Fanfic finalizada.

Capítulo Único


Era mais uma noite quente na capital brasileira. Brasília era a grande promessa feita por Juscelino Kubitschek e finalmente a cidade fora fundada oficialmente. Logo, logo mais moradores chegariam na cidade e o futuro era bem quisto pelos já residentes.
No bairro central, várias casas luxuosas surgiam e em menos de um ano, o condomínio horizontal Jardins Verdes já era o mais bem frequentado de toda a capital. Famílias políticas, banqueiros e até estrangeiros haviam adotado as mansões como seus lares.

Uma das famílias do Jardins Verdes era a dos Gentil . Manoel, um banqueiro prestigiado, sua esposa e dona de casa, Ruiva, e a única filha do casal, . Eles costumavam ser os mais simpáticos de todo o bairro, sempre envolvidos com as festividades, causas sociais e os maiores e mais prestigiados eventos da cidade.

Apesar das grandes posses, os Gentil sempre foram conhecidos pelo “pé no chão” e humildade, e repassaram esses valores para a menina , que desde nova, não via problema em ser amiga dos filhos dos empregados, como em outras casas, que era uma proibição. Mas só quem convivia todos os dias na casa azul-claro que sabia do que realmente acontecia entre as quatro paredes.
Manoel podia ter a fama de bom amigo para com os outros, mas destilava palavras de desprezo à mesa quando a filha falava dos amigos. , agora com seus dezesseis anos, aprendeu ao longo de sua vida, que se queria uma amizade duradoura, deixaria de comentar e apresentá-los a seu pai, pois sabia que uma hora ou outra, um comentário azedo sairia de sua boca.
Porém, as coisas mudaram quando o filho dos caseiros do condomínio voltou a cidade. fora morar com os avós no Ceará quando tinha apenas sete anos pois seus pais estavam tendo problemas financeiros na época, mas agora, já jovem e pronto para ajudar, voltara a Brasília para terminar os estudos e conseguir um bom emprego.
Desde que voltou, ele e eram sempre vistos pelos jardins das casas próximas as da menina, ora conversando, ora fazendo piquenique ou apenas estudando, mas nunca na casa dela, pois sabia que o pai jamais aprovaria tal situação. Mas, mesmo que Manoel carregasse raiva da filha pela amizade tão intensa dos dois, sua herdeira não se importava, e no fundo, a garota suspirava pelo menino.
Não era como as outras paixonites que ela teve na escola, com , sentia as mãos suadas e o estômago tremendo só de pensar que eles se encontrariam no final do dia, mesmo que fossem apenas tomar um sorvete.


Depois de uns meses, finalmente teve coragem e escreveu uma carta para . Escolheu as palavras mais bonitas e se declarou para o menino. Ficou com medo da reação dele, mas logo no outro dia, ele tinha uma carta para ela.
Era quase palpável o sentimento dos dois, e por isso, sempre que eles estavam de mãos dadas pelo condomínio, os vizinhos deixavam aparente a aprovação e sempre elogiavam o quão foram feitos um para o outro, até mesmo os vizinhos que não suportavam os empregados, passaram a deixar o preconceito um pouco de lado.
Como os dois já estavam trocando cartas e até uns beijos, quis oficializar o namoro, mas sabia que o pai não gostaria da ideia, por isso, disse que conversaria com a mãe, para ver qual seria a sua reação, mas no dia que eles decidiram conversar com Ruiva, Manoel chegou mais cedo e viu os dois de mãos dadas. Saiu enfurecido atrás de , que teve de sair correndo da mansão.
Mesmo com as proibições de Manoel, continuou se encontrando com , já que o pai vivia ocupado com o banco e por muitas vezes chegava tarde em casa, mas os dois contaram com uma ajuda especial, já que a maioria dos vizinhos eram a favor do namoro deles, apoiavam quando os viam juntos.
E quando o aniversário de chegou, quis surpreendê-la. Pediu ajuda da mãe para preparar guloseimas especiais para a namorada e esperava que eles pudessem fazer um piquenique nos últimos raios de sol do dia.
Ao final da tarde, terminou de arrumar as guloseimas em uma cesta e colocou a camisa que o dera de presente alguns meses atrás. Esperava que tudo desse certo naquele dia tão especial!


