“Desejo ter a chance de aproveitar tudo o que posso nessa nova etapa da minha vida.”


Aula de história. Talvez a aula mais chata que se poderia ter naquela classe. Era extremamente chato ver a mesma matéria pela segunda vez. Sim, eu reprovei e hoje aos dezenove anos me sinto estranho no meio de pessoas na faixa etária diferente da minha. Um dos motivos para explicar minha reprovação poderia ser denominado como preguiça. Preguiça de estudar, fazer trabalhos e ter o caderno em dia, mas, neste ano prometi a mim mesmo que mudaria para melhor.
O professor Jones ditava a matéria de uma maneira horrivelmente embolada, fazendo com que ninguém entendesse o que ele falava. A única vontade que eu tinha era de jogar uma das carteiras em sua cara ou tentar descobrir quantas batatas ele conseguia guardar na boca. Respirei fundo e assim que o próximo parágrafo seria iniciado, o som de alguém batendo na porta só fez com que em minha cabeça ecoasse um ‘’Obrigado seja quem for’’, mas percebi que não era somente eu que estava feliz por aquela bendita pessoa. Quando olhei para frente foi como se todas as coisas ao meu redor tivessem sido congeladas.
- Senhoras e senhores, dêem boas vindas à nova colega de classe de vocês: .
Então era esse o nome dela. . ‘’Nome bonito para uma garota bonita’’, pensei comigo mesmo. Suas bochechas estavam coradas, provavelmente pela exposição à turma. Não liguei muito para sua apresentação rápida, apenas quis analisar cada um de seus detalhes. Havia uma carteira vazia atrás de mim, certamente a única da sala, e claro, foi bem ali que ela se sentou.
- Bom dia, alguém se senta aqui? – Sussurrou enquanto ajeitava a mochila em suas costas e puxava a cadeira devagar.
- Não, somente meu amigo imaginário, mas ele cedeu esse lugar a você. – Sussurrei de volta e pude ouvir sua risada baixa.
- Agradeça seu amigo por mim, é muito gentil da parte dele... Hum... Qual é seu nome? Só para que eu não converse com alguém sem nome.
- . Eu sei, poderia ser outro nome mais legal, mas na hora foi isso que saiu. – Ri sem deixar de prestar atenção ao que era ditado.
- Ok, ... Obrigada. Só mais uma perguntinha... Essa aula é de quê?
- História. Posso te passar os horários no inter... – O sinal tocou antes de eu terminasse minha frase e rimos juntos.
Seu sorriso era lindo e por um minuto percebi que ela era a garota mais bonita com quem já conversei. Descemos em direção ao refeitório e por pouco não ficamos sem mesa, conseguindo uma no canto, perto da porta.
- Então, , você costuma ser legar assim com todas as garotas ou estou sendo privilegiada?
- Bom, , irei chamá-la assim porque combina com você. – Mordi minha maçã e limpei o canto da boca. – Na verdade, só quando estou de bom humor. Sinta-se especial. Eu deixo.
- Bom humor? Falando desse jeito você me recorda o meu avô que era um homem rabugento e mesquinho.
- O quê? Aí você me deixa chateado... Se seu avô fosse igual à mim ele seria o mais gato da família. Óbvio. – Pisquei para ela que começou a rir.
- Posso te fazer uma pergunta inconveniente?
- Manda a ver, !
- Quantos anos você tem? Digo... Eu não sei se é uma pergunta inconveniente ou não, mas... É uma dúvida minha.
- Faço vinte na próxima semana. Posso saber o porquê da curiosidade? Tenho cara de velho, senhorita ? – Ergui uma de minhas sobrancelhas.
- Não! Não era isso. É que você é diferente dos meninos daqui... Eu... Sei lá, percebi um pouco. Eu não. Sei direito porque, mas... – Ela se enrolou para falar e pude ver seu rosto tomar um tom avermelhado sobre as bochechas.
- Hum... Sou diferente porque sou velho. Entendi. – Continuei com a mesma expressão de antes, para logo cair na gargalhada. – Relaxa. Eu sou fora de faixa e reprovei ano passado. Minha mãe disse que era melhor eu continuar como um castigo.
- E seu pai? – agora estava comendo um pedaço de algo que remetia a um bolo de aniversário.
- Meu pai morreu quando eu tinha dezesseis anos. – Dei de ombros, comendo outro pedaço de minha maçã. – Aniversário? – Apontei para o que ela comia.
- Ah... Desculpa. Eu tenho uma mania chata de ser curiosa. – Remexeu em seu bolo com a colher. – Sim! Hoje é meu niversário, mas comemoramos ontem por conta do colégio e hoje ninguém vai estar em casa.
- niverquem? – Franzi o cenho imediatamente, inclinando a cabeça para o lado.
- É uma mistura de aniversário e eu. – Apontou para si mesma, sorrindo. – Cada pessoa de minha casa tem seu nome mais a palavra aniversário nesta data, e, sempre fazemos algo para festejar, que no caso foi ontem.
- Ahhhh.... Então se fossemos fazer sobre mim seria um aniversário? – Uma careta se formou em meu rosto com a combinação estranha.
- Não!! Você não coloca o ‘’a’’ é só do ‘’ni’’ pra frente. Entendeu? O começo é seu nome e o resto. Daí sai essa combinação de gente louca. – Ela riu junto de mim.
- Confuso, mas acho que entendi! O que vai fazer hoje à noite? – Olhei para o relógio, vendo que faltavam poucos minutos para o sinal. – Creio que você é novata pela cidade e não deve conhecer bem aqui, mas como é seu niversário não quero deixar você se entupir de doces em casa. Quer dar uma volta comigo mais tarde?
- Hum... – Fez uma pausa pequena e sorriu em seguida. – Sim... Eu aceito. Surpreenda-me com o lugar.
O sinal tocou e o resto do dia seguiu normalmente. Consegui nesse resto de tempo saber de onde ela vinha, o nome de seus pais, seu irmão e até mesmo seu cachorro que morreu quando ela era mais nova. Ela era diferente das garotas com quem já conversei, mas não conseguia explicar em que aspecto. Havia algo nela que me atraia, não sei ao certo o que era, mas eu iria descobrir.
Havia uma lanchonete perto de minha casa. Não era lá a melhor da cidade, mas a comida de lá era uma das melhores na qual já provei (principalmente a vitamina e as batatas), logo imaginei que seria o lugar perfeito parar levar . Apelido mesmo porque detesto chamar pelo nome todo. Coisa de família.
De longe já sabia que era ela. Não dispensei o uso de minhas jaquetas de couro. Uma vez bad-boy sempre bad-boy, anotem isso. As garotas se amarram. usava um vestido florido, uma pequena jaqueta de couro e botas. Sim, falando por esse lado, botas e vestido não combinam, mas nem combinavam... Até demais. Seus cabelos estavam soltos e por Deus, minha vontade naquele momento era de beijá-la inteira até que meu ar todo se esvaísse. Droga, , menos! Você a conheceu em menos de vinte quatro horas.
Como de costume, optei por escolher uma mesa afastada do barulho do local, já que estava cheio. Eu realmente estava com vontade de conversar com ela, saber mais sobre sua vida e tudo mais. Nossa conversa de início foi sobre a escola... E aí o motivo de eu estar prestes a estar na casa dos 20 e não ter saído do colegial. Uma história chata, que particularmente odeio falar por motivos de: Não quero que sintam pena de mim.
No início cheguei a comentar que o motivo para tudo isso era a preguiça, mas digamos que não foi somente por isso. Meu pai e eu havíamos ido num jogo de basquete no sábado à noite como de costume. A única diferença entre mim e meu pai era que eu sabia a hora de parar de beber, ele não. No estacionamento tivemos uma pequena briga sobre quem iria dirigir na volta para a casa (sempre brigando comigo, mesmo se o motivo fosse fazer uma escolha certa) e óbvio, eu perdi. Sua desculpa era que eu não tinha experiência o suficiente para pegar um carro, já que sempre preferi motos. Dia 6 de janeiro. Um acidente. Um sobrevivente que já é o mais evidente da história. Desde então minha vida nunca foi a mesma. A culpa que me consumia a cada dia fez com que aos poucos a vontade de antes que eu tinha de fazer as coisas fosse embora com o vento. Minha mãe sempre disse que a culpa nunca foi minha, mas, saber que se por um minuto eu fosse mais persistente do que sou toda a história poderia ter mudado não é uma das melhores sensações a se sentir na vida. Um tiro doeria menos.
- , você vai se engasgar com essas batatas! Já foram quatorze, não cabe mais uma aí. – segurou minha mão, rindo de minha cara.
