Capítulo único
— Você construiu uma carreira linda, uma legião de fãs que te amam e sempre irão te acompanhar. Como está se sentindo? — ouvi aquela pergunta e senti todos os olhares em mim.
Levei minha mão até meu rosto, coçando meu maxilar ao pensar sobre aquilo. Era uma pergunta simples. Mas a resposta verdadeira nunca iria agradar aos que a ouviriam. Todos esperavam algo positivo, algo incrível, esplêndido, porque realmente eu tinha conseguido ganhar tudo aquilo que ela havia me dito. Mas mesmo assim eu não me sentia no topo, a sensação era de estar no fundo. Triste, eu sei. No entanto, houve uma época que não era assim.
Meus bons anos.
Um dos meus bons anos foi exatamente quase dez anos atrás. Sendo bem específico, estávamos os meninos e eu naquela praia, gravando aquele primeiro clipe. Estava sendo divertido, tinha ganhado quatro novos irmãos, basicamente. Nunca tinha me sentido tão completo com aqueles meninos. Eles eram incríveis. Sempre conseguiam tirar boas gargalhadas minhas, apesar dos meus inúmeros problemas já logo cedo, eles faziam esses problemas desaparecerem como se estivéssemos em Hogwarts e eles fossem bruxos.
Minha casa com certeza seria Sonserina. Óbvio. Mas isso não vem ao caso, estava feliz em lembrar daquele momento onde rir com eles parecia fácil, era apenas uma parte do meu dia. Da minha vida. E dos meus bons anos.
Aqueles bons anos, incluindo as conversas na madrugada que eu costumava ter com o garoto de olhos verdes e cabelo cacheado. Aquele que um dia já foi meu melhor amigo e hoje em dia eu faço questão de dizer que nem nunca conversei com ele. Será que nunca mesmo?
Oito anos atrás em um quarto de hotel:
— Harreh, está dormindo? — chamei por ele, virando no meu edredom e ficando de frente para ele, esperando que tivesse acordado como costumava ficar.
— Não estou não, pode falar. — Ele abriu os olhos, que anteriormente estavam fechados, e me encarou com atenção.
— Como você imagina o futuro? Tipo daqui uns dez anos? — perguntei, olhando e viajando dentro daqueles orbes verdes. Gostava dos olhos dele, sempre me traziam paz.
Harry ficou calado e pensativo por um tempo, com o olhar perdido, até que respirou fundo.
— Eu me imagino morando em um país diferente, gerenciando minha própria carreira, fazendo minhas próprias escolhas, tendo uma vida mais próxima do que eu julgo ser normal. Eu sei que nunca mais seremos pessoas normais, mas eu gostaria de poder separar o Harry Styles que está aqui com você agora do Harry Styles que todo mundo conhece lá fora. Eu espero conseguir fazer isso um dia, quem sabe daqui 10 anos. — Sorri levemente com aquilo, sentindo a profundidade em cada palavra e respirei fundo também.
— Gosto dos dois Harry e gosto de conhecer o seu “eu” de verdade. — Abri um tantinho mais meu sorriso vendo o dele se abrir também. — Você acredita que ainda seremos amigos daqui a dez anos? — fiz um biquinho ao perguntar aquilo.
— Eu acho que sim, vivemos momentos únicos juntos, são lembranças que ficarão pra sempre na minha memória. Se no caso de rompermos um laço de amizade eu provavelmente irei escrever algumas músicas sobre você. — Agora ele riu brincalhão.
— Ah, com certeza que vai! Serão músicas sobre as maçãs do meu rosto? Meus olhos? — ergui as sobrancelhas, dando uma risada nasalada. Isso tirou uma risada gostosa de Harry e o fazendo tocar minha bochecha com seu polegar. — Daqui há dez anos eu queria ser feliz de verdade. Não ser controlado, não me sentir sufocado na maior parte do tempo. Mas quero ter momentos assim. Alguém para confiar em ter essas conversas de madrugada. Mesmo que eu não tenha você, vou sempre ouvir suas músicas como se estivesse conversando contigo — sussurrei essa última parte, olhando em seus olhos.
— Eu não quero perder você, seria muito difícil continuar aqui sem você por perto, esses momentos são tão bons, eu não quero que eles acabem. — Suspirei com o que ele disse e sorri de novo.
