Capítulo único
Não paro de pensar em você!
tinha conseguido dormir até um pouco mais tarde naquele dia. Era domingo e finalmente não marcara nenhum compromisso de trabalho para a parte da manhã. Ainda deitada, curtindo a cama quentinha e macia, esticou a mão e pegou o celular, deixado estrategicamente na mesa de cabeceira. Havia algumas conversas marcadas com a famosa bolinha azul numerada no whatsapp, mas ela ignorou a maioria delas, escolhendo abrir a mensagem de .
Sorriu, mesmo com o misto de sentimentos que vinham junto de cada frase daquele tipo que ele enviava. Ela também pensava demais nele. Com certeza, muito mais do que deveria, dadas as circunstâncias.
Também penso em você,
Ela digitou e ficou olhando para as próprias palavras por um tempo. Sabia que precisava responder, mas não tinha tanta certeza quanto a ser verdadeira sobre o fato de estar sempre com ele na cabeça, a ponto de ter pedido a concentração no trabalho algumas vezes.
Ele não estava online quando ela finalmente enviou a mensagem, certa de que a confissão tinha a medida exata que deveria ter, sem advérbios de intensidade ou exclamações que incentivariam ainda mais a insistir em um assunto que provavelmente deveria ser encerrado. Somente uma hora depois, quando ela já estava na casa dos pais para um almoço em família, recebeu novas notificações.
Desculpa a demora
Tava malhando
Mas que bom
Que você também pensa em mim
Eu lembro de você o tempo todo!
Quero muito te ver,
A jovem fechou o aplicativo e foi até a cozinha a fim de oferecer ajuda à mãe, na tentativa de deixar de lado por um tempo o que acabara de ler. Era verdade que ele saberia que ela tinha visualizado, e que poderia parecer indelicada ou até mal educada com aquela atitude, mas não havia como responder na hora. Não tinha a menor ideia do que dizer!
Ela também queria vê-lo, ouvir a voz dele, sentir o cheiro. Às vezes quando acabava de tratar fotografias, de responder e-mails ou de organizar sua agenda, abria o instagram, ficava olhando as fotos dele, e acabava com mais vontade ainda de estar perto, com saudades do pouco tempo que tinham dividido. Porém nem tudo que desejamos é possível e, mesmo que pudesse encontra-lo, acreditava que tinha mais a perder do que a ganhar de outros momentos breves e intensos com .
Eu ando bastante enrolada com o livro,
E eu também não sei se é uma boa ideia
Escreveu, já de volta à própria casa, no fim da tarde, deitada no sofá. Estava tão apreensiva sobre o que escrever que precisara mudar de roupa, colocando uma camiseta comprida e larga, que deveria fazer parte do guarda-roupa de alguém uns vinte centímetros mais alto, e levar o travesseiro para a sala, a fim de se sentir um pouco menos desconfortável.
Ao redigir a primeira frase, ela tinha caído na tentação de enrolá-lo, não só porque era mais fácil, como também por haver um lado dela que desejava que ele insistisse, que a fizesse concordar. Havia uma parte menos racional que queria mergulhar de cabeça em um jogo de sedução com ele, que resultaria em um final de semana incrível juntos, mesmo que depois viesse o mesmo vazio que a ausência dele vinha deixando, dia após dia. Um buraco esquisito na vida dela que não existia antes de os dois se conhecerem, mas agora não podia ser ignorado.
No entanto não era nenhuma adolescente para ficar investindo em joguinhos e sempre se orgulhara de ser bastante racional. Já tinha se apaixonado antes e tentado viver um lance casual, e cada vez que ficava sozinha, sem poder contar com a pessoa, sem poder dividir a vida com ela, vinham os momentos de sofrimento. Alimentar sentimentos agora para ter que esquecer em um futuro próximo era burrice!
Então escreveu a outra frase, apenas alguns segundos depois, e a enviou também, decidindo que ser franca com ele podia ser mais difícil, porém a tiraria mais rápido daquela situação complicada. Ligou a televisão e tentou se concentrar no jogo de basquete que estava sendo exibido, deixando o celular na mesinha de centro, como se não estivesse ansiosa para saber o que ele responderia.
Não vou te convencer a vir me ver, quando você tem essa desculpa tão boa que é o seu livro
Mas posso ir até aí quando você estiver
Meu projeto acaba em quinze dias
Até lá acho que consigo convencer você a sair comigo
O terceiro quarto da partida entre Pistons e Lakers foi interrompido pela chegada da resposta, e conseguiu prestar ainda menos atenção quando largou o iPhone de novo. demonstrara sua total falta de inclinação para desistir, e fizera isso de uma forma tão leve, com um emoji fofo piscando para ela no final de tudo, que ela não pode deixar de se sentir certa euforia.
Quando pegou no sono, vencida pelo cansaço, com o barulho dos jornalistas do canal de esportes comentando a vitória do time de Detroit e a atuação magistral de Reggie Jackson, também teimou em fazer parte de seus sonhos.
***
colocou o copo de café sobre a mesa, tirou o laptop da bolsa e ligou o aparelho, entrando diretamente no instagram. Já havia aceitado o convite de amizade de no facebook e resolveu finalmente segui-lo também naquela outra rede social.
Não vinha sendo muito legal com ele, que curtia sempre suas fotos e deixava vários recados, os quais recebiam normalmente respostas curtas e objetivas. Também não vinha sendo honesta com ele ou consigo mesma, afinal, ainda que não estivesse seguindo até aquele momento, fuçava as postagens dele diariamente. Não estava conseguindo mesmo ignorar o que sentia, então não havia razão para fingir desinteresse, no fim das contas!
Em alguns minutos, seu editor chegaria à cafeteria onde o aguardava, para ver parte do material que ela conseguira reunir, e estava animada, exatamente como deveria, ao adentrar o local. A empolgação só durara, contudo, até um rapaz ficar olhando insistentemente em sua direção, e ela simplesmente não conseguir retribuir seu olhar, pois era outra pessoa quem ela queria que a encarasse com aquele riso nos olhos, com aquele interesse totalmente óbvio.
Talvez se encarasse com mais naturalidade o fato de ela e quererem um ao outro, pudesse enfim voltar a ser ela mesma e dar a atenção que seu trabalho exigia.
— Postando algo pra atiçar a curiosidade dos seus seguidores? — Zig perguntou, dando um beijo em sua bochecha, antes de ocupar o banco em frente ao dela.
— Ainda não – disse, clicando enfim no seguir e fechando o navegador. — Queria saber antes sua opinião... O que você acha que seria um bom marketing pra gente nesse momento.
— Algo que chame atenção, mas não entregue totalmente o projeto? Que estimule as pessoas a perguntar talvez? — Ele tinha mania de responder assim, como se estivesse pensando alto.
— Quem sabe uma imagem que nem vá fazer parte do livro? — indagou, empolgada. — Como é meu insta pessoal, eu podia postar uma foto minha com alguém, que faça o pessoal querer saber a razão do encontro. O que você acha?
