Capítulo Único
I keep playing inside my head
All that you said to me
I lie awake just to convince myself
This wasn’t just a dream…
Londres, março de 1999
- , eu vou contar pra tia Natalie se você não me devolver o Chester agora! – Por mais que corresse o mais rápido que podia, nunca conseguiria sua cobra de pelúcia por esforço próprio. O garoto, além de três anos mais velho, também era mais alto do que ela e carregava o brinquedo acima de sua própria cabeça, rindo.
- Qual é, ! Chester? Sério? Você não podia dar um nome melhor para essa cobra, não?! – disse, ainda correndo em círculos ao redor dos móveis da sala de .
- , por favor. Eu já cansei de correr e tô com muito sono! Me devolve o meu bichinho, vai? Por favorzinho. – A menina deu um pequeno pulo e sentou-se na ponta do sofá. Seus pés, por não alcançarem o chão, balançavam vagarosamente enquanto suas mãos esfregavam seus olhos continuamente.
O garoto parou de correr e, ao olhar a cena, sorriu. Colocou a pelúcia atrás de seu corpo e foi andando até a menina. Quando chegou, ajoelhou-se de frente a ela no momento em que esta abria os olhos. A amiga, ainda sonolenta, olhou em sua direção em dúvida e esticou seu bracinho em um pedido mudo pela cobra.
- Vamos fazer assim: se você me der um beijinho, eu te devolvo o Chester. Combinado? – acenou com a cabeça ,ainda esfregando seus olhinhos, e inclinou-se em direção a , dando-lhe um beijo estalado na bochecha. Ele lhe devolveu a pelúcia e a garotinha saltou para fora do sofá. Após um longo bocejo, virou-se novamente para o garoto.
- , você me coloca para dormir? – O menino, depois de uma breve risada, murmurou um “claro” baixinho e a seguiu até o quarto mais rosa e cheio de bichinhos de pelúcia que já vira na vida.
analisou o cômodo que conhecia tão bem e seus olhos pararam no porta retrato em cima da penteadeira: uma foto de bebê, deitada na cama dele e o garoto dormido ao seu lado, vestido com um macacão laranja e azul. Era particularmente sua foto preferida com a sua melhor amiga. Desviou sua atenção para a garotinha sentada na cama, que agora já tinha 6 anos e mal conseguia manter seus olhos abertos. Deitou-a no colchão e a cobriu com um cobertor lilás que se encontrava no pé da cama.
- Boa noite, An. – Ele disse se dirigindo à porta do quarto e ouviu a voz de sua amiga dizendo sonolenta:
- Boa noite, . Amo você.
Londres, julho de 2011
Era a décima vez em que ligava em meu telefone e eu já não aguentava mais dizer que estava chegando. Ela estava maluca com a noite da formatura. O vestido não cabia, o cabelo estava bagunçado e maquiagem estava “perua demais”. Enquanto isso, eu apenas gargalhava do outro lado da linha e era chamado de imprestável. Isso é o que se ganha por convidar sua melhor amiga para o baile.
“, onde diabos você está?”
“Chegando, . Chegando”
“Você disse que estava chegando há meia hora atrás! Como pode ser tão lerdo? Até uma lesma montada em uma tartaruga seria vencedora em uma competição contra você.”
“Se eu não tivesse que parar a cada cinco segundos para atender a uma ligação sua, talvez não me atrasasse. E outra, é uma formatura, não um casamento.”
“É quase tão importante quanto!”
“Então ainda bem que não serei o marido quando você casar.”
“Idiota! E onde você está, afinal?”
“Esperando você parar de dar piti e abrir a porta.”
“Aleluia.”
desligou o telefone e ouvi seus passos apressados na escada. Quase certeza que derrubou alguma coisa dentro de casa, mas nessa altura do campeonato, duvido que se importaria. Ela murmurou um “lerdo”, puxando-me porta adentro e subindo as escadas novamente.
- , ainda bem que chegou. Essa menina está quase convulsionando. – senhora (ou Monique, como preferia ser chamada) disse, abraçando-me ao encontrar comigo no corredor e nós reviramos os olhos juntos.
- Não sei porquê ela está tão pirada. Não é como se eu pudesse fazer milagres no departamento feminino.
- É, mas nós dois sabemos que ela funciona muito melhor quando você está por perto. – ela sorriu para mim e apontou para o andar de cima. Eu concordei com um aceno de cabeça e subi, abrindo a porta do quarto de e deitando na cama.
