Última atualização: 02/06/2018

Parte I

2012

Tudo começou quando eu tinha apenas 18 anos. Ele tinha 19, fazia parte do time de vôlei da nossa cidade, e eu como amante de vôlei que sempre fui iria a todos os jogos que aconteciam aqui. Em um desses jogos, eles autografaram algumas bolas e lançaram na arquibancada. Adivinha só quem foi a sortuda que pegou uma das bolas autografadas? Isso mesmo, eu! Assim que peguei a bola li o nome dele. . Um dos narradores do jogo anunciou que quem estivesse com alguma das bolas nas mãos poderia descer até a quadra para conhecer o jogador que deixou a assinatura. Levei meu celular pra garantir uma selfie, meu jogador preferido era o e eu dei sorte de pegar a bola que ele autografou.
- Ai eu nem acredito que a bola que peguei era a sua! Eu sou a . – Comecei a falar, já vi que falaria demais, isso acontece quando fico empolgada. - Eu adoro vôlei e também sou uma grande fã. Eu posso ganhar uma selfie?
- Fico feliz de ter uma fã, acho que é a primeira vez que escuto isso. Claro que podemos tirar a foto.
O jogo estava prestes a começar, tiramos a foto e quando estava retornando ao meu lugar, senti uma mão tocar meu ombro esquerdo.
- Eu posso levar minha fã para um sorvete depois do jogo? – Ele tinha um belo sorriso nos lábios.
- Claro. Nos vemos no fim do jogo. – Terminei de subir a arquibancada e ele voltou para a quadra.

***


A partida encerrou e o time da cidade ganhou por 3 sets a 1. Eu desci a arquibancada e pediu para que liberassem minha entrada na quadra.
- Que jogo incrível. – Disse com a voz rouca, havia gritado bastante. – Olha como minha voz está, gritei horrores.
- Sua torcida fez toda a diferença. Vamos? – Eu acenei positivamente com a cabeça e saímos andando pela quadra.
Fomos caminhando pela pequena cidade, tranquila, típico de domingo. A sorveteria não estava cheia, fomos nos servir e ele disse que seria por conta dele. Peguei sorvete de doce de leite e castanha, meus preferidos, ele pegou morango e doce de leite também, uma surpresa boa.
- Doce de leite? Nem acredito que encontrei alguém pra dividir esse amor. – Eu disse em um tom divertido.
- Sempre gostei de doce de leite, consegue superar qualquer doce. – Ele afirmou.
A conversa fluiu muito bem, ele me dizia como era jogar no time de vôlei da cidade e ser um dos destaques do time, falou sobre como descobriu a paixão pelo esporte e me fez rir bastante, ele tem um senso de humor fantástico.
Alguns minutos depois já estávamos caminhando pela cidade outra vez. Ele decidiu me acompanhar até em casa e eu não recusei, a cidade era pequena então ele não morava muito distante dali.
- Podemos repetir o passeio qualquer dia desses? – Ele foi bem direto.
- Claro que sim. Foi ótimo. Nos vemos no jogo de terça? – Ele afirmou antes de começar a se afastar. Antes que pudesse se afastar demais eu o chamei novamente. – ! Esqueceu uma coisa. – Depositei um selinho em seus lábios e sorri, ele sorriu de volta. Aquele com certeza foi o melhor encontro que já tive.
- Antes que eu vá embora de vez, me dá o número do seu telefone. – Anotei diretamente no telefone dele o meu contato. Assim que fechei a porta atrás de mim, senti meu celular vibrar em minha bolsa. Era uma mensagem do .
“Por mais dias com doce de leite.”
Sorri ao ler a mensagem e respondi na mesma hora.
“Por mais dias com doce de leite e nós.”
Senti o telefone vibrar outra vez e quando olhei ele havia me enviado um emoji de coração. Meu coração estava batendo um pouco mais forte que o normal.

