Capítulo Único
“Twist around the lounge Sun drowns the house”
Enxuguei as lágrimas e levantei-me pronta para arcar com as consequências de todas as minhas escolhas nos últimos meses.
Na verdade, não todas as escolhas. Não é como se eu tivesse tido a opção de amá-lo ou não.
Amar não foi uma escolha, mas se eu pudesse escolher, continuaria o amando todos os dias.
Ouvi batidas na porta e antes mesmo de receber autorização, a pessoa foi entrando em meu quarto.
- – me chamou enquanto me abraçava com força – Você sabe que assim vai ser melhor não sabe?
- , eu não quero ir!
- A gente já não teve essa conversa?
- , por favor – choraminguei ainda abraçada a ele.
desfez o abraço para olhar em meus olhos e pude perceber que os dele estavam tão marejados quanto os meus.
- Você sabe que eu te amo não sabe?
Assenti com a cabeça antes de ser envolvida em seu abraço novamente. Aproveitei a proximidade com seu corpo e tentei memorizar aquele momento com todas as minhas forças.
Seu cheiro, seu toque, sua voz e seus abraços seriam coisas que eu jamais esqueceria.
- Posso te pedir uma coisa?
- Só se você prometer parar de chorar.
- Não sei se consigo – dei um sorriso fraco – Promete que não vai me esquecer? Que sempre que você usar a nossa jaqueta você vai lembrar de mim e quando você ouvir a nossa música também, mas principalmente sempre que você parar para admirar o céu, seja de dia ou de noite.
- Esquecer de você seria como esquecer de respirar, .
“ I didn’t even see you when I liked you”
Veja bem, nada contra ir para a igreja, até eu venho as vezes. A questão é que não vejo razão para demorar horrores dando audiência para a gente que só quer ter um assunto para fofocar durante a semana.
Eu até ficaria na roda de jovens que se formava do lado de fora após os cultos, mas eu sabia que não era bem-vinda ali. Aparentemente meu nível de pureza é inferior demais ao deles, então quando me aproximo é perceptível os olhares de reprovação, mas sinceramente? Eu não ligo.
Sorri com malícia ao ver quem descia a rampa do estacionamento mal iluminado. .
é o verdadeiro significado de pedaço de mal caminho. Pro meu azar, além de comprometido, ele jamais olharia para uma garota tão nova. Infelizmente isso não me impedia de fantasiar com ele.
- Bonita jaqueta, - fiquei vermelha e tentei disfarçar mexendo no couro preto da minha roupa.
- Obrigada, Sr. - sorri ainda sem encarar seus olhos.
- Senhor? - riu fingindo estar abismado - sei que faz tempo que não nos vemos, , mas ainda é cedo pra me chamar de senhor.
- Okay... - olhei em seus olhos antes de prosseguir - desculpa, . - o apelido pareceu dançar em minha língua antes de sair.
- Sem contar que você não é mais nenhuma menininha - senti minhas bochechas esquentarem quando seu olhar varreu meu corpo - É perigoso você ficar aqui sozinha.
- No estacionamento? - perguntei com desdém - ainda mais o da igreja?
- Não sei se você percebeu, mocinha - encostou no mesmo carro que eu, ficando ao meu lado - mas o estacionamento fica em um terreno separado do da igreja - o homem apontou o portão do local - e fica aberto para qualquer um entrar - não sei se era minha mente pregando peças, mas senti sua aproximação - Além de tudo, aqui é bem escuro.
- Não me incomodo com nada disso - ergui a sobrancelha em desafio - O culto não foi sobre isso? Não tenho o que temer pelo que entendi da mensagem.
sacudiu a cabeça em negação e tentou segurar um risinho.
- O que foi? - perguntei desconfiada.
- Nada - mordeu os lábios prendendo a risada - Você não parece ser do tipo que presta atenção na pregação.
- Para que mais eu viria então? - me senti ofendida e não fiz questão de esconder isso - É por isso que venho cada vez menos, ninguém conhece ninguém, mas está sempre todo mundo querendo dar pitaco.
- Calma, - pareceu assustado com a mudança do meu temperamento, mas ficou aliviado quando percebeu que sua voz chamando meu apelido me acalmou - Eu não quis ofender, é que eu na sua idade achava isso um saco.
- Por que você vinha então?
- Filho do reverendo, esqueceu?