- Shhhh... – Levantei um dedo e apontei para a batata, colocando-a na boca e fazendo a típica dança da vitória.
- Meu Deus! – Ela deu um grito baixo e tapou sua boca, gargalhando em seguida.
- Agora... – Murmurei embolado pela quantidade de batatas em minha boca, as mastigando em seguida e engolindo tudo com a ajuda da vitamina. – Tcharã! Eu sou demais, pode falar.
- Sim, você é bastante, e retardado também. Se você se engasgasse eu surtaria com você aqui. Não iria ser legal ver uma desesperada se descabelando por um bobão engasgado com batatas. – Fez um bico e cruzou seus braços numa tentativa de parecer brava, mas acabou falhando.
- Uhum... Tá... Agora é sua vez. E não me venha com não porque não aceito essa resposta.
Levantei-me no mesmo momento e segurei a cesta de batatas, me sentando ao seu lado. Ela se debatia e ria tentando afastar as batatas de sua boca, mas eu era mais forte. Assim que cinco batatas foram postas em sua boca, senti algo bater contra minhas costas e uma risada já conhecida. Richard Walker, a pior pessoa com quem você pode esbarrar na vida. Pense numa criança que se pareça com o capeta, agora multiplique essa ‘’capetisse’’ por cinquenta e transforme num babaca de dezenove anos. Era ele.
- Acho que temos alguém de namorico por aqui. – Apontou para que nessas alturas já havia ficado vermelha como um pimentão.
- Ela não é minha namorada. Mas e se fosse? Não seria da sua conta. – Resmunguei segurando a mão de e a puxei para sairmos dali o mais rápido possível.
Quando estávamos prestes a sair do lugar, senti a mão de Richard em meu peitoral, mas mesmo assim continuei a andar. Meu histórico com ele não era lá o melhor, mas naquela noite eu não queria estragar o aniversário de .
- Vamos, lindinha. Não vai falar nada por causa da sua namoradinha, que por sinal, é gostosa demais pra você.
- Dá um tempo, cara. Vai encher o saco de outro.
- Qual é? Cadê o emburrado que conheço? Ah, já sei, ta na cova com o pai, não é? Foi mau, gêmeo bonzinho.
Aquilo foi a gota d’água. Eu poderia aguentar tudo, menos alguém do nível dele falar mal a respeito de meu pai. Minha mão se soltou da de e sem pensar duas vezes foi diretamente ao encontro do rosto de Richard, deixando que alguns resquícios de sangue saíssem de seu nariz. Minha respiração estava pesada e, enquanto ele cambaleava para trás me lembrei de que estava atrás de mim. Quando me preparei para meu discurso de sempre sobre ‘’Eu entendo o que você viu e não que queria que visse isso blábáblá’’ me deparei com uma pequena garota correndo até mim e segurando a mão que havia alguns vermelhões.
- Meu Deus! Tudo bem com você? E sua mão? Não dói? Vamos ao hospital! – Disse ela, desesperada.
- Epa, calma, baixinha. – Gargalhei de seu estado. – Eu estou bem, não doi muito, tudo bem mesmo. Eu achei que você iria embora agora, não perguntar se está doendo.
- O quê? – Deu uma risada baixa. – Ele mereceu! Por favor... Se você não tivesse feito aquilo eu mesma teria feito por você.
- Meu Deus... – Parei por alguns segundos e me lembrei do que havia guardado. – Já volto.
Corri até a lanchonete novamente e busquei o bolinho que havia separado. Não demorei muito e ao voltar percebi que ela analisava minha moto.
- Hey, motoqueira! Pra você. – Tirei uma pequena vela do bolso e a espetei no bolinho, logo a acendendo depois.
Os olhos de brilhavam de uma maneira radiante, enquanto de mim vinha um ‘’parabéns pra você’’ de uma forma totalmente desengonçada, rindo a cada palavra que dizia. Ao término da música, ela assoprou as velas, fazendo seu pedido e me abraçou. Um abraço bem apertado, quente, daqueles que quando recebemos não queremos que nada nos interrompa. Para falar a verdade, fazia um bom tempo que eu não recebia um abraço assim, e depois de muito tempo me senti feliz por ter ganhado aquele abraço, especialmente vindo dela.
- Feliz niverário. – Sussurrei ali, aproveitando o momento até que seus pais chegassem.



Passar o aniversário com uma pessoa que se conheceu em um dia pode parecer loucura, mas, às vezes algumas loucuras valem a pena serem feitas. Particularmente, nunca fui de me fantasiar com um garoto em toda minha vida. Nem com meu ex-namorado, que modéstia a parte era bonito, mas o que tinha de bonito também tinha de idiota. O dia em que pensei que seria chato, vazio e sem graça acabou se tornando um dia inesquecível, já que não é todos os dias que se tem uma companhia para comer batatas, hambúrguer, vitamina e assistir um babaca levando um soco merecido. Ele é o tipo de garoto que faz qualquer uma suspirar quando passa, e eu ainda acho que vi alguma tatuagem em seus braços, ou talvez mais de uma. Não que eu goste de tatuagens... Ou posso gostar só um pouquinho, até demais, mas mamãe nunca pensou na possibilidade de deixar com que eu fizesse uma. Mas isso não é um problema.
O dia estava nublado, mas o sol queria sair. Depois de um longo dia de aula a única solução era ficar em casa e escolher alguma coisa que não fosse futicar os canais na TV. Fazia um pouco de frio, e meu melhor amigo/cobertor/travesseiro num passe de mágica se enroscou em meus pés, os aquecendo. Por isso não abro mão de ter um bichinho em casa. A minha sorte foi que conseguimos adotar Thor quando chegamos. Thor é manhoso, carinhoso, do tipo que adora ficar nos pés de quem encontra pela frente. Mamãe queria que seu nome fosse Pantufo, mas sé é constrangedor para mim, imagine para ele.
Às vezes em meio a tantas coisas legais pela cidade cheguei a me sentir para baixo em alguns momentos que resolvia prestar atenção nos arredores da escola. Mesmo que estivesse comigo em todos os momentos eu ainda me sentia vazia. Havia alguém com quem precisava falar, rir, desabafar e até mesmo falar dele. Eu precisava mais do que nunca da minha melhor amiga.
Marcavam três e dez da tarde em meu celular e a vontade de falar com ela já não sabia mais em mim. Dez minutos se foram e no momento que me dei por vencida, a música já conhecida e o escrito que cobria a tela indicando que havia uma chamada aguardando minha aprovação foram o suficiente para que meu coração quase saltasse pela boca de felicidade.
- Meu amor! Que saudades de você! - deu um sorriso, exibindo seu aparelho. - Como você está? Como anda a escola? Já conheceu alguém legal? - Falei tudo rápido, sem nenhuma pausa e pude vê-la arregalar os olhos e rir na tela do computador. – Desculpa... É a saudade.
- Tudo bem, amiga, mas se você falar devagarzinho melhora a conversa porque eu já falo rápido, né... – Riu. - Vamos às respostas das perguntas disparadas. - Esfregou as mãos uma na outra, como quem se preparava para algo. - Mas antes, eu tenho que dizer que eu também estou mortinha de saudades de você, sério, não sei como sobrevivi esse tempo todo longe de você.
- , só faz dois meses. - Revirei os olhos.
-SÓ? - Gritou e sua voz histérica ficou ainda mais alta por conta dos fones. Fiz uma careta e ela tapou a boca, rindo do seu jeitinho exagerado. - Desculpa amiga, foi sem querer. Agora vou mesmo responder o que você perguntou.
- Finalmente!
- Eu estou bem, continuo gorda e fã de série de super-herói. - Enumerou com os dedos e eu me perguntei de não tinha como dar murro virtualmente. Maldita mania dela de se diminuir. - A escola... Chata como sempre, continuo me fodendo completamente em química e companhia. E não, não conheci ninguém legal e nenhum garoto gato. Sinceramente, só tem menininha metida na turma esse ano e os meninos eu nem falo. Estou numa abstinência horrível. - Fingiu estar chorando e eu ri.
- Amiga, quando eu vim para cá você tinha acabado de ficar com um menino super gato e eu aposto que durante esses dois meses você ficou com mais algum. - Ela assentiu e rimos juntas.
- E você, gatinha? Chegou minha vez. Pode me passar a ficha da escola. Me diga se tem muita vadia, fala o nome das inimigas e... - Quis criar um clima de suspense fazendo um som estranho com a boca e balançando os braços. Falhou, claro. - Me diz se tem algum garoto interessante, preciso saber disso!
- Por que você não perguntou se fiz amigas? - Provoquei.
