Última atualização: 25/07/2018

Capítulo Único

- Por que você escolheu ser professora? – , minha companheira de longa data, indaga enquanto paga o cachorro quente que seria o nosso almoço, já que tempo para tal era nulo. – Você mal tem tempo para você!
- Eu gosto de ser, ok? E ainda ajuda a pagar minhas contas. – falo, entregando a quantia necessária de dinheiro para o senhor de idade, que sorriu cordial.
- Você já pensou em sair com alguém? – ela indaga enquanto voltamos a caminhar tranquilamente. – Sei lá, namorar? Você está sozinha desde a faculdade.
- E eu estou bem com isso. – falo, dando de ombros em seguida.
- Você não sente falta de ter um alguém? – ela indaga, me passando um guardanapo de papel para que eu limpasse o molho que se encontrava em meu rosto.
- Eu não. – falo, parando em sua frente em seguida. – Quando tiver um tempo, eu penso nisso. Agora eu tenho que preparar 300 provas diferentes sobre assuntos diferentes. Me deseje sorte?
- Você não precisa! – ela exclama, beijando minha bochecha em seguida. – Happy Hour mais tarde?
- Posso pensar? – indago, ouvindo bufar e negar com a cabeça. – Ok, eu vou. Mas não conheço ninguém do seu trabalho.
é chefe de um restaurante japonês. Dividimos um apartamento, e todo dia ela volta com comida japonesa o suficiente para uma semana, algo que eu passei a detestar com o tempo.
Faltavam apenas 20 minutos para as aulas retornarem após o almoço, e eu ainda estava na metade da Ponte de Waterloo. Eu não sabia se estava com muito azar esse dia, ou se eu realmente era muito atrasada.
Enquanto eu equilibrava minha bolsa, a latinha de refrigerante e meu celular, sinto meu pé virar, e acabo caindo com tudo no chão.
- Você está bem? – ouço alguém indagar, me fazendo levantar o rosto para fitá-lo.
Ok, quem era aquele deus grego? E de onde ele saiu?
Ele me encarava com seus lindos e brilhantes olhos , junto de um sorriso de lado em seus lábios.
E, de repente, todo o meu vocabulário impecável foi embora, junto do ar que eu respirava. Desde quando era tão difícil respirar?
- Estou bem. – gaguejo, tentando cortar os nossos olhares. Ele segura minha mão, me ajudando a levantar. – Agradeço a ajuda.
- Eu posso te ajudar. – ele fala, pegando minha bolsa no chão.
- Acho que estamos indo para lados opostos. – falo, dando um sorriso de lado.
- Eu sei, mas eu não me importo em te ajudar. – ele fala, jogando a latinha de refrigerante no lixo poucos metros a nossa frente. – Vamos?
- Já falei que não precisa. – falo, pegando meu celular no chão, rezando para que sua tela não estivesse quebrada. – Eu agradeço.
E logo retorno a caminhar, ignorando a dor que eu sentia em meu calcanhar.
Cheguei à escola mais atrasada do que o necessário, recebendo um olhar nada apropriado da minha querida diretora. Peguei meu material, indo para a sala de aula do segundo ano, que conversava sobre um torneio muito importante que estava para acontecer em alguns dias.
- Olá, pessoal! – falo ao entrar na sala, colocando a bolsa em cima da mesa de madeira, sentando na cadeira para poder descansar meu pé. – Onde nós paramos na nossa última aula?
- Iríamos começar Império Napoleônico, professora. – um aluno diz, abrindo o livro na página exata. – A senhora preferiu deixar para uma aula que tivéssemos um tempo maior.
- Ah, é mesmo! – exclamo, sorrindo em seguida. – E você pode ler para seus colegas de turma sobre isso?
- O império napoleônico começou em 18 de maio de 1804 e terminou em abril de 1814. – ele começa, fazendo com que todos ao seu redor ficassem calados.
