Capítulo Único
This time is man-to-man
O que acontece depois do colégio? Quando você não começou a faculdade ainda – por não saber o que quer ou por não ter nenhuma – e a escola já acabou? Você está de férias ou desempregado?
Eu sempre me perguntei essas coisas, mas acabava por jogar as questões no fundo da minha cabeça, já que pareciam tão distantes.
Quando o tempo passou tão rápido?
– ! A festa vai ser na casa da Ashley!
Encontrei Johnny, meu melhor amigo, colocando sua roupa. Era sexta-feira, tínhamos acabado de ganhar o jogo da semifinal e ainda tínhamos a final e, então, seríamos o melhor time de basquete do país. Eu não aceitava menos do que isso.
Afinal, era meu último ano.
– Os babacas de Nova York vão estar lá. – comentou Jace. – Acha que podemos dar uma surra neles?
Os caras começaram a rir e a concordar.
– Eles também lutam? – perguntei, começando a me interessar. – Sim. O capitão do time deles, Bruce, é um dos melhores lutadores, pelos boatos que ouvi.
– Não importa. consegue foder com ele. – Johnny retrucou, dando um tapa nas minhas costas, me fazendo rir.
Então eu tinha uma razão para ir até à festa de Ashley.
– Brad vai organizar a luta de vocês. – disse Mike. – Ele é mestre nisso.
– Brad já foi embora?
– Claro que já. Ele é sempre o primeiro.
Nós rimos. Brad não gostava de tomar banho nos vestiários, então sempre saía mais rápido que todos nós.
Jace acendeu um cigarro, e pedi o maço, com as mãos, que ele logo me jogou. O treinador era seu pai, então nós não nos importávamos. Só teria problema se tivéssemos perdido o jogo e não tivéssemos sido classificados para a final; ai o treinador ficaria muito puto.
A fumaça se misturou com a névoa do vapor dos chuveiros, fazendo o cheiro de tabaco desaparecer. Eu já tinha vestido um jeans e estava pronto para ir embora, mas preferia esperar para ir com os caras. Nós costumávamos a ir às festas todos juntos.
Era sempre assim. Depois de um jogo importante, íamos direto para a casa de alguém, comemorar. Normalmente, era na casa de uma das líderes de torcida e todos eram convidados. A festa era para nós, o time.
– Meu Deus! Vocês demoram mais do que mocinhas para se aprontarem.
Sorri na mesma hora.
estava parada na porta do vestiário, sorrindo de um modo sapeca.
– Cadê sua autorização pra entrar aqui, moça? – provoquei, percebendo que tinha sua atenção.
– Você é minha autorização.
Os garotos gritaram, enquanto veio em minha direção e sentou-se no meu colo, começando a beijar minha boca de um jeito que, com certeza, não era apropriado fazer no meio de tanta gente.
– Puta merda! Vocês poderiam ir pro banheiro! – gritou Johnny. riu e separou os lábios dos meus.
– Parabéns, capitão. – sussurrou, para que apenas eu ouvisse. – Você acabou com eles.
– Obrigado. Só faço meu trabalho.
deu outra risadinha e voltou a me beijar com força no meio do vestiário, ainda no meu colo.
– Vocês foram ótimos. – ela disse, mais alto, para que o resto do time ouvisse. Roubou meu cigarro e deu uma tragada. – Os engomadinhos de NY não tiveram chance!
– Não dá pra mexer com os caras da Califórnia! – Jace respondeu, dando uma piscadinha, fazendo os outros rirem e começarem a cantar uma versão escrota de California Gurls.
Algo vibrou na cintura de , onde estava minha mão, e ela revirou os olhos.
– Merda. – murmurou antes de atender. – Oi, Ash.
Ashley era a melhor amiga de .
– Eu fiquei perdida no caminho. – ela mentiu, mordendo o lábio inferior. ficava gostosa demais fazendo isso, então a puxei para mais perto e beijei seu pescoço, enquanto falava no telefone. Os caras começaram a gritar de novo, fazendo ficar ainda mais preocupada, e eu os mandei calar a boca com um movimento das mãos. – Não estou em vestiário nenhum!
– Mentira! – gritaram alguns jogadores.
– Porra, caras! – devolveu, e eu vi os pelinhos da sua pele começarem a se arrepiar. – Tudo bem, eu sei que prometi estar aí para ajudar a organizar, mas vocês foram muito rápidas!
Ashley era líder de torcida, a capitã do time. não gostava muito disso, mas continuava participando mesmo assim. Seu amor verdadeiro era as artes.
– Olha, Ash, assim fica difícil. Eu sei que prometi, mas vim dar parabéns para os caras. Não, não vim dar pro , sua vaca.
riu de alguma coisa, e eu levantei os olhos para observá-la.
– vai me dar uma carona.
– Vou de carona com o Jace. – avisei.
– Jace vai me dar uma carona.
– Meu carro está cheio! – reclamou Jace.
– Foda-se. Johnny vai andando.
– Ei!
Eu ri de Johnny, que estava começando uma briga com Jace.
E era sempre assim. Nós íamos para a festa depois de muita discussão. Eu lutava com um cara qualquer enquanto todo mundo fazia apostas. Ganhava.
Isso era meu último ano de colégio.
– Disseram que você vai lutar essa noite. – comentou comigo, com uma expressão de preocupada no rosto – Eu acho que você não deveria...
– Relaxa, . – acalmei-a, beijando sua bochecha. A expressão não se dissipou. – Brad vai arrumar tudo. E você sabe que posso ganhar.
– Sei que pode, . Você é o melhor lutador que conheço. – ouvi-la falar aquilo, me encheu de orgulho e não pude conter um sorrisinho. – Mas não é por isso. Você teve um jogo importante hoje, e vocês jogaram pra caralho. Sei que isso requer esforço. Depois você vai acabar bebendo na festa, mesmo que pouco, e depois vai lutar contra algum babaca. , isso vai exigir muito de você.
Nós estávamos na caçamba da picape de Jace. Por dentro estavam Jace – dirigindo, óbvio, porque ele não deixava ninguém chegar perto da maldita picape – Johnny, Mike e Eddy. Havíamos passado na casa de Brad, e ele também estava ali. Eu e estávamos sozinhos no lado de fora, tomando uma cerveja, que pegamos na casa de Brad. Era como se fosse um “esquenta” para a festa de Ashley. estava sentada no meio das minhas pernas, a cabeça encostada em meu peito. Eu observava suas mãos brincarem com uma linha solta da minha jaqueta e tentava não olhar para seu decote bem em minha frente.
– Não precisa se preocupar comigo. – respondi. sempre se preocupava demais. – Vou ficar bem, se você estiver torcendo por mim.
– Idiota. – ela bateu no meu peito. – Você sabe que estou sempre torcendo por você. Mas eu tenho medo disso. De você não aguentar todo esse esforço. E também tem o fato de que quase fomos presos da última vez.
Isso era algo que sempre fodia nossas lutas. Essas coisas são ilegais, por serem apostas e, ainda por cima, dois menores de idade brigando por dinheiro. Também havia a parte de invasão de propriedade, pois sempre íamos para algum edifício ou galpão abandonado. Bebidas, drogas... Tudo isso reunido em um só lugar. A polícia nos descobria por causa do barulho, já que sempre tinha alguém para passar perto do lugar – tentávamos escolher um lugar mais isolado, mas isso é difícil se você mora na cidade grande – e denunciar o barulho. Ou, às vezes, era só um vizinho babaca que não queria confusão depois das 22h. Quando ouvíamos as sirenes, as lutas já tinham acabado – na maioria das vezes – e era só correr. Correr rápido.
– Brad vai escolher um lugar melhor. E eu não vou beber antes da luta.
Por um lado, estava certa. Eu sempre acabava bebendo antes de lutar, mas tentava me controlar, porque isso atrapalhava meu desempenho. Aquela latinha de Heineken era a primeira e a última antes da luta.
– Vamos ficar bem, . – prometi.
Dei um beijo no topo de sua cabeça, mas isso não parecia ter acalmado-a. estava estranha. Preocupada demais. Isso não fazia o estilo dela. era do tipo de garota que não se preocupava com nada, e nem mesmo quando entrava em pânico, parecia desesperada. Fazia aulas de teatro desde que era criança, tinha talento nas veias. Ninguém nunca descobria que ela estava com um problema se não quisesse que isso acontecesse. Nunca foi uma complicação entre nós, porque tínhamos muita confiança um no outro, mas eu sabia que ela era capaz de fingir estar bem para não me preocupar. Eu a conhecia melhor que isso. Sabia que era apenas... .
Suspirei e bebi mais cerveja. Talvez mais uma latinha antes da luta.
Chegamos à casa de Ashley alguns minutos depois. Ao longe já podíamos ouvir o barulho da música e das pessoas gritando. tirou meu maço de cigarros do meu bolso, acendeu um e depois me devolveu. A casa estava lotada.
– Vou precisar de muita paciência pra aguentar uma Ash bêbada e puta comigo. – justificou.
Ri e peguei meu maço de volta. Não iria fumar antes da luta. Nem um cigarro normal, muito menos um de maconha. Desviei de um dos estudantes que me ofereceu o baseado, fazendo uma careta. Protegi de um bêbado que quase caiu sob ela e conseguimos entrar na casa sem maiores acidentes.
– Tudo isso só do lado de fora. – Jace comentou, observando o estado deplorável dos estudantes que estavam no quintal. – Lamentável.
Ri outra vez e resisti ao impulso de pegar uma garrafa de vodca que foi colocada em minha frente.
– , sua vaca!
O grito de Ashley foi tão alto que se sobressaiu pela música. mordeu o lábio inferior e fez uma careta.
– Oi, amiga.
– Você disse que me ajudaria com a decoração e tudo! – acusou Ashley. – Mas, não! Ficou com ! Você é uma péssima amiga.
– Fala sério, Ash. Este lugar está incrível. Esta vai ser uma das melhores festas do ano. E você já organizou várias festas, sei da sua competência pra isso. Deixei na sua mão porque sabia que conseguiria.
Ashley ficou em silêncio, por alguns segundos. Depois sorriu.
não presta.
– Vem ver o que consegui comprar pra beber!
Ashley puxou pela mão, mas minha namorada virou para mim antes de ir. Lançou um sorrisinho e um beijo no ar, e eu sorri abertamente. Minhas preocupações na picape pareceram distantes e idiotas; estava bem, e eu estava paranoico.
– !
Encontrei Brad atrás de mim, me dando um tapinha nos ombros.
– E aí, cara!
– Arrumei uma luta foda pra você. – ele sorriu de um modo perverso, que sempre usava quando falava de alguma luta minha. – Contra um cara do time de NY.
– Ouvi falar. Quem é o cara?
– O capitão do outro time. Eles estão chegando. Ashley não queria convidá-los, para não dar confusão, mas eu chamei pra promover a luta. Ninguém vai querer apostar se não observar vocês dois interagindo.
Brad pensava em tudo. Ele seria um cara do marketing depois da escola, com certeza. Pensava em quem veria nossa luta e quanto deveria ser a aposta mínima, para que pagassem. Às vezes fingia uma cena para enganar as pessoas e fazê-las apostar contra mim, para que tivéssemos mais lucro. Brad sabia como manipular as pessoas.
Era estranho pensar em todos esses caras, depois da escola. Estávamos quase no fim e, a maioria de nós, não tinha ideia do que faria. Eu estava dentro da maioria. Passamos tempo demais na escola e temos tempo de menos para decidir para onde vamos depois que ela acaba.
– ! Parabéns pelo jogo!
– Você foi incrível, cara!
– Vai acabar na NBA!
Eram muitas pessoas. Queriam me parabenizar pelo jogo e dizer que eu era foda no basquete. Eu já sabia disso. Por que continuavam falando?
Você só percebe como é chato ficar no meio de gente bêbada quando está sóbrio.
O time de NY logo chegou. Não vi o tal Bruce, que iria lutar comigo, e pensei que isso fosse algum tipo de jogada de Brad, porque outros jogadores vieram me cumprimentar. Jackson foi bem amistoso e até me ofereceu LSD, que eu achei melhor recusar. Esses caras de Nova York... Nunca se sabe.
Acabei parando em uma rodinha de amigos, onde estavam Johnny e Mike, do time, uns caras de NY, com as líderes de torcida. Brad achava que eu devia fazer amizade com eles para que pensassem que eu era inofensivo e apostassem em Bruce. Brad sabia que o cara não tinha chance comigo.
– Você devia beber alguma coisa. – comentou o cara de NY. – Não te vi bebendo.
– Vou lutar com o amigo de vocês mais tarde. – dei de ombros. – Vou me sentir mal se beber.
Ele se afastou, puxando um dos amigos, saindo os dois com a mão na boca, como quem esconde risada. Idiotas.
– Viu em algum lugar? – perguntei para Johnny, olhando ao redor.
– Dá última vez, ela estava com Jennifer e Ashley na mesa de beer-pong.
– E onde fica isso?
– Perto da piscina.
Saí da rodinha e fui para os fundos da casa, onde ficava a piscina. Eu conhecia a casa toda porque já havia ido lá com várias vezes. Ashley era bem rica, então tinha uma enorme piscina nos fundos da casa; esse era um dos motivos que faziam as festas na casa dela serem tão boas.
Uma música do 3OH!3 tocava alto e eu sabia que estaria dançando. Ela adorava aquela música, então não podia estar jogando beer-pong. Mas que merda, ela nem sabia jogar ping-pong!
As luzes ao redor da piscina estavam acesas e havia mesmo uma mesa de ping-pong ao lado. Algumas pessoas estavam bêbadas na piscina, e isso só podia dar merda, mas não era problema meu. Copos espalhados por todos os lugares – vazios – e pessoas se agarrando, tornavam o caminho difícil de seguir. Mas encontrei .
A raiva subiu pelo meu sistema, tão rápido, que fiquei cego. Tudo que eu via era vermelho e . tentando se livrar de um filho da puta que estava agarrando-a contra sua vontade.
Antes que eu percebesse o que estava fazendo, o bêbado já tinha levado um soco. Um soco bem forte. Senti até mesmo os nós dos dedos doerem, mas não parei. Uma vez que ele estava no chão, sentei sob o cara e continuei acertando seu nariz com toda força, mesmo depois que senti o sangue nojento dele começar a manchar minhas mãos.
– !
Era . Era sua voz. Ela estava gritando comigo. Eu estava puto demais para ouvir o que ela dizia, apenas continuava a bater no grande idiota.
Alguém me puxou para longe do cara, que já tinha o rosto desfigurado, mas eu ainda consegui chutar suas costelas com toda força. Senti uma pontada no pé, depois que o atingi. Havia usado muita força.
– Porra, cara! Você matou o moleque!
Pisquei várias vezes. Quem estava falando comigo?
Era Johnny. Ele havia me tirado de cima do babaca que estava tentando agarrar .
. Onde ela estava?
– Estou aqui. Estou aqui, . Acalme-se.
E então braços finos e quentes me envolveram. Senti o cheiro de antes mesmo de sentir seu calor. Abracei-a de volta, agradecendo a sensação maravilhosa que era tê-la em meus braços.
– Ele machucou você? – perguntei, tentando transformar a raiva em preocupação, mas só de pensar que ele podia ter machucado ...
– Não, você me salvou a tempo. – respondeu, sabendo exatamente o que dizer para me fazer ficar calmo. – Obrigada, .
me beijou, segurando meu rosto para me levar ao encontro dela. Eu correspondi o beijo, mas estava um pouco fora do ar.
Soltei e fui até a piscina, onde lavei minhas mãos. Ashley que se fodesse para limpar a água. Eu não me importava.
– Puta merda! O Bruce vai te matar.
Adam, um dos caras do outro time, estava falando comigo.
– Esse aí que você acabou de socar é o primo do Bruce.
Olhei para o moleque ensanguentado caído alguns metros de mim. Ele não se parecia nada com o capitão do time de basquete de Nova York. Só parecia um babaca bêbado que foi atrás da garota errada e acabou apanhando. Bruce era forte e determinado; fora difícil ganhar dele no jogo, mas não impossível. Se aquele cara era seu primo, Bruce era adotado.
Já havia uma rodinha de pessoas observando a confusão, enquanto a música continuava a tocar alto. Um grupo de caras do time de NY estava ajudando o babaca a se levantar e a se recompor. E aí Bruce apareceu.
– Mas que porra aconteceu aqui?! Henry?!
– Aquele cara chegou e me bateu do nada, Bruce. – o grande idiota respondeu. Obviamente, não conseguia nem mesmo assumir o que fazia.
Covarde.
se prendeu ao meu lado no meio da rodinha, que percebi que estava isolando nós quatro ali. Bruce levantou-se e saiu de perto de Henry para se aproximar de mim. Não abaixei a cabeça em nenhum momento. Não tinha medo desses dois otários.
– Você bateu no meu primo, cara? – Bruce perguntou, mas não esperava por resposta, porque continuou a falar logo em seguida. – Pensei que você quisesse começar a briga só meia noite.
– Seu primo estava dando em cima da minha garota. – respondi, enfatizando o “minha”. Todos deviam saber a quem pertencia. – Esperava que eu ficasse observando?
– Aposto que essa vadiazinha provocou Henry.
