrada, ela nunca teve chance contra a crueldade ocasional.
"Senhora, é o de sempre?"
Balancei a cabeça para me tirar dos meus devaneios, encarando o garçom do restaurante, que aguardava meu pedido. Saudades da Lavínia, da antiga decoração, de tanto. Saudade de coisas que eu nem tinha notado antes de serem arrancadas de mim. Normalmente, dizem que quem permanece de pé é consagrado. Essa era uma vitória sem triunfo, então.
Igual a história do soldado que volta da guerra e percebe que todos na sua cidade se foram, pensei.
Sorri para o garçom. "Sim, o de sempre."
capítulo três: you
Help, I'm still at the restaurant
Still sitting in a corner I haunt
Cross-legged in the dim light
They say, "What a sad sight"
I, I swear you could hear a hair pin drop
Right when I felt the moment stop
Glass shattered on the white cloth
Everybody moved on, I, I stayed there
Dust collected on my pinned-up hair
They expected me to find somewhere
Some perspective, but I sat and stared
Right where you left me
Still sitting in a corner I haunt
Cross-legged in the dim light
They say, "What a sad sight"
I, I swear you could hear a hair pin drop
Right when I felt the moment stop
Glass shattered on the white cloth
Everybody moved on, I, I stayed there
Dust collected on my pinned-up hair
They expected me to find somewhere
Some perspective, but I sat and stared
Right where you left me
As pessoas são construídas para seguir em frente, até o ponto em que aquela coisa que aconteceu se torna um tópico aleatório a ser mencionado durante as conversas, cercado por um monte de "nossa!" e "que pena" ultrajados das pessoas na mesa. Logo, o assunto é esquecido e rumores voam por novos céus. É simples, na verdade. Ou pelo menos se torna. Chega um nível em que você já viu, ouviu e disse tanto sobre algo, que acaba anestesiado para tal.
Estranhos nascem, estranhos são enterrados, salários são pagos, lições são aprendidas, lugares são descobertos e pessoas são perdidas. Faz parte, crescemos em um mundo que gira dessa maneira, não nos sentimos zonzos com isso. E quando algo ocorre, a gente fica chocado, comenta e encara. Até que dissecamos tanto que aquela conversa envelhece, o jantar esfria e só queremos ir para casa.
Isso se você não se tornar o que aconteceu com você.
Nas raras ocasiões em que algo gritante mesmo ocorre, a pessoa que estava envolvida se torna o espetáculo definitivamente. Se você tem pais divorciados, vira "a menina de pais separados”. Se ultrapassou o limite do álcool? A menina que dá PTs nas festas. Passou no vestibular em uma universidade conceituada? A menina que entrou na federal. Isso também rola em comparações, e alguns rótulos são escritos com caneta permanente. Por exemplo, se seu namorado morreu, não importa quanto tempo passe, você sempre vai ser a garota do namorado morto. Mesmo se você estiver prestes a se casar, dez anos depois, com um cara completamente diferente, ainda vão comentar "aquela menina com o namorado morto vai se casar."
Seres humanos são coagidos e se sentem confortáveis em resumir alguém a um momento.
No meu caso, eu não tinha só me transformado no que aconteceu comigo, porém, vivia naquela época desde então. Eu era muitas coisas: mulher, irmã, amiga, jornalista, escritora, ativista, divertida, engraçada, triste, irritada, revoltada, melancólica. O pacote inteiro do complexo que molda o mosaico do ser humano. Mas, desde que me deixou, a principal característica era: a mulher que foi deixada no restaurante.
Não posso vir aqui e cuspir verdades, dizendo que eram apenas os outros que me chamavam disso ou que achavam isso. Não era só um bando de desocupados sem nada melhor para fazer, alguns amigos preocupados, ou um estranho gentil que me viam assim. A plena consciência de que estava exatamente onde ele me deixou sempre esteve lá, sentada comigo na mesa do canto, ocupando o espaço do meu lado, enquanto eu persistia em frequentar fielmente o restaurante.
Você já ouviu falar da garota que foi congelada? O tempo seguiu para todos, menos para ela - e continuou e ela não sabe. Ela ainda tem 23 anos dentro da sua fantasia de como deveria ter sido. Eu, , era a garota que vivia em desilusão, onde eu ainda tenho vinte e três anos, onde ainda está sentado na minha frente, onde ainda sou a única que ele quer.
