Capítulo Único
Tudo estava tão barulhento e colorido naquele lugar. Quente, sufocante. Os pés de o levaram para fora de tudo aquilo, longe de todas aquelas pessoas. Ele – em seu estado embriagado – só queria estar em um lugar, com uma só pessoa.
.
Seus conhecidos não estavam à vista, todos perdidos pela grandeza daquele bar. Cabelos soltos, presos, batidas de música sem o menor sentido, mas que mesmo assim faziam pessoas chegarem a sentir prazer em estar ali. Ele próprio costumava sentir. Então apareceu a garota – com toda aquela calmaria e sonhos na palma da sua mão. Ela o fazia achar que podia ser melhor, que aquela vida de bebidas, festas, garotas e drogas era para pessoas sem expectativa. Ele queria ter expectativa, queria ter sonhos como ela, porque queria estar à altura dela.
Ele se viu curioso por ela simplesmente porque não entendia os motivos dela de ser assim. Queria saber o que a divertia senão as loucuras que ele adorava encontrar nos vícios. tinha poucos amigos porque não gostava de se abrir para qualquer pessoa. As pessoas o encaravam estranho por causa de todas aquelas tatuagens que cobriam seu corpo. Suas roupas escuras e o cabelo bagunçado eram indispensáveis. Mas nunca teve medo ou preconceito. Nunca perguntou-lhe os motivos de só querer sexo das garotas e nada mais, ou os motivos de ele se afogar nas bebidas sempre que algo o chateava. Quando ele aparecia com os punhos machucados na faculdade, ela procurava curativos. Quando ele chegava de ressaca, ela dava-lhe comprimidos. Ela o viu em seus piores momentos, mas nunca se afastou.
Ele queria saber o porquê.
caminhou por entre as ruas tão frias quanto o gelo do whisky que ele bebeu mais cedo, tendo seu casaco como um amigo que o abraçava. Ele estava lúcido o suficiente para caminhar por entre as poucas pessoas nas ruas e lembrar-se do caminho certo que o levava à ela, mas bêbado o suficiente para ter coragem de procurá-la neste horário.
Ele checou seu pulso, o relógio marcava 01:25 da manhã. O medo de ela não estar acordada não era maior que o de não vê-la. Aqueles olhos que o aqueciam, a risada alta e indiscreta que o fazia sorrir também...
Entrou na rua familiar para ele e caminhou mais depressa por saber que estava cada vez mais perto dela. Quando deu por si, estava na porta do seu apartamento apertando a campainha e suando feito louco. Sentia o álcool evaporar das veias e o deixando sozinho, levanto a coragem junto.
A primeira coisa que seus sentidos captaram foi o resmungo da garota. Ela abriu a porta coçando os olhos com uma carranca engraçada. não pôde evitar observar ela por inteiro, desde os pés descalços com os esmaltes das unhas descascados até o rosto amassado, marcado pelo sono. Seu corpo naquele pijama provocava-o sem intenções diretas.
– ? – A garota perguntou surpresa.
– Hm... Oi.
Ela ficou sem reação por alguns segundos, mas logo o chamou para entrar. hesitou enquanto coçava a nuca, mas sabia que era tudo o que queria: estar perto dela.
Ela sentou-se no sofá e chamou ele para o seu lado com um gesto.
– Você está bem? – Ela o avaliou. – Você tá bêbado.
– Eu tô bem. Só queria ver você. – Ele falou sem deixar o nervosismo se apoderar da sua voz.
o olhou duvidosa, mas depois sorriu genuinamente.
– Está tão tarde, ... Quando é que você vai colocar juízo na sua cabeça e parar de comer três garotas por noite enquanto bebe whisky?
sabia que mesmo que ela tentasse dar sermão, nunca conseguia. Ele só precisava fazê-la rir e ela esqueceria as coisas ruins que ele fazia, mas que estava evitando fazer desde que se percebeu encantado por ela.
– Ah, ! Só porque você nunca conseguiu arranjar nenhum cara pra te foder nas festas, não significa que seja chato pra todos nós, pessoas normais. – Ele riu. fingiu indignação e deu um soco no ombro dele. A risada dos dois se misturou na sala do pequeno apartamento, deixando um conforto casual no ambiente. O conforto que buscava desde o início da noite, quando negou para si mesmo que não precisava dela para sentir essa paz, pois conseguia fazer isso sozinho. Agora tinha confirmado seu medo, estava errado.
prometeu que iria buscar água e café puro, alguma coisa que o deixasse menos "fodido", segundo o próprio vocabulário usado por ela. riu.
