17. Still The One

Fanfic Finalizada

Prólogo


Eu estava cansada de me magoar por causa dele. Estava cansada de amá-lo e ser ferida. Mas ainda assim eu o amava, e nada nem ninguém podiam mudar isso. Acima de tudo, queria a todo custo que ele me desse essa chance, que ele nos desse essa chance.
Ele estava parado na porta da minha sala, com uma expressão indecifrável no rosto. Em uma mão tinha uma foto nossa, e na outra uma chave. Minha mãe havia saído mais cedo hoje, então eu estava sozinha, e se soubesse que ele tinha vindo para me abandonar eu não teria nem aberto a porta.
Depois de algum tempo olhando a foto, ele me encarou. Eu não queria que ele fosse e me sentia idiota por ter passado os últimos dez minutos implorando para que ele ficasse.
- Por favor, não me deixe. – Murmurei fracamente, como uma última tentativa. Ele riu sarcasticamente.
- Você é patética. Já disse que não gosto de você. Eu não gosto de você. Isso aqui –balançou o porta-retratos no ar – é passado. Nunca deveria ter acontecido e você, no fundo, sabe disso. Eu só quero minha liberdade de volta, . Só quero poder sair com os caras do time depois do treino sem precisar ir ao cinema com você antes. Só quero que todo mundo pare de falar que eu namoro com uma ninguém. Porque você é uma ninguém. Quer dizer, olha só pra você!
Eu não precisava me encarar no espelho da sala para saber o que veria. As calças largas, a camiseta preta e lisa que ele mesmo havia me dado, meu rabo de cavalo perfeitamente preso em cima da cabeça e minha cara amassada, marcada de lágrimas. Eu estava mesmo horrível, mas ele nunca tinha se importado com isso antes. Claro, até entrar no time. Só porque era popular, ele agora tinha vergonha de mim. Vergonha a ponto de me maltratar em público, e desde a semana passada ele tem tido essa mania de passar na minha casa de manhã, só pra fingir para minha mãe que era um bom namorado.
Nós não tínhamos um programa super especial todos os dias, mas ele nunca demonstrou se importar. Ele era tão alegre, tão atencioso, tão ele... Foram essas características que fizeram eu me apaixonar pelo garoto metidinho de olhos azuis. Infelizmente, no tempo que ele se tornou rude eu já estava envolvida demais para deixar de amá-lo.
E então agora eu estava aqui, sendo realmente patética, pedindo para ele não me deixar. Por que ficar com ele sendo idiota era melhor do que ficar sem ele.
- O que tem de errado? Você nunca ligou – Falei, dando de ombros. Ele deu um sorriso maldoso.
- Acho melhor você se cuidar. Jenny me disse esses dias que as garotas da equipe estavam pensando em cortar seu maiô de natação. – Ainda tinha essa. As líderes de torcida babaconas. Por algum motivo elas me odiavam, nunca soube o porquê. – Mas eu disse pra elas não cortarem.
Meus olhos brilharam de esperança.
- Sério? – gargalhou.
- Claro, você precisa dele para praticar. Está gorda. – Senti as lágrimas caindo no meu ombro, o que era estranho, pois não lembro de senti-las saindo dos meus olhos. Ele foi se afastando, com aquele sorriso que antes era doce e agora exalava maldade. – Tchau, .
- , não se atreva a dar mais um passo! – Ele sorriu mais ainda. Senti Kitty se enroscando protetoramente em minha perna.
- Estou terminando com você, sua burra. Não precisa ser assim tão pegajosa.
Mais lágrimas caíram. Eu nunca tive um coração partido e doía tanto que eu não desejava isso a ninguém. Mas, naquele momento, eu senti que precisava o deixar ir. E agora, pra valer. Já fui muito maltratada e me convenci de que ele não iria mudar. Ele nunca mais seria aquele de novo.
- Se você der mais um passo, saiba que eu nunca vou te perdoar e vou te odiar para sempre. Você pode implorar para me ter de volta, pode fazer o que você quiser, mas nunca, nunca mesmo, irei perdoar você.
Porque ele era assim mesmo ou apenas para me provocar, deu exatamente um passo e ergueu as sobrancelhas para me encarar. Sem piedade, jogou o porta-retratos no chão, o partindo em mil pedaços.
- Nunca esteve em meus planos querer você de volta, nerd.
E então, pisando nos cacos do porta-retratos destruído ao passar, assim como estava meu coração, ele se foi, fechando a porta com força atrás de si, me deixando desamparada, chateada e sozinha. Eu não tinha amigos, não tinha ninguém com quem pudesse compartilhar minha dor. era a única coisa que eu tinha e ele me deixou sozinha. Não totalmente sozinha, Kitty estava comigo. Ela se aninhou perto de mim e eu me senti melhor.
Mas o sentimento que antes era pena de mim mesma se transformou em ódio. Recolhi os cacos, rasguei a foto, joguei tudo no lixo e me peguei desejando vingança.
Eu fiquei dias pensando em uma vingança um pouco satisfatória e não conseguia pensar em nada a não ser o ódio que eu sentia por ele. A vingança, porém, nunca pôde acontecer.
Um mês depois de me quebrar em um milhão de pedaços, seus pais se separaram e ele foi obrigado a se mudar para Califórnia com a mãe. A melhor parte foi que ele levou tudo com ele. Coisas como a arrogância, as memórias ruins, a prepotência e, principalmente, tudo que eu mais queria esquecer: sua presença.
Ele estava a quilômetros de distância, sem poder mais me machucar.
E eu estava livre para ser quem eu queria ser.


Capítulo Um


Dois anos depois...