Ele não me deixou outra escolha a não ser ficar aqui para sempre. Ironicamente, é o que a me disse quando voltou com o , em um tom choroso por todos os motivos certos. ‘Eu amo ele porque ele não me deu nenhuma outra opção a não ser ficar, ’ logo antes de mostrar o anel que pertencera à mãe do agora em seu dedo. Tudo é uma questão de perspectiva, eu acho. Enfim, eles iriam se casar em breve e tudo que eu senti era felicidade. e juntos era um ganho e tanto. Ainda podia recordar dos diversos momentos, como os jovens que levam tudo longe demais que sempre fomos, sentados nessa mesma mesa com um monte de tarefas acumuladas, pegando cola de quem havia realizado alguma questão da atividade. Na semana passada, nós três sentamos aqui e conversamos sobre decoração e comidas de casamento.
Respiro um pouco de ar, assistindo ao redor como uma telespectadora e fugindo da minha mente por alguns segundos. Os talheres tilintam contra os pratos, os amantes se olham com carinho e ternura, os garçons atrapalhados riem com os três caixas separados no balcão, e a nova bartender conversa animadamente com a irmã que veio visitá-la no trabalho. Era um bom estabelecimento. A primeira parte inusitada que eu notei é que nunca tinha realmente reparado naquele lugar, embora ele estivesse memorizado na minha mente como as velhas canções infantis de quando éramos pequenos. No restaurante haviam mesas e cadeiras pintadas de verde água, contando com alguns pufes coloridos. Também tinha várias plantas pelas paredes, e até uma parede só de plantas, que era mais usada de mural para tirar fotos. Agarrado à aparência de um grande jardim com um restaurante dentro, todo o verde natural dava um ar puro dentro do ambiente e um cheiro de flores incrível. O bar era pequeno, cercado por bancos de couro sintético lilás escuro. O teto era inteiro forrado em camurça, sempre zoava que parecia um tapete e não um teto. As lâmpadas do meio eram brancas e claras, mas as mesas dos contos possuíam luzes mais difusas, dando um ar aconchegante ao local. Sem contar com o palco improvisado para bandas e noites de karaokê, uma das minhas partes prediletas. Além disso, o imóvel era cercado por enormes janelas de vidro, até a porta era de vidro com hastes de madeira. Os funcionários se vestiam como nos anos 90, alguns até usavam patins. E uma grande placa de ‘Bem-vindo ao Olivia’s Garden, festeje como se fossem os anos 90, desde 1989’ ficava na entrada.
Era um restaurante incrível.
Hoje em dia, as cadeiras e mesas são pintadas de preto, o teto é só um teto, funcionários são uniformizados milimetricamente, as cadeiras do bar cheiram a animais trucidados, a porta tem grades, e a janelas são repletas de cortinas, nem mesmo existem mais tantas plantinhas dentro - agora, há um pequeno jardim com brinquedos para crianças e permissão de animais de pequeno porte.
É elegante e legal, mas não é o que costumava ser. Nada aqui é o que costumava ser, além de mim. Sabe aquele ditado do rio? Você não pode se banhar no mesmo rio duas vezes, pois você e o rio já mudaram. Bem, é verdade. O dizer só esquece de citar que a água nunca esquece sua primeira forma, embora possa alterar-se diversas vezes, e ela sempre tenta voltar ao que era - por isso tantas mudanças. Pelo menos, eu li isso em algum livro que havia me emprestado, mas nunca consegui terminar ele antes do meu namorado levá-lo para longe.
Queria ter terminado o livro.
"Que visão triste." Ouvi Alice sussurrar enquanto limpava a mesa atrás da minha, provavelmente achando que eu não estava escutando. Sem querer me intrometer no assunto, não dei muita atenção, continuando a olhar o computador e escrever alguns rascunhos de perguntas para a coletiva que tinha marcada para o sábado.
"O quê?" Alex, o novo garçom, respondeu um pouco mais alto. "Aí! Por que me bateu?"
"Pra você falar mais baixo." Dei uma risada anasalada com a brincadeira dos dois. "A moça ali."
A voz dele estava mais contida dessa vez: "E por qual motivo uma mulher gata comendo sozinha seria triste?"
"Bonita, não gata." Ouvi outro barulho de tapa e ele bufando. "Você nunca ouviu falar dela?"
"Eu disse ao Bill que um restaurante não pode ter uma mesa de número treze. Não dá sorte." Agora era Rebekah, a coproprietária de lá, se unindo à conversa paralela. Eles estavam falando de mim. Suspirei. Eu era uma jornalista, e nós almejamos dar a notícia mais do que ser a manchete; ainda assim, aquela situação era quase rotineira.
"Não é por isso." Podia apostar que Alice estava revirando os olhos. "O namorado dela terminou com ela naquela mesa, dizem que ele virou um ator famoso."
