Capítulo Único
POV
Eu sempre fui uma pogue. Até meu pai morrer e, alguns anos depois, minha mãe começar a se relacionar com um kook empresário e eu ter que mudar para a parte rica de Outer Banks, o que, teoricamente, me tornava uma kook. Mas eu não era, nunca seria uma kook e nunca faria parte dos grupinhos de mauricinhos e patricinhas. Bom, era o que eu pensava, até ser praticamente forçada pela minha mãe a me afastar dos meus amigos e de tudo que se relacionasse aos pogues, porque meu novo padrasto não achava que pessoas da classe social mais alta, que “batalharam para conseguir todas as riquezas que possuíam”, deviam se relacionar com os “preguiçosos” da periferia da cidade.
— Olha só quem resolveu aparecer… — Ouço a voz de John B ao me aproximar da fogueira do lado de fora da casa. — Fazem o quê, cinco meses?
— Cinco semanas, John B. Para de encher o saco. — O cumprimento com um dedo do meio e um sorriso divertido.
— Mas ele tem razão, . Você via a gente todo dia e agora vai fazer que nem um pai ausente e nos visitar de quinze em quinze dias? — Pope concordou enquanto me cumprimentava.
— Eu vejo a Kiara o tempo todo, vocês tão com drama pra cima de mim…
— É, Pope, para de ser dramático. Ela é uma kook agora, não tem pra que andar com a gente. — Finalmente JJ diz algo e vai sentar numa árvore um pouco afastada de onde estávamos.
— E a Kiara é uma kook também…
— Eu sou uma pogue, nem vem. — Kiara interrompe a tentativa de justificativa de Pope e fica bem ao meu lado.
— Eu não sou uma kook e nunca vou ser. — Me viro indignada para JJ e recebo apenas um dar de ombros como resposta.
— Você sabe como ele é… devia tentar falar com ele. — Kie põe a mão no meu ombro e cochicha: — Foi uma semana conturbada.
— Pra quê, se ele vai me responder com grosseria? — respondo, mas mesmo assim vou para onde o garoto está sentado enquanto fuma um cigarro.
Eu, John B e JJ éramos amigos desde sempre, Pope chegou um pouco depois e, por último, Kiara. Nós éramos inseparáveis e eles foram meu porto seguro quando meu pai morreu. Minha mãe não podia me proibir de vê-los, não depois de tudo que passamos juntos.
— Posso? — pergunto, apesar de não importar a resposta, porque eu iria sentar de qualquer jeito, e recebo o mesmo dar de ombros. — Jay, é sério que você vai me tratar assim agora?
— Cinco semanas, nem uma mensagem de texto você enviou pra gente. — Ele dá uma tragada forte e seu rosto, que antes estava virado para o lado oposto ao meu, fica de lado para mim, me possibilitando ver a marca vermelha em seu rosto.
— O que foi isso? — Toco impulsivamente e ele reclama da dor repentina, o que só mostra que o machucado é recente.
— Não tenta mudar de assunto, .
— Foi ele? — Fico de frente para o garoto, apoiando a mão em seu joelho.
— Pensei que a gente tava falando de um assunto sério.
— E isso não é?
— Claro que não. Ele me bate praticamente todas as semanas, a gente já tá acostumado com isso. — JJ solta um risinho após a frase, mas eu permaneço com a mesma expressão.
— Eu vou falar…
— Não, não vai. Escuta, ele bebeu demais, me culpou pelo sumiço da minha mãe e me bateu, só isso.
— De novo. Jay, você não tem culpa.
— Eu sei, , mas não é você que vai mudar a cabeça dele… agora sua vez, por que não falou com a gente?
— Minha mãe quer me afastar de tudo e todos que sejam pogues para satisfazer meu novo padrasto. Ela deu a desculpa de que ele iria me dar um celular novo e tirou meu celular, só que até agora não recebi outro…
— Wow.
— Então não vem ser grosso comigo, você sabe que eu nunca me afastaria de vocês. — Faço uma carinha triste e JJ solta um riso leve, apoiando a mão em minha coxa e despertando um arrepio repentino saindo do local.