E aí eu explodi mais uma vez.
Soltei do meu braço e soquei o rosto de Bruce. Pensei que havia usado toda minha força no primo dele, mas estava enganado. Meu punho ainda podia fazer muito estrago. E eu estava prestes a estragar a cara deste filho da puta.
Três pessoas me tiraram de cima de Bruce. gritava para que eu parasse, e vi quando mais três seguraram Bruce. Nos afastaram e ficamos nos encarando com ódio no olhar.
– Você vai morrer, seu palhaço! – ele gritou.
– Ah, é? Quem vai fazer o trabalho? Você e mais quantos? – provoquei, cuspindo em sua direção. Não cheguei a atingi-lo, mas aquilo o fez ficar ainda mais puto e querer se soltar dos amigos com mais vontade.
Eu estava esperando que ele viesse.
– Calma, caras! Vamos resolver isso no ringue.
Era Brad. Ele estava tentando levar todo mundo para o galpão, onde iríamos lutar. As pessoas deviam estar apostando como loucas.
– Vou acabar com você no ringue. – Bruce murmurou ao passar por mim.
Todos começaram a seguir Brad. Eu já sabia onde era a luta, então não precisava. ficou ao meu lado, respirando ruidosamente.
– ...
– Não vou brigar com você, . – ela se apressou, cortando qualquer pedido de desculpa que eu pudesse fazer. Eu sabia o quanto odiava quando eu arrumava briga.
– Bruce veio pra cima de mim...
– Eu vi. Não tem problema. – se virou para mim e prendeu os braços em minha cintura, apoiando a cabeça em meu peito. – Aquele Henry estava tentando me levar pro quarto desde que começamos a jogar beer-pong. Se você não batesse nele, eu batia.
Ri e envolvi em meus braços outra vez.
– Minha garota.
– Bruce é um babaca. Você vai dar uma puta surra nele. Eu só estou preocupada com você. Não quero que apanhe por minha causa, .
– Brad disse que as apostas estão bem altas. Depois do que aconteceu aqui, devem ter dobrado. Vamos ganhar um bom dinheiro, .
– Você vai ganhar um bom dinheiro.
– Graças à sua cena. Então acho que te devo um “obrigado”.
– Sei várias formas de você me agradecer... – ela murmurou, levantando a cabeça e me olhando de um jeito malicioso.
Sorri. Esta era minha .
– Vocês não vão?
Ashley estava parada perto da piscina, meio descabelada e com uma cara cansada. começou a rir e correu para ajudá-la.
– Vamos, sim, Ash. Estávamos esperando você.
– Ah.
Ashley estava bêbada demais, então segurou-a de um lado e gesticulou para que eu fizesse o mesmo. Começamos a andar com Ash apoiada em nossos ombros.
– Nossa. – a bêbada murmurou com os lábios trêmulos.
– O que foi?
– Vocês são meus melhores amigos. Ninguém me esperou para ir pro galpão. Só vocês.
começou a rir, e eu olhei para Ashley, vendo-a começar a chorar. Acabei rindo também, e deu um beijo na bochecha da amiga.
– Você está muito bêbada, sua vagabunda.
– Eu sei. E eu amo vocês. Quero ser madrinha do casamento.
Continuamos a rir. O som estava desligado e as pessoas já tinham corrido para o galpão, no fim da rua. Brad e Mike tinham cuidado para arrumar o lugar, para torná-lo um verdadeiro ringue.
Eu era gostava de lutas e de boxear desde que era um pirralho. Assistia todas as lutas, mas me apaixonei mesmo pelo esporte quando tinha 13 anos e fui para Vegas com meus pais, onde assistimos uma luta de UFC de verdade e ao vivo. Las Vegas é a cidade da luta. Se você quer se tornar um boxeador, Vegas praticamente grita seu nome. E eu estava gritando por Vegas.
O galpão era no fim da rua, então chegamos bem rápido. Toda festa estava amontoada em volta do ringue improvisado e ainda parecia ter mais gente que eu nunca vira. Respirei fundo. O filho da puta deveria estar por perto. E, em alguns minutos, eu vou dar uma surra nele.
O lugar era mal iluminado e cheirava a velho e álcool. A fumaça de cigarros e maconha estavam deixando tudo mais difícil de ver, mas isso era só na porta. Onde ficava o ringue estava tudo bem, já que Brad devia está mantendo tudo sob controle. Respirei fundo e me virei para .
– , preste atenção. Fique com Ashley e não deixe ninguém encostar em vocês duas, ok? – assentiu, e eu dei um beijo em sua testa. – E, principalmente, tome cuidado. Procure Jace e não saia de perto dele até eu ir até você.
Ela assentiu mais uma vez, e eu deixei outro beijo em seu rosto e, desta vez, em seus lábios.
– Boa sorte. Não que você precise.
Sorri para .
– Obrigado. Vou ganhar essa por você.
– Sei que vai.
– Mata ele, ! – gritou Ashley, que estava pendurada nos ombros de , e eu ri e baguncei os cabelos loiros dela, antes de me afastar.
Jace estava perto do ringue, então lhe mostrei onde estava e Ash e mandei que ele cuidasse delas. Ele assentiu e já estava longe quando olhei de novo. As garotas estavam seguras. Brad me puxou para um canto do lugar, me oferecendo uma garrafa de água e um protetor de boca.
– Você está pronto, ?
Concordei com um movimento da cabeça.
– Bruce está querendo te matar...
– Brad, sua parte é a organização. A luta é minha.
Brad suspirou.
– Tudo bem. Foi mal, . está bem? Quer que eu cuide dela?
– Jace já está lá, mas Ashley está bem bêbada. Talvez seja bom mandar mais alguém lá. E quem são essas pessoas todas?
– A coisa ficou meio... Grande. Os torcedores do time de NY vieram para ver Bruce.
– Então as apostas...
– Estão... Insanas. , se você ganhar essa porra, vamos ter dinheiro pra não ir pra faculdade!
Eu ainda não havia pensado nisso. Não tinha decidido que faculdade faria, apesar de ter me apresentado para várias. As respostas chegavam dia 1 de Abril, em duas semanas, e eu ainda não sabia o que queria fazer.
Tirei minha calça e já estava com o short para a luta. Tirei a camiseta também e me preparei para subir.
Nós não usávamos luvas, então Brad pegou o costume de enfaixar meus pulsos antes de subir no ringue, para não desgastar tanto. Depois normalmente conseguia dar um jeito nas torções e machucados. Ela estava estudando para entrar em Yale, em medicina.
Entrei no ringue, onde Bruce já estava me esperando com raiva nos olhos. O pior era que eu não conseguia me concentrar. Em todas as minhas lutas, meus pensamentos eram cortados assim que eu subia no octógono. Agora, eu não conseguia parar o turbilhão de informações que estavam na minha cabeça, me atingindo como se fossem carros em alta velocidade.
Resposta das faculdades em duas semanas.
Eu não sei o que fazer da minha vida.
com certeza vai para Yale. Em Connecticut.
Do outro lado do país.
Eu não sei o que fazer da minha vida.
A escola acaba em três meses.
E eu ainda não sei o que fazer da minha vida.
E quando eu vi, havia levado um soco de Bruce. Bem no rosto.
A pancada forte atingiu o lado esquerdo da minha bochecha e eu senti a dor e a raiva invadirem meu sistema. Como eu não havia escutado Brad nos apresentar e dar início a luta? De repente, eu havia ficado preocupado.
A sua garota está vendo, . A única certeza que você tem é isso. Você sabe lutar, porra! Você luta melhor do que esse babaca. Você pode acabar com ele.
Pisquei algumas vezes e enchi os pulmões de ar. Desta vez era de homem pra homem.
Abri os olhos novamente bem na hora que o punho de Bruce veio em direção ao meu estômago, mas eu protegi o golpe. Encontrei perto do octógono, gritando e torcendo por mim. Havia preocupação em seus olhos, mas isso era tão típico dela. Vivia se preocupando comigo, mesmo que não precisasse. Eu estava ali porque queria. E faria bem feito o que tinha ido fazer.
Ergui o pé e dei um chute no peito de Bruce. Ele tentou agarrar minha perna, mas estava desestabilizado com o chute, e eu era rápido demais. Depois agarrei sua cintura e forcei-o para o chão. Desferi golpes rápidos e fortes em suas costelas com uma mão, enquanto a outra me protegia dos golpes. Eu precisava encontrar uma posição para dominá-lo, mas estava difícil.
Eu quase perdi o equilíbrio quando não consegui defender outro soco no rosto. Essa era a estratégia dele; Bruce tentava acertar meu rosto o tempo todo, esquecendo o resto do corpo. Resolvi usar isso contra ele.
Meu rosto estava perto de Bruce, ele só precisava avançar. Surpreendendo-me, um golpe atingiu as minhas costelas e nós viramos. Desta vez, ele estava me prendendo contra o chão.
Havia raiva em seus olhos e era óbvio que estava um pouco bêbado. A vermelhidão em seus globos mostrava que também estava chapado. Eu não iria perder para alguém como ele.
– Vai, !
. estava gritando meu nome.
Encontramos o olhar, por alguns segundos. Eu estava em frente a ela. Uma corrente elétrica percorreu meu corpo quando vi como ela confiava em mim.
Joguei meu corpo para frente com toda força. Bruce era mais pesado que eu, mas eu era mais forte. Fui em direção ao seu rosto, que segurei entre meus braços. Ele estava no chão, e eu prendi seu pescoço, imobilizando-o com o resto do corpo.
Havia sido mais rápido do que eu imaginei.
Bruce deu batidinhas em meu braço, me pedindo para soltar, mas eu só soltaria quando Brad dissesse que eu tinha ganhado a porra da luta.
E ele disse.
“Campeão”, murmurou para mim, mas eu não ouvi sua voz, apenas vi o movimento de seus lábios.
Eu havia ganhado mais uma luta, mas tinha apenas mais três meses para decidir como iria ganhar a vida.
***
I know they’ve got a plan
1º de abril. O dia.
Quando minha mãe me entregou as cartas, sorrindo e mostrando que tinham três envelopes para mim, eu quase chorei como um bebê. Eu havia colocado de lado isso de universidade e tinha me focado nos treinos de basquete e nos trabalhos finais. As provas eram neste mês, mas não é como se eu precisasse de nota. Se zerasse todas as provas, ainda teria uma média boa para me formar.
Eu havia me inscrito em várias universidades aqui na Califórnia, mas haviam três que eu havia me arriscado. A primeira foi ideia da minha mãe: Harvard. É claro. Ela queria que eu me formasse em Harvard, porque acreditava que eu era o tipo de aluno inteligente o bastante para passar lá. Harvard fica em Massachusetts, do outro lado dos Estados Unidos. Peguei o envelope com o selo de Harvard e o abri de uma vez, para encontrar a resposta óbvia que eu já estava esperando: não fui aprovado.
Então tinha Brown, em Rhode Island. Ideia do meu pai. Eu não tinha a menor vontade de ir para lá, mas ele havia insistido, e eu aceitei porque não sabia mais para onde ir. Rasguei o envelope com um pouco de pressa, querendo saber a resposta.
Meu sangue correu rápido pelas veias e meu sistema nervoso estava prestes a explodir. Eu havia sido aceito.
Meu pai ficaria orgulhoso por eu ter sido aceito na universidade que ele havia estudado, mas eu não sabia se queria mesmo ir para lá. De qualquer jeito, não tinha escolha. Eu estava na Brown.
Me joguei na cama, com o último envelope em mãos. Olhei para o retrato de ao lado da minha cama. Nós havíamos tirado a foto no Dia dos Namorados, o primeiro que passamos juntos. Estávamos visitando Malibu, na praia. O mar se estendia atrás de nós enquanto estávamos abraçados e beijava minha bochecha. era o motivo para eu ter me inscrito naquela universidade.
Rasguei cuidadosamente o envelope de Yale.
Me desesperei quando vi que não havia sido aceito.
Não era o mesmo sentimento por não ter sido aceito em Harvard. Eu já sabia que não iria passar. E também não era a mesma dor de ter entrado para Brown; eu não queria estudar lá. Era mais como ver todos rindo da minha cara, porque eu não era bom o bastante para estar ao lado de . Eu não poderia ir para a mesma universidade que ela.
Liguei para Jace, e ele apareceu na porta do meu quarto, dez minutos depois.
– O que foi, ? Vim o mais rápido que pude.
– Não fui aceito em Yale.
Jace franziu o cenho.
– Puta merda, cara! E agora? Pra onde você vai? Não se inscreveu em nenhum outro lugar?
– Fui aceito em Brown.
– Sério? Eu também! Nós vamos para a mesma universidade, porra!
Isso me acalmou. Jace iria para o mesmo lugar que eu, então estava mais tranquilo. Não iria começar na universidade totalmente desnorteado.
Mas ainda tinha . Nós namorávamos desde os 13 anos, quando começamos a estudar juntos. Eu entrei para o time de basquete, e ela, para o das líderes de torcida. Não falava muito com ela, mas aí, Ashley – que era namorada de Jace – o obrigou a ir ver uma peça de , e eu acabei indo atrás. E me apaixonei por ela.
– vai para Yale. – murmurei, depois de Jace parar de falar sobre como seria legal estudarmos na mesma universidade, em Rhode Island.
– Yale é em Connecticut. Do lado de Rhode Island, . Você vai poder visitá-la nos fins de semana.
– Não é a mesma coisa.
– , vamos encarar a real. Namoro de colégio não dura. Você e iam acabar se separando de qualquer jeito.
Arregalei os olhos, um pouco assustado.
– O que você quer dizer?
– , vocês não vão durar para sempre. Vamos conhecer várias garotas na universidade. Vamos estar em Rhode Island. E em Connecticut. Isso não tem como dar certo. Por um tempo, vai parecer que vocês estão bem, mas depois vão se separar, aos poucos.
Não. Jace não podia estar certo. Eu já sabia que havia uma possibilidade disso acontecer, mas tinha certeza de que eu e sairíamos dessa. Nós gostávamos um do outro o bastante para isso. Não precisávamos estar juntos para...
– Seu telefone, .
Jace jogou o celular para mim. A foto de estava brilhando na tela.
– . – atendi.
– ! Eu estou em Yale! Eu consegui! Eu consegui!
Sorri para o telefone. Ela estava tão feliz. E eu estava prestes a colocá-la para baixo.
– Eu entrei em Brown. – disse com uma voz desanimada.
– Ai, cacete! Brown fica em Rhode Island, não é? , vamos poder nos ver no final de semana! Yale é em Connecticut, caso você não saiba... Vamos poder ficar juntos, .
Por que era sempre tão positiva?
– E já que estou te ligando, será que pode vir me ajudar com algumas falas da peça? O Philip não pode bater o texto comigo hoje.
– Claro. Chego em dez minutos.
– Eu vou te buscar.
– Jace está aqui. Ele me leva.
– Droga. Então eu te levo até sua casa depois.
Eu ri.
– Tudo bem.
– A porta vai estar aberta!
desligou. Ela ganhara um carro em janeiro, no aniversário. Fazia de tudo para poder dirigir.
– Não acredito que você me faz vir até aqui e depois sai.
– E você ainda vai me levar.
– Filho da puta. O que disse sobre a faculdade?
– Que vai ser super legal porque poderemos ir ver o outro nos fins de semana.
– Caralho! Parece algo que algum cara esperto te disse mais cedo! – Jace ironizou, saindo do quarto. Não comentei e apenas o segui.
Avisei minha mãe que estava indo para . Não comentei sobre as faculdades, e quando ela perguntou, eu disse que iria abrir quando voltasse.
Não sei por que menti. Não consegui dizer a verdade. Não consegui dizer que iria para Brown. Eu não queria ir para Brown.
Na casa de , Jace e ela ficaram conversando sobre universidades, por uns 10 minutos, antes dele ir embora. Tentei participar da conversa, mas eu estava deslocado. Eu não sabia dizer os pontos fortes de Brown, porque não conhecia o lugar como Jace. E o pior é que também não sabia nada sobre Yale, a não ser que ia estudar lá.
Cheguei à conclusão de que eu não queria ir para universidade nenhuma.
estava no papel feminino principal da peça da escola. Ela sempre atuava nas peças, mas as de final de ano letivo eram as mais importantes. Ensaiava dia e noite para ser perfeita, e eu já estava acostumado a ajudá-la com as falas. Este ano, a peça final era uma versão de Otello, de Shakespeare, que tinha feito a adaptação de roteiro. Ela era apaixonada por Shakespeare. O papel de Desdêmona era dela, então eu estava interpretando Otello, pois não gostava nem um pouco de Philip, o garoto que fazia par com ela.
“Não é possível, Desdêmona! Cássio, meu melhor amigo?”, eu perguntei, fazendo gestos grandiosos, mostrando o quanto eu estava decepcionado com ela.
“Otelo, querido. Não sei o que estás dizendo. Estás soando dissimulado e sem sentido. Não há como compreender-te.”, parecia realmente não saber o que estava acontecendo.
“Eu percebo o modo como olha para ele. Percebo o modo como estão sempre juntos! Eu te amei, mulher! Como pode me trair desse jeito?!”
