Capítulo Único
“Eu só quero estar no teu pensamento, dentro dos teus sonhos e no teu olhar! Tenho que te amar só no meu silêncio, num só pedacinho de mim.”
null suspirou pesadamente enquanto encostava a cabeça no sofá e deitou o corpo sobre o mesmo. O dia havia sido exaustivo demais no trabalho, a vida estava começando a voltar a ser um caos e ele só queria descansar e desligar a mente e o corpo de tudo ao seu redor. Depois de mais ou menos quinze minutos cochilando no sofá, ele acordou assustado com a campainha tocando e então se pôs de pé, caminhando até a mesma para atender.
- Quem será a uma hora dessas meu Deus? E ainda sem o porteiro me avisar… - ele sussurrou para si mesmo enquanto passava as mãos pelos cabelos negros -
Abriu a porta com o semblante fechado já pronto para expulsar quem quer que fosse, já que ele só queria sossego. Os olhos dele se arregalaram rapidamente e logo a expressão de null suavizou, automaticamente.
- null! - ele abriu os braços automaticamente -
A garota se jogou nos braços dele e então null relaxou todos os músculos do corpo na presença da melhor amiga. Era sempre assim, desde que eles se conheceram ainda no ensino médio. null era o porto seguro de null e vice-versa.
Só tinha um porém: null era completamente apaixonada por null desde então. Nunca havia tido coragem o suficiente para sequer tocar nesse assunto com ele, afinal de contas ela era um poço de timidez quando se tratava desses assuntos e bom, ela tinha total certeza que null não a correspondia! Como? Pela forma que ele a tratava, e porque ele estava sempre namorando, terminando e emendando um namoro no outro. Mesmo que algum dia ela tenha pensado em se declarar, mesmo que fosse só para tirar o sufoco de dentro do peito, não tinha tempo já que ele vivia acompanhado e amando alguém.
null se perguntava se de fato ele havia realmente conhecido o amor, se de fato ele havia amado de verdade alguma daquelas mulheres, ou se ele apenas buscava preencher um buraco deixado pelos problemas que tinha com a mãe, - que se divorciou do pai depois de diversas traições - null e o pai não conversavam há anos, desde que tudo havia acontecido. A mãe vivia trocando de parceiros, como se os homens fossem apenas objetos e null presenciou tudo, desde a adolescência. Ele diferente da mãe, não tratava as mulheres como meros objetos, pelo contŕario. Mas tinha o dedo completamente podre para a escolha das parceiras. O que machucava null… Já que dentro dos sonhos dela, ela era a mulher ideal para null. Quantas vezes ela já não havia imaginado como seria se os dois não fossem apenas melhores amigos? Quantas noites de sono ela não perdia, cuidando de null com o coração partido? Elas partiam o coração dele e ele o dela! Quantas vezes ela não quis gritar para ele abrir os olhos e enxergá-la? Mas se calava e guardava tudo dentro da própria mente. Tinha que amar null em silêncio, quietinha. O papel de melhor amiga continuava sendo dela, desde sempre, e ela o cumpria com maestria.
“Eu daria tudo pra tocar você, tudo pra te amar uma vez! Já me conformei, vivo de imaginação, só não posso mais esconder…”
Os dois voltaram para dentro do apartamento de null e então quando ele fechou a porta, suspirou.
- Eu trouxe comida, para fazer para você! - ela ergueu as sacolas - Eu soube que algo tinha acontecido, já que você sumiu o dia todo!
- Só você! - null acariciou a bochecha dela com o polegar - Está tudo desmoronando null!
- E o que aconteceu?
- Vem! Vamos deixar essas coisas lá na cozinha primeiro!
Ele a ajudou com algumas sacolas e então voltou a passar as mãos pelos cabelos, parecendo exasperado.
- Vai tomar um banho, sei que você deve ter chegado agora a pouco do trabalho! Eu vou preparar o jantar e aí a gente conversa depois que você já estiver relaxado!
null deixou um beijo na testa dela e concordou. Enquanto ele se banhava, null começou a preparar o jantar para os dois enquanto tomava uma taça pequena de vinho. A única bebida alcoólica que ela tomava era o vinho, era uma grande apreciadora da bebida.