Nesses últimos anos, surgiram algumas novidades na nossa amizade. JJ não era muito de demonstrar afeto com ninguém, mas me permitia chegar perto e abraçá-lo. Ele era quem mais me irritava e, no começo, minhas respostas sempre eram tapas leves, mas depois foram evoluindo para ele prender minhas mãos, ou me abraçar e sair correndo, ou só me soltar quando eu parasse de bater, e ultimamente, depois disso a gente ficava se olhando por um bom tempo com os rostos próximos demais para dois amigos, além das novas provocações em forma de flerte. Era óbvio que eu sentia um tipo de atração por JJ, apesar de tentar negar de todas as formas. Eu percebia como ficava quando ele se aproximava até demais ou com qualquer toque inesperado. Mas obviamente não iria acontecer nada, por dois motivos: o primeiro e mais importante, pogue não pega pogue, e o segundo, porque eu era praticamente uma irmã para ele. E claro, ele também era como um irmão pra mim.
— Dá um trago. — Praticamente arranco o cigarro da mão de JJ para que ele não perceba a minha reação e puxo o ar com toda a força do mundo, tentando afastar todo e qualquer pensamento com JJ.
— Ei, ! Se quiser bebida, tem lá dentro. — John B grita e levanta a garrafa que estava em sua mão. Respondo ele com um polegar positivo e viro para JJ antes de me levantar.
— Então estamos bem? — Ele responde com um sorriso e um aceno de cabeça e levanta ao mesmo tempo que eu, se dirigindo para a rodinha mais à frente enquanto eu seguia para a casa de John B.
Já fazia uns 5 minutos que eu tinha entrado para procurar as bebidas e JJ adentra a casa de repente.
— O John B esqueceu de avisar que ele guardou as bebidas lá atrás. Vem me ajudar a pegar. — Ele me chama e o sigo até o local indicado, que fica na parte de trás da casa. Só dá para escutar o barulho abafado dos gritos animados do outro lado e os grilos, que parecem estar por toda parte, apesar de não conseguir vê-los.
— Se lembra que a gente veio brincar aqui uma noite e eu fiquei morrendo de medo? — Me apoio na parede da casa e olho para o meio da floresta enquanto JJ vasculhava o freezer.
— Sim, você ficou abraçada comigo o tempo todo e o John B começou a zoar a gente. — Solto uma risada e ele me acompanha, tirando uma caixa de cerveja do freezer e se aproximando de mim logo em seguida. — Pode me abraçar se estiver com medo, Ali. — Ele fala exatamente a mesma frase de anos atrás, só que dessa vez com um olhar divertido, uma intenção diferente. E eu não sei como reagir, então apenas dou um sorriso fraco, sentindo meu coração acelerar à medida que ele se aproxima cada vez mais. Eu deveria recuar? Sim. Eu queria recuar?
— Jay… — Ele me entrega o pacote de bebidas enquanto parece olhar cada detalhe do meu rosto.
— ? — Eu consigo sentir sua respiração e a única coisa que nos separa naquele momento é aquela maldita caixa. O motivo do nosso encontro ali atrás. Então ele se afasta, quebrando toda a tensão e indo até o freezer novamente. Eu deveria imaginar que ele não iria querer ficar comigo, afinal, eu sou a irmãzinha dele e JJ sempre faz essas brincadeiras. — Vamos ver se essas duas vão ser o suficiente.
— Finalmente! — Os três comemoram assim que chegamos e Kiara se aproxima de onde eu estou.
— Tudo bem? Aconteceu alguma coisa lá atrás?
— O quê? Tá tudo tranquilo, Kie. — Entrego uma cerveja para ela e me sento ao lado de John B, recebendo um olhar estranho de JJ, provavelmente porque esperava que eu sentasse ao seu lado. — E aí?
— Tava com saudade de você. — John B me abraça e eu retribuo, pegando duas garrafas de cerveja logo em seguida e dando uma para ele. Ele parece entender a minha situação mais do que JJ, o que me conforta em não ter que lidar com dois rabugentos ao mesmo tempo.
— Eu também. Minha mãe quer me proibir de ver vocês, mas ela não vai conseguir. — Sorrio enquanto acaricio seus cabelos e apoio minha perna sobre a dele.
— Vai dormir aqui hoje?
— Posso falar para a minha mãe que vou dormir na casa de alguma amiga.