- Eu espero que você não tenha esquecido meu corsage. – ela apenas levantou a sobrancelha e continuou a fazer sua maquiagem.
- Comprei uma florzinha qualquer na loja. – dei de ombros.
- Eu nem me dou ao trabalho de ficar estressada com as suas brincadeiras.
- Você tem a plena noção de que eu não tenho obrigações nesse baile, certo? Minha formatura foi há três anos atrás. Eu poderia estar em um bar, procurando garotas maravilhosas para irem até a minha casa.
- O que você insiste em esquecer é que eu sou a única garota maravilhosa que existe na sua vida, . Ou vai negar? – levantei as mãos em sinal de rendição e ela continuou – Além disso, eu fui seu par na sua formatura, portanto cale a boca e seja menos pateta.
- Por essas e outras que comprei o arranjo de flores mais capenga.
O olhar que recebi dela poderia derreter todas as geleiras do Polo Norte. não estava para brincadeiras hoje e essa era a parte mais divertida de todas. Gargalhei e levantei da cama, colocando-me atrás de e acariciando seus ombros por cima do vestido lilás. Ela relaxou por alguns segundos e eu chamei sua atenção para os meus olhos, pelo reflexo do espelho.
- Não precisa surtar. Você está maravilhosa, como sempre. – Ela sorriu amarelo e eu continuei – Óbvio que comprei seu corsage. O mais bonito, por sinal. Agora respire fundo e termine de se arrumar, nós ainda temos bastante tempo.
- Obrigada, . – ela virou de frente para mim e jogou seus braços em meu pescoço. Eu sorri fraco e coloquei minha cabeça em seu cabelo, aspirando o aroma de morango e . O melhor aroma do mundo. – Mas você ainda continua sendo pateta.
‘Cause you’re right here
And I should have taken the chance
But I got so scared
And I lost the moment again
- Ai meu Deus! – puxou meu braço para um canto do salão e disparou a falar – Você não vai acreditar! Na verdade, nem eu acredito! – ela balançava as mãos e respirava fundo, com um dos sorrisos mais estúpidos que poderia existir. provavelmente era a nova “rainha do baile” ou estava na lista para mais um curso de verão em Oxford.
- O que foi?
- Nathan Pratt disse que quer manter contato comigo depois da formatura!
Calma. O quê?
- Como assim, ? Nathan, o babaca que te deu bolo nas cinco vezes em que vocês marcaram de sair?
- Nathan, o cara maravilhoso que se desculpou honestamente por todos os imprevistos e disse que eu estava maravilhosamente bonita essa noite.
- E você acreditou? Francamente , você é mais inteligente do que isso. – revirei os olhos, já puto da vida com a situação. O que há com essas meninas e a vontade de serem trouxas para a vida inteira?
- Inteligente ou não, ele quer manter contato comigo. Quer me levar em algum lugar legal, ficar comigo, conversar. – ela olhou fundo em meus olhos e continuou – Pelo menos ele toma alguma atitude.
Minha cabeça girou e eu tentei argumentar, mas ela já estava longe de mim. Como assim “ele toma alguma atitude”? Aonde diabos queria ir com isso?
Fui em direção ao bar e pedi a bebida mais forte que eles poderiam oferecer. É claro que entendi o que ela quis dizer. Lembrei claramente de todos os momentos em que nossos olhares se encontraram e um beijo deveria ser o próximo passo, mas eu recuei. Lembrei das nossas escapadas no meio da noite, de todas as festas em que dançamos juntos, lembrei das várias conversas entre e suas amigas que ouvi atrás da porta, todas elas sobre mim. Mas não seria possível que ela estivesse disposta a arriscar tudo por um romance, certo?
Quer dizer, nós crescemos juntos! Nos conhecemos desde pequenos. Eu peguei no colo, ensinei-a a andar de bicicleta, bati nos meninos que falavam coisas ruins sobre a minha melhor amiga e a consolei em todos os momentos de tristeza. Ela sempre fora maravilhosa. Linda como nenhuma outra garota conseguia ser, além de extremamente inteligente e com o maior coração do mundo. Mas ela era apenas minha melhor amiga, apenas isso.