Enquanto ela dançava e cantarolava sozinha mexendo o caldo do kimchi-jjigae e null a observava escorado no balcão com um sorriso terno nos lábios. Tinha tanto carinho por ela…
null se virou para pegar mais ingredientes na sacola e então se assustou com a presença do melhor amigo lá.
- Ai que susto null! - ele gargalhou alto com a reação da amiga - Eu achei que você estivesse no banho ainda!
- Desculpe! É que você estava curtindo tanto o seu momento que eu não quis atrapalhar!
- E aí quase me matou de susto? Podia ter feito um barulho né?
null voltou a gargalhar enquanto jogava a cabeça para trás e os olhos de null passearam pelo pescoço dele e então ela imaginou mais uma vez como seria gostoso passear além dos olhos, os lábios por lá também… afastou os pensamentos e então pegou os ingredientes faltantes e voltou a se virar de costas para o melhor amigo.
null adentrou a própria cozinha e então deu uma olhada no que null preparava, com as mãos nos bolsos da calça cinza de moletom.
- Precisa de ajuda com algo?
- Não! - ela virou o rosto para encará-lo e então os dois se encararam -
O coração de null acelerou dentro do peito com o quão próximo o rosto dos dois estava um do outro e o cheiro dele recém saído do banho invadiu as narinas de null que sentiu os olhos marejarem. Virou o rosto para a frente e então fez que não com a cabeça para null outra vez.
- O que foi?
- O que? - ela continuou mexendo o caldo dentro da panela -
- Você encheu os olhos de água null…
- Não! Impressão sua! O jantar já está quase pronto, porque você não monta a mesa para nós?
null observou o rosto dela por alguns segundos e soube que ela estava escondendo algo. Não insistiu e só fez o que a melhor amiga pediu.
Com a mesa já montada, null levou as panelas para lá e então eles se serviram em silêncio. A cabeça da mulher fervia de pensamentos, - e a maioria deles nada puros - sobre o melhor amigo, e null também tinha a cabeça cheia de pensamentos. Os dois comeram em silêncio e então ele disse que lavaria as louças e arrumava a cozinha já que null havia tido o trabalho de cozinhar.
- Você não quer tomar um banho? - antes que ela pudesse responder o celular de null tocou -
O nome da atual namorada dele brilhou na tela e null engoliu seco enquanto se livrava do próprio cachecol, depositando o mesmo sobre o sofá.
- É a null! - null adentrou o corredor que levava aos quartos e ao banheiro -
Ela conhecia o apartamento do melhor amigo de cor e salteado e então adentrou o quarto dele, não sem antes ouvi-lo atender o celular. A tal null parecia pressentir quando os dois estavam juntos sem ela. O namorado estava lá, abatido, precisando de ajuda, de um ombro amigo e onde ela estaria? Já null estava lá, pronta para secar as lágrimas quentes de null e lhe acariciar os cabelos macios como seda. Era sempre daquele jeito e null já deveria estar acostumada com tudo aquilo! Mas nesses últimos dias, ela estava se sentindo sufocada.
Ela abriu o guarda roupas de null e então pegou um samba canção qualquer lá de dentro e uma camiseta preta para vestir depois que saísse do banho. Durante o banho ela se permitiu derramar algumas lágrimas e logo em seguida lavou os cabelos deixando a aǵua correr livremente por seu corpo enquanto imaginava que as gotas deveriam ser o toque de null sobre seu corpo. Então passou as mãos pelo próprio corpo lentamente enquanto mordia o próprio lábio de desejo. Quando acabou o banho e saiu da suíte do melhor amigo, ele estava sentado na beirada da cama com os olhos cheios de água e então null respirou fundo e se sentou ao lado dele.
Passeou uma das mãos pelas costas largas dele.
- O que tá acontecendo?
