Capítulo Único

Acordei com o sol batendo na janela. As galinhas já estavam caminhando pelo campo ao lado de minha janela, o galo já cantava e todos os animais ao redor faziam a festa.
Depois de um tempo deitada, percebi que precisava realmente me levantar e tomar café, mesmo que fosse impossível me levantar com aquela barriga.
Tudo começou há quase um ano. Viajei no verão com algumas amigas para uma casa de praia na Califórnia, onde iríamos viver nossas aventuras antes de irmos para o último ano do colegial.
Eu lembro exatamente como eu o conheci. Lembro exatamente daquele luau e do que aconteceu logo após ele, algo que se estendeu pelo resto dos dias naquele paraíso. Mas, como tudo na vida dura pouco, eu tive que voltar para minha vida monótona e minha família.
Eu lembro que, nas primeiras semanas de aula, eu sentia meu corpo mudar. Achava que era algo ligado à perda de minha virgindade, afinal, nunca tive esse tipo de conversa com meus pais ou algum especialista, ouvia somente o que minhas poucas amigas diziam, e eu era ingênua demais para saber o que se passava em meu corpo.
Lembro que, numa aula de Educação Física, eu tive o veredicto: eu estava grávida. Fiz um teste somente para confirmar e a resposta veio três minutos depois, mostrando os dois riscos.
De inicio, eu pensei em tudo. Desde abortar até fugir para Califórnia e encontrar com Todd, que não sabia daquilo e possivelmente nunca saberia.
Após alguns dias, tive que tomar coragem e contar para meus pais. Os mesmos não apoiaram de imediato. Sabiam que eu havia destruído minha vida e que eu estava sendo irresponsável naquela época, mas disseram que eu não poderia abortar.
Como foi andar pelas ruas com aquela barriga? Isso simplesmente não aconteceu! Não, poucos dias depois que contei para meus pais sobre a gravidez, meu pai decidiu que eu deveria morar numa fazenda por um tempo, até que eles arrumassem algum pretendente que poderia tomar o lugar de pai e que eu não ficasse mal falada pela cidade.
De inicio eu rejeitei a ideia. O fato de ter que viver numa cidade tão conservadora e religiosa me fazia ficar nervosa, mas eu fui obrigada a concordar que era o melhor a ser feito. Passei dias convencendo-os a fazermos um aborto e que ninguém iria descobrir, mas eles não queriam saber daquilo. Eles achavam que eu estaria pecando por fazer tal coisa, e que nunca poderia ir para o céu, o que me fez concordar totalmente derrotada e ter que me mudar repentinamente para outro lugar, totalmente afastada de minhas amigas e de tudo que eu gostava.
Os primeiros meses naquele local foram péssimos. Lembro que eu tinha que acordar tão cedo quanto os outros, mas estava me acostumando com aquilo tudo. Eu tinha tudo que eu queria e não poderia reclamar jamais. Todos que trabalhavam naquela fazenda estavam sendo como uma família para mim e eu jamais poderia reclamar.
- Veja só se não é a grávida mais linda do mundo todo! – Anna, a empregada do casarão, diz sorrindo e colocando um prato na mesa de jantar. – Sabia que iria acordar com fome e fiz tudo que você sempre gostou de comer.
- Obrigada, Anna, todos já acordaram? – indago ao me sentar, fazendo com que ela se sente ao meu lado.
Quando me mudei, exigi que todos ali fossem tratados de igual para igual. Detestava a ideia de ter empregados trabalhando para mim. Queria me sentir numa família e eles realmente fizeram aquilo. Eu era extremamente feliz morando ali, mesmo que fosse longe de tudo que eu sempre gostei, eu gostava desse lugar e das pessoas.
- está no pasto com as vacas, Lily está cavalgando e Afonso está pelo centro comprando algumas coisas para mim. – Anna diz, pegando uma torrada e passando manteiga.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, a porta se abre e eu ouço passos vindos em direção a cozinha.
