Capítulo Único
Aquela era a quarta vez que eu deixara na mão naquele mês. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo e não tinha ideia de como tentar explicar o motivo de meu atraso sem contar a verdade. Era injusto eu continuar mentindo para minha namorada. Eu não sabia como, mas eu tinha que fazê-la entender.
Era para eu chegar ao apartamento às oito, no entanto, já se passava das nove e meia e eu ainda dirigia pelas ruas cheias de Londres. Os motoristas em minha frente se moviam em uma lentidão tão grande que me faziam acreditar que, se eu fosse a pé, chegaria mais rápido ao meu destino. Olhei para o velocímetro para rir da velocidade. Assustei-me quando vi que estava a 50 km/h e não a 20, como eu supunha.
Finalmente consegui chegar em frente ao apartamento e abri a porta, já preparado para a cara zangada que minha namorada faria. Ela, com toda certeza, iria querer conversar comigo, no intuito de saber o que estava acontecendo para eu estar tão desleixado com nosso relacionamento, e eu estava pronto para contar à ela. Aquele era o momento.
Mas, diferente do que eu imaginava, possuía uma feição serena e triste, sentada, com uma taça de vinho na mão, no sofá da sala. Percebi que sua maquiagem estava completamente borrada. Entrei no apartamento, preocupado com o motivo dela estar chorando e vi que, em cima da mesa, um jantar extremamente romântico estava preparado. A gente estava comemorando alguma coisa e eu não estava sabendo?
Retirei meu casaco e o coloquei em uma mesa, junto com a chave do meu carro. Fui em direção a ela para acalmá-la e fazer com que ela me contasse o que estava havendo, mas ela não me deixou abraçá-la. Em um átimo, se levantou e me encarou com fúria nos olhos.
- O que aconteceu dessa vez, ? – perguntou, ríspida. – O trânsito de novo? Algum trabalho da faculdade?
- Eu... – eu não podia lhe contar o motivo real enquanto ela estava naquele estado. Não podia. Eu iria acalmá-la antes de dizer a verdade. – Por que você está chorando, ?
- Só fala, ! Só me fala o porquê de você ter se atrasado para o nosso aniversário! – os lábios dela tremeram enquanto ela se esforçava para não chorar em minha frente.
Nosso aniversário? O quê... não era possível que aquele era dia 15 de março. Não era possível! Eu esquecera do nosso aniversário de 3 anos, era isso mesmo?
percebeu que eu não fazia ideia de que aquela era uma data comemorativa para nosso relacionamento. Ela rolou os olhos e apenas se afastou mais de mim, se direcionando para a cozinha.
Eu fiquei lá, parado, sem saber o que fazer ou o que dizer para contornar a situação.
- , amor...- eu disse quando cheguei na cozinha, tentando fazer com que ela parasse de guardar todo o jantar que tinha preparado.
- Não vem com “amor”, . Essa não é a hora para você fazer isso – ela se afastou de mim novamente e vi lágrimas descendo de seus olhos. Doía tanto vê-la chorar e doía mais ainda eu ser o motivo para aquilo. Mas eu não entendia como uma garota forte como ela estava chorando por um esquecimento. Com toda certeza tinha algo mais acontecendo.
- Olha... Eu sinto muito – fiz com que ela parasse em frente a mim e limpei as lágrimas que desciam em seu rosto, fazendo, com que assim, ela olhasse em meus olhos. – De verdade. Eu não esqueci que a gente está fazendo três anos de namoro, só não sabia que hoje era dia 15. Só isso.
- E por que você não sabia? Por que você não veio? – ela perguntou com uma feição tristonha, especulativa.
Ela iria me odiar para sempre se eu lhe contasse tudo naquele momento. O que eu faria? Eu teria que mentir novamente? Eu queria aliviar aquela dor que via nos olhos dela e não aumentar, então, decidi seguir pelo caminho mais fácil e o mais errado.
- Eu comecei a estudar para a prova de semana que vem e acabei dormindo em cima do livro. Eu sinto muito mesmo, . Não era para eu ter me atrasado dessa vez – desviei os olhos dos seus enquanto contava a história inventada.
Eu não vi o alívio em sua postura. A única coisa que vi foi um sorriso doloroso, irônico, incrédulo, surgir em seus lábios enquanto mais lágrimas brotavam em seus olhos. começou a balançar a cabeça e gargalhou dolorosamente, se afastando de minhas mãos. Eu não tinha a mínima ideia do porquê daquela reação.
– Eu sei que esse não é o real motivo para você estar chorando. O que aconteceu?
- Então essa não é a primeira vez – ela sorriu, afirmando algo para si mesma que eu não fazia ideia do que se tratava.
- Eu acho que eu não sei do que você está falando – disse confuso.
- Você já mentiu sobre isso antes, não é mesmo? Você... você... Droga! Eu não acredito que pensei que você realmente tinha parado, ! Não acredito que fui tão estúpida a esse ponto! – ela agora estava com a voz mais alta.
- Eu menti sobre o que? Eu não estou conseguindo te acompanhar aqui - do que ela estava falando? Era impossível ser do que eu estava pensando, certo?
- Você voltou a correr, caralho! Você voltou a participar daquela merda de racha e não pensou em me falar! – ela disse, trêmula.
As minhas cordas vocais pararam de realizar sua função por um segundo.
- Quem...quem te contou?
- Sério que é com isso que você está preocupado? – ela perguntou, irônica, levantando a sobrancelha. – Para o seu conhecimento a Carrie estava assistindo a corrida com o namorado dela e imagina para quem ela ligou assim que viu você entrar naquela porra de carro para tentar se matar?
Quando começava a usar palavrões eu sabia que a situação estava super séria. Mas eu tinha que assumir as consequências, não me importava como.
Cocei minha nuca, reação que sempre tinha quando não sabia o que fazer, e xinguei Carrie mentalmente. No entanto, no fundo, eu sabia que eu era o único culpado e que Carrie só tentara ajudar sua melhor amiga. Eu era o filho da puta mentiroso. Eu era o errado.
- Eu, - engoli em seco antes de continuar – eu ia te contar, . Eu juro que ia.
- Quando, ? Quando você ia me contar? – ela perguntou, cruzando os braços sobre os seios. – Quando eu tivesse que ir correndo para o hospital para assinar os papéis para uma cirurgia de urgência ou quando eu estivesse no IML para reconhecer o seu corpo?
- Por favor, ! Não vamos brigar por causa disso. É nosso aniversário de 3 anos, lembra? – recorri à primeira coisa que pensei, tentando arranjar alguma maneira de amenizar a situação.
- Ah! Agora você lembrou! Que ótimo, não é mesmo? Só me pergunto o porquê de você não se lembrar enquanto estava naquela corrida de merda e não aqui para comemorarmos! – ela falava rápido enquanto andava, de um lado para o outro, gesticulando e apontando seu dedo para mim sempre que ficava um pouco mais exaltada. - Porra, ! Você me prometeu que tinha parado! Falou que nunca ia fazer aquilo de novo depois do que aconteceu com meu tio. Isso não é nem um pouco justo comigo, sabia?
Ali estava o principal motivo para eu me sentir tão mal em ter voltado a correr: para , aquilo era extremamente doloroso. Seu tio estava na UTI por causa de um acidente na corrida profissional e tudo o que ela pensava era em como um acidente tão fatal podia acontecer comigo nas rachas que participava. Eu prometera não entrar mais no carro na intenção de participar de alguma corrida, mas, sem perceber, eu havia quebrado a promessa duas vezes e estava me sentindo completamente mal por isso.
- Eu sei, caralho! Eu sei. – eu não estava perdendo a paciência. Ela estava em seu direito de ficar nervosa. Mas eu não sabia como explicar para ela aquilo que sentia sempre que entrava em um carro de corrida. Não sabia explicar para minha namorada que eu não lhe contara o que estava fazendo por ter medo de perdê-la, exatamente por não querer largar aquela sensação. – Eu sinto tanto...
- Para de dizer que você senti muito, porque eu sei que não sente porra nenhuma! Olha o tanto de palavrão que eu estou falando... eu, eu não quero mais me sentir assim, . Eu não posso mais me sentir tão... – ela respirou fundo, secando algumas lágrimas que teimavam em cair.
- Olha nos meus olhos, – ela fez o que pedi. – Eu te amo. Mais do que eu já amei qualquer pessoa em minha vida, mais do que eu posso imaginar amar qualquer pessoa. E eu sinto muito. De verdade. Eu sinto muito por não ter sido forte o bastante para não voltar para as pistas, mas isso não muda nada do que eu sinto por você. Eu nunca vou sofrer um acidente, amor. Eu sou cuidadoso. Eu sei o que estou fazendo, e nunca vou bater o carro do jeito que seu tio fez.
- Eu queria tanto acreditar nisso.
- Você acha que eu estou mentindo?
- Você acha que não está mentindo, mas eu sei que está – ela apertou os lábios antes de voltar a falar, como se já estivesse se arrependendo do que estava prestes a dizer - Eu queria acreditar que você me ama tanto assim. Eu queria tanto acreditar que você me ama o bastante para não querer morrer. Mas eu sei que não. Eu já vi isso acontecer antes, . Eu sei que você vai voltar para aquelas pistas de novo e de novo e, , eu não posso mais perder minha sanidade preocupada com o que pode acontecer enquanto você está naquele lugar. Eu não tenho forças o suficiente para te ver morrendo e não saber o que fazer.