- O despertador já tocou. , querida, acorda. Você está atrasada. – Fingi que não estava escutando minha mãe e dei um resmungo, me virando para o outro lado. Não queria ir para a escola. Ela bufou, saindo do quarto. – está esperando no andar de baixo. Se demorar mais dez minutos terá que ir para a escola a pé.
Essa simples ameaça me fez escorregar da cama. Como diabos eu iria ficar apresentável em dez minutos? Droga. Passei pelo quarto como um furacão, pegando minha saia, meu collant e minha fita. Mas depois de vestir o collant lembrei que o jogo não seria hoje e sim amanhã, e fiquei ainda mais frustrada. Abri o guarda-roupa, tirando minha saia jeans e minha blusinha florida, vestindo a ambos em velocidade recorde e colocando uma sapatilha em seguida. Completei o visual com meu cardigã de renda creme, cuja manga eu arregacei até os cotovelos, e uma gargantilha fina de ouro no pescoço. Tropecei em minha gata dorminhoca a caminho do banheiro e ela acordou, me olhando manhosa.
- Me perdoa Kitty, sem carinho hoje.
Mas não resisti a acabei voltando para lhe dar um cafuné.
Meus cabelos castanhos enrolados e coloridos não estavam bravos comigo hoje, de modo que só precisei secar um pouco com secador e arrumar alguns fios com o baby liss para que eles ficassem perfeitos. Finalizei os cabelos colocando uma presilha de strass do lado, prendendo a franja. Não tinha mais tempo, então só passei rímel e, depois de escovar os dentes, apliquei um gloss rosa claro em meus lábios.
Me olhei no espelho antes de descer e dei uma piscadinha para meu próprio reflexo.
- Vai lá e arrasa, bitch. – Eu ri, peguei minha bolsa em cima da cadeira e desci as escadas o mais rápido que minhas pernas permitiam, fechando a porta do quarto para Kitty não descer.
E eu era assim. A vadia do último ano. A louca dos cabelos coloridos. Sentia que metade da escola me odiava e a outra metade queria ser como eu.
- ? – Perguntei para a sala vazia, assim que cheguei ao andar de baixo. Senti uma mão segurar minha cintura.
- Sua mãe te deu dez minutos? Sério? Faz quase meia hora que você está lá em cima. – Ele riu, me dando um beijo na bochecha.
- Me atrasei. Meu despertador é um inútil. – Reclamei.
- E eu devia ter te deixado para trás. – Revirei os olhos.
- Vamos logo, você é outro inútil. – Brinquei, pegando em sua mão e o puxando para a porta.
- Minha inutilidade é tanta que vamos ao colégio em seu carro hoje. Ah, espera, que carro? – Devolveu ironicamente, fazendo com que eu risse e desse um tapa em sua cabeça.
- Entra logo naquele carro. Tchau, mãe! – Gritei quando saí.
não parou de fazer piadinhas o caminho todo e eu percebi que ele estava de muito bom humor. O jogo era amanhã e normalmente ele ficaria nervoso por isso. Não estava mesmo entendendo a animação dele. Apesar do que minha mãe disse, estávamos até que adiantados. Nós não éramos do tipo “namorados grudentos”, por isso estranhei quando ele me puxou para perto de si no minuto em que desci do carro.
- , quer donuts? – Perguntou, apontando para o Dunkin’ Donuts. Eu estava mesmo com fome.
- Na verdade, quero. – Ele sorriu, colocando o braço ao redor do meu pescoço.
- Deixando as comidas de coelho de lado? Essa é a minha garota! – Brincou, fazendo cócegas em minha cintura.
Namorávamos há mais ou menos seis meses e eu gostava muito dele. Era o tipo de namorado que eu sempre quis para mim. Bondoso, atencioso, paciente, lindo... Entretanto, eu não era tonta. Sabia perfeitamente que se eu fosse aquela menina que andava com as roupas largas de antes, ele me deixaria. Por isso era importante que eu me fantasiasse dessa maneira, para conseguir o que quiser.
Acontece que eu gostava dessa fantasia. Era uma coisa banal para quem visse de fora, mas eu realmente gostava do modo que ela me fazia sentir. Por isso eu pintei as pontas do meu cabelo. De azul, rosa, amarelo, verde e laranja. Porque a fantasia já não era mais uma simples fantasia, ela tinha se tornado parte de mim e eu, parte dela. Então eu a modifiquei, fiz ela ser minha marca até perceber que não estava mais me fantasiando. Essa era a nova eu.
Se eu não tivesse recebido minha parte má de braços abertos, jamais teria conhecido e isso seria no mínimo triste. e eu éramos, sem dúvida, o casal mais comentado da escola toda, e eu também gostava disso.
- ? Chocolate ou morango? – Ele me olhava preocupado e percebi que não era a primeira vez que ele me chamava. Dei um sorriso culpado.
- Chocolate. – Ele pegou meu donuts e seguimos para o pátio, onde finalmente nos separamos, sabendo que nos veríamos novamente na aula de química. Eu tinha que resolver o problema da dança de amanhã e precisava conversar com o time sobre o jogo, então nos despedimos com um beijo afetuoso e cada um seguiu para seu canto. ainda esperou eu me afastar, mas eu segui meu caminho sem nem olhar para trás.
Cheguei no banco onde minhas amigas estavam e olhei para a sandália de Olívia antes mesmo de olhar sua cara ou lhe dar um cumprimento educado.
- Mas que droga é essa? – Perguntei com desdém, apontando para a sandália horrorosa que ela portava nos pés.
- Eu também disse isso para ela! Viu só, Liv, acho melhor você tirar. – Falou Anne, concordando comigo e se virando para retocar o rímel em seguida.
- Eu tenho um par de Melissa no meu armário, pode usar se quiser. – Eu disse, dando de ombros e colocando um pedaço do meu donuts na boca. Eu tinha essa mania de ter um guarda roupa dentro do meu armário.
- comendo donuts? Uau. – Comentou Shareen, com uma falsa voz de admiração. Eu ri, sabendo que ela era doida com esse negócio de controlar o peso.
- Quer um pedaço, Shareen? – Sua expressão mudou na hora.
- Deus, não! Engordei duzentos gramas esse fim de semana.
- Me poupe, Shareen. – Comentou Anne revirando os olhos, e roubando um pedaço do meu donuts.
- , você pode ir comigo pegar sua Melissa antes de o sinal bater? –Perguntou Liv.
- Claro. – Murmurei, jogando metade do donuts na lixeira quando passei por ela. Me despedi das outras duas e segui com Liv para o meu armário.
Achei as tais sapatilhas, que eu nem usava mais, e Olívia ficou aparentemente mais contente e confiante com elas. Escutamos o sinal bater, mas antes que pudéssemos sair do lugar, apareceu a loira azeda que se denomina Jenny.
- Hey, ! Hm, então, vai ter treino hoje? – Eu ri da ironia da situação. Ano passado era eu quem estava fazendo essa mesma pergunta a ela.
- Positivo, depois da aula. Quero você no ginásio as quatro em ponto, não se atrase. Avise isso a Maya também, ela sempre se atrasa. – Eu dei uma piscadinha e Liv riu da minha autoridade sarcástica, mas Jenny entrou na minha frente de novo. Arqueei as sobrancelhas para ela.
- Posso fazer mais alguma coisa por você? – Ela enrolou os longos cabelos lisos nos dedos e sorriu.
- É... Queria saber se você e irão à minha festa hoje à noite. Ele disse que iria, mas não falou nada de você.
Que maldita festa era essa? Droga. Eu não tinha tempo, então o importante era fingir que já sabia dessa festa o tempo todo.
- É claro que eu vou. Não perderia por nada. – Ela tentou fazer uma cara feliz, mas eu sabia que estava se consumindo de ódio. Jenny, por um acaso, pertencia à metade da escola que me odiava. – E Liv também vai. – Completei, sem nem esperar a resposta dela. Liv deu uma risada.
- Você sabe que ela só quer roubar seu namorado, né?
- Óbvio que sei disso. – E então mudei de melhor amiga vadia para usar um tom completamente sério. – Falando em namorado, tem estado completamente animado para o jogo, como se ele tivesse certeza que ia ganhar, quando o normal é ele estar nervoso. O Rick comentou alguma coisa? – Liv parou de andar.
- Por acaso ele falou, sim. Mas achei que você já soubesse.
- Soubesse de quê?
- Um estudante novo que entrou no time e é muito bom. Eles acham que tem muito mais chances. – Então era só isso? De alguma maneira, me senti completamente aliviada.
- Ah. – Foi tudo que eu comentei antes de entrar na sala.
Eu queria que chegasse o terceiro tempo logo, tanto para perguntar a que festa era aquela, quanto para perguntar quem era o novo jogador. , porém, não apareceu na aula de química e eu fiquei sozinha na bancada, tentando listar motivos bons o suficiente para ele matar aula. Precisava ir procurá-lo, mas quando fingi que estava com dor de cabeça e precisava sair da sala, a professora me mandou para a enfermaria. Ou seja, além de não ter ido procurar , perdi metade da aula de química. Assim que escutei o sinal do almoço, disse a enfermeira idosa que eu já me sentia muito melhor e ela, sem poder fazer nada, não teve outra escolha a não ser me deixar sair.
Fui andando o mais rápido que minha dignidade permitia, e quando cheguei ao pátio, vi . Ele estava conversando com um garoto que eu não conhecia e ambos estavam de costas para mim. Cheguei atrás dele e tapei seus olhos com as mãos.
- Adivinha quem é? – Perguntei, com a voz mais doce que consegui reunir. Ele parou de falar o que quer que fosse para o garoto desconhecido e riu.
- É a... Hanna? – Perguntou, sabendo que isso me irritaria. Tirei uma das mãos do seu olho e dei um tapa na cabeça dele. – Ai. Já sei. É a namorada mais irritante e ciumenta desse planeta? – Eu ri, e tirei as duas mãos de seus olhos. se virou, me tomou nos braços e me deu um beijo na testa.
- Na verdade, a namorada que quer saber por que diabos você matou a aula de química. – Falei entre dentes.
- E você sendo irritante, como sempre. – Piscou, batendo de leve com o dedo em meu nariz. Revirei os olhos. Ele sorriu animado e então se lembrou do garoto, que estava de costas, tentando oferecer privacidade ou apenas constrangido, não sei. – Ei, essa aqui é minha namorada, e namorada, esse aqui é a promessa do time. – Apresentou , fazendo com que o desconhecido se virasse.
- E qual é o nome da promessa? – Perguntei divertida para o garoto, obviamente constrangido. Ele levantou a cabeça com um sorrisinho debochado e então olhou para mim. O sorriso de nós dois morreu na hora e eu quis me beliscar para ter a certeza de que não estava no meio de um pesadelo. Porque eu não precisava ter perguntado. No momento que eu vi aqueles olhos, eu soube.
- – Dissemos ao mesmo tempo. pareceu confuso.
- Vocês dois se conhecem?
- Hãn, ela era m...
- já estudou aqui, lembra, ? No primeiro ano. – Interrompi , antes que ele dissesse algo realmente idiota. disse que se lembrava e comentou que ia pegar seu lanche na cantina e já voltava. Joguei todo meu peso na perna direita e passei a olhar para o outro lado do pátio. Comecei a bater os pés no chão, impaciente. E depois inclinei a cabeça para arrumar a presilha que estava soltando e então sacudi os cabelos duas ou três vezes. Estava muito difícil ficar parada ao lado dele.
- Você está diferente. – Começou. Suspirei.
- É, e você não.
- Não gostei do cabelo.
Sorri sarcasticamente.
- Muito obrigada por sua opinião sincera que vai mudar absolutamente tudo na minha vida. – Ele ficou calado e eu passei a olhar para minhas unhas. , meu amor, você já pode aparecer, tá?
- Então, é líder de torcida agora? – Perguntou. Parecia que ele estava se obrigando a falar comigo, meio que para se provar alguma coisa, mas eu percebi que estava curioso de verdade. Fechei os olhos e apertei os lábios antes de responder.
- Não vejo como isso pode ser do seu interesse. – Retruquei, seca. Ele colocou as mãos nos bolsos e olhou para baixo.
- Olha, eu queria sab...
- , que bom que voltou. Essa promessa estava me contando tudo sobre como vocês vão arrasar no jogo de amanhã! – Interrompi, assim que vi se aproximando junto com e , fazendo erguer as sobrancelhas. Eu estava sendo irônica e sincera ao mesmo tempo. Sabia que era um bom jogador, mas não queria que ele soubesse que eu sabia disso. aparentemente foi o único a notar a ironia em minha voz.
- E você vai estar torcendo muito por mim? – Perguntou , passando as mãos pela minha bochecha. Dei risada.
- Apenas eu e a escola inteira – Pisquei.
- É, nada demais. Só um bando de garotas gritando seu nome – Comentou .
- “Vai , seu gostosooo!” – Falou com uma voz de falsete tentando imitar uma garota.
- “, passa essa bola, seu fominha!” – Continuou .
- “, seu bosta, não acredito que você errou essa cesta!” – Completei. Os dois riram e ficou calado, sem saber se ria ou se acrescentava outra coisa.
- Ei, eu nunca erro uma cesta! – Protestou , enquanto ríamos dele.
- Sempre há uma primeira vez para tudo, amorzão. – Brinquei, bagunçando seus cabelos.
- Não acredite nele, , ele foi horrível nos treinos dessa semana. – Explicou , me fazendo rir.
- Ele devia ter marcado o pivô, mas ele simplesmente pegou a bola e saiu correndo! – Contou , fazendo concordar.
- Sem passar pra ninguém! – Completou .
- O capitão devia ter imp...
- É, e ainda bem que o capitão sou eu e não você, não é ? – Interrompeu , com uma cara carrancuda.
- Não sei não, o aqui pode te passar a perna. – Brincou, dando uma cotovelada em e assim colocando ele na conversa pela primeira vez. riu, sabendo que aquilo era improvável. – , sei lá, rola um esquema com a Shareen? – Revirei os olhos.
- , amor, vou tentar ser educada, ok? Shareen não te quer. Desiste. – Escutei o sinal bater. – Ops, aula de trigonometria com professor malvadão. Tenho que ir. – Dei um selinho rápido em e acenei para os outros dois. Antes de sair, me virei para , que ainda não tinha aberto a boca.
- A propósito, , eu sou líder de torcida sim. – Falei, de um jeito meigo, dando uma piscadinha antes de sair.


