Sempre que Jimin retornava a Busan, seu coração sentia uma leve palpitada e, ao mesmo tempo, era aquecido pela tão conhecida sensação de estar em casa.
Girou a maçaneta, enquanto arrastava a mala, adentrando o local. Ele sabia que a casa continuava milimetricamente organizada mesmo antes de entrar nela, porque havia a deixado em boas mãos. Antes que pudesse começar a subir as escadas, o rapaz de olhos castanhos apareceu a sua frente, com seu avental cor-de-rosa e um semblante irritado.
— Por que não esperou que eu te buscasse no aeroporto? — Era engraçado vê-lo assim. As mãos na cintura, meio zangado com a situação. O avental combinava com ele.
— Sim, fiz boa viagem, Jeongguk. Obrigado por perguntar. — Respondeu com um pouquinho de ironia no tom de voz.
— Ah, me desculpe. — O mais novo se aproximou, dando um abraço apertado.
O cargo de Marechal na Aeronáutica fazia Jimin passar longos meses fora de casa, o que tornava a saudade de Jeon cada vez maior. Apesar de saber que servir à pátria sempre foi o seu sonho, ainda sentia como se o tempo longe de Jeongguk fosse uma eternidade. Encontravam-se de tempos em tempos, em seus períodos de férias. Há um ano atrás, viram-se pela última vez no portão de embarque do aeroporto.
— O que está cozinhando? — Jeongguk continuava o abraçando, conseguia ouvir perfeitamente seu coração bater tão próximo ao seu.
— Não estrague o momento, Jiminie, estou matando a saudade de tê-lo perto.
Tudo continuava igual, inclusive os lábios do mais novo. Tão macios como da última vez que se lembrava. Era como se não sentisse o calor dele há séculos, mas ainda se lembrasse de cada sensação de tê-lo consigo.
— Eu senti tanto a sua falta. — Disse o outro, enquanto suspirava com os lábios encostados nos do mais velho.
Mesmo que já não fosse tão jovem, Jeongguk ainda tinha os mesmos dentinhos infantis. Jimin amava isso porque eram nesses pequenos detalhes que via o mesmo garoto pelo qual se apaixonou na adolescência.
— Também senti a sua. — Acariciou o rosto do mais novo, que pensava há quanto tempo esperou para ter aquele toque novamente.
— Seu perfume é novo. — Falou ao se afastar, com os dedos do mais velho entrelaçados ao seus. — Eu gostei. Estou fazendo bulgogi, quer me ajudar?
— Claro. — Não conseguiu deixar de sorrir quando viu o quão empolgado Jeon estava.


O que Jimin mais sentiu falta em todo o tempo que estivera fora, foi a sensação do corpo do mais novo próximo ao seu. Aquele dia estava frio, então a proximidade dos corpos na cama era quente e acolhedora. Ele queria poder ficar ali, tão próximo a ele, por toda a eternidade.
Sempre que voltava, lembrava-se dos momentos que passaram juntos e de como, mesmo com o passar dos anos, a intimidade e o sentimento dos dois continuavam os mesmos. Por muito tempo, enquanto esteve longe, teve medo de que se afastassem não apenas fisicamente. Era assustador pensar nisso porque ele não imaginava uma vida sem Jeongguk o esperando sempre que voltasse para casa.
— Hyung, está acordado? — O mais novo perguntou e o mais velho murmurou qualquer coisa inaudível enquanto se encolhia no corpo dele.
— Está tão cedo. Deixe-me dormir!
— Quero te mostrar uma coisa. — Jeongguk tentou sacudir seu corpo enquanto distribuía alguns beijos pelo seu pescoço. — Por favor!
— Você parece uma criança às vezes. Não vale tentar me acordar com beijos, é golpe baixo. — Tentou tirar o rosto do mais novo do seu pescoço, mas sem sucesso. — O que quer me mostrar?
— É um lugar. — Jimin se aconchegou no peito do mais novo novamente, tentando fazer com que ele não se levantasse da cama. — Por favor, Jiminie!
— Aonde quer me levar?