— Perfeito. Que opções nós temos? — Ela virou o laptop de modo que os dois pudessem ver a tela e começou a abrir algumas fotos armazenadas na pasta Tietando.
— Essa! – Ele quase gritou quando ela abriu a quarta foto. — Essa com toda a certeza. Esse cara é o máximo e você tá ótima!
— Obrigada — falou, rindo. — Eu adorei conhecer o Salah! A história dele é incrível! E também acho que o povo vai ficar muito mais curioso do que se a gente colocar um atleta daqui.
Ela virou o computador de volta para si, enquanto Zig chamada o garçom. Ele perguntou se ela queria alguma coisa, mas não estava com fome e apenas agradeceu. Abriu de novo o instagram, para postar de uma vez sua foto com o atacante egípcio que atuava no Liverpool e que ela tinha fotografado na semana anterior, em Londres.
— Pronto — disse, minimizando o site. Ela e seu editor tinham muito trabalho a fazer, por mais que estivesse curiosa para ver a reação de seus amigos e fãs.
Só pode conferir as mensagens no começo da noite, depois da reunião com Zig e de mais uma sessão de fotos, dessa vez com o atleta dos saltos ornamentais Michael Hixon.
Sou fã. Dos dois! Declarara uma amiga dela.
Homão da porra! Ainda não te perdoei. Sua assistente escrevera. a deixara em Los Angeles fazendo trabalho burocrático, ao invés de levá-la para Londres.
Será que ele vai conseguir ir pra Copa? Questionara um seguidor.
VOCÊ TB É FÃ DELE? Outro surtara.
O que você tá fazendo com Mohamed Salah???? Alguém perguntara e acabara enfim chamando atenção para o encontro.
É verdade! Trabalho ou lazer?
Onde foi isso? Ele tá aqui?
Tem mais fotos? Posta aí!
Havia muitas mensagens mais ou menos com este conteúdo, tendo sido alcançado o objetivo da postagem.
Louco pra ver os jogos do Egito esse ano! observara, mas, por ser algo impessoal, ela quase nem percebera que o comentário era dele.
No entanto, ele tinha enviado um direct também.
Que sorriso, ! Que vontade de ver esse sorriso de perto de novo... De ter você sorrindo assim só pra mim.
Se ele pudesse vê-la naquele momento, teria visto o sorriso que tanto queria. Ela não queria que uma simples mensagem a afetasse tanto, mas não conseguia escapar disso. Olhou para a mala, aberta sobre a cama, e o sorriso se transformou em uma sonora gargalhada. Talvez, no fim das contas, ela não tivesse que evitar...
Seu projeto já acabou? Você teria como pegar um avião amanhã, me encontrar na Filadélfia e passar três dias comigo? Digitou, enquanto se lembrava da primeira viagem que fizera com aquela mala horrorosa.
***
Algumas semanas antes...
saiu do avião já correndo para a área onde deveria pegar a bagagem despachada, bufando e xingando mentalmente o agente de Jimmy Garoppolo, por ter antecipado o horário da sessão de fotos, e feito com que ela acabasse pousando em São Francisco em cima da hora. Tinha comprado sua passagem antes da mudança, não conseguira trocá-la, e agora não sabia se seria capaz de chegar ao estádio dos San Francisco 49ers, que ficava a uma hora de carro, pontualmente.
Para seu desespero, as malas ainda demoraram a começar a aparecer na esteira, e ela não sabia se ficava com mais raiva da companhia aérea ou dos demais passageiros, que pareciam calmos demais, conversando uns com os outros ou mexendo em seus celulares, enquanto aguardavam.
Quando a primeira mala surgiu, com sua estampa xadrez, nas cores vermelha, azul e verde, a agarrou e andou o mais rápido que pode com ela, em direção à saída. Ficou grata por finalmente ter tido alguma sorte e também por ter levado aquela bolsa com rodinhas, graças à insistência da mãe, apesar de estar carregando nela apenas o suficiente para uma viagem de quatro dias. A bagagem de mão, com suas ferramentas de trabalho, já era pesada o suficiente.
Um motorista previamente contratado já a esperava e seu atraso para a sessão foi de apenas cinco minutos, que na verdade passaram despercebidos, pois o famoso quarterback estava dando uma entrevista, que acabou somente meia hora depois. A garota só não ficou ainda mais irritada com a falta de consideração do agente do jogador porque pode usar o tempo extra para conversar com o fotógrafo escolhido para ser seu assistente nas sessões feitas naquela cidade, preparar melhor o equipamento e estudar o local escolhido para as fotos.
Felizmente, gostava muito do que fazia. Adorava registrar momentos únicos, explorar as diferentes fontes de luz, conseguir captar padrões de cor singulares, contrastes. Amava especialmente clicar pessoas que não ganhavam a vida fazendo pose e estava encantada por seu mais novo projeto, no qual entraria parte do material resultante daquele photoshoot.
Sua paixão era tanta que, depois de conseguir todas as imagens que desejava, ainda se dedicou ao trabalho por horas, tratando tudo com auxílio do photoshop e do lightroom, em seu laptop, no quarto de hóspedes do apartamento de uma amiga, que não a deixara ir para um hotel. Não pegou no celular durante tempo o bastante para ter quatorze conversas não lidas no whatsapp, quando finalmente se lembrou de dar uma olhada nele.
Tanto a mãe quanto a irmã queriam saber se ela tinha chegado bem, o pai estava curioso para saber se Garoppolo era ou não um esnobe, e o irmão insistia para que pegasse um autografo do jogador para ele. Sua secretária relembrava os horários de seus compromissos do dia seguinte e a agente de Catherine Bellis insistia para que ela convencesse a garota a se maquiar para a sessão de fotos que fariam. A amiga de quem era hóspede pedia que ficasse à vontade para fuçar a geladeira, mas a aguardasse para jantarem juntas, e a prima mandara cinco áudios que ela decidiu ouvir mais tarde.
Havia também mensagens em alguns grupos de amigos e nos de colegas de profissão, mas uma imagem ela não reconheceu e nem o número correspondente.
Peço desculpas por entrar em contato assim, já que não nos conhecemos, mas eu estou com a sua mala.
Leu a primeira frase do estranho, e seus olhos correram automaticamente da tela do celular para a mala chamativa encostada em uma parede, enquanto sua testa se franzia em confusão.
Imagino que você também esteja com a minha, já que a sua foi a única que sobrou do nosso vôo.
Gostaria de saber como podemos fazer para destrocá-las, pois estou precisando muito das minhas coisas e imagino que você também precise das suas.
Largando o aparelho sobre a mesa, se levantou e caminhou até a mala, a fim de olhar a etiqueta colocada pela companhia aérea, que deveria ter seu nome e seus dados, mas que ela não conferira ao pegar a bagagem. Tinha esperança de que aquela mensagem fosse um engano, apesar de o mensageiro ter seu número de telefone e saber que ela havia viajado de avião recentemente.