Pegou muito mal, todo mundo vendo
Eu pulando seu muro
Feito um ladrão, atrás de um coração
Que se finge de surdo



tentava ser o mais discreto possível para não despertar a curiosidade de ninguém na casa. Claro que já tinha combinado com a surpresa com , mas sempre teria risco visitá-la em casa, principalmente se Manoel resolvesse chegar cedo logo naquele dia.


Assim, eu fiquei de maluco
Falando para uma janela
Pois sei, que a minha paixão
Me escuta atrás dela



demorou uns minutos para escutar a voz de , afinal, tinha perdido a hora e estava na cozinha ajudando a cozinheira, que lhe fazia um bolo de aniversário. Sorriu para a mulher e deixou o cômodo procurando pela mãe, mas não a encontrou, então correu até o quarto e abriu as janelas, vendo seu namorado com cara de preocupado.
- Achei que tinha me esquecido aqui fora. - disse baixo enquanto entregava a cesta para a menina.
- Eu estava ajudando Célia com o meu bolo, me desculpe. - sorriu e o ajudou a entrar pela janela e assim que ele estava na segurança de seu quarto, lhe deu um beijo no canto da boca.
- Feliz aniversário, meu amor! - a abraçou ainda mais forte e lhe deu um beijo na testa. - Não sou tão bom com palavras como você, mas eu quero que saiba que eu a amo demais e logo, logo, nós sairemos daqui para a nossa casa!
acreditava em cada palavra que o namorado dizia, e por isso, o abraçou novamente. Logo em seguida trancou a porta do quarto e abriu as outras janelas para que eles não ficassem tão abafados no cômodo. Àquela época do ano era a mais quente da capital.
Conversaram, ouviram música, comeram e até bateram parabéns, mesmo que bem baixinho. Aquele estava se tornando um dos dias favoritos da menina, ela só queria poder compartilhar com sua família da sua alegria, e não somente com alguns vizinhos e a família de .
Enquanto conversavam deitados no tapete do quarto, ouviram o barulho do carro de Manoel e foi o que precisava para que o sorriso dos dois se desfizesse. Começaram a se despedir, afinal, já passavam das oito da noite, mas nenhum dos dois queria deixar o outro.
- Tem certeza que você não pode se esconder atrás da porta enquanto meus pais cantam parabéns para mim e eu volto correndo para cá? - propôs.
- Não acha que seria muito arriscado?
- Meus pais não entram aqui depois que os dou boa noite. Digo que estou com alguma dor ou algo assim. Por favor?! - não diria não para a sua namorada logo no dia de seu aniversário.
O rapaz sabia que era uma missão arriscada, mas aceitou a proposta, já que sabia que eles provavelmente só dariam um beijo na menina e se ocupariam com outras coisas.
Os dois planejaram brevemente que quando voltasse, daria duas batidinhas na porta do quarto, só para ele saber que seria ela a entrar e assim fizeram.
Quando a menina chegou a sala, viu seus pais, um casal de amigos deles e seu filho. logo revirou os olhos, pois sabia que o rapaz só estava ali para que ela desistisse de e namorasse alguém que ele aprovaria.
Bateram parabéns, ela ganhou alguns presentes e todos se dirigiram a sala de estar para conversar. A menina decidiu contar até cem para poder se queixar de alguma dor e se retirar dali.
fazia sua contagem pacientemente, como se estivesse aproveitando de verdade o aniversário com os pais e os amigos deles, mas quando chegou ao noventa e nova, suspirou aliviada e levantou-se.
- Bem, vocês me desculpem, mas preciso me retirar. - A mãe se levantou junto com ela. - Não estou me sentindo muito bem e amanhã tenho escola logo cedo.
O pai olhou o relógio e se assustou, talvez ele também devesse ter contado até cem como a filha, já que teria uma reunião logo cedo no banco.
Todos se despediram e a menina finalmente deu boa noite aos pais. Manoel se dirigiu ao escritório e a mãe a acompanhou até o quarto.
- Estamos muito orgulhosos da mulher que você está se tornando, ! Logo, logo, você vai para a Europa fazer faculdade e vamos morrer de saudade. - Ruiva a abraçou.
- Mamãe… - A menina revirou novamente os olhos. Não queria sair do país para estudar, talvez fosse para o Rio, mas acreditava que em algum tempo já teriam boas faculdades em Brasília e ela não precisaria se distanciar de seu amado. - Vá dormir. Ainda temos tempo até pensar em uma faculdade, tudo bem?
- Tudo bem, tudo bem. Descanse e boa noite!
Esperou a mãe entrar no próprio quarto para bater na porta do seu e logo ser recebida por .
Eles ficaram mais incontáveis horas conversando, dessa vez na cama, deitados abraçados. Ele fazia um cafuné tão carinhoso nos cabelos de que em pouco tempo, a menina já estava sonolenta.
não sabia quanto tempo tinha se passado, mas acordou com batidinhas na porta de seu quarto. Deu um pulo da cama, assustando enquanto a porta abria e sua mãe os encarava com espanto.
- !!!! - Ruiva gritou e deixou cair o copo de água que estava em sua mão.
- Corre! - A menina gritou para o namorado. Ele fez o que foi mandado e pulou a janela e mesmo que os dois estivessem encrencados, se debruçou e gritou: Amo você!
Segundos depois, Manoel já estava no quarto, querendo saber o que tinha acontecido, principalmente ao ver sua esposa boquiaberta.
- Foi uma aranha, enorme! A maior que já vi, papai! - A menina mentiu, olhando com súplica para a mãe.
Algumas vozes foram ouvidas fora da janela de , mas como a menina já havia criado uma situação toda dentro de casa, Manoel apenas checou as janelas e a mandou dormir, puxando a ruiva consigo para fora do quarto de .