Capítulo Dois


Obviamente, nem eu nem fomos para a tal festa da loira azeda. Olivia foi com Rick e disse que, na verdade, foi até legal. Não sei mesmo se posso colocar as palavras “Jenny” e “legal” na mesma frase, mas se Liv se divertiu, isso é o mínimo que eu poderia ter feito por ela.
Hoje era dia de jogo, e eu precisava estar na escola às dez da manhã. Ainda eram oito horas, e eu tinha acordado às seis e meia. Acordei cedo desse jeito porque fiquei me revirando na cama a noite inteira, pensando no porquê de ter voltado. Então, cansada demais para ficar me revirando sem conseguir dormir, me levantei da cama, coloquei uma roupa qualquer de ficar em casa e prendi meu cabelo num rabo de cavalo alto, tudo isso para descer as escadas com meu cobertor e ligar a TV no primeiro canal que eu visse na frente. Por um acaso, eu abri na Warner e fiquei animada quando vi que estava passando uma maratona de Friends. E foi isso que fiz nas últimas duas horas e meia.
Durante a última propaganda, sai da sala para ir à cozinha pegar um copo de leite. Antes mesmo de deitar na minha coberta de novo, a campainha tocou. Achando que era que estava indo me dizer um “oi” antes de ir para a escola treinar, coloquei o copo no aparador, soltei os cabelos e coloquei meu melhor sorriso caloroso na cara.
- Bom dia, amor da minha... – Acontece que não era quem estava do outro lado da porta. Meu sorriso murchou na hora. – O que você está fazendo aqui? – Perguntei, ríspida.
- Como é bom te ver também! – Falou , sarcástico.
Eu sorri.
- Pena que não posso dizer o mesmo. E não tem nada para você aqui, bye bye! – Empurrei a porta, mas ele colocou o pé, impedindo a porta de ser fechada.
- Me dê cinco minutos. – Falou pela fresta da porta.
- Não. – Murmurei entredentes, empurrando a porta com todas as minhas forças. , porém, era bem mais forte que eu e conseguiu abrir a porta com o pé, sem fazer nenhuma força. Eu desisti, cruzei os braços e lancei um olhar mortal a ele.
- Cinco minutos. Por favor? – Pediu. Ele já tinha ganhado mesmo, o que eu tinha a perder?
- Cinco minutos. – Grunhi, dando espaço para ele entrar e fechando a porta logo em seguida. Ele ficou me olhando e eu sentei no sofá. Seguindo meu exemplo, ele se sentou ao meu lado. – Quatro, agora. – Murmurei, depois de um minuto de silêncio constrangedor.
- Por que você não queria que soubesse que já tínhamos namorado? – Perguntou. Ah, sério, ?
- Se veio aqui pra isso, tchau, passar bem. – Falei, me levantando do sofá. Ele segurou meu pulso direito e me puxou, fazendo com que eu me sentasse novamente.
- Ok, então você não é mais uma garota meiga e eu tenho que tomar cuidado com que eu falo. – Murmurou tanto para mim quanto para ele mesmo. Eu sorri debochadamente. – Hm, certo, eu só queria que você soubesse que era um dos meus melhores amigos, sabe, quando eu entrei no time. – Ergui as sobrancelhas.
- Tá. E? – Ele me olhou de um jeito estranho e sorriu.
- E nada, eu acho.
- Bom. – Sorri de um modo falso, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ele se levantou, e achando que ele (finalmente) estava indo embora, levantei atrás dele.
- Eu vim pra cá por sua causa. – Falou, de costas. Eu devo ter ouvido mal. Eu acho que estava pensando tanto em ser o motivo de ele ter voltado, que acabei ouvindo isso. Ou meus ouvidos deviam estar me pregando peças, só podia ser isso.
- O quê? – Ele se virou.
- Eu voltei para a cidade por sua causa. Queria te ver. – Minha boca se abriu em um “o” de admiração, mas antes que ele dissesse qualquer coisa, eu comecei a gargalhar. Que estúpido. Como ele pôde pensar que eu iria recebê-lo calorosamente depois de tudo que ele fizera? Eu ri tanto que meu abdôme até doeu. ficou parado, me olhando com confusão.
- Qual é a graça?
- Você é um péssimo mentiroso, . – Comentei, sentando no sofá novamente. Graças a ele, eu tinha perdido uma parte preferida daquele episódio de Friends e isso me deixou de mau humor.
- Mas eu não estava mentindo. Eu estou de volta. Não apenas na cidade, mas estou de volta. Aquele por quem você se apaixonou.
Eu fiquei sem reação por um momento. Confesso que uma parte de mim queria acreditar nele, mas a outra parte se perguntava se era possível odiá-lo ainda mais. Então fiquei calada, escutando meus pensamentos que me levaram há dois anos.