Enquanto eu alternava entre ouvir meu aluno e sentir dores fortes no pé, eu me lembrava do rapaz que me ajudou mais cedo. Eu pensava no quão bonito ele era, e em como seus olhos também ajudavam naquilo. E o sotaque? Por mais que eu more aqui há anos e tenha me acostumado com alguns, aquele sotaque com aquela voz me fez perder todo o ar e todo meu autocontrole.
Alguns alunos falaram algumas coisas, tiraram dúvidas e fizemos alguns exercícios. Enquanto eles respondiam as questões do livro, eu massageava meu pé que havia torcido, tentando controlar a dor que eu sentia.
As aulas do dia correram tranquilamente e, no fim do dia, fui embora. Chamei por um táxi, pedindo que ele me deixe num hospital qualquer. Aquela dor não era nada normal, não pra mim.
: Mudança de planos. Estou no hospital. Aproveite sua noite!
: O que você arranjou? Ajudou mais uma vez as líderes de torcida?
: Não! E é uma longa história. Te conto quando chegar em casa.
: Você sabe que eu não vou conseguir me divertir. Estou indo para o hospital.
Sabia que, se eu tentasse algo contra, ainda sim viria ao meu encontro, e que discutir isso com ela seria em vão, já que ela é mais teimosa do que eu.
Poucos minutos depois, vejo minha melhor amiga, que carregava duas sacolas do restaurante em que trabalhava, além de um casaco maior para mim.
- Sabia que você estaria com fome e frio. – ela fala, colocando o casaco ao redor de meus ombros e costas. – O que você arrumou?
- Hoje, indo para a escola, acabei virando meu pé. – falo, abrindo a sacola e encarando a marmita com yakisoba. – Um rapaz tentou me ajudar, mas eu recusei e fui embora. Estou com dor no pé desde cedo, mas não pude sair da escola antes do horário, justamente por chegar atrasada.
- E como era esse rapaz? – ela indaga, me fazendo rolar os olhos.
- , eu acabei de fazer um relato grande e você só prestou atenção no rapaz? – indago, dando uma garfada na comida. – Eu nem sei por que contei essa parte para você. Nem interessa muito.
- Ah, claro! Eu te conheço, ! Você o achou bonito? – ela indaga, gargalhando em seguida. – Você não sabe ao menos mentir.
- E eu não estou mentindo. – falo, pegando o refrigerante dentro da outra sacola. – E você saiu cedo do trabalho. O que aconteceu?
- Dei a desculpa de que estava passando mal. – fala, dando de ombros em seguida. – Não, não adianta falar para que eu vá pedir demissão, pois eu preciso desse emprego para minha sobrevivência.
- Você pode arranjar em outros lugares. – falo e ela nega com a cabeça.
- Eu consigo aguentar esse emprego por mais um tempo. – ela fala, sorrindo em seguida.
Ficamos na recepção por mais um tempo, até que um médico me chama, e eu caminho até o consultório com a ajuda de .
Será que aquele dia tinha como piorar?
(...)

Saio da escola com pressa. Estava atrasada para o meu almoço de sempre, além de ter inúmeras ligações não retornadas de , que deveria estar querendo saber onde eu estava.
Caminhei depressa, parando no nosso ponto de encontro: a mesma barraquinha de cachorro quente de todos os outros dias.
Eu deveria comer algo sólido, certo? Deveria, se eu tivesse tempo o suficiente.
- Até que enfim você chegou! – ela exclama assim que eu paro ao seu lado, pegando minha carteira no bolso da calça jeans. – Você está bem?
Por sorte ou azar do destino, meu pé não havia quebrado nem nada, o que não me impossibilitava de trabalhar. Eu deveria tomar apenas alguns remédios e fazer compressas de gelo quando sentir muita dor, nada além disso.
- O mesmo de sempre, senhorita? – o senhor indaga, pegando o pão dentro de uma vasilha. Concordei com a cabeça, sorrindo cordialmente para ele. – Senhor ! O que faz aqui pelo segundo dia consecutivo?
Levanto meu rosto, vendo o mesmo homem de ontem, com roupas esportivas e um Golden Retriever ao seu lado. E, novamente, meu coração quase veio na boca ao olhar naqueles olhos .