— Kie, você falou pra o que aconteceu ontem? — Pope solta após tomar um gole da cerveja e Kiara nega com a cabeça rindo.
— Quis deixar pra falar aqui, só o John B sabe fazer os detalhes mais precisos e quero ver a reação dela. — Começamos a rir, menos JJ, que permanece sério enquanto encara minha perna posicionada sobre John B.
Então eles começam a contar que ontem invadiram o porto e foram perseguidos pelos policiais, cada detalhe da aventura, fazendo eu me sentir como se estivesse lá com eles.
— E aí ele caiu enquanto tentava fugir e quase foi pego, né JJ? — Pope fala entre risos e se vira para o garoto, que não parece estar prestando muita atenção na história e só assente com a cabeça.
Depois de um tempo, em que o piti de JJ pareceu ter passado, continuamos conversando por horas, rindo e fazendo brincadeiras bestas. John B tinha razão. Cinco semanas pareceram cinco meses longe deles e eu não podia estar mais feliz por vê-los novamente. Já consigo sentir minha cabeça um pouco pesada e eu com certeza não iria voltar para casa assim. A situação dos outros não é das melhores também.
— Então, dorme aqui? — John B pergunta e eu confirmo com a cabeça. Ele se vira para os outros, que ajudam a limpar toda a bagunça feita. — E vocês? Quem vai ter a honra de dormir na minha casa? — Kiara e Pope negam, porque, segundo eles, iriam ter que acordar cedo no outro dia, e JJ fala que vai pensar. Eu queria que ele dormisse lá, nem queria imaginar o que poderia acontecer caso ele voltasse pra casa aquela hora.
— Ei, Jay, me ajuda com essas garrafas? — Ele se aproxima com uma dancinha estranha, enquanto roda a camisa que havia tirado devido ao calor, e começa a jogar as garrafas que restam no saco enorme.
— Vem, dança comigo. — JJ pega minhas mãos e começa a rodopiar, me forçando a fazê-lo também.
— Para, eu vou vomitar — reclamo, apesar de não fazer menção de parar, e continuo dançando ao redor da fogueira. — Kira, Pope, alguém sóbrio! — grito por ajuda, mas todos os outros haviam entrado e ninguém atenderia meu pedido.
— Eu te seguro, . — Suas mãos passam para a minha cintura e me puxam mais para perto, fazendo com que nossos corpos se choquem e eu sinta um leve arrepio. — É só me acompanhar. — Seus olhos estão fechados, mas ele sabe exatamente o que deve fazer, e me vira, fazendo com que eu fique de costas para ele. Me permito curtir o momento e fecho os olhos também, sentido apenas sua respiração ofegante no meu pescoço, suas mãos apertando cada vez mais minha cintura e me puxando para perto, e, consequentemente, o choque de nossos quadris. — Porra. — JJ cochicha e eu não sei dizer se é porque ele sentiu o mesmo que eu ou por outra coisa.
— Tem mais alguma coisa pra jogar no lixo? — Ouço a voz de Kiara se aproximando e saio completamente do transe, me afastando automaticamente de JJ, que permanece parado, ainda ofegante. — Olha, eu e Pope já vamos. Vocês dois se comportem. — Ela desvia o olhar entre os dois como se fosse uma mãe e, após pegar o último saco, vai em direção à casa novamente e depois ela e Pope se despedem e vão embora.
John B está jogado no sofá enquanto eu e JJ estamos assistindo a algum filme de terror aleatório. Não que eu esteja prestando atenção no filme, já que minha cabeça está sobre seu ombro enquanto uma de suas mãos acaricia meu cabelo e a outra repousa na minha coxa.
— , tá acordada? — Ele pergunta e eu levanto a cabeça, o encarando. — Acho melhor a gente botar o bêbado para dormir. — Concordo, a gente arrasta John B até o quarto e depois voltamos para a sala, preparando o sofá-cama para dormirmos.
— Bom, então… boa noite. — JJ se levanta do sofá, mas eu seguro sua mão e me levanto também.
— Você… não vai dormir aqui?