Flashback on

- Gorda!
- Baleeeeia!
- Compre um maiô maior que nesse aí não cabe sua bunda!
Eu não aguentava mais aqueles xingamentos, não aguentava mais aquele time, isso por que só se faziam dois meses que as aulas tinham começado. O colegial não estava sendo nada divertido até agora. A pior parte era que nadar era a única coisa na qual eu era realmente boa, mas até isso estavam tirando de mim. Fui até o vestiário de cabeça baixa, tirando o maiô molhado e trocando de roupa rapidamente. Sai do vestiário trocada e seca, mas meu cabelo ainda estava molhado e a temperatura estava baixa, por isso eu estava com muito frio. Coloquei a bolsa nas costas, animada de repente, pois lembrei que havia um moletom dentro do meu armário. Eu sempre deixava roupas a mais lá para ocasiões como essa.
Coloquei a senha, peguei o moletom e o vesti, dando um sorriso de alívio para mim mesma. Quando fechei o armário para seguir em frente, porém, dei de cara com Jenny e senti uma coisa gelada na frente da minha blusa. Ela havia derramado uma garrafa de água inteirinha no meu moletom.
- Ai flor, desculpa! Não te vi aí! – E me dando um sorriso falsamente chateado se afastou, me deixando lá chorando, com frio e sozinha. Jenny era o que eu chamo de abelha rainha. Ela falava, todos obedeciam. Ela andava, todos olhavam. Ela dava uma opinião, todo mundo concordava com ela. Uma das minhas melhores fantasias era que, um dia, eu deixaria de ser tímida, entraria na equipe e tiraria ela do comando. Seria incrível se isso acontecesse.
O vento passou e eu tremi de frio, me lembrando da roupa molhada. Frustrada, tirei a blusa, mas me embaralhei toda por causa das lágrimas e acabei esbarrando em alguém.
- Ei, você está bem? – Perguntou uma voz de garoto. Eu abaixei a cabeça, envergonhada por estar chorando. Acenei com a cabeça num gesto positivo, mas ele riu. – Você não está bem, eu vi o que ela fez. Está com frio?
Olhei para cima para ver quem era o estranho que estava sendo gentil comigo. Me deparei com um garoto bonitinho, quase do mesmo tamanho que eu, com os olhos brilhantes e redondos. Ele tinha cara de bebê e eu imediatamente confiei nele.
- Estou. – Consegui dizer. Ele deu um sorrisinho debochado e por um momento achei que fosse tirar uma com a minha cara também. Mas de alguma forma eu sabia que ele não faria isso, então relaxei.
- Aqui. – Falou, tirando seu próprio moletom, surpreendendo todas as partes de mim. – Amanhã você me devolve. – Terminou, piscando.
- Hm, obrigada. – Falei, aceitando a blusa. Depois que a vesti ele sorriu, aprovando.
- Ficou melhor em você do que em mim. – Eu ri, envergonhada. – Meu nome é .
Ele ficou calado, esperando que eu dissesse alguma coisa. Mas eu estava tão envergonhada e chateada que não consegui pensar em nada para dizer. Ele tinha sido tão gentil comigo e eu estava sendo, bem, péssima.
- Obrigada. – Murmurei para quebrar o silêncio. Ele riu.
- É, você já disse isso. – Eu senti meu rosto esquentar e fiquei calada de novo, só olhando para os meus pés. – Você não é do tipo que fala muito, né? – Perguntou. Eu sorri e neguei com a cabeça. Estava me sentindo verdadeiramente idiota, mas o que eu poderia dizer? Eu era tímida. – Bom, tenho que ir. A gente se vê. – Falou apressadamente, dando uma batidinha em meu queixo e se virando para sair. Eu não queria que ele fosse. Ele foi a única pessoa que se importou o suficiente para perguntar se eu estava bem.
- Meu nome é . – Disse depressa antes que ele pudesse se afastar demais. Ele se virou de frente para mim e eu vi o canto de seus lábios curvados em um sorriso.
- Eu sei.
Foi a primeira vez, desde que as aulas haviam começado, que eu fui para casa sorrindo.

Flashback off

Balancei a cabeça, espantando a memória e os sentimentos que ela trazia. Aquele não existia mais e aquela não existia mais. Simples assim.
Depois dessa lembrança, tudo que eu fiz foi rir mais um pouco. Ele me olhou confuso e eu ri ainda mais.
- Você é patético. – Consegui falar, entre risadas, me lembrando que fora disso que ele me chamara naquele distante tarde de verão.
- Mas voc...
- O que diabos você esperava? Que eu abrisse a droga da porta e te recebesse de braços abertos como uma velha amiga? Não vai rolar, . – Interrompi. Ele me olhou chateado, mas logo se recompôs.
- Claro que vai, eu n...
- Por favor, pare de falar. Não tem mais nada para você fazer aqui. – Ele ficou calado, esperando eu me acalmar. Acho que ele queria ter certeza de que eu não o interromperia novamente. E eu não faria isso.
- Queria saber porque não contou a sobre nosso namoro. – Então ele ia insistir nisso? Quem diz o que quer, escuta o que não quer, ele devia saber disso.
- Porque – Comecei, pausadamente. – Falar isso para ele seria a mesma coisa de admitir que eu já tive alguma coisa com você. E, acredite, eu apaguei completamente esse fato da minha memória. – Ele me olhou com uma careta chateada e eu sorri.
- Me apagou da sua vida, então? Acho que você realmente não gosta de mim. – Ele sorriu, mas eu tirei o sorriso da minha boca e lancei um olhar cruel a ele.
- Eu odeio você, . Nada do que você me disser, nada que passar por esses seus malditos lábios idiotas vai mudar o que eu sinto. – Ele ficou parado no meu sofá, e eu andei até a porta, sem sentir um pingo de arrependimento. Dei um longo e audível suspiro. – Seus cinco minutos acabaram.
Ele se levantou do sofá e foi até mim de cabeça baixa. Lentamente, seu rosto se levantou e eu percebi que ele estava quase chorando. Uau, mas o mundo dá voltas, não? Que irônico. Agora eu era a rainha do pedaço. Estava interpretando o papel que eu sempre quis e ele iria sofrer. Me encontrava diante da vingança que eu tanto desejava, então sim, eu estava amando ver naquele estado. Ele chegou mais perto de mim e sussurrou:
- Eu realmente não devia ter te deixado.
Eu dei um sorriso falso de compaixão.
- Discordo. Na verdade, estou muito melhor sem você. – E dando uma última piscadela, fechei a porta na cara dele.
Mas a porta não fechou antes de eu ver uma única lágrima silenciosa escorrer pela sua face.