- Amor, eu não vou me descuidar tanto. Olha, eu sei o tanto que você está preocupada com seu tio em coma. Eu sei. Mas, , se você soubesse o quão importante isso é para mim... – tentei fazê-la entender, segurando suas mãos.
- Esse é o problema, . Eu sei que é importante e sei que, em algum momento você vai ir tão longe para sentir a sensação que você diz ser tão maravilhosa, que você vai acabar sofrendo um acidente. E eu não quero estar na sala de espera com todas as minhas esperanças e sonhos no chão. À partir de hoje, , eu estou cortando esse sentimento da minha vida.
Em um primeiro instante eu não entendi o que ela estava falando.
- Você...- eu soltei suas mãos, olhando-a em dúvida.
Ela fungou. Agora eu sabia o porquê do choro. Ela estava chorando pois iria me largar.
- Sim, . Eu não posso mais. Eu estou terminando com você.
- , você deveria me amar por quem eu sou, porra! – surpreso e completamente sem fôlego, não consegui diminuir o volume de minha voz.
- Esse não é quem você é. – ela sussurrou, dando de ombros.
- E quem disse que você sabe quem eu sou? – perguntei sarcástico. Eu estava com a minha cabeça tão cheia. Que merda era aquele de se separar quando se amava demais? Aquilo era insano!
- Eu sei porque eu estou com você há 3 anos. Eu sei porque eu vi o que aconteceu quando seu pai te disse que não se orgulhava de você. Você acha que eu não sei que você só entrou para a racha para provar ao seu pai que ele estava errado? Só para falar para o “Sr. ” – ela fez aspas com os dedos ao citar o nome odiado - que você era, ao contrário do que ele achava, corajoso? Você está se tornando uma cópia dele! Você só está encenando um papel para ter a aprovação do seu pai e isso é a coisa mais ridícula que você já fez em toda sua vida!
Toda a compreensão que estava tendo até aquele momento sumiu de dentro de mim.
- Você está completamente errada, e você vai se arrepender por estar terminando assim comigo. – E, então, eu peguei meu casaco e sai. Eu estava tão nervoso que não podia pensar claramente enquanto batia a porta do apartamento dela.
Comecei a descer as escadas, de dois em dois degraus, quando a ouvi me chamando. Meu coração se reascendeu e o ódio diminuiu. Eu sabia que ela iria voltar atrás, que ela se desculparia por ter me acusado de algo que eu não fazia. Não tinha como nos separarmos daquele jeito. Virei-me, preparado para aceitá-la em meus braços e beijá-la como se o mundo estivesse acabando. Lembrei-me como o sexo depois de nossas brigas eram maravilhosos e um sorriso bem malicioso se formou em meus lábios.
Porém, estava no alto da escada, me encarando, com os olhos inchados e com a chave de meu carro na mão. Ela só fora me entregar aquilo? Meu sorriso desapareceu. Peguei a chave e fui embora, determinado a nunca mais me sentir tão quebrado sentimentalmente como estava naquele momento. Era isso. Era o fim.
- Puta que pariu – gritei quando vi a invasão do sol no meu quarto. Peguei meu cobertor e joguei por cima de minha cabeça.
- Puta que pariu digo eu! – uma voz conhecida disse, enquanto me descobria. – Eu não acredito que você estava correndo de novo, !
- Não vem com essa, pelo amor de Deus, ! Eu não quero ouvir mais gente me enchendo o saco só porque eu estava fazendo algo que gosto.
Eu sabia que ele estava rolando os olhos, mas eu não olhei para confirmar.
- Dude, por acaso você sabe que hoje é segunda-feira e que tem uma prova bem pesada no próximo horário? Eu te liguei milhões de vezes ontem e, pelo visto, você não atendeu porque estava fazendo companhia para a vodca!- ele falava tão alto! Qual a necessidade de criar sermões àquela hora da manhã?
- Cala a porra da boca! - gritei, fazendo com que a dor de cabeça se acentuasse. - Se você percebeu que eu estava bebendo ontem você deve saber que estou com ressaca!
- Então levanta porque eu não vou perder a prova por sua causa – ele disse resoluto enquanto tirava o cobertor de cima do meu corpo e se direcionava para a porta - E, só para constar: você é um babaca.
Era aquilo que dava seu melhor amigo ser amigo de sua namorada. , com toda certeza, já deixara inteirado de todos os acontecimentos e, é claro, fui pintado como o cara mal.
- Que prova que a gente tem hoje? – perguntei ao processar o que ele havia dito segundos atrás, me levantando e pegando um remédio para aquela dor de cabeça.
- De cálculo.
- Cacete! – resmunguei, passando a mão em meus cabelos. Eu ia tomar pau naquele período da faculdade, já tinha até visto. – Você estudou alguma coisa?
- Bem, se ler a matéria ontem a noite enquanto assistia o futebol conta como estudar, então eu estudei.
Gargalhei da nossa situação. Tinha como piorar? Ah! No meu caso tinha. Era o primeiro dia que veria depois de nossa separação.
Após me aprontar em tempo recorde, entramos no meu carro – morava perto de mim, então, sempre pegava carona para o campus – e liguei o rádio. Havia quase dois minutos em que estávamos em silêncio, quando decidi fazer a pergunta que queria desde que percebi que ele havia conversado com ela:
- Como ela está? – ok, eu ainda estava puto por ela ter me comparado ao meu pai, mas eu ainda a amava, então, não tinha como não me preocupar com ela.
Ele respirou fundo, entendo de quem se tratava sem precisar perguntar.
- Você precisa perguntar?
- Dude, eu realmente não queria magoá-la. – passei uma das mãos no meu cabelo, tentando largar aquela frustração - Eu sou um filho da mãe.
- É...você é.
- Você acredita que ela falou que eu faço essa besteira de corrida só por causa do meu pai?
Ele riu, mas não foi a risada incrédula que eu queria que ele desse. Ele riu porque concordava com ela.
- Nem vem – cortei quando vi que ele ia trazer aquele assunto à tona.
- , eu sei que nesse momento você não está muito bem, mas você sabe que eu concordo com ela. Em todos os aspectos. Eu estou dizendo, ninguém merece se sentir como ela se sentia todas as vezes que te via entrar naquele carro. Você viu como ela ficou quando chegou no hospital para ver o tio. Você prometeu que nunca voltaria a correr. Dude, sabe que eu odeio dizer isso, mas você está sendo um perfeito idiota fazendo isso de novo.
- Não é pelo meu pai. Eu sei que não é pelo meu pai. – disse, tentando convencer e a mim acima de tudo - Você não imagina como ela quebrou meu orgulho quando disse que eu estava encenando um papel para a aprovação dele. Eu não estou, !
- Pensa só um pouco, , e você vai entender o que estou falando. A gente não costuma perceber aquilo que está debaixo do nosso nariz.
O resto do caminho foi silencioso. Eu não queria brigar com meu melhor amigo também, mas eu sabia que eles estavam errados. Eu não gostava da sensação da corrida por causa do velho que mais me insultou durante toda minha vida.
Entramos na sala um pouco atrasados e, então, o olhar dela me acertou. Como sempre, estava sem maquiagem, usando seu all star azul preferido e uma camiseta que deixava um decote bem valorizado. Aquela garota cheia de imperfeições era a garota mais perfeita que eu já conhecera. Ela estava nervosa, concentrada na prova que já tinha começado, mordendo o lápis toda as vezes que ele não estava sendo usado para resolver as questões.
Percebi que estava a encarando por muito tempo e que o professor estava a ponto de me xingar, então, direcionei-me à meu lugar de sempre, sem me lembrar que era logo atrás dela. Eu não a via há quatro dias, e percebi que estava com mais saudades do seu cheiro do que pensava, quando uma rajada de vento fez com que seu perfume me acertasse em cheio.
Que merda eu estava fazendo? Como eu fui brigar com a pessoa que mais amava e que mais me amava? Por que diabos ela tinha que falar que eu estava encenando algo pelo meu pai? Eu não era uma marionete do senhor ! Tentei respirar fundo e não ceder a confusão de pensamentos que invadiam minha mente a cada segundo. Naquele momento, eu devia concentrar em outra coisa além dela, eu precisava pensar em meu futuro acadêmico.
Recebi minha prova e olhei para a primeira questão. Eu estava na merda! Tentei me concentrar nas questões menos complicadas, mas, a cada momento que o ventilador girava, uma nova onda do perfume de atingia minhas narinas. Aquilo não era bom para minha sanidade. Eu queria tanto beijá-la! A lembrança dos lábios macios de minha namorada vieram atormentar minha concentração. Minha ex-namorada, lembrei, grudando minhas mãos na carteira no intuito de me estabilizar. Droga, eu queria tanto sentir seus lábios nos meus que chegava a doer.
Após a pior sessão de tortura, entreguei minha prova com duas questões em branco para o professor e sai da sala o mais rápido possível. Se continuasse ali, havia uma grande possibilidade de eu perder meu foco de vez e tomar os lábios de para os meus.
Como eu precisava de uma cerveja naquele momento! Tudo bem que era dia de semana e que, teoricamente, a bebedeira só se iniciava na sexta à noite, mas, colocar álcool em meu sistema, era a única maneira de deixar meus pensamentos menos dolorosos.
Eu tinha visto naquele dia, um pouco mais cedo, e a cena ainda estava clara em minha mente. Ela estava dentro da sala, assistindo a aula de desenho técnico, enquanto eu saía da minha aula de geometria analítica. Nada de mais tinha acontecido. Eu apenas fiquei parado, em frente a porta, observando-a friccionar a borracha com tanta raiva quando errava alguma linha que teve que trocar de folha umas 2 vezes em 5 minutos.