apareceu em meu campo de visão. Ele usava uma blusa preta e calça jeans, além de botas nos pés e o rosto todo sujo de lama.
- Bom dia. – ele diz, passando por mim e beijando minha bochecha, além de acariciar minha barriga e sentar ao lado de Anna.
- Bom dia, filho! Como você está? – Anna indaga.
- Estou bem, mãe. A senhora dormiu bem? – ele indaga e a mais velha assente. – E você, ?
- Eu dormi na medida do possível, mas essa criança não quer me deixar dormir. – falei, acariciando minha barriga e sentindo o bebê chutar.
- Essa sua barriga está tão linda! Lembro exatamente de quando estava grávida. – Anna diz e eu sorrio, fitando por alguns segundos, até desviar para a janela da cozinha, vendo as árvores se balançarem conforme o vento.
Eu e temos, digamos, um relacionamento. Não dizemos que é um relacionamento, mas sim, damos uns beijos enquanto estamos juntos, ficamos escondidos e hora ou outra ele dorme comigo no meu quarto ou no dele. Eu sentia algo por ele e nutria com toda a vontade do mundo, e sabia que era recíproco. Seus amigos sabiam de nós e até Lily, sua irmã, mas nunca tivemos coragem de contar para seus pais e para os meus.
Ficamos conversando por um tempo, até que Anna teve que sair para resolver algumas outras coisas.
- Acho que hoje tem rodeio aqui. – diz, sentando-se ao meu lado e me dando um selinho, acariciando meu rosto e minha barriga. – Você acha que podemos ir?
- Acho que podíamos sim. Seus amigos vão? – indago e ele sorri, assentindo com a cabeça. – Então podemos ir sim. Lily vai conosco?
- O que você acha? – ele indaga, rolando os olhos em seguida.
- Ei, larga de ser ciumento! Ela também tem a oportunidade de encontrar alguém. – falei e ele bufou, beijando minha testa em seguida. – Que horas iremos sair daqui?
- Seis da noite eu acho que tá de bom tamanho. – ele diz e eu assenti, levantando com dificuldade e ficando de pé, fitando-o por alguns segundos. – Agora, que tal irmos para meu quarto? Quero ficar agarrado com você e nossa filha!
- Você cismou que é uma menina, não é? – indago e ele assentiu rindo. – E se for um menino?
- Não vai ser um menino! É a nossa , já te disse! – ele exclama, acariciando minha barriga. – Não fique ouvindo a sua mamãe, . Ela não sabe o que diz.
Rolei os olhos e dei um beijo em sua bochecha, subindo as escadas junto dele.
As horas naquele quarto foram rápidas demais. Almoçamos no quarto e dormimos o resto da tarde, enquanto fazia carinho na minha barriga e em meus cabelos.
Quando eu cheguei à fazenda, todos sabiam o que havia acontecido e eles me deram muito apoio, até mais do que meus próprios pais. sabia desde o inicio que eu estava grávida de outro cara e quando começamos com isso tudo, ele disse que iria assumir a criança como sua e que iríamos criá-la juntos. Ele até mesmo estava pegando dinheiro escondido de suas economias para a caminhonete para ajudar com algumas coisas, desde roupas até um berço, que havia sido construído por ele e seu pai na última semana e estava perto de ser finalmente terminado.
Seus amigos sempre nos apoiaram. Diziam que éramos feitos um para o outro e que não demoraria muito para que admitíssemos que a gente se amava. E, de verdade, eu não queria aquilo. Nós dois sabíamos o que sentíamos e sempre demonstramos, mesmo que minimamente. Sempre nos ajudamos, conversamos, fizemos muitas coisas juntos e vivíamos fazendo coisas consideradas “de casal”, então não tinha para que admitirmos o que já deixamos bastante explícito.