Depois de garantir que tivesse tomado todo o líquido dos dois copos, deitou no tapete felpudo da sala. juntou-se a ela.
– Lembra quando você me disse que sempre amou poesia, daquelas bem ridículas, cheias de romancinho? – A voz rouca do garoto se proferiu sobre o silêncio que estava antes.
mantinha os olhos fechados enquanto seus ombros roçavam os de , mas ela assentiu, sabendo que ele estava olhando para ela.
ficou quieto. Sua mente agora sem álcool o fazia pensar em todos os "e se" e em todos os medos que ele tinha. abriu os olhos devagar e virou a cabeça para ele. a olhou também. Tão perto, ele pensou. Queria poder estar assim perto dela em todas as horas, sem precisar usar desculpas como a bebida, sem precisar fingir que estava se divertindo bastante nas festas e depois aparecia na casa dela para passar o tempo. Para ele, o maior divertimento era estar com ela. Contava as horas para o tempo passar, evitava as pessoas nas festas, só bebia para tomar a coragem necessária para vê-la. As garotas que sentavam em cima dele – literalmente – ele dispensava. Não queria. Se fosse antes, não pensaria duas vezes antes de foder qualquer garota apresentável que se oferecesse. Agora, sentia repulsa. Procurava nelas aquele brilho no olhar. A paixão por fotos, a ambição nas palavras, a audácia dos pensamentos de ). Até a droga da cor do cabelo, mas não achava nada em ninguém. Nada lhe trazia aquela sensação de calma, de que tudo estava completo. "Se você tá trocando um boquete por essa garota, então a coisa tá séria, cara", o melhor amigo de , , disse quando o garoto foi procurar por ajuda. Não sabia o que estava acontecendo com ele, mas queria estar perto dela. Queria não só vê-la sorrir, mas queria ser única e exclusivamente o motivo de fazê-la sorrir.
– ? – a voz de o tirou de seus devaneios.
Ele voltou a olhar para ela, reconheceu a pergunta no seu semblante.
– . – Ele pensou antes de falar. – Por quê?
A garota estava intrigada. Ela queria uma resposta, e não uma pergunta.
– Por que o quê? Por que você tá bêbado? Não sei, vai ver tinha bebida na boca de alguma loira que você usou hoje... – Ela riu como se tivesse contando uma piada muito engraçada. não achou graça.
– Por que isso tá acontecendo com a gente?
Ele finalmente soltou o resto da pergunta que estava oculto.
– Do que você tá falando? – ela sorriu, envergonhada.
– Não. – Ele a olhou nos olhos. – Não se faça de dissimulada. Você sabe do que eu tô falando, então me diz.
Os olhos dele tinham desespero, ele sabia. Já tinha se perguntado isso várias vezes e não conseguiu chegar a nada. Já tinha se perguntado se caso ele saísse com outra pessoa sentiria a mesma coisa, mas ele nunca saberia, porque não queria nem tentar. Queria estar perto dela sempre que possível.
olhava para qualquer lugar menos para ele. Encarar os olhos de seria difícil. Ela tinha medo de lidar com isso. Aquele menino vestido de homem a deixava nervosa, ela já tinha se perguntado uma e outra vez o motivo, e agora ele estava ali, ao seu lado, perto demais perguntando a mesma coisa.
– Eu não sei. – Ela sussurrou, sincera.
Eles ficaram calados por alguns segundos olhando pro teto sem saber o que dizer. pensou sobre o tapete extremamente confortável, sobre o gosto de café que ainda estava na sua boca, sobre a parede clara com quadros coloridos trazendo um contraste pacífico. Ele pensou em pegar nas mãos dela e fechar os olhos. Eles não precisariam se explicar agora, nem tentar achar razões. Ele queria sentir a paz que ela lhe trazia, mas não queria lidar diretamente com isso.