- Descobri que tenho uma irmã por parte de pai null! E ela é uma criança ainda! E eu a tratei super mal! Ela não tem culpa de nada, mas quando eu vi…
null subiu o olhar para encontrar o da melhor amiga, então ele deixou as lágrimas caírem livremente por suas bochechas, e então os dois se abraçaram. null com os olhos cheios de água o apertou com força dentro do abraço desajeitado dos dois.
Ela deixou que null chorasse livremente pelo tempo em que ele quisesse em seus braços e então ele se levantou, limpando as lágrimas.
- Eu vou deixar você se trocar! Me desculpe não ter esperado você sair do banho direito! A null ligou e eu me desesperei ainda mais! Nós oficialmente não estamos mais juntos… achei importante te dizer isso só agora, que bom, é oficial sabe?
null assentiu para ele.
- E lá vamos nós de novo, não é null? - ele e null se olharam -
- Me desculpe! Não quero te ocupar com as minhas dores!
Quando ele estava prestes a sair do quarto, null o chamou.
- Eu que peço desculpas null! Não deveria ter falado isso! É que eu já vivi essa história muitas vezes, e bom… - ela soltou um longo suspiro - Eu me preocupo com você entrando e saindo de relacionamentos assim, um atrás do outro! Já conversamos sobre isso algumas vezes.
- Eu fiz uma coisa que você me pediu há um tempo atrás… - ele pausou para umedecer os lábios e null acompanhou a língua dele involuntariamente - Eu comecei a terapia!
null sorriu para ele enquanto abria novamente os braços para recebê-lo. Os dois se abraçaram novamente e null sentiu o cheiro do próprio shampoo nos cabelos da melhor amiga. O coração dele, que antes batia rápido, começou a se acalmar dentro do peito. Com null era sempre assim.
- Que felicidade null! E o que ela disse sobre essa descoberta?
- Eu ainda não contei para ela, eu descobri ontem! E a minha sessão é só no fim da semana! Eu preciso dar um jeito na merda que eu fiz! E preciso tirar a null da minha cabeça!
Os dois se soltaram e então null bufou baixinho ao ouvir o nome de null outra vez.
- Alguma dica? - ele brincou enquanto mexia nos cabelos ainda úmidos de null e tentava sorrir - Estou brincando!
null ficou sério quando percebeu os olhos marejados de null. Não devia ter brincado com ela daquele jeito.
- Você realmente nunca percebeu nada?
null fechou os olhos com força, se arrependendo logo em seguida da sentença proferida. Que diabos deu nela?
- Do que você está falando null? De nós dois? null abriu os olhos e os arregalou. Ele percebia então? Os olhos dela marejaram pesadamente.
- É isso? Tá falando de nós dois, não tá? - null suspirou pesadamente -
- Uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você null, era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu, null, era capaz de ir mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouco que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si próprio, mas sabe? Você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também as cantava desvairadamente até ficar rouca, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos conta null, que é por isso que estou tão rouca assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende?
null levou uma das mãos até o próprio peito. Respirou fundo e então continuou, enquanto null limpava as lágrimas que agora desciam livremente pelo rosto dela.
- Você não cresceria se eu te mantivesse preso num pequeno vaso, eu compreendi a tempos que você precisava de muito espaço....
- null! Eu preciso te dizer que… - ela colocou o dedo indicador sobre os lábios dele -
- Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo null! Disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender.
- E eu compreendo! Sempre soube que você era apaixonada por mim!
null tapou o rosto com as mãos e então se afastou dele, se entregando ao choro. null sentiu o peito apertar com tanta força que achou que teria um infarte do miocárdio, detestava com todas as forças que ele tinha ver a melhor amiga sofrer e especialmente chorar.
- Não chora null! Me destrói por dentro!
- E eu null? Não tô destruída por dentro? Há anos! Você sempre soube… - ela voltou a se aproximar dele -
Lhe estapeou o peito, uma, duas, depois três e quatro vezes antes de abraçá-lo com força. null fechou os olhos então apertou o corpo de null dentro do abraço.