"Há quanto tempo?" Alex perguntou, seu timbre ainda era um pouco alto demais.
"Alguns anos." Todos seguiram em frente e eu fiquei ali. Eles esperavam que eu encontrasse outro lugar, alguma perspectiva, mas eu sentei e encarei bem onde tinha me deixado. "Ela ainda vem toda semana, pede o mesmo prato, e fica olhando ao redor."
"Que visão triste." Alex concordou.
Pois é. Que visão triste. Mas valia a pena se ele fosse voltar para onde me deixou um dia.
capítulo quatro: left
I'm sure that you got a wife out there
Kids and Christmas, but I'm unaware
'Cause I'm right where I cause no harm
Mind my business
If our love died young
I can't bear witness
And it's been so long
But if you ever think you got it wrong
I'm right where
You left me
Kids and Christmas, but I'm unaware
'Cause I'm right where I cause no harm
Mind my business
If our love died young
I can't bear witness
And it's been so long
But if you ever think you got it wrong
I'm right where
You left me
Existem muitas coisas que os poetas escondem sobre amores calamitosos, diversas vertentes do trauma que não entendemos, e certos aspectos do pesar intransponível que Elisabeth Kübler-Ross não colocou no seu livro.
Ao juntar os três, me deparo com o pedestal da vulnerabilidade, dar poder a alguém sobre a sua fragilidade: a pessoa pode decidir que quer fechar o punho em volta dela um dia, e você não vai ter nada além de estilhaços no chão. Ele vai limpar os cacos de vidro quebrados na calça jeans surrada e andar pela porta, fazendo parecer bem fácil te deixar. Contudo, quando você tentar ir embora também, você vai notar que está cercada de olhares julgadores e pedaços afiados de vidro reluzentes no chão. É lindo de uma maneira que só algo destruído pode ser, ainda assim, vai te machucar se você tentar pisar ali. Então, se você tiver sorte, alguém bondoso ou pago vai surgir com uma vassoura e limpar aqueles restos, e seu caminho vai estar livre para seguir em frente. Só que, toda vez que você se levantar, vai acabar voltando, porque dizem que o trauma pode te congelar em um momento, e os amores calamitosos colocaram armadilhas ao seu redor, e o luto nunca chegou, ou ele bateu na porta e você não pôde atender porque estava ocupada demais tomando chá com fantasmas.
Se você não sangra, como vai saber que o sangue é vermelho?
Apesar de tudo, eu me considero uma pessoa inteligente, esperta. Eu sei que não tem mais vidro no chão, eu sei que todos seguiram em frente, eu sei que não vai voltar a me procurar exatamente onde ele me deixou. Mas, e se? E se ele notar que entendeu errado? E se a tristeza e a raiva não vieram, simplesmente porque não devem vir, pois meu corpo sabe que ele vai voltar? E se eu estiver certa?
Eu não sinto que eu perdi algo, eu só tenho a sensação de estar congelada. As páginas que deviam virar só se colam umas nas outras e eu permaneço, quase a ponto de as glicínias crescerem bem sobre os meus pés descalços. Era agonizante e complexo e uma bagunça, mas me permitia viver um pouco de ilusões e parar o tempo, o que era o suficiente para mim.
Mas não era para .
", é sério." Ela repetiu pela décima vez com uma paciência admirável para quem não queria ter filhos, sentada ao lado de , que me encarava com a boca franzida e olhar sério. "Você tem que sair dessa."
"Eu já saí dessa." Menti descaradamente, e rolou os olhos. Seu noivo permaneceu em quietude ao seu lado, algo extremamente incomum para .
", você tem noção do quanto todos nós estamos preocupados?" Ela disse exasperada. "É como se você estivesse congelada no tempo!"
"Eu viajo, eu tenho um emprego, eu até namorei algumas vezes." Refutei com teimosia. "Como isso é permanecer?"
"Você nunca aceitou de verdade o que aconteceu, . Ele foi embora, ele te deixou. Como você quer se curar, se não admite que dói?" respirou profundamente, olhando-me com toda atenção do mundo. Embora seus olhos castanhos não me julgassem, suas palavras eram certeiras como tiros e afiadas como facas. Coitado do , mesmo sendo cabeça dura, não podia ganhar uma briga séria contra minha melhor amiga.
"Mas não dói."