- Porque suas amiguinhas não me interessam, . - era a pessoa mais ciumenta do mundo. A ideia de estar longe de mim era horrível para ela, mas a ideia de que eu faria novas amizades longe dela e que isso poderia ser uma possibilidade para que eu a largasse fosse como o fim do mundo para a minha melhor amiga.
- Eu só estava brincando, desfaz esse bico, . - Ela riu forçada e eu decidi continuar a conversa.- A escola é legal, amiga. É grande, tem bastante gente e os professores são ótimos. Eu ainda não sei se tem muita vadia, mas pode ter certeza que a vadia que eu mais amo está falando comigo agora. - Fiz um coração com as mãos e ela me mostrou o dedo do meio rapidamente. - Inimigas? Bom, eu acho que não tenho e é melhor assim, né? - assentiu. - Estou com tanta saudade, amiga! As aulas de filosofia não são as mesmas sem você me chamar de louca por entender o que você não entende...
- Nem as de redação sem você para eu contar das minhas ideias... Agora tenho que contar elas pro Sam e você sabe que o Sam é o Sam. - Sam era um amigo nosso que adorava criticar qualquer tipo de coisa, então, era difícil pedir qualquer opinião para ele porque Sam sempre achava defeitos. Porém, era pura implicância e, quanto mais defeitos ele dizia, a gente sabia que ele tinha gostado mais. - Porém, meu amor, você ainda não me respondeu se conheceu algum garoto interessante... - Arqueou uma sobrancelha, esperando minha resposta. O máximo que consegui fazer foi ter uma crise de riso e esconder o rosto nas mãos. começou a falar que queria saber nome, idade, signo e todos os mínimos detalhes do menino. Claro que falou aos gritos, da sua forma típica.
- Bom.. - Respirei fundo e pensei como explicaria a ela o que nem eu entendia. Não entendia ao certo o que eu achava dele. - Eu conheci um garoto chamado . Ele é lindo, amiga. Muito lindo mesmo!
- Linda é essa baba escorrendo aí no cantinho da sua boca, . - Brincou e eu continuei a falar.
- Quem olha para ele acha que ele é daqueles bad boys estúpidos, mas não... Ele é um amor. Pelo menos foi comigo.
- Você tá sorrindo igual uma boba. - deu uns pulinhos na cadeira. - Acho que alguém está começando a desenvolver uma queda pelo novo coleguinha . - Bateu palminhas e não me restou nenhuma ação a não ser negar com a cabeça.
- Não estou desenvolvendo nada por ele, só achei ele uma pessoa legal, amiga. Só isso. - Confesso que falei isso mais pra mim mesma que para , mas o que importa é que isso saiu da minha boca de maneira firme.
- , deixa eu te falar uma coisa. Você pode enganar ao mundo todo, menos a você. E a mim. Eu sei quando as coisas estão acontecendo com você porque sei analisar todos os sinais involuntários que você dá, então, não me esconda nada, bonitinha. Sei que você está mexida com esse e dá para ver isso no seu corpo quando você fala dele. Você sorriu mais durante esses minutos que falou dele do que sorriu na conversa inteira. Não vou dizer que seus olhos brilharam porque é clichê e a luz do computador tá no teu olho. - Riu mais do que deveria da própria... Piada? - Porém eu vou te dizer que seus olhos derreteram, junto com sua feição. Amiga, você ficou tão mais leve quando falou dele que eu só te dou duas opções: ou você beija ele amanhã, ou aproveita que vou ter que desligar e corre para beijar ele agora - Bateu as mãos no colo, como quem estava decretando algo.
- Já vai amiga?
- Sim, preciso ficar com a Marie um pouco. Amei conversar com você, amiga. Sinto sua falta todos os dias. - Fez uma carinha triste.
- Eu também, . Vou te visitar o mais rápido que puder.
- Ok, . Me manda por mensagem depois o dia, a hora e o lugar que o nasceu para eu fazer o mapa astral dele.
- Ainda pagando de astróloga?
- Sim, amiga. Boatos que se sabendo onde qual o signo que está em Marte de um garoto, é possível saber características das partes físicas. Daquela parte física bem gostosa em especial. - Mordeu o lábio tentando ser sexy e gargalhou.
- Para de ser tarada, . - Ri.
- Isso nunca, meu bem. Agora vou indo, amo você. - Mandou um beijinho.
- Amo você, amiga. - E nossa ligação foi desconectada.
Às vezes, tudo o que precisamos é de uma boa conversa com quem nós amamos e me conhece melhor do que eu mesma, mas talvez ela tenha errado sobre o que sinto em relação à . Ele é lindo, simpático, um amor de pessoa, mas quem não garante que ele não tenha uma namorada? E se o que disse for verdade? Levando em conta de que sou meio fracassada quando o assunto é relacionamento...
Quando me sentei à mesa e enfiei uma grande quantidade de bolo de chocolate na boca senti meu celular vibrar em bolso e aproveitando que estava de fones, apertei o botão para que atendesse a ligação.
- Alô? – Murmurei com a boca cheia, comendo mais uma quantidade generosa do bolo.
- Alô... ? Sou eu, ! Eu queria te fazer um convite...
- ? – Um pedaço grande do bolo desceu sem ao menos eu querer, fazendo com que eu me engasgasse.
- ! Tá tudo bem com você? – Sua fala parecia preocupada, mas com o quê? Ah... Eu estava quase morrendo engasgada por culpa dele.
- Eu... Tô! Foi só um susto que meu cachorro me deu. – Respirei fundo, sentindo meu rosto corar e agradecia por estar sozinha... Ou pelo menos achar que estava. – O que queria falar comigo?
- Ufa! Achei que você tinha se sufocado. – Gargalhou de uma maneira gostosa que também me fez rir. – Estou aqui para dizer que quero sua presença hoje no campeonato de futebol da escola. Já que sou o capitão do time e gostaria de ter você por lá. Ok? Não aceito ‘’não’’ como resposta. Te pego daqui à uma hora. Ah... Dei um jeito de arranjar seu endereço, não conta pra ninguém. Beijão e esteja pronta.
Antes mesmo que eu pudesse contestá-lo e inventar uma desculpa para não ir a ligação já havia sido encerrada. Enfiei o garfo novamente no bolo e fiquei o encarando por um momento, até que mamãe, que estava atrás da porta o tempo todo, disparou quinhentas perguntas sobre quem era . No momento fiquei com receio de contar sobre ele, mas no fim tudo o que eu havia dito para , mamãe também ouviu. O engraçado de tudo foi que mamãe também disse o mesmo que ouvi há minutos atrás, fazendo com que de branca, eu passasse a ser da cor mais próxima do vermelho.
Entre mim e mamãe acho que ela estava mais nervosa do que eu para ver . As horas pareciam passar guiadas por pequenas lesmas, já que faziam dez minutos para ele chegar, mas parecia a eternidade para mim. Enquanto os minutos não passavam tive uma ideia bastante idiota: levar um pedaço do bolo que eu havia feito para ele. Quando a campainha tocou todos na sala olharam para mim esperando que eu fosse de encontro à porta.
Assim que abri a porta lá estava ele com aquele sorriso lindo e seus cabelos bagunçados pelo capacete. Minha vontade naquele momento era de enfiar minha cara no chão pela vergonha que estava sentindo, não só por todos agora saberem quem ele era, mas por estar saindo novamente com ele.
O caminho até a escola foi bastante calmo em meio à conversa sobre alguns trabalhos, professores, deveres de casa e tudo mais. Ao chegarmos ao colégio, assim que desci de sua moto notei que algumas garotas me olharam de uma maneira estranha, como se houvesse algo de errado comigo, mas e no momento em que ele me abraçou foi que voltei à realidade.
- Hey... Ta tudo bem com você? – Sussurrou, acariciando meus cabelos suavemente.
- Eu... Eu quero ir embora. – Choraminguei baixinho agarrando sua camisa e escondendo meu rosto em seu peitoral.
- Princesa... Olha pra mim. – Tocou meu queixo devagar e fez com que meu olhar fosse de encontro ao dele. – Eu não quero você triste, tudo bem? Você está linda! Mais do que qualquer garota aqui e eu te prometo que vou fazer um gol pra você. Ou meu nome não é Aroldo.
- Mas você não se chama Aroldo, idiota. – Ri baixinho, dando um leve tapa em seu peitoral. – Ok... Ficarei pra te ver, Capitão!
- Eu sei... Só queria ver você sorrindo. – Sussurrou beijando minha testa e saiu em direção ao vestiário.
