Finalizada em: 25/07/2018

Prólogo

- Olha lá! – Chris bateu a mão em meu peito, me fazendo desviar o rosto do meu armário. – Carne nova no pedaço! – Me atentei ao que ele falava e observei a menina equilibrando os livros nos braços e uma folha, provavelmente de horário.
Ela era mais baixa do que eu, não que fosse muito difícil com a minha altura. Os cabelos castanhos longos, ondulados até quase a cintura e presos para trás. A roupa, uniforme novo e tradicional da escola Baxter, além da mochila nas costas. E cobrindo seus olhos castanhos, um par de óculos pretos.
- Ela é bonita! – Falei.
- Senhorita ! – Tomei um pulo quando Jane, coordenadora da escola, passou pelo meu grupo de amigos. – Seja bem-vinda à escola Baxter, espero que se sinta à vontade aqui.
- Obrigada! – Ouvi sua voz pela primeira vez, me fazendo soltar um suspiro involuntário.
- Deixa eu te ajudar! – Virei o rosto, acompanhando a coordenadora ajudar senhorita com os materiais. – Esqueci-me de falar na reunião sobre suas eletivas, já sabe o que vai fazer?
- Ah sim! – Ela sorriu, balançando a cabeça e pegando a folha. – Eu estava pensando sobre matemática avançada, biologia e talvez economia doméstica como extra.
- Claro! Vamos providenciar isso no seu cronograma, então! – Jane falou. – Vamos te levar ao seu armário e depois vamos à secretaria para organizar seu horário, pode ser?
- Sim, por favor! – Ela sorriu e Jane se virou na minha direção e de meus amigos.
- Senhores, podem dar uma licença para a senhorita chegar ao armário dela? – Percebi que estava apoiado em um armário livre e me afastei um pouco, vendo Jane se aproximar com a chave.
- Obrigada! – Senhorita falou, dando um sorriso tímido em seguida, retribuí. Jane abriu o armário para a menina que logo colocou todos os livros no mesmo. - Depois eu arrumo! – Ela falou atrapalhada e eu quis dar uma pequena risada.
- Vamos, então! – Jane esticou as chaves para ela e ambas se afastaram em direção à secretaria. – Você vai ver que aqui na Baxter temos vários programas focados no que os alunos precisam, no seu caso, matemática, biologia e... – Parei de prestar atenção quando o sino tocou em meus ouvidos, me assustando.
- Ela me parece interessante... – Comentei, com um sorriso no rosto.
- Foge, ! Não vale a pena. – Chris falou, batendo a mão em meu peito.
- Por quê? – Perguntei, franzindo o rosto.
- Biologia? Matemática avançada? – Ele fez uma careta. – Essa menina deve ser uma nerd daquelas.
- E daí? – Perguntei como se fosse óbvio.
- Nossa, sai daqui, ! – Ele me empurrou e eu afastei um pouco, virando novamente para meu armário. – Eles são todos iguais. – Chris falou como se fosse óbvio e eu me calei. Peguei meus materiais e fechei a porta com força.
- A gente se vê. – Abanei a mão e o grupo se dissipou, cada um seguindo para sua classe.
- Então, de olho na garota nova? – Me assustei com Eleanor alguns passos para frente.
- Ah, Leny, não enche! – Falei para minha irmã enquanto seguíamos para a aula de ciências sociais.
- Que foi? Eu bem vi seus olhos brilhando pela menina nova. Muito bonita, por sinal. Parece uma daquelas belezas naturais, sabe?
- Diferente da sua empetecada de maquiagem preta? – Ela deu uma risada irônica.
- Engraçadinho, gêmeo. – Revirei os olhos. – Mas sério, chama ela para sair. Aproveita enquanto ninguém mais viu.
- Ah não, provavelmente ela deve ser só outra nerd como tantas...
- Me deixa adivinhar, foi o idiota do Chris quem te disse isso? – Ela bufou, me segurando antes de entrar na sala.
- Eu ouvi ela falando com a Jane sobre matemática avançada e biologia...
- Ah, tu é mais retardado do que parece. – Ela revirou os olhos.
- Senhor e senhora , vocês vão ficar na porta ou gostariam de se juntar à nossa classe? – Ouvi a professora falar de dentro da sala e eu balancei a cabeça, desviando de Eleanor e entrando na sala de aula, vendo-a me seguir com os cabelos pretos esvoaçantes.
- Desculpe! – Falei para a professora e me sentei na mesa vazia do fundo.



Capítulo Único

Bati a bola no chão duas vezes antes de pular e jogá-la em direção à cesta e fazendo três pontos. Vi a bola rolar pela quadra e olhei para os lados, notando que havia ficado sozinho no treino novamente. Soltei um suspiro, sentindo o suor escorrer pela testa e comecei a pegar as bolas espalhadas pela quadra e jogar dentro do cesto de bolas.
Segui para o vestiário e vi que as coisas estavam mais movimentadas. Os jogadores do time de basquete tomavam banho, riam e batiam as toalhas uns contra os outros. Segui para meu armário, encontrando Chris, Chad e Jason papeando.
- Demorou, hein?! – Chris comentou e eu abri meu armário e puxei a camisa para cima.
- Tava desligado. – Balancei a cabeça, puxando minha toalha e sacola com produtos de higiene do armário.
- Vai à festa da Martha mais tarde? – Chad perguntou.
- Marcaram hora? – Perguntei, jogando a toalha no ombro.
- A gente vai saindo daqui. – Suspirei, balançando a cabeça.
- Preciso levar Eleanor em um lugar antes, a gente se encontra lá?
- Fechou! – Chris esticou o punho em minha direção e eu bati no mesmo e repeti o gesto com Chad e Jason.
- Até mais! – Eles falaram quase em sincronia e eu segui para os chuveiros, escolhendo um canto e deixando que a água quente entrasse em contato com a minha pele e tirasse o suor de meu corpo.
Não enrolei muito no banho, apesar de que podia ficar horas relaxando sob a água quente. Enrolei a toalha na cintura e segui de volta para meu armário. Coloquei uma calça jeans e uma camiseta que estava enrolada no fundo do mesmo. Enxotei as coisas de volta no armário e joguei a mochila nas costas e a toalha molhada no cesto de roupa suja.
Empurrei a porta do vestiário e cortei pela quadra de basquete, saindo pela outra porta e dando de cara no corredor vazio da escola. Segui para meu armário, batendo no mesmo para que abrisse e coloquei meu rosto dentro dele, mexendo nos livros e cadernos à procura dos exercícios que a professora de literatura deu que cairiam na prova.
- Oi. – Me assustei, batendo a cabeça no armário e tirei a cabeça do mesmo, arregalando os olhos ao ver senhorita mexendo em seu armário.
- Ah, é...
- Ainda não fomos apresentados. – Ela deu um pequeno sorriso. – Eu sou , sua vizinha de armário há alguns dias. – Ela virou o rosto para mim e eu virei novamente para meu armário. – Você é bem tímido para quem é o astro do time da escola. – Ela riu sozinha e ouvi sua porta bater. – Bem, eu tenho que ir. – Ela falou, se afastando aos poucos. – Quem sabe um dia você não me chama para sair? – Ela deu de ombros, abrindo um bonito sorriso e virou seus cabelos castanhos para frente, saindo de perto.
Observei-a olhar para trás novamente e dar outro sorriso e ela seguiu com seus livros para a porta principal. Me apoiei no armário e soltei um suspiro fraco, balançando a cabeça. Que idiota que eu tinha sido! Eu havia travado igual um retardado! Pelo menos havia descoberto seu nome, . Lindo e apaixonante, e eu estava parecendo um idiota.
- Ah! – Reclamei quando senti algo forte bater em minha cabeça e eu levei à mão para a mesma.
- Você é um idiota! – Vi minha irmã aparecer em minha frente. – A menina te dá maior moral, pede para você chamá-la para sair e você trava como um robô?
- O que eu fiz, caramba? – Passei a mão na cabeça, notando que ela havia me batido com um livro.
- A pergunta certa é: o que você não fez, certo? – Ela revirou os olhos. – Meu Deus! Você é um dos caras mais populares na escola e ainda trava como um menininho assustado? Assim não dá.
- Acho que você está exagerando um pouco.
- Uhum, claro! – Ela foi irônica. – Deve ter sido o Jason que ficou travado ao falar com uma garota que ele nem conhece. Claro! – Ela respirou fundo, revirando os olhos.
- Me deixa! – Bati a porta do armário.
- Como o senhor quiser, mas depois que tu perder uma garota bacana, não vem chorar nos meus ombros.
- Você a conhece? – Perguntei.
- Não se esqueça de que eu também estou em matemática avançada. – Ela deu um sorriso presunçoso e eu quis bater nela.
- Você a conheceu? – Falei um tanto alto e ela balançou os cabelos pretos.
- Vamos embora que eu tenho psicólogo. – Ela começou a andar e eu saí correndo em sua direção.
- Me fale como ela é. – Me aproximei dela, passando o braço em seus ombros.
- Chame-a para sair e descubra sozinho. – Ela revirou os olhos, tirando meu braço.
- Ah, qual é, Leny! – Falei e ela me empurrou para trás, seguindo para fora da escola. – Me fala, vai!
- Desiste, ! – Ela balançou a cabeça.
- Por favor...
- Não! – Ela falou forte e eu sabia que não importava o quanto eu enchesse o saco dela, ela não ia ceder, minha irmã era uma pedra.