— Você nunca vai me perder porque todas minhas músicas serão sobre você também e sobre esses bons anos que tivemos. — Cheguei mais perto dele e dei um beijo em sua testa.
Atualmente:
— Estou me sentindo ótimo. Tudo que eu passei foi pra chegar exatamente aqui — respondi aquela pergunta, mas com um certo amargor.
— E você não sente falta dos meninos? Mantém contato? — perguntou com um sorriso nos lábios e eu respirei fundo.
Se eu sentia falta deles? Ah, todo dia. Aquelas conversas no almoço, as viagens, os momentos onde era apenas cinco garotos fazendo uma bagunça nos hotéis, backstage, em todo canto, mesmo quando éramos proibidos disso, mesmo quando éramos forçados a ser quem não éramos de verdade. Comer o que não queríamos. Vestir o que não queríamos. Era sufocante. Tão sufocante que eu cheguei a não comer mais nada.
Anos atrás:
— Não estou com fome, Harreh — murmurei, fazendo um biquinho quando o garoto ainda tentava me arrastar para aquele restaurante, dizendo que iríamos sim fugir do hotel para comermos o que quiséssemos.
Harry sempre tentava me fazer comer.
— Zayn, você precisa comer! Quando foi a última vez que comeu? Você nem deve se lembrar. — Fiz uma careta com aquela pergunta, sentindo-o segurar minha mão e caminhar já comigo, me puxando até um dos carros que ele havia conseguido pegar da equipe. — Agora entra aí.
— Não lembro mesmo. Você sabe que não consigo sentir fome — respondi baixinho, fazendo um bico e então encarei bem antes de olhar para o carro. — Já falei que você sabe ser bem mandão quando quer? — apertei a bochecha dele e entrei no carro.
Assistindo-o dirigir e me levando para onde ele quisesse. Confiava nele demais e ele sabia disso. Confiava tanto que nunca imaginei confiar em alguém como confiava nele.
— Falei de você em uma entrevista — contei, mordendo minha bochecha internamente.
— Falou, é? — Vi ele sorrir na minha direção, parando no sinal vermelho. Balancei a cabeça afirmativamente. — Falou o que?
— Falei que você era minha rocha — contei, levantando um ombro, sorrindo levemente e verdadeiramente para ele.
— Uau... Isso é forte. — Harry sorriu sem jeito, parecendo não saber exatamente o que falar. Concordei com a cabeça, também achava forte. Então voltou a dirigir quando o sinal abriu, andou mais alguns metros e parou em frente a um restaurante, desligando o carro e olhando para mim enquanto tirava o cinto. — Sabe... Se alguém me perguntasse o que você significa pra mim eu diria a mesma coisa. — Sorriu e então colocou o capuz sobre a cabeça antes de sair do carro.
— É por isso que eu sei que o que temos será para sempre. — Levantei o dedo mindinho naquele tom de promessa e sorri abertamente quando ele o segurou com o seu.
Era pra ter sido para sempre.
Atualmente:
— Desejo todo sucesso do mundo para todos eles. — Foi o que respondi, engolindo a seco e lambendo meus lábios.
Sentia falta de todos eles. Era um fato. Nem somente da minha rocha. Mas de todos eles, todos nós. Dos nossos bons anos.
— O que devemos esperar de você, Zayn? — Perguntou com certa expectativa.
Anos atrás:
— Odeio como você é atacado nas entrevistas sobre ser o mulherengo da banda. E minhas respostas naquelas entrevistas não agradaram… — rolei meus olhos, terminando de comer aquele sushi. — Estou cansado disso. — Suspirei cansado de muitas coisas, muitas mesmo.
— Ei... Você me conhece, sabe que eu não sou assim, isso já é o bastante. Nós, de certa forma, temos que aprender a lidar com essas coisas ridículas, mas dói muito quando não podemos ser nós mesmos quando queremos. E eu agradeço você por sempre me defender, mesmo sabendo que provavelmente levará um puxão de orelha depois — Harry riu enquanto molhava seu sushi no shoyu e então trouxe ele até mim, me fazendo rir e comer de seu hashi mesmo.
— Vale a pena o puxão de orelha — comentei, dando de ombros enquanto mastigava, pegando uma outra peça e levando até ele também, rindo por estarmos fazendo isso. — Você não pensa em sair da banda? — perguntei mais baixinho.