- Ah - murmurei me sentindo arrependida por ter sido tão grossa - Desculpa pelo modo como falei contigo. É que o pessoal me tira do sério, achei que você fosse começar a me julgar também.
- Eu te conheço desde quando você não sabia falar sem citar algum filme da Barbie. Vi seus pais te educarem, e por mais que quando eu vá encontrar seu pai não te veja com tanta frequência, sei que você é maravilhosa.
Dei um sorriso orgulhoso tentando oprimir a timidez que sentia só quando estava perto dele.
- Meu carro está bloqueando a passagem - se afastou do carro e de mim - Boa noite, .
Quando ele já estava a certa distância o chamei.
- Bela jaqueta também, .
O homem sorriu de lado antes de voltar a caminhar com as mãos no bolso de sua jaqueta de couro preto igual a minha.
“Now I ain't got no time”
Estranhei as luzes apagadas quando abri o portão do quintal. A gente sempre deixa a luz de fora acesa até o último morador chegar.
Olhei os carros estacionados na rua e como eu suspeitava, havia mais carros que o normal.
Suspirei fundo antes de abrir a porta da sala já sabendo o que me aguardava.
-SURPRESAAAA!!!
Tentei sorrir fingindo não saber que aquilo ia acontecer e passei os olhos por cada rosto ali.
Minha mãe segurava um bolo com as velas de 17 anos em cima dele, enquanto meu pai sorria para mim ao lado dela.
Sorri novamente, só que dessa vez com sinceridade ao perceber meus amigos e familiares ali presente querendo me agradar e parabenizar.
Tentei não fazer careta quando virei o rosto e encontrei alguns membros da igreja.
Respirei fundo tomando coragem para ir cumprimentar um por um, mas nem precisei já que meus amigos mais íntimos vieram se jogar em mim tomando toda a minha atenção.
“Girl I wanna see you undo it”
Eu adorava fazer aniversário simplesmente por acreditar que era como ter um réveillon só para mim, a minha própria época de recomeço, um ano novo exclusivo. Mesmo assim eu sentia que algo faltava. Não digo na festa, e sim em minha vida.
Aproveitei a distração do grupo que conversava comigo e me retirei querendo um tempo sozinha.
Sentei na grama do quintal dos fundos e pude senti-la um pouco úmida por causa do sereno. Admirei a lua sentindo meu peito apertar cada vez mais.
Ansiedade é uma completa merda e sempre acabava estragando o meu aniversário. A sensação de ter perdido um ano junto com a sensação de medo pelo que viria, além disso me sentia sozinha. Sei que tinha gente dentro da minha casa, amigos, parentes, conhecidos de diversos círculos sociais, mas não sentia que alguém ali me conhecia de verdade. Não os culpava já que eu mesma não sei direito quem sou, mas pra pessoas que dizem me amar eles nem se interessam em descobrir comigo.
- Estão te procurando para cortar o bolo. - Encarei de soslaio se aproximando com uma garrafa de cerveja na mão - Eu até te ofereceria um gole, mas você ainda não fez 18. Aliás, não consegui falar com você antes - o homem sentou ao meu lado sem a preocupação de se sujar com a grama - Feliz aniversário, .
- Obrigada - só percebi que chorava quando minha voz saiu enrolada - Pensei que você não pudesse beber - tentei fingir que não estava com o rosto vermelho e molhado por culpa das lágrimas - Por conta do seu pai, a igreja e tal.
deu um gole de sua cerveja e me encarou de lado em silêncio.
- Já sou grandinho para saber o que posso fazer ou não, . Sem contar que não estamos mais na idade média onde a igreja ditava cada passo. – O homem bebeu mais um pouco de sua cerveja antes de prosseguir -Você é tão bonita que me faz esquecer das coisas.
Fui tomada pela surpresa já que além de não ter relação com o assunto anterior, jamais imaginaria me falando algo do tipo.
- Você já está bêbado? - questionei desconfiada.
- Não - desviou o olhar para o chão - É que você está chorando e mesmo no ápice da fossa você consegue ser linda – deu de ombros - isso é algo que deve ser apreciado.
- Eu não to chorando - sequei as lágrimas e funguei - também não estou na fossa.
- Uau - ele disse irônico - imagina se estivesse então... Mas o que foi?