2015


E lá estava eu em mais uma final de vôlei do . Estávamos namorando há quase 3 anos e ele estava crescendo cada vez mais no esporte. Eu o acompanhava sempre que possível, vivia na correria da faculdade, mas não abria mão de ver os jogos do meu amor. Ele estava empolgado com o jogo de hoje, haveriam olheiros na arquibancada e ele lutava por uma vaga em um grande time há muito tempo.
No intervalo do jogo eu desci o mais próximo que pude da quadra.
- Oi meu amor. – Depositei um beijo leve em seus lábios.
- Oi princesa. Viu algum olheiro por aí?
- Vi alguns, a maioria de outros estados, mas um que estava próximo de mim era de outro país. Te dou uma chance de adivinhar.
- Estados Unidos?
- Você é bom nisso! – Disse enquanto vi um brilho diferente tomar seus olhos. – Vai lá e continua brilhando na quadra. Nos vemos no final.

***


A partida acabou e eu pude ver o treinador reunindo todos os jogadores para uma conversa, hora de ouvir os olheiros. Estava ansiosa, muitos olheiros mostravam interesse em , mas nenhum deles o levava de fato. Vi alguns garotos se abraçando, estavam comemorando por terem sido escolhidos, nada ainda do meu amor, estava cada vez mais apreensiva. Faltava apenas o olheiro dos Estados Unidos. Pude ver os jogadores indo na direção de . Ele havia sido escolhido pelo olheiro internacional. Eu estava tão orgulhosa, mas por que parte de mim estava angustiada?
Desci as escadas apressadamente e pulei no colo deThales.
- Eu vi tudo lá de cima. Um olheiro internacional! Essa é a sua melhor oportunidade.
- Não se vou aceitar, . – Olhei confusa. – Eu tenho uma vida inteira aqui, tenho você, meus pais, meus amigos e o time.
- Amor, essa oportunidade é única, você não pode perder. Não quero que fique preso aqui por minha causa. Eu amo você e se você for para os Estados Unidos eu posso até ir junto.
- Depois falamos sobre isso. – Ele quis encerrar o assunto.

Dias depois


O tempo ia passando e ainda não havia decidido se queria ir ou não. Ele havia me mandado uma mensagem dizendo que queria me encontrar, me arrumei e já estava em sua casa apenas esperando por ele.
- Desculpa a demora, eu fiquei preso no mercado, você sabe que minha mãe adora fazer compras.
- Tudo bem. – Disse com um sorriso. – Acabei vindo rápido por conta da sua mensagem. Aconteceu alguma coisa?
- Ainda não, mas vai acontecer, . – Fiz sinal para que ele prosseguisse. – Então, conversei com meus pais sobre o olheiro dos Estados Unidos, eles acharam tudo formidável, será um contrato de 5 anos com tudo garantido, se eu não me adaptar eu posso retornar. Dito isso, decidi aceitar a proposta.
- Ah meu amor, fico tão feliz ouvindo isso. Você merece o mundo! – Eu estava falando a verdade, mas também mentia. Se ele realmente iria embora, como nós ficaremos?
- Te chamei aqui não só pra lhe contar a novidade, mas também para decidirmos o futuro do nosso relacionamento. Acho que não devemos continuar namorando.
- Mas o quê? Como assim ?
- , eu não vou prender você em um relacionamento a distância. Não vou te fazer largar tudo para se aventurar comigo em outro país. Prefiro deixar tudo resolvido aqui.
- Você chama o nosso namoro de “tudo resolvido”? Eu definitivamente ainda continuo sem entender. Você quer mesmo terminar tudo? É isso o que você quer?
- Sim. – Ele foi curto e grosso. Eu já estava morrendo em lágrimas e ele também, mas ele quis assim.
- Tudo bem. – Peguei minha bolsa e fui embora.