Harry mastigava o sushi enquanto pensava numa resposta
— Eu penso sim. Por mais que eu goste muito do que a gente faz, dos nossos momentos juntos e dos nossos fãs, talvez se nossa gestão fosse mais leve, a ideia de sair jamais passaria pela minha cabeça. Mas é difícil estar nessa posição, eu não tenho saúde mental para sobreviver nisso por muito tempo e acredito que você também não tenha. — Suspirei com sua resposta e deixei de lado meus hashis.
— Penso seriamente em sair, Harry. De verdade mesmo. E talvez não demore muito para isso acontecer. Estou cansado, muito cansado mesmo, é como se só sobrasse alguns bons momentos, assim como esse, mas os ruins estão vindo com mais frequência. Tenho medo de desmoronar, de me perder no caminho. Sinto que estou me perdendo, Harry — contei, respirando fundo e fechando meus olhos. Vi ele parar de comer e se aproximar mais de mim.
— Eu te entendo, eu sei que sair já se torna uma prioridade pra você, mas pensa bem antes de tomar qualquer atitude, porque você sabe as consequências disso. Mas saiba que independe do caminho que você quiser traçar daqui pra frente, eu sempre vou estar do seu lado pra te apoiar. E ninguém precisa saber que ainda mantemos contato, esse pode ser o nosso segredo. — Sorri com aquilo, segurando a mão dele de forma carinhosa.
— Você promete de verdade que vai mesmo continuar sendo o mesmo comigo? Vamos manter o que temos? — perguntei baixinho, apertando meus dedos nos seus, enquanto olhava dentro de seus olhos.
— Eu prometo que nada vai mudar entre nós — sussurrou mais perto do meu ouvido, levantando o dedinho para uma promessa. Toquei seu dedo mindinho e sorri naquele tom de promessa.
Atualmente:
— Muitas surpresas, isso posso prometer. — Dei um sorriso esperto, ainda sentindo o quanto aquelas memórias estavam acabando comigo.
— Estaremos sim esperando — respondeu toda eufórica. — Você era muito próximo do Harry Styles na banda. Vocês ainda mantêm o contato? Ainda mantêm o grupo no WhatsApp e se atualizam das coisas? — questionou mais uma vez sobre aquilo, e eu tive que respirar fundo.
— Não. Nenhum grupo com nenhum deles. Mas desejo sucesso e felicidades — respondi rapidamente. — E eu nunca falei realmente com o Harry na banda. — Senti meu peito se apertar absurdamente ao proferir cada palavra.
Um tempo atrás:
Estava secando minhas lágrimas depois de ter ouvido tanta coisa horrível que só me fez romper aquele contrato mesmo e finalmente estar livre da banda. Realmente eu definitivamente estava fora. Uma grande parte minha estava aliviada, mas a outra estava queimando. Não conseguia parar de chorar. Todos os momentos bons voltaram como fantasmas gritando para mim que eu nunca mais teria nada como aquilo. Realmente estava fora daquilo que construímos e juntamos. Enquanto chorava apenas peguei o celular e disquei o número de Harry.
— Eu saí da banda — falei assim que ele atendeu, não conseguindo parar de chorar. Ouvi ele suspirar prolongadamente.
— Zayn... O que vai fazer agora? Devia ter esperado mais um pouco... Não, tudo bem... Como você está se sentindo? — Estava sentindo um misto de sentimentos que não conseguia simplesmente responder.
— Estou aliviado e perdidamente triste também — confessei, sentindo mais lágrimas escorrerem de meus olhos. — Vamos ter nosso último show. O meu último com vocês… — contei com a voz falha.
Ele ficou alguns longos momentos em silêncio e eu quis estar com ele, cara a cara. Queria encarar seus olhos, depois te dar um abraço apertado porque sabia que tudo dentro dele estava ainda pior do que estava acontecendo comigo.
— É seu último show, então eu quero que você aproveite, está bem? Nunca mais vamos ter isso, definitivamente acabou. Então faça esse dia ser especial, estarei lá com você. Nos vemos mais tarde. — Então ele desligou.
Aquilo simplesmente apertou meu coração e senti mais lágrimas saindo.
Atualmente:
— Muito obrigado, Zayn. Estamos aguardando seus novos sucessos! — sorri com o fim daquela tortura de entrevista e me levantei.