- Não foi nada ué. - puxei o ar gélido - É só que.... Bom, você vai achar que eu sou doida.
- Isso eu já acho - deu um sorriso de lado zombando - Você não precisa guardar para você, . - ele voltou a usar um tom mais sério - Sempre que você quiser conversar pode me procurar.
- Melanie é uma mulher de sorte - soltei sem pensar - Sério, você deve ser um noivo incrível.
- Você está tentando desviar do assunto de novo? - me lançou um olhar reprovador - Eu já tive a sua idade, sei o que é isso que você está sentindo.
- O que?
- O medo de não ser o suficiente, de não ter e não merecer alguém, de não ser alguém. Mas nada disso é verdade, . Você é mais do que suficiente. Sei que é difícil se sentir bem consigo mesma, mas você é incrível. Só precisa descobrir isso.
Ao ouvir aquelas palavras meu corpo congelou.
soube me acalmar mesmo sem saber o que me afligia, como se pudesse ler meus sentimentos e me ajudar a desembaralhar meu nó mental.
Estudei cada traço do seu rosto. Desde a barba, até seus olhos que pareciam a janela para um universo novo. Seus lábios sempre tão convidativos, principalmente quando chamavam meu apelido. O formato irritantemente perfeito do seu nariz e até seu cabelo propositalmente desajeitado. Quando fitei seus olhos novamente, constatei que o homem me analisava da mesma forma e com a mesma intensidade. Peguei seu olhar encarando meus lábios e os entreabri como se convidasse sua boca para juntar-se a minha.
- Finalmente achei vocês.
Olhei para trás saindo do meu transe e encarei Melanie lhe dando um sorriso amarelo.
Melanie era uma Barbie humana e eu sempre soube disso.
Enquanto estava no auge de seus 27 anos recém completos, Melanie estava com 25 e ainda tinha cara de 17.
Nos meus 7 anos ela já tinha 15 e era a menina que todas queriam ser. Bonita, inteligente, educada e muito paparicada. Quando Mel começou a namorar o cara mais bonito da igreja eles viraram o Príncipe e a Princesa dos filmes que eu assistia. Lembro que nessa época eu comecei a espalhar por aí que odiava . Todo mundo pensava que era ciúmes do modo como meu pai o tratava, como se ele fosse um filho, ou então que eu estava na fase de odiar todos os meninos.
A verdade é que eu só queria fingir que diferente de todas as meninas, eu não morria de amores por . O problema é que além de não ser imune ao charme dele, o efeito que ele causava em mim não passou. Conforme eu crescia conseguia me prender ainda mais.
Quando eu fiz 13 anos a ficha caiu de que além de estar a anos com a Miss Perfeição, jamais olharia com segundas intenções uma garota 10 anos mais nova. O esperado era que depois disso eu tocasse o barco e eu toquei de certa forma. Porém mesmo me envolvendo com outras pessoas e me afastando de e da igreja por meses, ele continuava a me fazer sentir borboletas onde não devia. Ao contrário do esperado, ele não era aquela fase que toda menina tem de gostar de um carinha mais velho e inacessível, ele era meu. Não sei o que, mas ele era meu.
- Sua mãe pediu para eu te chamar, - me levantei pronta para ir - Antes deixa eu te dar meus parabéns e um abraço!
Caminhei em sua direção sem a menor vontade e percebi assistindo a cena com um olhar indecifrável.
- Feliz aniversário, boneca - Mel usou o apelido pelo qual me chamava quando eu era mais nova - Que Deus abençoe você sempre!
Sorri agradecendo e desfiz o abraço.
Quando estava me afastando pude ouvir Melanie comentar com seu noivo sobre como ela estava se sentindo velha já que me viu aprender a andar e assentindo.
Depois dos parabéns e os docinhos grande parte dos convidados foram embora, deixando apenas meus tios e que assistiam junto com meu pai a luta de um cara que queria recuperar o cinturão.
Observei no meio dos meus parentes que possuíam uma idade elevada comparada a sua e tentei imaginar que a situação era outra. Como se ele estivesse ali como meu namorado, interagindo com a minha família e tratando seu sogro como um pai. Fiquei vermelha e desviei o olhar quando me encarou percebendo que eu o fitava.