Ouvi o sinal tocar, peguei meus livros rapidamente e saí correndo pelo corredor junto de metade da sala do último ano. Parei rapidamente em frente ao meu armário e troquei os livros pela bola de basquete e segui correndo, vendo alguns amigos me ultrapassarem e segui direto para a cantina.
Joguei a bola para Chad que estava sentado em nossa mesa de sempre e segui para a fila, desviando de algumas pessoas e parando ao lado de Jason, propositalmente empurrando-o para bater contra a parede, ouvindo-o gemer.
- Ah, matou! – Ele falou e eu ri, me colocando na frente dele na fila e pegando a bandeja, prato e talheres.
- A gente vai sair no fim de semana? – Chris falou na minha frente.
- Nem vem! Sexta-feira! – Falei, soltando uma risada sarcástica. – Não aguento mais esperar por esse filme.
- Tem que comprar ingresso antes, então. – Chris falou.
- A gente pede para o Chad, acho que ele não vai se importar. – Jason falou.
- Bem, ele mora no quarteirão do cinema! – Falei e eles riram.
- Olá, senhores, o que vão querer hoje? – Virei para a atendente da cantina.
- Boa tarde, Roz! – Falei para ela sorrindo. – Seu cabelo está um arraso, sabia? – Ela revirou os olhos.
- O que você vai querer, senhor ? – Ela falou seca e eu ri.
- Peixe com fritas, pão de aveia e pavlova. – Ela colocou as duas caixinhas na minha frente e um pote com a sobremesa. – Você é um amor, obrigado!
- Próximo! – Ela gritou, me ignorando e vi Chris rir ao meu lado enquanto pegava bebidas.
- Você faz isso sempre!
- Ela me adora! – Peguei um copo descartável e enchi com suco de maçã e esperei Chris sair para fila, para seguir de volta para a mesa.
Segui para a mesa com os meninos e sentei em um dos bancos, vendo-os se ajeitarem e Chad me devolver a bola e seguir para pegar seu almoço. Coloquei bastante molho em cima do meu peixe e batatas fritas e dei algumas garfadas antes de voltar a falar.
- Então, Chad compra o ingresso, eu pego todo mundo na sexta, mas temos que sair cedo para não pegar fila.
- Ok, vamos descobrir a sessão antes e a gente decide. – Chris confirmou.
- Vai estar lotado! – Jason reclamou.
- Provavelmente. – Dei de ombros, voltando a comer.
- Não enrolem, a gente precisa voar para o treino hoje. – Chris falou. – O campeonato está no fim e precisamos trazer essa taça para a formatura.
- Já é nosso! – Falei rindo, vendo Jason esticar a mão e bati na mesma. - Lobos selvagens! – Gritei no refeitório, ouvindo os alunos do time de basquete responderem com um uivo alto, fazendo os outros alunos gritarem animados.
- Pelo menos a galera está animada! – Jason falou e eu assenti com a cabeça.
Ergui o rosto para frente e notei que estava sendo observado. Minha vizinha de armário estava sentada algumas mesas para frente, acompanhada de minha irmã e outros alunos da mesa dos nerds, com um sorriso no rosto. Ela assentiu com a cabeça como quem dizia que estava tudo bem e eu permiti retribuir o mesmo e ela alargou o seu, me deixando encabulado.
Me distraí quando minha irmã olhou em minha direção e deu aquele sorriso estranho que ela dava quando queria me provocar. Ela puxou em direção à mesa novamente e eu respirei fundo, voltando a prestar atenção em minha comida que já estava esfriando. Era dia de peixe com fritas, eu não podia desperdiçar.
- Ei, sua irmã está andando com a menina nova. – Chad comentou, me empurrando levemente pelo ombro.
- É, elas fazem dupla em matemática avançada ou algo assim. – Falei rapidamente.
- Sua irmã é a nerd mais estranha que eu já vi, cara. Ela deveria estar no grupo dos emos ou algo assim. – Chris comentou e eu ergui a sobrancelha.
- Olha o que você fala da minha irmã, Chris. Não vamos nos esquecer do dia que você queria pegar ela e ela te deu um fora na frente da escola inteira. – Falei e os outros caras começaram a gargalhar.
- Nem vem... – Chris tentou relevar.
- Só cuidado com o que você fala dela, a única pessoa que pode xingá-la sou eu. – Ele revirou os olhos e eu ri.
Terminei de comer rapidamente, devorando meu pão e minha pavlova até ver o final dos potes e aguardei um pouco para que meus amigos terminassem de comer. Aproveitei para dar uma rápida olhada nas notificações do celular.
- ‘Bora? – Chris perguntou.
- ‘Bora! – Falei, começando a me levantar junto de meus colegas de time.
Juntei todos os lixos meu e de Chad, enquanto ele levava a bola e segui até o lixo, vendo diversos alunos fazendo o mesmo. Olhei rapidamente para a mesa que estava e notei que ela já tinha saído, me fazendo suspirar decepcionado. Senti meu corpo esbarrar no de alguém e agradeci pela bandeja ter só lixo, pois tudo caiu no chão.
- Me desculpa! – Arregalei os olhos quando notei que era nela que eu tinha esbarrado e ela já estava no chão pegando as embalagens.
- Não precisa fazer isso. – Fui me abaixar, mas ela foi mais rápida e logo colocou tudo de volta na minha bandeja. – Obrigado. – Falei e ela deu um pequeno sorriso.
- Oh, então você fala! – Ela disse, mordendo o lábio inferior e saindo de lado, me deixando sozinho novamente.
- Que merda! – Bufei alto e joguei as embalagens no lixo com força e apoiei a bandeja no lugar marcado, seguindo meus amigos para fora do refeitório.

- Mano, isso está lotado! – Chad comentou quando finalmente conseguimos chegar à frente do cinema, depois de estacionar quase três quarteirões longe do mesmo.
- Vamos entrar logo, eu ainda quero pipoca! – Comentei, empurrando Chris para seguir por entre as pessoas e fomos nos espremendo até parar na fila do homem que recebia os ingressos.
Eu estava animado demais para ver esse filme, a primeira parte do capítulo final, então eu estava igual espoleta esperando por esse filme. Dez anos acompanhando e esperando.
- Acho melhor a gente se dividir! – Chris falou. – Metade compra pipoca e metade guarda lugar.
- Beleza! – Falei. – Combo G para todo mundo? – Perguntei e vi os caras começarem a jogar notas de dólares na minha mão.
- Eu e Chris vamos entrando. – Jason falou e eu e Chad seguimos para a fila da pipoca que abria entre cinco atendentes.
- Eu compro dois e você dois. – Falei, dividindo o dinheiro dos meninos com Chad e tirei minha carteira do bolso, pegando algumas notas para pagar meu combo.
Fiquei matutando meu pé no chão enquanto as pessoas andavam lentamente, vidrado nas horas, com medo de perder o começo do filme, apesar dos trailers. Todo segundo desse filme era importante e eu não queria perder nada.
- Próximo! – Segui para a direção que gritara e me apoiei sobre o balcão, olhando rapidamente os preços em cima e contei as notas rapidamente.
- Eu quero dois combos G. – Olhei para frente, arregalando os olhos ao ver do outro lado da bancada, com o uniforme do cinema.
- Oi! – Ela falou com um sorriso no rosto e eu suspirei. – , certo?
- Oi. – Falei rindo.
- 28 dólares. – Ela falou e eu franzi a testa. – O combo.
- Ah sim! – Falei rindo e entreguei o dinheiro a ela, vendo-a contar rapidamente e colocar na gaveta.
- Quais os refrigerantes?
- Coca Cola os dois. – Ela sorriu e colocou os copos na máquina de refrigerante, apertando os botões e pegou dois baldes de pipoca, enchendo-os até a boca.
Ela pegou os baldes e colocou em minha frente e apertou o botão dos refrigerantes novamente, tampando-os e colocando na bancada em seguida. Enquanto ela pegava o suporte para que eu pudesse levar tudo junto, eu peguei os canudinhos e encaixei nos copos.
- Obrigado! – Falei e ela sorriu.
- Bom filme! Depois me conta. – Ela piscou.
- Você ainda não assistiu? – Perguntei. – Trabalhando no cinema?
- Domingo, duas e 40 da tarde. É quando eu vou ver! – Assenti com a cabeça. – Próximo! – Ela falou e eu peguei as coisas, pensando um pouco, antes de me virar para ela novamente.
- Desculpe por aquele dia lá nos armários, eu travei. – Ri fraco.
- Tudo bem. As pessoas costumam agir assim perto da minha beleza. – Ela foi irônica, soltando uma risada em seguida e eu saí da fila sorrindo.
Segui para a sala do cinema, encontrando Chad no fundo da fila, me esperando. Seguimos para dentro da sala, onde os trailers já passavam. Encontrei meus amigos na quarta fileira de baixo para cima, teria torcicolo quando terminasse.
Me sentei ao lado dos meninos, entreguei os combos e, em menos de cinco minutos, o filme mais esperado do ano começou, fazendo com que a plateia gritasse animada, mas eu havia ficado menos animado, porque entre lutas, mortes e explosões, eu só conseguia pensar na menina lá fora, curiosa pelo filme.
Eu me desliguei no começo do filme, o sorriso dela surgiu na minha cabeça e eu queria uma desculpa para ir falar com ela. Refil de refrigerante? De pipoca? Meus combos estavam cheios ainda e demoraria para que eles esvaziassem.
Olhei de esguio para meus amigos e eles estavam com os olhos vidrados na tela, assim como todo cinema, exceto eu. Contei a quantidade de pessoas que eu teria que pular para sair dali e relaxei os ombros frustrado. Eu odiava quando as pessoas passavam na minha frente para sair e entrar no cinema, mas eu tinha ali minha única chance de falar com ela, sem que meus amigos enchessem o saco.
Coloquei o canudo na boca e suguei o refrigerante rapidamente até que começasse a subir ar por entre ele e coloquei umas três mãos bem cheias de pipoca na minha boca, demorando para mastigar e engolir tudo aquilo. Acho que estava bom, agora só precisaria pensar na desculpa para eu sair dali, não podia usar a desculpa do refil, eles saberiam. Então, uma luz surgiu na minha cabeça e eu dei um pequeno sorriso sozinho.
- Banheiro! – Falei para Chris que estava ao meu lado, entregando meu balde de pipoca para ele e me levantei às pressas do meu local, fingindo pressa por entre as pessoas e saindo correndo da sala do cinema, parando assim que eu passei pelas portas, rindo sozinho pela minha encenação.
Segui de volta para o hall do cinema, onde ficava a bombonière e sala de espera e vi no mesmo local de antes, mas agora entediada, já que a turma dessa sessão tinha acabado de entrar. Ela me viu e tombou a cabeça para o lado, me encarando sem entender.
- Não vai me dizer que o filme está chato? – Ela se debruçou sobre o balcão e eu ri fraco, coçando a cabeça.
- Eu não sei, honestamente. – Dei de ombros e ela riu.
- O que você precisa? Mais pipoca? Mais refrigerante?
- Só vim falar contigo, na verdade. – Ela franziu a testa.
- Você paga nove dólares no ingresso, mais 14 no combo, além de provavelmente ter esperado esse filme durante anos, e sai para falar comigo? – Dei um pequeno sorriso.
- Para você ver! – Apoiei as mãos no balcão também.
- Ok! – Ela cruzou os braços. – O que quer saber?
- Eu só sei seu nome, então, qualquer coisa que queira me contar, é lucro! – Ela riu, abrindo um largo sorriso. – Comece por de onde você veio.
- Eu sou de Nova York. – Ela sorriu. – A empresa do meu pai abriu uma franquia aqui e ele foi transferido.
- Você saiu de Nova York para vir para Albuquerque?
- Ah, sabe como é?! – Ela deu de ombros, rindo. – Mas eu estou gostando daqui, é bem mais calmo que Nova York, mas também é tudo perto, o que facilita muito.
- Tem irmãos? – Perguntei.
- Um irmão mais velho, Jimmy, um ano mais velho só. Minha mãe nem voltou da licença dela e já engravidou de novo. – Ri fraco, assentindo com a cabeça. – Você é irmão da Eleanor, não é?
- Sim, sou. Somos gêmeos.
- Vocês não se parecem nada! Nem a cor dos cabelos. – Ela disse rindo.
- Ela pinta! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Imaginei. – Ela sorriu.
- Acabei ouvindo que você gosta de matérias mais avançadas? – Ela deu de ombros.
- Eu sou superdotada, para falar a verdade. – Ela bufou quando falou isso. – Minha mãe acha melhor eu não entrar na faculdade mais cedo, por causa dos problemas sociais. Mas, para mim, qualquer matéria convencional é fácil demais. – Ela deu de ombros. – Então, qualquer matéria avançada eu estou fazendo.
- Uau! – Falei surpreso. – Acho que nunca conheci alguém superdotado.
- Não é tão diferente de pessoas convencionais.
- O que muda? – Perguntei.
- Eu tenho facilidade com matérias no geral, principalmente de exatas, não tem um problema que você dê que eu não resolva, tanto que vários médicos me indicaram escolas para superdotados, me adiantar de classe e por aí vai. – Ela deu de ombros. – Depois tem as características: criatividade, boa memória, impaciência, senso crítico muito elevado, memória fotográfica, dificuldade em fazer amigos... – Ela balançou a cabeça, rindo.
- Acho difícil esse último! – Falei e ela sorriu.
- Bem, vamos dizer que nem todo mundo gosta de uma CDF e, quando gostam, provavelmente acham que eu vou fazer o trabalho para eles como se fosse alguma obrigação.
- E você não faz.
- É claro que não! – Rimos juntos. – Acredite, eu tenho muito mais coisas para me preocupar. – Sorri.
- Tendo uma mente aguçada assim, você deve querer seguir nessa área.
- Eu quero fazer faculdade de química. – Ela sorriu.
- Certeza que vai ganhar uma bela de uma bolsa quando chegar a hora. – Ela franziu o rosto. – O quê?
- Eu já tenho bolsa garantida nas faculdades de Yale, Harvard, Brown, Princeton e Columbia aqui nos Estados Unidos. Além de Oxford e Cambridge na Inglaterra. – Ela deu de ombros.
- Deus pai! Eu estou lutando com as minhas notas para ver se entro na daqui de Albuquerque mesmo.
- Bolsa de basquete? – Ela perguntou.
- Mais ou menos. – Suspirei. – Eu preciso de pelo menos 70 por cento de aprovação em todas as matérias para conseguir 50 por cento de bolsa por causa do basquete. – Dei de ombros. – Estou lutando para conseguir.
- Se precisar de ajuda, dou aulas particulares. – Ela sorriu e eu ri.
- Dá aulas particulares, trabalha no cinema... – Balancei os braços. – Se for dinheiro para a faculdade, sei que você não precisa. – Ela gargalhou, olhando para os lados para ver se tinha chamado muita atenção.
- Para a faculdade não, mas morar fora é muito caro, já estudei três vezes em escolas para superdotados, incluindo uma na Suíça, então, sei como é caro a parte de aluguel, gastos, moradia, qualquer graninha eu estou aceitando.
- Seu currículo deve ser incrível e você tem o quê? 18 anos?
- 16, para falar a verdade. – Cocei a cabeça.
- Você é muita areia para o meu caminhão. – Falei, debruçando na bancada.
- Por quê? Por que eu sou inteligente? Vamos dizer que eu sou péssima em esportes e educação física é a única matéria que eu realmente não me dou.
- Posso te ajudar nisso! – Rimos juntos.
- Você me ajuda a não morrer nas aulas de educação física e eu te ajudo com qualquer matéria que você esteja na berlinda. – Ela estendeu a mão para mim e eu segurei a mesma, sacudindo-a firmemente.
- Combinado!
Seguimos conversando por mais um tempo. Aquela garota era fantástica. Ela não me parecia uma nerd sabe tudo. Ela era sim muito mais madura para a idade dela, mas ela também era fantástica. Tinha um senso de humor incrível e tinha opiniões sobre diversos assuntos, o que acabamos falando literalmente de tudo, me fazendo sorrir com cada coisa nova que eu descobria sobre ela. Claro que às vezes eu dava licença para ela atender alguns clientes, o que me deixava de bobeira esperando, mas, no geral, aquelas duas horas tinham sido sensacionais.
- Seus amigos não vão sentir sua falta, não? – Ela perguntou.
- Eu usei a desculpa que estava com dor de barriga, acho que eles não vão se importar. – Ela riu.
- Bem, faltam pouco mais de dez minutos para o filme acabar, acho melhor você decidir o que fazer.
- Oh! – Franzi a testa. – Acho que eu vou embora, mando mensagem falando que estava muito mal.
- Você está de carro? – Assenti com a cabeça. – E vai deixar eles aqui?
- É questão de emergência, não dava para segurar! – Ela gargalhou.
- A gente se vê, então. – Ela sorriu e eu me debrucei sobre a bancada, dando um curto beijo em sua bochecha.
- Me passa seu telefone. – Falei sorrindo. – Te mando mensagem mais tarde.
- Ok. – Ela falou com certa indiferença e pegou um pacote de pipoca vazio e anotou alguns números no mesmo, entregando para mim.
- A gente se vê. – Falei, me afastando sorrindo.