- Você está vivendo de álcool agora, dude? – fez sua mágica ao aparecer, de repente, no balcão do bar próximo ao campus da faculdade.
- Não enche, . – disse ríspido, enquanto pegava mais uma garrafa de cerveja com Bill. É... eu não estava com um bom humor naquele dia.
Meu melhor amigo arqueou a sobrancelha e fez seu pedido, juntando-se à mim, em uma mesa distante da entrada.
Tudo bem, era dia de semana e, supostamente, todos da faculdade estariam estudando ou algo do tipo, mas, o movimento no bar do Bill mostrava que ninguém estava ligando para aquilo naquela tarde.
- 12 dias. – disse.
- 12 dias o quê, caramba? – perguntei, mesmo sabendo a resposta.
- Já tem 12 dias que vocês estão nessa filha da putagem, . E tem 12 dias que você fede mais a álcool do que essa cerveja que você tem nas mãos. Será que você não entende que isso não tem sentido?
- Foi ela que terminou comigo, . – eu repeti o que se passava em minha mente a todo segundo. - Eu não vou implorar para ela voltar comigo, nem pedir desculpas de novo. Ela não me ama do modo que eu sou e eu não vou mudar nem por ela, nem por ninguém.
Levantei-me da cadeira, estressado por ser tão burro, por não ter minha garota mais comigo. Eu sentia falta de tudo nela.
A imagem que vi, quando estava quase saindo do bar, me fez parar minha caminhada por instantes. estava ali, abraçada a um outro cara, esperando Bill entregar seu pedido. Engoli em seco e me recompus, pronto para sair dali e entrar no carro em direção a nenhum lugar específico, porém, fui interrompido no meio do caminho.
- E aí, ? Tudo bem? – Theodore perguntou e percebi que percebera minha presença no bar, uma vez que vi que sua atenção estava naquela conversa. Ela estava perto o bastante para ouvir tudo o que nós dois falávamos.
nunca gostara de Theodore, o que eu compreendia totalmente. Ele costumava correr comigo antes de minha promessa de parar e, como ela odiava aquele meu esporte, tudo e todos ligados a ele se tornavam alvo para sua raiva.
- Tudo bem, dude. Como você vai?
Eu não estava prestando atenção no que ele falava, apenas olhava, com minha visão periférica, que havia largado a mão de seu acompanhante. Sorri fraco da sua tentativa de esconder o que já tinha visto. Ela havia seguido em frente muito rápido para quem dizia me amar.
- E esse cara é realmente incrível – continuou Theodore, maravilhado, fazendo-me prestar atenção no que ele falava novamente – Então eu estava pensando se você que correr comigo e com ele amanhã. Você voltou a pouco tempo, mas dá para ver que ainda tem o jeito de chegar às altas velocidades.
Eu pensei por um minuto. Eu tinha evitado correr naqueles últimos 12 dias, pensando em minhas alternativas para ter de volta. Mas, claramente, ela havia seguido em frente e eu também deveria fazer aquilo. A bebida não era o suficiente para me deixar embreagado. Eu precisava da velocidade. Eu precisava da adrenalina correndo em minhas veias. Aquilo me ajudaria a esquecê-la, seria mais fácil do que qualquer outra coisa.
- É claro que eu aceito. Só me diga a hora e o lugar – eu respondi, mas não olhava para Theodore. Meu olhar estava fixo no dela. Fixo nos olhos surpresos dela.
engoliu em seco e se afastou do balcão.
Se eu não podia ter o que mais amava na vida, eu merecia ao menos uma diversão em alta velocidade, certo?
O caminho até a estrada deserta não era longo, mas eu demorei um pouco mais do que o normal para conseguir chegar ao local. Talvez eu não estava preparado para correr em frente à multidões como antigamente fazia com tranquilidade ou, talvez, eu não estava preparado para tentar esquecer .
Um carro já estava na posição de largada quando cheguei e pude ver Theodore encostado na capota de seu veículo.
- Você veio! – Theodore disse quando me aproximei.
Conversamos sobre coisas desnecessárias enquanto esperávamos nosso concorrente chegar. Havia mais de 30 pessoas no local, bebendo e dançando, esperando a hora do grande espetáculo.
Meu celular começou a tocar e eu atendi assim que vi quem era, no visor.
- Olá, .
- Dude, onde você se meteu? – ele perguntou, desesperado.
Eu estava sendo bem rude com todos em minha volta nesses últimos dias e não era uma exceção - ainda mais quando contava-se o fato de meu melhor amigo ter ficado do lado de na história. Mas, mesmo assim, eu me sentia mal por meu comportamento e por deixá-lo de fora de tudo o que estava acontecendo, como, por exemplo, a corrida de hoje.
- Eu estou no local da corrida. O que aconteceu? – perguntei, um pouco alarmado pelo tom de voz dele.
- Eu preciso conversar com você. É sobre a . Por favor, não entra no carro sem falar comigo primeiro, ok?
- O que aconteceu com ela, ? – eu perguntei já pensando no pior.
- Com ela nada, mas por favor, . Por favor. Eu já estou chegando.
Não demorou mais de cinco minutos para chegar ao local e vir, afobado, ao meu encontro. Eu estava tenso na espectativa de saber qual era o problema.
- Fala logo o que houve – eu disse assim que encontramos um local mais recluso para a conversa.
- Eu descobri quem é o cara com quem a estava ontem.
Rolei os olhos, rindo da descoberta que eu já fizera há tempos.
- Sério que você me assustou tanto por causa disso? Eu não me importo mais, . Eu não sou mais o namorado dela e, pelo tratamento frio com que ela vem me dando, nunca mais serei amigo dela, então eu não me importo – menti, na cara dura, e comecei a me afastar.
- Eu conversei com ela ontem – ele continuou mesmo assim. – Você acha que perdeu o amor dela, mas ela te ama, sabia?
- Sério? E ela já está com outro namorado? – ri, irônico.
- Ele não é o namorado dela, seu idiota. Ele é o primo dela – franzi o cenho, incrédulo por ele estar mentindo para mim.
- Eu namorei a por três anos! Conheço toda a família dela, .
- Esse você só conhece pelo nome. Ele é o Simon, . O que chegou do Japão para ver o pai dele.
- O que estava na UTI por causa do acidente? – perguntei, surpreso.
Ela...ela não estava namorando? Ela..., não pude concluir meu pensamento.
- Sim, o do acidente de carro por causa da corrida profissional. Ele morreu, . – ele me deu a notícia em um jato.
- Não! – fiquei surpreso e preocupado com . - Quando?
- Há uma semana.
Um silêncio pairou entre nós enquanto eu tentava organizar meus pensamentos. Mas continuou:
- Você não imagina como a está agora...ela ouviu você falando que ia correr. Você é tudo no que ela consegue pensar. Ela está tão preocupada, ! Eu a vi ontem e ela só ficou chorando, pedindo para lhe dizer que ela te ama. Que te ama mais do que pode aguentar.
Respirei fundo, confuso e esperançoso. Meu amigo continuou:
- Ela disse que você a magoou tanto por mentir para ela, ! Mas ela sabe que você não é do tipo que machuca...
- Ela ainda me ama... – o interrompi. Eu precisava dizer aquilo em voz alta.
- Sim, ela te ama! E você sabe que isso não é algo ruim. Você deveria estar agradecido por ter alguém como ela para se preocupar por você! Preocupar com sua vida! Você é tão burro, sabe? Ela magoou seu orgulho por falar que você estava parecendo com seu pai... e daí?! – ele gesticulava, nervoso, e eu continuava sem ação - Você sabe que está! O orgulho está apenas comendo seu coração aos poucos e, por isso, você está magoando-a uma vez após a outra! – Ele respirou fundo, tentando parar o monologo, misturado com sermão, que ele falava - É sua vez, dude... vai pedir desculpas logo e ter de volta a melhor parte da sua vida!
Ela me amava. Ela não estava com outro cara. Desde o dia que a vira com o primo, tudo que eu pensava era que ela havia terminado comigo por não me amar mais, que toda a discussão sobre corridas fora apenas uma desculpa para que ela se livrasse de mim. Mas não! Ela me amava! estava certo, foda-se o orgulho, eu tinha que encontrar minha garota e consolá-la pela morte do tio. Eu tinha que ter de volta.
- E se você disser para alguém que eu fiz um discurso tão piegas, você não estará vivo até o fim da noite. – disse, aliviado e brincalhão, quando percebeu que eu formara um sorriso no rosto.
E, então, rapidamente, peguei meu carro e fui na direção contrária à corrida. Em direção ao amor de toda minha vida.
A velocidade do carro estava estável e eu tentava gravar o discurso que falaria quando visse :
- Eu sou apaixonado por você desde o primeiro dia que eu te vi e tenho certeza que estarei até o momento que meu coração parar de bater – disse, de olho no retrovisor interno. – Puta que pariu, ! Esse é o melhor que você pode fazer?! – xinguei-me, dando tapinhas no rosto - Estou tão ferrado!
Durante todo o caminho escuro, eu tentava formular frases perfeitas e clichés enquanto me xingava por tamanha idiotice.
- Lembra uma frase bonita, seu idiota – continuei gritando com meu reflexo, parecendo um louco falando consigo mesmo dentro do carro – Qual o livro preferido dela mesmo? Deve ter uma frase que vai deixá-la de olhos brilhando...