O método de fuga eficaz que eu encontrei foi ir para o quarto abrir os presentes. Distraída com tudo que havia ganho, nem reparei quando a porta do quarto foi aberta. Só percebi a presença de alguém quando senti um perfume forte masculino que eu reconheceria em qualquer lugar.
- ? O que...
- Eu ainda não dei seu presente, .
Liberei um espaço na cama jogando algumas coisas no chão para que o homem sentasse de frente para mim.
- Não precisava se incomodar, .
- Você nem sabe o que é! – deu um riso de lado que fez meu coração bombear mais forte – Lembra da sua festa de 15 anos?
É claro que lembrava! Além de ter sido uma das melhores noites da minha vida, eu passei uma tremenda vergonha. Sem que meus pais percebessem acabei ingerindo mais álcool do que o indicado e pedi um beijo de presente para .
- Claro que sim – fiquei vermelha e encarei minhas mãos.
- Você me pediu uma coisa de aniversário que eu não podia te dar.
- , eu...
Não pude terminar de falar já que no mesmo instante se aproximou de mim com uma agilidade invejável e uniu nossos lábios em um selo carinhoso. Apesar de me sentir no céu com o pequeno gesto, não me contentei e aprofundei o beijo.
As probabilidades de eu estar sonhando eram altas, então resolvi arriscar e arranhei a barriga de por de baixo da blusa e me permiti ser deitada por ele tendo seu corpo por cima do meu. Soltei um suspiro entre o beijo ao sentir sua pele se arrepiar com meu toque e contrai minha barriga quando sua mão grande entrou em contato direto com a minha cintura.
se afastou aos poucos e deu um beijo em minha bochecha antes de se levantar.
-Feliz aniversário, .
“I wanna see you but you’re not mine”
Suspirei fundo olhando no espelho. Eu havia crescido e com certeza me orgulhava disso.
Depois de sete anos no exterior estudando e adquirindo experiência de trabalho (eu tentava a todo custo esquecer que minha mudança tinha motivos que iam além disso), eu finalmente estava de volta.
Acho que eu mesma não me reconheceria depois de tanto tempo e tantas mudanças. Apesar de ter muitas pessoas para reencontrar e matar a saudade, não saia da minha cabeça.
Será que ele e a Melanie ainda estavam juntos? Será que ele continuava lindo? Talvez esteja calvo e com barriga de cerveja. Não, é impossível ficar feio.
- Está pronta, amor?
Virei meu rosto de lado apenas o suficiente para encarar Scott, meu noivo.
- Claro – lancei um sorriso tentando parecer segura e calma, mas aparentemente não funcionou muito.
- Você está estranha desde que o avião pousou aqui – observou – Você não quer ir ao casamento?
- Claro que eu quero! Isso é só um pouco de ansiedade por rever o pessoal – apressei em inventar uma desculpa - mas eu não perderia o casamento da Jane por nada.
Scott me olhou como se tentasse investigar a veracidade das minhas palavras.
- Não devo me preocupar de nenhum ex namorado querer te tirar de mim, certo?
Apesar do tom de brincadeira que foi usado, não consegui conter uma careta de susto. Porém infelizmente não é como se depois de anos quisesse algo comigo.
Consegui sentir meu peito enchendo de emoção assim que entrei na igreja onde ocorreria a cerimonia de casamento da Jane e do Sven. Desde o ensino fundamental Jane é minha melhor amiga e nossa amizade conseguiu aguentar anos e anos, mesmo no tempo em que eu fiquei fora. Era impossível não ficar mexida com o casamento dela, sem contar que nunca imaginei ela sendo a primeira do nosso grupo a se casar.
Scott segurou a minha mão e começou a falar sobre como ele imaginava nosso casamento, mas eu estava ocupada demais procurando uma certa pessoa pela igreja e nem prestei atenção em uma palavra que ele dizia. Não que eu não gostasse dele, claro que gostava. A questão é que minha ansiedade falava mais alto do que os planos para o futuro que o meu noivo fazia.
Eu pensei em como seria esse momento mil vezes, imaginei qual seria minha reação de diversas formas diferentes, mas em nenhum dos meus devaneios eu via entrar na igreja desacompanhado, vestindo uma roupa social que parecia ter sido desenhada para ele. Em nenhum dos encontros que eu imaginei meu coração batia com tanta velocidade. Assim que nossos olhares se encontraram foi como se um furacão passasse por todo meu corpo. Observei o exato momento em que o olhar de caiu sob Scott ao meu lado desligado da tensão que parecia envolver e eu. O homem olhou para o meu noivo com um olhar duvidoso e depois voltou a me encarar, como se questionasse a presença dele ali comigo.