Já é madrugada
E eu acordei toda vizinhança
Mas o bairro só dorme
Depois que o meu
love falar que me ama



A menina não sabia como a situação estaria no outro dia, mas esperava que seu olhar de súplica para a mãe tivesse sido convincente o suficiente e ela não tivesse contado nada para Manoel. Mas assim que acordou, viu que seu plano tinha ido por água abaixo, já que estava na sala de estar, conversando com seus pais.
Não sabia o que já tinha sido conversado, mas tinha uma boa ideia, por isso, meteu-se em frente a e disparou a defendê-lo.
- Nós não fizemos nada! Mamãe você sabe que eu não faria nada! - Com as declarações da menina, Manoel olhou da filha para a esposa.
- Do que você está falando? - Quis saber e percebeu quando Ruiva negou com a cabeça.
- Sua mãe não disse nada, . - sussurrou para a namorada. - Vim aqui pedir permissão aos seus pais para que pudéssemos namorar sem nos esconder.
- VOCÊ ESTEVE NA MINHA CASA ONTEM, NÃO ESTEVE? - Manoel, que não era besta, nem nada, gritou. - Não era aranha nenhuma! Você dormiu com este vagabundo?
- Não, papai! - se lamentou por falar antes de saber da conversa.
- Se você não sair, vou chamar a polícia para você meu rapaz!
- Mas nós estávamos entrando num acordo, seu Manoel… - argumentou, mas o pai enfurecido de sua namorada não queria mais conversa.
Ele se retirou, deixando Ruiva e os adolescentes confusos. A mulher começou a explicar para a filha tudo que tinha acontecido naquela manhã, logo cedo quando Manoel tinha acordado e esperava por uma conversa amigável com eles, mas a euforia de acabara com tudo.
- Seu pai não desconfiava de nada, minha filha.
- Como vocês queriam que eu soubesse? Eu vi sua cara de pânico… - Disse apontando para o namorado.
Então Manoel apareceu na sala, com um balde cheio de água e despejando tudo em e em alguns móveis. Pegou o rapaz pelo colarinho e levou aos puxões até fora do seu terreno.

Pode jogar água fria
Chamar a polícia pra me por em cana
Que eu só saio daqui
Se for pra deitar contigo na cama
E já virou novela, todo mundo torce pelo nosso amor
Abre a janela, que a cidade toda já se emocionou
Vem ficar comigo, que eu pago esse mico, sua indiferença
Nosso amor continua, aqui na sua rua, campeão de audiência!



