16. Batom Na Camisa

Prólogo

Quarta-Feira (17/05/2017)

– Amor, cheguei. – Grita Issac, enquanto fecha a porta, depois de um dia de trabalho.
O homem estranha a casa estar um repleto silêncio, e sua mulher não ir de encontro com ele, perguntando como foi seu dia. Ao passar pela sala, ele avista malas no pé da escada e se assusta ao ver sua mulher com os olhos inchados e vermelhos descendo a escada com mais uma mala.
– O que está acontecendo? – Pergunta Issac, evitando pensar no pior.
– Eu cansei. – Diz Thauany pela primeira vez, depois de um longo silencio. – Cansei de mentir, de fingir, de tentar. – Completa a mulher.
– Você vai embora? Como assim Thauany Ferreira? – Pergunta Issac começando a ficar apavorado. – Até perceber que suas suspeitas eram verdadeiras, as mudanças repentinas de sua mulher, estavam mais claras agora.
– Eu tenho outro. E estou dizendo isso porque quero que você saiba de mim. – A mulher fala bem rápida, para que Issac não entendesse.
– Você o que? – Os pensamentos na cabeça daquele homem gritavam de todos os lados.
“Ela não me ama” “Ela tem outro” “Ela me enganou, fingiu me amar” “Ela me traiu” “Eu jurei não fazê-la sofrer, mas ela arrancou meu coração, e o destruiu jogando mil e um pedaços no chão”.
– Você! – Grita Issac, enquanto derruba tudo o que está em cima de uma mesa, encostada na parede.
– Sua, sua... – Vadia, pensa ele, mas não teve coragem de falar, ou talvez não tivesse coragem de acreditar.
– A culpa é sua, você que nunca teve tempo para nada, eu, eu... – Começa Thauany depois de secar as lágrimas que agora saiam sem parar.
– Eu não tive tempo? – Grita Issac, com um olhar de nojo para ela. – Eu trabalho para te dar o melhor, e você faz... Como pôde? – A raiva tomava conta de Issac.
– Eu te amo, mas não aguento ficar assim. – Disse Thauany aos prantos.
– Me ama. – Grita o homem mais alto ainda, enquanto ria da piada. – Você nunca prestou, eu não devia ter acreditado que poderia mudar, você continua com essa vida de vadia, e ainda vem me falar isso, você nunca prestou. Nunca. – Issac estava descontrolado, enquanto jogava as coisas no chão, para não arrastar a cara daquela vadia pelo asfalto lá fora.
– Eu tentei mudar por você, e eu mudei sim. Você que não viu. – Agora Thauany estava gritando, perdendo totalmente a cabeça.
– Você mudou? – Ria M sarcástico. – Você está com outro, você não mudou nada. – Dizia com nojo de olhar para a cara daquela mulher que um dia deitou em sua cama.
– Mas... – Começa a mulher para se explicar.
– Mas nada, sai da minha casa Vadia. – Grita Issac cortando-a, com olhar de nojo enquanto ela pega suas malas e sai para nunca mais voltar.


Capítulo 1

Sábado (17/06/2017)
Um mês depois.

Issac acorda assustado, sonhando que sua mulher queria deixá-lo, que sua mulher havia outro, a mulher que ele mais amou em toda a sua vida, estava indo embora. Para ele esse era o pior pesadelo de todos. Por isso ele acordava gritando, e pulando na cama quase caindo no chão.
O homem se levanta rápido lembrando-se de seu pesadelo, olha para os lados, sua cama bagunçada, sua casa de cabeça para baixo, e as lembranças de todo o mês volta com tudo. Não era um pesadelo, era real, e agora ele estava perdido, desolado, sem rumo, e sem saber como seguir em frente, depois de perder o que era mais valioso em sua vida.
O homem se olha no espelho, e tudo o que vê é um homem sem vida, os olhos estão vermelhos de tanto chorar na noite passada, a barba está por fazer há mais de duas semanas, as olheiras estão profundas, esse sujeito está derrotado, esta cansado de viver. Os vestígios da felicidade estão começando a sair de sua mente, tanto tempo sem senti-la, que esse rapaz, já não tem ideia de como é o gosto de ser feliz.
Caminhando pelo banheiro, trombando em tudo que está em seu caminho, Issac dá de cara com sua camisa suja que usou na última noite de amor entre os dois, a camisa está amassada, jogada em cima da escrivaninha, nela se encontra a marca de um batom vermelho, que agora, está desbotado e borrado, mas ao pegar a camisa, e relembrar de todos os momentos que tiveram naquela casa, ele ainda pode sentir o cheiro de sua ex-mulher naquela peça em sua mão, ainda pode ver aquela mulher andando pela casa, os vestígios dela ainda não foram embora, as lembranças servem para assombrá-lo, fazendo seu coração se apertar no peito, com saudade de um amor que um dia já teve, o coração se acelera, lembrando-se dos momentos bons, o frio na barriga chega lembrando-o do amor que sentia, e que ainda sente por aquela mulher que jogou fora seus sentimentos.
Depois de tomar um banho, aos prantos, como todos os dias, ele se arrasta pela casa em direção à cozinha, mas não aguenta ficar ali, em cada canto que olha, em sua mente vem àquela mulher, em cada cômodo que entra, a saudade aperta. A casa está vazia, está silenciosa, Issac já perdeu o sentido de tudo, não sabe que horas são e muito menos se é noite ou dia. Ele para no pé da escada lembrando-se dos últimos momentos que tiveram juntos, aquela briga, na qual os dois nunca mais se falaram, nunca mais se encontraram. Ele sabe que devia seguir em frente, tentar a vida com outra, assim como ela fez. Sabe que não pode simplesmente desistir de viver, e esperar pela morte. Mas plantar tanto amor, e acabar colhendo dor, acaba com qualquer um. Assim como detonou esse homem.
O sonho de ter uma família se transformou em um pesadelo, o desejo de amar e ser amado, foi cortado pela raiz, seu coração não aguenta mais bater, seu coração não aguentaria mais um não, ele não aguenta outra paixão. Issac mal consegue comer, não consegue sorrir, não consegue viver, tem medo de ser feliz, tem medo de insistir, tem medo de amar, de se apaixonar, e a cara novamente quebrar.
Ele ficou tão abalado que perdeu seu emprego, ele simplesmente parou de ir trabalhar, só consegue sair de casa para beber, para tentar esquecer, a tristeza e a dor que aquela maldita o está fazendo sofrer.