"É claro que dói. Era o . Ele te amava e você amava ele, e ele decidiu seguir em frente sem você. É pra doer, ." estava certa, todavia, eu não podia simplesmente me forçar a ficar magoada. Quando todos esperam a dor e você não tem nem uma lágrima a oferecer, acham que está doendo mais ainda. "Términos acontecem todos os dias. Você não tem que perder a cabeça por isso. Principalmente agora que ele está…"
"Para." Interrompi-a, sentindo meu coração palpitar em ansiedade. Ouvir sobre a vida de não era algo que eu estava interessada. Só pensar naquilo me fazia ter ânsia de vômito. "Sério, eu não quero saber."
Ela gemeu em descontentamento. "Ainda não sei como você evita as manchetes com o nome dele."
"Simples, eu mantenho distância. Fico na minha. E está ótimo."
"Para quem?" Retrucou. "Você não quer saber se ele…"
"Se ele realmente seguiu em frente? Se ele para e pensa em mim? Como está a carreira dele? Aposto que ele tem uma esposa lá fora, crianças e um natal de neve em família, mas eu não sei disso. Porque eu estou onde não causo nenhum dano, me importo com as minhas coisas. Se nosso amor morreu jovem, eu não posso suportar testemunhar isso. Um pedaço de mim foi arrancado e eu ainda não entendi por que ou como eu continuo sem. Não tem um manual." Despejei na mesa, encarando meus dois melhores amigos, que me olhavam de volta com compreensão e tristeza. Todo meu corpo parecia ter entrado em modo de ataque. "Acreditem, eu queria que tivesse. Vocês têm noção de quantas vezes tentei ficar com raiva? Quantas vezes eu quis gritar ‘socorro! eu ainda estou no restaurante?’ Quantas vezes depois daquele dia eu tentei chorar? Eu não sei o que fazer, qual o próximo passo ou o que eu devo dizer."
"."
"Eu sei que todo mundo seguiu em frente, gente. Eu sei. Por um período, eu nem soube que o tempo passou, mas agora eu sei. Só não consigo sentir nada. Todos os estágios do luto, os passos para superar um relacionamento, as maneiras de curar um trauma, não funcionam." Bati na mesa, cansada e frustrada com a situação. "Eu tô congelada, mas estou bem. Por favor, não peçam mais que isso, porque eu não sei como dar."
Silêncio reinou no local por alguns segundos, todos nós acolhemos aquele impasse como uma pausa para respirar. E então, finalmente abriu a boca:
"A gente só se preocupa com você."
"E sentimos sua falta." completou, segurando uma das minhas mãos, enquanto buscou a outra. Um sorriso singelo surgiu em minha expressão.
"Eu também sinto falta de mim." Apertei seus dedos com suavidade. "Eu juro que estou tentando entender."
Ele assentiu, "Sabe que estamos aqui pra qualquer coisa, né?"
"Eu sei. E amo vocês."
"A gente também te ama." Oscilei o olhar entre os dois, apesar da próxima fala de puxar minha atenção de volta para ele. "Mesmo que pareça uma assombração sentada no canto dessa mesa e use muitas metáforas."
Eu gargalhei, assim como , e soltei as mãos dos meus amigos.
"Olha, . Sobre o …"
"Gente, na boa." Sinalizei para que parasse de falar, só que prosseguiu no seu lugar.
"Mas é sério, é que ele…"
Antes que eu pudesse interromper, alguém extremamente conhecido fez isso por mim.
"E aí, cambada? Nossa, esse lugar mudou." sorriu ao se aproximar. "Senti saudades."
E seu olhar caiu exatamente em mim.
capítulo cinco: me
And you're sitting in front of me
At the restaurant when I was still the one you want
Cross-legged in the dim light, everything was just right
At the restaurant when I was still the one you want
Cross-legged in the dim light, everything was just right
Particularmente, o sentimento que os fantasmas causam em mim não é terror. Não tenho medo de almas penadas, mas sim comiseração, empatia e pena. Afinal, o que é um fantasma, senão algo morto que não consegue esquecer de como era estar vivo?
Tem um motivo para as casas assombradas serem grandes e belas, com espaço para famílias repletas de várias pessoas; todo fantasma já foi alguém vivo, por mais que os outros tenham a tendência de esquecer desse fato. Eles morrem e simplesmente não podem deixar aquilo que amavam tanto para trás, então, eles assombram. É o núcleo do amor. Tudo que é amado será assombrado um dia. Porque quem ama irá embora, ou quem é amado sairá pelas portas laterais, e só restarão as memórias.
E o que são memórias, senão nosso assombro hereditário da vida?
Eu não posso culpar os fantasmas por isso. Para o que você rastejaria, senão o seu maior amor? Isso os faz sentir um pouco vivos.
Além disso, eu entendo.