“Se estás falando de Cássio, saiba que nunca troquei mais do que formalidades com ele. Afinal, é seu melhor amigo. Otelo, eu amo você, e somente você. E não há mais ninguém nesse mundo que poderá me fazer sentir completa como você faz.”
Em algum momento da atuação, nós havíamos nos aproximado. Eu aprendi – do modo difícil – que atuação era contato. Confesso que assistir alguns ensaios e peças, onde fazia par romântico com algum idiota, me irritava, mas me ensinou que isso era teatro. E amava teatro.
O clima entre nós foi cortado quando pegou o roteiro para ver qual a próxima cena. Eu tinha certeza de que ela já havia decorado, mas não estava confiando na própria cabeça e queria garantir que estava certa.
– E aí você me beija. – ela murmurou, sorrindo e jogando o roteiro para longe.
Seus braços me puxaram pelo pescoço para que eu me abaixasse e nossos lábios se encontrassem. Ela me beijou de um modo diferente, como se fossemos outras pessoas, e eu sabia que ainda estava agindo como Desdêmona e eu deveria agir como Otelo. Quando sua língua roçou a minha com um pouco mais de força e desejo, me afastei de .
– Espero que você não tenha que beijar Philip desse jeito, porque, senão, vou ser obrigado a subir no palco e fingir que eu sou Otelo e ele é o Iago.
Iago era o filho da puta que bagunça a história de amor.
– Em primeiro lugar, não era eu beijando você, era Desdêmona beijando Otelo. E depois, nós fazemos algo chamado beijo técnico, que simula um beijo de verdade. E, por último, eu nunca beijaria ninguém do jeito que beijo você, .
Sorri para .
– Ótimo. Bom saber disso.
– Você é ciumento demais para namorar uma atriz. – ela comentou, ainda mantendo nossos corpos juntos.
– Você vale à pena.
Beijei sua boca mais uma vez. Eu nunca me cansava de , nunca me cansava dos arrepios que o corpo dela trazia ao meu. As sensações nunca eram as mesmas.
– Se eu ainda não tivesse transado com você, este seria o momento em que você poderia começar a tirar minhas roupas. – ela sussurrou entre o beijo, me fazendo rir.
– Bom saber a facilidade que é entrar na sua calcinha.
– Seu filho da puta conquistador. Nem pense em começar nada. Minha mãe está no andar de baixo.
Soltei um gemido de frustração.
– Eu me esqueci completamente que ela tá de férias. Quando acaba?
riu.
– Se Deus quiser, em breve. Ela tá deixando eu e o pai loucos.
***
I don’t know where to go, what’s the right team?
Meus pais ficaram radiantes com a carta de Brown. Queriam até dar uma festa e essas coisas, mas eu implorei para que ficassem em silêncio.
Brown continuava a me perturbar. Mesmo depois de pesquisar sobre a universidade e conversar com Jace sobre, eu ainda não estava convencido de que queria mesmo ir para lá.
Porque eu não queria.
Estava no meu quarto, em uma quinta-feira, ignorando o caderno de geometria, que me mandava estudar para a prova do dia seguinte. Não me parecia interessante o suficiente. Meu celular também estava sendo ignorado, mesmo que estivesse apitando desde que eu terminei de jantar. Eu vi que era , mas também tinham mensagens de Brad e Jace. Era como se todos resolvessem que precisavam falar comigo enquanto eu pensava sobre meu futuro.
Mas tem uma hora que você não aguenta mais.
– O que foi, porra?! – atendi a ligação de Brad, sem educação alguma.
– Cara, entra no YouTube. Você está na página principal.
– Eu... O quê?
Comecei a digitar no computador, conforme ia falando com Brad.
– Lembra daquela luta com o Wallace, no final de Outubro? Alguém filmou. E colocou na internet. E por algum motivo, isso fez um puta sucesso!
– E por que uma luta minha faria sucesso?
– Estão comparando você com Anderson Silva, Demetrious Johnson e até Jon Jones!
Cacete. O vídeo em que eu batia em Wallace estava mesmo em destaque. aparecia brevemente durante a gravação, gritando por mim e levemente bêbada, se apoiando em Jace e em Ashley, como sempre acontecia.
– Caralho, Brad! Você viu essas visualizações?!
O tamanho do vídeo começava a me dar medo. O que fazíamos era ilegal, não só por sermos menores de idade, mas porque havia tráfico de drogas durante as lutas, não havia a menor preocupação com saúde ou coisas do tipo, bebida alcoólica à vontade. Isso sem contar na invasão de propriedade, já que sempre íamos para galpões e edifícios abandonados.
– Pelo que eu entendi, Wallace é um lutador semiprofissional. Ele tem um parente que já foi empresário de alguns lutadores e está tentando a sorte. Mas aí esse parente dele viu a luta e resolveu upar o vídeo agora.
– A luta foi há 7 meses, Brad. Se ele queria alguma coisa, já devia ter postado o vídeo antes.
– Olha, , não sei o que está acontecendo. Só sei que você está fazendo um puta sucesso e precisamos marcar outra luta logo, porque...
– Espera, Brad, tenho outra ligação.
Coloquei Brad na espera e atendi ao número desconhecido.
– Alô?
– Olá! Gostaria de falar com o senhor , por favor.
– É ele. – respondi um pouco seco. A voz masculina estava educada demais.
– Ah, ! Que bom que pode atender! – ele passou de um tom sério e impessoal para um amigável em uma frase. – Sou Vincent Queller, mas pode me chamar de Vin!
Que porra de nome é Queller?
– Não sei porque o senhor pensa que vamos ter algum tipo de intimidade...
– Você lutou com meu sobrinho, um tempo atrás. Por informantes confiáveis, fiquei sabendo que gostaria de ser um lutador profissional. Eu preciso apresentar um garoto novo e promissor para a nova temporada, e você parece perfeito. O que acha? Podemos nos encontrar?
– Acredito que não. Não sei quem o senhor é e...
– Imagino que esteja com receio. Vou te passar algumas informações minhas, por mensagem, para que já vá se acostumando. Realmente acho que você tem talento. Quero ser seu empresário. Quero te levar para o topo. Quero te levar para Vegas, garoto.
– Pode... Me dar um tempo para pensar?
– Mas é claro. O tempo que precisar. Quando quiser conversar comigo, pode ligar nesse número. Encerramos a ligação com despedidas breves. Brad não estava mais na linha, e eu não retornei. As mensagens que lotavam meu celular eram todas falando sobre a luta. Sobre a surra que eu havia dado em Wallace.
Assisti ao vídeo mais algumas vezes, mas ainda não conseguia entender o porquê de todo aquele alvoroço. Para mim, ainda era uma luta comum entre eu e um idiota qualquer. E já faziam 7 meses.
Minha mente começou a correr, imaginando como seria minha vida se eu aceitasse me encontrar com o cara com nome estranho e desse tudo certo. Como seria morar em Las Vegas, mesmo sem ter 21. E viver de lutas, o que eu mais amava fazer. Era como viver um sonho.
Você precisa fazer a faculdade que vai te levar pro futuro que você imagina quando fecha os olhos, . Não pode escolher qualquer uma. Tem que escolher a que segura a chave que abre o cadeado para os seus sonhos. Porque, querendo ou não, é a faculdade que vai traçar o caminho para o resto da sua vida.
tinha dessas. Falava coisas profundas, de vez em quando. Acho que ela aprendia isso nas peças e apenas as transportava para a vida real. Ela havia me feito esse discurso quando fomos para o Norte, fazer inscrição nas faculdades. A maioria pedia uma entrevista, então fomos juntos na viagem. Recomendei que se inscrevesse em Juilliard, mas ela se recusou. Disse que o seu futuro era como médica, assim como sua mãe, e a mãe dela, e a mãe da mãe dela, e sucessivamente.
Não se parecia com algo que faria ou diria, mas eu aceitei.
Quando fomos fazer as inscrições, eu não sabia bem para onde queria ir, então só fui pegando algumas opiniões e sugestões, esperando encontrar o melhor lugar, assim no acaso. Mas eu não podia mais negar para mim mesmo.
Eu queria ir para Vegas.
***
To find why you’re here for just open another door
– ! Fico feliz que tenha vindo me encontrar. Acredito que tenho um mundo de possibilidades para te oferecer.
Vincent Queller estava sentado em minha frente no seu escritório. Estávamos separados por uma mesa repleta de papeis preenchidos com caneta azul e um laptop de última geração. Se Vincent era um empresário, não era nada do que eu estava esperando.
Na minha opinião, empresários são homens gordos e carecas, que não podem mais trabalhar no ramo que desejam, então eles empresariam pessoas mais jovens que possam fazer sucesso. Mas Queller era diferente. Ele quebrava o padrão. Seu rosto quadrado era firme e forte e ele não tinha marcas de expressão; sua orelha era danificada, como as orelhas dos maiores lutadores do UFC. sempre me perguntava se a minha ficaria detonada daquele jeito, e eu acabava rindo, sem saber como responder. O terno bege que usava, destacava a gravata azul claro, e, se tivesse que o comparar com alguma coisa, o compararia com um armário. Um armário grande.
– Eu também, senhor Queller. Por isso estou aqui. – respondi, movendo as pernas. Ele me intimidava e me deixava nervoso.
– Vin, rapaz. Me chame de Vin. – concordei com um movimento de cabeça. Eu não iria discordar de um armário. – Me diga, : já sabe o que vai fazer quando o colégio acabar?
– Vou estudar na universidade de Brown. Em Rhode Island.
– Já sabe que matérias irá cursar?
Eu havia ensaiado aquele discurso sobre as matérias e meus interesses uma centena de vezes. Queria saber o que falar quando meus pais perguntassem, ou até mesmo . Não queria parecer perdido na frente de todos, que pareciam tão sábios em relação ao futuro.
Só que eu congelei.
As palavras que saíram da minha boca não estavam previstas nem ensaiadas.
– Eu não tenho a menor ideia.
Vin soltou uma risada amistosa. Não era como se estivesse tirando sarro de mim, era mais como se me compreendesse.
– Eu tinha exatamente o mesmo pensamento com a sua idade. – admitiu Vin. – Queria ser lutador e meus pais achavam uma perda de tempo. Entrei em uma faculdade qualquer e, quando criei coragem para enfrentar o mundo, já era tarde demais. Não pude ter as mesmas oportunidades. Você sabe que a carreira de um lutador não é muito longa.
– Eu sinto muito. – respondi. E eu realmente sentia.
– É, mas não quero que você sinta muito por você mesmo, rapaz. Você lutou com um dos garotos que eu estava cuidando. E ganhou dele. Eu não costumo trocar; quando assumo a responsabilidade com alguém, vou até o fim. Mas tive que dizer para Wallace que não poderia mais trabalhar com ele. Quero trabalhar com você, . Você tem muito mais chances de chegar ao topo do que ele.
Eu estava estático. Todos os meus sistemas haviam entrado em curto e não conseguia raciocinar direito. Vin esperava que eu dissesse algo, mas somente o toque do meu celular me tirou do transe.
– Eu... Vou atender. Um momento, por favor. – pedi, saindo da sala com o aparelho nas mãos. Não pretendia atender, mas o nome na tela fez com que eu mudasse de ideia. – Oi, . Pode falar rápido? Estou um pouco ocupado.
– Oi, . – sua voz estava estranha ao falar. – Eu... Desculpa. Não queria interromper nada. Quando você tiver mais tempo...
– Não, . É algo importante? Pode falar... Cacete, você está chorando? Vou aí. Onde você está?
– Não. Não precisa. De verdade. Não era nada. Nem sei por que liguei. Depois nós conversamos.
E, então, ela desligou.
Franzi o cenho para o telefone e a preocupação tomou conta de mim. estava chorando e ela nunca chorava. Nunca.
Voltei para a sala de Vin.
– Desculpe, Vin. Eu vou ter que...
– A vida não vai ser sempre assim, .
Vin me interrompeu com uma frase que rondava minha cabeça desde que entrei no ensino médio. Isso fez com que eu me calasse e prestasse atenção nele.
– Festas, lutas ilegais, ficar bêbado, namoradinhas. Isso acaba na formatura. A hora que entrar para a universidade... Ah, . É bem mais difícil do que os filmes mostram. Você está preparado para largar seu sonho de ir para Vegas lutar?
– Meus pais nunca aceitariam a minha escolha, Vin. – respondi, usando a única coisa que me impedia de aceitar.
– Você vai fazer 18 anos, ainda este ano, certo? – assenti, já que ele esperava resposta. – Depois disso, você pode fazer o que quiser. Pode embarcar em um avião para Nevada comigo na noite do seu aniversário de 18. Você pode conseguir o que quer, .
Respirei fundo. Todas as barreiras que me obrigavam a recusar a oferta haviam desaparecido.
– Posso pensar nisso? Por um tempo?
– Claro. Pense até seu aniversário de 18.
– É em maio. Dia 1º de Maio.
– Ótimo. Dia 1º você me dá uma resposta, que tal?
Assenti, concordando. Minha cabeça estava cheia, mas eu já sabia qual a resposta que queria dar.
Agora eu precisava saber o que estava incomodando .
***
I’m kicking down the walls, I’ve gotta make ‘em fall
tinha um grande problema, que ela escondia com facilidade, porque não era exatamente dela: sua mãe.
A mãe de não era muito saudável no quesito mental. Emma tinha distúrbios de personalidade múltipla. É uma doença que faz com que a pessoa acredite que ela tem mais de uma personalidade. Emma não era apenas Emma, a mãe. Descobrimos que ela também era Jack, o caminhoneiro, Holy, uma criança, Blaire, uma ex-presidiária. E de acordo com o médico, muitas outras podiam aparecer. Era assustador ver o modo como Emma se transformava, e isso acabou com sua internação. Não teve jeito; ela precisava de cuidados especiais.
O pai de casou-se outra vez, com a mulher que ela chamava de mãe, Casey. Mas todo dia 15 do mês, visitava sua mãe. Era como um ritual, algo constante. A antiga Emma – que não havia sido atingida pela loucura – gostava de rotina, e acreditava que visitá-la todo dia 15 era um modo de preservar isso, de alguma forma. E também tinha o fato de que nunca aconteceu de Emma não ser Emma no dia 15. Era como se suas personalidades tivessem dias específicos.
Hoje era dia 15.
Eu ia com , mas não chegava a falar com Emma. Ela preferia fazer isso sozinha.
Estava no lado de fora da clínica de repouso, esperando que voltasse, jogando no celular. Xinguei quando perdi meu último conjunto de vidas, deixando o aparelho cair, sem querer. Bufei, me abaixando para procurá-lo.
Todo mundo sabe como é impossível encontrar alguma coisa no chão do carro, principalmente seu telefone. É como se o chão fosse um buraco negro que suga tudo assim que atinge o solo. E não vou nem comentar sobre as chaves.
Mas eu encontrei algo.
O carro de era a maior zona do Universo. Só perdia para o meu quarto e para o quarto dela. Você pode achar de tudo dentro daquele pedaço de metal, desde batons e maquiagens com nomes desconhecidos por mim, até...
Até um envelope de Juilliard.
Encarei o envelope rasgado nas mãos, sem acreditar. havia recebido uma carta de Juilliard. A carta de dentro não estava lá, mas eu continuei a analisar o pedaço de papel que eu tinha em mãos. Mas que merda isso significava?
Bem nesta hora, vi saindo da clínica. Soquei o papel no bolso. Dentro do carro de – e dentro de seu mundo também – havia uma lei: não encontrei, não vou precisar. Se algo estava jogado no seu carro, com certeza ela não iria procurar mais tarde.
– O que está fazendo aí?
abrira a porta do carro e me encontrara abaixado no banco. Não era uma coisa fácil de se explicar. A não ser...
– Meu celular caiu.
– Quer encontrar seu celular no meu carro? Boa sorte.
Eu ri para diminuir a tensão. Eu deveria agir como um adulto e perguntar sobre a carta. Ou, então, ser ainda mais maduro e esperar que viesse e me contasse... Mas eu ainda não era um adulto, então continuei quieto, procurando o celular.
– Liga do meu. – ela sugeriu, me dando seu telefone.
Assenti e fiz o que ela mandou, encontrando meu celular no lugar mais impossível debaixo do banco.
– Obrigado. – devolvi seu celular. – Como foi com a sua mãe?
– Bem. Ela está bem. – sorria. – Melhor do que das outras vezes. Até perguntou de você.
– Mesmo? – sorri também, tentando passar confiança. – É porque sou um cara marcante.
– O médico acha que ela vai poder ir à formatura.
Essa era uma notícia nova. Uma notícia nova e surpreendentemente boa.
– Cacete! Isso é muito bom, !
– Eu sei! Vai ser incrível se ela for! Nossa formatura é no final de maio, sabe. Temos um pouco mais de um mês até lá! E você vai ter 18!
Continuei conversando com , animadamente. Se eu aceitasse a proposta de Vin, talvez eu não participasse da formatura.
não sabia nada sobre isso. Ninguém sabia. Eu não tinha com quem conversar. Meus pais não estariam dispostos a ouvir e já estavam com o cheque assinado para me mandar para Brown; Jace já devia ter mandando as malas com suas coisas para Rhode Island; tinha suas próprias preocupações e só me restava Brad, que estava desesperado para passar de ano com as provas finais e a recuperação.