Quando deu cinco e meia da tarde, eu fui para meu quarto começar a me arrumar. Como o clima naquela época era quente, decidi usar um vestido que ganhei de Lily no meu aniversário de dezessete anos. Ele era azul e com flores, cabendo exatamente em mim e na minha barriga gigante. Decidi deixar os cabelos soltos e coloquei uma sapatilha, passando pouca maquiagem e saindo do quarto, indo direto para o de .
O mesmo levou algum tempo para se arrumar e Lily também, atrasando nossa saída para o rodeio.
- Você atrasou tudo, Lily! Está satisfeita? – indaga ao virar numa rua.
- , deixe-a. Você também se atrasou, eu me atrasei, está tudo bem! – falei e suspirei. – Só, por favor, não fique se estressando à toa.
- Você está se sentindo bem? – Lily indaga, jogando seu corpo para frente e passando a mão em meu ventre. Assenti com a cabeça e sorri forçada.
- Deve ser alguma coisa. Estou sentindo algumas contrações, mas nada que não seja passageiro. – falei e ela assentiu, suspirando em seguida e indo para o banco de trás.
Demorou mais alguns minutos até que chegássemos onde seria o rodeio. estacionou num local e logo fomos para a bilheteria, comprando os tickets e indo para dentro do local, que estava cheio e iluminado.
- Veja quem estão aqui! O casal e a Lily! – Jaden, melhor amigo de , exclama, beijando a bochecha de Lily e logo depois a minha. – Arrumamos um lugar muito bom e com cadeira para a . Venham.
E logo fomos com ele. Durante o caminho, ficou atrás de mim, passando seus braços ao redor de meu corpo e caminhando comigo por entre a multidão. Logo chegamos ao lado da roda gigante, que estava totalmente iluminada e com uma fila gigantesca.
- Eu queria tanto ir à roda gigante. – falei, fazendo bico em seguida.
- Ei, você sabe que não pode. Depois que nascer eu a levarei em uma, tá ok? – indaga, beijando meus lábios rapidamente. – Agora, fique aqui com Lily que irei pegar alguma coisa para comermos. O que você quer?
- Ah, qualquer coisa. – falei e ele assentiu, beijando-me novamente e saindo, sumindo de meu campo de visão.
- Então você e meu irmão estão extremamente sérios?! – Lily diz, sorrindo e acariciando minha barriga. – Bem vinda à família, cunhada!
Rolei os olhos sorrindo e passando minha mão em minha barriga, sentindo novamente o bebê chutar.
E se for verdade? E se tiver certeza de que iremos ter mesmo uma menina? E se Lily estiver certa de que eu e estamos realmente ficando sérios nesse relacionamento?
Despertei de meus devaneios quando apareceu na minha frente. Ele estava carregando milho, cachorro quente e algodão doce, além de que Jaden carregava refrigerante e outras coisas para eles.
- Para que isso tudo? – indago.
- Para você, . – diz, me fazendo rir fraco e negar com a cabeça.
- Você é louco, ! Tem muita comida. – falei e ele rolou os olhos.
- Eu quero que seja bem alimentada! – ele falou, me fazendo rolar os olhos e beijar seus lábios rapidamente, antes de pegar o milho e começar a comê-lo.
Ficamos naquele rodeio por algumas horas. Chegamos a casa antes da meia noite e, como de costume, fui dormir com em meu quarto. Coloquei meu pijama e deitei na cama, esperando por ele, que estava em seu quarto.
Após alguns minutos, ele apareceu. O mesmo estava somente de calça de moletom e com um sorriso nos lábios. Ele trancou a porta e desligou a luz, caminhando em minha direção. Acendi o abajur do meu lado da cama e vejo-o vindo para cima de mim. Sorri e acariciei seu rosto quando ele se aproximou, beijando meus lábios e agarrando meus cabelos.
- Como que você faz isso? – indago contra seus lábios.
- O que, exatamente? – ele indaga, beijando meu pescoço.
- Sentir tesão por mim. Estou grávida, inchada, com gases, cólicas sem fim e muitas dores nas costas. E sem contar nas espinhas que apareceram. Eu estou péssima! – falei e ele fitou meus olhos.
- Você, para mim, continua a mulher mais linda do mundo! – ele sussurra e eu sorrio, beijando-o verdadeiramente. – Eu amo você, .
