FFOBS - 18. Daylight, por Flávia Coelho
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Finalizada em: 15/05/2020

Prólogo

Engoli em seco ao ouvir o barulho do portão e entrelacei as mãos, nervosa com o que poderia acontecer dali alguns segundos. O silêncio na casa era tão ensurdecedor que eu podia ouvir o barulho das chaves sendo escolhidas e colocadas na porta que dava para a lavanderia.
- Amor? Cheguei! – Ouvi sua voz e me arrepiei na poltrona, segurando as laterais da mesma. – ? Aonde você está?
- Na sala... – Minha voz saiu falha. – Na sala! – Arrumei com mais firmeza.
Ouvi os passos de Jack, dos seus sapatos italianos deslizando pelo carpete sendo abafado aos poucos e o vi em sua roupa social aparecer pelo corredor. Ele deixou seu casaco em uma das poltronas e sorriu para mim.
- Ei! Está aqui hoje? – Ele se aproximou de mim, dando um beijo em minha cabeça que me fez travar. – Não está estudando?
- Hoje não. – Suspirei.
- Aonde está Rachel? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Sua “sobrinha”? – Fiz aspas com as mãos, erguendo meus olhos para os seus escuros como a noite.
- É... – Ele falou, se fazendo de confuso.
- Se tudo estiver corrido como o planejado, ela deve estar dando entrada em um hospital bem longe daqui. – Cruzei as mãos. – Depois de dar uma passada na delegacia.
- O que você está dizendo? – Ele perguntou e podia assumir que ele era um bom ator.
- Eu sei de tudo. – Suspirei, me levantando e ficando um pouco mais próxima de sua altura. – Com quem eu me casei? – Neguei com a cabeça. – Tráfico de pessoas? – Meu tom de voz ficou mais alto. – Vocês tiraram Nadia, porque eu sei que esse é o nome verdadeiro dela, de seu lar na Turquia e trouxeram para Nova York para vender para algum ricaço sul-africano? – Não contive o tom de voz. – O que você é, Jack Cooper? Um monstro? – Senti a respiração falha.
- , eu...
- Cala a boca! – Falei alto.
- O que vocês fariam com ela se ela não tivesse me contado? – Perguntei, sentindo as lágrimas escapar de meus olhos. Ele ficou quieto. – Você sabe que tirou essa menina de um lar? Talvez um lar imperfeito como todos, mas um lar com alegria? Com uma mãe que a ama? Ela só tem 16 anos. – Engoli em seco. – Eu tinha essa idade quando te conheci. – Respirei fundo. – O que você pretendia fazer comigo, Jack?
- Eu não pretendia...
- Não minta para mim! – Ri sarcasticamente. – E minha mãe bem que me alertou que eu era muito nova para casar. – Suspirei. – E eu ainda me casei com um monstro.
- Eu não tinha intenção em fazer nada contigo. – Ele falou. – Até agora! – Estiquei uma mão para frente em sinal de proteção.
- Não se atreva a tocar em mim. – Engoli em seco. – Meu irmão sabe de tudo, está aqui na frente me esperando. – Puxei minha mala do lado da poltrona. – Você vai me deixar ir ou as coisas ficarão piores para você.
- Você ferrou meu negócio, você não vai simplesmente ir embora. – Ele falou.
- “Negócio”? Estamos falando da vida de pessoas. Pessoas que tiveram sua infância, sua adolescência e sua vida adulta tiradas dela, mas pelo o quê? – Movimentei as mãos. – Milhões de dólares? – Cuspi nele, vendo-o franzir os olhos. – Você me enoja. – Suspirei. – Não posso acreditar que deixei você me tocar, que compartilhei uma casa, uma cama contigo...
- Quieta! – Ele falou alto, me fazendo arregalar os olhos. – Você não tem ideia com quem está se metendo, tem? – Ele perguntou, se afastando alguns passos.
- Por mais irônico que seja, eu conheci muito mais de você em um dia do que em cinco anos de namoro e casamento. – Suspirei. – Você vai me deixar ir embora ou...
- Ou o quê? – Ele sacou uma arma de seu bolso e esticou em minha direção, me fazendo erguer as mãos por instinto.
- Você vai me matar? – Assenti com a cabeça.
- Senta, agora! – Ele falou e eu respirei fundo, dando dois passos para trás e senti minhas pernas baterem contra a poltrona e me sentei na mesma. – Agora fique quieta, enquanto eu providencio um novo lar para você. – Ele puxou o celular do outro bolso.
- Você vai fazer comigo o mesmo que faria com Nadia? Uma vida de escravidão? – Suspirei. – É só eu dar um grito que Lewis entra aqui e ele pode não acabar com você, mas você terá que explicar muito mais.
- Cala a boca!
- A polícia pode estar chegando também. Nadia só fingia que não falava inglês, mas ela tem estudos em outras quatro línguas. – Falei. – Além de que dei o endereço detalhado de onde moramos. – Olhei o relógio na parede. – Creio que mais uns 10 minutos eles chegam aqui. – Ele andou em minha direção e o cabo gelado da arma encostou minha cabeça e eu ergui o rosto para olhá-lo quase debruçado em cima de mim.
- Você foi uma grande decepção... – Não contive a gargalhada.
- Eu? E você? – Apertei os braços na poltrona quanto mais ele apertava a arma na minha cabeça. – Você é nojento...
- Posso garantir que você vai ter um destino pior do que a morte. O que acha do Paquistão? Temos vários compradores interessados em um rostinho novo como o seu. – Ele acariciou meu rosto com a arma. – Mas antes, você vai ser meu mais novo brinquedinho...
Sua voz começou a sumir de minha mente e eu foquei em tatear, evitando fazer o menor barulho possível, a mesa que ficava ao lado da poltrona, para minha sorte, eu acho, Jack gostava de itens decorativos medievais e eu nunca entendi o motivo daquela adaga no meio da nossa sala de estar, mas eu havia colocado ela em um lugar bem pensado para caso eu precisasse usá-la.
Senti minhas mãos tocarem no objeto gelado e meu corpo não alcançava mais. Jack falava todas as formas que ele ia me fazer sofrer por revelar o negócio dele, mas com essa enrolação toda, eu começava a achar que ele não ia me matar, mas não queria pagar para ver. Girei a mão em volta do objeto e precisava tirar sua capa e eu teria uma arma, finalmente.
- Não pense que eu não faço. – Ele falou e eu suspirei.
- Cada vez mais eu acho que você não vai fazer. – Falei, ajeitando a adaga em minha mão, encontrando o cabo da mesma.
- Estou só esperando uma ajuda. Passou da hora de eu precisar sujar minhas mãos com mulheres insolentes...
- Você ao menos gosta de mulheres? Sabe, quando começa a reclamar...
- Mulheres só servem para três coisas: vendas, sexo e aparências. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Bom, você não suja suas mãos com mulheres “insolentes” como diz, mas eu sujo minha mão com traficantes. – Sacudi a adaga para baixo, ouvindo a capa cair no chão.
- O quê? – Ele virou o rosto e antes que pudesse agir, eu agitei a mesma em direção à sua barriga, gritando com ele quando a mesma fincou em sua pele quase até o cabo. - O que você fez? – Seu corpo caiu de joelhos em minha frente e eu chutei-o pelo peito, vendo-o cair para trás e me levantei rapidamente.
- Que ninguém sofra mais pelos seus crimes. – Falei, sentindo ânsia ao ver a mancha de sangue em sua blusa e ignorei tudo, correndo para fora da casa. O ar limpo, simplesmente tinha se transformado em fumaça.