Eu não assombrava casas lustrosas, parques de diversão ou objetos em museus, nem mesmo fotografias ou ossos. No meu caso, passei a apavorar a mesa de um restaurante, ainda sentada no canto que passei a assombrar. A constante é que o único estágio do luto que os fantasmas conhecem é a negação do que perderam.
Quando algo seu morre e você continua andando por aí, você tem algo morto dentro de si. E se existe algo sem vida relacionado a alguém que respira, você será assombrado. Meu coração morreu e eu sou assombrada por ele há anos; pelo menos, eu achava que sim.
Até a tristeza negacionista pode se tornar uma casa.
Uma vez ou outra, queria poder gritar por ajuda. Socorro, ainda estou no restaurante! Mas as pessoas se assustariam, como normalmente fazem quando alguém pede ajuda, e chamariam isso de assombração. E os fantasmas? Eles nem mesmo sabem como sair do ciclo vicioso deles, imagina prestar assistência.
Tem vezes que eu sinto que visito momentos eternizados diferentes, embora nunca consiga correr rápido o bastante para a porta de saída de dentro da fantasia. Me vejo e sinto tanta saudade de mim que até penso que morri de verdade, mas é só um alarme falso. A maior parte das pessoas tem idealizações com base em famosos, todavia, minha eu do passado era minha modelo: independente, forte, livre. É claro que conquistei bastante ao longo dos anos, ainda assim, todas as estradas me levavam de volta para o mesmo canto no restaurante.
A lembrança recorrente que eu mais tinha era a de indo embora. O jeito que ele balançou os ombros com descaso quando eu perguntei o motivo, a maneira que seu cabelo curto estava bagunçado quando ele me soltou, como ele nem olhou para trás ao andar até a porta. O moletom branco e azul que ele vestia, o modo que seus olhos de jardim me encararam, como ele teve a audácia de me dar um beijo singelo de adeus. A melodia triste das suas botas contra o chão de madeira, o barulho de alguns clientes conversando e a taça quebrando. Era um dia ensolarado, os raios de sol se espreguiçaram para dentro do restaurante quando ele abriu a porta e me deixou. E eu permaneci lá, de pernas cruzadas sob a luz fraca, poeira acumulando no meu rabo de cavalo devido ao tempo que esperei.
Desejar que algo volte é como fazer um pedido de estrela cadente para a lua, ou jogar ouro de Midas em uma fonte dos desejos que só aceita moedas. Apesar de reconhecer isso, eu insistia.
Às vezes, me virava e dava de cara com o espelho ao meu lado na mesa, e o reflexo que me olhava de volta era eu, uma eu de vinte e três anos, sentada na mesa com , e . Assim como deveria ter sido. Aí, eu mexia a cabeça de um lado para o outro e o espelho mostrava que era somente eu.
Dessa vez, no entanto, não deu certo. Movi a cabeça, mas , e ainda estavam lá.
Puta que pariu.
"A gente vai pegar comida." se prontificou em levantar-se da mesa, puxando o marido com ela.
"Mas a gente já pediu…" parou de falar quando notou o olhar de Lay, assentindo rapidamente e segurando a mão dela, dizendo enquanto se afastava: "É, a gente vai pegar o rango."
"Dá pra acreditar que eles se casaram?" riu em um timbre amigável, tentando iniciar a conversa. Ele tinha envelhecido como o whiskey de qualidade que costumávamos roubar do seu pai: expressão mais velha e máscula, alguns músculos destacados pela flanela vermelha, barba e cabelos crescidos. "Você tirou a franja. Tá bonita."
Raiva. Como é que ele tinha coragem de me elogiar e conversar tão casualmente comigo? Eu tinha sido a senhorita miserável por anos por culpa dele.
"Tendências mudam." Respondi com um sorriso jocoso.
Babaca.
O silêncio prevaleceu, e eu realmente o considerei mais confortável em sua descrença do que as palavras que poderia proferir. Eu tive uma sensação tão peculiar, sem nome e estrondosa. A emoção de sentir tudo ao mesmo tempo, meu coração não estava morto, só congelado. E estava derretendo o gelo, me ajudando a ver o caminho conturbado e cheio de buracos da volta para a realidade. Meu estado letárgico durou tanto tempo, e agora minhas mãos tremiam e minha boca estava seca, ansiosa para dar as boas-vindas ao sentir de novo.
"Olha, ..."
"Então, ..."
Rimos sem graça ao iniciarmos a frase ao mesmo tempo. Aquilo era surreal.
Ele sinalizou com a mão. "Pode falar."
"Vai você primeiro."