O silêncio entre nós foi, de longe, o mais constrangedor. Ele admitiu que me ama e eu não sabia se sentia o mesmo.
Ok, amor é dormir pensando na pessoa? É dormir desejando estar com ela? É pensar nela o tempo inteiro? Amar é querê-la por perto todo o tempo do mundo? Amar é, acima de tudo, sentir que aquela pessoa é seu amigo para todas as horas?
Se sim, eu o amava. Verdadeiramente.
- Eu também amo você, . – falei séria e ele sorriu, beijando meus lábios em seguida. – Podemos somente dormir hoje? Estou me sentindo cansada! Essas contrações estão acabando comigo.
- Você quer que eu faça alguma coisa por você? – ele indagou e eu neguei, apenas beijando seus dedos e puxando-o para perto de mim. Fechei os olhos quando ele beijou a ponta de meu nariz e acariciou meus cabelos. – Boa noite, .
- Boa noite, . – falei, sorrindo e sentindo seus lábios contra minha testa. E assim acabei adormecendo.
Estava dormindo quando sinto as dores em minha barriga aumentarem. Gemi baixo de dor e me movimentei, pensando se tratar somente da posição em que dormia, mas me enganei profundamente.
Abri os olhos e vi que dormia totalmente encolhido, com medo de que me machucasse. Acariciei seus cabelos rapidamente e fiz força para levantar.
- O que houve? – ouço indagar e fico sentada, soltando o ar com pressa. – Você está passando bem?
- , eu não sei o que está acontecendo! – falei e ele sentou-se na cama, olhando para mim e para minha barriga.
- Irei chamar alguém! – ele exclama, correndo para fora do quarto em seguida.
Sei que demorou exatos três minutos até que Anna aparecesse na porta, junto de Lily e Afonso, que estavam com os rostos amassados por conta do travesseiro.
- Eu preciso que chame a parteira. – Anna diz, sentada ao meu lado e segurando minha mão. – Rápido, . Vá chamá-la!
E assentiu, saindo do quarto.
- Afonso, eu preciso que prepare algumas coisas para esse parto. Sabe o que é? – Anna indaga e ele assente, saindo do quarto em seguida. – Você consegue, garota. Você será mãe.
- Anna, não está na época. Ainda faltam algumas semanas. – falei, apertando a mão da mais velha. – E se não der certo?
- Vai dar certo, ! – Lily exclama, sorrindo e beijando minha testa. – Precisamos observar essas contrações até que a parteira apareça.
Assenti, soltando outro grito de dor, ainda mais agudo que o anterior.
Demora mais alguns minutos até que apareça. Uma senhora estava ao seu lado. Ela estava com uma camisola e o rosto estava inchado, mostrando que havia acabado de acordar.
- Eu preciso que fique presente somente eu, a grávida e Anna aqui. – a senhora diz. Fitei , que parecia nervoso.
- Eu quero ficar aqui. – diz e eu suspirei. – E-eu sou pai dessa criança.
- Eu sei que é, mas preciso que fique fora daqui por enquanto. – falou e ele suspirou, assentindo e caminhando em minha direção.
- Saia daqui com a minha , você ouviu? – ele indaga e eu assenti, sentindo seus lábios contra os meus por alguns segundos, até que ele se soltou e saiu do quarto.
- Preciso que abra as pernas, senhorita. – a parteira diz. Assenti e, com dificuldade, abri as pernas. – Suas contrações estão vindo de quanto em quanto tempo?
- De três em três minutos, mais ou menos. – falei e ela assentiu, suspirando e colocando as mãos na parte interna de minhas coxas.
Anna ficou ao meu lado, segurando minha mão e apertando-a de tempos em tempos.
- Preciso que faça força. – a parteira diz novamente. – Precisamos tirar essa criança daí com saúde!
Assenti e comecei a fazer força, soltando um grito de dor. O olhar apreensivo de Anna me deixava beirando o desespero.
Eu só queria que estivesse ali.
Fechei os olhos e imaginei como seria quando tudo isso aqui terminasse.