Enquanto fazia o pequeno percurso até o banco atrás de mim, meus olhos não desviaram de seus passos uma vez se quer. parecia surpreso com a minha presença ali, talvez ele realmente não soubesse da minha vinda, apesar de ser meio óbvia meu comparecimento ao casamento da minha melhor amiga. Seu olhar era tão intenso e inquieto, parecia significar mil coisas ao mesmo tempo.
Forcei minha concentração a focar no casamento que iria começar ao invés de ficar pensando no cheiro maravilhoso do perfume de que estava perto o suficiente para que eu pudesse sentir.
- Eu imaginei por tanto tempo com seria te ver vindo na minha direção vestida de noiva.
Senti meu pescoço junto com todo o meu corpo se arrepiar ao ouvir sussurrando em meu ouvido de forma discreta. Involuntariamente fechei meus olhos e pude visualizar em minha mente cada momento em que nossos corpos estiveram tão próximos.
Até o fim do evento meu corpo permaneceu tenso e em estado de alerta como se a todo momento esperasse por uma aproximação de , mas isso infelizmente não aconteceu nem quando chegamos no salão em que seria realizado a festa.
O olhar de sob mim fazia minha pele queimar como se qualquer coisa vinda dele pudesse me fazer entrar em combustão.
Fui ao banheiro conferir o batom e tentar fugir um pouco das perguntas inconvenientes que Scott fazia ao mesmo tempo em que me escondia de .
Quando retornei a mesa em que estava com meu noivo, pude sentir meu coração parar e o ar escapar de mim totalmente. e Scott conversavam como se fossem bons amigos de infância.
- Ah amor – Scott me cumprimentou com um rápido beijo nos lábios quando sentei ao seu lado com uma expressão ainda confusa – Eu estava aqui conversando com o , ele me disse que você provavelmente não lembraria dele, mas pelo que ele estava me contando o seu pai sempre o tratou como um filho.
- Você realmente foi idiota ao ponto de imaginar que eu não lembraria de você? – questionei irritada e ofendida – Que tipo de pessoa você acha que eu virei, ?
Ao invés de responder diretamente minha pergunta levantou-se e segurou em minha mão, fazendo com que um choque percorresse todo meu corpo
- Já conversei com seu noivo e ele disse que por ele tudo bem. Aceita dançar comigo, ?
Antes que eu pudesse concordar ou negar, o homem já nos levava em direção a pista de dança.
- Não é possível isso – ri com escárnio quando Give me Love começou a tocar – Você pediu para o Dj por essa música? – perguntei desconfiada.
apenas negou com a cabeça e envolveu minha cintura com um braço enquanto sua outra mão segurava a minha. Cada parte de mim clamava por uma dose de , e aquela proximidade estava sendo dolorosa tanto sentimentalmente quanto fisicamente.
- Você realmente achou que eu seria capaz de esquecer você? – Perguntei ainda um pouco ressentida.
- Sinceramente eu torci para que sim, – ele me fez rodopiar antes de juntar nossos corpos novamente – é doloroso pensar que você sofreu tanto quanto eu de saudade.
-...
- Mas não importa mais, não é? – ele me lançou um sorriso forçado – Você seguiu em frente, está com outra pessoa agora e estou feliz por você.
Seu tom de voz fez com que eu sentisse sua amargura em meu próprio coração.
- E as coisas com a Melanie? – mudei de assunto.
- Não tinha como ficar com ela sabendo que jamais a amaria do mesmo modo que te amava, sem contar que depois do que ela fez você passar, eu não conseguiria chegar perto dela sem sentir nojo.
Sacudi a cabeça tentando esquecer as ameaças de Melanie e o inferno em que ela queria transformar minha vida.
- Eu quero te ver, eu quero te ter – me girou novamente – Mas você não é minha, .
Antes que eu sequer raciocinasse nosso pequeno momento, a música terminou e depositou um beijo demorado em meu pescoço. Assisti deixar o salão em silêncio.
Já estava próximo das duas da manhã quando resolvi ir respirar um pouco de ar puro e fui ao lado de fora da festa.