Infelizmente, estava realmente com a mala de alguém chamado , o que poderia ter descoberto antes, se ao menos tivesse pensado em trocar de roupa, ao invés de ter apenas jogado os sapatos em algum lugar do quarto e amarrado os cabelos com um elástico, mantendo os jeans e a camiseta que usara para fotografar Garoppolo.
Eu to mesmo com a sua mala
Acho que te devo desculpas
Ela enviou e o viu começar a digitar algo logo em seguida.
Não tem problema. De verdade. A gente só precisa mesmo destrocar.
Como podemos fazer?
Ele soou simpático e teve o impulso de olhar sua foto de perfil, antes de responder. Não foi possível descobrir muita coisa, no entanto. usava óculos de sol e a imagem estava um pouco escura.
Eu preciso fazer umas compras
Talvez eu possa aproveitar...
Tem algum shopping que fique bom pra você?
Não havia nada que precisasse realmente adquirir no momento, e ela não gostava de lugares muito convencionais para fazer suas compras, mas um shopping center pareceu-lhe um bom lugar para marcar um encontro com uma pessoa estranha. podia ter ficado com sua mala não por vontade própria, e sim por imposição do destino – ou da pressa da garota – , mas isso não o tornava automaticamente confiável.
A garota aguardou em frente a uma grande loja de departamentos, conforme combinado, observando as pessoas à procura de alguém que carregasse uma mala igual à que estava a seu lado. Nada, porém, poderia tê-la preparado para o homem que surgiu, arrastando o objeto com rodinhas. A aparência dele tirou seu fôlego e a deixou tão desconcertada que, ao invés de olhar para a pessoa que estava aguardando, focou na inconfundível e terrível estampa xadrez.
— ? — O rapaz chamou, fazendo com que ela fosse obrigada a olhar para seu rosto.
— Hã... Oi! — respondeu, talvez um pouco mais alto do que o normal, mas ele não pareceu perceber que ela não agia de um jeito muito normal, pois sorriu e lhe estendeu a mão.
Ela aceitou o cumprimento e não sentiu nenhuma faísca sobrenatural, daquelas que os autores de romance gostam de incorporar às suas narrativas sobre o primeiro toque, mas a firmeza da mão dele na sua fez com que encolhesse os dedos dos pés dentro do sapato.
— Me desculpa por pegar sua mala. E muito obrigada por vir fazer a troca aqui — ela disse, quando se soltaram.
— Tudo bem — ele assegurou. — Eu queria mesmo tomar um cappuccino com chantilly, desses que a gente até tenta fazer em casa, mas nunca ficam perfeitos, sabe? Você me acompanha?
— Claro — respondeu, conseguindo dar um sorriso enfim, e ele a guiou até uma cafeteria.
Escolheram uma mesa em um canto, no qual as malas poderiam ficar sem atrapalhar outros clientes, olharam os cardápios, cheios de opções deliciosas, e fizeram enfim seus pedidos ao garçom, que anotou tudo e voltou para perto do balcão.
— Eu queria te pedir desculpas, mais uma vez — insistiu ela. — Eu tava em cima da hora pra um compromisso e nunca imaginei que outra pessoa pudesse estar com uma mala igual a minha.
— , você não precisa continuar me pedindo desculpas. É sério! Se eu estivesse puto, com certeza preferiria tomar esse café sozinho — observou.
— É verdade, mas é que eu não me conformo com o meu descuido! Mesmo que eu precisasse correr, e que eu jamais pudesse achar que mais alguém teria essa mala tenebrosa, eu... — Ao se dar conta do que tinha falado, ela parou, respirou fundo e mordeu o lábio inferior. Definitivamente, a estava afetando demais, para ela estar com aquela espécie de hemorragia verbal.
— Tenebrosa, hein? — ele riu.
— Deus! Eu tento me desculpar e acabo te acusando de ter um péssimo gosto pra malas. Vou ter que me desculpar... de novo.
— A mala é tenebrosa. Eu concordo. Eu fui a Los Angeles com uma mala preta, bem discreta, mas ela arrebentou, quando eu tava me preparando pra voltar e eu tive que correr até uma loja...
— Ufa! — Ela colocou dramaticamente a mão no peito. — Que alívio! Não só por eu não ter ofendido seu gosto, mas por você não ter tanto mal gosto. Quando a minha secretária apareceu com essa mala, eu quase tive um treco. Eu pensei seriamente em não usar, viu? Mas a Iggy foi tão carinhosa e tão atenciosa, escolhendo uma mala toda feita de material reciclado, sabendo que eu dou o maior valor a isso, que eu acabei vindo com ela.
— Interessante, porque foi a mesma razão pela qual eu comprei essa mala, na tal loja pra qual eu tive que correr. — Ela o olhou, desconfiada, e ele riu. — É sério! Produção sustentável de bens não é só algo que me interessa, é o meu trabalho.
O garçom chegou com uma bandeja cheia nas mãos, e colocou a xícara com o cappuccino na frente de , e a do chocolate quente na frente dela. Fez confusão em relação ao croissant de pecorino que ela pedira e a fatia de torta de maçã que ele escolhera, mas nenhum dos dois falou nada. Ambos apenas agradeceram e mudou os pratinhos de lugar.
— Huuuum... Isso aqui tá muito bom — comentou ela, depois de uma mordida no croissant. — Mas, vem cá... Me conta mais sobre esse lance de trabalhar com produção sustentável. Eu to super curiosa! O que exatamente você faz?
— Eu elaboro planos pras empresas fazerem coleta de produtos descartados, reutilização dos materiais, a menor emissão de poluentes possível... essas coisas. Eu tava em Los Angeles pra dar uma entrevista pra um programa de TV, pra explicar como os consumidores podem contribuir, enviando alguns descartáveis pras empresas, ao invés de jogar no lixo e tal. É um trabalho legal. Eu me orgulho dele.
— E deve mesmo! Sem pessoas como você, a gente rapidinho ia ficar sem um planeta pra habitar. — observou tomar um gole de sua bebida. Ele era lindo, e não era só isso. — Então você mora aqui, em São Francisco?
— Uhum — confirmou. — E você em Los Angeles, certo?
— Aham. Como vo-...?
— Veio fotografar alguém? — indagou, de forma casual, e ela franziu a testa, confusa.
— É — confirmou. — Como você sabe? — Ele fez mistério, bebendo mais um gole de café, enquanto ela o encarava, ansiosa.
— No ano passado, meu irmão me deu a biografia ilustrada do Magic Johnson de presente. — Ele não precisou dizer mais nada, pois ela entendeu imediatamente. Não só havia seu nome no livro, por ter sido coautora, responsável por toda a parte das imagens, como também uma foto sua na orelha de cada exemplar.
— Ah, tá! — riu, aliviada. — E o que você achou?
— Ótimo! Você podiam fazer de outros caras como ele. Eu com certeza compraria.
hesitou por um momento. Além da família, de seu editor, de alguns assistentes e dos atletas que tinham concordado em participar, ninguém sabia ainda sobre seu atual projeto. Alguma coisa em , no entanto, inspirava confiança e principalmente fazia com que ela quisesse prolongar a conversa.