E mais uma vez estava eu com o rosto corado pela vergonha. Respirei fundo e caminhei até a arquibancada para escolher um lugar próximo da quadra na intenção de vê-lo melhor. Quando o juiz deu início a partida, um sorriso largo tomou conta de meus lábios ao avistá-lo em meio aos jogadores. Seus braços eram fortes e como eu imaginava, ele realmente tinha tatuagens, mas não só nos braços, mas também nas pernas. Esporte nem sempre foi meu forte, apesar de já ter tentado tudo quando é modalidade a única em que não fracassei foi o tênis, e assim como ele estava no campeonato de futebol masculino, eu havia me inscrito para o de tênis feminino.
Aos vinte minutos do primeiro tempo a bola acertou o gol em cheio e pela comemoração feminina com toda certeza quem havia feito o gol era , que mesmo de longe apontou para mim que estava esquecida na arquibancada, mas que naquele momento, eu era o alvo de todos os olhares dali. Contentei-me em focar o olhar apenas nele para que não ficasse novamente de outra cor. Não demorou muito e o primeiro tempo já havia acabado, sendo feita assim a troca de lados dos times.
Do outro lado da quadra, o time local havia passado para justo o lado onde eu estava. estava de costas para mim e pude perceber como suas costas eram largas. Seu uniforme completamente molhado pelo suor só fazia com que meu olhar não mudasse de direção em nenhum momento. Nunca havia parado para observá-lo direito, mas sua bunda era grande, mas não tanto assim, porém o suficiente para apertar com vontade. Respirei fundo e mordi o lábio em seguida, continuando a observá-lo meticulosamente. No momento em que ele se virou pude ver sua expressão séria e concentrada, indicando o que cada um devia fazer em suas determinadas posições. Um calor tomou conta de meu corpo o vendo daquela maneira tão concentrado. Minhas pernas se moviam uma contra a outra causando uma sensação gostosa acima de minhas coxas. Com a bolsa em meu colo, fechei meus olhos por um momento, pensando no quanto eu estava sendo tarada naquele momento. Era só um jogo de futebol. Controle-se! Quando abri meus olhos lá estava e mais uns quatro jogadores me observando com um sorriso sacana no rosto, apreciando meu pequeno devaneio. Minha primeira reação foi levantar minha mão e acenar para eles, escondendo minha real vontade que era de enfiar a cabeça dentro de minha bolsa.
No segundo tempo, o jogo foi mais tranquilo. Um dos jogadores do time visitante foi expulso e o time da casa fez mais dois gols. Vê-lo daquela maneira não fazia bem para minha sanidade, e eu não entendia ao certo o que era aquilo que estava me incomodando. Já ouvi dizer que quando se curte muito uma pessoa e deseja ela algo em você cresce... Qual o nome disso mesmo? Tesão! Isso! me deixava com tesão, mas, quem vendo ele daquela maneira não ficaria assim também? Bom... Eu gostaria de ser a única nesse quesito.
- Psiu... – apareceu atrás de mim já de banho tomado e o cheio mais gostoso o que antes.
- Oiiiiii! – Pulei em seus braços e o abracei com todas as forças que havia. – Parabéns! Você foi ótimo.
- Claro que fui! Meu amuleto da sorte estava aqui hoje. – Sorriu beijando minha bochecha.
- Ahm... Que bom então, né? – Sorri de uma forma sem graça achando que ele se referia a alguma garota dali.
- Pois é, se não fosse você eu não teria jogado bem. Obrigado. – Beijou meu rosto novamente e o senti corar.
- De nada. Eu que agradeço por você ter me chamado. Aliás... – Mexi na bolsa pegando a pequena vasilha e estendi a ele. - Para o capitão, bolo de chocolate feito pela sua fã número um... Euzinha! – Apontei para mim com um sorriso idiota no rosto.
parecia estar faminto, já que assim que sentamos em um dos bancos em frente à escola ele abriu a vasilha e começou a comer. Um gemido de aprovação foi emitido por ele e meu corpo se estremeceu com aquele som. Suspirei pegando um pequeno pedaço e levei a boca, fechando os olhos com o gosto do mesmo. Quando abri os olhos me encarava com um sorriso no rosto. Seus dedos foram de encontro aos meus lábios que estavam sujos de chocolate, os limpando. Parecia que tudo ao nosso redor havia congelado e só restávamos nós dois ali. Seus dedos se embrenharam em meus cabelos e seu olhar desceu para meus lábios; e o meu tomou o mesmo rumo.
- Eu acho que vou te beijar. – Sussurrou com a voz rouca antes de chocar nossos lábios.
Seus lábios eram macios, quentes e grandes. A sensação que eu sentia em meu peito é equivalente a encontrar minha banda favorita, uma vez que meu coração batia mais rápido do que o normal. Nosso beijo havia tomado um rumo calmo, lento e revigorante. Seus dedos puxavam meus cabelos devagar, fazendo com que um suspiro escapasse contra seus lábios.
Nossas línguas brincavam em perfeita sincronia e o fôlego que tínhamos já havia ido embora a muito tempo. O beijo se finalizou com vários selinhos de minha parte e da parte dele, para no final colarmos nossas testas e trocarmos carinhos até que um de nós se pronunciasse.
- Você beija melhor o que eu imaginava. – Sussurrou, roçando nossos narizes.
- Então quer dizer que você já imaginou como seria meu beijo? Safado! – Dei um tapa fraco em seu braço e sorri pelo carinho.
- Shhhh... Só aceite meu elogio, princesa. Vem, vou te levar pra casa.
Desfazemos-nos do carinho, mesmo que nenhum de nós quisesse, mas com muito custo resolvemos entrar em um consenso. Só de imaginar que em poucos minutos iríamos nos separar uma pequena angústia tomava conta de meu peito, mas saber que em algumas horas nos encontraríamos a angústia diminuía aos poucos, já que não demoraria para vê-lo novamente.
- Foi ótimo ter visto você jogar hoje. – Sussurrei, o abraçando assim que descemos de sua moto.
- Se não fosse meu amuleto da sorte eu não teria marcado um gol. – Riu baixo, beijando minha testa.
- Nos vemos amanhã? – O encarei com um sorriso bobo no rosto.
- Nos vemos amanhã! – Confirmou dando aquele sorriso que fazia qualquer garota se derreter.
- Boa noite... Durma bem e até amanhã. – Sussurrei beijando seu rosto demoradamente.
No momento em que ia me soltar de seu abraço, senti seus braços me apertarem mais contra seu corpo e seus lábios tomarem o meu num selinho demorado.
- Boa noite. E obrigado pelo bolo. – Sussurrou antes de caminhar até sua moto, dando a partida em poucos minutos, deixando-me ali com um sorriso enorme nos lábios enquanto o observava virar a esquina, pensando no que havia acontecido em poucos minutos atrás e repensando sobre o que mamãe e haviam dito. Talvez elas estivessem corretas sobre o que eu estava sentindo, mas... O tempo é que me dirá se isso é certo ou não.



Pode até parecer estranho tudo o que havia acontecido em poucos dias, mas que eu estava gostando de tudo aquilo, eu estava. Eu gostava de passar o dia com por mais que fosse apenas meia hora já era o suficiente pra que nós conversássemos, colocássemos tudo em dia e ficássemos juntos. Mas eu queria mais. Talvez eu pudesse fazer uma surpresa para ela. Procurei por algumas coisas na garagem de minha casa e acabei achando uma cesta e tive uma brilhante idéia. Era meu aniversário e a única pessoa que eu gostaria de encontrar naquele dia seria ela, então, armaria um piquenique pra que nós dois pudéssemos aproveitar sem ninguém enchendo nosso saco. Mas é claro, um piquenique do meu jeito.
Depois de ter separados todas as bebidas, comidas e algumas coisas em especial dentro de minha mochila, tive a certeza de que estava pronto. Mas, diferente de tudo queria que fosse ao por do sol. Desde criança sempre fui fascinado com o céu. Era muito legal e ao mesmo tempo intrigante como que o céu podia ficar de diversas cores em um dia só e eu sabia o lugar certo para levá-la. Peguei o celular e mandei uma mensagem, pedindo para que ela me encontrasse numa pracinha perto de sua casa no fim da tarde e que ela levasse pelo menos uma roupa de banho consigo.
Ao chegar ao local em que marcamos percebi que ela me esperava sentada em um banco, então fiz questão de parar em frente onde ela estava e entregar seu capacete.
- Fique a vontade, madame. – Murmurei forçando um sotaque, mas logo dei uma risada.
- Obrigada, cavalheiro. – Disse ela de volta para mim e mandou um beijo antes de colocar o capacete e subir na moto.