Capítulo Único

20 anos se passaram desde que eu saí da pose de esposa jovem de um empresário bem-sucedido, para uma criminosa e fugitiva por assassinato desse mesmo empresário bem-sucedido. 20 anos que eu andava olhando por cima do ombro, achando que estava sendo seguida para todos os lugares em que eu ia.
Eu tenho a sensação que estou dormindo há tanto tempo em uma longa e noite escura por 20 anos. Mas eu sei que, apesar de ser errado, ele mereceu, por tudo o que ele fez àquela Nadia. Eu nunca mais esqueci seu nome, pois foi ela quem fez eu tomar a maior decisão da minha vida. Nadia foi só a pessoa que eu conheci, mas parando para juntar todas as peças inacabáveis do quebra-cabeça, eu sabia que aquilo não era um caso isolado e que Deus cuide de todas as meninas que eu não consegui ajudar.
Falando bem abertamente, eu não havia nem conseguido me ajudar direito. Tirando seus últimos 10 minutos de vida, eu não posso falar que eu vivi em um casamento ruim, ele era um bom marido, eu ainda estudava, então ele provia tudo que eu precisava, mas ele também era misterioso. Agora tudo ficou claro!
Bom, logo depois de atravessar sua barriga com uma adaga, eu só me lembro de ver sangue, não lembro de ouvir gritos, não lembro de ouvir ameaças, não lembro de ouvir nossos seguranças – sim, tínhamos, mas sabia que eram capangas – virem atrás de mim, não lembro de nada, mas em minha cabeça parecia que uma balada tocava em minha cabeça e não me deixava raciocinar.
Meu irmão não me perguntou nada quando eu entrei desesperada no carro. Eu só falei para ele dirigir e, por algum motivo, ele sabia que deveria me levar para o aeroporto. Eu peguei o primeiro voo, Madrid, em menos de duas horas eu estava no ar e uma incerteza incrível em minha cabeça: e agora?
Durante todos esses anos eu me senti correndo quase como se eu estivesse correndo de uma matilha de lobos. Eu também havia recusado sossegar. Eu não criava raízes em nenhum lugar, principalmente no começo, conheci a Europa inteira nos dois primeiros anos, mas a ansiedade e o medo eram sempre meus companheiros e eu sempre achava um motivo para achar cada cidade mais cruel do que a anterior.
Tão cruel quanto o amor que eu vivi, quando o dia começava, quando as luzes saíam, todos pareciam piores, tudo parecia ruim, era tudo sufocante e eu sempre mudava de lugar o mais rápido possível, uma olhada atravessada, uma pergunta pessoal demais, tudo isso era motivo para uma nova mudança, um novo lugar, uma nova cidade, um novo país.
Fugi por muitos anos, ainda sou uma fugitiva, na verdade, mas o mais estranho é ninguém nunca ter me achado. Eu não era exatamente uma pessoa preparada para viver fugindo, tinha sorte de ter várias economias em minha conta, inclusive esvaziar a conta conjunta que eu tinha com Jack quando cheguei no aeroporto e passar para uma conta pessoal foi um golpe de mestre e me manteve nessa correria por muito tempo.
Apesar das minhas mudanças diversas, eu sempre usava fronteiras terrestres para mudar de país, eram mais fáceis e bem mais desleixadas do que outros tipos de fronteiras, mas também requeria mais tempo, então sair da Espanha e chegar na França, por exemplo, demorou dias, mas consegui viver.
Uma das coisas que me incomodava era a solidão. Sempre fui alguém de muitos amigos, muito comunicativa, então fugir sozinha, evitando qualquer tipo de contato até com minha própria família, além do fato de que eu não podia criar raízes, junte tudo isso e você tem uma pequena parte do que é viver sem lugar fixo. É horrível.
Comecei a criar essas raízes há uns cinco anos, quando percebi que o medo era meu aliado. Comecei a me permitir ter um número de celular e passar o telefone para algumas pessoas. Me permiti fazer amigos, não muito próximos, mas o suficiente para perguntarem se eu estava bem no domingo e me convidarem para tomar sorvete, mas não o suficiente para eu aceitar. Permiti morar na cidade mais bonita do mundo e aproveitar o sol das cinco horas nos gramados da Torre Eiffel, enquanto observo os jovens turistas conhecendo, no tempo que têm, os detalhes daquela visão. Ou talvez perder um tempo no Jardim de Tuileries, diferenciando quem caiu ali por engano para chegar ao Louvre ou realmente queria estar lá.
Aqui eu consegui me sentir livre de uma forma quase verdadeira, como se eu realmente pudesse me esconder entre os turistas e moradores e realmente viver a vida. Três anos atrás eu me senti liberdade de conseguir um emprego, era um emprego de entregas, tipo um Rappi, levava correspondências e embalagens de empresas para empresas, pagava razoavelmente e eu ainda conseguia me esconder no meio do trânsito. Fiquei lá por um tempo, mas um ano atrás eu consegui emprego em uma padaria próxima a Torre Eiffel, Les Gourmandises d’Eiffel, um lugarzinho bem charmoso na Rue de Grenelle.
Faço os atendimentos da manhã, das sete às duas da tarde, direto, o agito é uma ótima oportunidade para manter a cabeça ocupada. Devido ao ponto turístico, paga bem, e eu consigo me esconder no meio dos turistas. Depois eu tento passar meu tempo no pequeno estúdio que eu tenho em Montparnasse, perto das residências estudantis, mas o que eu gosto mesmo é de realmente perder horas nos pontos turísticos da cidade.

Mas, há uns dois meses, eu senti meu coração bater mais rápido por alguém. São por motivos como esse que, durante a corrida, você muda de lugar frequentemente, para não deixar se apegar, se apaixonar. E eu só percebi que estava até o último minuto. No primeiro dia ele era só um desses desenhistas que ficam em volta da Torre, no segundo dia ele perguntou se podia me desenhar, eu neguei, no terceiro ele sorriu para mim... E aí minha vida preta e branca começou a ficar colorida.
Parece que 20 anos se abriram como a luz do dia. Parece que os pássaros começaram a cantar, que as flores floresceram, que o dia já lindo de Paris criou uma tonalidade diferente. E eu não conseguia olhar para mais nada depois que o vi, que não parava de pensar em mais nada depois que eu comecei a pensar nele.
Ele tinha um jeito diferente, não era o tipo de cara que chama atenção, você precisa realmente ver para enxergar. Os cabelos longos caindo nas laterais do rosto, sendo jogados diversas vezes para o lado para sair do rosto e abrir espaço para seus olhos castanhos claros visualizarem o papel em sua frente. A pinta no canto do nariz, a boca carnuda e um bigode e barba por fazer, tornavam ele o cara mais bonito de todos.
E a forma que seus olhos realmente me enxergaram... Uma vida inteira se passou por mim. De repente, eu decidi que gostaria de ser definida pelas coisas que eu amo, não pelas coisas que eu odeio. Pela minha coragem e não pelo o que eu tenho medo, não pelas coisas que me assombram no meio da noite... Só ser quem eu sou por todas as vitórias que eu conquistei durante todo esse tempo, por tudo que eu evitei amar e agora não conseguia mais ignorar.
Eu tentei fugir dele, mas evitar a Torre era impossível para minha sanidade mental, lá eu me sentia bem, sabia que podia respirar em paz. E evitar espiar se ele estava lá, tentar seguir por outro caminho, simplesmente não passava pela minha cabeça. Eu queria saber, mesmo à distância, tudo sobre ele, mesmo que para isso eu precisasse observá-lo por horas e horas.