Eu estava sozinho nessa.
Minha decisão já havia sido tomada. Eu iria para Vegas; aceitaria a proposta de Vin. E aí vinha a parte difícil: explicar isso para os meus pais.
Tentei no jantar daquele mesmo dia, depois de ter me deixado em casa.
O jantar é um ótimo lugar para notícias bombásticas. Se você quer revelar algo para sua família, faça no jantar. O máximo que pode acontecer é eles ficarem putos e começarem uma guerra de comida.
– Mãe, pai... O que vocês acham sobre Brown? – comecei, amaciando o terreno. Eles precisavam entender que eu falaria sobre universidade.
– É a universidade que eu estudei, você sabe filho. – meu pai respondeu na hora com a boca cheia de comida. Tomou um gole de cerveja pra ajudar a descer, e depois continuou falando, e eu me obriguei a não escutar, porque não estava realmente interessado.
– E se... E se você não tivesse ido para a universidade? – perguntei de modo inocente e hesitante. Não é fácil fazer esse tipo de pergunta depois que ele passou dez minutos descrevendo a “preciosidade que é estudar em Brown”.
Meus pais congelaram no lugar. Meu coração parou.
– O que quer dizer com isso, ?
– Nada. Estou apenas perguntando. Se vocês não fossem pra universidade, o que gostariam de ter feito?
– Não há o que fazer sem a universidade, . – meu pai disse automaticamente. – Ou você faz, ou você não faz nada pro resto da vida. É assim que as coisas são e ponto final. Em agosto você vai fazer suas malas e ir direto para Rhode Island. Sem mais perguntas.
Concordei e terminei de comer, em silêncio. Eu estava tentando derrubar paredes de concreto com chutes.
***
I want my own dream so bad I’m gonna scream
O último jogo do campeonato foi fácil. Deixamos nosso legado, é claro. O melhor time de todos os tempos, que estava se formando. A torcida nunca foi tão forte e tão ensurdecedora. O procedimento era o mesmo que do outro jogo: festa, luta, conseguir chegar em casa e esconder o dinheiro e possíveis marcas de porrada.
Mas havia algo de diferente desta vez.
Com o último jogo da temporada, eu entrei em desespero. As provas já haviam acabado. Agora era esperar o resultado e entrar pra universidade. Eu não queria ir para Brown. Se eu fizesse as malas, o único avião que eu pegaria, seria o que me levasse direto para Nevada. Ninguém sabia disso, além de mim.
e todas as líderes de torcida invadiram o vestiário, pulando e cantando músicas ensaiadas para o jogo. Havia uma garrafa de champanhe, que alguém estourou. O treinador estava lá também e todos estavam em festa. Eu não conseguia acompanhar nada disso.
Em algum momento, me beijou e me chamou de ”estrela” do time. Disse que eu era o melhor e que ela acreditara em mim desde o apito. Mais pessoas vieram me abraçar e me cumprimentar, mas uma placa com “Las Vegas” e “Providence” escrito em cores chamativas era tudo que passava na minha cabeça.
Las Vegas, Nevada.
Providence, Rhode Island.
Para onde você vai, ?
Quando eu percebi, havia dado um grito.
Um silêncio caiu sob todos os presentes no vestiário, só para que gritassem logo depois. Eles não faziam ideia do que acontecia na minha cabeça.
Nem mesmo , que estava ao meu lado e me perguntou se eu estava bem. Sua peça de teatro fora ontem, na sexta 22. Ela também havia concluído tudo e estava pronta para embarcar num voo para Yale, em Connecticut.
Todos já tinham seus planos.
A festa da noite seria na mansão de Johnny, o mais rico de nós. A festa tinha que ser a maior e mais louca de todos os tempos; era nossa última festa no colegial.
Última festa no colegial...
– , se importa se eu não for à festa?
Abaixei os olhos para encontrar ao meu lado, murmurando em meu ouvido. Eu estava beijando-a segundos atrás, não estava?
– Não está se sentindo bem?
– Estou cansada, na verdade. A peça ontem foi bem longa, e agora o jogo... Eu só quero minha cama.
– Tudo bem, pode ir. Quer que eu te leve?
– Não, não. Estou com o meu carro. Você sabe como eu gosto de dirigir...
Sorri. Um sorriso forçado, mas que passaria despercebido.
– Ótimo. Me ligue se precisar de alguma coisa.
me deu um último beijo antes de se afastar da multidão. Nós não nos importávamos em ir à festas separados, porque confiávamos o bastante um no outro. Eu sabia que por mais bêbada que estivesse, ela nunca me trairia, nem de brincadeira. Eu correspondia a isso.
As pessoas estavam me sufocando. Aquele vestiário estava me sufocando. Percebi que precisava de um lugar vazio, arejado, silencioso.
Só havia um lugar assim.
Distanciei-me aos poucos das pessoas. Não quis chamar atenção, então fui cumprimentando um ou outro, fingindo que estava querendo chegar em alguém que estava mais adiante. Falei até com o treinador, que me parabenizou várias vezes, e foi um inferno conseguir afastá-lo. Mas eu consegui.
Uma vez nos corredores da escola, corri pelas escadas até chegar em uma parte onde dizia “acesso restrito”. Era lá mesmo que eu precisava ir.
Estava escuro, já se passava das 22h, mas os alarmes não estavam ligados porque era dia de jogo. As luzes automáticas não se acenderiam nos corredores, mas não haviam os barulhos dos alarmes. Passei por cima da corrente com a placa e continuei a subir.
A escola tinha uma enorme estufa no telhado, para os estudos de Botânica e Biologia. Ninguém se importava o bastante para subir até lá ou trancar a porta. Era extremamente silencioso à noite.
Eu precisava do silêncio. Conforme fui adentrando, o espaço e o silêncio tomava conta de tudo ao meu redor, e eu me sentia pressionado. Como se houvesse algo dentro do meu corpo pedindo, desesperadamente, para sair. Era mais que um desejo, era uma necessidade, algo que estava me deixando completamente louco.
E, então, eu gritei.
Gritei com toda a força dos meus pulmões.
Por algum motivo, não consegui ouvir o barulho do meu grito. Era como se eu estivesse em uma bolha, que estava me isolando de tudo e de todos. Conforme o ar saía de dentro de mim, o alívio ia me dominando, como em uma perfeita troca de oxigênio e gás carbônico.
Eu estava funcionando bem melhor agora.
Me calei quando o ar faltou. Respirei fundo algumas vezes, sentindo o ar puro das plantas. A estufa era um bom lugar para relaxar. Era uma pena que todos vissem como um lugar para estudos e chatices.
– Mas que porra foi essa?
Se eu tivesse levado um tiro na cabeça, não teria ficado mais surpreso.
– ?! O que você está fazendo aqui?!
– Sei que não estou gritando com as coitadas das briófitas e angiospermas. O que elas fizeram para você?
Ela ainda vestia o uniforme vermelho e branco das líderes de torcida. Não havia ido para casa, porra nenhuma.
– Pensei que estivesse indo para casa.
– E eu pensei que estivesse indo para a festa.
Nós dois suspiramos.
A real era que não estávamos sendo 100% honestos um com o outro. Sempre nos orgulhamos da nossa relação baseada na verdade, mas não estávamos usando-a em um momento importante.
Estava na hora de colocar as cartas na mesa.
– Eu preciso te contar uma coisa...
– Eu preciso te contar uma coisa...
Nós rimos quando percebemos que falamos ao mesmo tempo.
– Primeiro as damas. – lembrei, erguendo as sobrancelhas de modo galanteador. Agora que já havia colocado todas as preocupações para fora, estava mais fácil conversar com .
– Tudo bem. – ela respirou fundo. Sentou-se ao lado de uma enorme planta que eu deveria saber o nome, mas as provas já haviam passado, então um super foda-se para essa plantinha. – Vamos com calma.
Sentei-me ao seu lado e apertei sua mão. Eu estava ouvindo.
– Eu não me inscrevi só em Yale. Também fiz inscrição na Juilliard. E eu passei. Nas duas. , eu consegui entrar na Juilliard.
Foi um choque. Eu já imaginava que ela tinha se inscrito, por causa do envelope que achei no carro, mas não que tinha passado. Quer dizer... É Juilliard.
– Não falei nada pra você nem pra ninguém porque não tinha esperanças, sabe? Achei que não iria ser aprovada. Mas eu fui. Eu entrei, . Eles me querem lá.
Abracei com tanta força, que esqueci de me preocupar se isso estava machucando-a ou não. Rodopiei com ela em meu colo, rindo de felicidade. Acho que isso que significa amar alguém. Minha vida estava tão bagunçada e confusa quanto o carro de , mas ela tinha seus sonhos na mão, e eu estava mais feliz do que nunca.
Caralho. Eu amava .
– Você merece, . Porra, você merece! – eu disse, continuando a rodopiar com ela. ria e me abraçava de volta, não se importando em estarmos os dois suados e usando as roupas do jogo. Paramos no chão, quando eu tropecei no meu próprio pé e caí com ela sob o meu peito. O sorriso mal cabia em seu rosto, que estava encharcado de lágrimas.
– Obrigada, . Deus! Você não sabe o quanto isso é importante para mim.
– Sei, sim, . Sei tudo sobre você. Sei como você é incrível quando sobe em um palco, na frente de um monte de desconhecidos, e se torna outra pessoa. Ou quando você canta durante as peças, como se a música fosse sua ou fizesse parte de você. , você é perfeita fazendo o que gosta, e eu nunca conseguiria te imaginar fazendo outra coisa!
me beijou assim que eu terminei. Suas mãos se prenderam no meu cabelo e ela me beijou com vontade, de um modo que nunca havia feito antes. Eu me senti tão bem com aquele gesto, que meu corpo todo se aqueceu e o mundo ao meu redor parecia certo. O calor de , pressionado contra mim, parecia está onde deveria; seu cabelo caindo ao nosso redor, nos isolando de tudo e todos, como se estivéssemos em uma dimensão só nossa, onde só existiam nossos lábios e nosso amor.
Mas aí eu percebi que ela estava chorando. Muito.
– ...
Subitamente, se afastou. Sentou-se um pouco longe de mim e enterrou o rosto nas mãos. Não estava chorando de alegria. Havia algo errado.
– Calma, gatinha. Fala comigo. – pedi, tocando seus ombros com as mãos, lentamente, para não assustá-la.
– Eu não vou para Juilliard, .
Franzi o cenho. Ela estava chorando e falando embolado, então eu devia ter entendido errado.
– Você foi aceita, não foi?
– Eu não posso ir para Juilliard. Minha mãe queria que eu fosse estudar medicina em Yale. Se eu conseguir entrar lá, talvez consiga, um dia, descobrir como amenizar o distúrbio dela, . Minha mãe precisa de mim. Eu não posso ser egoísta ao ponto de ir para Juilliard. Não posso fazer isso com ela.
chorava tanto que eu fiquei com medo. Queria ter um lencinho para ela soar o nariz, ou alguma coisa assim, mas não tinha nada, então tirei minha camiseta de basquete; estava um pouco suada, mas eu ia jogar no cesto de roupas sujas assim que chegasse em casa, então não tinha problema.
Segurei seu rosto com uma mão e limpei as lágrimas e seu nariz escorrendo com a outra, usando a camiseta.
– , me escuta. A vida é sua. Sua mãe já viveu a dela. Você está só começando. Você sempre me disse que não podemos ser felizes fazendo o que não gostamos e nem nunca seremos realmente bons se não nos agradar. Então você devia seguir seu próprio conselho e ir para Juilliard. Tantas pessoas estão na fila de espera, só aguardando o momento de alguma garota talentosa como você desistir pra que possam pegar o lugar dela... Não deixe que alguém pegue seu lugar, gatinha. E não pegue o lugar de alguém em Yale. Faça o que você quer, o que você ama fazer. Não dá pra voltar atrás, .
– Não posso decepcioná-la, . Minha mãe não sabe quem é. Ela era médica, cuidava dos outros e agora não pode ficar sozinha por um segundo! Eu sinto como se fosse meu dever. Preciso garantir que ela vai se curar e...
– Não é sua obrigação fazer nada além de ser feliz. Porra, , você entrou na Juilliard! Isso é difícil pra caralho! E, que merda, espero que tenha gravado sua apresentação, porque eu quero ver.
Um sorriso tímido surgiu no canto de seus lábios.
– Sim, eu tenho gravada.
– Ótimo. Vamos para sua casa e você vai me mostrar assim que chegarmos lá. Eu quero ver você fazendo o que você ama, .
– Juilliard é em Nova York. Não poderei visitar minha mãe todos os dias...
– Você também não poderia, estudando em Yale. A diferença é que você vai deixar de visitá-la por um bom motivo: estar na faculdade que você quer, fazendo o que você nasceu para fazer.
E finalmente o sorriso ocupou seu rosto todo. Os dentes brancos e levemente tortos – ela se recusara a usar aparelho – brilharam para mim.
– Sua vez.
– O quê? – pisquei, confuso. Ela havia me pego de surpresa.
– Sua vez de dizer o que ia dizer. Por que disse que estava indo para a festa e veio até a estufa gritar com as angiospermas?
Soltei uma risada tensa. Minha vez.
Contei para sobre como eu não sabia o que fazer desde os últimos meses. Ela já sabia a minha paixão por UFC, então tudo ficou bem mais fácil. Contei sobre Vin Queller e sua proposta. Sobre a reação negativa dos meus pais e da possibilidade de ir sem a aprovação deles.
Ela ficou em silêncio até eu terminar.
– E então?
– , eu sabia que isso ia acontecer. Eu sabia que você faria algo com luta. Eu dei o vídeo para Vincent Queller.
– Você... O quê?!
– Eu não podia deixar você fazer algo que se arrependeria depois. Queria que você tivesse todas as alternativas, como eu tinha com Juilliard. Não sabia se Vin se interessaria por você, mas eu apostei que sim. Como você sempre diz, nós somos bons em fazer aquilo que amamos. E acho que você ama dar porrada nos outros.
Eu acabei rindo também, totalmente perdido.
– Não acredito que você me deu a maior oportunidade da minha vida, .
– E eu não acredito que eu quase larguei a minha.
Abracei-a, pelo que parecia a milésima vez na noite. encaixou a cabeça perfeitamente no meu peito.
– Nevada e Nova York são extremos. Ficaremos longe pra caralho. – murmurei a única coisa que estava realmente me perturbando naquele momento.
– A nossa sorte é que as pombas correio evoluíram e agora existem as maravilhosas e instantâneas mensagens de texto. Mágico, não?
Eu ri outra vez, beijando o topo de sua cabeça.
– Obrigada. – ela murmurou baixinho, quase inaudível. – Não sei o que eu teria feito se você não estivesse aqui.
– Provavelmente, alguma burrice. Você precisa de mim para viver, garota. Assume. – debochei, quebrando a tensão que havia ali.
riu.
– Cacete, vou sentir falta do seu jeito babaca!
– Fala sério, você me ama, .
– Amo.
Todos os meus músculos congelaram.
– O quê?
– Eu te amo, . De verdade.
Ela nunca havia dito que me amava. Eu também não. Nós nunca achávamos a hora certa e o motivo certo. Mas lá estava ele; as palavras estavam na ponta da língua e, desta vez, precisavam desesperadamente ser ditas.
– E eu amo você, .
Ficamos em silêncio, por uns segundos, sem nos mover, testando o gosto das palavras no ouvido. O som era maravilhoso.
O futuro é tão incerto quanto o amor. Nós nunca sabemos o que esperar, nem sabemos quando ele vai bater na nossa porta e cobrar respostas. Mas, quando ele chega... Bom, quando ele chega, nós só podemos aceitar e colocá-lo para caminhar junto com a nossa essência.
Eu e ainda éramos novos. Eu não sabia se acabaríamos juntos no fim da vida, ou se nosso relacionamento continuaria forte depois da escola, ou então, se acabaria, como todos me disseram. Talvez nos tornássemos somente amigos, eu não sei.
Uma escolha por vez. E no momento, eu escolho o agora.
Beijei mais uma vez.
O que acontece depois do colégio? Quando você não começou a faculdade ainda – por não saber o que quer ou por não ter nenhuma – e a escola já acabou? Você está de férias ou desempregado?
Eu sempre me perguntei essas coisas, mas acabava por jogar as questões no fundo da minha cabeça, já que pareciam tão distantes.
Quando o tempo passou tão rápido?
– ! A festa vai ser na casa da Ashley!
Encontrei Johnny, meu melhor amigo, colocando sua roupa. Era sexta-feira, tínhamos acabado de ganhar o jogo da semifinal e ainda tínhamos a final e, então, seríamos o melhor time de basquete do país. Eu não aceitava menos do que isso.
Afinal, era meu último ano.
– Os babacas de Nova York vão estar lá. – comentou Jace. – Acha que podemos dar uma surra neles?
Os caras começaram a rir e a concordar.
– Eles também lutam? – perguntei, começando a me interessar. – Sim. O capitão do time deles, Bruce, é um dos melhores lutadores, pelos boatos que ouvi.
– Não importa. consegue foder com ele. – Johnny retrucou, dando um tapa nas minhas costas, me fazendo rir.