- Eu tenho inveja do Sol que pode te aquecer, eu tenho inveja do vento que te toca null! Tenho ciúme de quem pode amar você, quem pode ter você pra sempre…
- E eu tenho medo null! Medo de perder você para sempre! Você é tudo o que eu tenho, você não entende? Por isso eu escondi tanto tempo! Por isso eu nunca deixei claro que eu sabia dos seus sentimentos! E eu fui egoísta, sei disso! Fiz você sofrer durante esses anos! Mas eu também sofri null! Todas essas garotas para tapar um buraco, um vazio que eu sei que só você pode preencher! Mas eu tinha medo, medo de dar tudo errado com a gente e eu te perder! Não posso perder você! Por isso eu nunca tive coragem de tocar nesse assunto!
- Você também é tudo o que eu tenho null! E eu amo você! Você nunca vai me perder…
Os dois se afastaram minimamente e null limpou as lágrimas de null e depois segurou o rosto dela entre as mãos. Os dois se encararam por segundos a fio e então o olhar de null desceu para os lábios de null que fechou os olhos.
- Eu quero você null! Como eu nunca quis homem algum! E se você me corresponder, por favor me deixe saber caramba!
- Tenho urgência de você, null! Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. - ele tirou as mãos do rosto de null e então segurou as mãos dela -
Passeou as mesma pelo próprio abdômen e então pousou as mãos dela em seu rosto, encostando a testa na dela. null sentia o coração acelerar gradativamente com o calor da pele de null começando a se impregnar por suas digitais,
- Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido…Mas tão desejado null! Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas caírem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do ardil: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.
E então vagarosamente Jiyoung encostou os lábios nos de null que entreabriu os mesmos deixando que o tão esperado beijo acontecesse. E era como se ela estivesse apenas flutuando no espaço tempo enquanto a língua dos dois se chocava com um pouco de urgência. E pronto! O quebra cabeças estava finalmente completo, depois de tanto tempo só imaginando como seria tê-lo, ali estavam os dois completamente entregues ao momento. Alheios a qualquer possibilidade ou qualquer problema que pudesse estar assolando a mente dos dois.
As mãos de null desceram pela lateral do corpo miúdo de null que envolveu os braços em volta do pescoço do homem, logo a toalha que ela usava já estava caída ao chão, e nenhum dos dois se importou. Os lábios de null soltaram os dela, e já estavam cravados no pescoço cheiroso de null que apertou os olhos sentindo o corpo arrepiar com os beijos molhados que ele depositava por lá.
As bocas voltaram a se chocar com pressa e então logo ela já estava sobre a cama tão conhecida de null por ela, com o corpo pesado dele por cima.
- Amo você null!
- Eu to sonhando de novo? - null fechou os olhos enquanto null sorria -
- Vou provar para você que não!
E então eles se beijaram outra vez.
Quando o dia amanheceu, null se sentou na cama assustada quando o celular de null despertou no quarto, fazendo com que os dois acordassem. null desligou o mesmo e então encarou null que olhou para ele, ainda assustada.
- Eu sonhei que nós dois nos declaramos um pro outro e ainda transamos! Bem aqui na sua cama! - ela deu uma olhada no corpo vestido apenas com a lingerie branca que ela usava ontem - Meu Deus null!
null gargalhou alto.
- E o sonho foi bom? - null cruzou as mãos atrás da própria cabeça escorando-a na cabeceira marrom da cama - Qual foi a sensação?
null sentiu as bochechas esquentarem.
- Você não sonhou null! Aconteceu de verdade!
Os dois se encararam e então null fechou os olhos.
- Eu não sei o que dizer agora null! Você…
- Eu o que? - ele segurou-a pelo queixo fazendo com que ela o encarasse - Eu amo você, e você me ama! Há anos! Porque perdemos tanto tempo?
Ela balançou a cabeça em negativa para o melhor amigo.