Saí da padaria acenando para meus colegas de trabalho que trocavam de turno comigo e soltei os cabelos assim que pisei na rua. Os cabelos compridos, cortados em casa mesmo, ficavam caídos ao lado dos olhos para evitar contato direto com os outros. Ninguém olhava para uma estranha.
Segui o caminho de sempre, passando pelas praças cobertas pela copa das árvores e vi o descampado abrir em minha frente, junto com uma das construções mais perfeitas que eu já vi nesses anos todos. Observei a fila de artistas virados para a Torre, tentando capturar um casal apaixonado, duas irmãs realizando um sonho, até idosos de mãos dadas, foi quando o vi.
Ele desenhava uma criança sorridente, feliz demais em cima do banco, quando sua mãe observava ao lado, fazendo a criança se manter parada no banco. Observei de longe seus traços com o carvão preto e suas linhas eram quase precisas demais, ele não era alguém que deveria estar tentando ganhar alguns trocados ali, certeza que tinha mais do que isso.
Segui pela lateral, pisando no gramado, andando mais para o meio do pessoal que aproveitava o sol quente para relaxar, e desamarrei minha jaqueta da cintura, colocando no chão e me sentei na mesma. Abri minha bolsa e peguei a baguete que eu havia pego na padaria e uma lata de refrigerante.
Senti o vento aliviar um pouco o dia quente em meus ombros descobertos pela camiseta regata e dei uma mordida em meu lanche, soltando um suspiro, a combinação de presunto cru, queijo emmental e ovo nunca enjoava.
- Mademoiselle... – Virei o rosto ao perceber que era comigo e arregalei os olhos ao perceber que era o artista parado ao meu lado. Os cabelos sendo bagunçados pelo vento e um sorriso misterioso no rosto.
- Bonjour... – Falei indecisa com meu francês imperfeito.
- Acredito que a senhorita está fugindo de mim. – Deixei meu lanche de volta na embalagem e passei as mãos nas laterais da calça, engolindo em seco.
- Não acho que tenho motivos para isso. – Falei, vendo-o dar um pequeno sorriso.
- Posso saber pelo menos seu nome? – Ri fracamente.
- É realmente necessário?
- Eu faço questão! – Ele estendeu a mão para mim e eu segurei, me levantando, ficando na sua frente.
- Me diga o que seu antes. – Falei, suspirando.
- . – Ele disse, dando um beijo em minha mão e senti meu rosto esquentar.
- ... – Falei e ele sorriu.
- Você é a mulher mais linda que eu já vi. – Sorri.
- Merci. – Pressionei os lábios uns nos outros.
- Você sempre está aqui...
- É um bom lugar para pensar e relaxar. – Respondi. – E você?
- Hobbie, na verdade. – Ele falou. – Trabalho em uma galeria aqui perto, mas gosto de tirar a roupa social e curtir com as pessoas. – Sorri.
- Um homem bem-sucedido? – Perguntei.
- Talvez... – Ele ponderou com a cabeça. – Não acho que sucesso seja o meu trabalho e sim as pessoas que a gente toca... – Sorri.
- Eu toquei você? – Perguntei.
- Mais do que você pode imaginar. – Percebi que ele ainda segurava minha mão e separei-as, colocando ao lado do corpo. – Eu adoraria te registrar em um desenho... – Suspirei.
- Melhor não. – Falei.
- Eu sou bom, eu prometo. – Ri fracamente.
- Eu sei. – Falei. – É só que... – Suspirei. – Melhor não... – Ele assentiu com a cabeça.
- Espero que não tenha te ofendido. – Ele falou.
- Não ofendeu, meus motivos são muito complexos para você entender. – Suspirei.
- Você pode tentar... – Ele falou e eu sorri, levando uma mão até seu rosto, vendo-o fechar os olhos com o toque e sua mão foi para cima da minha.
- Quem sabe um dia? – Sorri, suspirando. – Prazer em te conhecer, .
- Você também, senhorita. – Ele segurou minha mão, dando mais um beijo na mesma, me fazendo arrepiar novamente e o mesmo se afastou, fazendo nossos dedos se soltarem com a distância.
Acompanhei ele caminhar de volta para seu lugar e senti um aperto em meu peito. Como é possível se apaixonar por uma pessoa em poucos minutos? Eu não sei, mas eu só sabia que estava e nunca havia me sentido assim antes. Jack não era cordial assim, Jack nunca havia tido preocupação em beijar minha mão e mostrar esse tipo de carinho, e o mais estranho? Eu passei cinco anos da minha vida com ele, achando que estava perdidamente apaixonada, mas com certeza não.
Com Jack eu cruzei muitas linhas que eu não teria perdão, eu havia tirado a vida de uma pessoa, eu nunca seria perdoada por isso, nunca seria aceita por isso, mas sentia que Deus estava me dando uma nova chance, uma nova moeda da sorte para jogar para cima e decidir meu destino. Mas por que no amor? Por que eu precisaria de uma história de amor agora? Eu estava me sentindo uma azarada nesses jogos de amor.
Ganhei, mas não podia aproveitar o prêmio. Eu me sentia uma piada. Uma linda e boa piada, que havia tocado o coração de uma pessoa ferida de uma forma simples e maravilhosa.
Observei conversar com alguns turistas e suspirei. Ele era um cara bem sucedido, trabalhava em uma galeria na cidade. Paris tinha tantas que era difícil tentar adivinhar qual. Passava os dias de terno e gravata e, por algum motivo, gostava de ficar na Torre Eiffel, sujando os dedos de carvão para fazer algumas pessoas sorrirem com seu simples talento.
E quem eu era? Uma atendente em uma padaria que podia ser presa a qualquer momento. Nossas chances não eram das melhores.
Mas eu sabia que estava apaixonada por ele e não sabia como superar isso, mas eu precisava.