Capítulo Três


Não era nada, . Era só fingimento. Teatrinho idiota pra te comover.
Coloquei isso na minha cabeça enquanto me arrumava, alheia a tudo que fosse .
. , pense em .
, o namorado perfeito. Lindo, popular, generoso, altruísta, dedicado, blá blá blá.
Era difícil pensar em quando me lembrava de chorando na soleira da minha porta, mas eu realmente tentei.
Tentei pensar nele durante todo o caminho que ele fez até a escola. Tentei pensar nele enquanto eu me despedia de minha mãe. Tentei pensar nele enquanto ensaiava a dança com o resto das líderes pela última vez. Tentei, eu juro que tentei.
Porém, quando vi parado próximo a mim, tudo o que tinha pensado sobre o desapareceu.
, esse não existe mais.
“Se você der mais um passo, saiba que eu nunca vou te perdoar e vou te odiar para sempre. Você pode implorar para me ter de volta, pode fazer o que você quiser, mas nunca, nunca mesmo, irei perdoar você”.
Foi o que eu disse a mim mesma, há dois longínquos anos atrás. Por que haveria de mudar minha opinião agora? Eu era assim, guardava rancores e nada nem ninguém poderia me fazer perdoar . Muito menos ele mesmo.
- ? Terra chamando ! – Gritou a voz de Shareen na minha orelha. Grunhi com minha falta de atenção por causa dele, de novo.
- O que disse? – Perguntei, confusa. Não ouvi uma palavra do que ela tinha me falado na última meia hora. Entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Vai ver meu ouvido não considerava a informação necessária, o que, vindo de Shareen, provavelmente não era mesmo.
Senti Shareen resmungar.
- Argh, , você nunca me ouve! – E saiu pisando duro. Parou Anne que caminhava distraidamente com seu fone de ouvido e deduzi que ela era a nova vítima. Em compensação, Liv se aproximou de mim.
- O que houve? – Perguntou, com uma voz preocupada. Liv era provavelmente a única amiga de verdade que eu teria, então apenas com ela eu me permitia contar das desventuras da vida. Para todo o resto, eu era a garota perfeita que não tinha problemas, e eu queria que eles continuassem a pensar assim.
- Ai Liv... – Suspirei. Estávamos perto da arquibancada e o jogo começaria em vinte e dois minutos. – voltou. – Desabei. Do meu jeito totalmente impessoal, mas desabafei mesmo assim.
- Aquele que te magoou e te picou em um milhão de pedacinhos? – Tentou adivinhar, franzindo a cara e fazendo gestos com a mão. Assenti, sem falar nada. Liv colocou uma mão em meu joelho. – E o que aconteceu?
Resolvi ser sincera.
- Ele apareceu na minha casa. As oito da manhã. Foi me pedir perdão. – Confessei. Liv levou as mãos à boca.
- E você perdoou?
- Claro que não. Fui toda vadia, como sempre. Mas isso não foi o pior.
Liv revirou os olhos, quase flutuando no banquinho.
- Ah, desembucha logo!
- Ele... Ele chorou, Liv. – Ela, mais uma vez, colocou as mãos na boca, como se isso diminuísse a gravidade da situação.
- Ele chorou?! Mas, mas... Não, ! Ele foi um putão cocozento! Não deixa ele te magoar mais com essa confusão que você está sentindo, amiga. É isso que ele quer. – Falou. Ela estava cem por cento certa, claro. Mas eu não estava confusa, só estava brava. Eram duas coisas completamente diferentes uma da outra. Ia responder, mas meu lindo namorado que sempre aparecia na hora mais conveniente possível, resolveu me chamar.
- ? Como eu tô?! – Tentou fazer graça, virando de costas para que eu pudesse ter uma visão do “ 57” gravado em sua regata.
Ri, rolando os olhos. Percebi Liv saindo de fininho, provavelmente indo falar com Rick.
- Lindo, . Maravilhoso.
Ele sorriu, vindo se sentar ao meu lado.
- Tipo muito mesmo?
- Muito mesmo. Várias minas, várias cantadas. – O garoto riu ao mesmo tempo em que eu revirava os olhos novamente. me puxou pra ele e me deu um beijo na testa.
- Mas sabe que eu sou só seu, certo?
- E eu sua. – Respondi mecanicamente, beijando seu pescoço. Ele sorriu.
- Me deseje sorte.
Dei um sorriso maléfico.
- Boa sorte, fominha.
- Não sou fominha! – Reclamou, enquanto eu ria. Ele era, sim, muito fominha, mas pelo menos jogava bem. saiu de meu campo de visão indo pra quadra e nesse momento foi que eu percebi que estava perto de mim. Eu não estava, eu realmente não estava, pronta pra outra conversa com ele. Pra ser sincera, eu provavelmente nunca estaria. Era muito mais fácil ignorá-lo e fingir que ele não estava lá, e foi exatamente isso que tentei fazer.
- Não ganho um beijinho de boa sorte também? – Murmurou, sarcástico. Não respondi, continuei arrumando meus cabelos no espelhinho de mão. – Vocês dois juntos são a maior melação. não pára de falar em você nos treinos, sabia? Dá enjôo.
Porém, naquele momento, a necessidade de defender e o meu próprio ego falaram mais alto que meu orgulho.
- É por que ele sabe dar valor ao que tem. – Devolvi.
- Valor? Você é fácil. Eu já te tive. – Não aguentei. Virei a palma da minha mão com toda a força contra a face de . Sua cara branca mudou para um tom rosado na hora. O filho da puta ainda fez questão de sorrir.
- Não me teve por tempo o suficiente para me chamar de sua. – Atirei. A expressão de hesitou.
Vai na minha casa pedir perdão e não consegue. Qual a melhor opção a seguir? Isso mesmo, senhoras e senhores, continuar sendo um idiota!
- Foi pouco tempo mesmo. Mas tenho certeza que você me amou mais em três meses do que ama esse babaca de quem você não desgruda. – Falou, achando que me intimidava.
Não, ele não me intimidava. Ele nunca mais me intimidaria. O melhor a fazer era mostrar minha superioridade. Aquela que ele ainda não sabia que eu tinha.
Primeiro eu sorri debochadamente. E em seguida, colocando uma mecha de cabelo azul pra trás, murmurei com a maior firmeza que eu consegui:
- Posso te garantir que eu jamais amei você.
- Prove – Desafiou, sorrindo.
Eu ri, cruzando os braços.
- Você não vai querer ouvir. – se sentou ao meu lado e apoiou o cotovelo no joelho. Quando olhei em seus olhos, quase vi o brilho meigo ali de novo. Balancei minha cabeça, meio que para espantar a ideia.
- Eu estou ouvindo – Murmurou, me fazendo bufar de raiva.
- Amor não morre, . Podem se passar anos, mas amor, aquele amor de verdade, nunca vai morrer. Se esse amor que eu senti por você está morto, então ele nunca existiu. Lide com isso.
E me levantando dignamente do banquinho, desfilei lindamente até a quadra sem esperar para olhar sua reação.


Capítulo Quatro


“Amor não morre, . Podem se passar anos, mas amor, aquele amor de verdade, nunca vai morrer. Se esse amor que eu senti por você está morto, então ele nunca existiu. Lide com isso”.
Não estava em meus planos ouvir aquela droga. Não estava. Também não estava em meus planos voltar pra minha cidade natal e descobrir que a garota por quem passei meses ensaiando um pedido de desculpas digno, agora era uma... Uma. Ah, comentei que essa mesma garota namorava o cara que eu considerava meu melhor amigo? Então, isso também não estava nos meus planos. Afinal, quando que alguma coisa que eu planejo dá certo? Nunca, exatamente.
“Se esse amor que eu senti por você está morto, então ele nunca existiu.”
Ele nunca existiu. Não preciso nem dizer que não estava em meus planos encontrar a minha garota assim, porque não estava mesmo.
Ela mudou. E eu me sinto culpado por ser a provável causa da mudança. Ela parece tão fria, tão insensível. Parece não ligar mais para sua própria parte emocional e se liga, posso dizer com certeza que a despreza. Ela definitivamente ativou o modo “foda-se”.
Eu sinto falta da garota meiga e sensível que eu deixei pra trás. Sinto falta de sua risada fácil, de sua compaixão para com todos, de sua timidez, de tudo. Sinto falta de tudo de mais idiota que a gente dizia, sinto falta das nossas conversas mais sérias, até de nossas brigas bobas eu sinto falta. Sinto falta de seu perfume, de suas esquisitas manias culinárias, de seus jogos preferidos. Sinto muita falta da minha garota.
Eu sou mesmo um apaixonado do caralho. Argh, dane-se. Eu sou.
E tive que me concentrar muito durante o jogo para não fazer merda. Os caras estavam contando comigo e eu tinha certeza que não podia vacilar. Joguei como nunca havia jogado, por mais triste que estivesse. Posso dizer que joguei... Bem, do mesmo jeito que qualquer um jogaria com tanta droga na cabeça.
Depois do jogo – que vencemos, mas estava bolado demais para comemorar esse fato – me chamou para ir para sua casa. Não, eu não concordei só porque estaria lá também. Ok, foi por isso. Foda-se, foi por isso mesmo.
E era na casa de seu querido namorado que eu me encontrava agora. Eu não queria deixá-la irritada, sabia que minha presença a irritava, mas precisava vê-la. Me doía saber que eu nunca poderia mais tê-la de volta. Pelo visto, ela guardaria um rancor enorme de mim, um rancor que jamais faria com que ela voltasse a ser a meiguinha que tinha sido um dia. Eu não podia mudá-la, ninguém podia.
- Oi – Disse uma garota morena e magra pra mim. Ela parecia comportada, apesar de sua curta saia. Mas bastou apenas um outro segundo para reconhecê-la como uma das líderes de torcida.
- Hm, oi. – Murmurei, sem a menor vontade de conversar. Deixei meu copo de Coca Cola em cima de alguma mesa para poder olhar melhor a baixinha que me encarava. Ah, o refrigerante. Eu não podia ficar bêbado, poderia acabar falando alguma coisa e confusão era a última coisa que eu queria. Mas estou divagando.
- Meu nome é Olivia – Ela falou. Muito legal esse seu nome, ainda bem que eu te perguntei.
- Me chamo . – Respondi sua pergunta implícita. – Será que eu posso fazer alguma coisa por você? – Perguntei, irônico. Não queria ser grosso, mas cara, estava tão impaciente. Ela ainda sorriu. Maldita Olivia.
- Pode sim. Você pode ir tomar no seu cu. – Respondeu, docilmente. Eu gargalhei. Será possível que ela tenha ido até mim apenas para me xingar?
- Claro, claro. Algo mais?
Ela sorriu por mais um tempo.
- Sim. Fique longe da minha amiga. – Que amiga? Eu faria essa pergunta oralmente, até que ficou bem claro quem era a sua amiga.
- Liv, eu te procurei por toda parte, o que está faz... ? – Olivia deu uma risadinha.
- Nada, , estava apenas parabenizando o por aquele lance da cesta de três e tal. Foi uma tacada bem legal. Vem, vamos dançar. – E saiu. apenas revirou os olhos pra mim e não virou em minha direção uma vez sequer. E era muito óbvio que Olivia estava tirando uma com a minha cara, porque eu errei aquela cesta. Errei muito feio.
Droga de vida.
- Por que está com essa cara de bunda? – Perguntou .
- Nossa, que bom que você apareceu. Estava mesmo precisando de alguém pra dizer isso. – Respondi do jeito mais sarcástico que pude. riu.
- Relaxa, cara, só tô preocupado. – Acho que fui um pouco grosso.
- Foi mal. – Sussurrei. deu de ombros.
- Mas e aí, o que rola?
Eu ri, sem nenhum humor.
- Você não vai querer saber. – franziu as sobrancelhas.
- Pode ir contando, , o que houve? – Suspirei. Precisava contar essa merda pra alguém, né? Era muito pra se aguentar sozinho.
- – Falei. Ele pulou da cadeira.
-? Namorada do ? Puta merda, você endoidou? – Ri de novo, olhando de rabo de olho pra .
- Não estou de olho na namorada de , é quem namora minha ex. Tecnicamente, vi primeiro. – deu um tapa em sua própria testa.
- É ? Aquela que você escondia? A que... A gente fez você...?
- Sim – suspirou.
- Você está tão fodido, .
Legal, . Como se eu não soubesse.