Sempre odiei cigarros e o cheiro que eles deixam, mas ver de roupa social com seu cigarro entre os dedos era a personificação da palavra charme.
- Você está se entregando cada vez mais aos vícios da carne.
levou um susto ao ouvir minha voz já que não tinha percebido minha aproximação.
- Um vício que tenta suprir a falta de outro é um vício perdoado. – deu outra tragada antes de prosseguir – Seu noivo parece ser meio lerdo.
Repreendi o homem com um olhar e recebi uma revirada de olhos como resposta.
- A gente passou por tanta coisa – suspirei – Você acha que se eu não tivesse noiva.... Bom... você sabe.
- Passei anos sonhando com você, . Sonhar um pouco mais não faria mal já que sei que nós dois é algo que não aconteceria na realidade.
Senti o choro ficar preso na garganta, porém não disse nada.
- É estranho, não é?
- O que?
- Pensar em tudo que a gente viveu e perceber que apesar de tudo aquilo, a história acaba com você sendo de outra pessoa.
- Quando você gostava de mim a gente não podia se encontrar, e agora...
- Eu não gostava de você, – murmurou me olhando de forma profunda – eu te amava, da mesma forma que ainda te amo.
- Existe algum jeito de desfazermos essa confusão toda?
- Chega a ser irônico – riu de maneira sarcástica – Antes eu queria te ter e simplesmente não podia, agora eu posso. Você está aqui tão acessível, e ao mesmo tempo tão impossível.
- Nós não vamos fazer isso de novo, .
Senti seus braços me envolverem com firmeza.
- Eu sei, pequena.
Apesar de já ter 25 anos e o apelido não combinar tanto comigo, parecia perfeito quando dito por .
- Eu quero te entregar uma coisa – ele desfez o abraço só para pegar um envelope dentro de seu paletó – leia quando estiver sozinha e preparada.
me deu um beijo perigosamente perto dos meus lábios e quando estava a uma distância virou em minha direção novamente.
- Por mais que eu tenha adorado você nesse vestido, você fica irresistível de jaqueta de couro.
Soltei uma gargalhada lembrando de quantas vezes saímos ambos com uma jaqueta daquelas e quase sempre era sem ser combinado. Observei aquele sorriso de lado que eu tanto amava e ali eu tive a certeza de que não importava quantos anos eu ficasse longe, quantas pessoas eu conhecesse, ninguém preencheria meu coração da mesma forma que . E isso é algo que não dá para ser desfeito.
“You think we're doing it again keep dreaming”
Acordei assustada e praticamente sem ar. Sonhei que a terceira guerra mundial acontecia e enquanto a cidade era bombardeada, e eu fugíamos juntos. Sonhar com ele acabou me lembrando a carta que eu ainda não havia lido. Observei Scott adormecido ao meu lado e levantei de forma silenciosa até o quintal de casa.
O céu já estava uma mescla de roxo com laranja, sinal de que a manhã estava se dando inicio. Encarei o papel em minhas mãos e puxei o ar tomando coragem de finalmente ler seu conteúdo.
“21 de Janeiro de 2008
,
Não sei quando conseguirei lhe entregar essa carta, se é que posso chamar isso assim, mas acho que não existe forma melhor de me expressar do que por esse meio.
Faz apenas um dia que você foi embora e eu já sinto que tudo por aqui ficou mais feio e mais chato.
Hoje teve jogo do nosso time e eu tentei a todo custo assistir, mas não ter você torcendo aqui comigo parece uma forma de tortura.
Espero que saiba que te amo.”
30 de Janeiro de 2008
Uma semana que você foi embora e tudo só piora. Não sei se deveria te contar isso, mas Melanie veio aqui em casa. Ela disse que estava disposta a voltar comigo se eu quisesse. Qual o distúrbio você acha que ela tem? Eu tenho certeza que não é normal uma pessoa fazer de tudo para tentar separar duas que se amam mais que tudo só para ficar com uma delas.
Por Deus, ! Eu tenho tanto medo que você esqueça que eu te amo. As vezes me pego ouvindo nossa música enquanto vejo o amanhecer e penso que se eu me esforçar, de alguma forma você vai conseguir sentir que estou pensando em você. Sinceramente, eu penso em você a maior parte do tempo.
Espero que saiba que te amo.