Sua feição envelhecida, ainda assim bela, debulhou-se sobre a minha. "Eu só ia dizer que senti sua falta."
"Então, por quê?" Não pude evitar o tom acusatório que banhou minha pergunta.
franziu o cenho. "Por que o quê?"
"Por que me deixou?" Depressão. Minha mente traiçoeira esgueirou-se com o pensamento doentio: se não tem algo quebrado, como eu vou consertar? Eu acatei a culpa como uma mãe acalenta um filho ilegítimo, do modo que mulheres são ensinadas desde o berço. Se não havia algo maleável, é claro que eu devia aprender a contorcer-me, ou eu era o algo errado, não é? "Conheceu alguém, sei disso. Mas por que deixou chegar naquele ponto? Quando olhou para mim e passou a ver só mais uma garota, e não o amor da sua vida?"
Ele deu de ombros. "Eu ainda não sei, ."
"Sério? Qual é, . Anos se passaram." Bufei, movendo o pé com impaciência embaixo da mesa.
"Olha, tudo que eu sei é que eu senti sua falta pra caralho." Ele grunhiu frustrado, procurando a minha mão e a segurando. Esperei os arrepios de prazer, ou o nojo da repulsa, mas continuei na mesma. "Eu cometi um erro. Eu era jovem e burro, não sabia de nada, mas agora eu sei. Eu sei que sinto a sua falta, que eu te amo e que sempre foi você, . Desde a festa da Betty, porra, até antes disso. Quando você me chamou de mané e tacou o tênis em mim quando eu derrubei seu pastel." Ele riu com ternura da memória.
"Não faz sentido." Disse, mais sobre minhas emoções que qualquer coisa. Barganha. Talvez, se ele falasse um pouco mais, demonstrasse que também sofreu, eu conseguisse retribuir de novo.
me deu aquele sorriso lateral que eu amei um dia, porém, acho que ele esqueceu de descongelar as borboletas no meu estômago também. "Nem tudo tem uma explicação lógica. As pessoas são pessoas e às vezes mudamos de ideia."
"E agora você mudou de ideia. Daqui a uns anos, vai mudar de novo?" Perguntei com desconfiança, ele parecia uma criança que volta e chora pelo brinquedo que quebrou.
"Não." Respondeu rapidamente, com certeza o suficiente para convencer um júri. "Eu entendi errado, eu quero você. Eu nunca parei de te amar, mesmo que não faça sentido. Se passaram, o quê? Oito anos? Eu ainda continuo pensando em te beijar todo dia, . Eu errei, mas aquilo me fez perceber o que eu quero para valer. E é você, sempre."
Odiava admitir que estava certo ou que eu entendia uma mera porcentagem da sua decisão, contudo, era verdade. Eu mudei de ideia. Talvez sentimentos sejam como crianças nos deixando desnorteados: bagunceiros, inconsequentes, dramáticos, frágeis, e, principalmente, em constante mudança. Passei muito tempo em estado letárgico desde que ele se foi, convenci-me de que a decisão dele havia me condenado a ficar naquele restaurante para sempre, todavia, não era verdade. Era a tarde de um dia ensolarado, assim como no dia em que ele me deixou, e o sol entrava pela janela e caia tão especificamente no seu rosto grego. Era maravilhoso, mas a melhor parte era que os raios solares me tocavam graciosamente, e minha pele queimava.
Cogitei a queima vir desse pequeno fator externo, até notar que não. Aquele fogo adormecido dentro de mim era meu direito de nascença, uma independência gritante que eu pensei ter perdido ao repetir a mesma rota vezes demais. Ainda estava ali, eu ainda era eu. Pensei que não era capaz de ser sem amar , só por não lembrar de quem fui antes. Que estupidez. O caso escancarado: eu era antes de ser a namorada, a garota congelada no tempo, ou a garota deixada. Nenhuma coisa ou título precedeu quem eu era, isso era um fato, e não se pode argumentar contra um desses - você pode ter opiniões sobre um fato, mas não pode mudar o que ele é.
Alívio. Descobrir que você não precisa estar apaixonada para ser você mesma é um alívio. Soltei o ar que nem notei estar prendendo e, pela primeira vez em tanto tempo, eu não estava esperando alguém.
"Você não tem ideia de quanto tempo eu esperei que você mudasse de ideia, que pensasse que entendeu errado. E eu estaria exatamente onde você me deixou, esperando você." Sorri com nostalgia, ainda não acreditando nas palavras que borbulhavam na minha língua. ali, sentado na minha frente e dizendo que eu era a única que ele ainda queria, tudo que eu almejei durante anos. E, de repente, sem mais nem menos, eu descobri que o que eu sempre quis não era mais o que eu queria. "Mas não é isso que eu penso agora."