O destino no qual queria assistir o por do sol com ela não era muito longe e com certeza nessas horas estaria totalmente a nossa disposição. Estacionei minha moto perto da areia e esperei que ela descesse para que eu fizesse o mesmo. Ajeitei a cesta em minha mão e ri ao perceber que ela olhava par ao lugar de forma encantada.
- Gostou a vista? – Comentei parando ao seu lado e respirando fundo, sorrindo com a paisagem que nós tínhamos.
- Se eu gostei? CARAMBA! Eu amei. Olha esse lugar. Olha essa vista. Meu deus do céu – Disse de uma forma toda boba e engraçada, começando a andar pela areia devagar.
- Ow, apressada. Me espera. – Revirei os olhos mas ri logo em seguida ao ver que ela havia mostrado a língua para mim. – Quem mostra língua pede beijo. – Pisquei para ela e fui de encontro onde a garota estava.
Sentei-me no chão e tratei de colocar uma toalha estendida na areia, colocando algumas coisas de comer e algumas cervejas também. Peguei uma batata frita e passei num patê que havia comprado e estendi até a boca dela, que quase mordeu meu dedo também, nos fazendo rir.
- Eu trouxe uma coisa pra você. – Comentou a garota depois de comer um pedaço de um hambúrguer, se levantando e buscando sua bolsa.
- Pra mim? – Arqueei uma sobrancelha e a observei curioso.
- Aqui. – Ela voltou com dois embrulhos na mão. – Abre esse primeiro e depois esse – Apontou os pacotes.
- Hum... Tá bom. – Murmurei em concordância com ela e rasguei o papel do primeiro embrulho, começando a rir do que ela havia feito para mim.
Era um quadro. Não muito grande, mas também não muito pequeno. Nesse quadro havia várias fotos, algumas em que estávamos juntos e outras separados, mas que foram tiradas por nós. Havia vários corações por todo quadro e até um ‘’Melhor Capitão’’ escrito em cima do quadro. O segundo embrulho parecia ser uma coisa frágil, mas quando terminei de abrir não acreditei no que estava vendo. Era uma luminária do meu personagem dos quadrinhos preferido: o Batman.
- MENTIRA QUE VOCÊ FEZ ISSO. – Falei um pouco alto e ela riu de minha cara. – CARALHO! Você é a melhor pessoa da face do mundo! – Deixei a luminária no chão e a abracei com vontade, enchendo seu rosto de beijos.
- Feliz niversário. – Disse ela em meio ao abraço e me deu um beijo na ponta do nariz. – Fico feliz que você tenha gostado. – Sorriu toda boba.
- Gostado? Eu amei isso. – Comentei ainda olhando a luminária e sorri, a puxando para que deitasse no meio de suas pernas. – Olha pra lá. – Apontei para o horizonte onde o sol se punha. – Lindo, não é? – Sussurrei dando um beijo em seu ombro.
- Bastante. Dá vontade de ficar aqui pra sempre. – Ela abriu os braços e sorriu, voltando a deixá-los por cima dos meus.
- Agora que você sabe onde fica, pode vir aqui sempre que quiser. – Dei de ombros vendo que o sol já estava quase desaparecendo. Levantei-me do lugar devagar e tirei minha camisa, sapatos e calça, estendendo a mão para ela. – Vem! Vamos entrar na água.
- Hum... Eu... – Torceu o lábio para o lado e desviou o olhar para o mar. – Não sei...
Senti uma hesitação de sua parte no momento em que a chamei, mas eu não iria desistir daquilo. Nesse tempo em que viramos amigos eu já havia percebido sua insegurança em algumas coisas em relação a si mesmo e eu sabia como era chato deixar de fazer alguma coisa por conta do pensamento de que você é o errado em fazer o que quer.
- ... Olha pra mim. – Me ajoelhei em sua frente e segurei seu rosto. – Não precisa sentir vergonha de mim. Sou eu, . Não vou te julgar e muito menos rir de você. Só quero aproveitar esse dia maravilhoso com você e te mostrar que pode ser muito mais legal do que você pensa aqui – Toquei sua cabeça devagar e fiz um bico. – Vamos... Por favor. – Pisquei os olhos várias vezes e vi um sorriso em seu rosto, sorrindo em resposta.
Segurei em sua mão para que ela se levantasse e esperei que ela tirasse a roupa que ela estava usando, notando que ela usava um biquíni que realmente realçava suas curvas.
- Pronta? – Estendi a mão para ela.
- Pronta! – Ela segurou minha mão e tomei liberdade para que começássemos a correr em direção ao mar.
A água não estava tão fria, mas foi o suficiente pra que fizesse nós dois reclamarmos quando nossos corpos se chocaram com a água. Mergulhei e nadei um pouco para longe de onde estávamos em pé e a chamei com o dedo. Assim que ela chegou perto e mim, fiz questão de jogar um pouco de água em seu rosto, rindo de sua expressão indignada ao ver o que acabara de fazer.
- Cretino! – Gritou a garota, devolvendo jogada de água em meu rosto.
- Sou mesmo, não nego. – Mostrei a língua para ela e pisquei, voltando a jogar água nela.
Praticamente ficamos brincando com a água por um bom tempo, até sentir que havia esfriado. Saímos da água, pegamos algumas toalhas e nos enrolamos nas mesmas, voltando a sentar no pano estendido no chão. Tirei uma cerveja de dentro da cesta e abri, entregando uma para ela.
- Eu não bebo... Desculpa. – Negou com a cabeça e eu estreitei os olhos.
- Como assim você não bebe? – Dei um gole em minha garrafa e a encarei.
- Ah... Sei lá. Meu ex-namorado nunca me deixou beber. Dizia que mulher não deveria beber, que era feio e blá blá blá. – Balançou a mão no ar.
Inclinei a cabeça para o lado e franzi o cenho estendendo novamente a bebida para ela. – Vai, só um pouco. Você tem que parar de se privar de tudo assim, se não você tá ferrada. – Neguei com a cabeça e empurrei a cerveja para ela.
- Tá, tá. Você parece minha mãe. Ela sempre fica falando isso. – Pegou a cerveja e deu um gole, fazendo uma careta – Como você consegue beber isso? Que horror. – Bebeu mais uma vez e me olhou com os olhos estreitos. – Ok... Talvez isso seja até gostosinho. Como sou educada, não vou jogar fora. – Sorriu mostrando todos os dentes.
- Boa garota. – Murmurei dando mais um gole. – Se você quiser, posso fazer outra coisa pra você beber. Aqui. – Entrei para ela um copo e coloquei metade de uma vodka e metade de suco de laranja. – Bebe.
- Você trouxe um bar ou o quê? – Arqueou a sobrancelha e pegou o copo, dando um pequeno gole. – Esse é muito mais gostoso. – Apontou para o copo e continuou a beber do mesmo até acabar.
- Vai com calma, linda. – Comentei dando uma risada baixa ao ver ela beber tudo de uma vez. – Você tem que chegar viva em casa hoje, ok?
- Eu sei, eu sei. Relaxa. – Balançou a mão no ar e voltou a beber a cerveja.
Depois de alguns drinks, conversas jogadas foras e até algumas confissões, percebi que estava na hora de irmos embora. Mas ao mesmo tempo eu não queria que aquele dia chegasse ao fim.
- . – Murmurei a encarando, já que ela estava deitada em meu colo e vi ela se sentar. – Vem cá. – A chamei com o dedo, sorrindo quando ela se aproximou. – Obrigado por hoje. – Sussurrei fazendo um carinho em sua bochecha.
- Não precisa de me agradecer. – Sussurrou segurando em minha mão e encarando meus olhos. – Eu que agradeço por você ter me escolhido pra passar o dia com você. – Sorriu de forma tímida.
Seu sorriso era como uma perdição para mim. Se havia uma coisa em todo mundo que eu adorava era sorrisos. E especialmente o dela me tirava do chão sem eu perceber. Entrelacei meus dedos em seus cabelos de forma suave e a puxei para que nossos lábios fossem um de encontro ao outro. Eu adorava aquela boca. Praticamente adorava tudo que partia dela. Até se fosse alguma coisa que eu achasse ruim, no final eu procuraria uma qualidade pra encaixar no lugar. Seus dedos passeavam pelo meu rosto de forma suave enquanto nossas línguas se encontravam em meio ao beijo sem muita pressa. Uma de minhas mãos foi de encontro até sua cintura, onde a apertei de maneira suave, podendo a sentir arfar contra meus lábios.