– Já tá tarde, – começou a falar sem ainda o olhar. – Você não devia sair por aí sozinho esse horário. Você pode ficar aqui, tudo bem?
procurou o olhar dela e achou por alguns segundos. Ele não tinha nada para falar. Sua língua tinha sido engolida por um tigre, ao invés de um gato. É claro que ele ia ficar, ele por acaso tinha escolha? Tudo que aqueles lábios pedissem, ele cumpriria por puro e claro prazer.
Ele levantou-se do chão e foi em direção ao sofá enquanto a garota sumia pelo corredor em busca dos cobertores. tirou um pedacinho de papel que tinha no bolso, que apesar de ser dobrado com todo o cuidado que ele podia ter, ainda ficou amassado e feio. Ele ficou frustrado. Havia passado mais uma noite ao lado dela sem ao menos entender o que acontecia entre os dois. Sem saber o que era essas palavras ridículas que flutuavam na sua mente toda vez que pensava nela.
Ele queria saber o porquê. Na verdade, ele sabia. Tudo que estava ali dentro, ele sabia bem o que era, mas não queria acreditar. Mas era só olhar para aquele pedacinho de papel dobrado em suas mãos com as letras mais cursivas do que o normal devido a intencional atenção que ele deu para cada verso.
Cheguei ao ponto de escrever essas merdas, guardou os pensamentos para si próprio. voltou pelo corredor, hesitante. Queria poder responder ele melhor, mas não conseguia responder nem a si mesma.
Eles não trocaram uma palavra até ele estar devidamente coberto e confortável no sofá. Ele o olhava curioso e apelativo, pedindo que ela o olhasse também de forma inaudível. Ela sentia o olhar a queimar, mas não se deixou levar.
Ela desejou boa noite com um sorriso singelo e a última coisa que ouviu antes de entrar no quarto foi um “boa noite” baixinho.
Ele não aguentava mais. Precisava falar pra ela. Precisava saber que tentou. não sabia dizer se já tinha ouvido alguém falar isso ou se ele próprio criou esse conceito na cabeça, mas a frase “é melhor sentir dor depois de ter tentado, do que sentir arrependimento por não ter feito nada” ecoava em sua cabeça. Ele levantou-se do sofá com as costas doídas e caminhou em círculos tentando pensar em alguma coisa. Ele tinha que achar um jeito de fazer isso.
Não é como se ela estivesse esperando uma serenata ou algo assim. Não é como se ele fosse fazer algo assim. Eram só palavras. Palavras que poderiam mudar a vida dele, todo o sentimento que ele trabalhou para crescer escondido, em baixo dos panos. Mas aquela dúvida o consumia por inteiro. Sua testa e mãos suavam de nervosismo.
Num movimento súbito, ele foi até o quarto dela. A porta estava fechada mas não trancada, ele sabia. Ela tinha dito uma vez em uma conversa entre os dois. Suas mãos hesitantes seguraram a maçaneta como se aquilo fosse o fio que os ligava à vida.
Então ele abriu.
Seus olhos logo se adaptaram ao escuro e ele pôde ver a silhueta da garota embaixo do cobertor. Ela dormia mais para o lado esquerdo da cama, deixando o direito vazio. Por algum motivo, sentiu uma sufocante vontade de ocupar aquele lugar. Ele sentou lá, de costas para ela, não querendo ser abusivo demais. Apoiou os cotovelos sob as pernas e o rosto nas mãos, esfregando as pálpebras. Ele sentia a adrenalina correndo por suas veias, mas também o medo. não costumava sentir-se assim. Não gostava de ter medo, incerteza ou de ser hesitante. E ele sempre fora o oposto disso; calmo, nunca ligava para as consequências de nada do que fazia.
Mas era . Era tudo sobre ela.
Antes que pudesse passar mais minutos torturando a si mesmo, sentiu uma mão suave e quente em sua costa nua e arrepiou-se com o toque. A droga do toque, pensou.
– O que você tá fazendo aqui? – Ela sussurrou.
– Eu não sei. – Ele sussurrou de volta. – Por que estamos sussurrando?
Ela riu e deu de ombros, o que o fez rir também.
– Você tá bem? – perguntou nervosa. Assim como , ela também tinha medo. Qualquer palavra mal dita poderia custar alguma coisa entre eles, e ela não estava disposta a arriscar.