— A gente poderia, sim, pensar nisso. Mas agora, na verdade, eu to trabalhando num projeto só meu, que eu queria fazer há anos, só com fotografias de gente ligada ao esporte. Eu vim pra cá pra fotografar o Jimmy Garoppolo, a Catherine Bellis e o Andrew McCutchen.
Tendo morado a vida toda em São Francisco, era torcedor dos 49ers e dos Giants e ficou empolgadíssimo com o fato de jogadores dos seus times, de futebol americano e beisebol, respectivamente, terem sido escolhidos por e terem aceito o convite da fotógrafa. Além disso, ela se revelou uma grande fã de esportes em geral, assim como ele, então assunto foi algo que não faltou.
— Mais um chocolate? — ofereceu, depois de fazer sinal para que o garçom se aproximasse.
— Não, obrigada. Na verdade, eu tenho que ir. Eu to hospedada na casa de uma amiga e ela vai ficar chateada se eu não jantar com ela.
— Uma água e a conta, por favor — ele disse, então, ao garçom. — Até quando você fica em São Francisco?
— Até segunda de manhã. Eu vou aproveitar pra passar o fim de semana e desanuviar um pouco.
— E o jantar de amanhã pode ser comigo, ou a sua amiga também ficaria chateada? — questionou, sorrindo, e ela só pode pensar que, depois de uma conversa ótima, na qual ela descobrira que ele, além de gatérrimo era tão ligado em questões ambientais e esportes quanto ela, ainda dar um sorriso como aquele era covardia!
— Acho que ela aguenta — brincou.
não tinha colocado nada na bagagem compatível com um encontro, e Kimberly usava uma numeração bem diferente da dela, o que fez com que ela tivesse que visitar um shopping pela segunda vez em dois dias, depois de sua sessão de fotos com Bellis.
Kim não só a convenceu a comprar uma roupa um pouco mais ousada do que aquelas com as quais estava acostumada, como também a entrar em um salão de beleza, e fazer unhas, depilação completa e massagem corporal. No final, teve que admitir que foi bom não querer contrariar a amiga, pois as interferências constantes da agente da jovem tenista durante o photoshoot tinham deixado pontos de tensão nos músculos de suas costas.
— Você tá maravilhosa — a amiga assegurou, quando ela ficou pronta para sair. Depois de passar tanto tempo correndo para lá e para cá de camiseta, calça jeans e tênis, era estranho usar um vestido e sapatos de salto fino. Ela nunca fora insegura em relação à própria aparência, mas estava com receio de ter exagerado na produção.
— Ele chegou — disse, mexendo no celular e encontrando uma mensagem de no whats. — Torce pra eu ainda saber andar com essas coisas nos pés e não passar vergonha — pediu, apreensiva como uma adolescente, algo que não ficou muito feliz em perceber.
O nervosismo, entretanto, não era necessário. Ela caminhou sem problemas, e aquelas coisas nos pés e todo o resto deixaram momentaneamente sem fala. Quando ele encontrou a própria voz de novo, repetiu o elogio de Kim, mais de uma vez, e teve vontade de fazer outros, bastante impróprios para aquele momento. Não disse nada a , mas resolveu levá-la a um lugar mais elegante do que aquele que havia escolhido inicialmente, e agradeceu muito mentalmente por conseguir uma mesa, sem que tivesse feito reserva antes.
Tudo correu maravilhosamente bem, durante o jantar. A comida estava deliciosa, o vinho, gelado, a música ambiente ótima, o atendimento impecável, e a conversa tão fluida quanto fora a do dia anterior. Quanto mais papeavam, mais os dois descobriam interesses em comum, afinidades e facilidade em falar um com o outro sobre as mais diversas coisas.
conseguia falar com leveza de assuntos como a perda da irmã, vítima de câncer com apenas vinte anos, e , que era uma pessoa espiritualizada, compartilhava do pensamento dele, que preferia celebrar o fato de alguém como Cindy terem feito parte de sua vida. era intensa ao falar sobre sua visão política, mas não deixou de rir quando contou uma piada que ouvira de um amigo, que não poupava republicanos nem democratas.
Só não se pode dizer que não existia qualquer tensão entre eles, porque havia a do tipo sexual... e era forte! Quando enfim deixaram o restaurante e entraram no carro, esperava que ele a convidasse para esticar em algum lugar e ficou decepcionada ao perceber que ele fazia o caminho para a casa de Kimberly, o que a deixou lacônica.
— Tá tudo bem? — perguntou, após estacionar em frente ao prédio.
— Tá — respondeu, tentando esconder a frustração, mas sem conseguir agir normalmente. Ela nunca tinha sido nada boa em fingir, nem mesmo nas pecinhas de teatro da escola.
— Tá mesmo? To te achando tão calada de repente — insistiu, preocupado.
— É só cansaço — assegurou. Tinha criado expectativas e estava desanimada porque as coisas não tinham acontecido da forma como esperava, mas ele não tinha feito nada realmente reprovável, então usou um tom mais convincente.
— Certo. — Ele tirou o cinto de segurança e se virou na direção dela, que fez o mesmo. — Eu amei essa noite.
— Eu também... gostei muito. — Foi difícil falar (até mesmo raciocinar!) com ele subitamente fazendo carinho no rosto dela. Ele dava sinais que ela não conseguia ler, olhando para sua boca, e umedecendo os próprios lábios com a língua, depois de ter optado por levá-la diretamente para a casa de Kim.
segurou o rosto dela com as duas mãos e a beijou. Inicialmente foi sutil, como se esperasse permissão, mas o beijo se tornou intenso quando ela segurou o pescoço dele e não mostrou qualquer intensão de resistir. Ele se aproximou mais e enterrou os dedos no cabelo dela, dando desta vez sinais bem claros do seu interesse, e fazendo assumir que ele estava tentando ser respeitoso, ir devagar, apesar de jamais ter conhecido nenhum cara que realmente fizesse esse tipo de coisa.
— A gente pode se ver amanhã? — ele inquiriu, ofegante, ainda segurando o rosto dela, que teve vontade de bufar. Não estava a fim de esperar por um segundo encontro e nem via qualquer razão para isso.
— Eu não tenho muito tempo aqui, — falou. — A gente não tem tempo pra cumprir etapas, como pessoas que pretendem ter um relacionamento.
— Então...
— Então, eu não quero te ver amanhã. Eu quero passar a noite com você hoje — declarou, sem rodeios.
Se já não estivesse excitado, com certeza teria ficado naquele momento. Adorava mulheres que sabiam o que queriam e que não escondiam seus desejos.
Ele também queria , desde o momento em que ela mordera o lábio, no dia anterior, constrangida por não ter controlado a própria língua, teoricamente o acusando der ter um péssimo gosto. Ao deixar o restaurante, não a convidara para passar a noite em seu apartamento apenas porque pareceu-lhe estranho fazer esse tipo de convite a alguém com quem sequer tinha trocado um beijo.