Sacudi a cabeça, tentando espantar os pensamentos, e terminei minha bebida. O baile de formatura estava bastante cheio e todas essas pessoas começavam a me incomodar. Quando decidi procurar por , ouvi sua gargalhada inconfundível e direcionei minha atenção para seu grupo de amigas.
O círculo estava formado no meio do salão e elas dançavam como se não existisse amanhã. jogava sua cabeça para trás e sorria a cada verso das músicas que tocavam. Ela estava simplesmente perfeita. O cabelo rebelde, o sorriso no rosto e o brilho que fui capaz de perceber quando nossos olhos se encontraram.
- Há quanto tempo você é apaixonado por ela?
- O quê? – olhei perplexo para a menina desconhecida ao meu lado e neguei sua pergunta – Ela é minha melhor amiga, apenas isso.
- Reveja seus conceitos de amizade, então. Porque vocês claramente têm sentimentos um pelo outro.
A menina piscou e saiu de perto do bar. Voltei meu olhar para e refleti sobre as palavras de poucos segundos atrás. Eu e ela? Eu apaixonado por ela? Isso era, no mínimo, absurdo.
Londres, dezembro de 2011
Ano Novo
You're all that I can think about
Sentei no bar e pedi apenas por uma água. Não estava nem um pouco a fim de beber. Esta será minha última festa de final de ano com e quero lembrar de cada segundo ao seu lado. Preso em meus pensamentos, ouvia ao fundo o famoso “sessenta, cinquenta e nove, cinquenta e oito, ...”. Último ano novo com . Últimos momentos antes que ela embarcasse para Boston em fevereiro.
#Flashback On – duas semanas antes
Sorri fraquinho e reencostei na árvore do quintal de casa. Puxei o violão para o colo e continuei a dedilhar notas para mais uma música que provavelmente iria parar no fundo da gaveta. estava na Irlanda há duas semanas, visitando alguns parentes, e voltava hoje. Enquanto isso, usei o tempo sozinho para martelar a pergunta da menina desconhecida em minha cabeça. “Há quanto tempo você é apaixonado por ela?”
Não conseguia encontrar a resposta. Sempre fomos melhores amigos, inseparáveis desde o nascimento, graças à proximidade de nossas famílias. era meu mundo e eu era o dela. Ela era a primeira pessoa para quem eu contava qualquer coisa que acontecesse comigo, importante ou não. Era sempre quem conseguia me acordar cedo, quem estudava comigo, quem escutava minhas músicas fracassadas e dava total apoio, quem arrancava um sorriso meu por qualquer besteira e em quem eu sabia que poderia confiar cegamente. Mas isso chegava a ser amor?
- Um centavo por um pensamento? – surgiu atrás de mim, cobrindo meus olhos com as duas mãos e eu senti meu coração aquecer. Sem falar nada, deixei o violão de lado e puxei-a para o meu colo, beijando seus cabelos enquanto a abraçava. – E essa recepção? Acho que alguém sentiu mais saudades do que o recomendado.
- Abusada. Da próxima vez, não deixo nem abrirem a porta para você. – revirei os olhos, mas não fiz questão de diminuir minha felicidade em tê-la comigo.
- Infelizmente para você, querido, a sua mãe me ama.
- Infelizmente. – ela deu língua e gargalhamos juntos.
saiu do meu colo, sentando ao meu lado e cruzando as pernas. Seus olhos estavam brilhando e eu tinha certeza que ela estava morrendo para contar as tais novidades.
- Desembucha ou daqui a pouco vai acabar explodindo. E que horas você chegou, afinal?
- Na verdade, acabei de chegar. Eu corri para cá quando soube. Queria que fosse o primeiro a saber. – ela puxou um papel do bolso de trás do short e entregou em minha mão – Nem meus pais sabem...
Balancei a cabeça, entendendo a importância daquele momento e respirei fundo antes de começar a ler.
“Cara Senhorita ,
É com prazer que anunciamos sua vaga na Universidade de Harvard para a Classe de 2012...”
Minha cabeça rodava sem parar. Ela conseguiu. conseguiu! Ela é, oficialmente, a mais nova estudante da Universidade de Harvard! Iria para Boston no ano seguinte, em busca de seus maiores sonhos. Ela iria embora de Londres. Ela iria para longe de mim... Não pense assim, . Fique feliz por ela. merece.
Voltei meu olhar para a menina ansiosa na minha frente e suspirei.