Eu sabia que não podia passar dos limites. Não naquele momento. Não naquele lugar. Mas... Eu queria, e muito. Comecei a distribuir vários beijos pelo seu pescoço devagar enquanto acariciava agora suas costas de uma maneira delicada, vendo sua pele toda se arrepiar.
- ...- Murmurou de uma forma abafada e eu suspirei, parando os beijos.
- Oi – Sorri acariciando seu rosto devagar e passei a mão pelos seus cabelos. – Quer que eu pare? – Arqueei uma sobrancelha para ela.
- Não quero que você me leve a mal, mas... Eu não to pronta pra isso. Não agora. – Confessou baixinho e me abraçou. – Desculpa.
Ri baixo pelo seu pedido de desculpas e neguei com a cabeça.
– Relaxa. Tudo tem seu tempo. Vem cá. Vamos vestir uma roupa que já ficou escuro. – Me levantei e a puxei, esperando que ela trocasse sua roupa.
Após ambos estarmos com as roupas trocadas, tratei de guardar tudo o que havia trazido na cesta e guardar os presentes que ela havia me dado dentro de minha mochila. Caminhei até minha moto com ela ao meu lado e subi na mesma, esperando que ela também fizesse a mesma coisa. O caminho até sua casa foi bastante calmo. Sem muita falação, só alguns momentos que nós nos lembrávamos de comentar algumas coisas. Ao chegar a frente de sua casa, esperei que ela descesse da moto e tirei meu capacete para a encarar.
- Obrigado por hoje. – Sussurrei lhe dando um selinho demorado. – Boa noite.
-Não precisa agradecer. – Sussurrou contra meus lábios e retribuiu o selinho de forma ainda mais demorada. – Te vejo depois.
- Te vejo depois. – Acenei para ela e esperei que ela entrasse em sua casa para então, seguir para a minha.
Era estranho como se alguma maneira aquela menina estava mexendo com minha cabeça. Mas eu gostava desse estranho. Às vezes o estranho pode ser gostoso e com certeza, aquilo estava sendo gostoso até demais.



Fazia muito tempo que eu não me sentia tão viva assim como estava me sentindo durante todo esse período que estava passando com . Era como se nós tivéssemos algum tipo de sintonia, já que a maioria das vezes que ficávamos juntos era tudo perfeito, exceto por algumas discussões que tínhamos por opiniões diferentes, mas nada que acabasse com o clima bom entre nós dois.
Um dos meus sonhos desde criança era de poder participar de um festival beneficente para crianças. Minha mãe era colaboradora de um lugar e sempre que havia festivais fazia questão de me levar junto dela e eu, como sempre gostei, tenho essa memória guardada comigo por todo tempo. Eu queria ir, mas não queria ir sozinha também, então tive uma idéia que teria 50% de chances de dar certo e 50% de dar errada. Depois de ter passado um dia inteiro com a convite dele, era a minha vez de fazer um convite a ele.
Era sábado de manhã e, como meus pais haviam viajado para a casa de meus tios, decidi acordar cedo para fazer meu almoço e de Charlie, que decidiu ficar em casa já que havia arrumado uma namorada nova e não desgrudava dela (coitada da garota...). Enquanto eu almoçava, resolvi mandar uma mensagem para como sempre fazia de manhã, mas dando um jeito de o chamar para sair comigo sem dizer para onde iríamos.

Mensagem : Bom dia! <3 Tudo bem? Como você dormiu?
Mensagem : Bom dia, linda. Eu estou bem e você? Dormi feito uma criança, e a senhorita?
Mensagem : Tô ótima! Dormi feito uma criança também. Hum... O que você vai fazer hoje a tarde?
Mensagem : A tarde? Nada. Por quê?
Mensagem : É que eu queria te levar pra um lugar comigo. Aceita?
Mensagem : Você tá me chamando pra sair, é isso mesmo? :o
Mensagem : Idiota. KKK Deixa de graça. Vamos ou não?
Mensagem : Hum... Não sei... Minha presença requer muita exclusividade...
Mensagem : Tem bolo de chocolate...
Mensagem : Opa. Que horas e onde tenho que te encontrar? rsrs
Mensagem : Às duas da tarde em frente a minha casa. Beijos! OBS: Você sabe desenhar?
Mensagem : Fechado! Sei sim, por quê?
Mensagem : Por nada. Te espero aqui. <3

Pronto! Estava combinado e foi até mais fácil do que eu havia pensado... Lembro de uma vez ter me dito que não gostava muito de crianças, já que elas não param quietas nenhum segundo, mas pra mim era o contrário. Eu adorava crianças e adorava ainda mais brincar com elas. Eu havia me voluntariado para que pudesse praticar pinturas faciais em todos que quisessem. Em minha bolsa havia tintas de várias cores e até duas orelhas de gatinho que fiz para colocar em minha cabeça e uma na de , caso ele aceite também. As imagens que poderia ser pintado no rosto de cada criança variavam de borboletas até um tigre.
Com todas as coisas prontas, fiquei do lado de fora esperando que ele chegasse não demorando muito para aparecer com sua moto.
- Aonde nós vamos? – Perguntou ele depois de me abraçar e beijar minha testa.
- Surpresa. – Murmurei segurando em sua mão e o encarando. – Vamos andando. É perto daqui.
- Hum... - Ele estreitou seus olhos e guardou seu capacete. – Sinto que você vai me levar para um lugar, me matar e me jogar num rio sem ninguém saber.
Arregalei os olhos e dei um tapa fraco em seu braço, fingindo estar ofendida. – Garoto, saiba que eu não jogaria você no rio, mas sim no meio do mato se eu fosse te matar. – Pisquei para ele e rimos em seguida, começando a andar em direção a escola onde seria feito o festival.
Ao chegarmos a frente ao lugar, parei na frente dele e o encarei, segurando suas duas mãos.
- Primeiro de tudo, queria dizer que você tá lindo hoje. – Sorri mostrando todos os dentes. – E que vou precisar das suas habilidades artísticas hoje, pois vamos pintar rostos de crianças, weeeee. – Levantei as mãos no ar, sorrindo feito idiota.
- O quê? – Ele arqueou uma sobrancelha ao ouvir tudo o que eu disse e cruzou os braços. – Você sabe que eu odeio criança. – Revirou os olhos e fez um bico, ficando fofo com sua cara emburrada.
- Ah não, nem vem. Vai ser legal. As crianças são legais. Vai... Por favor, por favor, por favorzinho. – Pisquei os olhos várias vezes e fiz um bico ameaçando chorar. – Eu trouxe bolo de chocolate pra você... Mas se você não quer, tudo bem... Posso dar pra outra pessoa... – Murmurei com a voz chorosa.
- Não, não! Não precisa. Eu vou. Relaxa. – Balançou as mãos no ar e eu sorri vitoriosa.
- Ótimo! Tenho orelhas de gatinho pra mim e pra você. Você vai ficar lindo. – Sorri toda animada e o puxei pela mão, lhe dando um selinho e entrando no local com ele.
Acho que a imagem que eu tinha sobre na primeira vez que eu o vi foi totalmente errada. Com aquela cara fechada e as tatuagens pelo corpo sempre cheguei a achar que ele era o típico badboy que não liga pra ninguém e que não trata nenhuma menina como merece, mas eu estava errada. Por mais que ele me dissesse que não gostava de criança, no fundo, bem no fundo mesmo ele tinha um jeito para interagir com elas que era lindo. As crianças faziam fila para que ele pintasse seus rostos e, quando uma das animadoras do lugar parou para descansar, ele se encarregou de brincar com todas elas.
Ele e as crianças brincavam de dança das cadeiras, corrida do saco, equilibrar um ovo na colher e até mesmo estourar balões de todas as maneiras possíveis. Ele podia ter a cara fechada, mas não passava de um eterno bobão. Continuei pintando os rostos de todos que chegavam até a hora de irmos embora. Eu estava morta e imaginava que também estava tão exausto quanto eu.
- Você se saiu muito bem hoje, sabia? Pra quem diz não gostar de criança... – Murmurei abraçando um de seus braços enquanto andava.
- Não é que eu não goste... Eu só não tenho paciência... As vezes elas são legais. – Levantou os ombros e riu.
- Pode admitir que você gosta. Não faz mal fazer algo de bom de vez em quando, sabia? – Cutuquei sua costela e ele se esquivou de mim.
- Ai, como você é irritante. – Mostrou a língua para mim e apertou meu nariz. – Ok, tudo bem. Eu gosto. Mas não conta pra ninguém. – Colocou o dedo indicador na frente da boca como se pedisse silêncio.
- Minha boca é um túmulo. – Fiz um zíper imaginário em minha boca e mandei um beijo para ele, abraçando seu braço novamente.