Com o passar dos dias, percebi que era observada por ele assim que eu chegava, durante meu tempo lá e quando eu saía. Ele sempre me dava um sorriso e um aceno com a cabeça quando percebia que eu estava e cada vez mais eu queria sentar naquele banco dele, nem que fosse para ficar quieta, observando enquanto seu olhar e dedos criavam mais um de seus incríveis desenhos.
Ele não voltou a falar comigo, não insistiu, nem nada do tipo, e era exatamente por isso que eu fiquei mais intrigada por ele. Isso quer dizer que ele era um cara decente? Ou aquele era seu jeito de me conquistar? Independente de seus motivos, ele estava conseguindo.
Observei-o se despedir de um casal de idosos com sorrisos nos rostos e arrumar seu material. Suspirei, jogando os cabelos para trás e segui em direção ao seu pequeno ateliê, abaixando a mochila nas costas em um baque, assustando-o.
- Ok, você ganhou! – Falei, me ajeitando no banco e jogando os cabelos para trás.
- Eu ganhei? – Ele falou rindo fracamente, limpando as mãos em uma flanela.
- Você me intrigou, . – Falei, cruzando as pernas para frente. – Eu quero entender o porquê.
- Como assim? – Ele se sentou atrás do cavalete, ajeitando seu bloco de papel.
- Eu disse não e você foi embora... Nós mulheres não estamos acostumadas com isso. – Ele riu fracamente, pegando o estilete e raspando a ponta do carvão.
- Em respeitar mulheres? – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – É horrível ouvir isso.
- Pois é. – Suspirei.
- Bom, eu aprendi desde cedo que não é não, além de que se você negou, você tem seus motivos. – Assenti com a cabeça. – Um marido talvez? – Ri fracamente.
- Não mais. – Sorri, vendo seus cabelos caírem nos olhos e mordi meu lábio inferior. – Já tive e não foi uma experiência muito boa. – Ele riu fracamente.
- Não pensou em tentar com alguém diferente? – Ele falou, focando os olhos em mim.
- Impossível pensar nisso se mudando com frequência... – Engoli em seco.
- Alguém que tope acompanhar você? Um artista ambulante, talvez? – Gargalhei, vendo-o sorrir.
- E a galeria?
- Aposto que tem galerias de arte em bastantes cidades. – Sorri.
- Você é novo demais para mim. – Falei e ele deu um pequeno sorriso.
- Não acho e não me importo se for. Você me encantou, faz muito tempo que isso não acontece. – Ele focou no papel. – E eu vejo mulheres belas todos os dias.
- O misterioso sempre encanta, mas nunca é seguro. – Ele deu de ombros, afastando o corpo.
- Paris não é uma das cidades mais seguras do mundo e eu estou vivo. – Sorri.
- Há quanto tempo você faz isso? – Perguntei, vendo-o se aproximar e tirar uma mecha de meus olhos e jogar para trás.
- Há uns 20. – Ele falou rindo. – Desde que comecei na faculdade de artes.
- Então você realmente não é tão mais novo do que eu. – Sorri e ele retribuiu. – E por que você faz isso?
- Talvez o mesmo motivo do que você: não querer ficar em casa sozinho. – Assenti com a cabeça.
- Muitos pensamentos? – Perguntei.
- Talvez... – Ele deu de ombros.
- Sem família? – Perguntei.
- Não foi uma experiência muito boa. – Rimos juntos.
- Não quis tentar novamente? – Ele riu fracamente.
- Estou tentando agora. - Ele me encarou e eu sorri.
- Não brinca com fogo. – Falei calmamente, jogando os cabelos para trás e ele sorriu.
- Você ainda vai se abrir comigo, senhorita . – Sorri.
- Quem sabe, senhor ? – Falei e ele riu fracamente.
Ficamos em silêncio enquanto ele finalizava o desenho e era hipnotizante ver seus olhos e suas mãos se movimentando para mim e para o papel novamente. Ele tinha um sorriso escondido entre seus lábios e eu queria saber muito o que ele poderia fazer com isso.
- Pronto! – Ele falou e eu me levantei animada, vendo-o assoprar o papel e passar um spray no mesmo. – Como eu te vejo. – Ele me estendeu o mesmo.
Abri um sorriso ao me ver sobre seus olhos. Ele me fez rindo, a covinha aparecendo nas bochechas, os olhos levemente franzidos, os cabelos lisos jogados para trás. Eu estava linda, mas não era a pessoa que eu via no espelho, eu estava radiante no desenho, cansada pessoalmente.
- Você é um amor, mas essa não sou eu. – Falei e ele riu fracamente.
- É sim, você só não enxerga ainda. – Ergui o olhar para ele. – Não sei o que está passando, mas vai passar. E se não passar, você pode confiar em mim, estarei ao seu lado.
- Como você pode dizer isso? Você não sabe o que aconteceu... – Ele deu de ombros.
- Não, mas eu gosto de você, e consigo perceber que você não gosta de si mesma, não consigo entender o motivo. – Suspirei.
- Também não entendo como você pode dizer que gosta de mim me conhecendo há pouco tempo. – Ele se aproximou de mim.
- Também não sei dizer, principalmente porque nunca aconteceu antes, mas eu sinto uma necessidade incrível de te proteger. – Suspirei.
- Talvez eu precise, mas ainda não. – Seu sorriso sumiu aos poucos.
- Eu vou te esperar, ok?! – Ergui minha mão até seu rosto, vendo-o sorrir.
- Não. – Falei. – Não vale à pena.
- Deixa que eu decido isso, ok?! – Ele se aproximou de mim, dando um curto beijo em meus lábios e senti minha respiração falhar por alguns segundos.
Passei o braço livre pelos seus ombros, trazendo-o para perto de mim e de repente eu descobri que o amor era vermelho flamejante, como a luz do dia, não preto e branco como eu pensava, ele era brilhante, incrível, dourado. Era como um daqueles nasceres do sol que você só via uma vez na vida.
- Desculpe, eu tinha que fazer isso. – Ele falou e eu abri os olhos, encontrando os seus bem próximo dos meus.
- Por que? – Perguntei.
- Se eu nunca te ver de novo, pelo menos quero saber como foi. – Suspirei.
- Foi ótimo. – Falei, sorrindo. – Como eu falei da última vez: quem sabe um dia? – Perguntei e ele sorriu.
- Não estou muito esperançoso para isso, mas você sabe aonde me achar. – Ele falou e eu estendi o desenho.
- Fica com ele, para se lembrar de mim. – Ele riu fracamente.
- Vai ser difícil tirar você da minha mente. – Sorri, dando um beijo em sua bochecha. – Além do mais, você precisa disso mais do que eu. Quem sabe não encontra essa beleza em seus olhos? – Assenti com a cabeça.
- Espero. – Falei, assentindo com a cabeça. – Quanto eu te devo? – Perguntei.
- Nada, é um presente. – Ele falou.
- Por favor, é seu trabalho...
- Outro beijo, então? – Ri fracamente.
- Não abusa, senhor . – Falei, dando um rápido beijo em seus lábios.
- Dê tudo para uma pessoa, menos intimidade. – Dei um pequeno.
- Vou aprender isso. – Falei, pegando minha mochila no chão novamente.
- Até a próxima. – Ele falou.
- Até. – Acenei com a mão livre, me afastando a passos curtos de costas e virei seguindo o caminho até o metrô.
Observei o desenho mais uma vez, tentando encontrar a pessoa daquele desenho e suspirei. Ela ainda estava ali, só muito bem escondida.

Depois do nosso último papo, eu comecei a evitar a Torre Eiffel, pensei em começar a ir pelo outro lado e ficar do lado contrário de onde ele ficava, mas eu sabia que seria uma tentação muito grande e eu não conseguiria evitar estar ali e não vê-lo. Para manter minha mente sã, eu comecei a ir até a Sacré Cœur, era tão cheio quanto a Torre Eiffel, igualmente belo e não tinha tantos artistas para me tentar.
Quando eu sentia a necessidade de ir até a Torre, eu ia antes do meu trabalho, quando o sol estava começando a nascer ainda. Apesar do local estar vazio essa hora, eu ganhava minha dose de alegria para seguir o resto dos dias, principalmente por ter perdido as contas de quantos dias faziam que eu não ia até lá.
- Bonjour. – Falei, chegando na padaria de manhã.
- Bonjour, . – Os outros funcionários falaram e eu segui até os fundos.
Coloquei minha mochila no meu armário, fiz um rabo de cavalo alto e depois enrolei o mesmo no coque, tirando o cabelo do rosto. Fui até o banheiro, lavando minhas mãos e segui até a cozinha, pegando meu avental e a redinha na cabeça.
- Vamos abrir, gente! – Um dos atendentes falou, empurrando a porta para cima e eu me coloquei atrás do balcão, cumprimentando Eloise e Jacquelyn e me colocando no meu canto.
- Un autre jour, mes amis! – Tristan falou, seguindo até o caixa e sorrimos.
Vincent trouxe uma fornada de doces e comecei a organizar no balcão abaixo de mim. As vozes começaram a ficar mais altas dentro da pequena – e famosa padaria – de Gros-Caillou. A pessoas costumavam pegar os pâtisserie, pães e cafés e se deliciarem a caminho de seus trabalhos ou de pontos turísticos, mas tínhamos um salão pequeno para atendimento, aonde algumas pessoas com mais tempo, aproveitavam essa folga para se deliciar de forma mais confortável.
- , esse senhor está procurando por você! – Arregalei os olhos e ergui o corpo com pressa, batendo em uma porta aberta e dei de cara com .
- ? – Me surpreendi.
- Bonjour. – Ele falou e senti que meu coração batia até mais forte por causa disso, as pessoas não me procuravam. Você não faz isso com uma pessoa que foge da morte.
- Como você me encontrou? – Perguntei surpresa.
- Eu te segui. – Ele fez uma careta ao falar isso e minhas colegas sorriam para mim.
- Excusez moi? – Falei para elas que deram risinhos e saíram para atender outras pessoas.
- Por que? – Falei para ele.
- Eu não consigo parar de pensar em você e nem no seu sorriso. – Ele falou.
- Vem cá! – O chamei com a mão, seguindo para dentro da padaria e o mesmo entrou na área para funcionários, me seguindo até os fundos da padaria. – Você não pode fazer isso, . Não é seguro.
- Por favor, eu não consigo fingir que eu não estou vivendo uma história de amor.
- Não estamos. – Falei.
- Mas deveríamos. – Ele falou rindo fracamente. – Confia em mim. Eu nunca seria capaz de te magoar. – Ele levou a mão até meu rosto.
- Não é esse o problema, , eu não sou uma pessoa boa. – Falei baixo, respirando fundo.
- Não acredito nisso. – Ele falou apressado.
- Isso é loucura, , a gente nem se conhece direito.
- Mas eu quero te conhecer. – Ele falou. – Saber tudo sobre você, saber porque você se afasta, porque você não se permite ser feliz. – Suspirei.
- Eu não posso... – Disse.
- Tenta! – Ele falou firme. – Não fuja. – Ele suspirou. – Já consigo ver em minha mente, você, eu, nossas mãos entrelaçadas. – Suspirei.
- Você fala assim com todo mundo? – Ri fracamente.
- Só com você. – Ele falou. – Por favor, me dê uma chance. Me encontra mais tarde. – Suspirei.
- Ok, mas eu não garanto nada. – Falei erguendo o polegar.
- Só me encontra, pelo menos.
- No nosso local, no horário de sempre. – Falei e ele abriu um largo sorriso, segurando minha mão e dando um beijo nela. – Agora vá, eu preciso trabalhar.
- Até mais tarde, mademoiselle. – Ele falou e eu suspirei, vendo-o voltar para a entrada e suspirei, levando as mãos até a cabeça.
- apaixonada? – Ouvi Fernand falar. – Essa eu nunca vi.
- Nem eu sei, viu?! – Suspirei. – Só sei que eu estou ferrada.
- Por quê? – Ele riu fracamente, amassando o pão. – Se apaixonar é tão bom.
- Não sei o que é isso faz muito tempo. – Suspirei.
- Apaixonado por você, ele é. – Ele falou e eu olhei surpresa para ele.