I saw you on church on Sunday. I was walking in my way to Monday
Cracked lips and a sad vogue
Something tune life that you just can’t hear.

Gritei mais uma vez, sentindo a dor aumentar rapidamente, fazendo uma lágrima escorrer.
- Você precisa ser forte, ! – Anna exclama, apertando minha mão.
- Eu não consigo. – falei, sentindo minha respiração pesada. – Eu estou tentando, Anna, eu estou realmente tentando.
- Então você vai conseguir, eu sei que vai! – ela diz, sorrindo maternalmente para mim.

Dry fuel but it hurts too much, do you like when the life gets rough?
You always washing your hands in myth
Don’t you know you can’t get clean?

Àquela hora, Anna já havia soltado minha mão, indo para um pequeno altar que estava no canto do quarto, fazendo uma reza. Eu fiquei a fitando por alguns segundos, até que fechei os olhos, fazendo força mais uma vez.
- A criança já está saindo! – a parteira diz e eu sorrio. – Você consegue!

I didn’t know, didn’t know, what I was running to
Didn’t know, didn’t know, what I was running to
I didn’t know, didn’t know, what I was running to
Didn’t know, didn’t know, what I was running to
Didn’t know what I was running to

- Você já escolheu o nome da criança? – a parteira indaga, antes que eu fizesse força novamente.
- . – falei convicta de que seria uma menina.
- E se for um menino? – Anna indaga, sentando-se ao meu lado e segurando minha mão.
- Eu sei que é uma menina. – falei e ela sorriu, beijando o topo de minha cabeça.

Oh, girl, don’t stop now, walking through the city like a holy cow.
Oh, girl, don’t stop now, only way to heaven is a broken vow.
Are you speaking in tongues, yeah, I’ll take sin
Your abstinence is such a loaded gun, your stained glass and a holy ghost
I shall not take what I want the most.

- Vamos, , faz força, eu sei que você é capaz disso! – Anna exclama ao meu lado.
Antes que eu pudesse dizer algo, a porta foi aberta e vejo ali. Lily segurava-o pelos ombros, mas eu sabia que ela não tinha forças o suficiente para tal feito.
Ele me fitou por alguns segundos e eu senti meu mundo desmoronar. Eu sabia o quanto eu o queria por perto de mim naquele momento, mas sempre pensei que o pior pudesse acontecer.

I didn’t know, didn’t know what I was running to
Didn’t know, didn’t know what I was running to
I didn’t know, didn’t know what I was running to
Didn’t know, didn’t know what I was running to
Didn’t know, didn’t know what I was running to

- , eu preciso que você saia daqui. – Anna diz, levantando-se da poltrona e indo em direção a ele. – É o melhor para nós.
- Não é e eu sei disso. Eu não quero ficar longe dela nesse momento. Vocês podem achar o que quiserem, pois eu não me importo, mas eu quero estar com . Ela precisa de mim e eu quero ser o companheiro que ela queria na hora do parto. – diz, caminhando cautelosamente até a mim.
- . – sussurrei, sentindo seu olhar sobre mim. – Por favor, fique fora disso. Eu só lhe peço isso.
- Por que, ? – ele indagou e eu suspirei.
- Porque sim. Por favor, é para o seu bem. E para o meu também. – falei e ele assentiu, saindo do quarto em seguida, sem antes me fitar com aqueles olhos lindos que sempre me tiram do foco.