E foi aí que desviei meus olhos para a direção e percebi que, não havia mais tempo para parar o carro que ia de encontro ao poste de luz da estrada. Foi tudo extremamente rápido. Em uma piscada de olhos eu estava voando, por não estar preso ao cinto, em direção ao vidro do carro. Não demorou nem mesmo um milésimo de segundos para que eu atravessasse aquele obstáculo e parasse, abruptamente, no chão, sentindo uma dor excruciante em todo meu corpo.
Sangue foi a última coisa que vi antes de cair na escuridão.
Um barulho constante e chato ao fundo fazia minha cabeça doer. Onde eu estava? Que barulho era aquele? Por que doía para respirar e por que eu não conseguia abrir a porcaria dos meus olhos?
Tentei lembrar aos poucos tudo o que acontecera... eu estava no meu carro falando sozinho e... e... um poste! Tinha um poste. Aí tudo ficou escuro. Depois as luzes da ambulância apareceram, fazendo-me acordar de meu desmaio. Depois eu fechei meus olhos por poucos segundos, mas quando os abri novamente, não estava mais com meu corpo no vidro do carro e sim em um hospital, com várias pessoas histéricas empurrando a maca em que estava deitado.
A imagem do hospital estava mais clara, bem mais clara do que a da estrada, o que não me deixava saber ao certo se era um sonho ou se realmente havia acontecido.
- Por favor, doutora! Diz que ele vai ficar bem, por favor! – lembro-me de reconhecer a voz embargada pelo choro, e de fazer uma força imensa para abrir meus olhos e para falar.
- ? – perguntei em dúvida, tateando em procura de suas mãos. Senti muita dor ao me mover, razão pela qual, parei meu movimento.
- Eu estou aqui, ! Eu estou aqui! Por favor, não me deixe – ela disse, segurando minha mão. Eu reconheceria aquele toque em qualquer lugar, mesmo não podendo enxergá-la, fazendo isso muito bem. – Pelo amor de Deus, , viva. Fique vivo por mim.
- Eu... eu vou. – minha voz não pôde ser ouvida. Estava tudo doendo. Até mesmo falar doía.
- Você não pode passar dessa porta. – uma voz mais madura disse.
- Por favor, doutora – a voz de suplicou.
- Iremos fazer nosso melhor. O que resta agora é esperar e nos deixar fazer nosso trabalho para salvar esse garoto.
E, então, fui banhado novamente pela escuridão.
E agora eu ainda estava na escuridão. Eu não conseguia abrir a porra dos meus olhos! Parei de pensar palavrões... e se eu estivesse morto e meu juízo final estava para chegar?! Não poderia pensar naquelas palavras minutos antes de decidirem para onde eu iria.
Parei de remoer pensamentos. Eu não estava morto! Não podia estar morto. Concentrei toda minha força na palma de minha mão e senti uma mão envolvendo a minha. Apertei a mão e senti a surpresa da pessoa que eu rezava para ser .
- Enfermeira! – a voz de me mostrou que minhas preces não haviam sido atendidas.
Após possuir um maior controle em minhas mãos, o restante das partes do meu corpo puderam ser controladas, até mesmo minhas pálpebras receberam as ordens do meu cérebro e se abriram para me permitir olha a claridade. Pisquei várias vezes, tentando me acostumar com o branco monótono.
- Você me deu um susto tão grande, filho da mãe! – meu melhor amigo disse, com a voz controlada. Mas eu sabia que, se a situação não estivesse tão séria, ele gritaria e me daria um soco no braço.
- O que... – minha voz estava tão estranha. Era como se eu não a tivesse usado há meses. – O que aconteceu? Cadê a ?
- Você não pode falar muito ainda, . – disse, já com a enfermeira ao lado. – Você acabou de fazer uma cirurgia muito complocada, dude. Você está aqui há quase 5 dias. Acredita que muita coisa quase acertou seu coração? Por poucos milímetros, um pedaço de vidro, por exemplo, não causou sua morte.
Sorri um pouco. Eu conseguia ver, pelos olhos vermelhos de que, além de ter chorado como um bebê, ele não dormia direito a dias por minha causa. Era estranho perceber que eu tinha o melhor amigo que alguém poderia ter.
- Ainda bem que não acertou, não é? Você não viveria sem mim nem mesmo por um dia.
- Você está certo. – ele sorriu. Ok, meu estado deveria ter sido muito grave para ele concordar comigo logo de primeira.
Procurei no quarto por uma pessoa em especial, mas não a encontrei. Havia flores, o que se parecia com uma caixa de chocolates e muitos balões pelo cômodo, mas, o que eu mais precisava, quem eu mais queria, não estava lá. Então havia sido um sonho, afinal. não me vira minutos antes da minha cirurgia.
A enfermeira fez alguns exames rápidos e, após dizer que estava tudo estável, saiu do quarto.
- A ... – engoli em seco. – A soube do acidente?
Ele gargalhou e eu levantei a sobrancelha, perdendo a piada.
- Ela vai te matar por ter acordado no exato instante em que ela saiu. – ele gargalhou de novo, deixando-me completamente sem noção do que estava falando. – Dude, ela não estava saindo desse quarto nem para tomar banho direito. Eu tive que obrigá-la a ir comprar um pão com presunto agora, caso o contrário, ela não sairia do seu lado de jeito nenhum.
Sorri, extremamente aliviado.
- Ela me ama.
- É... Ela te ama...e com um amor como aquele, dude, você sabe que deveria estar agradecido.
- Eu estou, dude. Você não tem ideia.
- Espero que esteja mesmo – a voz que eu queria escutar, desde o minuto que acordei, se pronunciou, fazendo com que eu e me amigo nos virássemos para porta, para vê-la entrar no quarto. – Olá.
- Oi – eu disse em um fiapo de voz.
- Eu vou ali ... ahn .... café. Preciso ir pegar um café. – disse, saindo do quarto e nos deixando a sós.
- Oi. – eu disse de novo. Ok, eu estava nervoso. O acidente não me permitira preparar alguma frase maravilhosa que a deixaria mais apaixonada por mim e apta a me perdoar por quebrar minha promessa.
- Oi.
Eu não sabia o que falar! Droga, eu não sabia o que falar!
- Eu... , eu... – ela se aproximou do leito, colocando, gentilmente, o dedo sobre meus lábios.
- Não precisa falar nada, – ela respirou fundo. – Você acabou de fazer uma cirurgia e precisa de descanso, ok?
- Eu preciso sim, . Eu quero falar.
Ela me olhou, um pouco inconformada, mas sentou-se ao meu lado da cama, pronta para ouvir.
- Eu sofri esse acidente porque eu estava com meus pensamentos em você, tentando arranjar alguma frase, qualquer coisa que iria fazer você me desculpar e voltar para mim.
- Ótimo jeito de me deixar mais culpada, . Você sofreu o acidente enquanto estava indo até minha casa e porque estava pensando em mim... ótima maneira de pedir desculpas. – ela sorriu, irônica, e com uma culpa enorme transbordando de seus olhos.
- Só me escuta, . Por favor. – implorei e a vi mordendo os lábios, concordando - Eu estava tentando arrumar uma frase cliché e piegas, mas eu fui um completo estúpido. Eu deveria saber na hora que, para você, um simples pedido de desculpas, feito de coração, é o suficiente. Para você, serenatas, apresentação em frente ao maior ponto turístico da cidade, um eu te amo gritado no meio da rua mais movimenta... nada disso importa – respirei fundo. Eu não tinha capacidade de olhar nos olhos dela. Peguei suas mãos e encarei seus dedos enquanto dizia tudo aquilo - Você não quer que gritem para o mundo o quão apaixonado eu estou por você, você quer que eu diga, bem no seu ouvido, com toda a veracidade possível. Sabe por que, ? Por que você é uma daquelas pessoas raras que quando amam, amam tão ardentemente, tão dolorosamente que, quando é amado de volta, tudo o que quer é que esse amor seja dela, ali, sem ninguém do mundo dizendo se é certo, errado ou qualquer outra porcaria.
Tomei coragem e olhei em seus olhos, seus doces, com várias olheiras e lindos olhos para continuar meu discurso:
- E eu sei disso tudo porque eu te amo, . Eu te amo tanto que respirar fica mais díficil. Eu te amo tanto que eu desistiria de viver se isso significasse que você poderia respirar por mais um segundo. É por isso que eu não estou tentando fazer meu pai orgulhoso... porque eu já tenho orgulho de mim. Eu tenho orgulho de mim por te amar. Por ter você. Por querer viver sempre com você – engoli em seco, enquanto vi pequenas lágrimas se formarem no canto dos seus olhos – Então, meu amor, me perdoe por não ter percebido antes. Por não ter percebido que a corrida não é a melhor coisa da minha vida. A melhor parte da minha vida, a minha vida inteira, é você.
Um silêncio doloroso se instalou no quarto enquanto ela olhava para baixo, tentando desviar os olhos dos meus.
- Você faz ser tão difícil não te desculpar. – ela voltou os olhos cobertos de lágrimas para o meu rosto, segurando meu pescoço com as duas mãos.
E então, ela me beijou. E toda saudade, amor e paixão conseguiram ser colocado naquele beijo que fez meu coração entrar em colapso e quase parar.
- Eu te amo, . E eu acho que isso não seja ruim. – ela sorriu, deitando a cabeça em meu pescoço, permitindo-me sentir o cheiro maravilhoso que vinha de seus cabelos.
- , eu te amo, você me ama e, com um amor desses, não há possibilidades de isso ser ruim – abracei-a, prometendo a mim mesmo que nunca mais ia a deixar se afastar.