Peguei meu celular enquanto caminhava até o camarim, onde iria pegar minhas coisas e ir finalmente embora. Não conseguia não me lembrar de como os meninos e eu costumávamos bagunçar esses camarins. Rir até levarmos uma enorme bronca da produção. Seriam lembranças das quais eu jamais esqueceria.
Um tempo depois:
Estava encarando a tela do meu celular por um bom tempo, sentindo tudo dentro de mim se revirando de uma forma drástica. Nada que planejamos realmente acontece da forma como queremos. Fiquei magoado com tudo que aconteceu quando saí da banda. Extremamente chateado com os meninos, e sim, com todos eles. As promessas feitas foram apenas palavras no vento, o qual ele levou embora para sempre. Apenas as memórias restaram.
Então, abri o contato dele e digitei para o Harry:
Z: “Você realmente cumpriu pelo menos uma promessa feita… escreveu músicas sobre mim.”
H: >“Essa não foi a primeira e também não será a última"
Respirei fundo com isso, lambendo meus lábios.
Z: “Vai colocar ‘Ringo’ nas próximas? Ou Zebra?”
H: "Porque está agindo assim? Não foi você quem disse que nunca realmente falou comigo? Depois de tudo, Zayn? "
Z: “Eu que pergunto o porquê você está agindo assim depois de tudo. Usando o sarcasmo para falar de mim! Desde a época da banda. E foi ideia sua a gente manter em segredo”
H: "Eu estou ferido. Desde o dia que você saiu por aquela porta eu me senti perdido, eu fiquei realmente mal, era difícil me manter forte. Eu não queria que percebessem isso, eu não queria que pensassem que eu estava mal por sua causa. O humor sempre foi minha arma de defesa, eu poderia estar rindo por fora, mas estava destruído por dentro. Você devia me conhecer o suficiente pra entender isso."
Aquilo me fez parar na mesma hora, respirando fundo e sentindo meu peito apertado demais com cada sílaba daquela mensagem. Fechei meus olhos e apertei minhas pálpebras, levando meus dedos até minhas têmporas, as massageando. Sentia meu ar faltar de uma forma absurdamente drástica e tentei soltar o ar, mas saiu falho.
Ah, Harry…
Abri meus olhos de novo e olhei para o celular, mordendo meu lábio inferior.
Z: “Desculpa... Eu sinto tanto a sua falta”
H: "Eu também, Zayn. Eu também..."
Z: “Você sempre vai fazer parte da melhor época da minha vida. Os meus melhores anos. Quero que saiba disso. Eu era sim extremamente feliz. E as minhas músicas são sobre você também”
H: "Eu quero te encontrar de novo, quando for seguro fazer isso. Eu quero ouvir você dizendo isso olhando nos meus olhos."
Um sorriso pequeno se desenhou em meus lábios com aquela mensagem. Sabia que era arriscado. Sabia o que encontrar com ele poderia significar. Mas mesmo assim era tudo que eu mais queria.
Z: “Estou em NY, e acho que você também está. Só me falar quando”
H: "Venha até o meu apartamento, eu te passo o endereço, mas por favor, seja discreto. Eu não quero que nada atrapalhe esse momento. Quero voltar a reviver nossos bons anos mais uma vez."
O sorriso automaticamente aumentou em meus lábios e eu suspirei fraco. Seria bom ter uma parte do passado de volta.
Z: “Certo. Nada vai nos atrapalhar, Harry. Nada. Ninguém precisa realmente saber tudo que acontece.”
H: "Isso... É o melhor para nós dois. Não vejo a hora de te ver. Por favor, não demore muito"
Z: “Vou levar comida pra gente, ok? Já já estou aí.”
H: "Okay, estou te esperando"
Talvez realmente algumas coisas deveriam ser mantidas em segredo para o nosso próprio bem. Era triste ver os fãs desejando que voltássemos e seria incrível ver nos rostos deles a felicidade se soubessem que talvez alguns mantinham contato sim. Mas era melhor não. Algumas coisas realmente deveriam ser mantidas em total segredo para preservar aqueles bons anos e fazer os próximos serem bons também. Sem fofocas. Sem pessoas nos controlando. Sem restrições e principalmente sem mentiras.
Levei minha mão até meu rosto, coçando meu maxilar ao pensar sobre aquilo. Era uma pergunta simples. Mas a resposta verdadeira nunca iria agradar aos que a ouviriam. Todos esperavam algo positivo, algo incrível, esplêndido, porque realmente eu tinha conseguido ganhar tudo aquilo que ela havia me dito. Mas mesmo assim eu não me sentia no topo, a sensação era de estar no fundo. Triste, eu sei. No entanto, houve uma época que não era assim.