- Você não precisa mais sentir inveja do Sol que pode me aquecer, nem do vento que te toca null! E nem ter ciúme de quem pode me amar, de quem pode me ter pra sempre… Porque agora é você quem me tem!
null suspirou pesadamente enquanto encostava a cabeça no sofá e deitou o corpo sobre o mesmo. O dia havia sido exaustivo demais no trabalho, a vida estava começando a voltar a ser um caos e ele só queria descansar e desligar a mente e o corpo de tudo ao seu redor. Depois de mais ou menos quinze minutos cochilando no sofá, ele acordou assustado com a campainha tocando e então se pôs de pé, caminhando até a mesma para atender.
- Quem será a uma hora dessas meu Deus? E ainda sem o porteiro me avisar… - ele sussurrou para si mesmo enquanto passava as mãos pelos cabelos negros -
Abriu a porta com o semblante fechado já pronto para expulsar quem quer que fosse, já que ele só queria sossego. Os olhos dele se arregalaram rapidamente e logo a expressão de null suavizou, automaticamente.
- null! - ele abriu os braços automaticamente -
A garota se jogou nos braços dele e então null relaxou todos os músculos do corpo na presença da melhor amiga. Era sempre assim, desde que eles se conheceram ainda no ensino médio. null era o porto seguro de null e vice-versa.
Só tinha um porém: null era completamente apaixonada por null desde então. Nunca havia tido coragem o suficiente para sequer tocar nesse assunto com ele, afinal de contas ela era um poço de timidez quando se tratava desses assuntos e bom, ela tinha total certeza que null não a correspondia! Como? Pela forma que ele a tratava, e porque ele estava sempre namorando, terminando e emendando um namoro no outro. Mesmo que algum dia ela tenha pensado em se declarar, mesmo que fosse só para tirar o sufoco de dentro do peito, não tinha tempo já que ele vivia acompanhado e amando alguém.
null se perguntava se de fato ele havia realmente conhecido o amor, se de fato ele havia amado de verdade alguma daquelas mulheres, ou se ele apenas buscava preencher um buraco deixado pelos problemas que tinha com a mãe, - que se divorciou do pai depois de diversas traições - null e o pai não conversavam há anos, desde que tudo havia acontecido. A mãe vivia trocando de parceiros, como se os homens fossem apenas objetos e null presenciou tudo, desde a adolescência. Ele diferente da mãe, não tratava as mulheres como meros objetos, pelo contŕario. Mas tinha o dedo completamente podre para a escolha das parceiras. O que machucava null… Já que dentro dos sonhos dela, ela era a mulher ideal para null. Quantas vezes ela já não havia imaginado como seria se os dois não fossem apenas melhores amigos? Quantas noites de sono ela não perdia, cuidando de null com o coração partido? Elas partiam o coração dele e ele o dela! Quantas vezes ela não quis gritar para ele abrir os olhos e enxergá-la? Mas se calava e guardava tudo dentro da própria mente. Tinha que amar null em silêncio, quietinha. O papel de melhor amiga continuava sendo dela, desde sempre, e ela o cumpria com maestria.
“Eu daria tudo pra tocar você, tudo pra te amar uma vez! Já me conformei, vivo de imaginação, só não posso mais esconder…”
Os dois voltaram para dentro do apartamento de null e então quando ele fechou a porta, suspirou.
- Eu trouxe comida, para fazer para você! - ela ergueu as sacolas - Eu soube que algo tinha acontecido, já que você sumiu o dia todo!
- Só você! - null acariciou a bochecha dela com o polegar - Está tudo desmoronando null!
- E o que aconteceu?
- Vem! Vamos deixar essas coisas lá na cozinha primeiro!
Ele a ajudou com algumas sacolas e então voltou a passar as mãos pelos cabelos, parecendo exasperado.
- Vai tomar um banho, sei que você deve ter chegado agora a pouco do trabalho! Eu vou preparar o jantar e aí a gente conversa depois que você já estiver relaxado!
null deixou um beijo na testa dela e concordou. Enquanto ele se banhava, null começou a preparar o jantar para os dois enquanto tomava uma taça pequena de vinho. A única bebida alcoólica que ela tomava era o vinho, era uma grande apreciadora da bebida.