Ele olhou para ela. pôde ouvir a si mesmo prendendo a respiração. Ela estava ali, tão vulnerável. Aqueles olhos o enxergavam, não só o viam. Havia uma diferença. Todas as pessoas com quem esteve apenas o viam, mas não. Os olhos dela podiam vê-lo de verdade, por baixo de toda aquela armadura preta que o cercava. E, mesmo assim, ela ainda o olhava. Ainda tinha ansiedade nos olhos e ainda umedecia os lábios. Ele era encantado por aqueles olhos.
sabia que tinha uma pergunta para responder, mas não ia. Precisava falar antes.
– Eu tenho uma coisa pra você – ele disse e rezou para o medo não estar evidente na voz. – Você tem que prometer que vai ouvir e vai me deixar sair sem falar nada, . Por favor.
– Sair? – Ela sentou-se na cama. – Pra onde você vai?
– Sair, . Não vou poder ficar aqui depois. Agora promete.
– Eu prometo se você prometer que vai voltar. – respondeu com uma das sobrancelhas arqueadas.
Ele deu um sorriso tão pequeno que se ela não conhecesse tão bem o rosto do garoto, nem ia notar. sabia que aquilo era um sim, então sorriu também.
– Seus olhos refletem a minha paz, espelho./ Teu corpo me deixa a espera de mais, anseio./ O arquejar das tuas sobrancelhas me diz o que é certo ou errado, conselho./ Teus lábios, da cor mais natural, me deixam louco, vermelho./ A minha alma, à espreita, se permite flutuar em ti, no meu amor, verdadeiro.
terminou sem fôlego. Queria correr. Não queria olhar pra ela, mas se atreveu por dois segundos. Dois míseros segundos. E viu no rosto dela o que ele temia encontrar. Os olhos dela estavam perdidos, assustados. Ele a assustara.
levantou-se da cama sentindo o olhar dela sob ele e deixou o quarto, assim como também deixou o apartamento depois de pegar sua camisa.
Já era noite. tinha deixado na madrugada passada, quase 24 horas sem ver a garota. Ansiedade e insegurança eram companheiras para ele naquela noite no seu quarto. O garoto sentiu o celular vibrar pela sexta vez em uma hora e o ignorou como nas outras vezes. Sabia que podia ser ela, mas também sabia que podia ser ela dizendo que ele era ridículo.
Covarde.
Ele sentia vergonha do que era, mas sabia que era verdade. Não tinha como mentir. Estava fugindo de .
sabia que ia acabar ali no bar. Sempre soube que seu destino final das noites fazia mais sentido ali, ao invés do apartamento da garota. No bar, pelo menos, ele sabia que tudo tinha uma rotina e nunca ia mudar: ele ia ficar bêbado, sair com alguma ou algumas garotas dali e de algum modo acabar no banheiro do apartamento com a cabeça na privada.
Seus pés o levavam no piloto automático até o banquinho que ele costumava sentar. Quando sentou, pediu sua bebida e deixou sua cabeça divagar para qualquer lugar longe dela.
– Eu sabia que ia te encontrar aqui. – A voz de o assustou. É claro que ela estava ali. pensou em se levantar e ir embora, mas antes que fizesse isso, ouviu a voz hesitante e baixa da menina de novo. – Você prometeu que ia voltar.
Ele a olhou. Lá estava ela de novo, com aqueles olhos o encarando como se visse alguma coisa boa nele. Olhos cheios de esperança, de calma, de paz. Tudo o que queria pra ele. Era difícil resistir.
– Eu sei. – Ele sussurrou.
Agora, além do medo, também sentia vergonha. Odiava ser tão vulnerável à ela, seus sentimentos dependiam do que ela sentia também, e ele sabia que ela estava chateada.
– , a gente devia conversar, você sabe... – Ela remexeu sua bebida com o canudinho e sentiu vontade de rir quando viu que era refrigerante.
– Você veio para um bar por minha causa e, é claro, está bebendo refrigerante. Típico. – O garoto riu. Não seria ele se não tentasse fazer alguma piada ridícula. E por incrível que pareça, ela também riu e deu uma cotovelada na costela dele.
– Você não pode fugir pra sempre. – Ela sorriu sem mostrar os dentes, mas ele não sorriu dessa vez.