Então eu tinha uma razão para ir até à festa de Ashley.
– Brad vai organizar a luta de vocês. – disse Mike. – Ele é mestre nisso.
– Brad já foi embora?
– Claro que já. Ele é sempre o primeiro.
Nós rimos. Brad não gostava de tomar banho nos vestiários, então sempre saía mais rápido que todos nós.
Jace acendeu um cigarro, e pedi o maço, com as mãos, que ele logo me jogou. O treinador era seu pai, então nós não nos importávamos. Só teria problema se tivéssemos perdido o jogo e não tivéssemos sido classificados para a final; ai o treinador ficaria muito puto.
A fumaça se misturou com a névoa do vapor dos chuveiros, fazendo o cheiro de tabaco desaparecer. Eu já tinha vestido um jeans e estava pronto para ir embora, mas preferia esperar para ir com os caras. Nós costumávamos a ir às festas todos juntos.
Era sempre assim. Depois de um jogo importante, íamos direto para a casa de alguém, comemorar. Normalmente, era na casa de uma das líderes de torcida e todos eram convidados. A festa era para nós, o time.
– Meu Deus! Vocês demoram mais do que mocinhas para se aprontarem.
Sorri na mesma hora.
estava parada na porta do vestiário, sorrindo de um modo sapeca.
– Cadê sua autorização pra entrar aqui, moça? – provoquei, percebendo que tinha sua atenção.
– Você é minha autorização.
Os garotos gritaram, enquanto veio em minha direção e sentou-se no meu colo, começando a beijar minha boca de um jeito que, com certeza, não era apropriado fazer no meio de tanta gente.
– Puta merda! Vocês poderiam ir pro banheiro! – gritou Johnny. riu e separou os lábios dos meus.
– Parabéns, capitão. – sussurrou, para que apenas eu ouvisse. – Você acabou com eles.
– Obrigado. Só faço meu trabalho.
deu outra risadinha e voltou a me beijar com força no meio do vestiário, ainda no meu colo.
– Vocês foram ótimos. – ela disse, mais alto, para que o resto do time ouvisse. Roubou meu cigarro e deu uma tragada. – Os engomadinhos de NY não tiveram chance!
– Não dá pra mexer com os caras da Califórnia! – Jace respondeu, dando uma piscadinha, fazendo os outros rirem e começarem a cantar uma versão escrota de California Gurls.
Algo vibrou na cintura de , onde estava minha mão, e ela revirou os olhos.
– Merda. – murmurou antes de atender. – Oi, Ash.
Ashley era a melhor amiga de .
– Eu fiquei perdida no caminho. – ela mentiu, mordendo o lábio inferior. ficava gostosa demais fazendo isso, então a puxei para mais perto e beijei seu pescoço, enquanto falava no telefone. Os caras começaram a gritar de novo, fazendo ficar ainda mais preocupada, e eu os mandei calar a boca com um movimento das mãos. – Não estou em vestiário nenhum!
– Mentira! – gritaram alguns jogadores.
– Porra, caras! – devolveu, e eu vi os pelinhos da sua pele começarem a se arrepiar. – Tudo bem, eu sei que prometi estar aí para ajudar a organizar, mas vocês foram muito rápidas!
Ashley era líder de torcida, a capitã do time. não gostava muito disso, mas continuava participando mesmo assim. Seu amor verdadeiro era as artes.
– Olha, Ash, assim fica difícil. Eu sei que prometi, mas vim dar parabéns para os caras. Não, não vim dar pro , sua vaca.
riu de alguma coisa, e eu levantei os olhos para observá-la.
– vai me dar uma carona.
– Vou de carona com o Jace. – avisei.
– Jace vai me dar uma carona.
– Meu carro está cheio! – reclamou Jace.
– Foda-se. Johnny vai andando.
– Ei!
Eu ri de Johnny, que estava começando uma briga com Jace.
E era sempre assim. Nós íamos para a festa depois de muita discussão. Eu lutava com um cara qualquer enquanto todo mundo fazia apostas. Ganhava.
Isso era meu último ano de colégio.
– Disseram que você vai lutar essa noite. – comentou comigo, com uma expressão de preocupada no rosto – Eu acho que você não deveria...
– Relaxa, . – acalmei-a, beijando sua bochecha. A expressão não se dissipou. – Brad vai arrumar tudo. E você sabe que posso ganhar.
– Sei que pode, . Você é o melhor lutador que conheço. – ouvi-la falar aquilo, me encheu de orgulho e não pude conter um sorrisinho. – Mas não é por isso. Você teve um jogo importante hoje, e vocês jogaram pra caralho. Sei que isso requer esforço. Depois você vai acabar bebendo na festa, mesmo que pouco, e depois vai lutar contra algum babaca. , isso vai exigir muito de você.
Nós estávamos na caçamba da picape de Jace. Por dentro estavam Jace – dirigindo, óbvio, porque ele não deixava ninguém chegar perto da maldita picape – Johnny, Mike e Eddy. Havíamos passado na casa de Brad, e ele também estava ali. Eu e estávamos sozinhos no lado de fora, tomando uma cerveja, que pegamos na casa de Brad. Era como se fosse um “esquenta” para a festa de Ashley. estava sentada no meio das minhas pernas, a cabeça encostada em meu peito. Eu observava suas mãos brincarem com uma linha solta da minha jaqueta e tentava não olhar para seu decote bem em minha frente.
– Não precisa se preocupar comigo. – respondi. sempre se preocupava demais. – Vou ficar bem, se você estiver torcendo por mim.
– Idiota. – ela bateu no meu peito. – Você sabe que estou sempre torcendo por você. Mas eu tenho medo disso. De você não aguentar todo esse esforço. E também tem o fato de que quase fomos presos da última vez.
Isso era algo que sempre fodia nossas lutas. Essas coisas são ilegais, por serem apostas e, ainda por cima, dois menores de idade brigando por dinheiro. Também havia a parte de invasão de propriedade, pois sempre íamos para algum edifício ou galpão abandonado. Bebidas, drogas... Tudo isso reunido em um só lugar. A polícia nos descobria por causa do barulho, já que sempre tinha alguém para passar perto do lugar – tentávamos escolher um lugar mais isolado, mas isso é difícil se você mora na cidade grande – e denunciar o barulho. Ou, às vezes, era só um vizinho babaca que não queria confusão depois das 22h. Quando ouvíamos as sirenes, as lutas já tinham acabado – na maioria das vezes – e era só correr. Correr rápido.
– Brad vai escolher um lugar melhor. E eu não vou beber antes da luta.
Por um lado, estava certa. Eu sempre acabava bebendo antes de lutar, mas tentava me controlar, porque isso atrapalhava meu desempenho. Aquela latinha de Heineken era a primeira e a última antes da luta.
– Vamos ficar bem, . – prometi.
Dei um beijo no topo de sua cabeça, mas isso não parecia ter acalmado-a. estava estranha. Preocupada demais. Isso não fazia o estilo dela. era do tipo de garota que não se preocupava com nada, e nem mesmo quando entrava em pânico, parecia desesperada. Fazia aulas de teatro desde que era criança, tinha talento nas veias. Ninguém nunca descobria que ela estava com um problema se não quisesse que isso acontecesse. Nunca foi uma complicação entre nós, porque tínhamos muita confiança um no outro, mas eu sabia que ela era capaz de fingir estar bem para não me preocupar. Eu a conhecia melhor que isso. Sabia que era apenas... .
Suspirei e bebi mais cerveja. Talvez mais uma latinha antes da luta.
Chegamos à casa de Ashley alguns minutos depois. Ao longe já podíamos ouvir o barulho da música e das pessoas gritando. tirou meu maço de cigarros do meu bolso, acendeu um e depois me devolveu. A casa estava lotada.
– Vou precisar de muita paciência pra aguentar uma Ash bêbada e puta comigo. – justificou.
Ri e peguei meu maço de volta. Não iria fumar antes da luta. Nem um cigarro normal, muito menos um de maconha. Desviei de um dos estudantes que me ofereceu o baseado, fazendo uma careta. Protegi de um bêbado que quase caiu sob ela e conseguimos entrar na casa sem maiores acidentes.
– Tudo isso só do lado de fora. – Jace comentou, observando o estado deplorável dos estudantes que estavam no quintal. – Lamentável.
Ri outra vez e resisti ao impulso de pegar uma garrafa de vodca que foi colocada em minha frente.
– , sua vaca!
O grito de Ashley foi tão alto que se sobressaiu pela música. mordeu o lábio inferior e fez uma careta.
– Oi, amiga.
– Você disse que me ajudaria com a decoração e tudo! – acusou Ashley. – Mas, não! Ficou com ! Você é uma péssima amiga.
– Fala sério, Ash. Este lugar está incrível. Esta vai ser uma das melhores festas do ano. E você já organizou várias festas, sei da sua competência pra isso. Deixei na sua mão porque sabia que conseguiria.
Ashley ficou em silêncio, por alguns segundos. Depois sorriu.
não presta.
– Vem ver o que consegui comprar pra beber!
Ashley puxou pela mão, mas minha namorada virou para mim antes de ir. Lançou um sorrisinho e um beijo no ar, e eu sorri abertamente. Minhas preocupações na picape pareceram distantes e idiotas; estava bem, e eu estava paranoico.
– !
Encontrei Brad atrás de mim, me dando um tapinha nos ombros.
– E aí, cara!
– Arrumei uma luta foda pra você. – ele sorriu de um modo perverso, que sempre usava quando falava de alguma luta minha. – Contra um cara do time de NY.
– Ouvi falar. Quem é o cara?
– O capitão do outro time. Eles estão chegando. Ashley não queria convidá-los, para não dar confusão, mas eu chamei pra promover a luta. Ninguém vai querer apostar se não observar vocês dois interagindo.
Brad pensava em tudo. Ele seria um cara do marketing depois da escola, com certeza. Pensava em quem veria nossa luta e quanto deveria ser a aposta mínima, para que pagassem. Às vezes fingia uma cena para enganar as pessoas e fazê-las apostar contra mim, para que tivéssemos mais lucro. Brad sabia como manipular as pessoas.
Era estranho pensar em todos esses caras, depois da escola. Estávamos quase no fim e, a maioria de nós, não tinha ideia do que faria. Eu estava dentro da maioria. Passamos tempo demais na escola e temos tempo de menos para decidir para onde vamos depois que ela acaba.
– ! Parabéns pelo jogo!
– Você foi incrível, cara!
– Vai acabar na NBA!
Eram muitas pessoas. Queriam me parabenizar pelo jogo e dizer que eu era foda no basquete. Eu já sabia disso. Por que continuavam falando?
Você só percebe como é chato ficar no meio de gente bêbada quando está sóbrio.
O time de NY logo chegou. Não vi o tal Bruce, que iria lutar comigo, e pensei que isso fosse algum tipo de jogada de Brad, porque outros jogadores vieram me cumprimentar. Jackson foi bem amistoso e até me ofereceu LSD, que eu achei melhor recusar. Esses caras de Nova York... Nunca se sabe.
Acabei parando em uma rodinha de amigos, onde estavam Johnny e Mike, do time, uns caras de NY, com as líderes de torcida. Brad achava que eu devia fazer amizade com eles para que pensassem que eu era inofensivo e apostassem em Bruce. Brad sabia que o cara não tinha chance comigo.
– Você devia beber alguma coisa. – comentou o cara de NY. – Não te vi bebendo.
– Vou lutar com o amigo de vocês mais tarde. – dei de ombros. – Vou me sentir mal se beber.
Ele se afastou, puxando um dos amigos, saindo os dois com a mão na boca, como quem esconde risada. Idiotas.
– Viu em algum lugar? – perguntei para Johnny, olhando ao redor.
– Dá última vez, ela estava com Jennifer e Ashley na mesa de beer-pong.
– E onde fica isso?
– Perto da piscina.
Saí da rodinha e fui para os fundos da casa, onde ficava a piscina. Eu conhecia a casa toda porque já havia ido lá com várias vezes. Ashley era bem rica, então tinha uma enorme piscina nos fundos da casa; esse era um dos motivos que faziam as festas na casa dela serem tão boas.
Uma música do 3OH!3 tocava alto e eu sabia que estaria dançando. Ela adorava aquela música, então não podia estar jogando beer-pong. Mas que merda, ela nem sabia jogar ping-pong!
As luzes ao redor da piscina estavam acesas e havia mesmo uma mesa de ping-pong ao lado. Algumas pessoas estavam bêbadas na piscina, e isso só podia dar merda, mas não era problema meu. Copos espalhados por todos os lugares – vazios – e pessoas se agarrando, tornavam o caminho difícil de seguir. Mas encontrei .
A raiva subiu pelo meu sistema, tão rápido, que fiquei cego. Tudo que eu via era vermelho e . tentando se livrar de um filho da puta que estava agarrando-a contra sua vontade.
Antes que eu percebesse o que estava fazendo, o bêbado já tinha levado um soco. Um soco bem forte. Senti até mesmo os nós dos dedos doerem, mas não parei. Uma vez que ele estava no chão, sentei sob o cara e continuei acertando seu nariz com toda força, mesmo depois que senti o sangue nojento dele começar a manchar minhas mãos.
– !
Era . Era sua voz. Ela estava gritando comigo. Eu estava puto demais para ouvir o que ela dizia, apenas continuava a bater no grande idiota.
Alguém me puxou para longe do cara, que já tinha o rosto desfigurado, mas eu ainda consegui chutar suas costelas com toda força. Senti uma pontada no pé, depois que o atingi. Havia usado muita força.
– Porra, cara! Você matou o moleque!
Pisquei várias vezes. Quem estava falando comigo?
Era Johnny. Ele havia me tirado de cima do babaca que estava tentando agarrar .
. Onde ela estava?
– Estou aqui. Estou aqui, . Acalme-se.
E então braços finos e quentes me envolveram. Senti o cheiro de antes mesmo de sentir seu calor. Abracei-a de volta, agradecendo a sensação maravilhosa que era tê-la em meus braços.
– Ele machucou você? – perguntei, tentando transformar a raiva em preocupação, mas só de pensar que ele podia ter machucado ...
– Não, você me salvou a tempo. – respondeu, sabendo exatamente o que dizer para me fazer ficar calmo. – Obrigada, .
me beijou, segurando meu rosto para me levar ao encontro dela. Eu correspondi o beijo, mas estava um pouco fora do ar.
Soltei e fui até a piscina, onde lavei minhas mãos. Ashley que se fodesse para limpar a água. Eu não me importava.
– Puta merda! O Bruce vai te matar.
Adam, um dos caras do outro time, estava falando comigo.
– Esse aí que você acabou de socar é o primo do Bruce.
Olhei para o moleque ensanguentado caído alguns metros de mim. Ele não se parecia nada com o capitão do time de basquete de Nova York. Só parecia um babaca bêbado que foi atrás da garota errada e acabou apanhando. Bruce era forte e determinado; fora difícil ganhar dele no jogo, mas não impossível. Se aquele cara era seu primo, Bruce era adotado.
Já havia uma rodinha de pessoas observando a confusão, enquanto a música continuava a tocar alto. Um grupo de caras do time de NY estava ajudando o babaca a se levantar e a se recompor. E aí Bruce apareceu.
– Mas que porra aconteceu aqui?! Henry?!
– Aquele cara chegou e me bateu do nada, Bruce. – o grande idiota respondeu. Obviamente, não conseguia nem mesmo assumir o que fazia.
Covarde.
se prendeu ao meu lado no meio da rodinha, que percebi que estava isolando nós quatro ali. Bruce levantou-se e saiu de perto de Henry para se aproximar de mim. Não abaixei a cabeça em nenhum momento. Não tinha medo desses dois otários.
– Você bateu no meu primo, cara? – Bruce perguntou, mas não esperava por resposta, porque continuou a falar logo em seguida. – Pensei que você quisesse começar a briga só meia noite.
– Seu primo estava dando em cima da minha garota. – respondi, enfatizando o “minha”. Todos deviam saber a quem pertencia. – Esperava que eu ficasse observando?
– Aposto que essa vadiazinha provocou Henry.
E aí eu explodi mais uma vez.
Soltei do meu braço e soquei o rosto de Bruce. Pensei que havia usado toda minha força no primo dele, mas estava enganado. Meu punho ainda podia fazer muito estrago. E eu estava prestes a estragar a cara deste filho da puta.
Três pessoas me tiraram de cima de Bruce. gritava para que eu parasse, e vi quando mais três seguraram Bruce. Nos afastaram e ficamos nos encarando com ódio no olhar.
– Você vai morrer, seu palhaço! – ele gritou.
– Ah, é? Quem vai fazer o trabalho? Você e mais quantos? – provoquei, cuspindo em sua direção. Não cheguei a atingi-lo, mas aquilo o fez ficar ainda mais puto e querer se soltar dos amigos com mais vontade.
Eu estava esperando que ele viesse.
– Calma, caras! Vamos resolver isso no ringue.
Era Brad. Ele estava tentando levar todo mundo para o galpão, onde iríamos lutar. As pessoas deviam estar apostando como loucas.
– Vou acabar com você no ringue. – Bruce murmurou ao passar por mim.