"Esquece a sua cabeça, . Eu sei que cometi erros estúpidos e cruzei linhas imperdoáveis, mas eu estou aqui agora." Aceitação. Seus olhos verdes de jardim me encararam, e eu pensei em como eles eram lindos.
Mas não se comparavam a olhos cor de floresta.
"…"
"Eu estou tentando fazer o que é certo para mim, porque eu te amo. Eu sempre fui seu e, porra, eu espero que você ainda seja minha, porque eu não sei o que faria se você me dissesse que não me quer mais." Ele deu uma risada anasalada por pura ansiedade, seus poros exalavam sinceridade, doendo-me ainda mais quando realmente entendi e assimilei o que tinha acontecido em 2012. Engraçado como a volta de foi o que eu precisava para aceitar a sua partida. "É simples, sim ou não. Até um talvez e eu te espero, eu te espero pelo tempo que for necessário aqui, nesse restaurante."
"Pronto, mais um desiludido na mesa do canto." Ouvi a voz de Alex sussurrar e ignorei. parecia não ter escutado, focado demais em mim. Me perguntei se não ter toda minha atenção voltada a ele significava algo e a resposta foi tão clara quanto a luz excruciante de tão branca.
Suas próximas palavras banharam-se na falésia da esperança: "Você ainda me ama?"
"Eu não sei." Respondi do único modo que poderia, com honestidade. Não por dever algo a ele, mas a mim mesma. Apesar das suas palavras apolíneas e perfeitamente colocadas, tudo que consegui pensar é que eu era como uma das rugas no rosto de agora; a lembrança de algo pelo qual valia a pena lutar um dia, mas que agora é só mais uma cicatriz de batalha esquecida, assim como ele havia se tornado da minha. Os traços de se contorceram em uma careta que eu conhecia muito bem, era capaz de ver a mim mesma, com aquela mesma expressão em um passado longínquo. Me agonizei um pouco por dentro, almejando dar uma explicação melhor, não como a que ele me deu. "Não sei, . Acho que não, mas não posso ter certeza. Passei muito tempo te amando ou achando que te amava, e agora tudo está confuso. Tem noção que você saiu por aquela porta anos atrás, virou um ator extremamente famoso, e eu nunca mais ouvi falar de você? Nunca li uma manchete, assisti um dos seus trabalhos ou perguntei de você para o ou a . Agora você volta e de repente tudo tem uma nova perspectiva e eu não sei o que pensar direito." Expressei as palavras apreensiva, cada sentimento que imaginei não poder mais acalentar. Meu corpo inquieto em adrenalina, resquícios do que eu sentia por ainda pesavam em mim, mas eu não me sentia mais fincada ao chão por esses sentimentos. A gravidade estava funcionando ao meu favor dessa vez, de uma maneira singela e intensa ao mesmo tempo.
apertou minha mão suavemente. "Não me diz o que você está pensando, . Em vez disso, o que você sente?"
Por muito tempo, a partida de se assemelhou bastante com estar dançando quando a música parou abruptamente. Eu tinha continuado no palco depois da plateia ir embora, com um velho roteiro e passos ensaiados. Agora, parecia que a música estava tocando de novo, e eu queria fazer tudo ao mesmo tempo. Rir, chorar, gritar, dançar, conversar. Tudo, mas não com ele, não mais. Eu estava livre.
"Livre." Disse sem fôlego, alegremente sufocada pelas razões certas. Descruzei as pernas, puxei o prendedor para soltar o rabo de cavalo e olhei com carinho para o canto que eu tinha assombrado por tanto tempo. Uma vez, pareceu que o abandono de tinha me deixado sem outra escolha a não ser ficar ali para sempre, como uma armadilha da qual eu não conseguia escapar. O pensamento ainda parecia assustador, mas tão bobo ao mesmo tempo. Eu não me sentia mais amordaçada ou cercada. Eu podia escolher para onde ir, sem que nada me fizesse querer olhar pelo retrovisor. Meu fechamento estava lacrado definitivamente. Era hora de ir. Soltei a mão de . "Eu me sinto livre."
Simplesmente me levantei, dando uma última olhada ao redor, em desnorteado e nos meus amigos confusos. Sorri, um sorriso de verdade, e encontrei a facilidade ao andar até a porta. Meu coração doía, esperneava e chorava, conflituoso com todos os sentimentos, e energizado em funcionar de novo, assim como a minha alma que, além de ter umas rachaduras, estava longe de ser quebradiça.