– A gente devia ir pra outro lugar – ele pegou o casaco dela que estava pendurado na cadeira e foi caminhando em direção a porta sabendo que estava bem atrás dele.
Os dois entraram em profundo silêncio assim que saíram do bar. pareceu perceber que aquilo era real, estava acontecendo, e agora sentia os dedos formigarem.
No carro dela tudo era limpo e cheirava a morango. fingia estar extremamente concentrada do trânsito, mas estava ciente de cada respiração funda que dava e de cada vez que ele mexia nos cabelos.
Os dois desceram sem se olhar e entraram no apartamento como dois estranhos. não queria sentir isso. Queria que deitasse no tapete com ela e que eles ficassem conversando – e rindo – por horas e horas como sempre fizeram.
não sabia como agir. Ficou parado na porta olhando ao redor como se nunca tivesse estado ali, fingindo que não percebia nada de estranho entre os dois. Então , depois de respirar fundo, passou por ele e se deitou no tapete olhando pro teto.
– Você não vem? – Ela perguntou inocente, sem olhar para ele.
não respondeu, só andou até ela e deitou ao seu lado.
– ... – Ele tentou. Não saiu nada além disso.
- Tudo bem. Eu sei. – Ela riu. – Eu devia falar agora.
Os dois ficaram calados de novo. Parecia um ciclo: eles tentavam falar e depois voltavam para o silêncio incômodo.
– Aquilo foi muito bonito. – Ela sussurrou. – Uma das coisas mais bonitas que já disseram pra mim.
Ele assentiu. Não sabia mais o que fazer. Só queria que toda essa agonia passasse. Ele sentia culpa, também, depois de ver como os dois estavam se tratando.
– Você disse que me ama. – Ela deixou escapar. – Teve uma parte, no final...
– “A minha alma, à espreita, se permite flutuar em ti, no meu amor, verdadeiro”. – citou sem precisar ler, já que tinha passado o dia todo lendo e relendo aquilo, tentando achar alguma coisa que explicasse o motivo de ele ter ido embora.
Ela olhou pra ele. Essa era a base dos dois, os olhares. Foi como tudo começou.
– Então eu interpretei certo? – Ela sorriu. sabia que ela estava se referindo ao que ela disse antes sobre ele a amar.
– É a sua vez agora, . – riu sem graça. Ela deu um sorriso que se desmanchou dois segundos depois, assim que ela olhou para o teto de novo.
– Você é bastante fotogênico. – Ela murmurou. O garoto repetiu a frase mentalmente várias vezes tentando entender o que ela queria dizer e pareceu perceber. Riu como se tivesse uma contado uma piada interna, e talvez ela tenha o feito, porque não conseguiu achar graça, então chamou o nome dela tentando fazer com que ela se explicasse.
– Eu tenho fotos suas. Muitas. Você nem percebe quando eu tiro. Finjo que tô mexendo na câmera, mas eu tiro fotos suas. Você rindo de olhos fechados, você bêbado, você conversando com um cachorro... Eu adoro fotos, e você sabe disso. Elas têm um significado forte pra mim. Elas são um portal congelado. Quando eu olho pra elas, gosto de lembrar o que eu vivi naquele dia, lembrar do cheiro que eu senti, das risadas... – Ela suspirou e fechou os olhos se concentrando, como se estivesse narrando uma história. – Eu amo isso, . Amo lembrar daqueles momentos bobos que todos esquecem, e o meu jeito de lembrar é ver eles de novo pelas minhas fotos. A lente da câmera é uma máquina do tempo, ela é cada um dos meus olhos em um tempo que já passou. Você entende?
assentiu. Entendia o que ela estava tentando falar, mas ainda não tinha entendido o que fotos dele tinham a ver com isso, mas sabia que ia explicar. Ela tinha aquele olhar que ele amava ver, o sonhador e cheio de esperança. Era lindo. Ele sabia que ela ia continuar contando e, enquanto estivesse contando, ia ter aquele olhar no rosto. Ele queria mantê-la falando pra sempre.
– Eu gosto de viver cada segundo ao seu lado. Esse é o ponto. Por isso as fotos suas. Eu quero lembrar de todos eles, porque você é o meu portal congelado preferido.
Ela o olhou apenas uma vez, então voltou a olhar pro teto.