01 de Março de 2008
Faz tempo que eu não escrevo e eu sei disso, mas as coisas andam meio corridas por aqui e por mais que eu odeie admitir, tenho tentado não pensar muito em você. Dói cada parte de mim imaginar quanto tempo mais eu terei de ficar sem seu abraço ou seu beijo. Sei que fazer faculdade aí é uma oportunidade única para você e jamais te deixaria abrir mão disso só para ficar comigo, mas saber que as ameaças da Melanie tiveram peso e influenciaram sua escolha só faz com que tudo doa mais. Eu entendo que Melanie tenha se magoado, mas arrancar uma parte minha já é demais.
Eu conheci uma mulher hoje e ela pareceu bem interessada, ela era bacana até, mas tinha o pior defeito de todos. Ela não era você.
Espero que saiba que te amo.
14 de Agosto de 2008
Hoje é seu aniversário e eu sequer tenho como te mandar um parabéns, mas eu tenho fé que você sente aí como eu gostaria de estar com você.
Passei o dia ouvindo musicas que antes só ouvia porquê você me obrigava. Assisti mais filmes do Harry Potter do que gostaria de admitir, e fiz questão de ver o nascer do sol, e também estava lá quando ele se pôs. Claro que fiz tudo isso pensando em você. Essas coisas fazem eu sentir como se você tivesse para chegar e me abraçar a qualquer momento.
Pensei que fosse desmaiar hoje tamanho sufoco que senti quando finalmente me permiti chorar. Chorei de saudade, de raiva, de tristeza. Simplesmente me permiti chorar. Talvez seja estranho um homem como eu chorar tanto assim, na verdade, acho que foi a primeira vez que chorei desde a morte da minha mãe anos atrás. Olha o tipo de coisa que você faz comigo, .
Torço para que seu dia tenha sido especial e que você não tenha pensando em mim um minuto se quer, pois sei o quanto isso te machucaria.
Espero que saiba que te amo.
20 de Janeiro de 2009
Um ano desde nosso último beijo e abraço. 365 dias desde a ultima vez que você foi minha. Hoje tentei me distrair um pouco pela internet, mas tudo me fazia pensar em você. Estranho como mesmo depois de um ano você ainda faz parte de mim. Fui até a perfumaria só para comprar a marca que você usa e poder sentir seu cheiro sempre que a saudade apertasse com mais força. Talvez não pareça algo muito hetero a maneira como me expresso, mas você sempre foi madura e sempre me conheceu melhor do que ninguém. Você sabe que cheguei a uma fase da vida que não vejo razões para esconder o que sinto, afinal, nunca sei quando vai ser minha ultima oportunidade de declarar o que se passa dentro de mim.
Encontrei um poema hoje e lembrei de você:
Não se admire se um dia
Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que não lhe vejo
Ah! Que saudade de você
Escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio
Com frases dizendo assim
Faz tempo que não lhe vejo
Quero matar meu desejo
Lhe mando um monte de beijo
Ah! Que saudade sem fim
Queria poder te mandar um beija-flor, mas nem isso está em meu alcance.
Espero que saiba que te amo.
08 de Novembro de 2009
Hoje quase liguei para você, mas Jane não deixou. Além dos seus pais ela é a única que tem seu número novo e não quis me passar. Ela acha que isso faria mal para nós dois e eu não sei se concordo ou discordo.
Uma engenheira nova chegou lá na empresa e ela é bem divertida, mas não sinto como se eu e você realmente houvéssemos terminado, então parece que eu estaria te traindo e isso é algo que eu não faria nem em sonho. Ela pareceu entender que eu tinha alguém e aceitou ser apenas minha amiga. Sven acha que eu deveria dar uma chance já que não nos falamos a mais de um ano, ele acha que eu deveria seguir em frente. Não sei se me considero pronto para isso.
Espero que saiba que te amo.
20 de Janeiro de 2010
Mais um ano sem qualquer contato com você e parece que nunca vai deixar de doer.
Fui viajar no final de semana para um lugar muito frio e acabei levando minha jaqueta de couro. Quando me olhei no espelho usando algo tão nosso, não aguentei e tive uma recaída. Voltei a fumar.
Eu tenho noção de que escrevo cada vez menos e em longos espaços de tempo, mas não é porque te esqueci. É que eu percebi que não preciso fazer isso como forma de te manter presente na minha vida. Mesmo sem estar de fato aqui, é como se você nunca tivesse me deixado, pois eu sei que uma parte minha também nunca te deixou.