Enquanto ela dançava e cantarolava sozinha mexendo o caldo do kimchi-jjigae e null a observava escorado no balcão com um sorriso terno nos lábios. Tinha tanto carinho por ela…
null se virou para pegar mais ingredientes na sacola e então se assustou com a presença do melhor amigo lá.
- Ai que susto null! - ele gargalhou alto com a reação da amiga - Eu achei que você estivesse no banho ainda!
- Desculpe! É que você estava curtindo tanto o seu momento que eu não quis atrapalhar!
- E aí quase me matou de susto? Podia ter feito um barulho né?
null voltou a gargalhar enquanto jogava a cabeça para trás e os olhos de null passearam pelo pescoço dele e então ela imaginou mais uma vez como seria gostoso passear além dos olhos, os lábios por lá também… afastou os pensamentos e então pegou os ingredientes faltantes e voltou a se virar de costas para o melhor amigo.
null adentrou a própria cozinha e então deu uma olhada no que null preparava, com as mãos nos bolsos da calça cinza de moletom.
- Precisa de ajuda com algo?
- Não! - ela virou o rosto para encará-lo e então os dois se encararam -
O coração de null acelerou dentro do peito com o quão próximo o rosto dos dois estava um do outro e o cheiro dele recém saído do banho invadiu as narinas de null que sentiu os olhos marejarem. Virou o rosto para a frente e então fez que não com a cabeça para null outra vez.
- O que foi?
- O que? - ela continuou mexendo o caldo dentro da panela -
- Você encheu os olhos de água null…
- Não! Impressão sua! O jantar já está quase pronto, porque você não monta a mesa para nós?
null observou o rosto dela por alguns segundos e soube que ela estava escondendo algo. Não insistiu e só fez o que a melhor amiga pediu.
Com a mesa já montada, null levou as panelas para lá e então eles se serviram em silêncio. A cabeça da mulher fervia de pensamentos, - e a maioria deles nada puros - sobre o melhor amigo, e null também tinha a cabeça cheia de pensamentos. Os dois comeram em silêncio e então ele disse que lavaria as louças e arrumava a cozinha já que null havia tido o trabalho de cozinhar.
- Você não quer tomar um banho? - antes que ela pudesse responder o celular de null tocou -
O nome da atual namorada dele brilhou na tela e null engoliu seco enquanto se livrava do próprio cachecol, depositando o mesmo sobre o sofá.
- É a null! - null adentrou o corredor que levava aos quartos e ao banheiro -
Ela conhecia o apartamento do melhor amigo de cor e salteado e então adentrou o quarto dele, não sem antes ouvi-lo atender o celular. A tal null parecia pressentir quando os dois estavam juntos sem ela. O namorado estava lá, abatido, precisando de ajuda, de um ombro amigo e onde ela estaria? Já null estava lá, pronta para secar as lágrimas quentes de null e lhe acariciar os cabelos macios como seda. Era sempre daquele jeito e null já deveria estar acostumada com tudo aquilo! Mas nesses últimos dias, ela estava se sentindo sufocada.
Ela abriu o guarda roupas de null e então pegou um samba canção qualquer lá de dentro e uma camiseta preta para vestir depois que saísse do banho. Durante o banho ela se permitiu derramar algumas lágrimas e logo em seguida lavou os cabelos deixando a aǵua correr livremente por seu corpo enquanto imaginava que as gotas deveriam ser o toque de null sobre seu corpo. Então passou as mãos pelo próprio corpo lentamente enquanto mordia o próprio lábio de desejo. Quando acabou o banho e saiu da suíte do melhor amigo, ele estava sentado na beirada da cama com os olhos cheios de água e então null respirou fundo e se sentou ao lado dele.
Passeou uma das mãos pelas costas largas dele.
- O que tá acontecendo?