Era para eu chegar ao apartamento às oito, no entanto, já se passava das nove e meia e eu ainda dirigia pelas ruas cheias de Londres. Os motoristas em minha frente se moviam em uma lentidão tão grande que me faziam acreditar que, se eu fosse a pé, chegaria mais rápido ao meu destino. Olhei para o velocímetro para rir da velocidade. Assustei-me quando vi que estava a 50 km/h e não a 20, como eu supunha.
Finalmente consegui chegar em frente ao apartamento e abri a porta, já preparado para a cara zangada que minha namorada faria. Ela, com toda certeza, iria querer conversar comigo, no intuito de saber o que estava acontecendo para eu estar tão desleixado com nosso relacionamento, e eu estava pronto para contar à ela. Aquele era o momento.
Mas, diferente do que eu imaginava, possuía uma feição serena e triste, sentada, com uma taça de vinho na mão, no sofá da sala. Percebi que sua maquiagem estava completamente borrada. Entrei no apartamento, preocupado com o motivo dela estar chorando e vi que, em cima da mesa, um jantar extremamente romântico estava preparado. A gente estava comemorando alguma coisa e eu não estava sabendo?
Retirei meu casaco e o coloquei em uma mesa, junto com a chave do meu carro. Fui em direção a ela para acalmá-la e fazer com que ela me contasse o que estava havendo, mas ela não me deixou abraçá-la. Em um átimo, se levantou e me encarou com fúria nos olhos.
- O que aconteceu dessa vez, ? – perguntou, ríspida. – O trânsito de novo? Algum trabalho da faculdade?
- Eu... – eu não podia lhe contar o motivo real enquanto ela estava naquele estado. Não podia. Eu iria acalmá-la antes de dizer a verdade. – Por que você está chorando, ?
- Só fala, ! Só me fala o porquê de você ter se atrasado para o nosso aniversário! – os lábios dela tremeram enquanto ela se esforçava para não chorar em minha frente.
Nosso aniversário? O quê... não era possível que aquele era dia 15 de março. Não era possível! Eu esquecera do nosso aniversário de 3 anos, era isso mesmo?
percebeu que eu não fazia ideia de que aquela era uma data comemorativa para nosso relacionamento. Ela rolou os olhos e apenas se afastou mais de mim, se direcionando para a cozinha.
Eu fiquei lá, parado, sem saber o que fazer ou o que dizer para contornar a situação.
- , amor...- eu disse quando cheguei na cozinha, tentando fazer com que ela parasse de guardar todo o jantar que tinha preparado.
- Não vem com “amor”, . Essa não é a hora para você fazer isso – ela se afastou de mim novamente e vi lágrimas descendo de seus olhos. Doía tanto vê-la chorar e doía mais ainda eu ser o motivo para aquilo. Mas eu não entendia como uma garota forte como ela estava chorando por um esquecimento. Com toda certeza tinha algo mais acontecendo.
- Olha... Eu sinto muito – fiz com que ela parasse em frente a mim e limpei as lágrimas que desciam em seu rosto, fazendo, com que assim, ela olhasse em meus olhos. – De verdade. Eu não esqueci que a gente está fazendo três anos de namoro, só não sabia que hoje era dia 15. Só isso.
- E por que você não sabia? Por que você não veio? – ela perguntou com uma feição tristonha, especulativa.
Ela iria me odiar para sempre se eu lhe contasse tudo naquele momento. O que eu faria? Eu teria que mentir novamente? Eu queria aliviar aquela dor que via nos olhos dela e não aumentar, então, decidi seguir pelo caminho mais fácil e o mais errado.
- Eu comecei a estudar para a prova de semana que vem e acabei dormindo em cima do livro. Eu sinto muito mesmo, . Não era para eu ter me atrasado dessa vez – desviei os olhos dos seus enquanto contava a história inventada.
Eu não vi o alívio em sua postura. A única coisa que vi foi um sorriso doloroso, irônico, incrédulo, surgir em seus lábios enquanto mais lágrimas brotavam em seus olhos. começou a balançar a cabeça e gargalhou dolorosamente, se afastando de minhas mãos. Eu não tinha a mínima ideia do porquê daquela reação.
– Eu sei que esse não é o real motivo para você estar chorando. O que aconteceu?
- Então essa não é a primeira vez – ela sorriu, afirmando algo para si mesma que eu não fazia ideia do que se tratava.
- Eu acho que eu não sei do que você está falando – disse confuso.
- Você já mentiu sobre isso antes, não é mesmo? Você... você... Droga! Eu não acredito que pensei que você realmente tinha parado, ! Não acredito que fui tão estúpida a esse ponto! – ela agora estava com a voz mais alta.
- Eu menti sobre o que? Eu não estou conseguindo te acompanhar aqui - do que ela estava falando? Era impossível ser do que eu estava pensando, certo?
- Você voltou a correr, caralho! Você voltou a participar daquela merda de racha e não pensou em me falar! – ela disse, trêmula.
As minhas cordas vocais pararam de realizar sua função por um segundo.
- Quem...quem te contou?
- Sério que é com isso que você está preocupado? – ela perguntou, irônica, levantando a sobrancelha. – Para o seu conhecimento a Carrie estava assistindo a corrida com o namorado dela e imagina para quem ela ligou assim que viu você entrar naquela porra de carro para tentar se matar?
Quando começava a usar palavrões eu sabia que a situação estava super séria. Mas eu tinha que assumir as consequências, não me importava como.
Cocei minha nuca, reação que sempre tinha quando não sabia o que fazer, e xinguei Carrie mentalmente. No entanto, no fundo, eu sabia que eu era o único culpado e que Carrie só tentara ajudar sua melhor amiga. Eu era o filho da puta mentiroso. Eu era o errado.
- Eu, - engoli em seco antes de continuar – eu ia te contar, . Eu juro que ia.
- Quando, ? Quando você ia me contar? – ela perguntou, cruzando os braços sobre os seios. – Quando eu tivesse que ir correndo para o hospital para assinar os papéis para uma cirurgia de urgência ou quando eu estivesse no IML para reconhecer o seu corpo?
- Por favor, ! Não vamos brigar por causa disso. É nosso aniversário de 3 anos, lembra? – recorri à primeira coisa que pensei, tentando arranjar alguma maneira de amenizar a situação.
- Ah! Agora você lembrou! Que ótimo, não é mesmo? Só me pergunto o porquê de você não se lembrar enquanto estava naquela corrida de merda e não aqui para comemorarmos! – ela falava rápido enquanto andava, de um lado para o outro, gesticulando e apontando seu dedo para mim sempre que ficava um pouco mais exaltada. - Porra, ! Você me prometeu que tinha parado! Falou que nunca ia fazer aquilo de novo depois do que aconteceu com meu tio. Isso não é nem um pouco justo comigo, sabia?
Ali estava o principal motivo para eu me sentir tão mal em ter voltado a correr: para , aquilo era extremamente doloroso. Seu tio estava na UTI por causa de um acidente na corrida profissional e tudo o que ela pensava era em como um acidente tão fatal podia acontecer comigo nas rachas que participava. Eu prometera não entrar mais no carro na intenção de participar de alguma corrida, mas, sem perceber, eu havia quebrado a promessa duas vezes e estava me sentindo completamente mal por isso.
- Eu sei, caralho! Eu sei. – eu não estava perdendo a paciência. Ela estava em seu direito de ficar nervosa. Mas eu não sabia como explicar para ela aquilo que sentia sempre que entrava em um carro de corrida. Não sabia explicar para minha namorada que eu não lhe contara o que estava fazendo por ter medo de perdê-la, exatamente por não querer largar aquela sensação. – Eu sinto tanto...
- Para de dizer que você senti muito, porque eu sei que não sente porra nenhuma! Olha o tanto de palavrão que eu estou falando... eu, eu não quero mais me sentir assim, . Eu não posso mais me sentir tão... – ela respirou fundo, secando algumas lágrimas que teimavam em cair.
- Olha nos meus olhos, – ela fez o que pedi. – Eu te amo. Mais do que eu já amei qualquer pessoa em minha vida, mais do que eu posso imaginar amar qualquer pessoa. E eu sinto muito. De verdade. Eu sinto muito por não ter sido forte o bastante para não voltar para as pistas, mas isso não muda nada do que eu sinto por você. Eu nunca vou sofrer um acidente, amor. Eu sou cuidadoso. Eu sei o que estou fazendo, e nunca vou bater o carro do jeito que seu tio fez.
- Eu queria tanto acreditar nisso.
- Você acha que eu estou mentindo?
- Você acha que não está mentindo, mas eu sei que está – ela apertou os lábios antes de voltar a falar, como se já estivesse se arrependendo do que estava prestes a dizer - Eu queria acreditar que você me ama tanto assim. Eu queria tanto acreditar que você me ama o bastante para não querer morrer. Mas eu sei que não. Eu já vi isso acontecer antes, . Eu sei que você vai voltar para aquelas pistas de novo e de novo e, , eu não posso mais perder minha sanidade preocupada com o que pode acontecer enquanto você está naquele lugar. Eu não tenho forças o suficiente para te ver morrendo e não saber o que fazer.
- Amor, eu não vou me descuidar tanto. Olha, eu sei o tanto que você está preocupada com seu tio em coma. Eu sei. Mas, , se você soubesse o quão importante isso é para mim... – tentei fazê-la entender, segurando suas mãos.
- Esse é o problema, . Eu sei que é importante e sei que, em algum momento você vai ir tão longe para sentir a sensação que você diz ser tão maravilhosa, que você vai acabar sofrendo um acidente. E eu não quero estar na sala de espera com todas as minhas esperanças e sonhos no chão. À partir de hoje, , eu estou cortando esse sentimento da minha vida.