Oh, girl, don’t stop now. Walking through the city like a holy cow
Oh, girl, don’t stop now, ‘cause only way to heaven is a broken vow.
Oh, girl, don’t stop now. Walking through the city like a holy cow
Oh, girl, don’t stop now, ‘cause only way to heaven is a broken vow.
Only way to heaven is a broken vow.

Eu comecei a pensar em como seria se tudo tivesse acontecido de maneira diferente. Se eu não tivesse ido para a Califórnia, não tivesse engravidado de Todd. Nunca viria para essa fazenda e possivelmente nunca conheceria .
Gosto de pensar que essa criança veio com um propósito, assim como todas as outras coisas. Essa criança veio para que eu ficasse junto de , veio para me mostrar que meu conceito de família não é somente aquele que gera, mas sim aquele que ama incondicionalmente, sendo de seu sangue ou não.

Hide me in mirrors, I’m happy when all I have to do is just pretend
Then I’m feeling like times moves slow.
And I lay and lift the fruit hang low
Low, low, low, let the fruit hang low.
Oh, girl, don’t stop now, walking through the city like a holy cow.
Oh, girl, don’t stop now, ‘cause only way to heaven is a broken vow.

Estou de olhos fechados quando faço força mais uma vez, ficando em silêncio por alguns segundos, até que ouço o choro de um bebê. O meu bebê.
Abri os olhos rapidamente, encarando a parteira, que enrolava o pedaço de gente num pano.
- E você estava certa. É mesmo uma menina. – a parteira diz, sorrindo ao me entregar a criança. Sorri e fitei seu pequeno rosto, que estava todo coberto de sangue.
A porta foi aberta poucos segundos depois e vejo caminhar em minha direção. O mesmo parecia receoso para se aproximar e eu estendi minha mão, que ele segurou prontamente, agachando-se e ficando da minha altura e de nossa filha.
- Ela é linda. – ele falou, sorrindo abobalhado. Assenti com um sorriso maior ainda, sentindo as lágrimas escorrerem com pressa. – A nossa .
- ... – falei e ele arqueou a sobrancelha. – Você sabe que não precisa...
- , eu já te disse, ela é minha filha, sendo de sangue ou não, eu a amo e sei que ela me tratará como o pai que ela sempre quis e que você também queria que fosse. – ele diz, acariciando meu rosto em seguida. – Agora, descansa, sei o quão difícil foi para você.
- É... – falei, sentindo o ar pesar em meus pulmões.
- O que está acontecendo? – ele indaga e eu vejo tudo ficar confuso. Minhas vistas estavam pesadas e eu sentia meu corpo amolecer.
A parteira, que estava no canto da sala, aproximou-se, pegando de meu colo logo em seguida. Fitei o rosto de mais uma vez, vendo seus olhos inundados pelas lágrimas que eu sabia que ele estava segurando.
- ... – sussurrei, vendo-o não nitidamente se abaixar. – Cuida dela. Por nós dois. Entendeu?
- O que você está dizendo? – ele indaga, sendo empurrado pela parteira para fora do quarto.
- Eu preciso que fiquem aqui fora. – a parteira diz, fechando a porta e trancando a mesma em seguida. – Ei, eu preciso que olhe para mim.
- E-eu não consigo. – falei com dificuldade, sentindo o ar sair com ainda mais dificuldade. – O que está acontecendo?
- Parece que você está ficando sem ar. – ela diz, segurando meu rosto e levantando-o. – Por favor, não faça isso. Respire. Por favor.
Durante alguns segundos, pensei como seria minha vida daqui pra frente. Como seria ser mãe, como seria ter como meu parceiro. Como seria formar uma família.
- Diga... – sussurrei com dificuldade, fechando meus olhos. – Que eu o amo.
E logo fechei meus olhos, sentindo pela última vez o ar entrar em meus pulmões e tudo ao meu redor ficar escuro.

The only way to heaven is a broken vow.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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