- Descobri que tenho uma irmã por parte de pai null! E ela é uma criança ainda! E eu a tratei super mal! Ela não tem culpa de nada, mas quando eu vi…
null subiu o olhar para encontrar o da melhor amiga, então ele deixou as lágrimas caírem livremente por suas bochechas, e então os dois se abraçaram. null com os olhos cheios de água o apertou com força dentro do abraço desajeitado dos dois.
Ela deixou que null chorasse livremente pelo tempo em que ele quisesse em seus braços e então ele se levantou, limpando as lágrimas.
- Eu vou deixar você se trocar! Me desculpe não ter esperado você sair do banho direito! A null ligou e eu me desesperei ainda mais! Nós oficialmente não estamos mais juntos… achei importante te dizer isso só agora, que bom, é oficial sabe?
null assentiu para ele.
- E lá vamos nós de novo, não é null? - ele e null se olharam -
- Me desculpe! Não quero te ocupar com as minhas dores!
Quando ele estava prestes a sair do quarto, null o chamou.
- Eu que peço desculpas null! Não deveria ter falado isso! É que eu já vivi essa história muitas vezes, e bom… - ela soltou um longo suspiro - Eu me preocupo com você entrando e saindo de relacionamentos assim, um atrás do outro! Já conversamos sobre isso algumas vezes.
- Eu fiz uma coisa que você me pediu há um tempo atrás… - ele pausou para umedecer os lábios e null acompanhou a língua dele involuntariamente - Eu comecei a terapia!
null sorriu para ele enquanto abria novamente os braços para recebê-lo. Os dois se abraçaram novamente e null sentiu o cheiro do próprio shampoo nos cabelos da melhor amiga. O coração dele, que antes batia rápido, começou a se acalmar dentro do peito. Com null era sempre assim.
- Que felicidade null! E o que ela disse sobre essa descoberta?
- Eu ainda não contei para ela, eu descobri ontem! E a minha sessão é só no fim da semana! Eu preciso dar um jeito na merda que eu fiz! E preciso tirar a null da minha cabeça!
Os dois se soltaram e então null bufou baixinho ao ouvir o nome de null outra vez.
- Alguma dica? - ele brincou enquanto mexia nos cabelos ainda úmidos de null e tentava sorrir - Estou brincando!
null ficou sério quando percebeu os olhos marejados de null. Não devia ter brincado com ela daquele jeito.
- Você realmente nunca percebeu nada?
null fechou os olhos com força, se arrependendo logo em seguida da sentença proferida. Que diabos deu nela?
- Do que você está falando null? De nós dois? null abriu os olhos e os arregalou. Ele percebia então? Os olhos dela marejaram pesadamente.
- É isso? Tá falando de nós dois, não tá? - null suspirou pesadamente -
- Uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você null, era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu, null, era capaz de ir mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouco que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si próprio, mas sabe? Você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também as cantava desvairadamente até ficar rouca, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos conta null, que é por isso que estou tão rouca assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende?
null levou uma das mãos até o próprio peito. Respirou fundo e então continuou, enquanto null limpava as lágrimas que agora desciam livremente pelo rosto dela.
- Você não cresceria se eu te mantivesse preso num pequeno vaso, eu compreendi a tempos que você precisava de muito espaço....
- null! Eu preciso te dizer que… - ela colocou o dedo indicador sobre os lábios dele -
- Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo null! Disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender.
- E eu compreendo! Sempre soube que você era apaixonada por mim!
null tapou o rosto com as mãos e então se afastou dele, se entregando ao choro. null sentiu o peito apertar com tanta força que achou que teria um infarte do miocárdio, detestava com todas as forças que ele tinha ver a melhor amiga sofrer e especialmente chorar.
- Não chora null! Me destrói por dentro!
- E eu null? Não tô destruída por dentro? Há anos! Você sempre soube… - ela voltou a se aproximar dele -
Lhe estapeou o peito, uma, duas, depois três e quatro vezes antes de abraçá-lo com força. null fechou os olhos então apertou o corpo de null dentro do abraço.