- Boa tarde, senhorita. – ele fala, abrindo sua carteira em seguida. – Está bem?
- Ah, estou. – falo, tentando não parecer uma idiota na sua frente. – E me desculpa pela grosseria de ontem.
- Não foi nada. – ele diz, dando algumas notas de dinheiro para o senhor a nossa frente. – Eu só queria saber se você estava bem, mas vejo que está.
Dei um sorriso de lado, pegando meu lanche, sorrindo agradecida e indo sentar junto de .
- Ok, o que foi aquilo? – ela indaga, mordiscando seu sanduíche. – Quem é aquele deus grego e por que vocês estavam conversando?
- De verdade? Eu não sei o nome. – falo, dando de ombros em seguida.
- De que importa? Ele é bonitão! – ela exclama, me fazendo rir fraco. – E você gostou dele.
- ... – começo, ouvindo minha melhor amiga bufar.
- Você não precisa mentir ou encobrir algo. Ele é bonito, e você se sentiu atraída. É algo normal. – ela fala, dando de ombros em seguida. – Só não pode deixar uma oportunidade dessas passar.
- Eu sei. – falo, olhando rapidamente para o rapaz, que estava sentado num banco distante do nosso.
Não sei qual motivo, mas ele me olhou no mesmo instante, fazendo com que trocássemos um olhar rápido, e eu senti minhas bochechas esquentarem.
Algum tempo passou. Eu conversava com sobre assuntos aleatórios, enquanto a hora do meu almoço não acabava.
- Vai lá falar com ele. – ela sussurra enquanto levantamos para jogar as coisas na lixeira. – Você está louca para fazer isso.
- E se ele achar que eu sou uma idiota? – indago, resmungando e tentando não olhar para o rapaz sentado a poucos metros de distância, concentrado demais em seu celular para saber se eu falava dele ou não.
- Ele não vai, relaxa. – ela fala, puxando-me pelo braço para irmos até ele.
Quando eu parei em frente a ele, senti vontade de correr e fugir dali. Eu estava parecendo uma adolescente! Eu não deveria agir como uma, certo?
- Oi? – ele indaga, e só agora percebo que ele me encarava, tão confuso quanto eu. – Você quer algo?
- Ah, eu só queria perguntar qual... O nome do seu cachorro? – indago.
Ok, alguém me dá o prêmio de maior burrada do ano.
- Esse é o Rex. – ele fala, acariciando o pelo do animal. – E o meu, se lhe interessar, é . Mas me chamam de .
- Eu sou a , mas me chamam de . – falo, sorrindo de lado. – Eu posso fazer carinho nele?
Ok, agora eu estava parecendo uma criança que vê um cachorro pela primeira vez na vida.
Ele concordou com a cabeça, me fazendo agachar e acariciar seu pelo.
me encarava com um sorriso de lado, enquanto eu controlava a vontade de espirrar, por conta da alergia a pelos. Aquilo era no mínimo constrangedor.
- Você não parece muito confortável. – ele diz pela primeira vez em alguns minutos.
- Como assim? – indago, olhando para ele, e cortando nossos olhares pouco tempo depois.
- Você está vermelha. – ele disse, rindo fraco em seguida.
- Eu sou alérgica. – falo, ficando de pé logo depois. – Eu queria apenas me aproximar. Vejo que sou uma idiota.
Antes que eu retornasse a caminhar, sinto sua mão tocar meu braço, fazendo um arrepio percorrer todo o meu corpo.
- Ainda bem que você fez isso. – diz, sorrindo de lado assim que eu o fitei. – Porque eu também queria me aproximar de você.
Meu coração saltou e eu sorri, mexendo no meu cabelo, uma mania que eu peguei quando estava com muita vergonha.
- Eu quero conhecer você. De verdade. – ele diz, pegando um pedaço do guardanapo limpo que ele segurava. – Anota seu número?
- Eu não costumo dar meu telefone para alguém que conheço há tão pouco tempo. – falo, rindo depois.
- Quanto tempo é necessário para você? Eu posso esperar. – ele fala, me fazendo rir.
- Não sei. Mas agora eu preciso ir. Até breve. – falo, caminhando para longe dele.