Flashback on

- ? Vai ter boliche hoje? – Cocei a cabeça.
- Não vai dar, ... Tenho que sair com ela hoje.
- Pô, cara, vou levar a Hanna, trás ela junto! Você nunca trás. – Disse . Não, , não posso. Ela é horrível, mesmo. Você tinha uma loira gostosa pra exibir e eu não tinha nada.
- Ela odeia sair de casa e tal. Ela é meio...
- Frescurenta – Completou .
- Parece ser chata pra caramba. Não sei por que ainda está com ela, – Riu .
Eu estava cansado de não poder sair com o time por estar ligado a . Eu não tinha tanta vergonha dela. Ok, eu tinha. Ela nunca penteava o cabelo, Deus! Isso era horrível. Queria tanto que ela fosse uma pessoa normal, e se arrumasse como uma garota normal. No começo foi legal, ela era um doce e eu achei que sua fase tímida iria passar. Mas não passou. E ela era muito grudenta, sempre queria estar comigo, onde quer que eu fosse. Eu literalmente estava com ela só por pena. Acima de ser horrível, ela infelizmente era uma boa pessoa, o que só deixava tudo pior. Eu poderia ser um caralho, mas era um caralho legal, não queria ferir seus sentimentos nem nada do tipo.
- Ela não é chata – Defendi. Ela era muito chata.
- Está escrito na sua cara, . Vamos, termina logo que vai ser melhor. – Aconselhou . Ele tinha razão, mas mesmo assim.
- A gente nem nunca viu ela mesmo. No mínimo porque você tem vergonha de sair com ela na rua. – Falou . Ele também tinha razão.
- Qual é, , vai pra casa dela agora, termina tudo e vamos pro boliche com a gente. Ela vai aguentar, já deve ter reparado que está distante.
Eu não sabia o que fazer. Por um lado meus amigos estavam certos mas, por outro, gostava mesmo de mim e apesar de não estar mais nem aí pra ela, não queria saber que ela iria chorar por um babaca como eu.
- Mas ela é muito sensível, caras. Ela com certeza vai ficar destruída. – riu.
- Melhor ainda! É só você ser super cuzão, destruir ela pra valer. Ela vai ficar mais com raiva do que destruída, nem vai sofrer tanto.
- Tem certeza? – Estava desconfiado desse plano. Eu poderia ser um idiota, mas ser idiota com a intensão de machucá-la? Não sei se conseguiria.
- Anda, , seja um homem e termina logo. – Incentivou . piscou, para reforçar as palavras de ou para me dar mais incetivo, acho.
- Droga – Murmurei. – Ok, eu vou lá. Encontro vocês no boliche daqui uma hora.
E eu sabia que estava com a passagem pro inferno comprada com aquele plano que estava na minha cabeça.

Flashback off

Eu era um idiota de merda, ah, como eu era. Dava até vergonha ter essa memória na cabeça. Droga. Como eu pude ser tão babaca? Eu magoei ela conscientemente, sabia que ela estava cada vez mais chateada a cada palavra que eu dizia... Como eu pude fazer isso?
Eu era o pior idiota do mundo.
- E agora? – Perguntou . Que pergunta mais inútil.
- Meu plano era chegar nessa porcaria de cidade e reconquistá-la a todo o custo, mas ela está totalmente diferente. Ela me odeia, .
- Você fez alguma coisa pra, sei lá, amolecer o coração dela? – Não, não fiz. Muito pelo contrário, fui um completo imbecil e ainda ouvi o que não queria. Contei a ele, mesmo com vergonha, e ficou com cara de quem não sabia se ria ou se me socava. Gostaria que ele tivesse me socado, mas ele riu.
- Você é assim tão idiota? Ao invés de fazer ela te odiar ainda mais, devia fazer ela voltar a ser quem era. Está muito óbvio o porquê de ela ter mudado tanto. A culpa foi nossa – Era visível que ele estava absolutamente chateado.
- Não, a culpa foi minha. Vocês só deram a ideia, fui eu quem a machucou.
colocou a mão em meu ombro.
- é única, especial. Quando se conhece ela de verdade, ela não é tão má assim. Mas eu adoraria ter conhecido a garota sensível e meiga que você teve a oportunidade de ter. – Eu sorri, apesar de essa observação ter me machucado. Eu tinha tido a garota mais fantástica do mundo e a desprezei por motivos totalmente fúteis. Não acreditava em minha própria babaquice.
- Que droga. – Murmurei, frustado.
- Trga ela de volta, . Tudo que vai, volta.
Olhei para ele de olhos arregalados.
- Ela namora com o , lembra? Não é assim tão simples. Ele é louco por ela. – Era verdade. estava completamente apaixonado pela minha garota e só um imbecil não veria isso. Eu não era tão imbecil.
- E daí? Pode magoar o , mas você não concorda que é melhor que ele fique um pouco chateado e voltar a ser mais... Doce? – Pelo visto, ela era bem mais má do que estava querendo me dizer. Fiquei assustado. Ele deu um pulo. – Ali, ela está ali e está sozinha. Vai falar com ela, corre! – Gritou, apontando para um ponto distante do jardim. Ela realmente estava sozinha e parecia estar chorando. Não precisei que me falasse duas vezes, levantei do banco em um átimo e fui até onde estava. Ela segurava um celular na mão, devia estar falando com alguém.
- Por favor, atende, atende. – Suplicava. chorava e essa cena me fez lembrar de quando a deixei em sua sala há dois anos. Tinha doído ver ela chorando e está doendo agora. – Merda, sinal idiota, celular idiota, mundo idiota, motorista idiota! – Xingou. Olhei para meu próprio celular e vi que havia sinal. Droga, ela vai descontar em mim.
- Quer usar o meu? – Falei, finalmente. Ao contrário do que pensei, ela não revirou os olhos ou fingiu que não me conhecia. Só me olhou assustada.
- Há quanto tempo está aí?
- Há tempo o suficiente. Toma, usa. – Ofereci, estendendo o aparelho para ela. olhou para minha mão um pouco desconfiada, mas aceitou a gentileza. O mais estranho foi ter se jogado em meus braços, me abraçando de um jeito que estava querendo ser abraçado e nunca consegui. Já tive várias outras namoradas depois dela, mas nenhuma me abraçara assim. Era esse abraço que eu estava procurando e era dessa garota que eu precisava.
- A Kitty morreu, . Ela foi atropelada, mas ela não pode ter morrido, eu preciso da Kitty! – Merda.
Kitty era a gata de . Eu nunca vou entender a relação “humano-bicho de estimação” que tinha com aquela gata. Kitty era dócil, fofa, peluda e esperta. Era branca, tinha uma mancha cinza perto da cabeça, era pequena e entendia tudo que a gente falava. Dormia ao lado de em sua cama e sempre que a gente saía, falava que não ia demorar e já voltava. Kitty virava a cabeça para o lado como se dissesse que não queria que ela fosse e ficava comovida com aquela carinha e voltava para abraçar aquela bola de pelos. Ela amava Kitty mais que tudo, fora presente do pai dela. Ela dizia que se sentia ligada a ele quando Kitty estava por perto.
Apertei com toda minha força, querendo passar por meio de um abraço tudo o que tinha sentido nos últimos sete meses. Sentia falta dela, falta de nós, falta dessa cidade, falta das coisas que fazíamos juntos. Sentia tanta falta e finalmente a estava abraçando.
R.I.P Kitty.