— É surpresa. E é melhor levar um casaco, está muito frio lá fora. — Levantou-se, deixando um Jimin emburrado por ter sido deixado de lado na cama.


O tempo estava realmente congelando, era inverno e mesmo que tivesse colocado seu casaco mais quente, ainda sentiria os ventos gelados baterem em seu rosto. Jimin não sabia para onde o mais novo o estava levando, mas já andavam há alguns minutos. Durante o caminho, Jeon contou o que havia feito no seu dia e de como tudo estava na ausência dele. Os dois conversavam todos os dias enquanto estavam separados, mas era muito melhor quando estavam juntos. Podiam pegar na mão do outro, enquanto Jeon falava sobre os últimos anos na faculdade, do trabalho e dos cursos de desenho que fazia.
Não foi uma decisão fácil quando decidiram morar juntos. Jimin demorou muitos anos para chegar ao cargo que queria na Aeronáutica. Quando conseguiu, ficou muito mais ausente do que nas outras vezes. Além disso, seus pais não foram condizentes com a decisão de viver junto a outro homem, a relação de Jeongguk com os seus também era muito complicada para ter apoio em qualquer coisa.
Jeongguk tinha alguns trabalhos provisórios enquanto esperava o diploma da faculdade. A parte mais difícil era que, mesmo tendo o apoio do mais velho, o rapaz demorou muito tempo para correr atrás das coisas que queria e, mais ainda, para saber o que realmente gostava de fazer. Parte dessa demora era que ainda se sentia muito velho para terminar um curso na faculdade, e, por outro lado, foi muito difícil conseguir se desvencilhar da relação com seus pais para seguir os seus sonhos.
O lugar não era tão longe. Caminharam durante uns vinte minutos até chegar em um estabelecimento que ainda não estava aberto. Era mais afastado das outras lojas e muito mais discreto, sem nenhuma placa aparente. Jeongguk abriu a porta do lugar com uma das chaves que estavam em seu bolso. Jimin percebeu que o lugar era pequeno e arrumado. Não havia muitos móveis, e não estava decorado, haviam apenas algumas prateleiras e balcões.
— O que está acontecendo…? — Perguntou visivelmente confuso.
— Eu comprei este lugar. É meu… quero dizer, é nosso. — Jeongguk nunca escondia nada de Jimin. E talvez esse tenha sido o motivo pelo qual os seus olhos estivessem em pânico, ele estava com medo da reação do mais velho.
— Você o quê? — Tentou não parecer desesperado com a situação, principalmente quando percebeu o olhar quase envergonhado do outro. Não havia funcionado, porque agora estava com medo e envergonhado.
— Venho juntando dinheiro há um tempo. Queria ter te contado antes, mas… não tive coragem. — Jeon havia juntado toda a coragem que conseguia para dizer aquelas palavras.
— Tudo bem. — O mais velho tentou acalmá-lo de alguma forma, mesmo que no fundo só conseguisse pensar no quanto de dinheiro ele havia gasto com aquilo. — Mas o que você pretende fazer com esse lugar? — Perguntou, olhando para Jeon, que a todo momento tentava desviar os olhares dele.
— Montar um estúdio de tatuagem. — Falou muito rápido. — Você vai dizer que é loucura, mas eu passei tanto tempo sem saber o que fazer e você sabe como me sinto perdido na maior parte do tempo. Sei que pode dar errado e você pode até me chamar de idiota, mas eu quero muito tentar, eu quero muito que dê certo. — Jimin tinha quase certeza de que Jeongguk poderia chorar a qualquer momento, o que fez seu coração doer. Não via seus olhos tão preocupados com alguma coisa há muito tempo.
Jimin queria ouvir qualquer traço de confiança na voz de do mais novo, mas a verdade era que ele nunca teve muita certeza de suas escolhas, o que era uma preocupação constante para ambos. Isso fez com que o mais velho se lembrasse de todas as vezes que Jeongguk deitava a cabeça em seu ombro quando se sentia perdido, esperando que seu toque o acalmasse. Aquela cena havia se repetido tantas vezes, por inúmeros motivos, que Jimin tinha certeza de que era disso que ele precisava naquele momento.