Não poderia dar a ele o gosto de me ter em suas mãos, por mais envolvida que eu esteja.
Ah, por que isso é tão esquisito e, ao mesmo tempo, tão bom?
(...)

A semana se passou e eu não consegui encontrar uma única vez durante os dias. Durante o fim de semana, preparei provas e trabalhos para meus alunos, tendo a mínima oportunidade possível de sair e caminhar pela Waterloo Bridge, nosso local de encontro.
Segunda, além do início das provas, tínhamos também o início da semana do trabalho. Era uma semana importante para a escola num todo, onde alunos traziam parentes ou não parentes para apresentarem as suas profissões e falarem sobre ela num debate amigável. E, como professora de história, eu era a responsável por aquilo.
- Srta. ! – Nicole, uma das minhas alunas, exclama, correndo em minha direção. – Meu tio chegou para se apresentar.
- Perfeito! – falo, olhando para o relógio em meu pulso. Adorava a pontualidade britânica. – Já está tudo organizado para isso.
Ela sorriu, indo para o lado de fora da sala de debate da escola.
Poucos alunos se interessaram por aquilo.
- Bom, o nosso primeiro convidado da semana chegou. Recebam o tio da Nicole! – exclamo, ouvindo uma salva de palmas, e eu logo vou sentar no meu lugar, ao lado do palco.
Quando Nicole apareceu, eu senti meu estômago revirar. Não sabia se era pelo almoço de hoje, ou pela pessoa que estava dando a mão para ela.
- Oi, pessoal. Eu sou , ou . – ele fala, me fazendo arregalar os olhos, sentindo minhas bochechas esquentarem. – Eu sou piloto de avião.
Ele olha em minha direção, sorrindo de lado. Acenei disfarçadamente, tentando não prestar atenção no seu traje.
Ele estava tão bonito naquela roupa de piloto que eu poderia tirar uma foto e guardar de recordação nas noites solitárias.
- Vocês devem pensar que ser piloto é fácil. Bom, se fosse fácil, eu não pensaria em desistir toda vez que eu sou escalado para um voo. – ele fala, arrancando algumas risadas. – Porém, o melhor de tudo, é o tanto de mulher que você atrai com essa roupa. Se vocês pensarem, tem um lado positivo.
Rolei os olhos, apertando minhas mãos com mais força.
- Eu sou piloto há 17 anos. Comecei aos 23 sem nenhuma perspectiva de crescimento na área, e, durante todos esses anos, meu amor só aumentou. – ele fala, pegando o microfone e caminhando pelo pequeno palanque.
Ele continuou falando, e respondeu algumas perguntas, fazendo todos se interessarem por aquilo, de fato.
- Então, você é professora da minha única sobrinha? – ele indaga, pegando um copo e se servindo de café.
- Dá para acreditar? – indago, sorrindo de lado em seguida. – E você tem 40 anos? Ou eu sou péssima em matemática?
- Não, eu tenho 40 anos mesmo. – ele fala, apoiando sua mão na mesa. – E você? Vai me dar o número do seu telefone?
- Vou pensar no seu caso. – falo, sorrindo e caminhando para perto de meus alunos, que conversavam entre si. – Alguém tem alguma pergunta para fazer ao tio da Nicole?
- Por favor, me chame de . – ele diz, parando ao meu lado. Sorri de lado, dando de ombros logo depois.
- É verdade que esse uniforme atrai muitas garotas? – um dos alunos indaga, arrancando risadas ao redor.
- Bom, acho que sim. Mas eu não uso isso para atrair. – ele fala, ajeitando o colarinho da camisa social. – Eu uso somente para o trabalho. Apenas isso.
Outras pessoas perguntaram, e logo chegou ao fim.
- Obrigado por me receberem. – disse, sorrindo e pegando um salgadinho que estava na mesa. – Foi divertido.
- Digo o mesmo. – falo, sorrindo e olhando em seus olhos. Aqueles lindos olhos que mais pareciam o céu em dia de calor. Aqueles mesmos olhos que eu perdi todo o meu autocontrole. – Eu preciso ir.