***


Tentei falar com ele por dias e não obtive uma resposta sequer. Ele realmente estava determinado. Eu sabia que o dia da viagem estava próximo, mas não sabia exatamente quando era. Ainda distraída senti meu celular vibrar. Uma mensagem dele. Finalmente
“É hoje. Eu te amo . Sempre vou te amar, mas o nosso ciclo se encerrou.”
Então ele estava indo embora hoje. Decidi ir desesperadamente até o aeroporto. Fui dirigindo apressada até lá. O trânsito estava calmo, para minha sorte, e eu nem levei 20 minutos para chegar. Corri para a seção de embarque e me deparei com meus ex-sogros abraçados pouco a minha frente.
- Ele já foi? – Perguntei com as lágrimas jorrando em meu rosto.
- Sim, querida. Ele embarcou há poucos minutos. Ele estava feliz, ansioso, mas em nenhum momento deixou de mostrar o quão triste estava por te deixar aqui. Eu sinto muito. – Emma, mãe de , disse envolvendo-me em um abraço terno. Me afastei por alguns minutos e pude ver o avião onde estava o meu amor decolando em direção a uma nova jornada.
- Eu te amo... – Sussurrei pra mim mesma, enquanto via o avião sumir do meu campo de visão.


Parte II

2 meses depois


Depois de chorar um rio de lágrimas, sentir raiva, sentir saudade, ficar isolada, eu finalmente decidi dar as caras novamente. As pessoas sabiam quem eu era, quem era e o que tivemos. Era estranho receber tantos olhares. Eu tentei não me importar, pois sabia o motivo, não precisava voltar para o fundo do poço outra vez.
Enquanto caminhava pela cidade, pude ver alguns rostos novos, a cidade estava começando a se desenvolver graças ao impulso do vôlei. Estava mais cheia que de costume e as pessoas estavam mais alegres. Parei na sorveteria para tomar o meu clássico sorvete de doce de leite, porém quando entrei na sorveteria esbarrei em um garoto que fez o belo favor de encher a minha blusa de sorvete de abacaxi. Odiava o cheiro de abacaxi.
- Ai eu não acredito. Meses sem sair de casa pra recebida de volta assim. Que droga. – Eu resmunguei já irritada.
- Me desculpe, não f... – Ele congelou ao me olhar nos olhos. Tive exatamente a mesma reação. – ? É você?
- ... O que faz aqui? – Eu estava totalmente surpresa.
- Eu voltei pra cá. Depois de muitos anos fora, meus pais decidiram voltar e eu acabei vindo junto.
O era um grande amigo de infância. Éramos melhores amigos quando bem novos e ele foi o meu primeiro amor. Quando ele tinha 10 anos se mudou para outra cidade com os pais e perdemos contato. E ali estava ele 11 anos depois. Ele estava tão diferente, mas seus olhos eram inconfundíveis.
- Me desculpa pelo sorvete. Podemos sentar pra colocar o papo em dia?
- É claro, tanta coisa aconteceu depois que você se foi. Antes eu vou em casa trocar de roupa, esse sorvete não está combinando aqui.
- Você ainda mora no mesmo lugar? – Eu afirmei. – Então novamente seremos vizinhos de frente. Vamos pra casa, então.
No caminho até em casa o foi me contando tudo o que aconteceu nos anos em que ficou fora. Fez faculdade e decidiu voltar porque queria muito investir na cidade. Fomos para minha casa, fui me trocar depois fomos pra sala ver algum filme. Minha mãe adorou ver o lá em casa outra vez, era como se tivéssemos 10 anos de novo.
- Eu não queria comentar nada, mas eu soube o que aconteceu com você e o jogador. – Por essa eu não esperava.
- O ? A cidade inteira ficou sabendo. O jogador de vôlei que foi para o exterior e a namorada abandonada em uma cidade do interior. Cidade pequena, as notícias correm rápido. – Tentei sorrir, mas a saudade veio à tona e eu estava despreparada. – É complicado e delicado falar sobre isso, podemos mudar de assunto, por favor?
Ele concordou. Assistimos mais de um filme, comemos besteira, conversamos mais e eu sentia uma alegria que tomou meu peito por muito tempo. Era inacreditável ver o meu melhor amigo bem ali, de volta. As coisas estavam voltando ao normal, afinal.