Esse era o jeito dela, sabia. Ela era como ele. não usou as palavras tradicionais, mas disse que a amava do jeito dele. Ela acabara de fazer o mesmo.
– Então, estamos usando metáforas aqui, huh? Rimas, e agora portais congelados. – Ele sorriu. Seus lábios se espalharam pelo rosto de uma forma tão calma e pura que quase não reconheceu. Queria poder congelar aquele portal. Ela estava derrubando as barreiras que ele construíra ao seu redor e ele não estava ao menos se importando. Na verdade, talvez até estivesse ajudando ela com isso. Ele estava se apaixonado – talvez já estivesse completamente apaixonado – e isso o deixava livre e leve. O deixava em paz. Pura serenidade.
Ela levou o braço um pouco mais pra esquerda e segurou as mãos dele na sua. Já tinham feito isso bilhões de vezes, mas agora parecia muito mais intenso. queria mais.
O garoto inclinou-se e posicionou seu rosto de frente para o dela, dessa vez não fugiu do olhar, queria estar ali completamente.
a olhou nos olhos como sempre fazia, já que eles eram seu ponto fraco. Eles eram tudo. Representavam por inteira, e era por isso que ele era encantado por eles. Irresistíveis. Pediam por ele, diziam que o amava sem que um som precisasse sair dos lábios da garota. desceu o olhar para o rosto dela e observou tudo detalhadamente, como se nunca a tivesse visto. E era quase verdade, essa era a primeira vez em que ele podia olhar para ela dessa forma, então ele faria isso. Passou os dedos pelas bochechas macias, tocou a ponta do nariz dela a fazendo sorrir, até que chegou aos lábios e os contornou com a ponta dos dedos.
– Eu quero isso tanto que me assusta – Ele murmurou. – Beijar você parecia tão difícil, que agora eu sinto que não é real.
– Bem, – ela rolou os olhos. – vou ter que te provar que é real, então.
o beijou suavemente, primeiro apenas encostando os lábios para depois aprofundar. Ele segurava o rosto dela com as duas mãos, como se ela fosse fugir a qualquer momento, mas os dois sabiam que não ia acontecer.
Ela não poderia fugir, assim como ele também não.
Afinal de contas, ele era o portal congelado dela, e ela era versos para ele.
Fim
Nota da autora: Gente!!! O que foi isso? Tá, primeiro queria agradecer todas as meninas, cada uma delas, por ter me ajudado com isso. Não me ajudaram diretamente, mas me estimularam a escrever isso aqui. Sou o tipo de pessoa que sonhava em ter uma fic no ffobs, long ou short, mas nunca terminava nada. Nunca conseguia desenvolver um início, um final ou até um meio bom. Pra mim nunca nada tá bom, inclusive reclamo dessa fic também porque tá totalmente fora dos meus padrões, tá mais clichê do que o normal pra mim.
Enfim, queria dizer que Irresistible tem um significado muito forte pra mim, muito mesmo. É uma música que me toca de verdade, mas os meus sentimentos não são o ponto aqui. Me desculpem por a minha fic não ser um espelho da música. Queria muito que vocês me dissessem o que vocês acharam do fundo do coração, porque eu sou a pessoa mais insegura da face da terra. Essa nota tá ficando bem grandinha, então melhor parar. Obrigada por você ter lido, obrigada meninas pela chance de ter uma fic no ffobs, obrigada pessoa que foi beta, obrigada todo mundo, tô me sentindo numa premiação. Ha! Qualquer coisa, críticas, elogios, não sei... me chamem no twitter ok
Nota da Beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Enfim, queria dizer que Irresistible tem um significado muito forte pra mim, muito mesmo. É uma música que me toca de verdade, mas os meus sentimentos não são o ponto aqui. Me desculpem por a minha fic não ser um espelho da música. Queria muito que vocês me dissessem o que vocês acharam do fundo do coração, porque eu sou a pessoa mais insegura da face da terra. Essa nota tá ficando bem grandinha, então melhor parar. Obrigada por você ter lido, obrigada meninas pela chance de ter uma fic no ffobs, obrigada pessoa que foi beta, obrigada todo mundo, tô me sentindo numa premiação. Ha! Qualquer coisa, críticas, elogios, não sei... me chamem no twitter ok