- Quer carona? – Nicole indaga, colocando a mochila nos ombros.
- Não, eu consigo ir sozinha. – falo, recebendo um abraço de minha aluna.
- Tem certeza? – ele indaga enquanto a sobrinha se afasta, indo conversar com suas amigas. – A gente se vê?
- Espero que sim. – falo, sentindo minhas bochechas esquentarem, fazendo-o sorrir e acenar, afastando-se de mim.
O que ele estava fazendo com o pouco de sanidade que ainda habitava em mim?
(...)

Estava sentada no parapeito de concreto, vendo as balsas passarem debaixo de meus pés. Minha mochila estava no chão, junto de pastas de trabalhos e provas que não tinham fim.
Duas semanas. Duas semanas desde aquele dia que nos encontramos na escola, e eu estou enlouquecendo.
Não tenho notícias suas. Não o vejo mais com seu cachorro, e nem sei se ele ainda quer me ver.
É nesses momentos que me arrependo de não ter dado meu telefone quando tive a oportunidade.
Eu sentia vontade de perguntar a Nicole como ele estava, mas seria um absurdo de minha parte deixar minha aluna saber que eu estava ligeiramente interessada no seu tio. Ou não seria?
Por fim, eu precisava espantar todos os males que me espantam e perceber que eu fui, sim, uma idiota. Que eu fui derrotada na Waterloo Bridge, assim como Napoleão foi derrotado durante o seu império.
Eu fui derrotada. Eu me sentia uma derrotada.
- O que faz aí? – ouço alguém indagar e eu sinto meu coração quase parar na boca.
Olho para o lado e lá estava ele. As mesmas roupas de corrida, junto de Rex e o mesmo rosto galanteador, com uma barba por fazer que o deixava ainda mais bonito.
- Vai dizer que sentiu minha falta ou eu vou ter que confirmar isso por conta própria? – ele indaga, me fazendo rolar os olhos. – Ok, não precisa dizer se não quer.
- Você é sempre tão convencido? – indago, descendo e acariciando o pelo de seu cachorro, que abanava o rabo animado.
- Quase sempre. – ele fala, dando de ombros em seguida. – Eu tenho um pedido.
- Não, não teremos mais nenhum evento daqueles no colégio. – falo, arrancando uma risada dele.
- Você quer finalmente sair comigo? – ele indaga, me fazendo sorrir de lado.
- Acho que sim. – falo, ficando de pé segundos depois.
- Para isso eu preciso do seu número. – ele fala, arqueando uma das sobrancelhas. – Sabe, é pra contato.
- Nenhum interesse além desse? – indago, sorrindo em seguida.
- Não sei, me diz você. – ele fala, sorrindo galanteador, fazendo um arrepio percorrer todo o meu corpo.
Aquele cara não deveria ser real.
- O que justifica seu sumiço? – indago enquanto anotava meu número num papel.
- Trabalho e mais trabalho. – ele fala, apoiando seu corpo no parapeito. – Eu mandaria mensagem, se eu tivesse seu telefone.
- Ei, isso foi um truque. Queria saber se você desistiria. – falo, colocando o papel no bolso de sua bermuda.
- Bem, você descobriu agora que não, eu não desisti, e nem pretendo desistir. – ele fala, mandando uma piscadela.
- Você sempre usa isso com as mulheres? – indago, pegando minha mochila no chão e colocando em um dos ombros.
- Não, você foi a primeira que eu decidi usar. – ele fala, pegando na coleira.
Ri fraco, começando a caminhar para a direção contrária dele, não antes de olhar para trás e acenar, tendo a certeza de que ele estava ali.
Por sorte, aquela parte do dia seria para aplicação de provas. Nenhuma aula, nenhuma apresentação e nenhum piloto de avião aparecendo e mostrando como o mundo poderia ser pequeno.
: Meu cachorro quer saber se você não quer sair hoje a noite...
: Seu cachorro, é? Avise a ele que eu sou alérgica.
: Ele sabe. Ele disse que não é com ele, é com o dono dele. Sabe como é? Você o acha mais irresistível do que o cara que o leva para passear todo santo dia.