***


Mais tarde, enquanto terminava algumas atividades da faculdade, meu telefone vibrou revelando-me uma mensagem do .
“Você sabe que horas são? Princesas dormem às 2 da madrugada.”
Eu sorri e respondi imediatamente.
“Quem me dera estar dormindo. Ou ser princesa. Mas e você? Seus hábitos noturnos continuam iguais?”
“Acertou. Tem planos pra amanhã? É domingo. Um cinema?”
“Não é assim que se convida uma princesa para sair.”
“Perdão, alteza. É de seu interesse acompanhar um mero plebeu em um encontro cujo objetivo é fazê-lo companhia?”
“Bem melhor. Convite aceito. Nos vemos amanhã. Xx”


***


E lá estava eu indo ao cinema com meu mero plebeu. Meu? Eu disse isso mesmo? Tudo bem. Ele mantinha o mesmo estilo de sempre, camisetas de heróis, bermudas e tênis. Eu demorei horas pra escolher uma roupa, por quê? Era só um amigo, mas ele usou o termo ‘encontro’ e o mundo sabe o que isso significa. Acabei escolhendo um vestido confortável e meu belo all star branco de sempre.
- Temos uma princesa muito bonita por aqui.
- Para . Bem menos.
- Eu vou continuar elogiando você gostando ou não. Então um “Obrigada” está suficiente.
- Obrigada. – Eu disse sorrindo.
Tudo estava fluindo muito bem. O filme foi legal, demos uma volta no shopping, tomamos sorvete e então eu pedi uma foto.
- Por favor . Estamos nos reencontrando depois de 11 anos. Você odeia fotos, eu sei, mas precisamos registrar isso.
Foi mais fácil do que pensei convencê-lo. Tirei meu telefone da bolsa, assim que acendi para desbloqueá-lo vi uma foto em que estava com . Estava em seus ombros, estávamos na praia depois de mais uma vitória do time. Senti minhas bochechas ficarem vermelhas e abri a câmera rapidamente. Mudei para a câmera frontal e foi quando finalmente prestei atenção em como o estava mais bonito. Eu sorri e ele também sorriu. Decidi aproveitar a boa vontade dele e tirei muitas fotos. Sorrisos, caretas, abraços, mais sorrisos e mais caretas. Tínhamos o book do reencontro perfeito.
Ainda com ele decidi postar duas das fotos que tiramos. Em uma estávamos sorrindo e na outra eu estava abraçada nele, com ele tirando a foto. Na legenda coloquei “Depois de 11 anos nada mudou. Que bom que você voltou. A companhia mais doce.”. Coloquei alguns emojis no final e publiquei. Ele comentou e vários amigos nossos comentaram em seguida sobre estarmos juntos de novo.

***


Depois de voltar pra casa, decidi ver algumas notificações na foto que postei com o e uma das curtidas na foto era do . Por alguns instantes pensei em mandar mil mensagens para explicar o que estava havendo, mas depois repensei e vi que tudo o que tinha com o acabou e ele quem quis assim. Não demorou muito e o próprio mandou uma mensagem.
“Você já arrumou outro namorado? Não fazem nem seis meses que me mudei, pelo visto eu não tinha essa importância toda.”
“Ele não é meu namorado. Você foi embora porque quis. Eu tentei dizer a você o quanto te amava, quis ir junto comigo e a gente começaria juntos. Você me disse não. Você terminou tudo. Você foi embora. Não joga os seus erros pra cima de mim.”