Todos começaram a seguir Brad. Eu já sabia onde era a luta, então não precisava. ficou ao meu lado, respirando ruidosamente.
– ...
– Não vou brigar com você, . – ela se apressou, cortando qualquer pedido de desculpa que eu pudesse fazer. Eu sabia o quanto odiava quando eu arrumava briga.
– Bruce veio pra cima de mim...
– Eu vi. Não tem problema. – se virou para mim e prendeu os braços em minha cintura, apoiando a cabeça em meu peito. – Aquele Henry estava tentando me levar pro quarto desde que começamos a jogar beer-pong. Se você não batesse nele, eu batia.
Ri e envolvi em meus braços outra vez.
– Minha garota.
– Bruce é um babaca. Você vai dar uma puta surra nele. Eu só estou preocupada com você. Não quero que apanhe por minha causa, .
– Brad disse que as apostas estão bem altas. Depois do que aconteceu aqui, devem ter dobrado. Vamos ganhar um bom dinheiro, .
– Você vai ganhar um bom dinheiro.
– Graças à sua cena. Então acho que te devo um “obrigado”.
– Sei várias formas de você me agradecer... – ela murmurou, levantando a cabeça e me olhando de um jeito malicioso.
Sorri. Esta era minha .
– Vocês não vão?
Ashley estava parada perto da piscina, meio descabelada e com uma cara cansada. começou a rir e correu para ajudá-la.
– Vamos, sim, Ash. Estávamos esperando você.
– Ah.
Ashley estava bêbada demais, então segurou-a de um lado e gesticulou para que eu fizesse o mesmo. Começamos a andar com Ash apoiada em nossos ombros.
– Nossa. – a bêbada murmurou com os lábios trêmulos.
– O que foi?
– Vocês são meus melhores amigos. Ninguém me esperou para ir pro galpão. Só vocês.
começou a rir, e eu olhei para Ashley, vendo-a começar a chorar. Acabei rindo também, e deu um beijo na bochecha da amiga.
– Você está muito bêbada, sua vagabunda.
– Eu sei. E eu amo vocês. Quero ser madrinha do casamento.
Continuamos a rir. O som estava desligado e as pessoas já tinham corrido para o galpão, no fim da rua. Brad e Mike tinham cuidado para arrumar o lugar, para torná-lo um verdadeiro ringue.
Eu era gostava de lutas e de boxear desde que era um pirralho. Assistia todas as lutas, mas me apaixonei mesmo pelo esporte quando tinha 13 anos e fui para Vegas com meus pais, onde assistimos uma luta de UFC de verdade e ao vivo. Las Vegas é a cidade da luta. Se você quer se tornar um boxeador, Vegas praticamente grita seu nome. E eu estava gritando por Vegas.
O galpão era no fim da rua, então chegamos bem rápido. Toda festa estava amontoada em volta do ringue improvisado e ainda parecia ter mais gente que eu nunca vira. Respirei fundo. O filho da puta deveria estar por perto. E, em alguns minutos, eu vou dar uma surra nele.
O lugar era mal iluminado e cheirava a velho e álcool. A fumaça de cigarros e maconha estavam deixando tudo mais difícil de ver, mas isso era só na porta. Onde ficava o ringue estava tudo bem, já que Brad devia está mantendo tudo sob controle. Respirei fundo e me virei para .
– , preste atenção. Fique com Ashley e não deixe ninguém encostar em vocês duas, ok? – assentiu, e eu dei um beijo em sua testa. – E, principalmente, tome cuidado. Procure Jace e não saia de perto dele até eu ir até você.
Ela assentiu mais uma vez, e eu deixei outro beijo em seu rosto e, desta vez, em seus lábios.
– Boa sorte. Não que você precise.
Sorri para .
– Obrigado. Vou ganhar essa por você.
– Sei que vai.
– Mata ele, ! – gritou Ashley, que estava pendurada nos ombros de , e eu ri e baguncei os cabelos loiros dela, antes de me afastar.
Jace estava perto do ringue, então lhe mostrei onde estava e Ash e mandei que ele cuidasse delas. Ele assentiu e já estava longe quando olhei de novo. As garotas estavam seguras. Brad me puxou para um canto do lugar, me oferecendo uma garrafa de água e um protetor de boca.
– Você está pronto, ?
Concordei com um movimento da cabeça.
– Bruce está querendo te matar...
– Brad, sua parte é a organização. A luta é minha.
Brad suspirou.
– Tudo bem. Foi mal, . está bem? Quer que eu cuide dela?
– Jace já está lá, mas Ashley está bem bêbada. Talvez seja bom mandar mais alguém lá. E quem são essas pessoas todas?
– A coisa ficou meio... Grande. Os torcedores do time de NY vieram para ver Bruce.
– Então as apostas...
– Estão... Insanas. , se você ganhar essa porra, vamos ter dinheiro pra não ir pra faculdade!
Eu ainda não havia pensado nisso. Não tinha decidido que faculdade faria, apesar de ter me apresentado para várias. As respostas chegavam dia 1 de Abril, em duas semanas, e eu ainda não sabia o que queria fazer.
Tirei minha calça e já estava com o short para a luta. Tirei a camiseta também e me preparei para subir.
Nós não usávamos luvas, então Brad pegou o costume de enfaixar meus pulsos antes de subir no ringue, para não desgastar tanto. Depois normalmente conseguia dar um jeito nas torções e machucados. Ela estava estudando para entrar em Yale, em medicina.
Entrei no ringue, onde Bruce já estava me esperando com raiva nos olhos. O pior era que eu não conseguia me concentrar. Em todas as minhas lutas, meus pensamentos eram cortados assim que eu subia no octógono. Agora, eu não conseguia parar o turbilhão de informações que estavam na minha cabeça, me atingindo como se fossem carros em alta velocidade.
Resposta das faculdades em duas semanas.
Eu não sei o que fazer da minha vida.
com certeza vai para Yale. Em Connecticut.
Do outro lado do país.
Eu não sei o que fazer da minha vida.
A escola acaba em três meses.
E eu ainda não sei o que fazer da minha vida.
E quando eu vi, havia levado um soco de Bruce. Bem no rosto.
A pancada forte atingiu o lado esquerdo da minha bochecha e eu senti a dor e a raiva invadirem meu sistema. Como eu não havia escutado Brad nos apresentar e dar início a luta? De repente, eu havia ficado preocupado.
A sua garota está vendo, . A única certeza que você tem é isso. Você sabe lutar, porra! Você luta melhor do que esse babaca. Você pode acabar com ele.
Pisquei algumas vezes e enchi os pulmões de ar. Desta vez era de homem pra homem.
Abri os olhos novamente bem na hora que o punho de Bruce veio em direção ao meu estômago, mas eu protegi o golpe. Encontrei perto do octógono, gritando e torcendo por mim. Havia preocupação em seus olhos, mas isso era tão típico dela. Vivia se preocupando comigo, mesmo que não precisasse. Eu estava ali porque queria. E faria bem feito o que tinha ido fazer.
Ergui o pé e dei um chute no peito de Bruce. Ele tentou agarrar minha perna, mas estava desestabilizado com o chute, e eu era rápido demais. Depois agarrei sua cintura e forcei-o para o chão. Desferi golpes rápidos e fortes em suas costelas com uma mão, enquanto a outra me protegia dos golpes. Eu precisava encontrar uma posição para dominá-lo, mas estava difícil.
Eu quase perdi o equilíbrio quando não consegui defender outro soco no rosto. Essa era a estratégia dele; Bruce tentava acertar meu rosto o tempo todo, esquecendo o resto do corpo. Resolvi usar isso contra ele.
Meu rosto estava perto de Bruce, ele só precisava avançar. Surpreendendo-me, um golpe atingiu as minhas costelas e nós viramos. Desta vez, ele estava me prendendo contra o chão.
Havia raiva em seus olhos e era óbvio que estava um pouco bêbado. A vermelhidão em seus globos mostrava que também estava chapado. Eu não iria perder para alguém como ele.
– Vai, !
. estava gritando meu nome.
Encontramos o olhar, por alguns segundos. Eu estava em frente a ela. Uma corrente elétrica percorreu meu corpo quando vi como ela confiava em mim.
Joguei meu corpo para frente com toda força. Bruce era mais pesado que eu, mas eu era mais forte. Fui em direção ao seu rosto, que segurei entre meus braços. Ele estava no chão, e eu prendi seu pescoço, imobilizando-o com o resto do corpo.
Havia sido mais rápido do que eu imaginei.
Bruce deu batidinhas em meu braço, me pedindo para soltar, mas eu só soltaria quando Brad dissesse que eu tinha ganhado a porra da luta.
E ele disse.
“Campeão”, murmurou para mim, mas eu não ouvi sua voz, apenas vi o movimento de seus lábios.
Eu havia ganhado mais uma luta, mas tinha apenas mais três meses para decidir como iria ganhar a vida.
***
I know they’ve got a plan
1º de abril. O dia.
Quando minha mãe me entregou as cartas, sorrindo e mostrando que tinham três envelopes para mim, eu quase chorei como um bebê. Eu havia colocado de lado isso de universidade e tinha me focado nos treinos de basquete e nos trabalhos finais. As provas eram neste mês, mas não é como se eu precisasse de nota. Se zerasse todas as provas, ainda teria uma média boa para me formar.
Eu havia me inscrito em várias universidades aqui na Califórnia, mas haviam três que eu havia me arriscado. A primeira foi ideia da minha mãe: Harvard. É claro. Ela queria que eu me formasse em Harvard, porque acreditava que eu era o tipo de aluno inteligente o bastante para passar lá. Harvard fica em Massachusetts, do outro lado dos Estados Unidos. Peguei o envelope com o selo de Harvard e o abri de uma vez, para encontrar a resposta óbvia que eu já estava esperando: não fui aprovado.
Então tinha Brown, em Rhode Island. Ideia do meu pai. Eu não tinha a menor vontade de ir para lá, mas ele havia insistido, e eu aceitei porque não sabia mais para onde ir. Rasguei o envelope com um pouco de pressa, querendo saber a resposta.
Meu sangue correu rápido pelas veias e meu sistema nervoso estava prestes a explodir. Eu havia sido aceito.
Meu pai ficaria orgulhoso por eu ter sido aceito na universidade que ele havia estudado, mas eu não sabia se queria mesmo ir para lá. De qualquer jeito, não tinha escolha. Eu estava na Brown.
Me joguei na cama, com o último envelope em mãos. Olhei para o retrato de ao lado da minha cama. Nós havíamos tirado a foto no Dia dos Namorados, o primeiro que passamos juntos. Estávamos visitando Malibu, na praia. O mar se estendia atrás de nós enquanto estávamos abraçados e beijava minha bochecha. era o motivo para eu ter me inscrito naquela universidade.
Rasguei cuidadosamente o envelope de Yale.
Me desesperei quando vi que não havia sido aceito.
Não era o mesmo sentimento por não ter sido aceito em Harvard. Eu já sabia que não iria passar. E também não era a mesma dor de ter entrado para Brown; eu não queria estudar lá. Era mais como ver todos rindo da minha cara, porque eu não era bom o bastante para estar ao lado de . Eu não poderia ir para a mesma universidade que ela.
Liguei para Jace, e ele apareceu na porta do meu quarto, dez minutos depois.
– O que foi, ? Vim o mais rápido que pude.
– Não fui aceito em Yale.
Jace franziu o cenho.
– Puta merda, cara! E agora? Pra onde você vai? Não se inscreveu em nenhum outro lugar?
– Fui aceito em Brown.
– Sério? Eu também! Nós vamos para a mesma universidade, porra!
Isso me acalmou. Jace iria para o mesmo lugar que eu, então estava mais tranquilo. Não iria começar na universidade totalmente desnorteado.
Mas ainda tinha . Nós namorávamos desde os 13 anos, quando começamos a estudar juntos. Eu entrei para o time de basquete, e ela, para o das líderes de torcida. Não falava muito com ela, mas aí, Ashley – que era namorada de Jace – o obrigou a ir ver uma peça de , e eu acabei indo atrás. E me apaixonei por ela.
– vai para Yale. – murmurei, depois de Jace parar de falar sobre como seria legal estudarmos na mesma universidade, em Rhode Island.
– Yale é em Connecticut. Do lado de Rhode Island, . Você vai poder visitá-la nos fins de semana.
– Não é a mesma coisa.
– , vamos encarar a real. Namoro de colégio não dura. Você e iam acabar se separando de qualquer jeito.
Arregalei os olhos, um pouco assustado.
– O que você quer dizer?
– , vocês não vão durar para sempre. Vamos conhecer várias garotas na universidade. Vamos estar em Rhode Island. E em Connecticut. Isso não tem como dar certo. Por um tempo, vai parecer que vocês estão bem, mas depois vão se separar, aos poucos.
Não. Jace não podia estar certo. Eu já sabia que havia uma possibilidade disso acontecer, mas tinha certeza de que eu e sairíamos dessa. Nós gostávamos um do outro o bastante para isso. Não precisávamos estar juntos para...
– Seu telefone, .
Jace jogou o celular para mim. A foto de estava brilhando na tela.
– . – atendi.
– ! Eu estou em Yale! Eu consegui! Eu consegui!
Sorri para o telefone. Ela estava tão feliz. E eu estava prestes a colocá-la para baixo.
– Eu entrei em Brown. – disse com uma voz desanimada.
– Ai, cacete! Brown fica em Rhode Island, não é? , vamos poder nos ver no final de semana! Yale é em Connecticut, caso você não saiba... Vamos poder ficar juntos, .
Por que era sempre tão positiva?
– E já que estou te ligando, será que pode vir me ajudar com algumas falas da peça? O Philip não pode bater o texto comigo hoje.
– Claro. Chego em dez minutos.
– Eu vou te buscar.
– Jace está aqui. Ele me leva.
– Droga. Então eu te levo até sua casa depois.
Eu ri.
– Tudo bem.
– A porta vai estar aberta!
desligou. Ela ganhara um carro em janeiro, no aniversário. Fazia de tudo para poder dirigir.
– Não acredito que você me faz vir até aqui e depois sai.
– E você ainda vai me levar.
– Filho da puta. O que disse sobre a faculdade?
– Que vai ser super legal porque poderemos ir ver o outro nos fins de semana.
– Caralho! Parece algo que algum cara esperto te disse mais cedo! – Jace ironizou, saindo do quarto. Não comentei e apenas o segui.
Avisei minha mãe que estava indo para . Não comentei sobre as faculdades, e quando ela perguntou, eu disse que iria abrir quando voltasse.
Não sei por que menti. Não consegui dizer a verdade. Não consegui dizer que iria para Brown. Eu não queria ir para Brown.
Na casa de , Jace e ela ficaram conversando sobre universidades, por uns 10 minutos, antes dele ir embora. Tentei participar da conversa, mas eu estava deslocado. Eu não sabia dizer os pontos fortes de Brown, porque não conhecia o lugar como Jace. E o pior é que também não sabia nada sobre Yale, a não ser que ia estudar lá.
Cheguei à conclusão de que eu não queria ir para universidade nenhuma.
estava no papel feminino principal da peça da escola. Ela sempre atuava nas peças, mas as de final de ano letivo eram as mais importantes. Ensaiava dia e noite para ser perfeita, e eu já estava acostumado a ajudá-la com as falas. Este ano, a peça final era uma versão de Otello, de Shakespeare, que tinha feito a adaptação de roteiro. Ela era apaixonada por Shakespeare. O papel de Desdêmona era dela, então eu estava interpretando Otello, pois não gostava nem um pouco de Philip, o garoto que fazia par com ela.
“Não é possível, Desdêmona! Cássio, meu melhor amigo?”, eu perguntei, fazendo gestos grandiosos, mostrando o quanto eu estava decepcionado com ela.
“Otelo, querido. Não sei o que estás dizendo. Estás soando dissimulado e sem sentido. Não há como compreender-te.”, parecia realmente não saber o que estava acontecendo.
“Eu percebo o modo como olha para ele. Percebo o modo como estão sempre juntos! Eu te amei, mulher! Como pode me trair desse jeito?!”
“Se estás falando de Cássio, saiba que nunca troquei mais do que formalidades com ele. Afinal, é seu melhor amigo. Otelo, eu amo você, e somente você. E não há mais ninguém nesse mundo que poderá me fazer sentir completa como você faz.”
Em algum momento da atuação, nós havíamos nos aproximado. Eu aprendi – do modo difícil – que atuação era contato. Confesso que assistir alguns ensaios e peças, onde fazia par romântico com algum idiota, me irritava, mas me ensinou que isso era teatro. E amava teatro.
O clima entre nós foi cortado quando pegou o roteiro para ver qual a próxima cena. Eu tinha certeza de que ela já havia decorado, mas não estava confiando na própria cabeça e queria garantir que estava certa.
– E aí você me beija. – ela murmurou, sorrindo e jogando o roteiro para longe.
Seus braços me puxaram pelo pescoço para que eu me abaixasse e nossos lábios se encontrassem. Ela me beijou de um modo diferente, como se fossemos outras pessoas, e eu sabia que ainda estava agindo como Desdêmona e eu deveria agir como Otelo. Quando sua língua roçou a minha com um pouco mais de força e desejo, me afastei de .