Em um primeiro instante eu não entendi o que ela estava falando.
- Você...- eu soltei suas mãos, olhando-a em dúvida.
Ela fungou. Agora eu sabia o porquê do choro. Ela estava chorando pois iria me largar.
- Sim, . Eu não posso mais. Eu estou terminando com você.
- , você deveria me amar por quem eu sou, porra! – surpreso e completamente sem fôlego, não consegui diminuir o volume de minha voz.
- Esse não é quem você é. – ela sussurrou, dando de ombros.
- E quem disse que você sabe quem eu sou? – perguntei sarcástico. Eu estava com a minha cabeça tão cheia. Que merda era aquele de se separar quando se amava demais? Aquilo era insano!
- Eu sei porque eu estou com você há 3 anos. Eu sei porque eu vi o que aconteceu quando seu pai te disse que não se orgulhava de você. Você acha que eu não sei que você só entrou para a racha para provar ao seu pai que ele estava errado? Só para falar para o “Sr. ” – ela fez aspas com os dedos ao citar o nome odiado - que você era, ao contrário do que ele achava, corajoso? Você está se tornando uma cópia dele! Você só está encenando um papel para ter a aprovação do seu pai e isso é a coisa mais ridícula que você já fez em toda sua vida!
Toda a compreensão que estava tendo até aquele momento sumiu de dentro de mim.
- Você está completamente errada, e você vai se arrepender por estar terminando assim comigo. – E, então, eu peguei meu casaco e sai. Eu estava tão nervoso que não podia pensar claramente enquanto batia a porta do apartamento dela.
Comecei a descer as escadas, de dois em dois degraus, quando a ouvi me chamando. Meu coração se reascendeu e o ódio diminuiu. Eu sabia que ela iria voltar atrás, que ela se desculparia por ter me acusado de algo que eu não fazia. Não tinha como nos separarmos daquele jeito. Virei-me, preparado para aceitá-la em meus braços e beijá-la como se o mundo estivesse acabando. Lembrei-me como o sexo depois de nossas brigas eram maravilhosos e um sorriso bem malicioso se formou em meus lábios.
Porém, estava no alto da escada, me encarando, com os olhos inchados e com a chave de meu carro na mão. Ela só fora me entregar aquilo? Meu sorriso desapareceu. Peguei a chave e fui embora, determinado a nunca mais me sentir tão quebrado sentimentalmente como estava naquele momento. Era isso. Era o fim.
- Puta que pariu – gritei quando vi a invasão do sol no meu quarto. Peguei meu cobertor e joguei por cima de minha cabeça.
- Puta que pariu digo eu! – uma voz conhecida disse, enquanto me descobria. – Eu não acredito que você estava correndo de novo, !
- Não vem com essa, pelo amor de Deus, ! Eu não quero ouvir mais gente me enchendo o saco só porque eu estava fazendo algo que gosto.
Eu sabia que ele estava rolando os olhos, mas eu não olhei para confirmar.
- Dude, por acaso você sabe que hoje é segunda-feira e que tem uma prova bem pesada no próximo horário? Eu te liguei milhões de vezes ontem e, pelo visto, você não atendeu porque estava fazendo companhia para a vodca!- ele falava tão alto! Qual a necessidade de criar sermões àquela hora da manhã?
- Cala a porra da boca! - gritei, fazendo com que a dor de cabeça se acentuasse. - Se você percebeu que eu estava bebendo ontem você deve saber que estou com ressaca!
- Então levanta porque eu não vou perder a prova por sua causa – ele disse resoluto enquanto tirava o cobertor de cima do meu corpo e se direcionava para a porta - E, só para constar: você é um babaca.
Era aquilo que dava seu melhor amigo ser amigo de sua namorada. , com toda certeza, já deixara inteirado de todos os acontecimentos e, é claro, fui pintado como o cara mal.
- Que prova que a gente tem hoje? – perguntei ao processar o que ele havia dito segundos atrás, me levantando e pegando um remédio para aquela dor de cabeça.
- De cálculo.
- Cacete! – resmunguei, passando a mão em meus cabelos. Eu ia tomar pau naquele período da faculdade, já tinha até visto. – Você estudou alguma coisa?
- Bem, se ler a matéria ontem a noite enquanto assistia o futebol conta como estudar, então eu estudei.
Gargalhei da nossa situação. Tinha como piorar? Ah! No meu caso tinha. Era o primeiro dia que veria depois de nossa separação.
Após me aprontar em tempo recorde, entramos no meu carro – morava perto de mim, então, sempre pegava carona para o campus – e liguei o rádio. Havia quase dois minutos em que estávamos em silêncio, quando decidi fazer a pergunta que queria desde que percebi que ele havia conversado com ela:
- Como ela está? – ok, eu ainda estava puto por ela ter me comparado ao meu pai, mas eu ainda a amava, então, não tinha como não me preocupar com ela.
Ele respirou fundo, entendo de quem se tratava sem precisar perguntar.
- Você precisa perguntar?
- Dude, eu realmente não queria magoá-la. – passei uma das mãos no meu cabelo, tentando largar aquela frustração - Eu sou um filho da mãe.
- É...você é.
- Você acredita que ela falou que eu faço essa besteira de corrida só por causa do meu pai?
Ele riu, mas não foi a risada incrédula que eu queria que ele desse. Ele riu porque concordava com ela.
- Nem vem – cortei quando vi que ele ia trazer aquele assunto à tona.
- , eu sei que nesse momento você não está muito bem, mas você sabe que eu concordo com ela. Em todos os aspectos. Eu estou dizendo, ninguém merece se sentir como ela se sentia todas as vezes que te via entrar naquele carro. Você viu como ela ficou quando chegou no hospital para ver o tio. Você prometeu que nunca voltaria a correr. Dude, sabe que eu odeio dizer isso, mas você está sendo um perfeito idiota fazendo isso de novo.
- Não é pelo meu pai. Eu sei que não é pelo meu pai. – disse, tentando convencer e a mim acima de tudo - Você não imagina como ela quebrou meu orgulho quando disse que eu estava encenando um papel para a aprovação dele. Eu não estou, !
- Pensa só um pouco, , e você vai entender o que estou falando. A gente não costuma perceber aquilo que está debaixo do nosso nariz.
O resto do caminho foi silencioso. Eu não queria brigar com meu melhor amigo também, mas eu sabia que eles estavam errados. Eu não gostava da sensação da corrida por causa do velho que mais me insultou durante toda minha vida.
Entramos na sala um pouco atrasados e, então, o olhar dela me acertou. Como sempre, estava sem maquiagem, usando seu all star azul preferido e uma camiseta que deixava um decote bem valorizado. Aquela garota cheia de imperfeições era a garota mais perfeita que eu já conhecera. Ela estava nervosa, concentrada na prova que já tinha começado, mordendo o lápis toda as vezes que ele não estava sendo usado para resolver as questões.
Percebi que estava a encarando por muito tempo e que o professor estava a ponto de me xingar, então, direcionei-me à meu lugar de sempre, sem me lembrar que era logo atrás dela. Eu não a via há quatro dias, e percebi que estava com mais saudades do seu cheiro do que pensava, quando uma rajada de vento fez com que seu perfume me acertasse em cheio.
Que merda eu estava fazendo? Como eu fui brigar com a pessoa que mais amava e que mais me amava? Por que diabos ela tinha que falar que eu estava encenando algo pelo meu pai? Eu não era uma marionete do senhor ! Tentei respirar fundo e não ceder a confusão de pensamentos que invadiam minha mente a cada segundo. Naquele momento, eu devia concentrar em outra coisa além dela, eu precisava pensar em meu futuro acadêmico.
Recebi minha prova e olhei para a primeira questão. Eu estava na merda! Tentei me concentrar nas questões menos complicadas, mas, a cada momento que o ventilador girava, uma nova onda do perfume de atingia minhas narinas. Aquilo não era bom para minha sanidade. Eu queria tanto beijá-la! A lembrança dos lábios macios de minha namorada vieram atormentar minha concentração. Minha ex-namorada, lembrei, grudando minhas mãos na carteira no intuito de me estabilizar. Droga, eu queria tanto sentir seus lábios nos meus que chegava a doer.
Após a pior sessão de tortura, entreguei minha prova com duas questões em branco para o professor e sai da sala o mais rápido possível. Se continuasse ali, havia uma grande possibilidade de eu perder meu foco de vez e tomar os lábios de para os meus.
Como eu precisava de uma cerveja naquele momento! Tudo bem que era dia de semana e que, teoricamente, a bebedeira só se iniciava na sexta à noite, mas, colocar álcool em meu sistema, era a única maneira de deixar meus pensamentos menos dolorosos.
Eu tinha visto naquele dia, um pouco mais cedo, e a cena ainda estava clara em minha mente. Ela estava dentro da sala, assistindo a aula de desenho técnico, enquanto eu saía da minha aula de geometria analítica. Nada de mais tinha acontecido. Eu apenas fiquei parado, em frente a porta, observando-a friccionar a borracha com tanta raiva quando errava alguma linha que teve que trocar de folha umas 2 vezes em 5 minutos.
- Você está vivendo de álcool agora, dude? – fez sua mágica ao aparecer, de repente, no balcão do bar próximo ao campus da faculdade.
- Não enche, . – disse ríspido, enquanto pegava mais uma garrafa de cerveja com Bill. É... eu não estava com um bom humor naquele dia.