- Eu nunca duvidei da sua capacidade. – Ela sorriu largo e jogou os braços ao redor do meu pescoço. – Parabéns, baixinha. Você será a melhor advogada do mundo!
– sussurrei, beijando seus cabelos.
- Eu estou tão feliz! – ela disse ao pé do meu ouvindo, já chorando de felicidade. soltou o abraço e voltou a sentar de frente para mim. – Eu espero por essa carta há quase um ano, ! Um ano!
- Eu sei! E sempre te disse que você conseguiria, não disse? – ela acenou com a cabeça e eu levantei a carta – Essa carta apenas prova meu ponto.
- Não contei nem para os meus pais. Quando cheguei em casa, corri para olhar o correio e recebi o envelope. Abri a carta e corri para cá. – ela pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos – Você era a primeira pessoa para quem eu queria contar.
Sorrimos juntos e puxei para os meus braços novamente.
- Não quero ser a chata, mas o que faremos agora, ?
- Shh... O futuro pode ser decidido amanhã. Agora, eu só quero te abraçar forte e sentir que você ainda está aqui comigo.
- Eu amo você. – sussurrou, encostando a cabeça em meu ombro no momento seguinte.
- Também amo você, . – “talvez até mais do que imagine.”
#Flashback Off
Sim, eu a amava. Amava minha melhor amiga mais do que algum dia imaginei amar alguém. E tinha certeza de que o sentimento era recíproco. Só não conseguia encontrar as palavras certas ou o momento certo para me declarar. Na verdade, nem sabia se me declarar era o certo a ser feito.
merecia algo digno dos filmes de romance que a faziam suspirar. Merecia uma declaração épica e eu, infelizmente, não era o suficiente para preencher seu coração dessa forma, mesmo que ela discordasse.
Nós somos o completo oposto. é bem sucedida, viajada, inteligente, linda. Ela é tudo o que eu poderia sonhar e nunca poderia ter. nunca ficaria com alguém desempregado, sem planos para o futuro e com o violão e músicas mal escritas. Exatamente por isso que nunca funcionaríamos juntos. Ela vai para Harvard enquanto eu ficarei aqui, sendo bartender por tempo indeterminado e fazendo shows em bares fedidos e abafados.
A contagem continuava e eu sentia meu peito apertar. Nossos planos de construir o máximo de memórias possível estava se esvaindo no meio da confusão de sentimentos que nós dois éramos. Deus, eu só queria olhar em seus olhos e ter a certeza de que ficaríamos bem, mesmo a um oceano de distância.
“Cinco! Quatro! Três! Dois!...”
- Um. Feliz ano novo, .
Uma taça de champagne apareceu na linha dos meus olhos e o sorriso inconfundível de era plano de fundo. Respirei aliviado, como se o ar estivesse preso em meus pulmões há décadas. Os fogos de artifício estouravam no céu, iluminando a noite com suas cores diversas, mas eu não precisava de nada disso. tinha luz própria e ela era tudo o que eu precisava. Brindamos, trocamos um olhar cúmplice e sorriu lindamente. Eu poderia ficar ali para o resto da vida. Poderia ficar ao lado dela, sentindo meu coração bater mais forte a cada olhar recheado de sentimentos nunca confessados e me apaixonando por cada detalhe de seu ser. Poderia ficar ao lado dela e tê-la ao meu lado. Se eu ao menos eu encontrasse as palavras certas...
Londres, julho de 2012
Is your heart taken?
Is there somebody else on your mind?
I'm so sorry, I'm so confused
Just tell me, am I out of time?
Dia dois de julho. Hoje ela iria embora. Deixaria sua família, sua casa, seu país e a mim em busca de seu sonho: estudar nos Estados Unidos. Eu não a culpava. Como poderia? Era sua vida, suas escolhas, e apesar da dor em meu peito, eu não podia impedi-la de seguir sua vida longe de mim. e eu crescemos juntos, e com o tempo percebi que meus sentimentos por ela eram maiores do que deveriam. Por medo e por não me considerar o suficiente, nunca disse nada a ela. Não queria colocar em risco toda a nossa história. E agora, depois de ter passado as últimas duas horas num bar perto de nossa antiga escola e depois em casa, tentando consertar meu cabelo e minha aparência de bêbado que tinha adquirido na última semana, encontro-me a caminho do aeroporto. Local em que, dali a uma hora, com sorte, a veria dirigir seu último sorriso a mim durante um longo período de tempo. O simples pensamento fez um frio correr por minha espinha e meu coração apertar. Poderia ser nosso último momento. Nossos últimos sorrisos e abraços. Minha última chance de colocar as cartas na mesa e meus sentimentos em palavras.