– Espero que você não tenha que beijar Philip desse jeito, porque, senão, vou ser obrigado a subir no palco e fingir que eu sou Otelo e ele é o Iago.
Iago era o filho da puta que bagunça a história de amor.
– Em primeiro lugar, não era eu beijando você, era Desdêmona beijando Otelo. E depois, nós fazemos algo chamado beijo técnico, que simula um beijo de verdade. E, por último, eu nunca beijaria ninguém do jeito que beijo você, .
Sorri para .
– Ótimo. Bom saber disso.
– Você é ciumento demais para namorar uma atriz. – ela comentou, ainda mantendo nossos corpos juntos.
– Você vale à pena.
Beijei sua boca mais uma vez. Eu nunca me cansava de , nunca me cansava dos arrepios que o corpo dela trazia ao meu. As sensações nunca eram as mesmas.
– Se eu ainda não tivesse transado com você, este seria o momento em que você poderia começar a tirar minhas roupas. – ela sussurrou entre o beijo, me fazendo rir.
– Bom saber a facilidade que é entrar na sua calcinha.
– Seu filho da puta conquistador. Nem pense em começar nada. Minha mãe está no andar de baixo.
Soltei um gemido de frustração.
– Eu me esqueci completamente que ela tá de férias. Quando acaba?
riu.
– Se Deus quiser, em breve. Ela tá deixando eu e o pai loucos.
***
I don’t know where to go, what’s the right team?
Meus pais ficaram radiantes com a carta de Brown. Queriam até dar uma festa e essas coisas, mas eu implorei para que ficassem em silêncio.
Brown continuava a me perturbar. Mesmo depois de pesquisar sobre a universidade e conversar com Jace sobre, eu ainda não estava convencido de que queria mesmo ir para lá.
Porque eu não queria.
Estava no meu quarto, em uma quinta-feira, ignorando o caderno de geometria, que me mandava estudar para a prova do dia seguinte. Não me parecia interessante o suficiente. Meu celular também estava sendo ignorado, mesmo que estivesse apitando desde que eu terminei de jantar. Eu vi que era , mas também tinham mensagens de Brad e Jace. Era como se todos resolvessem que precisavam falar comigo enquanto eu pensava sobre meu futuro.
Mas tem uma hora que você não aguenta mais.
– O que foi, porra?! – atendi a ligação de Brad, sem educação alguma.
– Cara, entra no YouTube. Você está na página principal.
– Eu... O quê?
Comecei a digitar no computador, conforme ia falando com Brad.
– Lembra daquela luta com o Wallace, no final de Outubro? Alguém filmou. E colocou na internet. E por algum motivo, isso fez um puta sucesso!
– E por que uma luta minha faria sucesso?
– Estão comparando você com Anderson Silva, Demetrious Johnson e até Jon Jones!
Cacete. O vídeo em que eu batia em Wallace estava mesmo em destaque. aparecia brevemente durante a gravação, gritando por mim e levemente bêbada, se apoiando em Jace e em Ashley, como sempre acontecia.
– Caralho, Brad! Você viu essas visualizações?!
O tamanho do vídeo começava a me dar medo. O que fazíamos era ilegal, não só por sermos menores de idade, mas porque havia tráfico de drogas durante as lutas, não havia a menor preocupação com saúde ou coisas do tipo, bebida alcoólica à vontade. Isso sem contar na invasão de propriedade, já que sempre íamos para galpões e edifícios abandonados.
– Pelo que eu entendi, Wallace é um lutador semiprofissional. Ele tem um parente que já foi empresário de alguns lutadores e está tentando a sorte. Mas aí esse parente dele viu a luta e resolveu upar o vídeo agora.
– A luta foi há 7 meses, Brad. Se ele queria alguma coisa, já devia ter postado o vídeo antes.
– Olha, , não sei o que está acontecendo. Só sei que você está fazendo um puta sucesso e precisamos marcar outra luta logo, porque...
– Espera, Brad, tenho outra ligação.
Coloquei Brad na espera e atendi ao número desconhecido.
– Alô?
– Olá! Gostaria de falar com o senhor , por favor.
– É ele. – respondi um pouco seco. A voz masculina estava educada demais.
– Ah, ! Que bom que pode atender! – ele passou de um tom sério e impessoal para um amigável em uma frase. – Sou Vincent Queller, mas pode me chamar de Vin!
Que porra de nome é Queller?
– Não sei porque o senhor pensa que vamos ter algum tipo de intimidade...
– Você lutou com meu sobrinho, um tempo atrás. Por informantes confiáveis, fiquei sabendo que gostaria de ser um lutador profissional. Eu preciso apresentar um garoto novo e promissor para a nova temporada, e você parece perfeito. O que acha? Podemos nos encontrar?
– Acredito que não. Não sei quem o senhor é e...
– Imagino que esteja com receio. Vou te passar algumas informações minhas, por mensagem, para que já vá se acostumando. Realmente acho que você tem talento. Quero ser seu empresário. Quero te levar para o topo. Quero te levar para Vegas, garoto.
– Pode... Me dar um tempo para pensar?
– Mas é claro. O tempo que precisar. Quando quiser conversar comigo, pode ligar nesse número. Encerramos a ligação com despedidas breves. Brad não estava mais na linha, e eu não retornei. As mensagens que lotavam meu celular eram todas falando sobre a luta. Sobre a surra que eu havia dado em Wallace.
Assisti ao vídeo mais algumas vezes, mas ainda não conseguia entender o porquê de todo aquele alvoroço. Para mim, ainda era uma luta comum entre eu e um idiota qualquer. E já faziam 7 meses.
Minha mente começou a correr, imaginando como seria minha vida se eu aceitasse me encontrar com o cara com nome estranho e desse tudo certo. Como seria morar em Las Vegas, mesmo sem ter 21. E viver de lutas, o que eu mais amava fazer. Era como viver um sonho.
Você precisa fazer a faculdade que vai te levar pro futuro que você imagina quando fecha os olhos, . Não pode escolher qualquer uma. Tem que escolher a que segura a chave que abre o cadeado para os seus sonhos. Porque, querendo ou não, é a faculdade que vai traçar o caminho para o resto da sua vida.
tinha dessas. Falava coisas profundas, de vez em quando. Acho que ela aprendia isso nas peças e apenas as transportava para a vida real. Ela havia me feito esse discurso quando fomos para o Norte, fazer inscrição nas faculdades. A maioria pedia uma entrevista, então fomos juntos na viagem. Recomendei que se inscrevesse em Juilliard, mas ela se recusou. Disse que o seu futuro era como médica, assim como sua mãe, e a mãe dela, e a mãe da mãe dela, e sucessivamente.
Não se parecia com algo que faria ou diria, mas eu aceitei.
Quando fomos fazer as inscrições, eu não sabia bem para onde queria ir, então só fui pegando algumas opiniões e sugestões, esperando encontrar o melhor lugar, assim no acaso. Mas eu não podia mais negar para mim mesmo.
Eu queria ir para Vegas.
***
To find why you’re here for just open another door
– ! Fico feliz que tenha vindo me encontrar. Acredito que tenho um mundo de possibilidades para te oferecer.
Vincent Queller estava sentado em minha frente no seu escritório. Estávamos separados por uma mesa repleta de papeis preenchidos com caneta azul e um laptop de última geração. Se Vincent era um empresário, não era nada do que eu estava esperando.
Na minha opinião, empresários são homens gordos e carecas, que não podem mais trabalhar no ramo que desejam, então eles empresariam pessoas mais jovens que possam fazer sucesso. Mas Queller era diferente. Ele quebrava o padrão. Seu rosto quadrado era firme e forte e ele não tinha marcas de expressão; sua orelha era danificada, como as orelhas dos maiores lutadores do UFC. sempre me perguntava se a minha ficaria detonada daquele jeito, e eu acabava rindo, sem saber como responder. O terno bege que usava, destacava a gravata azul claro, e, se tivesse que o comparar com alguma coisa, o compararia com um armário. Um armário grande.
– Eu também, senhor Queller. Por isso estou aqui. – respondi, movendo as pernas. Ele me intimidava e me deixava nervoso.
– Vin, rapaz. Me chame de Vin. – concordei com um movimento de cabeça. Eu não iria discordar de um armário. – Me diga, : já sabe o que vai fazer quando o colégio acabar?
– Vou estudar na universidade de Brown. Em Rhode Island.
– Já sabe que matérias irá cursar?
Eu havia ensaiado aquele discurso sobre as matérias e meus interesses uma centena de vezes. Queria saber o que falar quando meus pais perguntassem, ou até mesmo . Não queria parecer perdido na frente de todos, que pareciam tão sábios em relação ao futuro.
Só que eu congelei.
As palavras que saíram da minha boca não estavam previstas nem ensaiadas.
– Eu não tenho a menor ideia.
Vin soltou uma risada amistosa. Não era como se estivesse tirando sarro de mim, era mais como se me compreendesse.
– Eu tinha exatamente o mesmo pensamento com a sua idade. – admitiu Vin. – Queria ser lutador e meus pais achavam uma perda de tempo. Entrei em uma faculdade qualquer e, quando criei coragem para enfrentar o mundo, já era tarde demais. Não pude ter as mesmas oportunidades. Você sabe que a carreira de um lutador não é muito longa.
– Eu sinto muito. – respondi. E eu realmente sentia.
– É, mas não quero que você sinta muito por você mesmo, rapaz. Você lutou com um dos garotos que eu estava cuidando. E ganhou dele. Eu não costumo trocar; quando assumo a responsabilidade com alguém, vou até o fim. Mas tive que dizer para Wallace que não poderia mais trabalhar com ele. Quero trabalhar com você, . Você tem muito mais chances de chegar ao topo do que ele.
Eu estava estático. Todos os meus sistemas haviam entrado em curto e não conseguia raciocinar direito. Vin esperava que eu dissesse algo, mas somente o toque do meu celular me tirou do transe.
– Eu... Vou atender. Um momento, por favor. – pedi, saindo da sala com o aparelho nas mãos. Não pretendia atender, mas o nome na tela fez com que eu mudasse de ideia. – Oi, . Pode falar rápido? Estou um pouco ocupado.
– Oi, . – sua voz estava estranha ao falar. – Eu... Desculpa. Não queria interromper nada. Quando você tiver mais tempo...
– Não, . É algo importante? Pode falar... Cacete, você está chorando? Vou aí. Onde você está?
– Não. Não precisa. De verdade. Não era nada. Nem sei por que liguei. Depois nós conversamos.
E, então, ela desligou.
Franzi o cenho para o telefone e a preocupação tomou conta de mim. estava chorando e ela nunca chorava. Nunca.
Voltei para a sala de Vin.
– Desculpe, Vin. Eu vou ter que...
– A vida não vai ser sempre assim, .
Vin me interrompeu com uma frase que rondava minha cabeça desde que entrei no ensino médio. Isso fez com que eu me calasse e prestasse atenção nele.
– Festas, lutas ilegais, ficar bêbado, namoradinhas. Isso acaba na formatura. A hora que entrar para a universidade... Ah, . É bem mais difícil do que os filmes mostram. Você está preparado para largar seu sonho de ir para Vegas lutar?
– Meus pais nunca aceitariam a minha escolha, Vin. – respondi, usando a única coisa que me impedia de aceitar.
– Você vai fazer 18 anos, ainda este ano, certo? – assenti, já que ele esperava resposta. – Depois disso, você pode fazer o que quiser. Pode embarcar em um avião para Nevada comigo na noite do seu aniversário de 18. Você pode conseguir o que quer, .
Respirei fundo. Todas as barreiras que me obrigavam a recusar a oferta haviam desaparecido.
– Posso pensar nisso? Por um tempo?
– Claro. Pense até seu aniversário de 18.
– É em maio. Dia 1º de Maio.
– Ótimo. Dia 1º você me dá uma resposta, que tal?
Assenti, concordando. Minha cabeça estava cheia, mas eu já sabia qual a resposta que queria dar.
Agora eu precisava saber o que estava incomodando .
***
I’m kicking down the walls, I’ve gotta make ‘em fall
tinha um grande problema, que ela escondia com facilidade, porque não era exatamente dela: sua mãe.
A mãe de não era muito saudável no quesito mental. Emma tinha distúrbios de personalidade múltipla. É uma doença que faz com que a pessoa acredite que ela tem mais de uma personalidade. Emma não era apenas Emma, a mãe. Descobrimos que ela também era Jack, o caminhoneiro, Holy, uma criança, Blaire, uma ex-presidiária. E de acordo com o médico, muitas outras podiam aparecer. Era assustador ver o modo como Emma se transformava, e isso acabou com sua internação. Não teve jeito; ela precisava de cuidados especiais.
O pai de casou-se outra vez, com a mulher que ela chamava de mãe, Casey. Mas todo dia 15 do mês, visitava sua mãe. Era como um ritual, algo constante. A antiga Emma – que não havia sido atingida pela loucura – gostava de rotina, e acreditava que visitá-la todo dia 15 era um modo de preservar isso, de alguma forma. E também tinha o fato de que nunca aconteceu de Emma não ser Emma no dia 15. Era como se suas personalidades tivessem dias específicos.
Hoje era dia 15.
Eu ia com , mas não chegava a falar com Emma. Ela preferia fazer isso sozinha.
Estava no lado de fora da clínica de repouso, esperando que voltasse, jogando no celular. Xinguei quando perdi meu último conjunto de vidas, deixando o aparelho cair, sem querer. Bufei, me abaixando para procurá-lo.
Todo mundo sabe como é impossível encontrar alguma coisa no chão do carro, principalmente seu telefone. É como se o chão fosse um buraco negro que suga tudo assim que atinge o solo. E não vou nem comentar sobre as chaves.
Mas eu encontrei algo.
O carro de era a maior zona do Universo. Só perdia para o meu quarto e para o quarto dela. Você pode achar de tudo dentro daquele pedaço de metal, desde batons e maquiagens com nomes desconhecidos por mim, até...
Até um envelope de Juilliard.
Encarei o envelope rasgado nas mãos, sem acreditar. havia recebido uma carta de Juilliard. A carta de dentro não estava lá, mas eu continuei a analisar o pedaço de papel que eu tinha em mãos. Mas que merda isso significava?
Bem nesta hora, vi saindo da clínica. Soquei o papel no bolso. Dentro do carro de – e dentro de seu mundo também – havia uma lei: não encontrei, não vou precisar. Se algo estava jogado no seu carro, com certeza ela não iria procurar mais tarde.
– O que está fazendo aí?
abrira a porta do carro e me encontrara abaixado no banco. Não era uma coisa fácil de se explicar. A não ser...
– Meu celular caiu.
– Quer encontrar seu celular no meu carro? Boa sorte.
Eu ri para diminuir a tensão. Eu deveria agir como um adulto e perguntar sobre a carta. Ou, então, ser ainda mais maduro e esperar que viesse e me contasse... Mas eu ainda não era um adulto, então continuei quieto, procurando o celular.
– Liga do meu. – ela sugeriu, me dando seu telefone.
Assenti e fiz o que ela mandou, encontrando meu celular no lugar mais impossível debaixo do banco.
– Obrigado. – devolvi seu celular. – Como foi com a sua mãe?
– Bem. Ela está bem. – sorria. – Melhor do que das outras vezes. Até perguntou de você.
– Mesmo? – sorri também, tentando passar confiança. – É porque sou um cara marcante.
– O médico acha que ela vai poder ir à formatura.
Essa era uma notícia nova. Uma notícia nova e surpreendentemente boa.
– Cacete! Isso é muito bom, !
– Eu sei! Vai ser incrível se ela for! Nossa formatura é no final de maio, sabe. Temos um pouco mais de um mês até lá! E você vai ter 18!
Continuei conversando com , animadamente. Se eu aceitasse a proposta de Vin, talvez eu não participasse da formatura.
não sabia nada sobre isso. Ninguém sabia. Eu não tinha com quem conversar. Meus pais não estariam dispostos a ouvir e já estavam com o cheque assinado para me mandar para Brown; Jace já devia ter mandando as malas com suas coisas para Rhode Island; tinha suas próprias preocupações e só me restava Brad, que estava desesperado para passar de ano com as provas finais e a recuperação.
Eu estava sozinho nessa.
Minha decisão já havia sido tomada. Eu iria para Vegas; aceitaria a proposta de Vin. E aí vinha a parte difícil: explicar isso para os meus pais.
Tentei no jantar daquele mesmo dia, depois de ter me deixado em casa.
O jantar é um ótimo lugar para notícias bombásticas. Se você quer revelar algo para sua família, faça no jantar. O máximo que pode acontecer é eles ficarem putos e começarem uma guerra de comida.
– Mãe, pai... O que vocês acham sobre Brown? – comecei, amaciando o terreno. Eles precisavam entender que eu falaria sobre universidade.
– É a universidade que eu estudei, você sabe filho. – meu pai respondeu na hora com a boca cheia de comida. Tomou um gole de cerveja pra ajudar a descer, e depois continuou falando, e eu me obriguei a não escutar, porque não estava realmente interessado.
– E se... E se você não tivesse ido para a universidade? – perguntei de modo inocente e hesitante. Não é fácil fazer esse tipo de pergunta depois que ele passou dez minutos descrevendo a “preciosidade que é estudar em Brown”.