Eu fiquei parecendo que tinha dormido com um cabide na boca. Aquela garota era espetacular. E ela não era só uma nerd como meus amigos haviam falado, ela era “A” nerd. Ela era superdotada, mas não parecia nenhum pouco com aqueles gênios metidos que a gente via em filmes. Ela era bem de boa, sabia conversar, tinha uma história fascinante. Eu estava encantado por ela e queria saber cada vez mais.
Mandei mensagem para meus amigos antes de entrar no carro e seguir correndo para casa. Vai que eles apareciam lá em casa. Minha mãe perguntou sobre o filme e eu só respondi um “legal” esperando que ela não entrasse em detalhes. Eu realmente não saberia dizer.
Me troquei e fui direto para a cama, ligando alguma série no Netflix que eu realmente não prestaria atenção, já que eu mandei mensagem para ela rapidamente. Ela demorou a responder, talvez estivesse saindo do trabalho ou algo assim, mas aproveitei para encarar sua foto do perfil.
Não conversamos de nada muito relevante. Ela começou a me passar o nome de algumas faculdades que oferecem bolsa integral de basquete e que minhas médias não precisavam ser perfeitas. Talvez seja o ideal, porque eu tinha muita dificuldade na escola, principalmente nas matérias que ela tinha facilidade.
Ela acabou parando de responder pouco depois das dez da noite, mas ela havia me avisado que isso poderia acontecer. Ela tinha caído no sono. Ficar na escola até às três horas, com todas as aulas extras que ela fazia e ainda trabalhar até às nove da noite. Além de provavelmente ter uma mente que andava há 300 por hora. Tornando tudo muito cansativo.
Entrei bem feliz na escola no dia seguinte, cumprimentando os professores, inspetores e alunas aleatórias que piscavam para mim, mal sabiam elas que realmente não ia adiantar nada ficar piscando para mim.
- Bom dia, galera! – Me aproximei dos meus amigos amontoados em volta do meu armário.
- Pô, apareceu a margarida! – Chris me empurrou pelos ombros. – Aonde você foi parar ontem, cara? Tu perdeu o filme inteiro e ainda largou a gente lá.
- Desculpa, gente. Deu uma dor de barriga fenomenal, precisei ir voando para casa. – Bati a mão no meu armário, vendo-o se abrir.
- O negócio deve ter sido feio para você perder o filme. – Jason comentou.
- Eu sei! – Suspirei. – Estou tão frustrado quanto vocês, mas eu vou outro dia. Tá tudo certo. – Peguei os livros para as primeiras aulas naquele dia e suspirei.
- Caras, vocês não vão acreditar o que eu descobri. – Chad se aproximou de nós, tropeçando nos próprios pés.
- Bomba? – Chris perguntou.
- Fofoca, só. – Demos de ombros.
- Joga na roda! – Falei, virando para eles.
- Sabe a menina nova? Que a gente viu chegar esses dias?
- Hum... – Foi só o que eu respondi, fechando os olhos.
- Ela é superdotada!
- O quê? – Chris perguntou.
- Ela é um gênio. Naturalmente, um gênio.
- Como sabe? – Perguntei, tentando despistar.
- Eu ouvi Jane falando com ela sobre programa de superdotados que ela participou na Suíça e na Nova Zelândia, sobre as faculdades interessadas nelas e os programas internacionais.
- Então, ela não é só nerd, ela é a maior nerd de todas. – Chris falou debochado, fazendo os outros rirem e eu dei um sorriso torto.
- Xí! Ela está vindo. – Jason bateu em nossos ombros e os três se calaram.
Observei se aproximar de seu armário e abrir delicadamente o mesmo, diferente da porrada que eu e meus amigos dávamos no mesmo. Ela guardou o que tinha que guardar, pegou o que tinha que pegar e fechou o mesmo, se virando em nossa direção.
- Oi. – Ela falou baixo e os meninos indicaram com a cabeça. – Então...
- Vamos, galera? – Me assustei com o grito que Chris deu, vendo os três saírem em debandada.
- Eu tenho que ir. – Falei, me afastando de costas, vendo seu rosto franzir em confusão e eu me afastei rapidamente, seguindo meus amigos.
E eu odiei cada momento daquilo.