Silêncio total. Nenhuma mensagem mais. Mas um barulho soava atrás de mim. A campainha. Desci as escadas e abri a porta. estava ali, com uma flor em mãos. Um copo de leite, ele sabia que eram as minhas flores preferidas desde pequena.
- Por favor me diz que você ainda gosta de copos de leite!
- Você me conhece como ninguém. Ainda são minhas favoritas.
Ele me entregou a flor e eu o convidei para entrar. Ele perguntou se poderia tirar uma foto minha com a flor e eu não neguei. Ele adorava fotografar, me dirigiu e fez a foto da melhor forma que agradava seus olhos. Veio me mostrar a foto e eu fiquei impressionada em como ele não perdia a prática. Demorei a perceber, mas quando levantei o os olhos do celular ele estava mais próximo a mim. Eu não queria me afastar, então me aproximei mais e pude sentir sua respiração bater contra minha pele. Percebi seus olhos indo em direção a minha boca e em um movimento involuntário me aproximei mais e juntei nossos lábios. Sua língua pedia passagem e eu não demorei a ceder. O beijo era calmo e intenso ao mesmo tempo. Não tínhamos pressa, mas queríamos um ao outro. Levei minhas mãos em direção a sua nuca e ele me envolveu pela cintura. Eu não fazia ideia do que estava gostando, mas não queria parar. Por um momento abri os olhos e vi a imagem de bem ali, na minha frente. Cortei o beijo e o afastei no mesmo instante.
- Desculpa. Eu ainda não estou pronta. Não estou pronta pra você. Você apareceu pra mim e eu adoro você, mas você me pegou saindo de algo que eu não estava preparada pra perder. Desculpa.
Senti meus olhos marejarem e subi as escadas apressadamente. Entrei no quarto e bati a porta com força. Naquele momento eu só queria que o não tivesse ido embora, não queria ter conhecido o , ter me apaixonado por ele e estar vivendo tudo isso agora. Senti meu celular vibrar e fui até ele.
“Eu não vou te pressionar. Quero que saiba que não vou te magoar. Eu gosto de você. Eu tô aqui agora. Pensa nisso.”


Parte III

Os dias iam passando e eu tentava evitar o o máximo que podia. Ele morar de frente pra mim não ajudava muito. Passei a sair menos de casa, apenas indo pra faculdade. Eu sabia que ele poderia ir até minha casa a qualquer momento, só não esperava que fosse tão rápido.
A campainha de casa tocou e ouvi a voz dele conversando com minha mãe lá embaixo.
- Oi tia. ta por aí? Não falo com ela há alguns dias.
- Oi . Ela está lá em cima no quarto dela. Você sabe o caminho. Pode ir. - Ele agradeceu e subiu as escadas.
Eu já estava sentada na cama de frente para a porta aguardando a presença dele ali. Ele levou um susto de leve ao me encontrar já a sua espera. Olhou-me nos olhos em uma tentativa de pedir permissão para entrar e eu apenas balancei a cabeça em afirmação.
- Antes de mais nada... – Ele começou enquanto sentava ao meu lado. – Eu lhe devo desculpas. Não deveria ter lhe beijado, sei que está em um momento delicado e eu não respeitei.
Por um segundo criei coragem que nunca tive na vida e me aproximei rapidamente unindo nossos lábios em um beijo. Não sabia o que estava fazendo, apenas fiz. Ele não se afastou, apenas contribuiu para que o beijo se intensificasse. Ele interrompeu o beijo e eu retornei à minha posição de antes.
- Mas... Agora eu estou confuso.
- Você me pegou saindo de um erro. Não foi um erro o meu relacionamento com o , mas foi um erro ter me privado tanto. E foi um erro maior ainda ter tentado afastar você de mim. Você apareceu de surpresa, está me fazendo baixar a guarda. Eu não imaginava que fosse querer me entregar tão rápido pra alguém outra vez. O foi especial, mas você... – Disse passando a mão em seu rosto. – Você foi o meu primeiro amor. O amor da infância. Não me imaginava te contar o que estou contando, mas aqui estou eu.
- Não . Você foi o meu primeiro amor. Me separar de você foi a coisa mais difícil que fiz na vida e não perdi a oportunidade quando pude voltar. Eu sabia que não encontraria você do mesmo jeito que deixei. Mas estou aqui pra você agora. Não quero que apague o que viveu pra estar comigo, só quero uma chance. Só uma chance.
- O destino quis que a gente se reencontrasse no nosso lugar preferido. Depois de muito tempo isolada eu escolhi aquele dia pra sair de casa. E você estava bem ali pronto pra me sujar de sorvete de abacaxi. – Ele sorriu e eu também. – Você chegou e eu te adoro mais ainda por ter voltado. Te adoro por ser meu melhor amigo. Te adoro por ser parte de mim.
- Você lembra de quando estudávamos juntos na infância e você descobriu que eu gostava de uma garota? Você quis a todo custo me ajudar, disse que eu deveria escrever uma carta pra ela e fazer um desenho muito bonito e ela ia adorar. Foi o que eu fiz, quando eu ia colocar a carta nas coisas dela, eu a ouvi conversando com uma amiguinha sobre o garoto que ela achava mais bonito da sala. Não era eu o mais bonito. Mas era você a garota. – Seu queixo cedeu automaticamente.
- Então eu estava ajudando você a me conquistar? Nós tínhamos 6 anos.
- Eu sempre soube o que quis. Sempre soube que era você.
- Meu Deus, vem cá. – O puxei mais para perto e depositei outro beijo em seus lábios. – Eu nem sei o que dizer.
- Só diz que sim. Diz que mesmo não estando pronta você quer tentar. Podemos ir com calma, podemos nem mesmo ser um casal, mas eu só queria estar ao seu lado. Todos os dias, a partir de hoje.
- Sim. Sim. Sim. Eu não sei onde isso vai dar, mas quero descobrir.