Flashback on

- , a gente vai se atrasar. – Resmunguei do lado de fora do quarto, quando ela não parava de mudar a roupa. “Argh, Kitty, manda ele calar a boca”, escutei ela falando para a gata. Kitty miou, o que interpretei como um “Cala a boca, .
- É um jantar com seus pais, , eu quero estar apresentável. – Falou do lado de dentro. Revirei os olhos.
- Eles vão gostar de você de qualquer jeito. Se vestir um saco de batatas eles vão gostar de você. – E era verdade. Meus pais nem conheciam , mas já a adoravam. Podia jurar que estava sorrindo.
- Eu quero causar uma boa primeira impressão. Obrigada.
- Eu não tenho nada pra fazer aqui, me deixa entrar. – Ela riu.
- Nunca!
- Que tédio. – Gritei. botou a cabeça para fora do quarto, colocando a gata no chão.
- Veja, Kitty disse que vai te fazer companhia. – Falou, fechando a porta em seguida. Kitty se sentou e me encarou, como se me dissesse que não tinha a menor vontade de me fazer companhia. Me levantei para pegar aquela bola de pelos gorducha. Comecei a acariar a gata e ela estava lambendo minha mão com aquela língua minuscula e rosada. Era uma coisa tão fofa ver uma gata com a língua pra fora. Sem nem perceber, estava brincando com Kitty todo alegre e nem ouvi quando saiu do quarto com um roupão.
- Mudei de ideia, me devolve ela aqui. – Falou, levando minha companheira anti-tédio para dentro.
- Droga. – Murmurei, fazendo ela rir.
- Vamos, . – Falou, abrindo a porta do quarto uns quinze minutos depois com Kitty no colo. Descemos os degraus da escada e colocou a gata em sua caminha que ficava na sala. Se despediu de sua BFF e me deu a mão, mas se virou quando Kitty miou atrás dela. Revirei os olhos, sorrindo.
- Pega ela logo. – ela deu um sorriso radiante e me beijou, pegando Kitty no colo. A gata estava feliz por ter percebido que ia dar um passeio e me olhou como quem diz obrigado. Acho que estavámos começando a nos entender.
- Minha mãe ama gatos. – Sussurrei, depois que ela me deu um segundo beijo de agradecimento.

Flashback off

- E o motorista nem prestou socorro, minha mãe está louca. – Ela suspirou no meu ombro. – Quero ela de volta.
Passei a mão em seus cabelos, aliviado com a chance que recebera.
- ? , cadê você? – Me separei dela, mesmo que a contragosto, assim que escutei a voz de . Ela não respondeu, mas uma luz iluminou aquela parte do jardim (ou floresta) e encontrou a gente. – , o que aconteceu, você saiu de lá chorando, o que...? – Perguntou, preocupado e confuso, passando mão de um modo carinhoso em sua fase, dando um beijo em sua testa em seguida. Me arrumem uma privada, acho que vou vomitar.
- A Kitty. Ela morreu, . – Suspirou a garota, recomeçando a chorar. Eu não tinha a menor ideia do que fazer, quando o próprio decidiu por mim.
- Ah, , vamos lá, era só um gato. – Disse ele, tentando acalmar. Droga, , mas que merda! Todavia, em sua defesa, não havia maldade em sua voz. Era como se ele não soubesse do valor que Kitty tinha para . E olhando mais atentamente para a reação de ao ouvir aquilo e o modo como não tentou se defender, me provava o que eu queria saber. não conhecera a minha , e não tinha como saber o quanto a garota amava aquela gata.
parou de chorar na hora. Limpou as lágrimas e avançou em .
- Não era só um gato, não era! ERA UMA GATA, FÊMEA, NO FEMININO, PRA COMEÇO DE CONVERSA! ELA ERA MINHA MELHOR AMIGA, E ME TRATAVA MELHOR QUE MUITA GENTE QUE EU CONHEÇO! – Ela passou as mãos pelos cabelos, e eu vi, pela luz da lanterna que ainda não havia apagado, que ela tinha arrancado alguns fios. – Estou cansada, , me deixa. Estou... estou de luto.
Abaixei os olhos, eu não devia estar ali. Mas eu estava, e olhava a sombra da garota triste que eu não podia consolar. Pior que sentir estar no lugar errado, era a sensação de fracasso. Estava me matando ficar ali só olhando o sofrimento dela. Porém eu não podia fazer nada, ela me odiava.
- ... – Sussurrou , tentando pegar o braço dela. Ela se soltou bruscamente.
- Me deixa, . – Falou em voz alta, saindo do jardim. Eu tinha que fazer alguma coisa. Mas o quê?
“Trás ela de volta, . Tudo que vai, volta”, dissera , há menos de uma hora. Será que eu poderia trazer ela de volta? Melhor, será que ela queria voltar?
notou minha presença e em um ato impussivo eu sibilei:
- Eu vou atrás dela.
Sem nem esperar sua resposta (ou seu consentimento, talvez), sai correndo atrás de . Eu a encontrei dez minutos depois, sentada em um banquinho do outro lado da casa de . Estava olhando para baixo, hiper chateada e, achando que ela queria ficar sozinha, por um momento cogitei voltar para a festa. Era isso mesmo que eu estava fazendo quando ela resolveu olhar para cima e me encarar.
- ? – Chamou. Não tinha como resistir, não é mesmo? Aproximei-me dela.
- Estou aqui. – Sussurrei, sentando ao seu lado. Ela sacudiu a cabeça.
- Por que fez isso, ? Por que disse todas aquelas coisas? – Perguntou. Fiquei sem saber o que dizer, afinal, tudo aquilo foi resultado de um impulso idiota e de más conselhos. Não disse isso a ela. Preferi pensar em silêncio, mas no fim, disse uma quase verdade.
- Eu não sei. Eu não sei o que deu em mim e nem o motivo que eu disse aquilo tudo.
Ela riu.
- Era por que tinha vergonha de mim, não era? Por que me achava inferior as outras garotas que você poderia exibir? Por que eu era gorda e você queria que e...
- Não diga isso! – Interrompi. Jogar aquelas verdades na minha cara estava sendo bem doloroso e nem eu mil anos eu iria querer me lembrar daquilo. Ela ainda estava com o risinho cínico, mas não parecia que ia levantar tão cedo.
- Eu parecia burra, , mas só parecia... Nunca fui uma.
- . Pelo amor de Deus, só... – Eu não sabia o que deveria dizer. Era óbvio que meu pedido de desculpas que eu tanto ensaiei não valeria de nada agora.
Mas percebi uma coisa. Ela estava, realmente estava, esperando que eu dissesse algo. Por mais que me odiasse agora, eu a conhecia bem o suficiente para saber que ouvir aquelas palavras e aceitá-las eram coisas totalmente diferentes. E ela queria ouvir, simples assim.
- Bom, o senhor “Eu Tenho Todas As Explicações Para As Minhas Idiotices” não parece muito seguro de si agora... – Comentou, rindo de minha cara aflita.
Eu tinha muito para falar e pouco poder de argumentação. Foi preciso ela fazer um movimento indicando que ia sair do meu lado para que eu a empurrasse (delicadamente) de volta ao banco e ficasse de frente para ela. A confiança sumida de agorinha a pouco tinha se reconstituído e eu precisava daqueles três minutos de coragem insana para fazer o que quer que fosse agora. Ela fez uma careta.
- Com licença, quero ir para casa. Minha gata está morta, lembra? – Falou, revirando os olhos. Eu sorri do jeito mais canalha que consegui.
- Não. Agora você vai me ouvir.
Isso a surpreendeu tanto, que fez ela franzir ligeiramente as sobrancelhas e continuar sentada onde estava. Ela estava lidando melhor com meu lado canalha do que com o meu lado manteiga de pão derretida, percebi.
- Como se eu fosse obrigada. – Murmurou, algum tempo depois. Sorri.
- Você tem resposta para tudo, não?
- Só para o que me interessa. Às vezes eu não perco muito tempo, não. – Murmurou. E essa foi minha confirmação verbal que sim, ela queria mesmo ouvir meu perdão.
- Eu não sei porque fiz tudo o que fiz, eu juro. Só tinha quinze anos, fiquei popular do nada, mas a gente era muito diferente... E não veja isso como uma coisa ruim! – Acrescentei, vendo que ela ia me interromper. O que ela fez de qualquer jeito, claro.
- , eu virei uma vaca, não sou nem um terço da que você conheceu. Vê se não desperdiça saliva com declaraçõezinhas bregas. – Informou.
- Não, você não virou. Pode não ter a mesma aparência da que eu conheci, mas você está aí. Uma pessoa não pode mudar tanto assim. – Argumentei, mais para mim mesmo do que para ela.
- Acredite, as pessoas mudam... E , bem... – Começou, suspirando.
Eu não sei de onde vieram as palavras que sairam da minha boca depois disso. Só sei que falei tudo que precisava e sem nem me esforçar tanto para tal. Mas foi ela tocar no nome do que eu falei tudo que eu queria.
- Você não ama ele, , ama? Ele faz o que eu fiz? Ele nem sequer sabia da existência da Kitty até você contar sobre ela! – Falei, um pouco mais alto do que queria. – E sabe do que mais? Ele não é esse principe encantado! Eu aceitaria você vestida em um saco de batatas. Ele? Você tem ideia do que ele falava de você naquela época?
Ela fez uma cara decepcionada.
- Ele não...
- Podia ter sido burro antes, mas eu acredito que as pessoas mudam. – Continuei, fazendo ela se calar. – Eu mudei, e mudei para melhor. Eu tive que trabalhar duro para conseguir voltar para essa maldita cidade só para me desculpar com você! Passei os últimos sete meses infernizando minha mãe para eu voltar, e aí meu irmão simplesmente me colocou no primeiro vôo e mandou eu sossegar o facho. Eu estava perdido lá, sem saber o que fazer, tendo rolos e mais rolos, procurando você em tantas garotas... Mas você não era nenhuma delas e eu precisava de você. Eu cheguei aqui e não fazia ideia de como você estava, não fazia ideia do que me esperava. É claro que me surpreendi quando te reconheci, mas isso não mudou o que sentia... Só sei que, sendo a , para mim já estaria bom. – Sussurrei, me aproximando dela. A garota estava estática e eu temi que ela fosse rir da minha cara a qualquer momento, mas ela não fez isso. Só ficou me encarando com os lábios entreabertos. – A de antes, a de agora... Não importa para mim. Apenas tinha que ser a . Tinha que ser você.
Nossos lábios estavam perigosamente pertos um do outro. Em respeito ao , que não tinha culpa de nada, eu juro por todo o universo que eu ia me afastar, mas fez o que eu estava pensando. Ela me puxou e me deu o maior beijo. Na boca.
E ah, quando ela fez isso... Quando ela fez isso, eu já não respondia mais por mim. Depois de alguns segundos de supresa coloquei toda a saudade que eu sentia naquele beijo, toda a minha culpa e todo meu arrependimento estavam ali. Segurei sua cintura da forma mais forte e protetora que consegui, e surpreendendo todas as partes de mim, não interrompeu o beijo uma única vez. Só parecia querer mais e mais e eu não estava nem aí para ninguém que estivesse olhando, só queria me aproveitar daquela situação o máximo que podia.
Interrompemos o beijo mesmo não querendo, era apenas por que nenhum dos dois tinha mais ar para continuar. E ainda perto de mim ela sussurrou:
- Eu senti tanta sua falta, seu babaca. – Sorri. Eu sabia que ela não tinha me perdoado, mas beijar um cara que você odeia é um meio caminho andado. Digamos então que ela me odiava mais ou menos agora. Melhor perguntar.
- Você ainda me odeia?
Ela olhou para o chão.
- É meio estranho eu falar como uma humana normal assim, que sente alguma coisa, mas... Não. Eu nunca cheguei a te odiar. Eu odiava era amar você tanto assim.
Eu ia dizer algo bem idiota, do tipo “ah, agora você vai terminar com o melequinha e tudo será um mar de rosas!”, quando ela acabou com minha alegria prematura.
- Mas não pense você que esse climinha aqui mudou alguma coisa. Eu realmente gosto do , . – Murmurou. – E eu não sei o que fazer.
Com muito respeito, claro, coloquei minha mão direita em suas costas.
- Veja, meu plano não era roubar você de ninguém, até mesmo por que eu nem sabia que teria que te roubar de alguém. – Ela sorriu. – Mas... Bom, eu não vou te influenciar a me escolher nem nada, mas...
- Escolher? Como assim?
Cocei a cabeça, constrangido pela primeira vez desde que começamos a conversar.
- Está confusa, , e eu vou reconquistar você. – Anunciei. Ela deu uma risada, que felizmente parecia bem mais com sua antiga risada do que com sua risada de vilã vadia de filme americano.
- Também não pense que esse momento de carência em que me encontro por causa de Kitty me amoleceram completamente, por que não amoleceu. Estou tão irredutível quanto ontem. – Exclamou, dando outra risadinha. Parei de rir.
- Lamento pela Kitty. – Ela piscou.
- Não, a Kitty está bem. Minha mãe não sabia direito o que tinha acontecido e falou que ela tinha morrido, mas a pobrezinha tinha prendido a pata no bueiro quando o caminhão passou, por isso estava imóvel. O caminhão nem chegou a encostar um dedo nela. – Informou, feliz. – Minha mãe é PHD em drama.
Eu ri e repentinamente tive uma ideia.
- Ei, vem comigo? – Pedi. Ela me olhou desconfiada.
- Para quê?
- Parte um da operação “ quer de volta” está prestes a entrar em ação. – sorriu, se levantando. Se eu pensei que ela iria fácil assim, estava redondamente enganado.
- , , ... Se quer mesmo me reconquistar você sabe que vai ter que fazer bem mais do que isso. – Falou, rindo.
Exibi minha melhor cara de tacho.
- Mas isso pode demorar meses! – Reclamei. cruzou os braços.
- E aí alguma lambisgóia aparece, ocupa meu lugar e você não terá com o que se preocupar.
Parei de rir na hora e olhei bem para a cara dela.
- Ninguém vai ocupar seu lugar. – me lançou um sorriso terno e segurou minha mão.
- Eu te desejaria boa sorte, mas eu sei que isso vai ser fácil. No fundo, no fundo, eu estou louca para que você me reconquiste.
Dei um sorriso.
- Eu vou.
Ela só me deu uma piscadinha e voltou para festa, sem me falar mais nada depois disso, me deixando lá com meus pensamentos. Eu não sabia o que ia acontecer agora, não sabia o que faria e nem como ela agiria daqui para frente. Porém fiquei pensando em como ela se portou essa noite e no quanto da que ela sempre fora ainda estava dentro dela, o que só comprovava a minha teoria de que ela nunca deixou de ser ela mesma. E foi lá, naquele banquinho, que eu tirei todas as minhas conclusões.
Eu iria mesmo reconquistá-la, e existia um milhão de porquês para isso. Porque eu a amava. Porque ela também me amava, mesmo que não tivesse me dito isso com todas as letras, eu sabia. Porque por mais idiota tenha sido meus atos de adolescente babaca, eu tinha mudado e a queria. Porque sim, minha estava voltando aos poucos para mim e ela queria voltar. Porque mesmo que tivesse um namorado ela tinha me dado uma chance. Porque eu era um otário apaixonado. Porque eu nunca na vida encontraria alguma garota como ela.
E porque ela ainda era a única para mim, sempre seria.