O dia passou mais lento do que o normal. Clientes entravam e saíam e eu só conseguia pensar se eu deveria contar tudo para ou não. Era tão bom me sentir apaixonada de novo, mas quem ia garantir que eu estaria protegida em seus braços? Um amor valia à pena jogar fora 20 anos de segredo?
Em compensação, valia à pena eu parar de viver para guardar esse segredo? Mas também valia à pena ser presa por esse amor?
Essas perguntas rodearam minha cabeça o dia inteiro e, quando chegou no fim do dia, eu só sabia responder que sim, valia à pena.
Sim, valia à pena ser presa por amor. Principalmente depois de ter perdido isso anos atrás.
- Seja feliz, . – Fernand gritou na troca de turno e eu ri fracamente.
- Vou tentar. – Falei, abanando a mão e saí em direção ao caminho de sempre.
Aquela caminhada de 10 minutos pareceu muito mais longa do que normalmente, talvez eu estivesse tentando adiar o inevitável, mas eu simplesmente podia não ir, mas eu queria. Queria ficar com ele, mesmo que isso custasse minha verdadeira liberdade. Não que eu estivesse livre esses anos todos, fugir olhando sempre por cima do ombro não era ser livre.
Cheguei no lugar de sempre e o procurei na fila de artistas, franzindo a testa quando passei entre os diversos homens e mulheres ali e não encontrei o mesmo. Passei meus olhos pelo local, reconhecendo-o sentado em cima de uma toalha de piquenique, com alguns itens na mesma.
- Fala sério! – Neguei com a cabeça, me aproximando do mesmo. – Um piquenique? – Falei um pouco mais alto, derrubando minha mochila no chão.
- Não gosta? – Ele perguntou, se levantando rapidamente.
- Adoro, na verdade. – Ri fracamente. – Mas é um pouco clichê, não?!
- Tem algo mais clichê do que estar apaixonado? – Ele perguntou, estendendo a mão e eu suspirei, me sentando em um espaço livre na toalha. – Afinal, você faz piquenique aqui todo dia. – Sorri, vendo-o se sentar em minha frente.
- Mais do que gostaria.
- O que você prefere? Champanhe ou suco? – Ele esticou as duas garrafas e eu peguei o suco.
- Não vou ficar bêbada perto de você. – Falei, pegando um copo de plástico e me servindo.
- Achei que viríamos aqui para você me contar todos seus segredos, um pouco de álcool podia ajudar. – Rimos juntos.
- Talvez não seja tão mal. – Peguei o champanhe e despejei um pouco no suco.
- Boa ideia. – Ele falou, fazendo o mesmo e eu ri fracamente. – Salut? – Ele esticou o copo e eu dei um toque na taça dele, dando um pequeno gole.
- Argh, ficou horrível! – Falei, abaixando o copo e ele fez a mesma careta, me fazendo sorrir.
- Vamos continuar, temos sanduíches, doces, morangos... – Ele começou a tirar as coisas e eu segurei sua mão.
- Para, ! – Falei. – O piquenique é só uma distração que eu sei. – Suspirei. – Você está tentando me acalmar e fingir que não está curioso em saber isso...
- Imagino que seja algo sério para você evitar tudo e todos. – Suspirei, pegando a taça novamente e virei-a inteira na boca. – E sei mais ainda por causa disso. – Dei um meio sorriso.
- Eu guardo esse segredo há 20 anos, . – Pressionei os lábios. – Eu não permiti me apaixonar durante todo esse tempo, mas você apareceu e... – Senti as lágrimas começarem a escorrerem de meu rosto. – Eu não sabia o que era se sentir apaixonada até você aparecer... – Ele ergueu a mão, passando-a em minha bochecha. – E eu não sei se posso me permitir com a minha situação.
- Você pode! – Ele falou, segurando minhas mãos. – Você pode confiar em mim.
- Eu não sei se posso. – Suspirei.
- Confia em mim, . – Ele falou firme. – Sei que parece besteira e ridículo falar isso, mas eu te amo, e eu comecei a amar você sem saber quem você é, o que você faz ou sua história, nunca aconteceu comigo, mas estou completamente apaixonado por você, independente de tudo o que te acompanhar.
- Mas você consegue me amar depois que souber? – Perguntei, olhando em seus olhos.
- Posso. – Ele falou simplesmente e eu suspirei.
- Se você não puder, saiba que esse é o último dia que você vai me ver. – Falei e percebi que ele engoliu em seco.
- Me conta. – Ele disse.
- Eu vou te dize a verdade. – Suspirei. - Eu matei uma pessoa. – Falei baixo, encarando-o. – Para valer. – Ele não teve reação.
- Como? Ou por quê? – Sua voz saiu falha e eu suspirei.
- Meu ex-marido. – Falei, suspirando, sentindo o choro subir. – Ele traficava mulheres e vendia. – As lágrimas deslizaram pelas bochechas. – Eu tinha só 21 anos, casei com 18... – Mordi meu lábio inferior. – Eu descobri sobre o esquema dele, ele me ameaçou, falou que ia me prender, me vender... – Suspirei, passando as mãos no rosto. – Eu me senti encurralada e... – Neguei com a cabeça, deixando as lágrimas cair em meu rosto. – Eu o esfaqueei. – Suspirei, sentindo sua mão em meu ombro. – Quando eu passo essa imagem na minha cabeça, eu sinto que estou voltando para quando aconteceu. – Engoli em seco. – Eu não consigo me perdoar...
- Ele era um criminoso! – Ele falou rapidamente e eu suspirei.
- Eu também sou! – Falei, puxando o ar fortemente.
- Não! – Ele falou rapidamente. – Você estava se protegendo...
- Se eu não tivesse feito isso, eu não sei dizer aonde eu estaria hoje... – Engoli em seco.
- Está tudo bem. – Ele falou, me puxando para um abraço, me permitindo chorar em seus ombros.
- Como você pode dizer isso? – Falei abafado, suspirando. – Como você pode confiar em mim?
- Eu só confio. – Ele falou, acariciando minha cabeça e eu suspirei, me afastando devagar. – Há quanto tempo isso aconteceu?
- 20 anos.
- 20 anos? – Ele falou surpreso.
- Sim. – Passei a mão no nariz. – Depois que aconteceu, eu fugi e tenho fugido desde então.
- Como você tem vivido todo esse tempo?
- Eu mudava de país esporadicamente, por fronteira terrestre, pouca identificação... – Suspirei. – Sempre fui preocupada, sempre olhava por cima do ombro, durmo com o olho aberto... – Neguei com a cabeça. – Há um tempo eu comecei a relaxar mais, comecei a pensar porque não vieram atrás de mim, a polícia ou os capangas dele, eu sei que ele tinha... – Puxei a respiração fortemente. – Aí eu comecei a trabalhar, depois aluguei um apartamento, até que te conheci e também me apaixonei. – Ele deu um sorriso e me abraçou novamente.
- Eu não sei o que dizer... – Ele falou, me apertando em seus braços e eu suspirei.
- Você pode dizer o que quiser, não era nada do que você esperava, eu sei. – Suspirei.
- Não mesmo, mas também sei que a culpa não foi sua, foi legítima defesa. – Engoli em seco. – Você podia ter se entregado, a pena não seria tão pesada, principalmente pelo crime dele, tráfico de pessoas é algo sério... – Assenti com a cabeça.
- Na hora eu me desesperei, eu era tão nova... – Suspirei. – Agora a vida passou diante de meus olhos e eu nem sei mais... – Passei as mãos no rosto. – Nem sei mais como recomeçar.
- E agora? – Ele perguntou.
- Como assim? – Perguntei. – Eu nunca mais voltei, mas não posso me comprometer com ninguém sabendo que posso ser presa ou morta... – Suspirei. – Eu não quero nem imaginar do que ele seria capaz. – Mordi o lábio inferior.
- Você não precisa se preocupar mais, está tudo bem, já faz muito tempo, ninguém vai vir atrás de você. – Ele falou e eu suspirei. – Eu não ligo.
- Você devia! – Falei firme. – Eu tirei a vida de alguém, que direito eu tenho de continuar vivendo? Continuar sendo feliz? – Suspirei.
- Você tem o direito de ser livre, . Viver uma nova viva, viver um novo amor... – Ele aproximou a mão de meu rosto e eu me afastei. – Eu não ligo, , eu realmente não ligo.
- Mas eu ligo e não consigo pensar como você pode me amar assim. – Engoli em seco, me levantando.
- , espera... – Peguei minha mochila no chão.
- Só não conte para ninguém, se você puder. – Ele se levantou também.
- ! – Ele me chamou e eu olhei para ele. – Eu te amo e nunca vou te dizer adeus. – Ele falou e eu neguei com a cabeça, saindo rapidamente dali.