Espero que saiba que te amo.
14 de Agosto de 2014
Faz alguns anos que não te escrevo, mas achei melhor parar de vez quando soube que você estava namorando. Acontece que hoje sonhei com você. Sonhei que você aparecia no meu quarto e dizia o quanto tinha sentido minha falta. Dentro do sonho nós matamos a saudade, mas em compensação quando eu acordei meu coração estava tão pesado quanto no dia que você partiu. Hoje foi um daqueles dias em que quase te liguei, mas quando fui pedir seu telefone pra Jane ela estava na linha com você e pulou de alegria ao receber a noticia do seu noivado. Acabei fumando uns 20 cigarros antes de criar coragem e vir me despedir de você.
A essa altura do campeonato você já seguiu sua vida, e fique tranquila, eu estou orgulhoso de você. , você ainda é tão nova, tem muito pela frente. Não precisa se preocupar comigo.
Lembra da engenheira? Nós saímos uns meses depois de quando lhe escrevi sobre ele. Acabei chamando ela de mais vezes do que o indicado então não demos certo, mas sei que um dia eu vou funcionar com alguém. Não tão bem quanto quando era com você, mas acho que tentar não vai me matar.
Sinceramente fazia tempo que eu não escutava nossa música, mas hoje no programa da Rádio Baú tocou e eu me dei conta do tempo que passou. Nossa música tocando na sintonia das antigas não é algo que eu esperava ver. Para piorar logo na sequência tocou She Will Be Loved e eu pude me lembrar com perfeição da tarde em que você ficou reclamando da chuva e achou que seria uma boa ideia matar o tempo com música. Foi ali que confessei que sempre pensava em você ouvindo ou tocando essa canção. , minha rainha da beleza.... Como você conseguia ser tão insegura e tão forte ao mesmo tempo? Acho que essa música é perfeita para você por diversos motivos que você conhece. Não tenha dúvidas de que assim que pousar a caneta na mesa, pegarei meu violão e começarei a dedilhar a sua canção.
A gente tentou tanto tempo desfazer nossos sentimentos e isso acabou os fortalecendo mais, não é?
Eu não esqueci do seu aniversário, jamais esqueci e provavelmente só um Alzheimer é capaz de me fazer esquecer. Em todo caso... Feliz aniversário, pequena.
Espero que saiba que te amo.
E sempre amarei, .
24 de Maio de 2015
Eu disse que não escreveria mais, eu sei disso. Simplesmente não tem como não surtar sabendo que você provavelmente estará no casamento do Sven com a Jane. Seu noivo provavelmente estará te acompanhando e isso me deixa ainda mais tenso, mas prometo que vou tentar me controlar.
Para ser sincero eu estou um pouco atrasado para o casamento, mas acho que é justo a carta final ser a antes do nosso encontro.
Nesses últimos anos eu aprendi a viver sem você, porém também percebi que eu não quero isso. Eu mudei muito e sei que você provavelmente também mudou, mas eu acho que a gente pode fazer dar certo. Agora sem ninguém ameaçando a gente por conta da sua idade e agora sabendo que podemos sair de mãos dadas sem ser só fora da nossa cidade. Depois de tantos anos estamos finalmente livres para poder nos amarmos. A questão agora é se você quer isso.
Se você acha que merecemos uma chance, . Se você acredita que vale a pena e se mesmo depois de tantos anos você ainda sentir seu coração acelerar e sua mão congelar, basta você pegar sua jaqueta e bater na porta da minha casa. Não importa o dia ou a hora, eu sempre estarei pronto para te receber.
Caso você não queira, eu espero de verdade que seja feliz e que tenha encontrado alguém que faça você se sentir como me sinto em relação a você.
E então , você vai botar a jaqueta?
Ps: Espero que saiba que te amo.”
Fim
Nota da autora: Primeiramente eu quero pedir mil desculpas se você esperava algo diferente do que encontrou. Pra ser sincera eu amo essa música e desde o começo tinha pensado em algo 100% diferente pra ela, porem para a minha infelicidade, o meu objetivo não foi fluindo e eu tive que mudar tudo de ultima hora. Eu ficaria bem feliz se você compartilhasse sua opinião comigo aqui nos comentários. XOXO
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