***


Naquela mesma noite, depois que o foi pra casa, peguei uma das fotos que tínhamos tirado no dia do cinema decidi postar. Pensei em escrever um texto enorme dizendo o quanto ele era especial, mas eu sempre fui de poucas palavras, quem adorava textão era ele. Fui curta e simples “E quando eu estava sozinha, ali estava você. E quando eu era uma criança aprendendo a andar de bicicleta, ali estava você. E aqui estou eu, aqui está você. Você salvou minha vida. É o melhor de mim.”, finalizei com alguns emojis e publiquei. A resposta dele veio no mesmo instante “Você é o melhor de mim, minha companhia, meu sorvete de doce de leite, minha melhor amiga. Minha! (?) Amo você.”. Ah, se aquela não fosse a melhor resposta, não sei qual era.

Meses depois


As semanas corriam e eu e o continuávamos mais próximos, saíamos juntos, nos divertíamos, ele era a melhor companhia possível. Entretanto estava na hora da gente assumir um relacionamento. Ele sabe que eu adoro fotografias e eu disse que se fosse pra assumir teria que ser com a nossa melhor foto.
- Eu não gosto de fotos, .
- Mas eu adoro, . Você sabe que eu adoro fotos, agora você quer, por favor, colaborar?!
- Tudo bem. Você manda.
Comecei a dirigir como ficaríamos na foto, eu sempre fui dramática e adorava uma produção. Ele sabe bem disso. Colocou o celular para disparos múltiplos e esperou que eu explicasse como tudo funcionaria para apertar o botão. Eu pedi para que ele me envolvesse com seus braços, especificamente na cintura, eu passaria meus braços em volta do seu pescoço. Estávamos contra a luz, só nossas silhuetas apareciam. Ele apertou e veio para a posição combinada. Tínhamos 3 fotos. Uma de nós nos olhando, uma sorrindo um pro outro e uma com um leve selinho.
Eu estava apaixonada pelas fotos e pelo também. Já fui direto para postar, sem filtros, só eu e ele. Na legenda coloquei “Você salvou minha vida. Você foi, voltou e agora está aqui ao meu lado. Eu te amo.”, publiquei e a chuva de comentários começou loucamente. A gente ria de quantas vezes lemos “Até que enfim” ou “Eu sabia”. Eu estava completamente feliz e realizada depois de muito tempo.