Entrei em meu apartamento às pressas, trancando as travas com força e segui em direção ao armário, puxando a mala com pressa e a joguei em cima da cama, sentindo as lágrimas deslizarem pela minha bochecha enquanto eu pegava as roupas e jogava dentro da mesma, deixando cair várias pelo meio do caminho. As lágrimas embaçavam meus olhos e era cada vez mais difícil encarar o que tivesse em minha frente.
Fui até o banheiro, batendo nos azulejos do banheiro, procurando o solto e puxei o saco dali, recolocando o azulejo de volta. Eu tinha vários dólares, euros e libras guardadas para qualquer fosse a emergência e essa parecia uma. Abri minha mochila, tirando algumas coisas dali e guardei o dinheiro ali dentro, junto com meu passaporte.
Voltei para o armário, pegando várias roupas e virei para a mala, deslizando no tapete e caindo com tudo no chão. Apoiei minha cabeça no braço, deixando que meu choro ficasse mais alto e passei as mãos nas bochechas, puxando o ar fortemente pelo nariz entupido e soltando pela boca.
- Eu não posso fazer mais isso. – Suspirei, apoiando as mãos no chão e me sentei, checando meu antebraço ralado e engoli em seco, sentindo-o arder. – Eu não posso continuar fugindo. – Suspirei, encostando no pé da cama.
Puxei minha mochila, tirando o dinheiro novamente dali e virei-a para baixo, deixando as coisas caírem da mesma, meu pequeno caderno caiu da mesma e abri a mesma, engolindo em seco ao ver a primeira data da minha anotação, em Madri há 20 anos. Aquelas folhas contavam toda minha história, todas as minhas mudanças, todos os meus erros e só tinha um acerto: .
Conhecê-lo estava fora dos meus planos, me apaixonar menos ainda, apesar dessas duas coisas terem acontecido juntas. Poderia dizer que criar raízes não tinha sido bom, mas tinha sido ótimo, alguém finalmente tinha olhado para mim em anos e a sensação era incrível.
Mas eu não podia me permitir entrar em um novo amor, recomeçar minha vida, com tudo inacabado que eu tinha do meu passado ainda. Deixei a última lágrima escorrer pelo meu queixo e passei as costas das mãos no mesmo, respirando fundo. Me levantei, seguindo até a cama e abri o notebook, escrevendo no campo de pesquisa: voo Paris, Nova York e apertei enter.
Caí no site da Air France e em menos de 10 minutos a passagem estava comprada.
Era hora de voltar para casa.
Depois disso, digitei: galerias de arte em Paris, e comecei a ligar para cada número, à procura de . A busca até que foi rápida, obviamente ele tinha que trabalhar na galeria mais famosa de Paris: Galeire Montmartre. Falei rapidamente com uma funcionária e ela perguntou se eu gostaria de falar com ele, olhei o relógio, era quase sete da noite, eu tinha três dias para o meu voo. Perguntei se ele estaria lá amanhã e a resposta foi positiva.
Ok, temos um plano.

Parei em frente a Galerie Montmartre com minha mochila nas costas e suspirei. Puxei a maçaneta e entrei na mesma, surpresa com a diversidade de artes ali. Eu nunca fui grande amante da mesma, mas comecei a valorizar quando vim morar aqui. Só Deus sabe quantas vezes eu fui no Louvre só para observar o quadro da Liberdade Guiando o Povo de Eugène Delacroix, me fazia pensar que eu estava vivendo uma realidade semelhante. Talvez voltar lá seria o ânimo necessário.
- Bonjour, mademoiselle. – Uma moça me atendeu. – Veio para a exposição?
- Non, je souis...
- ? – Virei o rosto, encontrando de terno e pressionei os lábios. – Pensei que nunca mais te veria. – Ele me abraçou fortemente e deixei-o juntar os cacos de meu corpo.
- Esse é seu verdadeiro “eu”? – Perguntei, me afastando e ele riu fracamente.
- Não, você conhece meu verdadeiro “eu”. – Ele falou e eu suspirei. – O que você está fazendo aqui? Como me achou?
- Longa história. – Suspirei. - Foi para valer que você disse que não se importava com o que eu fiz? – Perguntei rapidamente, vendo-o franzir o rosto.
- Mas é claro que sim! – Ele levou uma mão até meu rosto. – Eu te amo. Foram esses defeitos que te trouxeram para mim e eu quero conhecer. – Ele falou e eu suspirei, abraçando-o fortemente, sentindo as lágrimas deslizarem pela minha bochecha. – Ei, o que foi?
- Você me espera? – Me afastei, sentindo-o passar as mãos em minha bochecha.
- Espero, mas por que? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Se você fala sério que me ama e que quer ficar comigo, eu preciso resolver meu passado primeiro. – Falei, engolindo em seco. – Eu vou voltar, pagar pelo o que fiz, depois eu estarei livre e podemos ficar juntos.
- O quê? – Ele perguntou surpreso.
- Eu não posso viver assim mais, , não posso viver preocupada com o amanhã. Isso não é viver. – Neguei com a cabeça.
- Se você vai fazer isso, então eu vou contigo. – Ele falou e foi minha vez de olhar surpreso para ele.
- O quê? – Perguntei.
- Eu não vou deixar você enfrentar isso sozinha, eu vou contigo. – Ele me encarou firme, me fazendo respirar fundo.
- Você faria isso? – Perguntei surpresa.
- Eu te amo, eu faria tudo por você. – O abracei mais uma vez, sentindo-o me apertar pela cintura.
- Eu te amo. – Falei, respirando fundo. – Você é a luz nos meus dias. – Suspirei.