Incapaz de resistir, ele a beijou novamente, antes de recolocar o cinto e dar partida no carro, rumo ao loft onde residia. Felizmente não era muito longe, mas maldisse mentalmente os vizinhos que pegaram o elevador com eles, e ainda saltaram no mesmo andar, obrigando-o a manter suas mãos longe de até já estarem dentro de casa.
Suas bocas se encontraram, sedentas, enquanto ele a levantava no colo. Era ótimo que soubesse o caminho e não houvesse muitos objetos de decoração no local, pois assim chegou ao quarto sem causar nenhum acidente. Colocou a garota no chão, devagar, mas sem se soltar dela, e abriu com calma o fecho que ficava na parte de trás do vestido que ela usava, aproveitando para deslizar os dedos na pele macia, ao longo da coluna.
Ela o empurrou de leve, enfiando uma das mãos entre os dois, e abriu os botões da camisa dele, o cinto e a calça. Antes ocupado com o zíper, ele chegara à barra do vestido e o levantara, expondo o quadril e a bunda, que agora alisava e apertava, beijando-a com mais fervor.
Os beijos dele provocavam nela uma vontade de mais e mais beijos, mais e mais longos, tirando seu fôlego, diminuindo sua força, afetando seu equilíbrio. O corpo dela era receptivo ao seu toque, os pelos se arrepiando, a pele se aquecendo, o coração aumentando a frequência.
Logo as mãos de estavam dentro do vestido, subindo na direção dos seios, mas não os tocaram. Ele interrompeu o beijo, para tirar a peça de roupa do corpo dela, e a levou para a cama, fazendo com que se deitasse. o observou tirar a camisa, bem como uma camiseta de malha que usava embaixo e a calça, juntando-se a ela na cama quase como viera ao mundo.
Ele pairou acima dela, encarando-a, com as pupilas dilatadas. Tocou seus lábios com o polegar, e elas o sugou, sensualmente, fazendo com que ele sentisse a pressão em seu pênis aumentar, dentro da cueca. Beijando-a de novo, dessa vez com uma calma deliberada, provocante, tocou seus seios por sobre o sutiã, até sentir o mamilo enrijecer. O quadril dela se ergueu quase imperceptivelmente, sem que ela nem mesmo percebesse.
Por mais que a boca de estivesse se tornando um vício bom, tinha outros lugares a explorar com a dele, e foi descendo pelo queixo, pescoço e clavícula, até chegar aos seios. Ele a ergueu da cama, colocando a mão atrás da e abrindo o sutiã, do qual se livrou rapidamente, colocando a boca no lugar que deixara sensível pouco antes. O gemido dela o estimulou a continuar e ele lambeu o outro seio, beliscando gostosamente o primeiro.
Ela enterrou os dedos no cabelo dele quando sentiu o rapaz deixando seu seio e dando selinhos em seu abdômen, repetidas e repetidas vezes, até chegar ao baixo ventre. Ele ajoelhou entre as pernas dela e tirou sua calcinha, observando seu corpo por alguns segundos, se alimentando daquela imagem que, para ele, era belo e admirável como qualquer quadro valioso exposto em uma galeria de artes.
Ele provou o gosto dela e aumentou a excitação de ambos até um ponto quase doloroso, até esticar o braço e pegar um preservativo na gaveta da mesa de cabeceira, que ela tomou de sua mão, fazendo questão de colocá-lo para aproveitar e tocar sua ereção, provocando-o, assim como ele tinha acabado de fazer com ela.
Então os dois se conectaram da forma mais íntima possível e, a partir desse momento, tudo passou a ser mais rápido e menos sutil. O corpo dele batia contra o dela, emitindo um ruído alto, os gemidos dela eram frequentes e deram lugar a gritos, quando o orgasmo a atingiu, e o gozo dele também escapou junto a um som gutural.
se jogou na cama ao lado de e segurou a mão dela. Ficaram deitados assim, lado a lado e de mãos dadas, até ele recuperar as forças e se levantar, a fim de jogar a camisinha fora. Quando ele voltou, a tinha adormecido, mas ela o acordou para uma segunda vez ainda melhor, pouco mais de uma hora depois, e uma terceira aconteceu na cozinha, antes de ela resolver que estava na hora de se despedir.
Ele tentou convencê-la a dormir no loft, mas ela ainda tinha fotos a fazer e precisava de algumas horas de sono tranquilo, sem interrupções, para que pudesse chegar ao trabalho bem descansada e concentrada. Então ele a levou até a casa de Kim, pela segunda vez naquela noite.
— Eu ainda quero te ver amanhã — declarou, quando chegaram ao destino. — Na verdade, hoje, né? — O céu estava lindíssimo, colorido pelo alvorecer.
— Eu também. — Ela sorriu, despedindo-se com um beijo feito para deixar gostinho de quero mais.
Não tinha imaginado que passaria aqueles dias com ninguém, além da amiga, mas a realidade é que não seria nada mal ter um pouco mais de conversa interessante, bons programas e especialmente sexo arrasador. Havia muito tempo que não tinha nenhum tipo de aventura sexual ou romântica, estando sempre focadíssima no trabalho, o que só se agravara quando conseguira patrocínio e editora para o projeto de sua vida.
e praticamente não desgrudaram um do outro, durante todo o resto do tempo que ela passou na cidade. Ele aproveitou o momento em que ela estava em sua última sessão de fotos, com McCutchen, para resolver coisas de trabalho pendentes, e depois curtiu o restante da semana com ela, sem se preocupar com mais nada.
Visitaram China Town, o Parque Yerba Buena Gardens e o Pier 39. Foram ao cinema, e compraram chocolates na Ghirardelli Square e alguns presentes para a família dela na Union Square. Ele a levou para conhecer o irmão, e ela o apresentou a Kim. E também passaram um bom tempo na casa dele, fazendo aquilo que só podia ser feito com privacidade.
Na noite de domingo, a última de em São Francisco, fez um espaguete à carbonara e abriu um chardonnay francês que ganhara de um cliente. Eles comeram e assistiram a dois filmes na Netflix, antes de transar no sofá, no chuveiro e na cama, e pegar no sono, ainda nus.
acordou no meio da madrugada e encontrou se preparando para ir embora. Ela achava mais fácil sair sem se despedir oficialmente, por isso se levantou em silêncio, vestiu a roupa e estava tentando chamar um táxi, mas ele não pensava como ela.
— Eu faço questão de te levar — asseverou, pegando a chave do carro sobre o aparador.
O percurso até a casa de Kimberly foi aparentemente tranquilo, mas a verdade é que eles não estavam à vontade como sempre ficavam na presença um do outro. Por mais que soubessem, desde o início, que seu tempo juntos seria breve, acabaram vivendo uma coisa intensa demais para que dessem as costas para ela sem um certo desconforto.
— Que horas é o seu voo, amanhã? — Ele quebrou o silêncio, quando virou a esquina, entrando na rua em que Kim vivia.