- Não, . Vamos tentar de novo. – Passei a mão na cabeça, bufando.
- Isso é muito difícil! – Falei.
- Isso é interpretação de texto.
- Vemos que não sou bom nisso também. – Ela riu fraco.
- Vai! Presta atenção! – Ela falou – “O som é uma onda mecânica que se propaga no ar com uma velocidade variável, conforme a temperatura local”.
- Ok. – Falei.
- “Supondo que em um lugar essa velocidade seja de 340 metros por segundo”. – Assenti com a cabeça. – “Se um autofalante emite 1250 pulsos por segundo. A: determine a frequência de vibração de membrana, em hertz”.
- Ok, por onde eu começo? – Respirei fundo.
- Essa resposta já está no enunciado. – Falei. – Porque se a membrana emite 1250 pulsos por segundo, ele repete seu movimento 1250 vezes em cada segundo. Ou seja, a frequência é...?
- 1250? – Falei em tom de pergunta.
- Isso, meu querido! – Ela me sacudiu. – Ok, anota aí, F igual a 1250 hertz. – Peguei meu lápis e anotei em um canto do caderno.
- Agora “B: determine o período de vibração”. – Ela virou para mim. – Você sabe a frequência, então agora só precisa lembrar que o período é igual ao inverso da frequência, ou seja... – Olhei rapidamente aos outros exercícios.
- Tempo é igual a um sobre a frequência.
- Isso! – Ela sorriu. – Escreve essa fórmula que você me falou. – Fiz o que ela pediu, em uma letra bem mais feia que a dela. – Agora repassa para a próxima linha com o valor da frequência. – Fui seguindo. – Agora divide. – Fiz a conta rapidamente na calculadora.
- Deu zero vírgula zero, zero, zero, oito.
- Aí você coloca oito vezes potência de 10 menos quatro para não ficar vários zeros. – Ela falou e eu entendi.
- Que demais! – Falei rindo. – Eu consegui.
- Faltou a unidade de tempo. – Ela falou.
- Segundos, certo? Se a membrana emite pulsos por segundo.
- Agora você pegou! – Ela falou rindo, se apoiando sobre a mesa. – Leia o próximo.
- “C: determine o comprimento da onda sonora em metros”.
- Para isso você vai precisar da fórmula lambda igual velocidade pela frequência. – Escrevi a fórmula rapidamente.
- Esse é o lambda, né? – Perguntei.
- Esse mesmo. – Ela sorriu. – Agora qual é o valor da velocidade e qual o valor da frequência? – Passei os olhos pelo exercício.
- A velocidade é 340 metros por segundo e a frequência é 1250.
- Perfeito! Agora divide um pelo outro. – Fiz a conta na calculadora rapidamente.
- Zero vírgula 272. – Ela sorriu.
- Acho que o exercício está pedindo em metros, certo?
- Zero vírgula 272 metros. – Ela sorriu.
- Agora sim. – Ela se aproximou da cadeira. – A última.
- “D: Sabendo que a velocidade do som no ar varia com a temperatura segunda a relação V=330+0,61. T, sendo teta em graus Celsius e a velocidade em metros por segundo. Qual a temperatura do local?” – Respirei fundo. – Eu preciso achar essa letra, certo?
- Teta, e sim, precisa. – Respirei fundo. – É só completar a fórmula do enunciado.
- A velocidade é 340, então 340 igual 330 mais zero vírgula 61 vezes teta.
- Joga o 330 para junto do 340. – Fiz o que ela mudou, trocando sinal.
- Isso.
- 340 menos 330 é igual a zero vírgula 61 vezes teta.
- Agora joga teta para o lado esquerdo.
- Teta é igual a 10 vezes zero vírgula 61. – Ela ficou quieta. – Teta é igual a 10 dividido por zero vírgula 61. – Fiz a conta rapidamente. – 16 vírgula três, nove, três...
- Você pode arredondar para 16 vírgula quatro e colocar o símbolo de aproximadamente. – Coloquei o símbolo e ela se apoiou na cadeira confortável.
- Você só não pode se esquecer da unidade de medida.
- Oh! – Falei. – Graus Celsius. – Disse, colocando o símbolo.
- Perfeito, ! – Ela sorriu. – Agora faz o próximo sozinho.
- Ah não! – Ri fraco. – Nós vamos para a pista de atletismo agora, está ficando tarde e você vai pelo menos começar seu treino. – Ela fez uma careta. – Vamos, é minha vez de te judiar.
- Ah. – Ela gemeu, se levantando e começando a arrumar suas coisas.
- Força! – Falei e ela riu.
Arrumamos toda a bagunça que fizemos no segundo andar da biblioteca, um lugar mais quieto e escondido para que pudéssemos estudar em silêncio e sem a presença de convidados indesejados. Juntamos nossas coisas e descemos correndo em direção à pista de atletismo, que estava vazia àquela hora. Nos separamos rapidamente para nos trocar e logo estávamos juntos na pista e nossas mochilas nas arquibancadas.
- Ok, pelo que você me disse, para você passar, você precisa demonstrar pelo menos conhecimento em dois esportes até o fim do semestre e entregar um trabalho sobre a história da copa do mundo. – Ela assentiu com a cabeça. – O trabalho é contigo, mas tem um documentário no Netflix...
- Eu sei! Já assisti e achei todas as referências online.
- Esqueço que você é... – Balancei as mãos. – Ok, um dos esportes que eu pensei pode ser a corrida. É fácil, simples, não tem tempo e nem regras tão enigmáticas. – Falei. – Por que você não vai se alongando, enquanto eu falo?
- Ok! – Ela falou, automaticamente esticando os braços para o alto. – Pode falar.
- As corridas podem acontecer convencionais, como a gente conhece, mas também tem com obstáculos e saltos. – Ela assentiu com a cabeça, mudando o movimento do alongamento. – Existem corridas de 100, 200, 400, 800, mil e 500, cinco mil e 10 mil metros. Aqui na escola a gente faz no máximo a de 800 metros por questão de tempo. – Ela assentiu com a cabeça, erguendo um pé para trás. – Nós vamos começar com um treino básico porque imagino que você nunca correu na sua vida, certo?
- Nunca! – Ela sorriu fofa, me fazendo rir.
- Perfeito. Então, vamos fazer passagens de cinco minutos. Quatro minutos andando e um correndo, depois vamos reduzir esse tempo. Vamos lá? – Ela respirou fundo, bufando e encarando a pista vazia de atletismo. – Corra sempre com as costas eretas, olhando para a frente, puxe a respiração pelo nariz e solte pela boca e não precisa sair correndo desesperada, corra na sua velocidade.
- Ok! – Ela falou.
- Vamos começar! – Falei e começamos a andar lado a lado pela pista de atletismo.
Nós não conversávamos, mas às vezes trocamos olhares, abrindo largos sorrisos, mas realmente só andávamos em círculos, por toda a extensão da pista de atletismo, lado a lado.
- E... – Olhei no relógio. – Corre! – Falei e ela deu um pique rapidamente, começando a correr no tempo dela e eu parei, observando-a se afastar um pouco e logo eu segui atrás dela.

- Ok, ok, estou vendo que isso não está funcionando. – Fui parando de rir aos poucos quando o professor de química voltou a falar. – Vamos tentar facilitar para vocês, ok?! – Ele falou, respirando fundo. – , pode vir aqui, por favor? – Virei o rosto para ela que o ergueu para o professor e, mesmo longe, notei ela franzindo o rosto. – Você é a pessoa mais inteligente que eu conheço, jovem e dinâmica, aposto que consegue arranjar outra forma de explicar isso para ele?
- Eu vou ser paga? – Ela perguntou e parte da sala riu, incluindo a mim.
- Se você conseguir fazer com que as ligações químicas entrem na cabeça deles, podemos pensar no caso. – Ela ponderou com a cabeça e se levantou, pegando seu livro de química.
- Vai lá, nerd! – Chris gritou ao meu lado e nem se abalou, seguindo em direção ao quadro.
- Quieto, senhor Mitchell. – O professor falou.
- Sabe a diferença entre eu e você, senhor Mitchell? – falou, quando se virou para a sala novamente.
- Qual, nerd? – Ele perguntou.
- Eu tenho notas, créditos e bônus para passar nessa matéria três vezes só esse ano. – Ela sorriu. – Enquanto você não está nem perto da média. – Ela sorriu.
- Uh! – A sala falou e ela sorriu. Virei para Chris que havia ficado quieto.
- Classe, por favor! – O professor falou.
- Bom, ligações químicas. – apoiou o livro na mesa do professor, abrindo na página, e se virou para a lousa, olhando a bagunça do professor Ramirez. – Vamos dar um jeito nisso. – Ela pegou o apagador e limpou a lousa, fazendo com que eu arregalasse os olhos.
Ela dividiu a lousa em quatro e escreveu o nome das quatro ligações químicas em uma letra mais bonita que da professora de literatura e eu aguardei, igual os outros alunos. Ela fez desenhos rápidos, alternando as cores dos marcadores, parecendo que era tudo muito fácil, o que, para mim, não era.
- Ok, vamos lá! – Ela se virou novamente. – Não se apeguem a muitas informações, simplifiquem. – Ela falou. – As ligações químicas são quatro, só quatro. – Ela falou. – A primeira é a iônica. Ela é chamada assim porque é uma ligação de íons, ou seja, cátions e ânions. – Ela falou como se fosse óbvio. – Íons são átomos que possuem uma carga elétrica por adição ou perda de um ou mais elétrons. Ou seja, um ânion, que tem carga negativa – Ela ergueu uma das mãos. – se une com um cátion de carga positiva, formando um composto iônico por meio de uma interação eletrostática. – Ela apontou para o desenho e eu o copiei em meu caderno, sentindo um tapa em meu braço e vi que Chris estava inconformado, mas o ignorei, eu precisava passar nessa matéria. – Entendido?
- Sim! – Os alunos falaram.
- Ótimo! – Ela sorriu e eu me contive em não sorrir junto. – Ligação covalente ou molecular. – Ela seguiu para a segunda divisão do quadro. – São ligações em que ocorrem o compartilhamento de moléculas estáveis, ou seja, sem ganho ou perda. Tipo a fórmula da água. – Ela voltou a mostrar o desenho. – Ok, próximo. – Ela respirou fundo. – Ligação covalente dativa ou coordenada. – Ela falou seguindo para o próximo quadro.
- Ah, que tédio! – Chris gritou no meio da sala. Meus amigos começaram a rir e eu me senti obrigado em segui-los. Notei que me encarava com o rosto franzido, como quem não entendia nada.
- Cala a boca, Mitchel! – Uma aluna falou. – Se você não quer aprender, cai fora. – Ela falou e a sala gritou, acompanhando-a e deu um sorriso presunçoso.
- Ok, ligação coordenada. – voltou a falar. – Diferente da covalente convencional, ela ocorre quando apresenta seu octeto completo, ou seja, oito elétrons na sua camada e o outro, para completar sua estabilidade eletrônica, precisa adquirir mais dois elétrons. – Ela apontou rapidamente para o outro desenho. – Vocês podem usar como exemplo a fórmula do dióxido de enxofre. – Ela escreveu a mesma e desenhou suas ligações. Olhei para Chris ao meu lado que tinha os braços cruzados em cima do peito e fazia de tudo para parecer entediado, enquanto a sala estava com os olhos vidrados em uma nova forma de explicação. – Tudo ok até aqui? – perguntou.
- Tudo certo. – Eles falaram.
- E a última é a ligação metálica. É a ligação que ocorre entre os metais, elementos considerados eletropositivos e bons condutores térmico e elétrico. – Ela balançou a mão. - Para isso, alguns metais perdem elétrons da sua última camada chamados de elétrons livres formando assim, os cátions. – Ela voltou à lousa, escrevendo rapidamente algumas fórmulas. - A partir disso, os elétrons liberados na ligação metálica formam uma "nuvem eletrônica", também chamada de "mar de elétrons" que produz uma força fazendo com que os átomos do metal permaneçam unidos. Por exemplo, ouro, cobre e prata. - Ela deu de ombros, largando o marcador na mesa do professor. – É isso! – Ela olhou para nós. – Dúvidas? – Ela perguntou e os alunos se olharam entre si.
- Não sei o que mudou, continua difícil de entender. – apoiou as mãos na mesa.
- Bem, não me surpreende que você não tenha entendido, senhor Mitchell. Se você ao menos olhar para o quadro, prestar atenção no que o professor diz e parar de usar seus livros como descanso para os pés, talvez você consiga absorver alguma coisa. – Me segurei para não rir, mas a sala não se conteve como eu.
- Pelo menos não sou um sabe tudo igual você.
- Sabe o que aconteceria se você fosse um “nerd” como eu? – sorriu para ele que não se atreveu a responder. – Você teria passe livre para estudar em qualquer faculdade do mundo. – Ela sorriu. – Bolsas de estudos para o resto da vida em qualquer curso, isso sem depender do patético jogo de basquete que você e seu grupo de hienas tanto adoram. – Ela sorriu e eu me calei dessa vez, encarando-a confuso, enquanto isso, a sala inteira explodiu em palmas e gritos.
- Obrigada, senhora . – O professor se aproximou. – Grandes lições hoje, certo, pessoal?
- Ah, só mais uma coisa. – Ela se virou para frente novamente. – Vocês três que acham que seguir Chris é uma coisa legal, pensem se esse é o futuro que vocês querem para a vida ou se estão machucando alguém ao rir de piadas ridículas e preconceituosas. – Ela olhou fixamente para mim. – Além de ser ridículo, tornam vocês pessoas mínimas que faz com que toda a escola os odeie e vocês continuam se achando só por fazer algumas cestas e bater bola. – Ela fechou seu livro com força. – Ainda bem que eu sou a nerd e não os jogadores acéfalos. – Ela pegou seu livro. – Procurem no dicionário se não souberem o que significa acéfalos. – A sala ficou em silêncio, mas vi que vários alunos se seguravam para não rir. – Descansar! – Ela falou e logo em seguida o sinal tocou.
Nem tentei correr atrás dela, já que ela puxou sua mochila e seguiu rapidamente para fora da sala, mas eu sabia que ela estava puta e eu não podia culpá-la, eu estava agindo de duas formas diferentes e provavelmente confundindo sua cabeça. Teria que resolver isso depois do treino.