- Senhores passageiros, bem-vindo ao aeroporto John F. Kennedy em Nova York, são 10 horas e 15 minutos e a temperatura externa é de 11 graus. Obrigado por voarem com a Air France e boa viagem. – O piloto falou e eu respirei fundo.
- Está tudo bem. – falou ao meu lado, segurando minha mão.
- Obrigada. – Falei, virando para ele. – Você fez em cinco meses o que Jack não fez em cinco anos. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu aprendi que o amor não sofre, não tem idade, não tem preconceitos e, principalmente, não tem barreiras. – Ele acariciou meu rosto. – Vamos derrubar as que faltam, ok?!
- Ok! – Suspirei.
- E se permitir ser amada e ser feliz, sem se sentir culpada por isso. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, dando um curto beijo em seus lábios. Passei oito horas conhecendo esse cara, falando sobre minha vida e ouvindo sobre a sua e eu estava cada vez mais apaixonada por ele.
Esperei a aeronave parar completamente e a tripulação liberar nossa saída. Peguei minha mochila, enquanto pegou a dele e seguimos junto dos outros passageiros para fora. Andamos pelos corredores, seguindo a fila de imigração e eu parei em frente à placa, respirando fundo.
- Está tudo bem. – falou ao meu lado. – Você consegue. – Ele falou e eu engoli em seco. -Precisamos nos separar porque você é cidadã americana, mas logo nos encontramos, ok?! – Ele falou e eu assenti com a cabeça, respirando fundo.
Trocamos um rápido beijo e segui para a fila americana que estava tão cheia quanto a de estrangeiros e, cada passo que eu dava, mais pesada ficava minha respiração. Observei a tela enviando os passageiros para as diversas filas e eu sentia o olhar dos policiais em minhas costas e tinha impressão que os cachorros pulariam em minhas pernas assim que possível.
- Próximo! – Percebi que eu era a próxima e respirei fundo, olhando para o número do guichê na tela e segui até a mesma, esticando meu passaporte para ela. – Qual o motivo da sua visita?
- Estou voltando para casa. – Falei, mordendo meu lábio inferior quando ela passou meu passaporte na máquina. Olhei para trás, vendo ainda na fila e respirei fundo, sentindo minhas pernas tremerem.
- Senhorita Cooper? – Dois policiais se aproximaram pela lateral.
- Sim. – Falei, engolindo em seco.
- Você precisa vir com a gente. – Ele falou e eu respirei fundo, olhando para que estava com os olhos arregalados na fila. – Você está presa pelo assassinato de Jack Cooper. Tudo o que dizer pode e será usado contra você. Você tem direito a um advogado, caso não tenha como pagar um, o Estado lhe proverá. – Um deles falou me algemando. – Você entendeu os direitos que eu li para você?
- Sim. – Falei, respirando fundo e sendo puxada pelos dois para fora da fila.
Além das pessoas surpresas, eu só vi o olhar preocupado de , mas consegui sussurrar um “vai ficar bem” antes de sumir.

- Senhorita Cooper? – Um investigador entrou na sala de interrogatório que eu estava presa há cerca de uma hora e eu endireitei o corpo na cadeira.
- , se possível. – Falei, engolindo em seco.
- Deve ser difícil ser chamada pelo nome do homem que você matou, não é mesmo? – Franzi os lábios, ficando quieta. – Está tudo bem, sabemos de tudo. – Ele jogou um grosso arquivo em cima da mesa. – Jack Cooper, tráfico de pessoas, recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de pessoas, rapto, fraude, roubo de identidade, lavagem de dinheiro, tortura, violência à mulher, assédio, estupro, exploração sexual, de trabalho, ameaça ou outras formas de coação, possível servidão ou extração de órgãos, entre outras coisas. – Ele foi lendo a ficha e eu fui arregalando os olhos. – Morto com uma facada na barriga, no dia 21 de abril de 2000. – Ele olhou para mim. – Possível suspeito: , esposa do indivíduo na época. – Abaixei minha cabeça. - Paradeiro da suspeita? Sendo livre, eu espero. – Ele falou e eu ergui o rosto. – A lei não me permite, senhorita , mas eu gostaria de te agradecer.
- Por o quê? – Franzi a testa.
- Você não sabe, mas você desmanchou uma facção gigantesca, com mais de 120 envolvidos em mais de 30 países. – Ele falou. – Conseguimos resgatar 47 mulheres que eram vendidas para diversos propósitos. – Engoli em seco, sentindo meu corpo arrepiar. – Por causa de você, conseguimos salvar 47 mulheres. – Ele repetiu e senti meus olhos se encherem de lágrima.
- Mesmo? – Perguntei com o lábio tremendo.
- Mesmo! – Ele falou sorrindo e eu respirei fundo. – Uma mulher chamada Nadia veio até nós, disse que você a mandou na delegacia.
- Meu Deus, Nadia... – Coloquei as mãos algemadas na boca. – Como ela está?
- Ela está bem, voltou para sua família na Turquia. – Puxei a respiração. – Tem uma organização contra o tráfico de pessoas lá.
- Meu Deus! – Deixei as lágrimas caírem.
- Fomos direto no endereço que ela deu, chegando lá conseguimos pegar três capangas que tentavam fugir e encontramos Jack morto... – Suspirei. – Tentamos te procurar, acionamos a Interpol, te encontraram entrando em Madri, mas a investigação ficou cada vez mais longa, fomos puxando a corta e saía muita coisa de lá, depois você sumiu. – Limpei as lágrimas.
- Eu pensei que os capangas dele iriam atrás de mim me matar. – Ele negou com a cabeça.
- Eles nunca foram atrás de você, pois os pegamos antes.
- Ah meu Deus! – Senti um alívio passar pelo meu corpo. – Eu estou me sentindo tão estúpida agora.
- Não! – Ele apoiou a mão em cima das minhas. – Você é uma salvadora, senhorita . Lembre-se disso. – Abri um sorriso, assentindo com a cabeça.
- E agora? Como fica? – Perguntei.
- Você matou uma pessoa e fugiu por 20 anos, senhorita , você vai precisar passar por todo um processo e um julgamento, devido ao peso do crime, mas acho que você tem boas chances. – Ele sorriu e eu assenti com a cabeça, respirando fundo e abaixei a cabeça, deixando minhas lágrimas de tristeza se transformarem em lágrimas de felicidade.