- Eu tenho inveja do Sol que pode te aquecer, eu tenho inveja do vento que te toca null! Tenho ciúme de quem pode amar você, quem pode ter você pra sempre…
- E eu tenho medo null! Medo de perder você para sempre! Você é tudo o que eu tenho, você não entende? Por isso eu escondi tanto tempo! Por isso eu nunca deixei claro que eu sabia dos seus sentimentos! E eu fui egoísta, sei disso! Fiz você sofrer durante esses anos! Mas eu também sofri null! Todas essas garotas para tapar um buraco, um vazio que eu sei que só você pode preencher! Mas eu tinha medo, medo de dar tudo errado com a gente e eu te perder! Não posso perder você! Por isso eu nunca tive coragem de tocar nesse assunto!
- Você também é tudo o que eu tenho null! E eu amo você! Você nunca vai me perder…
Os dois se afastaram minimamente e null limpou as lágrimas de null e depois segurou o rosto dela entre as mãos. Os dois se encararam por segundos a fio e então o olhar de null desceu para os lábios de null que fechou os olhos.
- Eu quero você null! Como eu nunca quis homem algum! E se você me corresponder, por favor me deixe saber caramba!
- Tenho urgência de você, null! Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. - ele tirou as mãos do rosto de null e então segurou as mãos dela -
Passeou as mesma pelo próprio abdômen e então pousou as mãos dela em seu rosto, encostando a testa na dela. null sentia o coração acelerar gradativamente com o calor da pele de null começando a se impregnar por suas digitais,
- Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido…Mas tão desejado null! Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas caírem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do ardil: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.
E então vagarosamente Jiyoung encostou os lábios nos de null que entreabriu os mesmos deixando que o tão esperado beijo acontecesse. E era como se ela estivesse apenas flutuando no espaço tempo enquanto a língua dos dois se chocava com um pouco de urgência. E pronto! O quebra cabeças estava finalmente completo, depois de tanto tempo só imaginando como seria tê-lo, ali estavam os dois completamente entregues ao momento. Alheios a qualquer possibilidade ou qualquer problema que pudesse estar assolando a mente dos dois.
As mãos de null desceram pela lateral do corpo miúdo de null que envolveu os braços em volta do pescoço do homem, logo a toalha que ela usava já estava caída ao chão, e nenhum dos dois se importou. Os lábios de null soltaram os dela, e já estavam cravados no pescoço cheiroso de null que apertou os olhos sentindo o corpo arrepiar com os beijos molhados que ele depositava por lá.
As bocas voltaram a se chocar com pressa e então logo ela já estava sobre a cama tão conhecida de null por ela, com o corpo pesado dele por cima.
- Amo você null!
- Eu to sonhando de novo? - null fechou os olhos enquanto null sorria -
- Vou provar para você que não!
E então eles se beijaram outra vez.
Quando o dia amanheceu, null se sentou na cama assustada quando o celular de null despertou no quarto, fazendo com que os dois acordassem. null desligou o mesmo e então encarou null que olhou para ele, ainda assustada.
- Eu sonhei que nós dois nos declaramos um pro outro e ainda transamos! Bem aqui na sua cama! - ela deu uma olhada no corpo vestido apenas com a lingerie branca que ela usava ontem - Meu Deus null!
null gargalhou alto.
- E o sonho foi bom? - null cruzou as mãos atrás da própria cabeça escorando-a na cabeceira marrom da cama - Qual foi a sensação?
null sentiu as bochechas esquentarem.
- Você não sonhou null! Aconteceu de verdade!
Os dois se encararam e então null fechou os olhos.
- Eu não sei o que dizer agora null! Você…
- Eu o que? - ele segurou-a pelo queixo fazendo com que ela o encarasse - Eu amo você, e você me ama! Há anos! Porque perdemos tanto tempo?
Ela balançou a cabeça em negativa para o melhor amigo.
- Você não precisa mais sentir inveja do Sol que pode me aquecer, nem do vento que te toca null! E nem ter ciúme de quem pode me amar, de quem pode me ter pra sempre… Porque agora é você quem me tem!
Fim.