Meus bons anos.
Um dos meus bons anos foi exatamente quase dez anos atrás. Sendo bem específico, estávamos os meninos e eu naquela praia, gravando aquele primeiro clipe. Estava sendo divertido, tinha ganhado quatro novos irmãos, basicamente. Nunca tinha me sentido tão completo com aqueles meninos. Eles eram incríveis. Sempre conseguiam tirar boas gargalhadas minhas, apesar dos meus inúmeros problemas já logo cedo, eles faziam esses problemas desaparecerem como se estivéssemos em Hogwarts e eles fossem bruxos.
Minha casa com certeza seria Sonserina. Óbvio. Mas isso não vem ao caso, estava feliz em lembrar daquele momento onde rir com eles parecia fácil, era apenas uma parte do meu dia. Da minha vida. E dos meus bons anos.
Aqueles bons anos, incluindo as conversas na madrugada que eu costumava ter com o garoto de olhos verdes e cabelo cacheado. Aquele que um dia já foi meu melhor amigo e hoje em dia eu faço questão de dizer que nem nunca conversei com ele. Será que nunca mesmo?
Oito anos atrás em um quarto de hotel:
— Harreh, está dormindo? — chamei por ele, virando no meu edredom e ficando de frente para ele, esperando que tivesse acordado como costumava ficar.
— Não estou não, pode falar. — Ele abriu os olhos, que anteriormente estavam fechados, e me encarou com atenção.
— Como você imagina o futuro? Tipo daqui uns dez anos? — perguntei, olhando e viajando dentro daqueles orbes verdes. Gostava dos olhos dele, sempre me traziam paz.
Harry ficou calado e pensativo por um tempo, com o olhar perdido, até que respirou fundo.
— Eu me imagino morando em um país diferente, gerenciando minha própria carreira, fazendo minhas próprias escolhas, tendo uma vida mais próxima do que eu julgo ser normal. Eu sei que nunca mais seremos pessoas normais, mas eu gostaria de poder separar o Harry Styles que está aqui com você agora do Harry Styles que todo mundo conhece lá fora. Eu espero conseguir fazer isso um dia, quem sabe daqui 10 anos. — Sorri levemente com aquilo, sentindo a profundidade em cada palavra e respirei fundo também.
— Gosto dos dois Harry e gosto de conhecer o seu “eu” de verdade. — Abri um tantinho mais meu sorriso vendo o dele se abrir também. — Você acredita que ainda seremos amigos daqui a dez anos? — fiz um biquinho ao perguntar aquilo.
— Eu acho que sim, vivemos momentos únicos juntos, são lembranças que ficarão pra sempre na minha memória. Se no caso de rompermos um laço de amizade eu provavelmente irei escrever algumas músicas sobre você. — Agora ele riu brincalhão.
— Ah, com certeza que vai! Serão músicas sobre as maçãs do meu rosto? Meus olhos? — ergui as sobrancelhas, dando uma risada nasalada. Isso tirou uma risada gostosa de Harry e o fazendo tocar minha bochecha com seu polegar. — Daqui há dez anos eu queria ser feliz de verdade. Não ser controlado, não me sentir sufocado na maior parte do tempo. Mas quero ter momentos assim. Alguém para confiar em ter essas conversas de madrugada. Mesmo que eu não tenha você, vou sempre ouvir suas músicas como se estivesse conversando contigo — sussurrei essa última parte, olhando em seus olhos.
— Eu não quero perder você, seria muito difícil continuar aqui sem você por perto, esses momentos são tão bons, eu não quero que eles acabem. — Suspirei com o que ele disse e sorri de novo.
— Você nunca vai me perder porque todas minhas músicas serão sobre você também e sobre esses bons anos que tivemos. — Cheguei mais perto dele e dei um beijo em sua testa.
Atualmente:
— Estou me sentindo ótimo. Tudo que eu passei foi pra chegar exatamente aqui — respondi aquela pergunta, mas com um certo amargor.
— E você não sente falta dos meninos? Mantém contato? — perguntou com um sorriso nos lábios e eu respirei fundo.