O mais velho não conseguiu formular nenhuma frase antes de quebrar a distância entre os dois, dando o abraço mais apertado que conseguia. Começou a pensar em quanta coisa havia perdido na vida de Jeongguk por estar tão distante fisicamente. Queria fazer parte dessas decisões, ajudá-lo a pensar no que poderia fazer, estar do seu lado quando tivesse dúvidas. Muitas vezes sentia que estava ausente nos melhores momentos da sua vida. E isso doía.
— Eu entendo os seus medos e preocupações, mas eu sempre te apoiei nos seus planos. — As mãos pequenas de Jimin acariciavam as costas do outro. — Eu queria ser o primeiro a saber disso. Por que demorou tanto tempo para me contar?
— Você não está bravo comigo? — Jeon perguntou, escondendo seu rosto no pescoço de Jimin. — Eu queria ter te contado antes. Foi muito difícil tomar essa decisão. Tudo isso é muito complicado para mim, você sabe.
— Por que eu estaria? É a primeira vez em anos que te vejo tomar uma decisão grande assim. Olhe para mim, Jeonggukie. — Ele o fez e olhou nos olhos do mais velho. — Você falava tanto que não conseguia fazer as coisas e agora está tomando esse passo tão grande. Estou muito orgulhoso de você.
O coração de Jeongguk aqueceu. Sentia-se tão grato por ter alguém como Jimin ao seu lado. Mesmo depois de tantos anos ainda ter alguém que te apoie em tudo era um alívio. Sua mente e ansiedade às vezes diziam que tudo daria errado, mas, naquele momento, a única coisa que importava era o que Jimin tinha a dizer.
— Desde que você voou pra longe de mim eu venho sentindo tanta falta de fazer algo. Acho que passar tanto tempo sozinho me fez pensar em algumas coisas.
— Mas eu também quero que você voe para longe, Jeonggukie. Quero que seja a pessoa mais feliz do mundo. Sei que às vezes parece que o tempo está passando e você não está aproveitando, mas eu sempre te digo que você tem que achar o seu próprio tempo.
— Então você acha que vai dar certo? — Perguntou ainda incerto. Ele não sabia o porquê, mas Jimin era a pessoa que ele mais confiava. Precisava tanto do seu apoio, mais do que o de qualquer outra pessoa.
— É claro que eu acho. Você sabe que eu sou a pessoa que mais ama os seus desenhos. — Finalmente Jeon pôde ver aquele sorriso no qual podia tanto confiar. Um peso enorme saiu das suas costas depois disso, parecia que conseguia respirar novamente.
— Eu sei. Aliás, fiz um para você esses dias.
— E por que não me mostrou?
— Porque é o mesmo de sempre, um dos seus aviões. — Jeongguk deu um pequeno sorriso, que Jimin interpretou como um convite para selar seus lábios nos dele.
— E eu te amo por isso.
— Estou tão feliz por você ter voltado, hyung. — O mais novo voltou a abraçá-lo, encostando a cabeça em seu ombro.
— Eu também estou muito feliz por ter voltado para você, Jeonggukie. Nós estamos juntos, eu sei que vai dar tudo certo.


Apesar da rotina cansativa e da convivência com o preconceito com tatuagens na Coréia do Sul, dez meses depois, tudo foi se encaminhando. Depois de um tempo sem clientes, Jeon teve a sorte de tatuar Min Yoongi, um rapaz simpático que, dias depois, descobriu ser um rapper muito famoso. Ele não acreditou quando outras pessoas apareceram por recomendações de Yoongi.
O estúdio havia dado certo e Jeongguk estava feliz.
Ele até precisou de alguém que o ajudasse no lugar. Contratou Taehyung que além de ser um ótimo ajudante, tornou-se um grande amigo.
A relação com Jimin continuava distante, mas apenas fisicamente. Conversavam todos os dias e o mais velho estava tão orgulhoso por Jeongguk estar feliz e realizado que isso era o suficiente para não se preocuparem tanto com a distância.