2018


Eu estava mais ansiosa que nunca. Faltavam poucos dias para o meu casamento com . A gente não demorou para tomar a decisão do casamento, somos amigos desde sempre e nossa amizade se tornou o amor mais puro e verdadeiro que existe.
- Você está ansiosa?
- Muito. Não estamos esquecendo nada, não é? Eu tenho tanto medo de algo dar errado.
- Tudo dará certo. Estamos juntos, é suficiente.
- Já disse o quanto te amo hoje? – Dei um beijo terno em seus lábios e fui andando em direção ao carro. Iria ao shopping com umas amigas para fazermos as compras finais para a noite de núpcias.
A tarde fluiu super bem. Meu telefone tocou uma vez e eu ignorei. Tocou a segunda vez e continuei ignorando. Na terceira vez eu decidi atender. Peguei o telefone e olhei o visor. Por que ele estava me ligando? Atendi, hesitando.
- Sentiu saudades? – Pude ouvir a voz dele.
- Na verdade, não. O que você quer?
- Você. Estou de volta. Onde você está? Vamos matar as saudades.
- O quê? Eu vou me casar. Seu tempo passou.
- CASAR? – Escutei um berro e afastei o celular do ouvido. – Mas e nós?
- Você não pensou em nós antes de ir. Nem sequer cogitou a possibilidade de me querer por perto. Não me procure mais.
Desliguei o telefone e me despedi das meninas indo em direção a minha casa, no caminho pedi para o me encontrar lá com urgência.
- Amor? Cheguei. Você está aqui? – O disse e eu já estava no quarto.
- Sobe. Rápido.
Ele subiu apressadamente, provavelmente achou que eu estava morrendo ou algo do tipo.
- O que foi?
- Ele voltou. – Ele fez uma cara confusa. – . Ele me ligou. Quer me ver.
fez uma cara de surpresa, espanto, medo, preocupação. Não conseguia descrever o que estava vendo.
- Eu não vou até ele, . Vamos nos casar em menos de uma semana.
A expressão dele mudou para alívio. Como ele cogitou pensar que eu iria atrás dele?! Um absurdo.

***


O dia do casamento chegou. Eu já estava maquiada, vestida, com buquê, apenas esperando o sinal de alguém. Minha mãe saiu do salão e me deixou sozinha por alguns instantes. Eu me olhava no espelho deslumbrada com tanta beleza. Ali estava eu, de noiva. iria adorar.
Entrei na igreja acompanhada do meu pai. Chorei. chorou. Meus pais choraram. A cerimônia começou e nós estávamos nos olhando a cada segundo possível. Eu tinha um sorriso imenso e ele também. Durante a cerimônia estávamos ouvindo a parte do “Se alguém tem algo contra esse casamento, fale agora ou cale-se para sempre”, a igreja estava em silêncio total até que a porta foi aberta e ali foi um revelado um com uma cara debochada.
- Eu não acredito que você vai se casar com ele. Depois de tudo o que vivemos.
- , vá embora. Não acabe com esse momento. – Eu já estava chorando e ria da minha cara.
- Amor, fica calma. Não vou deixar nada atrapalhar esse momento.
- Desculpa. Eu não estava pronta pra você. Você salvou minha vida, me recuperou, me trouxe felicidade de novo. Mas acho que ainda não estou pronta pra você.
- Você não vai a lugar nenhum, . Nós planejamos tudo isso, planejamos uma vida juntos. É o nosso destino.
- Eu te amo .
- Eu te amo .
A cara de foi impagável. Se por um instante ele cogitou a possibilidade de que eu iria embora com ele e deixaria o ali, ele realmente não me conhecia. Eu estava onde deveria estar, casando com a pessoa certa.




Fim!



Nota da autora: Alô alô gente bonita. O que acharam da história de hoje? Essa música me incentivou a escrever essa história que já estava no meu coração há um tempo. Se vocês gostaram, não deixem de comentar aqui embaixo. XOXO, Iana





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