Respirei fundo dentro do carro e contei até dez, eu sabia que estava entrando em território complicado, mas eu precisaria encarar ela se quisesse mudar essa situação. Soltei o ar fortemente e saí do carro, batendo a porta fortemente. Andei alguns passos em direção ao cinema e notei que as duas bilheterias estavam abertas, e ocupava uma delas.
Olhei rapidamente para o topo do cinema e percebi que estava passando um romance com nome francês que eu nunca ouvi falar, mas calcei a cara e segui em direção à fila de , esperando os dois casais apaixonados passarem em minha frente.
- Obrigada! Bom filme! – A ouvi falar e o casal saiu da minha frente.
Assim que ficamos cara a cara, somente com o vidro nos separando, ela fechou a cara rapidamente, revirando os olhos em seguida. Ela olhou para o pulso rapidamente e simplesmente virou a plaquinha em frente a sua bilheteria, denunciando que ela agora estava fechada.
- , por favor... – Tentei chamar sua atenção, mas ela simplesmente se retirou da portinha e eu me afastei para o lado, andando rápido em direção a porta do cinema. – ! – A vi saindo pela lateral e tentei seguir pela mesma, mas o homem que pegava os ingressos me parou rapidamente.
- Ingresso, por favor. – O homem falou e eu bufei frustrado.
- Eu só quero falar com a , prometo que não vou entrar em nenhuma sala. – Ele fez igual e conferiu seu relógio.
- O turno dela acabou de terminar, ela sai pelos fundos. – Uma luz se acendeu em minha cabeça.
- Obrigado! – Falei, seguindo correndo de volta pela entrada, esbarrando em uma pessoa e dei a volta no quarteirão o mais rápido que pude, e cheguei aos fundos do cinema, pelo menos era o que parecia. Respirei aliviado quando vi uma das portas abrir e sair pela mesma, com sua bolsa da escola na lateral do corpo e se preparando para colocar fones de ouvido.
- Ah, não! – Ela bufou quando me viu e eu dei alguns passos apressados em sua direção.
- Por favor, fale comigo. – Apoiei as mãos em seus ombros e ela as desviou rapidamente, me surpreendendo pela sua rapidez.
- Você vai rir de mim novamente? Dar moral para seus amigos idiotas?
- Ei, você também me magoou quando falou do basquete. – Ela riu fraco.
- Você não percebeu? Foi intencional. – Ela continuou andando e eu a segurei novamente.
- Por favor, fale comigo. – Repeti, vendo-a bufar.
- Isso não vai continuar desse jeito, . – Ela falou. – Ou você age comigo na escola da mesma forma que age aqui, ou eu vou agir aqui da mesma forma que você age comigo na escola.
- Não, , também não é assim...
- Não, ! Não tente inventar mentiras ou desculpas comigo, superdotada, esqueceu? – Ela deu um sorriso irônico. – Comigo é tudo ou nada. A decisão é sua. Agora se me dá licença, eu tenho coisas para fazer...
No momento seguinte eu não pensei com a cabeça, só com o coração. Me aproximei da mesma, encostando-a contra o muro, coloquei as duas mãos em seu pescoço e colei meus lábios nos dela. Ela tentou me atingir duas vezes com suas mãos, uma na cabeça e outra na testa, mas ela logo apoiou as duas mãos na base da minha cintura, me fazendo respirar aliviado.
O beijo não durou muito, ela começou a rir logo em seguida, nos afastando lentamente e observei sua cabeça ser jogada para trás, seu olhar encontrar com o meu rapidamente e um sorriso se formar em seu rosto.
- Isso quer dizer que estamos bem? – Perguntei.
- Isso vai depender de você, criança. – Ela falou, se desviando de meus braços e começando a andar de costas pela rua.
- Aonde você vai? – Perguntei.
- Eu realmente tenho umas coisas para fazer. – Ela falou rindo.
- Posso saber o quê? – Cruzei os braços e ela me encarou firmemente, ponderando com a cabeça.
- Eu faço duas horas de voluntário no aquário da cidade de quarta-feira. – Ela deu de ombros.
- Sério? – Franzi a testa. – Pensei que você ia para casa e se matava de estudar. – Ela riu fraco.
- Eu tenho memória fotográfica, não preciso estudar. – Ela arqueou os ombros. – Eu abro o livro, leio e pronto.
- Que inveja! – Comentei e ela riu.
- Pare de ser um idiota que eu continuo te ajudando a conseguir aquela bolsa. – Ela sorriu, voltando a andar.
- Ei! – Chamei-a novamente.
- Eu realmente tenho que ir! – Ela falou. – O trabalho é voluntário, mas a responsabilidade é a mesma.
- Posso ir contigo? – Ela deu um pequeno sorriso, assentindo com a cabeça.
- Só se você me levar de carro, porque já devo ter perdido o ônibus. – Andei rapidamente até ela, passando um braço pelos seus ombros.
- Vamos lá. – Ela me olhou de lado e eu me obriguei a roubar outro beijo dela, fazendo-a se esquivar.
- Você está em teste, senhor , não abuse. – Soltei uma risada com o que ela falou, mas preferi não abusar e seguir com ela de volta até a frente do cinema.