— Eu estava pensando em dormir com o John B…
— Mas eu não tô com sono. Pensei na gente ficar conversando antes de dormir. — Ele hesita primeiro, mas acaba concordando e se senta ao meu lado novamente. Ficamos conversando durante um bom tempo, até decidirmos terminar de assistir o filme e acabarmos adormecendo um ao lado do outro. Acordo depois de algumas horas, mas não o suficiente para estar de manhã, ao sentir o peso do corpo de JJ sobre o meu. Tento me mexer, mas ouço um resmungo e seu braço me puxa mais para perto enquanto sua respiração pesa sobre meu pescoço.
— … — Ouço um sussurro vindo de onde JJ está e automaticamente me viro de frente para ele, nossos corpos ainda encostados, porque ele fez questão de não soltar minha cintura. — Eu tô meio bêbado ainda, e você?
— Eu também. — Dou um riso leve e percebo que seus olhos estão direcionados para minha boca. Não posso evitar fazer o mesmo, pois estamos perto até demais.
— Você iria ficar com raiva se…
— Se?
— Deixa pra lá, melhor não… — Não deixo ele terminar a frase e uno nossos lábios, sentindo um calor se espalhar por todo meu corpo à medida que ele me puxa mais para perto. Eu estava esperando a noite toda por isso e não duvido que ele também, pela forma que sua mão passeia pelo meu corpo, como se só estivesse esperando uma permissão para fazê-lo, mas já soubesse exatamente o que fazer. — Pogue… — Ele tenta falar após pararmos para respirar, mas o interrompo.
— Se só a gente souber…
— Mas você é minha…
— Então você não quer?
— Esse é o problema, eu quero muito. Mas não quero estragar nossa amizade.
— Nunca ouviu falar em amigos com benefícios? — Ele ri e volta a atenção para a minha boca novamente.
— Estamos bêbados, provavelmente não vamos lembrar de nada amanhã… nada muda entre a gente. — Ele fala o que era para ser uma afirmação, mas acaba saindo como uma pergunta, e eu apenas concordo com a cabeça, voltando a beijá-lo. Eu gostaria que JJ estivesse certo, mas, assim como nos lembramos de tudo no dia seguinte, tudo mudou para nós depois daquele beijo.
Eu sempre fui uma pogue. Até meu pai morrer e, alguns anos depois, minha mãe começar a se relacionar com um kook empresário e eu ter que mudar para a parte rica de Outer Banks, o que, teoricamente, me tornava uma kook. Mas eu não era, nunca seria uma kook e nunca faria parte dos grupinhos de mauricinhos e patricinhas. Bom, era o que eu pensava, até ser praticamente forçada pela minha mãe a me afastar dos meus amigos e de tudo que se relacionasse aos pogues, porque meu novo padrasto não achava que pessoas da classe social mais alta, que “batalharam para conseguir todas as riquezas que possuíam”, deviam se relacionar com os “preguiçosos” da periferia da cidade.
— Olha só quem resolveu aparecer… — Ouço a voz de John B ao me aproximar da fogueira do lado de fora da casa. — Fazem o quê, cinco meses?
— Cinco semanas, John B. Para de encher o saco. — O cumprimento com um dedo do meio e um sorriso divertido.
— Mas ele tem razão, . Você via a gente todo dia e agora vai fazer que nem um pai ausente e nos visitar de quinze em quinze dias? — Pope concordou enquanto me cumprimentava.
— Eu vejo a Kiara o tempo todo, vocês tão com drama pra cima de mim…
— É, Pope, para de ser dramático. Ela é uma kook agora, não tem pra que andar com a gente. — Finalmente JJ diz algo e vai sentar numa árvore um pouco afastada de onde estávamos.
— E a Kiara é uma kook também…
— Eu sou uma pogue, nem vem. — Kiara interrompe a tentativa de justificativa de Pope e fica bem ao meu lado.
— Eu não sou uma kook e nunca vou ser. — Me viro indignada para JJ e recebo apenas um dar de ombros como resposta.
— Você sabe como ele é… devia tentar falar com ele. — Kie põe a mão no meu ombro e cochicha: — Foi uma semana conturbada.
— Pra quê, se ele vai me responder com grosseria? — respondo, mas mesmo assim vou para onde o garoto está sentado enquanto fuma um cigarro.
Eu, John B e JJ éramos amigos desde sempre, Pope chegou um pouco depois e, por último, Kiara. Nós éramos inseparáveis e eles foram meu porto seguro quando meu pai morreu. Minha mãe não podia me proibir de vê-los, não depois de tudo que passamos juntos.