Se eu sentia falta deles? Ah, todo dia. Aquelas conversas no almoço, as viagens, os momentos onde era apenas cinco garotos fazendo uma bagunça nos hotéis, backstage, em todo canto, mesmo quando éramos proibidos disso, mesmo quando éramos forçados a ser quem não éramos de verdade. Comer o que não queríamos. Vestir o que não queríamos. Era sufocante. Tão sufocante que eu cheguei a não comer mais nada.
Anos atrás:
— Não estou com fome, Harreh — murmurei, fazendo um biquinho quando o garoto ainda tentava me arrastar para aquele restaurante, dizendo que iríamos sim fugir do hotel para comermos o que quiséssemos.
Harry sempre tentava me fazer comer.
— Zayn, você precisa comer! Quando foi a última vez que comeu? Você nem deve se lembrar. — Fiz uma careta com aquela pergunta, sentindo-o segurar minha mão e caminhar já comigo, me puxando até um dos carros que ele havia conseguido pegar da equipe. — Agora entra aí.
— Não lembro mesmo. Você sabe que não consigo sentir fome — respondi baixinho, fazendo um bico e então encarei bem antes de olhar para o carro. — Já falei que você sabe ser bem mandão quando quer? — apertei a bochecha dele e entrei no carro.
Assistindo-o dirigir e me levando para onde ele quisesse. Confiava nele demais e ele sabia disso. Confiava tanto que nunca imaginei confiar em alguém como confiava nele.
— Falei de você em uma entrevista — contei, mordendo minha bochecha internamente.
— Falou, é? — Vi ele sorrir na minha direção, parando no sinal vermelho. Balancei a cabeça afirmativamente. — Falou o que?
— Falei que você era minha rocha — contei, levantando um ombro, sorrindo levemente e verdadeiramente para ele.
— Uau... Isso é forte. — Harry sorriu sem jeito, parecendo não saber exatamente o que falar. Concordei com a cabeça, também achava forte. Então voltou a dirigir quando o sinal abriu, andou mais alguns metros e parou em frente a um restaurante, desligando o carro e olhando para mim enquanto tirava o cinto. — Sabe... Se alguém me perguntasse o que você significa pra mim eu diria a mesma coisa. — Sorriu e então colocou o capuz sobre a cabeça antes de sair do carro.
— É por isso que eu sei que o que temos será para sempre. — Levantei o dedo mindinho naquele tom de promessa e sorri abertamente quando ele o segurou com o seu.
Era pra ter sido para sempre.
Atualmente:
— Desejo todo sucesso do mundo para todos eles. — Foi o que respondi, engolindo a seco e lambendo meus lábios.
Sentia falta de todos eles. Era um fato. Nem somente da minha rocha. Mas de todos eles, todos nós. Dos nossos bons anos.
— O que devemos esperar de você, Zayn? — Perguntou com certa expectativa.
Anos atrás:
— Odeio como você é atacado nas entrevistas sobre ser o mulherengo da banda. E minhas respostas naquelas entrevistas não agradaram… — rolei meus olhos, terminando de comer aquele sushi. — Estou cansado disso. — Suspirei cansado de muitas coisas, muitas mesmo.
— Ei... Você me conhece, sabe que eu não sou assim, isso já é o bastante. Nós, de certa forma, temos que aprender a lidar com essas coisas ridículas, mas dói muito quando não podemos ser nós mesmos quando queremos. E eu agradeço você por sempre me defender, mesmo sabendo que provavelmente levará um puxão de orelha depois — Harry riu enquanto molhava seu sushi no shoyu e então trouxe ele até mim, me fazendo rir e comer de seu hashi mesmo.
— Vale a pena o puxão de orelha — comentei, dando de ombros enquanto mastigava, pegando uma outra peça e levando até ele também, rindo por estarmos fazendo isso. — Você não pensa em sair da banda? — perguntei mais baixinho.
Harry mastigava o sushi enquanto pensava numa resposta
— Eu penso sim. Por mais que eu goste muito do que a gente faz, dos nossos momentos juntos e dos nossos fãs, talvez se nossa gestão fosse mais leve, a ideia de sair jamais passaria pela minha cabeça. Mas é difícil estar nessa posição, eu não tenho saúde mental para sobreviver nisso por muito tempo e acredito que você também não tenha. — Suspirei com sua resposta e deixei de lado meus hashis.