Ela fazia trabalho voluntário no aquário de Albuquerque e foi incrível. Ela cuidava da parte de alimentação de leões marinhos, então, quando ela chegou dez minutos atrasada, três animais gigantes logo quiseram atacá-la, pelo menos foi como eu vi, mas eles só estavam com saudades dela, me fazendo gargalhar com a situação. Eles logo a derrubaram no chão, molhando todo o uniforme do trabalho, fazendo-a brigar que não os alimentaria.
Eu acabei acompanhando as coisas de fora, não tinha permissão para ficar perto dos animais, então, acabei dando uma volta pelo aquário, vendo-a alimentar também os peixes de dentro do aquário, fazendo jogos de sinais comigo pelo lado de fora, mas quando o dia acabou e voltei para casa, lembrei que tinha prova no dia seguinte e era fim do ano e de semestre, eu estava ferrado. Mesmo com me ajudando, tinha muita coisa para eu absorver em pouco tempo, além do fim do campeonato chegando e eu precisaria dar tudo de mim para conseguir alguma bolsa.
Acabei indo dormir tarde naquela noite, fiquei pelo WhatsApp com para ela me esclarecer algumas coisas, mas achei que estava atrapalhando, então desejei boa noite à ela e voltei a bater a cabeça sozinho, esperando que eu conseguisse pelo menos um B- na prova do dia seguinte e em todas que seguiriam pela próxima semana.
Acabei chegando em cima da hora no dia seguinte, quase atrasado para falar a verdade. Não consegui nem passar em meu armário antes de seguir para a prova de biologia e de matemática. Meus amigos todos gritaram pelo meu atraso e abriu um sorriso para mim, mas fingi que não vi, continuando a me sentir a pior pessoa do mundo.
- Bom dia, alunos do terceiro ano. – O inspetor falou, entrando na sala. – Hoje temos prova de biologia e matemática. – Ele apoiou a pasta com as provas na mesa. – Vocês terão até às 11 horas para fazer a prova. O mínimo permitido é de 45 minutos. Quem finalizar a prova não pode ficar nos corredores até o final da prova, mas o resto da escola é permitido. – Assentimos com a cabeça. – Alguma dúvida antes de começarmos? – Ele perguntou e eu neguei, retirando meu estojo da mochila e jogando o resto no chão. – , você pode ir, mas as regras se aplicam a você também. – Ele falou e se levantou, pegando suas coisas.
- Beleza! – Ela falou, se retirando.
- Por que ela pode ir? – Chris perguntou.
- Porque ela tem créditos o suficiente para passar em todas as provas pelo menos umas três vezes. – Ele falou. – Ela só está cumprindo horário. – Ele olhou novamente para a que se retirou da sala.
- Boa prova, Chris! – Ela fez questão de gritar do lado de fora, fazendo os alunos darem risadas e eu engoli em seco.
Enquanto o inspetor entregava as provas, fiquei imaginando se havia notado que eu havia a ignorado de propósito, mas assim que as provas foram colocadas em minha mesa, eu percebi que tinha problemas mais urgentes para resolver. E dos grandes.
Acabei ficando na prova quase até o último minuto, minha testa suava e minhas têmporas doíam, mas eu tinha que dar tudo de mim, aquela era minha última chance, nem que fosse para eu estudar na faculdade comunitária do Novo México, onde eu ainda deveria decidir meu curso. Caramba, como eu invejava de vez em quando, eu deveria parar de ser um babaca com ela e valorizar quem realmente poderia fazer parte do meu futuro, com certeza Chris e os meninos não fariam.
- Ficou mais que o normal, senhor . – O inspetor falou, conferindo minhas provas, quando as entreguei.
- Agora a coisa é séria, senhor Thompsom. – Ele assentiu com a cabeça.
- Bom que esteja vendo isso. – Assenti com a cabeça e suspirei.
- Até mais! – Acenei, saindo da sala.
Olhei rapidamente meu relógio e tinha quase duas horas até o treino e uma hora até o almoço, talvez estivesse em nosso lugar na biblioteca. Segui em direção ao local e dei uma corrida no mesmo quando comecei a ouvir gritos de lá dentro. É! Gritos dentro da biblioteca. E eles eram de .
- Quem você pensa que eu sou? – A ouvi gritar e percebi que Chris estava próximo a ela, junto de uma pequena multidão que havia terminado a prova e estava passando o tempo nos computadores. – Eu não vou fazer isso para você. – Ela falou rindo.
- Você é uma nerd, é isso que nerds fazem.
- Tu deve ter levado muita bolada na cabeça para fazer essa suposição. – Ela negou com a cabeça.
- É simples, você é a nerd e você faz as coisas para mim.
- Por quê? – Ela riu, cruzando os braços. – Por que você é o cara mais popular da escola? Por que você é o cara mais burro que eu já conheci? Ou só por que você tem preguiça? – Ela colocou as mãos na cintura.
- Escuta aqui... – Ele se aproximou dela e eu corri segurar Chris pelo braço.
- Deixa! – falou. – Espera para ver o que eu faço com ele se ele tocar o dedo em mim. – Ela sorriu. – Minha inteligência vai muito além dos livros. Eu decoro as coisas rapidamente, incluindo movimentos de luta. – Ela falou firme, o que me deu até medo. – Solte-o, . – Ela mandou.
- Ele não vai me soltar. – Chris falou debochado. – Ele gosta de você. – Ele falou sarcástico e aí sim eu quis soltá-lo, mas respirei fundo.
- Eu não gosto dela. – Falei firme. – Mas uma coisa ela tem razão: você é um idiota e a escola inteira sabe disso. – Falei, soltando-o fortemente, vendo-o despencar no chão. – E você está sozinho nessa. – Olhei firme para que agora mordia o lábio inferior. – Até eu queria vê-la te encher de porrada.
- Do que você está falando, cara? Dando moral para ela? – Ele olhou para mim e eu me afastei.
- O que você faz não é certo, cara. – Falei, vendo-o se levantar do chão. – Você não manda em ninguém, não manda na escola, não manda nem na sua própria vida. – Abanei as mãos. – Você pensa que a escola é o seu reinado, mas está para acabar, Chris. – Ri fraco. – Em três semanas tudo isso acaba e aí? Você vai continuar sendo esse babaca na faculdade? Ou vai esperar as coisas caírem para você de mão beijada? – Neguei com a cabeça. – Se enxerga! – Peguei minha mochila com força do chão.
- Vocês dois são iguaizinhos. – falou debochando e notei que seu rosto estava avermelhado. – Ainda bem que eu sei que nunca vou encontrar nenhum dos dois em Oxford, porque nenhum dos dois tem capacidade para isso, mas vocês são idênticos, só não se enxergam. – Ela negou com a cabeça e saiu apressada da biblioteca.
- Quer saber? – Minha irmã falou. – Ela tem razão. – Ela respirou fundo e saiu correndo atrás de .
- , o que você disse? O que você estava pensando? – Chris perguntou.
- Nunca mais se aproxime de mim. – Falei, abanando as mãos. – É cada um por si agora. – Respirei fundo, balançando a cabeça e saindo da biblioteca, vendo que alguns professores estavam na porta acompanhando a briga.
- ! – Chris gritou de volta e eu saí sem dar moral para ele.
Corri para a saída da escola e peguei o momento que o carro de Leny saía do estacionamento e notei uma cabeleira castanha no banco ao seu lado. Respirei fundo e puxei meus cabelos para cima, grunhindo de raiva.
- Seu idiota! – Falei para mim mesmo, jogando minha mochila no chão e chutando-a até os livros começarem a sair da mesma.

Olhei para cima novamente, vendo o nome de algum filme de animação aleatório na descrição do cinema e soltei a respiração fortemente, pensando rapidamente se deveria fazer aquilo novamente, apesar de eu saber que não tinha mais volta. Eu havia conhecido a melhor garota da vida e havia perdido. Ainda mais agora que ela iria para a Inglaterra e uma coisa ela tinha razão: eu nunca conseguiria entrar lá para acompanhá-la e provavelmente minha família não conseguiria me mandar para lá, mesmo com uma boa bolsa de estudos, o que eu estava convicto que com as minhas notas eu não conseguiria.
Conferi o horário em meu relógio e percebi que o expediente dela já tinha começado. Andei pelas duas bilheterias e notei que ela não estava em nenhuma das duas. Comprei um ingresso aleatório para a próxima sessão e me coloquei na fila do cinema com diversas crianças e seus pais.
- Ah, você não! – O mesmo assistente do outro dia me parou, apoiando uma mão em meu peito.
- Eu tenho um ingresso. – Mostrei para ele.
- Você está meio grandinho para ver Gnomeu e Julieta, não?! – Ele sorriu irônico e eu revirei os olhos.
- Eu preciso falar com . – Falei e ele riu, negando com a cabeça.
- Não vai acontecer, cara. Não durante o meu turno.
- Que horas você sai? – Ele riu irônico, fechando a cara logo em seguida.
- Duas horas depois dela. – Fechei a cara. – Vai embora, cara. Ela não quer falar contigo. – Ele deu de ombros e eu olhei para o fundo do cinema, vendo se estava na bomboniére.
- , por favor, fala comigo. – Ela olhou rapidamente em minha direção e continuou atendendo um cliente.
- Cai fora daqui, cara! – O assistente falou, me empurrando levemente para trás. – Ela está na hora de trabalho dela, ela não quer falar contigo.
- Diga a ela que eu sinto muito, por favor. – Ele assentiu com a cabeça, suspirando alto.
- Sai daqui, vai. – Ele falou e eu respirei fundo, dando meia volta e seguindo novamente para fora do cinema, rasgando o ingresso em mil pedaços, antes de jogá-lo em uma lixeira ali perto.
Eu não choraria ali, engoli o choro até chegar no carro, mas eu já estava em prantos antes de colocar o cinto de segurança. Pensei aonde poderia ir, mas eu só tinha um lugar para ir: minha casa.
Estacionei o carro na garagem, entrando no mesmo e notando que a casa estava vazia, pelo menos sem meus pais, o rock pesado de Leny tocava no último, fazendo com que as paredes da casa tremessem com a altura.
Passei na cozinha e peguei um pedaço de pão para comer e subi as escadas, seguindo direto para meu quarto e bati a porta com força, me jogando na cama, mas a porta foi aberta antes de eu conseguir colocar o travesseiro em meu rosto e me sufocar sozinho.
- Você é um idiota, sabia? – Ouvi a voz de Leny e respirei fundo, me levantando e encarando-a na porta.
- Obrigado! – Falei, bufando alto. – Era tudo o que eu precisava.
- Ela tem razão, sabia? – Ela continuou falando. – Você e Chris são iguaizinhos. – Ela negou com a cabeça. – Você humilhá-lo na frente da escola, não te faz melhor do que ele. Você continua negando seu amor por uma garota incrível. E por quê? Aparências? – Ela riu fraco. – Não precisamos disso, irmão. Já temos problemas demais para lidar. – Balancei a cabeça.
- Sério, Leny. Eu não estou com cabeça para isso agora e tenho prova de física e literatura amanhã. – Ela suspirou. – Depois você pode me dar qualquer tipo de moral que quiser. – Ela assentiu com a cabeça.
- Pelo menos eu sei que você está arrependido. – Ela deu de ombros, saindo pela porta.
- E abaixa esse som! – Falei alto. – Por favor...
Logo Leny abaixou o som do seu Pink Floyd ou System of a Down e respirei aliviado quando as paredes do meu quarto pararam de tremer. Andei até a porta e fechei-a novamente, trancando-a.
Peguei meus livros na mochila, notando que vários estavam lanhados ou amassados devido aos chutes que eu dei nos mesmos algumas horas antes. Puxei meu caderno também, que algumas folhas estavam rasgadas e amassadas e coloquei tudo na escrivaninha, respirando fundo.
Abri meu caderno e as lágrimas começaram a escorrer de meu rosto no momento que vi a letra de nos meus exercícios de física. Puxei a respiração fortemente, e cacei meu celular na bolsa, discando o número dela rapidamente. Ouvi os dois primeiros toques e depois a ligação caiu, me fazendo respirar fundo. Me contive em não jogar o celular na parede, mas logo em seguida uma mensagem chegou no aparelho e era dela!
“Nunca mais venha atrás de mim”. – Era sua mensagem.
“Eu preciso te ver”. – Respondi, respirando fundo. – “Quero te abraçar”.
Esperei alguns segundos, mas não tive nenhuma resposta. Ela me bloqueou. Tentei ligar novamente, mas dessa vez o telefone nem chegou a tocar. Caiu diretamente na caixa postal, fazendo meu coração ficar cada vez menor. Bati a cabeça com força na mesa, sentindo minha cabeça doer e fiquei daquela forma por muito tempo.
A gente podia ter sido um daqueles romances incríveis que passavam no cinema, grandes histórias de amor, o idiota e a superdotada, mas eu tinha estragado tudo. Ela não deveria estar bem também, seu rosto avermelhado na biblioteca demonstravam tristeza, ela só estava se segurando para não chorar na frente da escola inteira, talvez para também não saberem da nossa relação, manter minha mentira.
Olhei firmemente para o celular apoiado na escrivaninha, como se, de algum jeito, ela retornaria minha ligação. Eu estava me sentindo um idiota, estúpido e menor do que uma formiga. Eu só queria que eu nunca tivesse agido dessa forma. Agora ela iria para o outro lado do oceano, e eu ficarei aqui, comemorando se não repetir o último ano, mas desejando que ela nunca tivesse ido embora, e nunca ter quebrado seu coração.