— Posso? — pergunto, apesar de não importar a resposta, porque eu iria sentar de qualquer jeito, e recebo o mesmo dar de ombros. — Jay, é sério que você vai me tratar assim agora?
— Cinco semanas, nem uma mensagem de texto você enviou pra gente. — Ele dá uma tragada forte e seu rosto, que antes estava virado para o lado oposto ao meu, fica de lado para mim, me possibilitando ver a marca vermelha em seu rosto.
— O que foi isso? — Toco impulsivamente e ele reclama da dor repentina, o que só mostra que o machucado é recente.
— Não tenta mudar de assunto, .
— Foi ele? — Fico de frente para o garoto, apoiando a mão em seu joelho.
— Pensei que a gente tava falando de um assunto sério.
— E isso não é?
— Claro que não. Ele me bate praticamente todas as semanas, a gente já tá acostumado com isso. — JJ solta um risinho após a frase, mas eu permaneço com a mesma expressão.
— Eu vou falar…
— Não, não vai. Escuta, ele bebeu demais, me culpou pelo sumiço da minha mãe e me bateu, só isso.
— De novo. Jay, você não tem culpa.
— Eu sei, , mas não é você que vai mudar a cabeça dele… agora sua vez, por que não falou com a gente?
— Minha mãe quer me afastar de tudo e todos que sejam pogues para satisfazer meu novo padrasto. Ela deu a desculpa de que ele iria me dar um celular novo e tirou meu celular, só que até agora não recebi outro…
— Wow.
— Então não vem ser grosso comigo, você sabe que eu nunca me afastaria de vocês. — Faço uma carinha triste e JJ solta um riso leve, apoiando a mão em minha coxa e despertando um arrepio repentino saindo do local.
Nesses últimos anos, surgiram algumas novidades na nossa amizade. JJ não era muito de demonstrar afeto com ninguém, mas me permitia chegar perto e abraçá-lo. Ele era quem mais me irritava e, no começo, minhas respostas sempre eram tapas leves, mas depois foram evoluindo para ele prender minhas mãos, ou me abraçar e sair correndo, ou só me soltar quando eu parasse de bater, e ultimamente, depois disso a gente ficava se olhando por um bom tempo com os rostos próximos demais para dois amigos, além das novas provocações em forma de flerte. Era óbvio que eu sentia um tipo de atração por JJ, apesar de tentar negar de todas as formas. Eu percebia como ficava quando ele se aproximava até demais ou com qualquer toque inesperado. Mas obviamente não iria acontecer nada, por dois motivos: o primeiro e mais importante, pogue não pega pogue, e o segundo, porque eu era praticamente uma irmã para ele. E claro, ele também era como um irmão pra mim.
— Dá um trago. — Praticamente arranco o cigarro da mão de JJ para que ele não perceba a minha reação e puxo o ar com toda a força do mundo, tentando afastar todo e qualquer pensamento com JJ.
— Ei, ! Se quiser bebida, tem lá dentro. — John B grita e levanta a garrafa que estava em sua mão. Respondo ele com um polegar positivo e viro para JJ antes de me levantar.
— Então estamos bem? — Ele responde com um sorriso e um aceno de cabeça e levanta ao mesmo tempo que eu, se dirigindo para a rodinha mais à frente enquanto eu seguia para a casa de John B.
Já fazia uns 5 minutos que eu tinha entrado para procurar as bebidas e JJ adentra a casa de repente.
— O John B esqueceu de avisar que ele guardou as bebidas lá atrás. Vem me ajudar a pegar. — Ele me chama e o sigo até o local indicado, que fica na parte de trás da casa. Só dá para escutar o barulho abafado dos gritos animados do outro lado e os grilos, que parecem estar por toda parte, apesar de não conseguir vê-los.
— Se lembra que a gente veio brincar aqui uma noite e eu fiquei morrendo de medo? — Me apoio na parede da casa e olho para o meio da floresta enquanto JJ vasculhava o freezer.