Aquele estava sendo um dia bem agitado, assim como todos os outros. O lugar agora não era tão vazio e possuía alguns móveis comprados com o esforço de Jeongguk. Estava tarde, e assim como toda noite, o casal conversava por chamada de vídeo.
— Você não vai acreditar nos jogos que o Taehyung tem! Nós passamos algumas horas jogando hoje. — Jeon olhou bem para a tela do aparelho que segurava.
Jimin parecia cansado, dava para perceber pelas olheiras e pelos bocejos que o rapaz dava. Provavelmente aquilo era fruto das poucas horas de sono e dos horários em que conversavam, sempre de madrugada. Jeon sempre perguntava se poderia ligar em outro horário, insistindo para que descansasse, mas o mais velho sempre negava, dizendo que não tinha muito tempo durante o dia e aquele era o melhor horário.
— Parece que você está bem feliz com ele. — Sua voz com tom de deboche fez o mais novo rir.
— Não acredito que está com ciúmes! Ele tem namorado, se você quer saber. E eu também. — Ainda ria e Jimin agora revirava os olhos, mas logo acompanhou a sua risada.
— Não tenho culpa se toda vez que eu te ligo você está falando dele!
— Não fale assim, hyung! Você também vai gostar muito do namorado dele, ele é muito inteligente. Podemos sair todos juntos quando você voltar.
— Mal posso esperar para conhecê-los. Mas infelizmente não sei quando volto. — Jeon desfez o sorriso, sem tirar os olhos daquela pequena tela, mirando nos olhos de Jimin.
— Estou com saudades.
Era tão difícil ficar longe dele. Jeongguk sentia falta das conversas, dos conselhos, dos abraços, e de como era bom ter o corpo dele próximo ao seu. Às vezes sentia que os dias que passavam juntos nunca seriam suficientes para recompor todo o tempo que ficaram separados. E aquilo apertava o seu coração, porque queria muito que ele estivesse presente em todos aqueles momentos.
— Eu também. Você nem imagina o quanto. — Suspirou, enquanto tentava dar um sorriso para amenizar a situação. — Mas, ei, aquele ali é um desenho meu? — Jimin olhou para a parede atrás de Jeon, em que alguns de seus desenhos e esboços ficavam pendurados.
— É nosso, na verdade. — O mais novo aproximou-se do desenho, para que pudesse mostrá-lo com mais clareza para Jimin.
— Está lindo. Você nunca se desenhou antes. — Ele abriu um sorriso lindo ao vê-lo mais próximo.
— Achei que você estava muito solitário neste. — Jeongguk sorriu ao apontar para a figura. Orgulhava-se muito das últimas ilustrações que estava fazendo, principalmente porque seus clientes também gostaram. A única coisa que faltava era o seu hyung estar ali para vê-los pessoalmente. — Quando vêem você nos meus esboços sempre me perguntam quem é.
— É mesmo? E o que você diz?
— Eu falo muito sobre você quando me perguntam. — Sorriu sem graça, principalmente quando viu o sorriso de Jimin. Os olhinhos fechados sempre o faziam ruborizar, era uma graça.
— Queria poder falar de você para os meus amigos aqui também. — Lembrou-se dos momentos que esteve reunido com seus amigos do trabalho, em que comentavam sobre suas famílias. Jimin nunca poderia falar sobre Jeon, e era um assunto complicado no seu trabalho e no país em que viviam. Se lamentava muito por não ter um amigo para quem pudesse conversar sobre esses assuntos.
— Hyung, por que não vai dormir? Parece exausto. — O mais novo o encarou com os olhinhos preocupados.
— Você não parece melhor do que eu. — Ele riu enquanto dava seu último bocejo.
— Hoje foi um dia agitado. Tenho que ir para casa, já está tarde. Por favor, descanse bem, hyung. Até amanhã.
— Até amanhã, Jeonggukie. Eu te amo.
— Boa noite, Jiminie. Eu também te amo.

Nota da autora: Sem nota.



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