Meu melhor amigo arqueou a sobrancelha e fez seu pedido, juntando-se à mim, em uma mesa distante da entrada.
Tudo bem, era dia de semana e, supostamente, todos da faculdade estariam estudando ou algo do tipo, mas, o movimento no bar do Bill mostrava que ninguém estava ligando para aquilo naquela tarde.
- 12 dias. – disse.
- 12 dias o quê, caramba? – perguntei, mesmo sabendo a resposta.
- Já tem 12 dias que vocês estão nessa filha da putagem, . E tem 12 dias que você fede mais a álcool do que essa cerveja que você tem nas mãos. Será que você não entende que isso não tem sentido?
- Foi ela que terminou comigo, . – eu repeti o que se passava em minha mente a todo segundo. - Eu não vou implorar para ela voltar comigo, nem pedir desculpas de novo. Ela não me ama do modo que eu sou e eu não vou mudar nem por ela, nem por ninguém.
Levantei-me da cadeira, estressado por ser tão burro, por não ter minha garota mais comigo. Eu sentia falta de tudo nela.
A imagem que vi, quando estava quase saindo do bar, me fez parar minha caminhada por instantes. estava ali, abraçada a um outro cara, esperando Bill entregar seu pedido. Engoli em seco e me recompus, pronto para sair dali e entrar no carro em direção a nenhum lugar específico, porém, fui interrompido no meio do caminho.
- E aí, ? Tudo bem? – Theodore perguntou e percebi que percebera minha presença no bar, uma vez que vi que sua atenção estava naquela conversa. Ela estava perto o bastante para ouvir tudo o que nós dois falávamos.
nunca gostara de Theodore, o que eu compreendia totalmente. Ele costumava correr comigo antes de minha promessa de parar e, como ela odiava aquele meu esporte, tudo e todos ligados a ele se tornavam alvo para sua raiva.
- Tudo bem, dude. Como você vai?
Eu não estava prestando atenção no que ele falava, apenas olhava, com minha visão periférica, que havia largado a mão de seu acompanhante. Sorri fraco da sua tentativa de esconder o que já tinha visto. Ela havia seguido em frente muito rápido para quem dizia me amar.
- E esse cara é realmente incrível – continuou Theodore, maravilhado, fazendo-me prestar atenção no que ele falava novamente – Então eu estava pensando se você que correr comigo e com ele amanhã. Você voltou a pouco tempo, mas dá para ver que ainda tem o jeito de chegar às altas velocidades.
Eu pensei por um minuto. Eu tinha evitado correr naqueles últimos 12 dias, pensando em minhas alternativas para ter de volta. Mas, claramente, ela havia seguido em frente e eu também deveria fazer aquilo. A bebida não era o suficiente para me deixar embreagado. Eu precisava da velocidade. Eu precisava da adrenalina correndo em minhas veias. Aquilo me ajudaria a esquecê-la, seria mais fácil do que qualquer outra coisa.
- É claro que eu aceito. Só me diga a hora e o lugar – eu respondi, mas não olhava para Theodore. Meu olhar estava fixo no dela. Fixo nos olhos surpresos dela.
engoliu em seco e se afastou do balcão.
Se eu não podia ter o que mais amava na vida, eu merecia ao menos uma diversão em alta velocidade, certo?
O caminho até a estrada deserta não era longo, mas eu demorei um pouco mais do que o normal para conseguir chegar ao local. Talvez eu não estava preparado para correr em frente à multidões como antigamente fazia com tranquilidade ou, talvez, eu não estava preparado para tentar esquecer .
Um carro já estava na posição de largada quando cheguei e pude ver Theodore encostado na capota de seu veículo.
- Você veio! – Theodore disse quando me aproximei.
Conversamos sobre coisas desnecessárias enquanto esperávamos nosso concorrente chegar. Havia mais de 30 pessoas no local, bebendo e dançando, esperando a hora do grande espetáculo.
Meu celular começou a tocar e eu atendi assim que vi quem era, no visor.
- Olá, .
- Dude, onde você se meteu? – ele perguntou, desesperado.
Eu estava sendo bem rude com todos em minha volta nesses últimos dias e não era uma exceção - ainda mais quando contava-se o fato de meu melhor amigo ter ficado do lado de na história. Mas, mesmo assim, eu me sentia mal por meu comportamento e por deixá-lo de fora de tudo o que estava acontecendo, como, por exemplo, a corrida de hoje.
- Eu estou no local da corrida. O que aconteceu? – perguntei, um pouco alarmado pelo tom de voz dele.
- Eu preciso conversar com você. É sobre a . Por favor, não entra no carro sem falar comigo primeiro, ok?
- O que aconteceu com ela, ? – eu perguntei já pensando no pior.
- Com ela nada, mas por favor, . Por favor. Eu já estou chegando.
Não demorou mais de cinco minutos para chegar ao local e vir, afobado, ao meu encontro. Eu estava tenso na espectativa de saber qual era o problema.
- Fala logo o que houve – eu disse assim que encontramos um local mais recluso para a conversa.
- Eu descobri quem é o cara com quem a estava ontem.
Rolei os olhos, rindo da descoberta que eu já fizera há tempos.
- Sério que você me assustou tanto por causa disso? Eu não me importo mais, . Eu não sou mais o namorado dela e, pelo tratamento frio com que ela vem me dando, nunca mais serei amigo dela, então eu não me importo – menti, na cara dura, e comecei a me afastar.
- Eu conversei com ela ontem – ele continuou mesmo assim. – Você acha que perdeu o amor dela, mas ela te ama, sabia?
- Sério? E ela já está com outro namorado? – ri, irônico.
- Ele não é o namorado dela, seu idiota. Ele é o primo dela – franzi o cenho, incrédulo por ele estar mentindo para mim.
- Eu namorei a por três anos! Conheço toda a família dela, .
- Esse você só conhece pelo nome. Ele é o Simon, . O que chegou do Japão para ver o pai dele.
- O que estava na UTI por causa do acidente? – perguntei, surpreso.
Ela...ela não estava namorando? Ela..., não pude concluir meu pensamento.
- Sim, o do acidente de carro por causa da corrida profissional. Ele morreu, . – ele me deu a notícia em um jato.
- Não! – fiquei surpreso e preocupado com . - Quando?
- Há uma semana.
Um silêncio pairou entre nós enquanto eu tentava organizar meus pensamentos. Mas continuou:
- Você não imagina como a está agora...ela ouviu você falando que ia correr. Você é tudo no que ela consegue pensar. Ela está tão preocupada, ! Eu a vi ontem e ela só ficou chorando, pedindo para lhe dizer que ela te ama. Que te ama mais do que pode aguentar.
Respirei fundo, confuso e esperançoso. Meu amigo continuou:
- Ela disse que você a magoou tanto por mentir para ela, ! Mas ela sabe que você não é do tipo que machuca...
- Ela ainda me ama... – o interrompi. Eu precisava dizer aquilo em voz alta.
- Sim, ela te ama! E você sabe que isso não é algo ruim. Você deveria estar agradecido por ter alguém como ela para se preocupar por você! Preocupar com sua vida! Você é tão burro, sabe? Ela magoou seu orgulho por falar que você estava parecendo com seu pai... e daí?! – ele gesticulava, nervoso, e eu continuava sem ação - Você sabe que está! O orgulho está apenas comendo seu coração aos poucos e, por isso, você está magoando-a uma vez após a outra! – Ele respirou fundo, tentando parar o monologo, misturado com sermão, que ele falava - É sua vez, dude... vai pedir desculpas logo e ter de volta a melhor parte da sua vida!
Ela me amava. Ela não estava com outro cara. Desde o dia que a vira com o primo, tudo que eu pensava era que ela havia terminado comigo por não me amar mais, que toda a discussão sobre corridas fora apenas uma desculpa para que ela se livrasse de mim. Mas não! Ela me amava! estava certo, foda-se o orgulho, eu tinha que encontrar minha garota e consolá-la pela morte do tio. Eu tinha que ter de volta.
- E se você disser para alguém que eu fiz um discurso tão piegas, você não estará vivo até o fim da noite. – disse, aliviado e brincalhão, quando percebeu que eu formara um sorriso no rosto.
E, então, rapidamente, peguei meu carro e fui na direção contrária à corrida. Em direção ao amor de toda minha vida.
A velocidade do carro estava estável e eu tentava gravar o discurso que falaria quando visse :
- Eu sou apaixonado por você desde o primeiro dia que eu te vi e tenho certeza que estarei até o momento que meu coração parar de bater – disse, de olho no retrovisor interno. – Puta que pariu, ! Esse é o melhor que você pode fazer?! – xinguei-me, dando tapinhas no rosto - Estou tão ferrado!
Durante todo o caminho escuro, eu tentava formular frases perfeitas e clichés enquanto me xingava por tamanha idiotice.
- Lembra uma frase bonita, seu idiota – continuei gritando com meu reflexo, parecendo um louco falando consigo mesmo dentro do carro – Qual o livro preferido dela mesmo? Deve ter uma frase que vai deixá-la de olhos brilhando...
E foi aí que desviei meus olhos para a direção e percebi que, não havia mais tempo para parar o carro que ia de encontro ao poste de luz da estrada. Foi tudo extremamente rápido. Em uma piscada de olhos eu estava voando, por não estar preso ao cinto, em direção ao vidro do carro. Não demorou nem mesmo um milésimo de segundos para que eu atravessasse aquele obstáculo e parasse, abruptamente, no chão, sentindo uma dor excruciante em todo meu corpo.