Meu celular tremeu em meu bolso e já tive a certeza de quem era. De novo.
“, estou indo pro aeroporto. Quer carona? Passo na sua casa se quiser. Xx ” – 11:02
“Toquei a campainha, mas você não atendeu. Onde você está ? Xx ” – 11:37
“, você está me deixando preocupada. Está tudo bem? Já cheguei na fila de Check-in da American Airlines. Xx ” -11:56
“Porra , CADÊ VOCÊ??? PODE AO MENOS RESPONDER MINHAS MENSAGENS?” - 12:49
“Oi, . Desculpa, acabei dormindo demais e perdi a hora. Não ouvi a campainha. Estou dentro do táxi, mais 30 minutos e chego aí. Já fez o check-in? ” -12:49
Respondi a mensagem e me senti mal por mentir, mas ela não sabia e nem precisava saber que eu estava mal, certo? Certo. Não precisava deixa-la preocupada com a minha fossa emocional ou o fato de ser um bosta e não conseguir dizer que a amo.
Olhei para meu relógio e percebi que não chegaria em meia hora. Talvez em uma hora se o trânsito não piorasse. Recebi uma SMS dizendo que ela já havia feito o check-in e que seu voo embarcava dali a uma hora e trinta minutos. Menos mal. Suspirei fundo e passei as mãos pelos cabelos. O que seria pior? Vê-la partir ou não vê-la de maneira alguma?
Is your heart breaking?
How do you feel about me now?
I can't believe I let you walk away
When, when I should' ve kissed you
Por sorte, em certo ponto do caminho, o taxista pegou um atalho que otimizou meu tempo, então uma hora e quinze minutos depois de ter enviado a mensagem, eu era mais um em meio à multidão dentro do aeroporto. Eu tinha quinze minutos. Apenas isso.
Correndo contra o tempo, cruzei todo o lugar em busca da minha melhor amiga e desejei com todas as minhas forças que ela ainda não tivesse embarcado. não atendia minhas chamadas e a culpa dilacerava meu peito. Se eu não fosse tão bosta e não enchesse a cara, teria ido com ela e não correria o risco de perdê-la.
“Você ligou para . Se eu não atendi ao telefone, é certeza que não quero falar com a sua pessoa. Portanto, deixe um recado e eu pensarei em retornar a ligação. Com amor, .”
Bufei estressado e quase arranquei meu couro cabeludo inteiro. Quantos “porra” são permitidos falar em um dia? Porque eu tinha certeza de que minha cota estava estourada. Ela não estava em lugar algum. Seu voo não aparecia no painel, seu celular caía direto na caixa postal e meu desespero era notável.
“Atenção passageiros do voo JJ935, com destino a Boston, Massachusetts. Esta é a última chamada para o embarque.”
Sentei em um banco qualquer e contemplei minha maravilhosa cagada. Nunca declarei meus sentimentos, nunca abri meu coração e não tinha mais a oportunidade de alcançar minha felicidade. estava longe e meu coração estava em pedaços.
- Procurando alguém? – ela sussurrou ao pé do meu ouvido e eu pulei da cadeira.
- !
- Não, o Papai Noel. – Ela revirou os olhos e riu – Quem mais seria, seu banana?
- Deus! Achei que a tinha perdido. – Joguei meus braços ao redor de sua cintura e esperei até meu coração estabilizar o ritmo. Ela ainda estava aqui! Ainda estava comigo!
- , eu estou indo morar em outro país. Não vou morrer. – ela me olhou engraçado e eu soube que tinha exagerado um pouco.
- Eu sei. É só que... Eu... Ah, você sabe... – cocei a cabeça e pedi para que um buraco me engolisse. Era realmente tão difícil colocar meus sentimentos em palavras? Os filmes mela-cueca que adora assistir fazem isso parecer tão fácil! Bufei, nervoso. Eu precisava falar de uma vez.
- Sei? – sua testa formou um lindo “v” em sinal de confusão e eu, mais do que nunca, quis beijá-la e expor meus sentimentos de uma vez.