Capítulo 2

Seu café da manhã Issac não tomou, apenas pegou sua carteira e a chave do carro da mesa da cozinha, e foi para o bar mais próximo, o mesmo em que ele estava ontem, e anteontem, e todos os outros dias, desde o termino. Sua segunda casa passou a ser lá.
Issac não possui mais dinheiro para beber, não tem dinheiro para sobreviver, ele está no vermelho, mas bebe fiado, garantindo que vai pagar depois, mesmo não tendo planos para esse depois. Ele não consegue pensar direito, não consegue agir direito. Está na pior, por amar alguém que não teve dó. Está sofrendo por se apaixonar, por se entregar ao amor, achando que era verdadeiro, achando que seria eterno.
Esse homem começa a beber já cedo, sem pensar em como vai terminar sua noite, ele bebe para esquecer-se da dor, para esquecer-se do amor, para esquecer-se do sofrimento. Mesmo sem dinheiro, mesmo sem esperanças, ele tenta viver, um dia de cada vez, ele tenta se achar, depois de tanto sofrimento que aquela mulher o fez passar.
Seus amigos já cansaram de falar, para ele não pensar mais nela, eles já aconselharam que seria melhor seguir em frente, viver seu presente, e esquecer o passado, esquecer tudo o que passaram. Mas cada um tem um jeito de se acertar, cada um tem seu jeito de continuar. E Issac vai ficar bebendo até seu fígado não aguentar.
Ao ouvir o sino da porta se abrindo, o homem estranha por alguém estar entrando em um bar tão cedo, mas ele não da bola, já que ele está ali há essa hora, então não pode julgar, mas ao olhar para o lado direito, onde uma mulher se senta em frente ao balcão, a uns três bancos de distância dele, ele a reconhece, sua ex-mulher abatida, desorientada, com os cabelos bagunçados, as olheiras fundas, sofrendo por amar o cara errado. Que ela estava pior do que Issac não se podia negar, ao Thauany olhar para o lado, ela se assusta e arregala os olhos, por ver o estado de seu ex-marido, mas os dois fingem não se conhecerem, não se cumprimentam, não trocam sorrisos, nem nada. São apenas dois desconhecidos, sofrendo pelo mesmo motivo.
Mas Issac percebe que ao olhar no fundo daqueles olhos castanhos, seu coração não acelerou, suas mãos não tremeram, o frio em sua barriga não apareceu, e todos os sintomas que ele acreditava ser do amor, sumiram, de repente, ele simplesmente não sentiu aquela atração que pensaria que para sempre sentiria. E assim como esse sentimento foi embora, seu sofrimento também.
A ficha simplesmente caiu, ele não sabia o que era amor, não sabia como era amar. Tudo o que ele já havia vivido, já havia sentido, eram simples paixões, elas mechem com você, com seu coração, mas não é verdadeiro, é passageiro.
Issac saiu do bar, sem olhar para trás, aquele foi um adeus, ele estava seguindo em frente, estava seguindo seu caminho.


Epílogo

Sexta-feira (18/08/2017)
Dois meses depois.

Issac descobriu que naquele dia no bar, sua ex-mulher havia descoberto as traições do outro cara, daquele cara que ela dizia ser melhor que ele. Mas Issac não se importou com o sofrimento dela, não o deixou feliz, mas também não o deixou triste, muito menos com dó.
Ela teve o que merecia, e agora Issac não tinha mais notícias dela, ele nem pensava mais nela, estava em outra, com outros esquemas. Esse deslize o fez perceber, que não adiantar você se precipitar em uma relação, tem que deixar o tempo guiar, deixar a onda levar.
Agora que ele superou aquela relação, ele via o quanto aquele amor lhe fez mal. Ele trabalhava tanto para tratar de sua mulher, e a mesma não o agradecia por tudo o que ele fazia.
Agora que tudo mudou, ele está mais feliz, ele está se lembrando de como é ter a felicidade como companhia. Sua vida não gira em torno de alguém, e o fim desse relacionamento, assim como o fim de todos, é apenas o começo de uma história. Desde a parte do termino, a superação, e a verdadeira felicidade encontrada.
Uma pessoa não pode te tirar um sorriso de seu rosto para sempre, pois você vivia sem ter ela em sua vida, e não é só porque essa pessoa possa ter virado sua rotina de ponta cabeça, isso não significa que você precise dela para respirar, para viver. Dizem que todo amor, te traz dor, mas estão enganados, a paixão que nos trás dor, engana o coração. O amor é algo que poucos possuem a chance de viver, poucos são privilegiados, de saber como é amar. Mas temos a vida inteira pela frente para tentar encontrá-lo. Só uma dica, quanto mais você procura pelo amor, mais paixão encontrará. Paixão a gente encontra em cada esquina, em cada ônibus, em cada festa, em cada olhar. O amor, não sabemos aonde encontrar, talvez você já tenha o encontrado, só não sabe disso ainda. Talvez só não esteja preparado para senti-lo.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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