— Às dez — respondeu, com os olhos fixos na janela do automóvel.
— Não é tão cedo... — comentou, apenas por não ter muito o que dizer.
— Não... — concordou, também apenas para não deixá-lo sem resposta. — Foi ótimo te conhecer, — afirmou, tentando usar um tom brincalhão, quando ele parou o carro. Soltou o cinto de segurança e se aproximou dele, com a intenção de lhe dar um beijo rápido e sair de uma vez do veículo.
Ele, contudo, tinha outros planos e a segurou pela mão, beijando sua boca de forma profunda e lenta.
Os dois já tinham trocado muitos beijos intensos, longos, mas aquele tinha uma coisa que os outros nunca tiveram. Aquele era marcado pelo peso da despedida, pelo profundo desejo de não dizer adeus, em contraste com a plena consciência de que seria inevitável.
— Eu te ligo — ele disse, fazendo carinho no dorso da mão dela, relutante em largá-la.
— Claro. Vou ficar esperando — respondeu, e ele a encarou, franzindo a testa. — O que foi?
— Por que a ironia? — indagou, contrariado.
— Quando é que vocês, homens, ligam, ? — perguntou de volta, sincera, ainda que arrependida de ter sido sarcástica.
— Eu não posso falar pelos outros homens, mas eu ligo quando encontro alguém que mexe de verdade comigo. É por isso que eu vou te ligar — garantiu, sorrindo. — Você pode se defender com ironias à vontade.
Ela deu um sorrisinho amarelo, antes de dar um último selinho nele e sair do carro. Não podia discordar dele no que dizia respeito a estar se defendendo, mas, se fazia isso, era justamente porque acreditava que eles nunca mais voltariam a se ver... ou mesmo a se falar.
***
Foi uma surpresa quando ele ligou realmente, dois dias depois de sua volta para Los Angeles, e ela demorou a se acostumar com a troca de mensagens que veio depois disso, mas agora ali estava ela, colocando lingerie sexy na mala porque teria companhia em sua viagem de trabalho à Filadélfia.
tinha conseguido comprar passagens de ida e volta, e seu avião rumo à Costa Atlântica decolaria ainda de madrugada. O dela sairia de Los Angeles um pouco mais tarde, mas, graças à pequena diferença de fuso horário, chegaria ainda a tempo de almoçarem juntos no Parc Brasserie, antes de fazer o check-in no Rittenhouse Hotel, onde ela já tinha um quarto reservado.
Antes de fechar a mala e finalmente se preparar para dormir, a garota ainda decidiu trocar algumas blusas e calças que tinha colocado na bagagem por outras um pouco mais bonitas, apesar de, no processo, ter chegado à conclusão de que seria bom dar uma atualizada no guarda-roupa. Ela gostava do casual, mas talvez alguns programas pedissem um pouquinho mais do que jeans e camisetas. E talvez estivesse apaixonada e quisesse se sentir não só bonita, mas a garota mais linda em quem colocaria os olhos.
Lembrou imediatamente da irmã mais velha, que vivia dizendo que, no dia em que ela precisasse sair para algum lugar e não fosse a trabalho, não sabia como a caçula iria se virar. Então, apesar de saber que dar razão a Piper era um perigo, acabou adiando ainda mais o descanso e caminhando as duas quadras que levavam à casa dela, para pegar algumas peças emprestadas.
De qualquer modo, o adiamento em si não fez tanta diferença, porque dormir naquela noite foi algo impossível. Cochilos de quinze ou vinte minutos foram o máximo de repouso que ela conseguiu, diante da expectativa de se encontrar com , tão grande que o fato de que ia fotografar Nolan Patrick ficou totalmente em segundo plano. Sua secretária precisou enviar três recados pela manhã até que respondesse que estava totalmente de acordo com o cronograma de trabalho.
Quando ela finalmente chegou ao Parc Brasserie, acompanhada da inconfundível mala responsável por ter conhecido , ele já a aguardava, com a dele atrás da mesa que escolhera para os dois, do lado de fora, na calçada. Ele levantou, com um sorriso imenso nos lábios, e a tomou em seus braços, beijando seus lábios, bem ali na rua, perto dos outros clientes do restaurante, sem conseguir ser tão discreto quanto talvez devesse. Ela, no entanto, também não se importou com nada nem ninguém, e correspondeu o beijo e o abraço, com o mesmo entusiasmo.
— Você tá linda — elogiou ele, acariciando o rosto dela, que sorriu, confiante. — Com fome? — Indagou, empurrando a mala dela para o canto, antes de se sentar.
— Muita! — respondeu, ocupando uma cadeira ao lado da dele e colocando a bagagem de mão com suas ferramentas de trabalho em outra. — Até serviram um suposto almoço no avião, mas você sabe como é, né? — Ele assentiu.
— Eu tava com tanta saudade — afirmou, segurando uma das mãos dela e fazendo carinho. — Que bom que você acabou concordando em me ver.
Ela segurou o rosto dele e o beijou novamente, sem pudor. Também estava feliz por ter se enchido de coragem e convidado para aquela viagem. Lidaria com as consequências depois, mas, até esse depois aproveitaria ao máximo, e não se permitiria ter pensamentos que pudessem antecipar algum sofrimento. Beijá-lo era uma das coisas mais perfeitas que ela já tinha experimentado na vida, e ela provaria daquela perfeição tanto quanto pudesse.
— Te ver é bom, mas isso é melhor. — Os dois não conseguiam parar de se encarar, nem de sorrir. Porém o clima foi quebrado pelo estômago dele, que roncou sonoramente, fazendo ambos rirem.
— É melhor escolhermos algo.
Não faltavam boas opções no cardápio, mas as escolhas foram feitas rapidamente. Durante o almoço, o casal colocou o papo em dia e, em seguida, atravessou a Rittenhouse Square, arrastando as duas malas idênticas até o hotel, onde preencheram uma ficha e receberam cartões magnéticos para acesso ao quarto.
tinha que estar no Wells Fargo Center, sede do Philadelphia Flyers, em apenas duas horas, mas isso não os impediu de matar a saudade, tomando um banho juntos, e ficou feliz quando foi convidado para acompanhá-la e assistir à sessão que faria com um dos principais jogadores do time de hóquei daquela cidade.
— O cara é meio mimado. Você não achou, não? — Perguntou a , dentro do táxi que tinham chamado para levá-los de volta ao hotel, depois das fotos.
— Talvez seja por isso que ele tem a mãe como empresária — concordou, rindo.
— Quem mais você vai fotografar, nesses três dias?
— Nesse três dias, mais ninguém. Ele é nosso único atleta da Filadélfia. — Ela percebeu a surpresa estampada no semblante dele. — Eu tinha dois dias de folga, antes das próximas sessões, e não conhecia a Filadélfia, então decidi ficar três dias, e não só um. As próximas fotos são em Nova York, que eu já conheço bem.