“Anda logo, ! Você treinou no espelho, escreveu duzentas músicas, tentou até se declarar para o cachorro! Fala de uma vez. É como tirar um band-aid.”
- Ah, eu... Eu só não queria que fosse embora sem me despedir. Pode não morrer, mas a distância é considerável... – Deus, eu estava piorando tudo.
- Own, bebê. – ela colocou as mãos em minhas bochechas e as apertou – Vai sentir saudades?
- O quê? Saudades de você? Faça-me o favor. – abanei a mão e ri nervoso – Estou comemorando sua partida.
- Claro, claro... – Ela revirou os olhos – Pode falar, não vou rir da sua cara. Até porque também vou sentir sua falta.
- Vai?
- , nós somos amigos desde antes do nascimento. É lógico que vou! Viver com o melhor amigo a um oceano de distância não é a mais fácil das experiências.
“Melhor amigo...”
“Atenção Senhorita Marie , passageira do voo JJ935, com destino a Boston, Massachusetts. A tripulação a aguarda para decolar.”
- É o meu voo... – ela indicou com o dedo ao ouvir a chamada e sorriu triste – Eu esperei o máximo que pude, porque não queria ir sem falar com você.
- Desculpe pela demora, não foi intencional... – “Só fui um merda e enchi a cara até amanhecer...”
- O importante é que veio. – ela sorriu e me abraçou forte. Eu aproveitei para sentir seu cheio mais uma vez e gravar cada detalhe de seu corpo em minha mente. – Vou sentir sua falta, grandão.
Limpei uma lágrima teimosa que desceu de seus olhos e beijei sua testa. Ela sorriu uma última vez, pegando sua mochila do chão e indo em direção ao portão de embarque. Levei-a o mais perto do avião que poderia, sem nunca soltar sua mão. beijou minha bochecha uma última vez e soltou nossos dedos.
- Vou sentir sua falta, pirralha.
Sorrimos juntos e foi ali que a vi ir embora, sem saber como eu me sentia em relação a ela e sem saber como meu coração insistia em acelerar o ritmo quando estávamos juntos. Eu deveria tê-la beijado. Deveria ter me declarado. Mas agora era tarde demais. , a mulher da minha vida, já não mais me pertencia, se é que de alguma forma já havia me pertencido antes.
Londres, janeiro de 2013
If I had known then
That I'd be feeling this way
If I could replay
I would have never let you go
No, oh
Never let you go
Am I out of time?
Cheguei em casa completamente exausto. A jornada dupla, ora como bartender, ora gravando meu primeiro EP estava acabando comigo, mas não tinha motivos para reclamar.
Pouco depois de deixar partir, comecei a escrever músicas e mais músicas para tentar me livrar da sensação de vazio que preenchia meu peito. Felizmente, ou infelizmente devido às circunstâncias, o movimento no bar estava pequeno em uma noite qualquer, então saí do balcão aproveitei a chance para tocar algumas músicas e entreter o público, o que resultou em uma boa aprovação daqueles que ouviram minha música e uma proposta da Atlantic Records para gravar uma demo e, talvez, assinar um contrato.
Deitei no sofá, abrindo o computador e respondendo alguns emails da gravadora sobre as músicas novas, mas foi irrelevante quando um nome em especial pulou na caixa de entrada. “ ”.
e eu perdemos contato depois da sua ida para Harvard. No começo, nos falávamos por emails e mensagens o tempo todo, fazendo algumas chamadas por Skype quando ela estava livre. No entanto, as coisas esfriaram. Ela fez novos amigos, estava estudando cada vez mais e eu estava ocupado, tentando reaver meu coração quebrado para colocar em algumas músicas decentes. Nosso último contato foi em outubro, com uma mensagem curta e simples em que ela dizia que estava animada para ouvir meu EP e me parabenizava pela conquista. Com essas exatas palavras.
Meus dedos brincavam no touchpad, indecisos entre clicar no email ou desligar o computador. A verdade é que não estava preparado para isso e não sabia como iria reagir. Agora que eu estava conseguindo superar sua partida e minha imensa burrada de não me declarar, então minha cabeça e meus sentimentos estavam entre a dor absoluta ou uma lenta aceitação. Um limbo completo.
Respirei fundo e cliquei no nome de . Tive minha lição sobre coisas que eu deveria ter feito, mas não fiz por medo. Uma vez era o suficiente.
“Quem pensa que a distância faz esquecer, esquece que a saudade faz lembrar.”