— Penso seriamente em sair, Harry. De verdade mesmo. E talvez não demore muito para isso acontecer. Estou cansado, muito cansado mesmo, é como se só sobrasse alguns bons momentos, assim como esse, mas os ruins estão vindo com mais frequência. Tenho medo de desmoronar, de me perder no caminho. Sinto que estou me perdendo, Harry — contei, respirando fundo e fechando meus olhos. Vi ele parar de comer e se aproximar mais de mim.
— Eu te entendo, eu sei que sair já se torna uma prioridade pra você, mas pensa bem antes de tomar qualquer atitude, porque você sabe as consequências disso. Mas saiba que independe do caminho que você quiser traçar daqui pra frente, eu sempre vou estar do seu lado pra te apoiar. E ninguém precisa saber que ainda mantemos contato, esse pode ser o nosso segredo. — Sorri com aquilo, segurando a mão dele de forma carinhosa.
— Você promete de verdade que vai mesmo continuar sendo o mesmo comigo? Vamos manter o que temos? — perguntei baixinho, apertando meus dedos nos seus, enquanto olhava dentro de seus olhos.
— Eu prometo que nada vai mudar entre nós — sussurrou mais perto do meu ouvido, levantando o dedinho para uma promessa. Toquei seu dedo mindinho e sorri naquele tom de promessa.
Atualmente:
— Muitas surpresas, isso posso prometer. — Dei um sorriso esperto, ainda sentindo o quanto aquelas memórias estavam acabando comigo.
— Estaremos sim esperando — respondeu toda eufórica. — Você era muito próximo do Harry Styles na banda. Vocês ainda mantêm o contato? Ainda mantêm o grupo no WhatsApp e se atualizam das coisas? — questionou mais uma vez sobre aquilo, e eu tive que respirar fundo.
— Não. Nenhum grupo com nenhum deles. Mas desejo sucesso e felicidades — respondi rapidamente. — E eu nunca falei realmente com o Harry na banda. — Senti meu peito se apertar absurdamente ao proferir cada palavra.
Um tempo atrás:
Estava secando minhas lágrimas depois de ter ouvido tanta coisa horrível que só me fez romper aquele contrato mesmo e finalmente estar livre da banda. Realmente eu definitivamente estava fora. Uma grande parte minha estava aliviada, mas a outra estava queimando. Não conseguia parar de chorar. Todos os momentos bons voltaram como fantasmas gritando para mim que eu nunca mais teria nada como aquilo. Realmente estava fora daquilo que construímos e juntamos. Enquanto chorava apenas peguei o celular e disquei o número de Harry.
— Eu saí da banda — falei assim que ele atendeu, não conseguindo parar de chorar. Ouvi ele suspirar prolongadamente.
— Zayn... O que vai fazer agora? Devia ter esperado mais um pouco... Não, tudo bem... Como você está se sentindo? — Estava sentindo um misto de sentimentos que não conseguia simplesmente responder.
— Estou aliviado e perdidamente triste também — confessei, sentindo mais lágrimas escorrerem de meus olhos. — Vamos ter nosso último show. O meu último com vocês… — contei com a voz falha.
Ele ficou alguns longos momentos em silêncio e eu quis estar com ele, cara a cara. Queria encarar seus olhos, depois te dar um abraço apertado porque sabia que tudo dentro dele estava ainda pior do que estava acontecendo comigo.
— É seu último show, então eu quero que você aproveite, está bem? Nunca mais vamos ter isso, definitivamente acabou. Então faça esse dia ser especial, estarei lá com você. Nos vemos mais tarde. — Então ele desligou.
Aquilo simplesmente apertou meu coração e senti mais lágrimas saindo.
Atualmente:
— Muito obrigado, Zayn. Estamos aguardando seus novos sucessos! — sorri com o fim daquela tortura de entrevista e me levantei.
Peguei meu celular enquanto caminhava até o camarim, onde iria pegar minhas coisas e ir finalmente embora. Não conseguia não me lembrar de como os meninos e eu costumávamos bagunçar esses camarins. Rir até levarmos uma enorme bronca da produção. Seriam lembranças das quais eu jamais esqueceria.
Um tempo depois:
Estava encarando a tela do meu celular por um bom tempo, sentindo tudo dentro de mim se revirando de uma forma drástica. Nada que planejamos realmente acontece da forma como queremos. Fiquei magoado com tudo que aconteceu quando saí da banda. Extremamente chateado com os meninos, e sim, com todos eles. As promessas feitas foram apenas palavras no vento, o qual ele levou embora para sempre. Apenas as memórias restaram.