— Sim, você ficou abraçada comigo o tempo todo e o John B começou a zoar a gente. — Solto uma risada e ele me acompanha, tirando uma caixa de cerveja do freezer e se aproximando de mim logo em seguida. — Pode me abraçar se estiver com medo, Ali. — Ele fala exatamente a mesma frase de anos atrás, só que dessa vez com um olhar divertido, uma intenção diferente. E eu não sei como reagir, então apenas dou um sorriso fraco, sentindo meu coração acelerar à medida que ele se aproxima cada vez mais. Eu deveria recuar? Sim. Eu queria recuar?
— Jay… — Ele me entrega o pacote de bebidas enquanto parece olhar cada detalhe do meu rosto.
— ? — Eu consigo sentir sua respiração e a única coisa que nos separa naquele momento é aquela maldita caixa. O motivo do nosso encontro ali atrás. Então ele se afasta, quebrando toda a tensão e indo até o freezer novamente. Eu deveria imaginar que ele não iria querer ficar comigo, afinal, eu sou a irmãzinha dele e JJ sempre faz essas brincadeiras. — Vamos ver se essas duas vão ser o suficiente.
— Finalmente! — Os três comemoram assim que chegamos e Kiara se aproxima de onde eu estou.
— Tudo bem? Aconteceu alguma coisa lá atrás?
— O quê? Tá tudo tranquilo, Kie. — Entrego uma cerveja para ela e me sento ao lado de John B, recebendo um olhar estranho de JJ, provavelmente porque esperava que eu sentasse ao seu lado. — E aí?
— Tava com saudade de você. — John B me abraça e eu retribuo, pegando duas garrafas de cerveja logo em seguida e dando uma para ele. Ele parece entender a minha situação mais do que JJ, o que me conforta em não ter que lidar com dois rabugentos ao mesmo tempo.
— Eu também. Minha mãe quer me proibir de ver vocês, mas ela não vai conseguir. — Sorrio enquanto acaricio seus cabelos e apoio minha perna sobre a dele.
— Vai dormir aqui hoje?
— Posso falar para a minha mãe que vou dormir na casa de alguma amiga.
— Kie, você falou pra o que aconteceu ontem? — Pope solta após tomar um gole da cerveja e Kiara nega com a cabeça rindo.
— Quis deixar pra falar aqui, só o John B sabe fazer os detalhes mais precisos e quero ver a reação dela. — Começamos a rir, menos JJ, que permanece sério enquanto encara minha perna posicionada sobre John B.
Então eles começam a contar que ontem invadiram o porto e foram perseguidos pelos policiais, cada detalhe da aventura, fazendo eu me sentir como se estivesse lá com eles.
— E aí ele caiu enquanto tentava fugir e quase foi pego, né JJ? — Pope fala entre risos e se vira para o garoto, que não parece estar prestando muita atenção na história e só assente com a cabeça.
Depois de um tempo, em que o piti de JJ pareceu ter passado, continuamos conversando por horas, rindo e fazendo brincadeiras bestas. John B tinha razão. Cinco semanas pareceram cinco meses longe deles e eu não podia estar mais feliz por vê-los novamente. Já consigo sentir minha cabeça um pouco pesada e eu com certeza não iria voltar para casa assim. A situação dos outros não é das melhores também.
— Então, dorme aqui? — John B pergunta e eu confirmo com a cabeça. Ele se vira para os outros, que ajudam a limpar toda a bagunça feita. — E vocês? Quem vai ter a honra de dormir na minha casa? — Kiara e Pope negam, porque, segundo eles, iriam ter que acordar cedo no outro dia, e JJ fala que vai pensar. Eu queria que ele dormisse lá, nem queria imaginar o que poderia acontecer caso ele voltasse pra casa aquela hora.
— Ei, Jay, me ajuda com essas garrafas? — Ele se aproxima com uma dancinha estranha, enquanto roda a camisa que havia tirado devido ao calor, e começa a jogar as garrafas que restam no saco enorme.
— Vem, dança comigo. — JJ pega minhas mãos e começa a rodopiar, me forçando a fazê-lo também.
— Para, eu vou vomitar — reclamo, apesar de não fazer menção de parar, e continuo dançando ao redor da fogueira. — Kira, Pope, alguém sóbrio! — grito por ajuda, mas todos os outros haviam entrado e ninguém atenderia meu pedido.