“Hey, . Para ser sincera, mal sei como começar esse email. Um “como você está?” seria muito ultrajante a essa altura do campeonato. Não nos falamos desde Outubro e nunca pensei que essa distância me faria tão mal. Já se passaram seis meses que estou aqui, e veja bem, sinto sua falta. Lembro de você a cada minuto do meu dia. Quando toca aquela música que você sempre errava a letra. Quando eu uso o meu vestido vermelho que você adorava, ou o preto curto que você implicava. Nas aulas de Direito, em que sento ao lado de um garoto que usa o seu perfume e em todas as manhãs, quando aquela mensagem de bom dia já não mais chega.
Percebi que não tenho muitas certezas nessa vida. Não sei como vou acordar amanhã, quem vou conhecer, ou o que estarei sentindo aqui dentro. Quase tudo me parece muito instável. Mas, de uma coisa eu sei: não há futuro que eu possa imaginar onde você não esteja. A saudade é o amor que fica, e espero do fundo do meu coração que eu não tenha percebido isso tarde demais. , eu amo você, isso nunca esteve tão claro pra mim!
Sempre te admirei por nunca ter me dito nada, mas sempre soube que você gostava de mim. Te admiro por ter escondido algo tão grande de mim só para não estragar nossa amizade, e talvez você tenha feito o certo. Eu era muito nova e teria medo de arriscar tudo. Mas agora, estou disposta a tentar se você estiver. E, se você quiser, estou disposta a esperar por você para vivermos nossa próxima aventura, seja aqui, aí, ou em qualquer outro lugar do mundo. Com você, eu topo qualquer coisa. Sinto sua falta e peço perdão por estar tão distante. Eu só precisava de tempo para processar tudo isso, colocar a cabeça no lugar e admitir para mim mesma o que eu sempre soube: que sou apaixonada por você desde a primeira vez que nossos olhares se encontraram.
Com todo o amor do mundo,
”
Eu estava atônito. Completamente estático e sem reação. Deus, o que havia acabado de acontecer?
Reli cada palavra daquele email por, pelo menos, umas duas horas. Precisava saber que aquilo era real, precisava decorar cada ponto e cada vírgula. Cada vez em que ela se declarava para mim. Era isso, havia se declarado para mim, como eu nunca tive coragem de fazer. Seus sentimentos estavam expostos e correspondiam aos meus. Se havia felicidade maior do que a que eu sentia agora, eu desconhecia.
Limpando as lágrimas teimosas que caíram e sem tirar o sorriso idiota do rosto, joguei o computador dentro da mochila e corri para pegar algumas roupas. Soquei tudo dentro de uma mala pequena e peguei minhas economias no cofre. Correndo contra o tempo, tranquei a porta e desci correndo para pegar um táxi. Era agora, era o momento. Eu finalmente a teria em meus braços e recuperaria o tempo perdido. Não estava pensando, não estava raciocinando e não queria saber se era irracional ou absurdo. Só queria em meus braços e seu coração batendo contra o meu.
- Para o aeroporto, por favor.
FIM
Nota da autora (30/10/15):
Queria começar dizendo: GABRIELA, TE AMO!!!! HAHAHAHA, obrigada por embarcar nessa aventura comigo faltando poucos dias pra entrega. Essa short não seria a mesma se não fosse por você! Obrigada, obrigada, obrigada. Queria agradecer também o apoio da Babs, da Naomi e da Gabi (sim, de novo), que sempre acreditam em mim. Apesar da falta de tempo, tô sempre pensando em vocês!! E claro, a você que leu até aqui. Comentem, comentem, comentem! Comentários sempre são bem vindos, sejam eles com elogios, sugestões ou críticas. Até a próxima!! Mariana T.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Queria começar dizendo: GABRIELA, TE AMO!!!! HAHAHAHA, obrigada por embarcar nessa aventura comigo faltando poucos dias pra entrega. Essa short não seria a mesma se não fosse por você! Obrigada, obrigada, obrigada. Queria agradecer também o apoio da Babs, da Naomi e da Gabi (sim, de novo), que sempre acreditam em mim. Apesar da falta de tempo, tô sempre pensando em vocês!! E claro, a você que leu até aqui. Comentem, comentem, comentem! Comentários sempre são bem vindos, sejam eles com elogios, sugestões ou críticas. Até a próxima!! Mariana T.
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