Acho que esse é o truque sobre os fantasmas, eles podem escolher ir para a luz, e achar a liberdade.
E talvez nem tudo requer uma explicação complexa, ou deva fazer sentido na vida, mas essa fazia.
Saí do restaurante.
FIM
Nota da autora: Eu amo essa música em um nível surreal. Escrever essa história foi uma experiência diferente e interessante, especialmente pela divisão de caps. Admito que tenho ideias para a parte dois. Até, quem sabe, uma tal parte três, MAS vamos com calma. Espero que tenham gostado do que leu aqui e me digam na caixinha de comentários!
Aliás, notaram as referências que eu deixei por aqui? Olha a listinha:
● Olivia Garden é meio que uma zoeira com o nome do restaurante Olive Garden e o nome Olivia, que é uma das gatas da Tay, assim como a data de funcionamento do restaurante é o título de um álbum e do ano em que ela nasceu.
● coração perfeitamente bom: referência a música do álbum debut da Taylor, A Perfectly Good Heart
● da festa de Betty: acho uma das mais claras, a festa a qual Tay se refere na música betty
● James: uma das pontas do triângulo de folklore
● Betty e August no verão passado: as outras duas pontas do triângulo, além de ter sido no verão que tudo aconteceu segundo as música august e betty
● Não precisa esquentar a sua cabecinha linda: trecho da música Ours da Tay
● o jantar esfria: It's Time To Go
● ‘Eu amo ele porque ele não me deu nenhuma outra opção a não ser ficar.’: essa vem da música Stay, Stay, Stay da Taylor, e exemplifica os paralelos com ser moldada a ficar por motivos diferentes
● “Bill que um restaurante não pode ter uma mesa de número treze. Não dá sorte." Agora era Rebekah: número da sorte da Tay, o casal é da música the last great american dynasty.
● amor calamitoso & pesar intransponível: the lakes
● As pessoas são pessoas e às vezes mudamos de ideia: diretamente de Breathe (Taylor's Version)
● Eu tive uma sensação tão peculiar: evermore, última track não bônus
● dançando quando a música parou: happiness
● Era hora de ir: apesar de right where you left me acabar com a personagem ainda no restaurante, a próxima faixa Aka it's time to go diz que o jantar fica frio e a conversa velha, além de ser uma música sobre seguir em frente. Então, é dessa continuidade, lovers!
● os trechos da própria música que inspirou a fic!
É isso! E comentem, tô doida pra saber o que vocês acharam, além de que isso vai me sinalizar se vocês querem a PARTE DOIS NO POV DO PP! XOXO.
Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Aliás, notaram as referências que eu deixei por aqui? Olha a listinha:
● Olivia Garden é meio que uma zoeira com o nome do restaurante Olive Garden e o nome Olivia, que é uma das gatas da Tay, assim como a data de funcionamento do restaurante é o título de um álbum e do ano em que ela nasceu.
● coração perfeitamente bom: referência a música do álbum debut da Taylor, A Perfectly Good Heart
● da festa de Betty: acho uma das mais claras, a festa a qual Tay se refere na música betty
● James: uma das pontas do triângulo de folklore
● Betty e August no verão passado: as outras duas pontas do triângulo, além de ter sido no verão que tudo aconteceu segundo as música august e betty
● Não precisa esquentar a sua cabecinha linda: trecho da música Ours da Tay
● o jantar esfria: It's Time To Go
● ‘Eu amo ele porque ele não me deu nenhuma outra opção a não ser ficar.’: essa vem da música Stay, Stay, Stay da Taylor, e exemplifica os paralelos com ser moldada a ficar por motivos diferentes
● “Bill que um restaurante não pode ter uma mesa de número treze. Não dá sorte." Agora era Rebekah: número da sorte da Tay, o casal é da música the last great american dynasty.
● amor calamitoso & pesar intransponível: the lakes
● As pessoas são pessoas e às vezes mudamos de ideia: diretamente de Breathe (Taylor's Version)
● Eu tive uma sensação tão peculiar: evermore, última track não bônus
● dançando quando a música parou: happiness
● Era hora de ir: apesar de right where you left me acabar com a personagem ainda no restaurante, a próxima faixa Aka it's time to go diz que o jantar fica frio e a conversa velha, além de ser uma música sobre seguir em frente. Então, é dessa continuidade, lovers!
● os trechos da própria música que inspirou a fic!
É isso! E comentem, tô doida pra saber o que vocês acharam, além de que isso vai me sinalizar se vocês querem a PARTE DOIS NO POV DO PP! XOXO.
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