- Todos em pé para a juíza Wendy Walace. – Me levantei ao lado do meu advogado e virei para o lado, vendo na área de espectadores e suspirei, estiquei a mão para ele que a apertou fortemente.
- Podem se sentar! – A juíza falou e eu me sentei. – O que vimos aqui hoje é a comprovação da força de vontade e do nosso desconhecimento como pessoas da lei. – Ela apoiou os braços em sua mesa. – Mas também vimos uma comprovação de uma pessoa boa que, por medo, se tornou uma pessoa má. – Engoli em seco. – veio na minha corte hoje acusada de matar o marido 20 anos atrás. Mas, ao ver toda história, percebi que foi um crime por legítima defesa, além de ela ajudar a desmontar uma enorme facção que fazia o tráfico de pessoas e diversos outros crimes. – Ela falou, me fazendo suspirar. – Você matou uma pessoa sim, senhorita , mas você compensou isso salvando 47 mulheres. – Ela assentiu com a cabeça. – É bastante coisa. – Suspirei, mordendo meu lábio inferior. – Você livrou mulheres de destinos piores do que a morte, você deve ter ideia disso. – Assenti com a cabeça. – Estamos aqui, pois é necessário, pois você ainda cometeu um crime, mas, para mim, você é uma salvadora. Como mulher, agradeço. – Sorri, confirmando com a cabeça. – Bom, dito isso, gostaria de dizer que o júri chegou em um veredito. – Ela falou e eu me levantei junto do meu advogado. – Por favor. - Ela se virou ao primeiro representante do júri.
- Pelo crime de homicídio culposo, nós declaramos a ré , anteriormente Cooper, culpada pelos seus crimes. – Assenti com a cabeça, respirando fundo e meu advogado segurou minha mãe, me fazendo respirar.
- O júri pensou em alguma pena? – A juíza falou.
- Sugerimos a pena de um ano e cinco meses em reclusão no Centro de Detenção para mulheres aqui no estado de Nova York. – Senti meu corpo relaxar, meu fazendo suspirar.
- Pena aceita. – A juíza bateu o martelo e abracei fortemente meu advogado.
- Isso é uma vitória. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu sei! – Suspirei. – Obrigada! – Ele falou.
- Podemos recorrer. – Neguei com a cabeça.
- Está tudo bem, para quem passou 20 anos fugindo, um ano e meio é fichinha. – Suspirei, vendo-o sorrir.
- Está tudo bem? – perguntou do outro lado da divisão e eu o abracei fortemente.
- Está tudo bem. – Falei sorrindo. – Eu estou muito bem, sério. – Suspirei. – Parece que eu coloquei um ponto final em tudo isso.
- Eu estou feliz por ti. – Ele colou os lábios nos meus rapidamente e eu suspirei, fechando os olhos.
- Senhorita ? – Virei o rosto para a juíza ainda em seu posto.
- Sim? – Falei.
- Viva, ok?! – Ela falou. – Tire essa culpa do peito, esqueça e seja feliz. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Senhorita, precisamos te levar. – Dois seguranças se aproximaram e eu sorri para .
- Eu te amo, está bem? – falou e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Eu também! Obrigada por tudo. – Ele sorriu.
- Eu estarei aqui, à luz do dia. – Ele falou, piscando e eu assenti com a cabeça, assentindo para os seguranças que me tiraram dali.


Epílogo

- O que acha? – se afastou da placa e eu sorri ao ver o escrito “Organização de Ajuda às Mulheres contra o Tráfico de Pessoas” e suspirei.
- Está perfeito, mas não sabia que você pintava com cores. – Ele me abraçou pela cintura, me fazendo rir.
- Alguém mostrou cores na minha vida e tudo ficou melhor. – Ele falou e eu sorri, sentindo-o beijar minha bochecha.
- Está incrível. – Suspirei.
- Parabéns, meu amor. – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Está lindo.
- É o mínimo que eu posso fazer. – Suspirei.
- O mínimo? – Rimos juntos.
- Mãe! Pai! – Ouvi um grito e vi Eugène de 12 anos sair correndo de lá de dentro. – Tá lindo! – Ele pulou em meu colo e eu o peguei, enchendo-o de beijos.
- Ah, você está pesado, garoto! – Falei, vendo-o rir.
- Tá muito lindo! – Ele falou.
- Você gostou? – Perguntei, vendo tirá-lo do meu colo.
- Está demais, elas vão amar! – deu um beijo em seu rosto e eu sorri. – Adorei a fonte de água.
- Legal, né?! – falou surpreso.
- E aí, chefa? – Valerie apareceu pelas escadas também. – Feliz? – Ela perguntou.
- Não poderia estar mais feliz, querida. – Suspirei. – Eu vou ajudar todas as mulheres do mundo... – Ela sorri.
- Começamos por Paris, certo? – Ela disse e entrelacei nossos braços.
- Um passo de cada vez. – Engoli em seco e ouvi a gargalhada de Eugène.
- Eu adoro aquele garoto! – Ela falou, rindo fracamente.
- Nunca pensei que seria mãe por causa da minha história, aí eu conheci , ele mostrou um mundo totalmente novo para mim e, de repente, estávamos conversando sobre adoção. – Senti meus olhos se encher de lágrimas e Valerie me abraçou de lado, me apertando fortemente.
- Você é boa, chefa. – Ela falou. – Você só quer ajudar as pessoas, e você consegue fazer isso de diversas formas possíveis. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- É meio irônico, não?! – Virei para ela. – Ser tão boa e ter matado...
- Ainda não superou aquilo? – Ela me impediu e eu suspirei.
- Meu coração está calmo, mas é uma visão difícil de tirar da cabeça, sabe? – Falei para ela. – Mas eu tenho vivido aquele momento cada vez menos, por causa daquele homem. – Falei, vendo descer as escadas do prédio novamente. – Esse cara é o culpado de tudo, Valerie.
- Ela está falando de novo que eu sou o responsável por tudo isso? – falou.
- Não, agora você é o culpado por tudo. – Rimos juntos e ele me abraçou pela cintura, me puxando de Valerie e a mesma mostrou a língua para ele, me fazendo rir.
- Ah, duas crianças! – Falei, vendo-os sorrirem.
- Isso é tudo você, amor. – Ele falou. – E vamos fazer muito mais, você vai ver. – Ele beijou minha têmpora e eu sorri.
- Bom, vamos terminar porque temos várias mulheres chegando aqui amanhã. – Bati as mãos duas vezes. – Valerie, confere mais uma vez com os fornecedores de alimentos e os patrocinadores, por favor. Não quero que nada dê errado. – Subi os degraus, virando para a rua, vendo e Valerie sorrindo entre si.
- O quê? – Perguntei.
- Você é demais! – Eles falaram juntos e eu ri fracamente, negando com a cabeça.
- Parem de graça e vamos trabalhar! – Bati as mãos duas vezes e ambos subiram as escadas correndo, entrando no prédio.
- Você manda, chefa! – Valerie falou passando por mim.
- Você manda, chefa! – copiou a mesma, dando um rápido beijo em meus lábios e eu ri fracamente.
Observei a rua calma em Montmartre, vi a luz do sol começando a surgir por entre os prédios e chequei o relógio, ainda eram oito horas, mas tinha muita coisa para fazer até a grande inauguração em 26 horas. Soltei um suspiro, lembrando de tudo o que aconteceu nesses 25 anos e eu finalmente podia sorrir.
Tudo estava bem. Tudo estava perfeito.




Fim



Nota da autora: Esses ficstapes de forma kamikaze estão ficando cada vez mais complicados! Eu peguei essa música no sorteio e acabou que deu sorte de eu usar a minha primeira ideia de todas para esse ficstape, mas se eu ouvi a música mais de duas vezes, estarei mentindo para vocês, hahaha.
Claro que ela seria muito maior e mais elaborada do que o ficstape, mas eu gostei de poder ter um gostinho de como ela ficaria!
Espero que vocês tenham gostado e não se esqueçam de comentar!
Beijos.





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