- Boa garota. – Piscou um de seus olhos para mim e acariciou meus cabelos.
Continuamos a andar até chegar à frente de minha casa, onde ficamos abraçados até um resolver que era a hora do outro ir embora. E com certeza essa pessoa não seria eu.
- Então... Já tá tarde, né? Seus pais devem estar preocupados com você e tudo mais – Murmurou, passando sua mão suavemente por minhas costas.
- Não... Eles não estão em casa. Só meu irmão, mas ele ta com a namorada dele. Quando os dois estão juntos ele se esquece da vida. – Levantei os ombros e ri.
- Hum, sei... Então, o que a gente vai fazer? – Arqueou uma sobrancelha.
- Dorme comigo hoje? Ele nem vai perceber mesmo. E se perceber não pode encher meu saco, já que a namorada dele também tá dormindo com ele. – Sorriu e o encarei. – Você deve estar cansado e minha cama tá mais perto do que a sua. Vamos... – Fiz um bico para ele.
- Olha, você tá me fazendo muitas propostas hoje e como sou educado, não vou recusar. – Sorriu e eu lhe dei um selinho demorado.
O puxei pela mão e subi até meu quarto, deixando minhas coisas em cima de minha cama e pedindo para que ele me esperasse ali para que eu pudesse pegar algumas coisas para comermos. Joguei em cima da cama alguns pacotes de batatas, balas fini e duas garrafinhas de suco e logo em seguida tratei de fazer o mesmo com meu corpo. Nós dois estávamos completamente esfomeados e num piscar de olhos toda comida havia ido embora. Tirei a vasilha com o pedaço de bolo de chocolate de minha bolsa e o entreguei, sorrindo ao ver como ele comia como uma criança ao ver um doce que tanto queria.
- Eu estou exausta. – Comentei bocejando e me espreguicei na cama, virando de lado para abraçá-lo.
- Imagine eu então que brinquei com aquelas crianças. Você ficou só pintando e eu tive que administrar aqueles seres que não se cansam. – Choramingou, mas logo em seguida riu. – Minhas pernas estão moídas... Aliás, amanhã vou fazer uma festa lá em casa e quero que você vá, fechado?
- Fechado! Devo ir com que roupa? – Enrolei um pouco do meu cabelo em meus dedos enquanto falava
- Me surpreenda. – Ele levantou os ombros e fechou seus olhos. – Se eu dormir do nada saiba que eu te desejo uma boa noite.
- Se você dormir do nada saiba que eu também te desejo uma boa noite. – Sussurrei, lhe dando um selinho demorado e comecei a fazer um cafuné em seus cabelos.
A imagem dele dormindo era uma das coisas mais lindas que eu já havia visto na vida. Ele estava todo calmo e sereno. Se eu estivesse com meu celular por perto, com certeza teria tirado uma foto e colocado como meu protetor de tela. Ao mesmo tempo em que eu achava que aquilo estava indo com calma, parecia que estava indo tudo muito rápido também. Era como se eu estivesse realmente realizando meu desejo. E eu estava muito feliz em tornar aquilo realidade. Mas ainda faltava uma coisa que eu queria faz tempo. E eu já sabia o que era. E com certeza iria fazer sem nenhum medo de me arrepender. Havia chegado minha hora.


THE DAY
O grande dia havia finalmente chegado. Ao mesmo tempo em que se encontrava confiante, também se encontrava insegura. Passou um bom tempo pensando no que iria vestir até se decidir em usar seu vestido predileto: um vestido preto com estampas de bolinhas. O pano caia muito bem em seu corpo, o que fazia com que ela ficasse mais bonita do que já era. Optou por calçar sapatilhas, já que era muito mais confortável do que um salto alto e deixou seus cabelos soltos e ondulados como de costume. Olhou-se no espelho pela ultima vez e se certificou de que estava do jeito como queria. Estava linda. Estava se achando linda. E era essa confiança que ela precisava naquela noite.
Dessa vez quem deu carona a ela foi seu irmão, já que com seu instinto super protetor, estava fazendo o papel de seu pai, que se consistia em reclamar e pedir para que a irmã mais nova tivesse juízo.
- Eu sei que pareço um chato, mas só estou falando isso porque amo você, tá bom? – Comentou o mais velho enquanto prestava atenção no caminho.
- Até parece que eu vou fazer algo de errado. Quantas vezes eu já me meti em encrencas? Isso mesmo, NENHUMA! – Mostrou a língua para o irmão.
- Tá bom, santinha. Se alguém te oferecer bebida ou um baseado não aceite. Não te quero envolvida com essas coisas. – Deu um tapinha na cabeça da garota.
- Outch. – Passou a mão pela cabeça e estreitou os olhos – Você não é o papai, tá? Não precisa incorporar ele. – Mostrou a língua novamente e ficou emburrada, mas, assim que o carro estacionou em frente a casa a expressão se tornou suave e mais animada. – Tá, tá, tá. Tchau. Te amo. – Beijou o rosto do irmão antes de sair do carro.
- JU-Í-ZO – Gritou o maior de idade de dentro do carro antes de dar a partida e sair com o veículo dali.
caminhou até a porta da casa, mas logo foi surpreendida com a figura do garoto a abrindo, o que fez com que ela o abraçasse logo em seguida com vontade.
- Olha quem apareceu. – Murmurou meio abafado pelo abraço repentino da garota. – Achei que você não viria. Já estava pronto para ligar para você. – Mostrou a foto da garota no celular.
- Eu sei, eu sei. Eu demorei um pouco porque não sabia com qual roupa vir, mas... Eu cheguei! – Abriu seus braços e apontou para si, sorrindo.
- Ótimo. Tem uns amigos meus querendo te conhecer, vem cá. – Puxou a menina pela mão para dentro de sua casa.
A casa onde o garoto morava não era nem muito grande e nem muito pequena e a quantidade de pessoas convidadas não lotava o lugar. Em um canto algumas pessoas estavam rodeadas com várias garrafas e latinhas em meio as risadas e em outro canto, alguns meninos jogavam um tipo de jogo que continha ET’s enquanto um baseado era dividido entre os demais. Tudo aquilo era novo para , ainda mais pelo fato de ela nunca ter chegado perto de quase nada do que estava vendo.
- Linda, esses são Mike, Josh e a Liza. São os meus amigos que queriam te conhecer. – Apontou para os três sentados na mesa, aparentemente jogando Uno.
- Prazer em conhecer vocês. – Tratou de cumprimentar cada um com um beijo no rosto.
- O prazer é todo noss.o – Responderam os três juntos, fazendo todos que estavam na conversa rirem.
- Agora que você chegou sou todinho seu. – puxou a garota pela cintura até encostarem-se em um balcão na cozinha.
- Senti sua falta. – Sussurrou contra os lábios do maior a sua frente. – Passei a noite toda pensando em você.
- Não mais do que eu. Disso você pode ter certeza. – Beijou os lábios dela de forma suave enquanto trocavam carícias.
- Aposto que você deve olhar sua luminária e se lembrar de mim, né? Eu sei, sou muito boa no que faço. – Brincou, fazendo um biquinho convencido para ele.
- Ah... Falando nisso, quero que você veja uma coisa. Vem comigo.
Para início de conversa, não sabia muito bem onde ele estava a levando, mas quando a porta se abriu e ela viu sua luminária teve certeza de onde estava. O quarto não era desarrumado como o da maioria dos garotos. Se ela fosse comparar com o quarto de seu irmão daria de dez a zero. Em sua escrivaninha havia alguns troféus, medalhas e alguns bonecos de super heróis. Crianção, pensou ela consigo mesma.
Sentou-se na cadeira que dava de frente para o computador dele e ficou observando todas as coisas que ali havia, notando que em sua parede havia alguns quadros e quase todos eles parecia ter sido feitos a mão, mas logo sendo despertada de sua curiosidade repentina e surpreendida quando ele apareceu com uma tela de pintura virada de costas.
- Eu quis procurar uma maneira de te presentear da mesma forma que você me presenteou. Pensei em várias coisas que eu pudesse fazer, mas acho que nenhuma dessas coisas chegaria aos pés do que você fez para mim. Depois de pensar muito, tive uma idéia. Eu espero que você goste, já que é de coração. – Virou a tela em suas mãos, revelando uma pintura de uma foto tirada da garota em um momento espontâneo.
- Ai. Meu. Deus. – Correu até ele, segurando a pintura em suas mãos e arregalou os olhos achando aquilo a coisa mais linda do mundo. – Eu não acredito que você fez isso. Como você pode dizer que não chegaria aos pés do que eu fiz pra você? – O encarou com os olhos marejados e o abraçou com força. – Isso tá muito lindo. Perfeito. Você é perfeito.