Sangue foi a última coisa que vi antes de cair na escuridão.
Um barulho constante e chato ao fundo fazia minha cabeça doer. Onde eu estava? Que barulho era aquele? Por que doía para respirar e por que eu não conseguia abrir a porcaria dos meus olhos?
Tentei lembrar aos poucos tudo o que acontecera... eu estava no meu carro falando sozinho e... e... um poste! Tinha um poste. Aí tudo ficou escuro. Depois as luzes da ambulância apareceram, fazendo-me acordar de meu desmaio. Depois eu fechei meus olhos por poucos segundos, mas quando os abri novamente, não estava mais com meu corpo no vidro do carro e sim em um hospital, com várias pessoas histéricas empurrando a maca em que estava deitado.
A imagem do hospital estava mais clara, bem mais clara do que a da estrada, o que não me deixava saber ao certo se era um sonho ou se realmente havia acontecido.
- Por favor, doutora! Diz que ele vai ficar bem, por favor! – lembro-me de reconhecer a voz embargada pelo choro, e de fazer uma força imensa para abrir meus olhos e para falar.
- ? – perguntei em dúvida, tateando em procura de suas mãos. Senti muita dor ao me mover, razão pela qual, parei meu movimento.
- Eu estou aqui, ! Eu estou aqui! Por favor, não me deixe – ela disse, segurando minha mão. Eu reconheceria aquele toque em qualquer lugar, mesmo não podendo enxergá-la, fazendo isso muito bem. – Pelo amor de Deus, , viva. Fique vivo por mim.
- Eu... eu vou. – minha voz não pôde ser ouvida. Estava tudo doendo. Até mesmo falar doía.
- Você não pode passar dessa porta. – uma voz mais madura disse.
- Por favor, doutora – a voz de suplicou.
- Iremos fazer nosso melhor. O que resta agora é esperar e nos deixar fazer nosso trabalho para salvar esse garoto.
E, então, fui banhado novamente pela escuridão.
E agora eu ainda estava na escuridão. Eu não conseguia abrir a porra dos meus olhos! Parei de pensar palavrões... e se eu estivesse morto e meu juízo final estava para chegar?! Não poderia pensar naquelas palavras minutos antes de decidirem para onde eu iria.
Parei de remoer pensamentos. Eu não estava morto! Não podia estar morto. Concentrei toda minha força na palma de minha mão e senti uma mão envolvendo a minha. Apertei a mão e senti a surpresa da pessoa que eu rezava para ser .
- Enfermeira! – a voz de me mostrou que minhas preces não haviam sido atendidas.
Após possuir um maior controle em minhas mãos, o restante das partes do meu corpo puderam ser controladas, até mesmo minhas pálpebras receberam as ordens do meu cérebro e se abriram para me permitir olha a claridade. Pisquei várias vezes, tentando me acostumar com o branco monótono.
- Você me deu um susto tão grande, filho da mãe! – meu melhor amigo disse, com a voz controlada. Mas eu sabia que, se a situação não estivesse tão séria, ele gritaria e me daria um soco no braço.
- O que... – minha voz estava tão estranha. Era como se eu não a tivesse usado há meses. – O que aconteceu? Cadê a ?
- Você não pode falar muito ainda, . – disse, já com a enfermeira ao lado. – Você acabou de fazer uma cirurgia muito complocada, dude. Você está aqui há quase 5 dias. Acredita que muita coisa quase acertou seu coração? Por poucos milímetros, um pedaço de vidro, por exemplo, não causou sua morte.
Sorri um pouco. Eu conseguia ver, pelos olhos vermelhos de que, além de ter chorado como um bebê, ele não dormia direito a dias por minha causa. Era estranho perceber que eu tinha o melhor amigo que alguém poderia ter.
- Ainda bem que não acertou, não é? Você não viveria sem mim nem mesmo por um dia.
- Você está certo. – ele sorriu. Ok, meu estado deveria ter sido muito grave para ele concordar comigo logo de primeira.
Procurei no quarto por uma pessoa em especial, mas não a encontrei. Havia flores, o que se parecia com uma caixa de chocolates e muitos balões pelo cômodo, mas, o que eu mais precisava, quem eu mais queria, não estava lá. Então havia sido um sonho, afinal. não me vira minutos antes da minha cirurgia.
A enfermeira fez alguns exames rápidos e, após dizer que estava tudo estável, saiu do quarto.
- A ... – engoli em seco. – A soube do acidente?
Ele gargalhou e eu levantei a sobrancelha, perdendo a piada.
- Ela vai te matar por ter acordado no exato instante em que ela saiu. – ele gargalhou de novo, deixando-me completamente sem noção do que estava falando. – Dude, ela não estava saindo desse quarto nem para tomar banho direito. Eu tive que obrigá-la a ir comprar um pão com presunto agora, caso o contrário, ela não sairia do seu lado de jeito nenhum.
Sorri, extremamente aliviado.
- Ela me ama.
- É... Ela te ama...e com um amor como aquele, dude, você sabe que deveria estar agradecido.
- Eu estou, dude. Você não tem ideia.
- Espero que esteja mesmo – a voz que eu queria escutar, desde o minuto que acordei, se pronunciou, fazendo com que eu e me amigo nos virássemos para porta, para vê-la entrar no quarto. – Olá.
- Oi – eu disse em um fiapo de voz.
- Eu vou ali ... ahn .... café. Preciso ir pegar um café. – disse, saindo do quarto e nos deixando a sós.
- Oi. – eu disse de novo. Ok, eu estava nervoso. O acidente não me permitira preparar alguma frase maravilhosa que a deixaria mais apaixonada por mim e apta a me perdoar por quebrar minha promessa.
- Oi.
Eu não sabia o que falar! Droga, eu não sabia o que falar!
- Eu... , eu... – ela se aproximou do leito, colocando, gentilmente, o dedo sobre meus lábios.
- Não precisa falar nada, – ela respirou fundo. – Você acabou de fazer uma cirurgia e precisa de descanso, ok?
- Eu preciso sim, . Eu quero falar.
Ela me olhou, um pouco inconformada, mas sentou-se ao meu lado da cama, pronta para ouvir.
- Eu sofri esse acidente porque eu estava com meus pensamentos em você, tentando arranjar alguma frase, qualquer coisa que iria fazer você me desculpar e voltar para mim.
- Ótimo jeito de me deixar mais culpada, . Você sofreu o acidente enquanto estava indo até minha casa e porque estava pensando em mim... ótima maneira de pedir desculpas. – ela sorriu, irônica, e com uma culpa enorme transbordando de seus olhos.
- Só me escuta, . Por favor. – implorei e a vi mordendo os lábios, concordando - Eu estava tentando arrumar uma frase cliché e piegas, mas eu fui um completo estúpido. Eu deveria saber na hora que, para você, um simples pedido de desculpas, feito de coração, é o suficiente. Para você, serenatas, apresentação em frente ao maior ponto turístico da cidade, um eu te amo gritado no meio da rua mais movimenta... nada disso importa – respirei fundo. Eu não tinha capacidade de olhar nos olhos dela. Peguei suas mãos e encarei seus dedos enquanto dizia tudo aquilo - Você não quer que gritem para o mundo o quão apaixonado eu estou por você, você quer que eu diga, bem no seu ouvido, com toda a veracidade possível. Sabe por que, ? Por que você é uma daquelas pessoas raras que quando amam, amam tão ardentemente, tão dolorosamente que, quando é amado de volta, tudo o que quer é que esse amor seja dela, ali, sem ninguém do mundo dizendo se é certo, errado ou qualquer outra porcaria.
Tomei coragem e olhei em seus olhos, seus doces, com várias olheiras e lindos olhos para continuar meu discurso:
- E eu sei disso tudo porque eu te amo, . Eu te amo tanto que respirar fica mais díficil. Eu te amo tanto que eu desistiria de viver se isso significasse que você poderia respirar por mais um segundo. É por isso que eu não estou tentando fazer meu pai orgulhoso... porque eu já tenho orgulho de mim. Eu tenho orgulho de mim por te amar. Por ter você. Por querer viver sempre com você – engoli em seco, enquanto vi pequenas lágrimas se formarem no canto dos seus olhos – Então, meu amor, me perdoe por não ter percebido antes. Por não ter percebido que a corrida não é a melhor coisa da minha vida. A melhor parte da minha vida, a minha vida inteira, é você.
Um silêncio doloroso se instalou no quarto enquanto ela olhava para baixo, tentando desviar os olhos dos meus.
- Você faz ser tão difícil não te desculpar. – ela voltou os olhos cobertos de lágrimas para o meu rosto, segurando meu pescoço com as duas mãos.
E então, ela me beijou. E toda saudade, amor e paixão conseguiram ser colocado naquele beijo que fez meu coração entrar em colapso e quase parar.
- Eu te amo, . E eu acho que isso não seja ruim. – ela sorriu, deitando a cabeça em meu pescoço, permitindo-me sentir o cheiro maravilhoso que vinha de seus cabelos.
- , eu te amo, você me ama e, com um amor desses, não há possibilidades de isso ser ruim – abracei-a, prometendo a mim mesmo que nunca mais ia a deixar se afastar.
FIM!
Nota da autora: E aí, pessoas? Achei que nunca teria uma ideia para essa música, no entanto, parece que finalmente consegui colocar um ponto final em uma história! Sei que não foi muito longa (como sempre gosto de escrever) e nem algo tão amorzinho, mas saibam que foi de coração. Muito obrigada por terem vindo aqui e espero que tenham gostado. Até a próxima!
O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer.
Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.