Eu cheguei acabado na escola no dia seguinte. Depois de tanto choro, drama e cabeça doendo, eu me forcei a estudar. Pelo menos mostraria a ela que eu seria alguém melhor. Que eu conseguiria me tornar alguém melhor por tê-la conhecido.
Não sei por quanto tempo eu fiquei com a cara enfiada nos livros e repetindo todos os exercícios de física, pelo menos eu tinha mais facilidade com literatura e, dessa vez, eu realmente tinha lido todos os livros do semestre, só teria que tomar cuidado em não confundir “Orgulho e Preconceito” com “O Grande Gatsby”.
Acordei com o celular despertando, com uma incrível dor no pescoço e com uma poça de baba em cima das minhas anotações de física. Juntei tudo e saí correndo para trocar a roupa do dia anterior. Não queria parecer mais acabado do que estava.
- Vai comigo? – Leny perguntou quando nos encontramos no banheiro naquela manhã.
- Posso? – Perguntei, ela me encarou com um sorriso no rosto e me abraçou de lado, estalando um beijo em minha bochecha. Raramente ela fazia isso, e eu sabia que minha cara deveria estar péssima.
- Vamos! – Ela falou.
Peguei meus materiais e saímos de casa em um dos carros que minha mãe havia deixado. Fomos em silêncio o caminho inteiro, se não fosse pelas músicas pesadas que Leny gostava de ouvir. Não me leve à mal, eu gostava de um rock mais pesado, mas minha cabeça estava pesando o dobro do meu corpo e eu estava focado nas provas naquele dia.
Pensei que o dia seria diferente quando entrei na escola com antecedência. Não teria que fazer as coisas correndo. Olhei para frente e a primeira coisa que vi foi Chris, Chad e Jason me encarando um pouco ao longe, eles não falaram comigo e eu preferi não dar esse gostinho a eles.
Segui para meu armário e travei quando notei mexendo em seu armário e engoli em seco, não sabia que a encontraria logo cedo. Me aproximei dela, tentando agir normalmente, mas minhas pernas pareciam mais uma gelatina.
- Ei! – Falei baixo e ela somente virou o rosto para mim, voltando a olhar para seu armário. – Podemos conversar depois da prova? – Perguntei e ela suspirou.
- Não! – Ela se virou para mim, mordendo o lábio inferior. – Eu não quero e não preciso disso. – Ela falou calmamente, mas respirando fundo. – Eu pensei que você seria diferente, mas você me machucou da mesma forma que todos os outros. – Ela deu de ombros. – Pensei que você seria diferente, mas você só me mostrou que todos aqueles clichês adolescentes têm razão: todos os populares são iguais. – Ela suspirou. – Foi bom, sim, foi, mas eu não quero mais. – Ela deu um pequeno sorriso.
- Você vai para Inglaterra, não vai? – Perguntei e ela deu de ombros.
- É provável. – Ela sorriu. – Mas eu estarei aqui até o baile e a formatura. – Ela fechou seu armário. – Boa prova! – Ela falou. – Lembre-se das dicas que eu te dei! – Ela deu um sorriso de lado e seguiu em direção ao fim do corredor, ela provavelmente tinha sido livrada de outra prova.
Senti que tinha ido bem na prova aquele dia, mas só nisso também. O resto do dia e das semanas que se seguiram, foram piores do que o esperado. Eu não era bem visto por , nos corredores da escola e muito menos no treino de basquete, mas sendo capitão do time e principal pivô, eu tinha obrigação em jogar por aquele time.
Eu tinha desistido de ir atrás de , pelo menos enquanto as provas não acabassem. Eu ainda precisava ir bem nas provas e tentar conseguir uma bolsa boa por causa do basquete, ou eu provavelmente teria que arranjar algum emprego qualquer e começar a ajudar em casa, e isso realmente não estava nos meus planos, eu queria tentar seguir carreira no basquete, porque era a única coisa que eu sabia fazer.
Nesses últimos dias eu acabei esbarrando em em vários momentos, principalmente quando eu tirava alguns minutos do meu almoço para estudar. não me ajudava, mas Leny estava me ajudando, o que era suficiente para pelo menos relembrar a matéria. não me ignorava totalmente, ela parecia estar sempre presente e perguntava sobre mim para Leny, que fazia questão de me passar a informação.
Eu precisava colocar minha vida de volta aos trilhos e ir atrás dessa garota.

- Aonde você vai? – Perguntei para Leny quando ela passou pela porta do banheiro, toda arrumada.
- Eu vou sair com as meninas. – Ela falou.
- Com a ? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça. – Vai para o jogo, por favor.
- Ah, mano, desculpa, mas a gente não gosta tanto assim de basquete. – Segurei-a pelos ombros.
- Por favor, Leny. Pelo menos no final. – Falei, respirando fundo.
- O que você está planejando? – Dei de ombros.
- Não sei! Eu só preciso dela lá. – Ela respirou fundo, suspirando.
- Podemos ir jantar no Becker’s e depois talvez dar uma passada no jogo. – Abri um sorriso. – Mas eu não prometo nada, ela está bem chateada contigo, ainda mais que você simplesmente deixou as coisas para trás.
- Foi intencional. – Falei, suspirando. – Eu precisava terminar as provas, eu consegui passar, peguei só uma recuperação... – Balancei a cabeça. – Agora posso focar nela.
- E na faculdade? – Ela perguntou e eu franzi a testa.
- Estou esperando respostas. – Dei de ombros. – Vou ter certeza só depois de hoje, isso se tiver algum olheiro por aqui. – Ela suspirou.
- Vai dar tudo certo, maninho. – Ela me abraçou de lado e sorriu.
- Alguém me disse que sempre dá certo no final. – Ela riu fraco.
- Eu vou tentar levar a para o jogo, mas não garanto. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, eu sei! – Suspirei.
- Bom jogo! – Ela falou, se retirando do banheiro e eu respirei fundo.
Me olhei no espelho e saí do banheiro, seguindo de volta para o quarto e pegando minha mochila no chão, seguindo para o andar de baixo, vendo meus pais prontos para irem comigo.
- Pronto, garoto? – Meu pai perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Vamos lá! – Respirei fundo e ambos me abraçaram de lado.
Seguimos em direção à escola em silêncio, eu estava nervoso. E não era só pelo jogo. Tinha colocado uma ideia na minha cabeça, mas eu não sabia se daria certo. Mas eu só veria essas pessoas depois no baile, isso se eu fosse ao baile, se não minha vida acadêmica terminava hoje e depois eu só teria que pegar meu diploma em algumas semanas.
- Até mais! – Falei para meus pais, seguindo para o vestiário.
- Bom jogo! – Eles falaram sorrindo e acenaram para mim.
Eu fiz questão de vir pronto e vestido, quanto menos tempo eu perdesse no vestiário, melhor. Entrei no mesmo e imediatamente o clima ficou pesado, a maioria dos alunos já estavam prontos e outros estavam terminando de se arrumar. Fui para meu armário, abri o mesmo e enxotei minha bolsa ali dentro, separando rapidamente a roupa e materiais que eu colocaria após o jogo, para sair daqui o mais rápido possível.
- Vamos nos unir? – Ouvi o treinador Bolton falar e eu fechei meu armário, me aproximando da roda e olhei rapidamente para Chris, Jason e Chad, estavam todos bem putos comigo. – Bem, gente, hoje é o último jogo. – O treinador falou, respirando fundo. – Independente do resultado, quero que vocês saibam que fizeram todo o possível para chegar até aqui, vocês fizeram uma temporada muito boa, lutaram bastante durante esses quatro anos e eu estou orgulhoso de vocês. – Assenti com a cabeça. – Depois de hoje, vocês irão para caminhos diferentes, talvez continuem amigos, talvez se vejam no encontro de turma daqui dez anos, mas saibam que tudo o que vocês passaram juntos, foi importante, e que esse jogo, esse time, representa muito mais do que só aquela taça. – Assentimos com a cabeça. – , gostaria de falar algo? – Ele se virou para mim e eu respirei fundo.
- Esses últimos dias não foram fáceis. – Falei, engolindo em seco. – Tivemos nossas diferenças e afastamentos por causa das nossas decisões, semana de provas e afins, mas hoje é o fim. Então, independente do que sentimos sobre nós, hoje é o último jogo como esse time, como o time da Escola Baxter. – Respirei fundo. – Sei que todos nós dependemos do resultado desse jogo para decidir nosso futuro, então, vamos deixar nossas diferenças de lado e ser um time. – Suspirei. – Porque, como time, nós podemos cumprir nossos objetivos. – Estiquei o punho à frente da roda. – Qual é o time?
- Lobos selvagens. – Eles falaram fraco.
- Qual é o time? – Gritei mais forte.
- Lobos selvagens! – Eles esticaram os punhos.
- Lobos selvagens! – Falei, sorrindo.
- É hora do jogo! – Falei e eles começaram a se movimentar, se posicionando para a entrada pelo túnel.
- Vai dar tudo certo. – Chris falou, esticando o punho para mim e eu assenti com a cabeça, batendo o punho no dele, vendo-o sorrir. – Vamos lá!
Nos colocamos no túnel e o mascote veio em nossa frente, batendo as mãos nas nossas e nos organizamos em nossas posições. Olhei as portas fechadas do vestiário e respirei fundo três vezes, começando a ouvir os barulhos e microfones do lado de fora.
- E agora, da escola Baxter, os lobos selvagens! – O diretor da escola falou e as portas do vestiário da escola foram abertas, nos fazendo sair pelo corredor de líderes de torcidas e pompons azuis e amarelos e corremos no meio da quadra, ouvindo a turma da escola comemorar conosco.
Respirei fundo e colocamos em nossas posições, vendo a quadra ser limpa depois de todo confete jogado e as líderes de torcida se afastarem para a lateral do campo. O juiz chamou a mim e a o capitão do outro time e nos segurou pelos ombros, falando baixo para nós.
- Vocês dependem de muita coisa por causa desse jogo, mas joguem-no de forma limpa. Combinado? – Eu e o outro garoto nos entreolhamos, assentindo com a cabeça e batemos as mãos. – Vamos começar! – Ele falou.
Respirei fundo, olhando para trás rapidamente, vendo os outros jogadores do time se aproximarem e vi o juiz aparecer com a bola em minha frente. Ele apontou para mim e eu afirmei com a cabeça. Ele apontou para o capitão do outro time e ele assentiu com a cabeça. O apito foi dado, a bola foi jogada para cima e eu espalmei a mesma em direção à Chris, dando início ao jogo.
Eu fui muito mal nos três primeiros tempos. Eu tinha tido a capacidade de perder todas as bolas que chegavam na minha mão, então havia optado em passá-las para Jason que estava muito focado.
- Você está bem, ? – O técnico falou e eu balancei a cabeça, suspirando.
- Tá tudo certo. – Falei, passando a toalha em meu rosto.
- Vocês estão perdendo por seis pontos, isso são duas cestas do meio da quadra. Vamos reerguer que vocês estão indo bem. – Assenti com a cabeça e ouvi o apito novamente.
- Passa para mim. – Chris falou e eu assenti com a cabeça, suspirando.
Corri até a quadra novamente, travando quando observei , Leny e mais algumas pessoas paradas na ponta da quadra, próximas às líderes de torcida. tinha as mãos colocadas dentro de um moletom e um sorriso no rosto, minha irmã já estava bem mais empolgada.
- Vai, ! – Ela se esgoelou ao lado de uma líder de torcida que colocou as mãos nos ouvidos e se afastou de minha irmã, me fazendo rir. Estiquei a mão em direção a elas que me cumprimentaram de volta. Leny apontou para uma arquibancada e ambas seguiram para se encaixar em algum lugar.
Voltei minha atenção ao jogo, vendo o juiz com a bola no meio da quadra novamente e eu soltei a respiração três vezes e vi o outro time espalmar a bola primeiro.
Não sei se foi por ver a , mas meu jogo alterou completamente. As bolas que chegavam em mim iam direto para a cesta, mas notei que o jogo começou a ficar mais violento, fazendo com que os jogadores do outro time acabassem nos derrubando com a intenção de roubar a bola. Pelo menos era o que parecia.
Pulei para colocar a bola na cesta e senti meu corpo ser atingido com força, me jogando no chão, fazendo com que parte do meu time fosse para cima dos jogadores do outro time e a arquibancada se levantasse nervosa.
- Você está bem? – Chris perguntou, esticando a mão para mim e eu levantei, com a bola na mão.
- Só estralei o ombro. – Mexi no mesmo, vendo o juiz se aproximar em minha direção e pontuar cesta livre. – Quer jogar? – Perguntei a Chris.
- Não, cara. Estamos ganhando por cinco pontos, faltam menos de 40 segundos. É o seu momento. – Ri fraco, assentindo com a cabeça e me coloquei na posição, vendo parte do time adversário se colocar para pegar a bola, caso eu errasse.
Mas eu não iria.
Olhei para a cesta e senti que ela estava bem mais distante do que o esperado. Passei a mão no cabelo, tirando-o do rosto e bati a bola no chão duas vezes, soltando o ar devagar. Ouvi o apito e ergui as mãos, jogando a bola em direção à cesta. Ela demorou a chegar na mesma e rodou pelo aro, caindo dentro da cesta, fazendo meu time comemorar e nos separamos de volta para o centro da quadra.
A bola foi jogada para cima novamente e caiu diretamente em nossas mãos todas as vezes. Foram feitas cestas minhas, de Jason, Chris, Chad e de outros jogadores diversas vezes, fazendo com que a diferença de pontos aumentasse drasticamente entre os times. Então, quando o apito final foi tocado, os confetes azuis e amarelos foram jogados para cima e as pessoas saíram da arquibancada para comemorar conosco na quadra. Meus amigos me ergueram em seus ombros e começaram a me jogar para cima. Ali eu senti esperança. Que as coisas realmente puderam melhorar.
O diretor da escola acabou logo com a festa, fazendo com que nosso time subisse rapidamente no pequeno palco improvisado para receber a taça que foi erguida com rapidez pelo nosso time e o pessoal acumulado lá embaixo começou a gritar animado.
Deixei com que Chris e os meninos tirassem a taça da minha mão e olhei para o canto da arquibancada, para que estava com Leny e meus pais. Ela tinha um sorriso no rosto, ela estava feliz, mas eu podia melhorar.
- Com licença! – Falei alto, pegando o microfone do diretor. – Eu gostaria de falar algumas coisas. – Falei, ouvindo as pessoas tentarem gritar por cima.
- Ei, calem a boca! – Chris falou, se aproximando do microfone e as pessoas se calaram.
- Valeu! – Falei e ele sorriu, acenando com as mãos.
- Chegamos ao fim da nossa turma, muitas pessoas desse time estão se formando e iremos para caminhos diferentes e faremos escolhas diferentes. – Engoli em seco. – Mas eu gostaria de dar um aviso para vocês, antes de finalizar aqui: não importa quem você é, o que você gosta, o que te faz feliz, você importa! – Falei. – Você é incrível e merece ser destacado pelo o que você gosta de fazer e por quem você gosta. – Olhei para que olhava atentamente. – E com isso... – Engoli em seco. – Eu gostaria de anunciar aqui que eu estou apaixonado por uma garota e ela é muito diferente de mim. Ela é perfeita, inteligente, incrível e muito melhor do que eu. – Suspirei, observando Leny segurar pelo braço. – E eu a magoei, achando que ficar com ela era errado ou que fosse mudar a forma que as pessoas pensam de mim. – Engoli em seco. – Mas a única coisa que me importa, é o que ela pensa de mim. – Abri um sorriso. – ! – Apontei para ela, vendo todos se virarem de costas para encará-la. – Eu gosto de você! – Suspirei. – Você me daria a honra de me acompanhar no baile de formatura? – Perguntei, engolindo em seco em seguida.
Todos olharam para e vi a cena em câmera lenta. Leny empurrou para que ela descesse os degraus e seguisse em minha direção. As pessoas abriram espaço para ela passar e ela se aproximou do palco improvisado.
Soltei o microfone, esticando minhas mãos para ela, ajudando-a subir no palco. Ela negou com a cabeça algumas vezes, um tanto quanto assustada com o que eu havia feito e me surpreendeu, colando os lábios nos meus. Ouvi alguns gritos animados, me fazendo rir e apertar meus braços contra seu corpo, tirando-a do chão por alguns segundos e ouvindo-a rir em seguida, nos separando por alguns segundos.
- E então? – Perguntei, olhando em seus olhos.
- Você está em fase de teste, . – Ela falou rindo. – Mas sim! – Ela respondeu e eu colei meus lábios nos dela novamente, girando-a nos ares, ouvindo as pessoas gritarem e comemorarem, me fazendo sorrir.