Àquela altura, todos no condomínio já escutavam a gritaria vinda da casa dos Gentil . gritando de um lado, agarrada ao braço do pai que segurava e Eloísa, vizinha da frente, que gritava para Manoel deixar os dois namorarem em paz.
Ruiva estava vermelha como o cabelo. Morria de vergonha de ser o centro das atenções, como naquela situação, por isso, pedia incessantemente para que o marido largasse o menino, mas nada deixava que Manoel largasse do rapaz. Só quando chegaram ao portão que ele jogou o menino para fora.
- Não volte a minha casa e esqueça o acordo que fizemos anteriormente! - Marchou de volta a casa com os xingamentos vindos das casas próximas que presenciavam a cena.


e tiveram poucas oportunidade de encontro pelas semanas que seguiram o aniversário da menina. Seu pai ficara furioso com a mentira da filha, que teve o apoio da esposa, por isso proibira até de passear com as amigas da escola, que eram filha de amigos dele. Mas como toda jovem sonhadora, a menina implorou para a mãe que pudesse ao menos ligar para o namorado, e por um mês e meio eles só se falaram por telefone, porque até os pais de pediram que ele desse um tempo até as coisas se acalmarem.
Quando saia com Ruiva para os eventos do condomínio, a primeira coisa que ouviam era “nunca mais vi você e o juntos… espero que tudo dê certo!”. Essas declarações só faziam que a menina tivesse ainda mais saudade do namorado, por isso, planejou de visitá-lo numa noite que os pais sairiam para um jantar da elite brasiliense.
Tudo estava correndo como o planejado e já estava batendo na porta dos . O namorado mal podia acreditar na visita que estava tendo e por um minuto esqueceu que todos poderiam vê-los ali, então logo foram para um canto da praça do condomínio e mataram um pouco da saudade que tinham. Conversaram por horas a fio, trocaram cartas e depois se despediram.


Depois de algum tempo tendo de se encontrar às escondidas, os dois não viram, mas foram flagrados por Manoel e quando a menina chegou em casa, suas malas já estavam arrumadas. Seu pai comprara uma passagem só de ida para o Rio de Janeiro.
- Já que você não me obedece, vamos ver como vai permanecer com esse seu namoradinho vivendo em outro estado.


Aquela foi a última vez que os dois se viram por quase um ano, mas trocavam correspondência quase que semanalmente. Nem mesmo os obstáculos de Manoel foram eficientes para mantê-los separados, já que depois de tanto tempo, arrumara um emprego justamente na cidade do Rio de Janeiro e chegaria para os braços da amada em poucos dias.
Claro que não contara nada para o pai, e aproveitou que a tia viajava muito para fazer a governanta contratar o namorado para trabalhar nas manutenções da casa.
Viveram praticamente um sonho enquanto juntavam dinheiro para ter um lugar só deles. A menina arrumou um emprego depois da escola e disse para os pais que não tinha mais vontade de voltar para Brasília.


, agora com dezoito anos recém-completos, com o dinheiro que ganhara dos pais e da lanchonete que trabalhava guardado, num emprego estável e com muitos planos. Os dois deram o primeiro passo para a vida adulta: alugaram uma casinha, muito mais simples de qualquer casa que ela poderia imaginar, mas era algo deles, onde nada e ninguém poderia atrapalhar.
Não se despediu pessoalmente dos pais, muito menos da tia, só enviou uma carta para a mãe, que quando ela estivesse na cidade maravilhosa, lhe ligasse, que elas se encontrariam, mas não daria seu endereço novo, pois sabia da possibilidade do pai aparecer e fazer uma cena vexatória.
Assim, o jovem casal conseguia dar os primeiros passos para uma vida a dois de verdade, como desde cedo eles planejavam. , jamais imaginara que estaria morando no Rio de Janeiro com sua eterna namorada, e não consegui acreditar que, finalmente, depois de três anos, viveria feliz e em paz com seu escolhido.




Fim!



Nota da autora: Não sei o que vocês acharão dessa fic, mas tô muito feliz por tê-la escrito! Ela ficou do jeitinho que eu queria e acredito ter me mantido fiel a letra e ao que tinha planejado.
Se vocês gostarem, deixem um comentário, se não gostar, deixa um comentário também hehe
Leiam as outras fics desse ficstape lindo e se quiserem ver minhas outras histórias, podem acompanhar no grupo.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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