— Se você não conhece a cidade, não acha melhor a gente dar uma volta, ao invés de ir pro hotel? Tem alguns passeios bem turísticos aqui que são noturnos, com os guias contando umas histórias macabras… Uns lances sobre vampiros, bruxas… Eu me lembro que tem uma que termina num pub. O motorista deve saber onde a gente pega.
ficou animada com a sugestão e os dois só voltaram para o hotel no final da noite, rindo muito ainda das histórias loucas que tinham escutado no passeio. No dia seguinte, conseguiram ir a apenas ao Museu de Arte, porque só acordaram na hora do almoço, depois de uma madrugada inteira fazendo sexo na cama convidativa da suíte e conversando sobre tantos assuntos que nem conseguiriam listar, se alguém perguntasse.
No último dia, apesar de a noite de sono não ter sido diferente da anterior, conseguiram pegar ainda o café da manhã do hotel posto, e foram para a rua, visitar o Observatório, o Museu da Revolução Americana e o Parque Histórico Nacional da Independência. Fizeram algumas compras, pelo caminho, e também almoçaram no Hard Rock Cafe, ouvindo o tipo de música de que ambos mais gostavam.
— Quando é mesmo a sua visita àquela fábrica de brinquedos? — perguntou, de repente, ignorando o assunto completamente diferente sobre o qual ele estava falando, enquanto ambos colocavam suas coisas nas malas, no fim da tarde.
— Só na última semana do mês. Por quê?
— Porque… — Deixando a mala de lado, ela foi até e o encarou. — Se você conseguisse trocar sua passagem… Eu sei que é difícil, mas você iria comigo pra Nova York?
— Na verdade, eu… tava esperando que você me convidasse. — Ele sorriu, puxando a garota pela cintura e colando o corpo dela no seu. — Esse três dias passaram muito rápido pro meu gosto.
Ele a puxou pela nuca, beijando sua boca. Segurou sua bunda, coberta pelo jeans justíssimo, apertando o quadril contra o dela e mostrando o desejo que crescia nele, quando sentia o cheiro dela, a pele quente sob seus dedos, os lábios macios nos seus, a língua doce roçando a dele. Lamentou que tivessem hora, mas adorou a ideia de pegar um voo com ela para Nova York e, mais tarde, lá em cima, no meio das nuvens, ele usou uma das mãos para levá-la ainda mais alto.
O tempo deles na Grande Maçã também não foi muito e, em cada um dos quatro dias, a fotógrafa teve pelo menos uma sessão de fotos para o livro. No entanto, os dois já conheciam bem a cidade e não fizeram programas turísticos, aproveitando as horas no quarto do hotel, como se estivessem em uma lua-de-mel. Até algumas refeições foram feitas na cama, como o almoço do último dia, após o qual eles começaram a inspecionar o quarto, a fim de não deixar nenhum item pessoal para trás.
e foram juntos para LaGuardia Airport. Depois de despachar as malas, seguiram para o embarque, de mãos dadas, olharam algumas lojas, já na área restrita, e decidiram comer alguma coisa em uma lanchonete. seria a primeira a voltar para casa e, na medida em que o horário de partida dela se aproximava, a tensão que tinham conseguido evitar por todos aqueles dias começou a surgir e, com ela, um silêncio incomum e desagradável.
— E aí? O que a gente faz? — Foi ela quem teve a coragem de parar de fingir que tudo estava normal, depois de pedir a conta à menina que servira a refeição.
— Como assim? — Ele até sabia sobre o que ela queria falar, mas não tinha tanta certeza sobre precisarem realmente colocar em palavras o que para ele era óbvio.
— A gente vai cada um pra um lado? Guarda tudo isso como ótimas lembranças...?
— Não! Claro que não! — respondeu, resoluto, mas pelo jeito para ela não era nada óbvio.
— Então o que? A gente vai ter um relacionamento à distância? Infelizmente eu não conheço nenhum que deu certo, ... — comentou, frustrada.
— Ei! Vem cá — disse, puxando a garota para mais perto. — Eu também não curto muito a ideia de relacionamento à distância, mas tá fora de cogitação a gente simplesmente virar as costas pra isso que a gente tem um com o outro, sem nem tentar.
— Eu poderia me mudar pra São Francisco. Meu trabalho pode ser feito em qualquer lugar. Mas...
— Mas é muito precipitado mudar de cidade por alguém que você mal conhece, eu sei — completou. — O meu trabalho também pode ser feito de qualquer lugar, mas eu também não me mudaria. Não agora.
— Então a gente volta à estaca zero. Você não acha?
— Não — declarou com toda a calma e sinceridade. — A gente não precisa ter um relacionamento à distância, com todas as cobranças, e tudo mais. A gente pode se encontrar mais vezes, se conhecer mais, e decidir se a gente quer ter um relacionamento e, aí sim, um de nós pode se mudar... Ou os dois. Quem sabe a gente não vem pra Nova York, por exemplo? — Deu de ombros. — Pode ser que a gente tenha um monte de coisas em comum e uma atração forte, mas seja só isso, e a gente perceba e vire bons amigos... Mas também pode ser amor, . Amor. E eu quero descobrir.
Ela o encarou, respirou fundo, levou alguns segundos para processar tudo o que ele dissera, e o deixou bastante apreensivo. Nenhum dos dois registrou a primeira chamada do voo dela para Los Angeles ou a garçonete deixando a notinha sobre a mesa.
— Eu também quero descobrir — ela revelou, enfim sorrindo, e os dois se abraçaram, permanecendo um nos braços do outro por algum tempo, até que uma segunda chamada para o voo das dez horas fosse ouvida.
não estava triste, e sim esperançosa, quando se despediu de e entrou no Portão 11. O voo dele partiria meia hora depois e o embarque seria feito pelo Portão 14. Antes de colocar o celular no modo avião, ela deu uma última conferida nas redes sociais e no whatsapp, como fazia sempre, e já tinha escrito algo, que a fez se apaixonar ainda mais por ele.
Estive pensando
Talvez eles tenham trocado as nossas malas identicamente horrorosas na hora do check-in
E a gente tenha que se encontrar correndo pra destrocar
Que sorte a nossa! (rs)
tinha conseguido dormir até um pouco mais tarde naquele dia. Era domingo e finalmente não marcara nenhum compromisso de trabalho para a parte da manhã. Ainda deitada, curtindo a cama quentinha e macia, esticou a mão e pegou o celular, deixado estrategicamente na mesa de cabeceira. Havia algumas conversas marcadas com a famosa bolinha azul numerada no whatsapp, mas ela ignorou a maioria delas, escolhendo abrir a mensagem de .
Sorriu, mesmo com o misto de sentimentos que vinham junto de cada frase daquele tipo que ele enviava. Ela também pensava demais nele. Com certeza, muito mais do que deveria, dadas as circunstâncias.
Também penso em você,
Ela digitou e ficou olhando para as próprias palavras por um tempo. Sabia que precisava responder, mas não tinha tanta certeza quanto a ser verdadeira sobre o fato de estar sempre com ele na cabeça, a ponto de ter pedido a concentração no trabalho algumas vezes.