Fim



Nota da autora:MUAHAHAHAHA (risada-maléfica-seguida-daquela-básica-esfregadinha-de-mão). GENTE, NÃO ME ODEIEM E NEM CONTRATEM ASSASSINO PROFISSA PARA MATAR-ME, OK? Ai, a louca! Prevejo os seguintes comentários: “1. A história até que é legalzinha, mas arruma esse final aí, tia. 2. Isso aí foi mesmo um final? O arquivo não se perdeu no meio do caminho, não? Mesmo assim vou mandar um e-mail para a beta, só para confirmar. 3. E o namorado fofo??? E a piranha da Jenny???? O que aconteceu com everybody????? ”. E por aí vai.
Desculpem, eu queria mesmo dar um final digno para todas as personagens, e peço desculpas por não ter feito isso, mas tenho um certo limite de páginas... ah, talvez eu faça continuação, quem sabe. Essa história saiu do fundo do meu s2. Eu só escrevo gente, meu coração é quem manda. Na verdade, no caso de ficstape, é a letra que manda. Vão lá ler a tradução de Still The One, bate perfeitamente. Aaaah, estou feliz por (FINALMENTE) escrever sobre a música de uma banda pela qual sou apaixonada (<3), então me deem um desconto e digam que amaram e que essa pp é uma vaca rainha. Já não basta o ódio gratuito pela pp de Good Thing... (Sério, TODO MUNDO odiou ela, e eu não estou generalizando). Tá legal, já falei demais. Quero apenas deixar aqui embaixo minhas outras fics (nem estou virando uma viciada em ficstape, imagina!), e o grupo do face também (ENTREM ENTREM ENTREM) e dizer que vocês são umas lindas, maravilhosas e cheirosas, e dizer que muito obrigada e dizer para vocês se sentirem amadas forever.
Beijos no core





Outras Fanfics:
01. Welcome To New York (Ficstape 1989, Taylor Swift/Finalizada)
02. Good Thing (Ficstape In The Lonely Hour, Sam Smith/Finalizada)
Just A Girl (One Direction/Em andamento)
Chemical Of Love (Outros/Em andamento)



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