— Eu te seguro, . — Suas mãos passam para a minha cintura e me puxam mais para perto, fazendo com que nossos corpos se choquem e eu sinta um leve arrepio. — É só me acompanhar. — Seus olhos estão fechados, mas ele sabe exatamente o que deve fazer, e me vira, fazendo com que eu fique de costas para ele. Me permito curtir o momento e fecho os olhos também, sentido apenas sua respiração ofegante no meu pescoço, suas mãos apertando cada vez mais minha cintura e me puxando para perto, e, consequentemente, o choque de nossos quadris. — Porra. — JJ cochicha e eu não sei dizer se é porque ele sentiu o mesmo que eu ou por outra coisa.
— Tem mais alguma coisa pra jogar no lixo? — Ouço a voz de Kiara se aproximando e saio completamente do transe, me afastando automaticamente de JJ, que permanece parado, ainda ofegante. — Olha, eu e Pope já vamos. Vocês dois se comportem. — Ela desvia o olhar entre os dois como se fosse uma mãe e, após pegar o último saco, vai em direção à casa novamente e depois ela e Pope se despedem e vão embora.
John B está jogado no sofá enquanto eu e JJ estamos assistindo a algum filme de terror aleatório. Não que eu esteja prestando atenção no filme, já que minha cabeça está sobre seu ombro enquanto uma de suas mãos acaricia meu cabelo e a outra repousa na minha coxa.
— , tá acordada? — Ele pergunta e eu levanto a cabeça, o encarando. — Acho melhor a gente botar o bêbado para dormir. — Concordo, a gente arrasta John B até o quarto e depois voltamos para a sala, preparando o sofá-cama para dormirmos.
— Bom, então… boa noite. — JJ se levanta do sofá, mas eu seguro sua mão e me levanto também.
— Você… não vai dormir aqui?
— Eu estava pensando em dormir com o John B…
— Mas eu não tô com sono. Pensei na gente ficar conversando antes de dormir. — Ele hesita primeiro, mas acaba concordando e se senta ao meu lado novamente. Ficamos conversando durante um bom tempo, até decidirmos terminar de assistir o filme e acabarmos adormecendo um ao lado do outro. Acordo depois de algumas horas, mas não o suficiente para estar de manhã, ao sentir o peso do corpo de JJ sobre o meu. Tento me mexer, mas ouço um resmungo e seu braço me puxa mais para perto enquanto sua respiração pesa sobre meu pescoço.
— … — Ouço um sussurro vindo de onde JJ está e automaticamente me viro de frente para ele, nossos corpos ainda encostados, porque ele fez questão de não soltar minha cintura. — Eu tô meio bêbado ainda, e você?
— Eu também. — Dou um riso leve e percebo que seus olhos estão direcionados para minha boca. Não posso evitar fazer o mesmo, pois estamos perto até demais.
— Você iria ficar com raiva se…
— Se?
— Deixa pra lá, melhor não… — Não deixo ele terminar a frase e uno nossos lábios, sentindo um calor se espalhar por todo meu corpo à medida que ele me puxa mais para perto. Eu estava esperando a noite toda por isso e não duvido que ele também, pela forma que sua mão passeia pelo meu corpo, como se só estivesse esperando uma permissão para fazê-lo, mas já soubesse exatamente o que fazer. — Pogue… — Ele tenta falar após pararmos para respirar, mas o interrompo.
— Se só a gente souber…
— Mas você é minha…
— Então você não quer?
— Esse é o problema, eu quero muito. Mas não quero estragar nossa amizade.
— Nunca ouviu falar em amigos com benefícios? — Ele ri e volta a atenção para a minha boca novamente.
— Estamos bêbados, provavelmente não vamos lembrar de nada amanhã… nada muda entre a gente. — Ele fala o que era para ser uma afirmação, mas acaba saindo como uma pergunta, e eu apenas concordo com a cabeça, voltando a beijá-lo. Eu gostaria que JJ estivesse certo, mas, assim como nos lembramos de tudo no dia seguinte, tudo mudou para nós depois daquele beijo.
FIM
Nota da autora: Oii! Fiquei tão feliz em escrever essa fic, porque eu curto muito o universo de Outer Banks, e com certeza vai ter uma continuação, afinal, ainda tem bastante coisa para acontecer entre a pp e o JJ e essa “falha” na relação deles. Espero que tenham gostado e comentem!!
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