- Não, nem vem. Você que é perfeita. Olha só... Você consegue ser linda até quando não quer. Só você não percebe isso. – Passou seu dedo polegar pelo rosto da garota de forma suave para limpar uma lágrima que escorreu de seu rosto. – Você... Quer descer? Ou prefere ficar aqui?
- Aqui. Eu... Tenho que te contar uma coisa. Mas eu não quero que você fale nada que seja pra me agradar, tá bom? – Sentou-se a cama do garoto e colocou sua pintura ao lado da cama encostada na parede. – Já tem uns dias que eu me sinto assim... Mais especificamente quando você me levou pra sair no dia do meu aniversário. Sei lá, eu sempre achei que eu não devia fazer tais coisas por não acreditar muito em mim. Por achar que sempre vai haver pessoas melhores do que eu no mundo, mas eu cansei de me sentir assim. Estar com você durante esse tempo me fez enxergar que se eu não aproveitar a vida, ninguém vai aproveitar ela por mim. – Sorriu de forma sincera e segurou nas mãos do garoto – Estar com você fez eu me sentir mais viva. Descobrir coisas que eu não pensava que iria viver. Eu tenho que te agradecer por isso. E... Eu gosto de você. Muito. De uma maneira que eu nunca gostei de alguém. Eu te amo. E não quero que você me diga de volta só pra me agradar, mas eu tenho que dizer isso. Estava entalado dentro de mim. Eu-te-amo. Pronto. Acabou. – Levantou as mãos para o ar e sorriu para o garoto. – Eu estraguei tudo, né? Vai, pode falar.
O garoto a todo o momento prestava atenção no que ela falava e em alguns momentos até caia na risada pela forma como ela falava sem respirar, despejando tudo de uma vez, mas no momento em que ele ouviu que ela o amava, sentiu seu coração bater mais forte.
- Espera... – Levantou a mão para ela pedindo um tempo e passou as mãos pelos cabelos – Você tá dizendo que me ama também? – Perguntou de forma atordoada.
- Também? – Arregalou os olhos para o garoto – Você tá... Eu... Você... Nós... – Apontou para si mesma e depois para ele. – Você me ama também?
- Amo. Porque não amaria? Você já se viu no espelho, garota? – Riu a puxando para um abraço e beijou seus lábios suavemente.
A música que vinha de baixo da casa podia ser ouvida de onde os dois estavam sem muito esforço. Assim que o beijo foi finalizado, colocou a mão sobre o rosto do garoto e cantarolou a letra que se encaixava completamente na situação dos dois:
- Let's do something good today, before it's too late, this is our day... – Entrelaçou seus dedos em seus cabelos e sorriu o encarando – Eu quero que você me faça sua. Eu ainda não tive minha experiência, mas tenho total certeza de que quero que seja com você.
Um sorriso brotou nos lábios de assim que ouviu o que ela havia dito. Ele queria aquilo tanto quanto ela e não a decepcionaria naquele momento. Os dois começaram a se beijar sem nenhuma cerimônia. Nada impediria os dois de não fazer aquilo agora. Em meio aos beijos, ofegos, cabelos bagunçados pelas roupas e a distribuição de peças de roupas pelo chão, ele fez questão de trancar a porta para não haver nada de errado naquela situação.
Na cama, encontrava-se apenas de calcinha e ele por cima dela apenas de cueca. Mesmo com toda a confiança que tinha antes, uma ponta de insegurança voltou a aparecer dentro da garota, mas, com toda a delicadeza que o garoto estava a tratando, aquela sensação foi sendo deixada de lado aos poucos.
As mãos dele deslizaram pela lateral de seu corpo, indo em direção a sua calcinha, que a tirou e jogou no mesmo lugar onde estavam as outras peças. Segurou em suas coxas e afastou suas pernas até que sua intimidade estivesse a sua vista. Ele não precisava fazer muito esforço para que ela ficasse molhada. Estava pronto para sentir o gosto da garota. Sua língua foi de encontro a sua intimidade, podendo ouvir um gemido manso escapar dos lábios dela. Sua língua trabalhava em toda extensão de sua intimidade, dando total atenção a todos os pontos para que ela se sentisse relaxada até o momento do ato em si. Minutos depois as mãos da garota estavam em seus cabelos. Ela os puxava e gemia na esperança de ter mais e mais daquilo. O garoto, por sua vez, a cada gemido que se ouvia dela sentia seu corpo reagir.
- ... Eu to pronta. – Disse a menina em meio aos ofegos.
Ao ouvir seu nome ser chamado e a frase que veio em seguida, com um sorriso em seu rosto se esticou e pegou o pacote com a camisinha, tirando sua cueca e vestindo seu membro com o preservativo. Ela podia estar nervosa minutos antes de tudo aquilo começar, mas agora ela se sentia confiante. Desejada. Poderosa. Nunca havia sentido nada como aquilo em toda sua vida até aquele dia.
Quando sentiu o garoto a preencher de uma forma lenta, fechou os olhos com força fazendo uma careta pela ardência e dor que sentiu, mas com a paciência e calma do garoto, conseguiu se relaxar até que ele estivesse completamente dentro de si. Não havia sido uma coisa de conto de fadas, mas havia valido a pena.
Os corações dos dois palpitavam como nunca haviam feito antes e as bocas estavam a milímetros de distância. O segundo antes do beijo sempre causa as mesmas coisas: os dois sentiram como se o mundo estivesse parado e como se só existisse o outro. Não havia som além das respirações e gemidos misturados, não havia imagem capaz de ser visualizada além dos olhos cheios de expectativas do outro, não havia mais ninguém para e além deles mesmos.

...

Agora que você sabe de tudo,
Provavelmente deve estar me achando ou a pessoa mais idiota do mundo ou pode estar feliz por eu ter finalmente feito alguma coisa que preste. Eu sei, seu sei. A minha mania de me colocar pra baixo sempre foi uma das coisas que me afetou bastante no meu modo de viver a vida. Mas olha só no que deu me desprender de uma coisa que só me atrasava... Às vezes a felicidade pode estar bem debaixo do seu nariz, mas pra que você a obtenha, você vai precisar se desprender de alguma coisa.
Vai ser difícil? Vai. Ninguém disse que seria fácil, não é mesmo? Mas no final de tudo, quando o resultado estiver a sua frente... A sensação é revigorante. Eu, que vivia achando que nada daria certo na minha vida acabei percebendo que tem certas coisas que precisam acontecer com a gente pra que tudo se acerte e tenha que ser como está escrito conforme o destino manda.
Pensei várias vezes em desistir e deixar as coisas como eram antes, mas uma voz em minha cabeça martelava dizendo que eu não poderia me dar por vencida assim tão facilmente. Foram longos períodos viajando e refazendo cada passo que queria tomar. Eu precisava disso? Eu realmente queria isso? O que isso traria de diferente? Bom... Como eu disse, seria difícil. E foi. Bastante.
Com força e determinação consegui chegar ao lugar onde eu queria. Hoje posso dizer que conquistei uma pessoa que eu posso chamar de minha. A pessoa que eu amo. A pessoa que esperei tanto tempo para conhecer, mas que valeu a espera. Valeu a pena a descoberta de como é amar e ser amada. Valeu ainda mais a pena ter arriscado tudo pra que eu conseguisse fazer tudo o que queria. E você deveria fazer o mesmo também.
Vá viver sua vida. Beijar na boca, beber, dançar até suas pernas doerem, rir até a barriga doer, usar as roupas que quer sem que ninguém interfira em suas escolhas. Ria, chore, gargalhe e viva sua vida da maneira como você quiser. Se você não viver sua vida, ninguém vai viver por você. Faça algo de bom antes que seja tarde.

Com amor, .

Com algumas lágrimas escorrendo pelo seu rosto, passou os dedos finos por suas bochechas e sorriu, abraçando a carta da amiga com vontade. Sabia que a experiência toda que ela havia passado servia de incentivo para que ela mudasse sua vida também. Para melhor. Ela dobrou a carta e guardou em uma caixinha reservada para tudo o que era de sua melhor amiga, olhou-se no espelho grande que ficava na porta de seu quarto e sorriu para sua imagem.
- Eu sou linda do jeito que eu sou e ninguém vai me dizer o contrário. – Disse com convicção para si mesmo através do reflexo, sentindo-se a melhor pessoa do mundo e pronta para esfregar na cara da sociedade a mulher que ela estava para se tornar.

Nota da autora: Sem nota.



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