Epílogo

- Você está um arraso, irmão. – Leny falou, passando a mão em meu paletó e quase me enforcando ao arrumar minha gravata.
- Valeu! – Bati na sua mão, fazendo-a cruzar os braços. – Você está só esperando a ou...? – Virei para ela.
- Eu também tenho meus encontros. – Ela piscou para mim e eu ri fraco.
Observei o carro da mãe de estacionar em frente à escola e coloquei as mãos em frente do corpo, vendo-a sair do carro com um lindo vestido amarelo rodado e um largo sorriso no rosto.
Outra pessoa saía com ela, um menino, um pouco mais velho, provavelmente o irmão que ela me falava. Virei para Leny que agora sorria e eu ri fraco, negando com a cabeça. Essa Eleanor era uma incógnita. Os se aproximaram de nós e eu abri um largo sorriso.
- Oi! – Falei sorrindo.
- Oi! – retribuiu e eu suspirei. – Esse é Jimmy, meu irmão. – Ela apontou para o garoto que esticou a mão em minha direção.
- E aí, cara? – Ele me cumprimentou e eu sorri.
- Firme? – Perguntei.
- Sempre! – Ele falou e virou para minha irmã. – Vamos dançar um pouco? – Ele e Leny saíram na frente e eu dei o braço para .
- Você está incrível. – Falei e ela sorriu, segurando em meu braço.
- Obrigada! – Ela falou sorrindo. – Por tudo. – Ela se virou para mim e eu franzi a testa, fazendo-a balançar a cabeça.
Entramos na quadra, onde estava acontecendo a festa, e fomos ensurdecidos pela música alta que tocava ali. O comitê do grêmio nos entregou colares havaianos que combinavam com a decoração da festa e olhei para tudo meio assustado. Não era meu primeiro baile, mas era a primeira vez que eu realmente vinha com alguém que eu gostasse.
- Você quer um ponche? Um salgadinho? – Perguntei para ela que riu, negando com a cabeça.
- Vamos dançar um pouco. – Ela me puxou pelo braço para a pista de dança e eu ri.
- Eu sou um péssimo dançarino. – Falei e ela apoiou as mãos em meus ombros quando a música ficou mais lenta.
- Acho que passamos por vários desafios esse semestre. – Ela sorriu. – Tudo é possível! – Apoiei minhas mãos em sua cintura, rindo.
Observei os casais se formando na pista, meus amigos do jogo de basquete sorrindo para nós e respirei fundo, beijando sua testa, sentindo o cheiro de seu cabelo e mexendo o corpo lentamente conforme a música.
- Era isso que você queria? – Perguntei, falando do baile e da situação.
- Não. – Ela falou, suspirando. – Eu só queria andar com meu namorado sem que ele tivesse vergonha de mim. – Assenti com a cabeça, apertando-a em meus braços, suspirando.
- Nunca! – Suspirei. – Você é incrível demais para isso. – Ela sorriu e eu colei meus lábios nos dela, fazendo-a rir quando seus óculos embaçaram. – Desculpe. – Falei e ela riu, balançando a cabeça.
- Está tudo bem. – Ela riu.
- Eu me esqueci de te perguntar, como ficou sua média de educação física? – Perguntei.
- A negativo. – Ela falou e eu arregalei os olhos.
- Como? – Ela riu.
- Parece que meu trabalho foi o melhor em anos. – Ela deu de ombros. – E você? Como ficou as médias? – Suspirei, franzindo a testa.
- Eu passei em tudo, na média, mas passei, e... – Afastei as mãos de sua cintura um pouco, tirando um envelope do bolso do paletó e entregando a ela.
- O que é isso? – Ela perguntou, abrindo o envelope.
- Eu fui aceito na NYU, 50 por cento de bolsa. – Falei em seu ouvido. – Estávamos fazendo umas contas e acho que vai dar para eu ir.
- Meu Deus, ! – Ela falou animada, me abraçando fortemente. – Isso é incrível! – Ela falou rindo.
- Talvez dê para nos encontramos nas férias. É só atravessar o Atlântico. – Ela falou rindo e aproximou a boca de meu ouvido.
- Eu ainda não enviei minha decisão para Oxford, Columbia está na mesa e é em Nova York. – Arregalei os olhos e os lábios. – Quem sabe? – Ela deu de ombros.
- Você faria isso por mim? – Perguntei.
- Eu já estudei em milhares de escolas ao redor do mundo, . – Ela riu fraco. – Namorar é a minha primeira vez e posso te dizer que está sendo uma grande aventura. – Ergui em meus braços e a girei pelo salão.
- Podemos fazer dar certo?
- Claro, afinal, quem vai tirar suas dúvidas durante a faculdade? – Ela colocou as mãos na cintura e eu ri, erguendo as mãos para seu rosto e colando meus lábios nos dela novamente.




FIM!



Nota da autora: Quando liberaram essa música, eu acabei pegando para escrever por questão de tempo, mas inicialmente foi muito difícil para mim, pois estou acostumada a escrever enredos com personagens mais velhos e fugir desesperadamente do enredo colegial. Mas acabei tendo essa ideia simples e fofinha e achei que ficou legal. As similariedades com High School Musical são intencionais, tornando tudo mais divertido, além do pequeno plot Zach e Hannah de 13 Reasons Why.
Então, espero que vocês tenham gostado! Não se esqueçam de deixar seu comentáriozinho aqui embaixo e caso tenha gostado e queira mais histórias minhas, acompanhe pelo grupo do Facebook.
Beijos, beijos!



Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.

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