Meus pais congelaram no lugar. Meu coração parou.
– O que quer dizer com isso, ?
– Nada. Estou apenas perguntando. Se vocês não fossem pra universidade, o que gostariam de ter feito?
– Não há o que fazer sem a universidade, . – meu pai disse automaticamente. – Ou você faz, ou você não faz nada pro resto da vida. É assim que as coisas são e ponto final. Em agosto você vai fazer suas malas e ir direto para Rhode Island. Sem mais perguntas.
Concordei e terminei de comer, em silêncio. Eu estava tentando derrubar paredes de concreto com chutes.
***
I want my own dream so bad I’m gonna scream
O último jogo do campeonato foi fácil. Deixamos nosso legado, é claro. O melhor time de todos os tempos, que estava se formando. A torcida nunca foi tão forte e tão ensurdecedora. O procedimento era o mesmo que do outro jogo: festa, luta, conseguir chegar em casa e esconder o dinheiro e possíveis marcas de porrada.
Mas havia algo de diferente desta vez.
Com o último jogo da temporada, eu entrei em desespero. As provas já haviam acabado. Agora era esperar o resultado e entrar pra universidade. Eu não queria ir para Brown. Se eu fizesse as malas, o único avião que eu pegaria, seria o que me levasse direto para Nevada. Ninguém sabia disso, além de mim.
e todas as líderes de torcida invadiram o vestiário, pulando e cantando músicas ensaiadas para o jogo. Havia uma garrafa de champanhe, que alguém estourou. O treinador estava lá também e todos estavam em festa. Eu não conseguia acompanhar nada disso.
Em algum momento, me beijou e me chamou de ”estrela” do time. Disse que eu era o melhor e que ela acreditara em mim desde o apito. Mais pessoas vieram me abraçar e me cumprimentar, mas uma placa com “Las Vegas” e “Providence” escrito em cores chamativas era tudo que passava na minha cabeça.
Las Vegas, Nevada.
Providence, Rhode Island.
Para onde você vai, ?
Quando eu percebi, havia dado um grito.
Um silêncio caiu sob todos os presentes no vestiário, só para que gritassem logo depois. Eles não faziam ideia do que acontecia na minha cabeça.
Nem mesmo , que estava ao meu lado e me perguntou se eu estava bem. Sua peça de teatro fora ontem, na sexta 22. Ela também havia concluído tudo e estava pronta para embarcar num voo para Yale, em Connecticut.
Todos já tinham seus planos.
A festa da noite seria na mansão de Johnny, o mais rico de nós. A festa tinha que ser a maior e mais louca de todos os tempos; era nossa última festa no colegial.
Última festa no colegial...
– , se importa se eu não for à festa?
Abaixei os olhos para encontrar ao meu lado, murmurando em meu ouvido. Eu estava beijando-a segundos atrás, não estava?
– Não está se sentindo bem?
– Estou cansada, na verdade. A peça ontem foi bem longa, e agora o jogo... Eu só quero minha cama.
– Tudo bem, pode ir. Quer que eu te leve?
– Não, não. Estou com o meu carro. Você sabe como eu gosto de dirigir...
Sorri. Um sorriso forçado, mas que passaria despercebido.
– Ótimo. Me ligue se precisar de alguma coisa.
me deu um último beijo antes de se afastar da multidão. Nós não nos importávamos em ir à festas separados, porque confiávamos o bastante um no outro. Eu sabia que por mais bêbada que estivesse, ela nunca me trairia, nem de brincadeira. Eu correspondia a isso.
As pessoas estavam me sufocando. Aquele vestiário estava me sufocando. Percebi que precisava de um lugar vazio, arejado, silencioso.
Só havia um lugar assim.
Distanciei-me aos poucos das pessoas. Não quis chamar atenção, então fui cumprimentando um ou outro, fingindo que estava querendo chegar em alguém que estava mais adiante. Falei até com o treinador, que me parabenizou várias vezes, e foi um inferno conseguir afastá-lo. Mas eu consegui.
Uma vez nos corredores da escola, corri pelas escadas até chegar em uma parte onde dizia “acesso restrito”. Era lá mesmo que eu precisava ir.
Estava escuro, já se passava das 22h, mas os alarmes não estavam ligados porque era dia de jogo. As luzes automáticas não se acenderiam nos corredores, mas não haviam os barulhos dos alarmes. Passei por cima da corrente com a placa e continuei a subir.
A escola tinha uma enorme estufa no telhado, para os estudos de Botânica e Biologia. Ninguém se importava o bastante para subir até lá ou trancar a porta. Era extremamente silencioso à noite.
Eu precisava do silêncio. Conforme fui adentrando, o espaço e o silêncio tomava conta de tudo ao meu redor, e eu me sentia pressionado. Como se houvesse algo dentro do meu corpo pedindo, desesperadamente, para sair. Era mais que um desejo, era uma necessidade, algo que estava me deixando completamente louco.
E, então, eu gritei.
Gritei com toda a força dos meus pulmões.
Por algum motivo, não consegui ouvir o barulho do meu grito. Era como se eu estivesse em uma bolha, que estava me isolando de tudo e de todos. Conforme o ar saía de dentro de mim, o alívio ia me dominando, como em uma perfeita troca de oxigênio e gás carbônico.
Eu estava funcionando bem melhor agora.
Me calei quando o ar faltou. Respirei fundo algumas vezes, sentindo o ar puro das plantas. A estufa era um bom lugar para relaxar. Era uma pena que todos vissem como um lugar para estudos e chatices.
– Mas que porra foi essa?
Se eu tivesse levado um tiro na cabeça, não teria ficado mais surpreso.
– ?! O que você está fazendo aqui?!
– Sei que não estou gritando com as coitadas das briófitas e angiospermas. O que elas fizeram para você?
Ela ainda vestia o uniforme vermelho e branco das líderes de torcida. Não havia ido para casa, porra nenhuma.
– Pensei que estivesse indo para casa.
– E eu pensei que estivesse indo para a festa.
Nós dois suspiramos.
A real era que não estávamos sendo 100% honestos um com o outro. Sempre nos orgulhamos da nossa relação baseada na verdade, mas não estávamos usando-a em um momento importante.
Estava na hora de colocar as cartas na mesa.
– Eu preciso te contar uma coisa...
– Eu preciso te contar uma coisa...
Nós rimos quando percebemos que falamos ao mesmo tempo.
– Primeiro as damas. – lembrei, erguendo as sobrancelhas de modo galanteador. Agora que já havia colocado todas as preocupações para fora, estava mais fácil conversar com .
– Tudo bem. – ela respirou fundo. Sentou-se ao lado de uma enorme planta que eu deveria saber o nome, mas as provas já haviam passado, então um super foda-se para essa plantinha. – Vamos com calma.
Sentei-me ao seu lado e apertei sua mão. Eu estava ouvindo.
– Eu não me inscrevi só em Yale. Também fiz inscrição na Juilliard. E eu passei. Nas duas. , eu consegui entrar na Juilliard.
Foi um choque. Eu já imaginava que ela tinha se inscrito, por causa do envelope que achei no carro, mas não que tinha passado. Quer dizer... É Juilliard.
– Não falei nada pra você nem pra ninguém porque não tinha esperanças, sabe? Achei que não iria ser aprovada. Mas eu fui. Eu entrei, . Eles me querem lá.
Abracei com tanta força, que esqueci de me preocupar se isso estava machucando-a ou não. Rodopiei com ela em meu colo, rindo de felicidade. Acho que isso que significa amar alguém. Minha vida estava tão bagunçada e confusa quanto o carro de , mas ela tinha seus sonhos na mão, e eu estava mais feliz do que nunca.
Caralho. Eu amava .
– Você merece, . Porra, você merece! – eu disse, continuando a rodopiar com ela. ria e me abraçava de volta, não se importando em estarmos os dois suados e usando as roupas do jogo. Paramos no chão, quando eu tropecei no meu próprio pé e caí com ela sob o meu peito. O sorriso mal cabia em seu rosto, que estava encharcado de lágrimas.
– Obrigada, . Deus! Você não sabe o quanto isso é importante para mim.
– Sei, sim, . Sei tudo sobre você. Sei como você é incrível quando sobe em um palco, na frente de um monte de desconhecidos, e se torna outra pessoa. Ou quando você canta durante as peças, como se a música fosse sua ou fizesse parte de você. , você é perfeita fazendo o que gosta, e eu nunca conseguiria te imaginar fazendo outra coisa!
me beijou assim que eu terminei. Suas mãos se prenderam no meu cabelo e ela me beijou com vontade, de um modo que nunca havia feito antes. Eu me senti tão bem com aquele gesto, que meu corpo todo se aqueceu e o mundo ao meu redor parecia certo. O calor de , pressionado contra mim, parecia está onde deveria; seu cabelo caindo ao nosso redor, nos isolando de tudo e todos, como se estivéssemos em uma dimensão só nossa, onde só existiam nossos lábios e nosso amor.
Mas aí eu percebi que ela estava chorando. Muito.
– ...
Subitamente, se afastou. Sentou-se um pouco longe de mim e enterrou o rosto nas mãos. Não estava chorando de alegria. Havia algo errado.
– Calma, gatinha. Fala comigo. – pedi, tocando seus ombros com as mãos, lentamente, para não assustá-la.
– Eu não vou para Juilliard, .
Franzi o cenho. Ela estava chorando e falando embolado, então eu devia ter entendido errado.
– Você foi aceita, não foi?
– Eu não posso ir para Juilliard. Minha mãe queria que eu fosse estudar medicina em Yale. Se eu conseguir entrar lá, talvez consiga, um dia, descobrir como amenizar o distúrbio dela, . Minha mãe precisa de mim. Eu não posso ser egoísta ao ponto de ir para Juilliard. Não posso fazer isso com ela.
chorava tanto que eu fiquei com medo. Queria ter um lencinho para ela soar o nariz, ou alguma coisa assim, mas não tinha nada, então tirei minha camiseta de basquete; estava um pouco suada, mas eu ia jogar no cesto de roupas sujas assim que chegasse em casa, então não tinha problema.
Segurei seu rosto com uma mão e limpei as lágrimas e seu nariz escorrendo com a outra, usando a camiseta.
– , me escuta. A vida é sua. Sua mãe já viveu a dela. Você está só começando. Você sempre me disse que não podemos ser felizes fazendo o que não gostamos e nem nunca seremos realmente bons se não nos agradar. Então você devia seguir seu próprio conselho e ir para Juilliard. Tantas pessoas estão na fila de espera, só aguardando o momento de alguma garota talentosa como você desistir pra que possam pegar o lugar dela... Não deixe que alguém pegue seu lugar, gatinha. E não pegue o lugar de alguém em Yale. Faça o que você quer, o que você ama fazer. Não dá pra voltar atrás, .
– Não posso decepcioná-la, . Minha mãe não sabe quem é. Ela era médica, cuidava dos outros e agora não pode ficar sozinha por um segundo! Eu sinto como se fosse meu dever. Preciso garantir que ela vai se curar e...
– Não é sua obrigação fazer nada além de ser feliz. Porra, , você entrou na Juilliard! Isso é difícil pra caralho! E, que merda, espero que tenha gravado sua apresentação, porque eu quero ver.
Um sorriso tímido surgiu no canto de seus lábios.
– Sim, eu tenho gravada.
– Ótimo. Vamos para sua casa e você vai me mostrar assim que chegarmos lá. Eu quero ver você fazendo o que você ama, .
– Juilliard é em Nova York. Não poderei visitar minha mãe todos os dias...
– Você também não poderia, estudando em Yale. A diferença é que você vai deixar de visitá-la por um bom motivo: estar na faculdade que você quer, fazendo o que você nasceu para fazer.
E finalmente o sorriso ocupou seu rosto todo. Os dentes brancos e levemente tortos – ela se recusara a usar aparelho – brilharam para mim.
– Sua vez.
– O quê? – pisquei, confuso. Ela havia me pego de surpresa.
– Sua vez de dizer o que ia dizer. Por que disse que estava indo para a festa e veio até a estufa gritar com as angiospermas?
Soltei uma risada tensa. Minha vez.
Contei para sobre como eu não sabia o que fazer desde os últimos meses. Ela já sabia a minha paixão por UFC, então tudo ficou bem mais fácil. Contei sobre Vin Queller e sua proposta. Sobre a reação negativa dos meus pais e da possibilidade de ir sem a aprovação deles.
Ela ficou em silêncio até eu terminar.
– E então?
– , eu sabia que isso ia acontecer. Eu sabia que você faria algo com luta. Eu dei o vídeo para Vincent Queller.
– Você... O quê?!
– Eu não podia deixar você fazer algo que se arrependeria depois. Queria que você tivesse todas as alternativas, como eu tinha com Juilliard. Não sabia se Vin se interessaria por você, mas eu apostei que sim. Como você sempre diz, nós somos bons em fazer aquilo que amamos. E acho que você ama dar porrada nos outros.
Eu acabei rindo também, totalmente perdido.
– Não acredito que você me deu a maior oportunidade da minha vida, .
– E eu não acredito que eu quase larguei a minha.
Abracei-a, pelo que parecia a milésima vez na noite. encaixou a cabeça perfeitamente no meu peito.
– Nevada e Nova York são extremos. Ficaremos longe pra caralho. – murmurei a única coisa que estava realmente me perturbando naquele momento.
– A nossa sorte é que as pombas correio evoluíram e agora existem as maravilhosas e instantâneas mensagens de texto. Mágico, não?
Eu ri outra vez, beijando o topo de sua cabeça.
– Obrigada. – ela murmurou baixinho, quase inaudível. – Não sei o que eu teria feito se você não estivesse aqui.
– Provavelmente, alguma burrice. Você precisa de mim para viver, garota. Assume. – debochei, quebrando a tensão que havia ali.
riu.
– Cacete, vou sentir falta do seu jeito babaca!
– Fala sério, você me ama, .
– Amo.
Todos os meus músculos congelaram.
– O quê?
– Eu te amo, . De verdade.
Ela nunca havia dito que me amava. Eu também não. Nós nunca achávamos a hora certa e o motivo certo. Mas lá estava ele; as palavras estavam na ponta da língua e, desta vez, precisavam desesperadamente ser ditas.
– E eu amo você, .
Ficamos em silêncio, por uns segundos, sem nos mover, testando o gosto das palavras no ouvido. O som era maravilhoso.
O futuro é tão incerto quanto o amor. Nós nunca sabemos o que esperar, nem sabemos quando ele vai bater na nossa porta e cobrar respostas. Mas, quando ele chega... Bom, quando ele chega, nós só podemos aceitar e colocá-lo para caminhar junto com a nossa essência.
Eu e ainda éramos novos. Eu não sabia se acabaríamos juntos no fim da vida, ou se nosso relacionamento continuaria forte depois da escola, ou então, se acabaria, como todos me disseram. Talvez nos tornássemos somente amigos, eu não sei.
Uma escolha por vez. E no momento, eu escolho o agora.
Beijei mais uma vez.
Fim
Nota da autora: Mais uma fanfic minha em ficstape! o/ Na verdade, acho que só tenho fanfic em ficstape, mas isso vai mudar, porque quero começar a postar uma long aqui, mas e o tempo? CADÊ?! Pois é. Mas vamos lá, né, as férias estão aí pra isso hahaha.
Espero que tenham gostado de Scream, porque eu honestamente AMEI. O tópico de faculdade e essas coisas é algo que eu vejo bastante meus amigos discutindo, porque já estamos na reta final e fica aquilo de “qual casal vai se separar primeiro” e “qual faculdade fulano vai fazer”. É bem complicado, e é isso que eu quis passar aqui. Espero que quando chegue a minha vez de fazer faculdade, eu saiba o que eu quero.
Não esqueçam de ler as outras fics deste ficstape perfeito, porque High School Musical é a coisa mais maravilhosa desta vida. Eu era apaixonada pelo Zac Efron e pelo Joe Jonas nessa época. E por falar em Joe Jonas, eu quero ficstape do Jonas Brothers :x
É isso aí, gente, beijo beijo e até a próxima fic!
Outras Fanfics:
- 12. I Know Places – Ficstape #004 1989 (Taylor Swift)
- 02. Animals – Ficstape V #005 (Maroon 5)
- 14. Lost Stars – Ficstape V #005 (Maroon 5)
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Espero que tenham gostado de Scream, porque eu honestamente AMEI. O tópico de faculdade e essas coisas é algo que eu vejo bastante meus amigos discutindo, porque já estamos na reta final e fica aquilo de “qual casal vai se separar primeiro” e “qual faculdade fulano vai fazer”. É bem complicado, e é isso que eu quis passar aqui. Espero que quando chegue a minha vez de fazer faculdade, eu saiba o que eu quero.
Não esqueçam de ler as outras fics deste ficstape perfeito, porque High School Musical é a coisa mais maravilhosa desta vida. Eu era apaixonada pelo Zac Efron e pelo Joe Jonas nessa época. E por falar em Joe Jonas, eu quero ficstape do Jonas Brothers :x
É isso aí, gente, beijo beijo e até a próxima fic!
Outras Fanfics:
- 12. I Know Places – Ficstape #004 1989 (Taylor Swift)
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