Então, abri o contato dele e digitei para o Harry:
Z: “Você realmente cumpriu pelo menos uma promessa feita… escreveu músicas sobre mim.”
H: >“Essa não foi a primeira e também não será a última"
Respirei fundo com isso, lambendo meus lábios.
Z: “Vai colocar ‘Ringo’ nas próximas? Ou Zebra?”
H: "Porque está agindo assim? Não foi você quem disse que nunca realmente falou comigo? Depois de tudo, Zayn? "
Z: “Eu que pergunto o porquê você está agindo assim depois de tudo. Usando o sarcasmo para falar de mim! Desde a época da banda. E foi ideia sua a gente manter em segredo”
H: "Eu estou ferido. Desde o dia que você saiu por aquela porta eu me senti perdido, eu fiquei realmente mal, era difícil me manter forte. Eu não queria que percebessem isso, eu não queria que pensassem que eu estava mal por sua causa. O humor sempre foi minha arma de defesa, eu poderia estar rindo por fora, mas estava destruído por dentro. Você devia me conhecer o suficiente pra entender isso."
Aquilo me fez parar na mesma hora, respirando fundo e sentindo meu peito apertado demais com cada sílaba daquela mensagem. Fechei meus olhos e apertei minhas pálpebras, levando meus dedos até minhas têmporas, as massageando. Sentia meu ar faltar de uma forma absurdamente drástica e tentei soltar o ar, mas saiu falho.
Ah, Harry…
Abri meus olhos de novo e olhei para o celular, mordendo meu lábio inferior.
Z: “Desculpa... Eu sinto tanto a sua falta”
H: "Eu também, Zayn. Eu também..."
Z: “Você sempre vai fazer parte da melhor época da minha vida. Os meus melhores anos. Quero que saiba disso. Eu era sim extremamente feliz. E as minhas músicas são sobre você também”
H: "Eu quero te encontrar de novo, quando for seguro fazer isso. Eu quero ouvir você dizendo isso olhando nos meus olhos."
Um sorriso pequeno se desenhou em meus lábios com aquela mensagem. Sabia que era arriscado. Sabia o que encontrar com ele poderia significar. Mas mesmo assim era tudo que eu mais queria.
Z: “Estou em NY, e acho que você também está. Só me falar quando”
H: "Venha até o meu apartamento, eu te passo o endereço, mas por favor, seja discreto. Eu não quero que nada atrapalhe esse momento. Quero voltar a reviver nossos bons anos mais uma vez."
O sorriso automaticamente aumentou em meus lábios e eu suspirei fraco. Seria bom ter uma parte do passado de volta.
Z: “Certo. Nada vai nos atrapalhar, Harry. Nada. Ninguém precisa realmente saber tudo que acontece.”
H: "Isso... É o melhor para nós dois. Não vejo a hora de te ver. Por favor, não demore muito"
Z: “Vou levar comida pra gente, ok? Já já estou aí.”
H: "Okay, estou te esperando"
Talvez realmente algumas coisas deveriam ser mantidas em segredo para o nosso próprio bem. Era triste ver os fãs desejando que voltássemos e seria incrível ver nos rostos deles a felicidade se soubessem que talvez alguns mantinham contato sim. Mas era melhor não. Algumas coisas realmente deveriam ser mantidas em total segredo para preservar aqueles bons anos e fazer os próximos serem bons também. Sem fofocas. Sem pessoas nos controlando. Sem restrições e principalmente sem mentiras.
I close my eyes and see a crowd of a thousand tears
I pray to God I didn't waste all my good years
All my good years
All my good years
Fim
Nota da autora: Queria poder ter feito muito mais nessa fic, ter colocado interação do Zayn com os outros meninos, mas realmente não consegui inspiração para isso. Então, tentei colocar em pensamentos dele. Obviamente que o conteúdo dessa fanfic é fictício, apesar de ter me baseado em entrevistas sim, como o lance do “Ringo” ou “Zebra”, também o Zayn falando que nunca realmente falou com o Harry, e ele ter chamado o Harry de “rocha” também foi de uma entrevista na época da banda. Só juntei esses fragmentos e coloquei como fanfic. Espero que tenham gostado e sim eu chorei escrevendo.
Redes sociais:
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Lindezas, o Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
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