: Hum, manda para ele que eu aceito. Às nove?
: Ele disse que esse horário está ótimo.
: Diz que eu tenho aula amanhã.
: Ele disse que você não vai perder seu horário, tampouco seu tempo com esse cara.
: E você tem certeza disso?
: Absoluta!
Parei de responder as mensagens, recebendo notificações a cada cinco segundos de , que insistia em me perturbar via SMS.
No que eu estava me metendo?
(...)

- Aonde vamos? – indago assim que entro em seu carro.
- Na casa dos meus pais. – ele fala, me fazendo arregalar os olhos. – Relaxa! Eles não estão! É que eu moro lá.
- Você ainda mora com seus pais? – indago, colocando o cinto de segurança.
- Nem todos conseguem ser independentes. – ele fala, dando de ombros. – Eu viajo muito, então não vi necessidade em sair de casa.
- Ok, você está certo. – falo, fazendo o homem ao meu lado rir.
Ele dirigiu e, enquanto isso, conversávamos, e ele me pediu para falar sobre minha vida como professora, o que me fez falar mais do que ele.
- Minha sobrinha falou que você deu a última matéria sobre Império Napoleônico. – ele fala, virando numa rua movimentada.
- É minha matéria preferida. – falo, sorrindo em seguida.
- Eu detestava essa parte de História. Detestava história num geral. Mas Napoleão me irritava demais. – ele fala, me fazendo encara-lo. – O que foi?
- Quer que eu saia desse carro agora ou depois? – indago, cruzando meus braços.
- Nunca. – ele fala, e eu sinto meu coração disparar.
Ok, ele estava sendo bom nesse jogo.
Logo ele foi diminuindo a velocidade, parando em frente a um casarão de cor amarela, com um gramado e um carvalho, além de um pneu pendurado em um dos galhos.
- Bem-vinda. – ele fala enquanto me ajuda a descer do carro. – Rex deve estar do lado de fora da casa, e não irá nos incomodar durante a noite. Mas, para o bem maior, você trouxe seu remédio?
- Sempre estou com ele. – falo, sorrindo em seguida.
Caminhamos pelo gramado, e logo ele abre a porta, me deixando entrar primeiro.
- Sua casa é bonita. – falo, colocando o sobretudo num cabideiro.
- Obrigado. Mamãe que arruma. – ele fala, dando de ombros em seguida. – Vem! O nosso jantar está lá fora.
Ele segura em minha mão, me puxando para caminharmos pela casa, logo chegando à cozinha, que dava para a área de trás.
- Então, foi por isso que escolheu que viéssemos para cá? – indago, sentando numa cadeira em seguida.
De longe, conseguia ver a Waterloo Bridge e suas luzes, iluminando a noite junto da London Eye.
- Foi ali que nos conhecemos e nos encontramos, e eu gosto de ser romântico. – ele fala, colocando vinho na minha taça. – E aqui é nossa primeira noite.
- Primeira noite? – indago, pegando uma torrada que estava na cesta entre nós dois.
- Se depender de mim, sim. – ele fala, me fazendo sorrir. – Só depende de você agora.
O fitei com um sorriso de lado. Ele segurou minha mão, acariciando a mesma com o polegar, fazendo algo em meu interior se acender, fazendo uma festa. Pelo menos era aquilo que eu sentia.
- Até nos cansarmos um do outro? – indago, bebendo um pouco do vinho delicioso que ele havia escolhido para a ocasião.
- Até nos cansarmos um do outro. – ele fala, me fazendo rir e concordar.
E foi ali que a minha confirmação de horas atrás se manteve. Eu fui realmente derrotada. Porém, eu não sentia a derrota. Tudo que eu sentia era um prazer imenso de estar ali, com ele, além de sentir todas as sensações que até então eram desconhecidas, mas que eu passaria a conhecer no decorrer do tempo.
Bom, espero que eu descubra com ele, e que ele descubra tudo o que sente comigo.





Fim



Nota da autora: Sem nota.



Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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