Ele não estava online quando ela finalmente enviou a mensagem, certa de que a confissão tinha a medida exata que deveria ter, sem advérbios de intensidade ou exclamações que incentivariam ainda mais a insistir em um assunto que provavelmente deveria ser encerrado. Somente uma hora depois, quando ela já estava na casa dos pais para um almoço em família, recebeu novas notificações.
Desculpa a demora
Tava malhando
Mas que bom
Que você também pensa em mim
Eu lembro de você o tempo todo!
Quero muito te ver,
A jovem fechou o aplicativo e foi até a cozinha a fim de oferecer ajuda à mãe, na tentativa de deixar de lado por um tempo o que acabara de ler. Era verdade que ele saberia que ela tinha visualizado, e que poderia parecer indelicada ou até mal educada com aquela atitude, mas não havia como responder na hora. Não tinha a menor ideia do que dizer!
Ela também queria vê-lo, ouvir a voz dele, sentir o cheiro. Às vezes quando acabava de tratar fotografias, de responder e-mails ou de organizar sua agenda, abria o instagram, ficava olhando as fotos dele, e acabava com mais vontade ainda de estar perto, com saudades do pouco tempo que tinham dividido. Porém nem tudo que desejamos é possível e, mesmo que pudesse encontra-lo, acreditava que tinha mais a perder do que a ganhar de outros momentos breves e intensos com .
Eu ando bastante enrolada com o livro,
E eu também não sei se é uma boa ideia
Escreveu, já de volta à própria casa, no fim da tarde, deitada no sofá. Estava tão apreensiva sobre o que escrever que precisara mudar de roupa, colocando uma camiseta comprida e larga, que deveria fazer parte do guarda-roupa de alguém uns vinte centímetros mais alto, e levar o travesseiro para a sala, a fim de se sentir um pouco menos desconfortável.
Ao redigir a primeira frase, ela tinha caído na tentação de enrolá-lo, não só porque era mais fácil, como também por haver um lado dela que desejava que ele insistisse, que a fizesse concordar. Havia uma parte menos racional que queria mergulhar de cabeça em um jogo de sedução com ele, que resultaria em um final de semana incrível juntos, mesmo que depois viesse o mesmo vazio que a ausência dele vinha deixando, dia após dia. Um buraco esquisito na vida dela que não existia antes de os dois se conhecerem, mas agora não podia ser ignorado.
No entanto não era nenhuma adolescente para ficar investindo em joguinhos e sempre se orgulhara de ser bastante racional. Já tinha se apaixonado antes e tentado viver um lance casual, e cada vez que ficava sozinha, sem poder contar com a pessoa, sem poder dividir a vida com ela, vinham os momentos de sofrimento. Alimentar sentimentos agora para ter que esquecer em um futuro próximo era burrice!
Então escreveu a outra frase, apenas alguns segundos depois, e a enviou também, decidindo que ser franca com ele podia ser mais difícil, porém a tiraria mais rápido daquela situação complicada. Ligou a televisão e tentou se concentrar no jogo de basquete que estava sendo exibido, deixando o celular na mesinha de centro, como se não estivesse ansiosa para saber o que ele responderia.
Não vou te convencer a vir me ver, quando você tem essa desculpa tão boa que é o seu livro
Mas posso ir até aí quando você estiver
Meu projeto acaba em quinze dias
Até lá acho que consigo convencer você a sair comigo
O terceiro quarto da partida entre Pistons e Lakers foi interrompido pela chegada da resposta, e conseguiu prestar ainda menos atenção quando largou o iPhone de novo. demonstrara sua total falta de inclinação para desistir, e fizera isso de uma forma tão leve, com um emoji fofo piscando para ela no final de tudo, que ela não pode deixar de se sentir certa euforia.
Quando pegou no sono, vencida pelo cansaço, com o barulho dos jornalistas do canal de esportes comentando a vitória do time de Detroit e a atuação magistral de Reggie Jackson, também teimou em fazer parte de seus sonhos.
colocou o copo de café sobre a mesa, tirou o laptop da bolsa e ligou o aparelho, entrando diretamente no instagram. Já havia aceitado o convite de amizade de no facebook e resolveu finalmente segui-lo também naquela outra rede social.
Não vinha sendo muito legal com ele, que curtia sempre suas fotos e deixava vários recados, os quais recebiam normalmente respostas curtas e objetivas. Também não vinha sendo honesta com ele ou consigo mesma, afinal, ainda que não estivesse seguindo até aquele momento, fuçava as postagens dele diariamente. Não estava conseguindo mesmo ignorar o que sentia, então não havia razão para fingir desinteresse, no fim das contas!
Em alguns minutos, seu editor chegaria à cafeteria onde o aguardava, para ver parte do material que ela conseguira reunir, e estava animada, exatamente como deveria, ao adentrar o local. A empolgação só durara, contudo, até um rapaz ficar olhando insistentemente em sua direção, e ela simplesmente não conseguir retribuir seu olhar, pois era outra pessoa quem ela queria que a encarasse com aquele riso nos olhos, com aquele interesse totalmente óbvio.
Talvez se encarasse com mais naturalidade o fato de ela e quererem um ao outro, pudesse enfim voltar a ser ela mesma e dar a atenção que seu trabalho exigia.
— Postando algo pra atiçar a curiosidade dos seus seguidores? — Zig perguntou, dando um beijo em sua bochecha, antes de ocupar o banco em frente ao dela.
— Ainda não – disse, clicando enfim no seguir e fechando o navegador. — Queria saber antes sua opinião... O que você acha que seria um bom marketing pra gente nesse momento.
— Algo que chame atenção, mas não entregue totalmente o projeto? Que estimule as pessoas a perguntar talvez? — Ele tinha mania de responder assim, como se estivesse pensando alto.
— Quem sabe uma imagem que nem vá fazer parte do livro? — indagou, empolgada. — Como é meu insta pessoal, eu podia postar uma foto minha com alguém, que faça o pessoal querer saber a razão do encontro. O que você acha?
— Perfeito. Que opções nós temos? — Ela virou o laptop de modo que os dois pudessem ver a tela e começou a abrir algumas fotos armazenadas na pasta Tietando.
— Essa! – Ele quase gritou quando ela abriu a quarta foto. — Essa com toda a certeza. Esse cara é o máximo e você tá ótima!
— Obrigada — falou, rindo. — Eu adorei conhecer o Salah! A história dele é incrível! E também acho que o povo vai ficar muito mais curioso do que se a gente colocar um atleta daqui.
Ela virou o computador de volta para si, enquanto Zig chamada o garçom. Ele perguntou se ela queria alguma coisa, mas não estava com fome e apenas agradeceu. Abriu de novo o instagram, para postar de uma vez sua foto com o atacante egípcio que atuava no Liverpool e que ela tinha fotografado na semana anterior, em Londres.
— Pronto — disse, minimizando o site. Ela e seu editor tinham muito trabalho a fazer, por mais que estivesse curiosa para ver a reação de seus amigos e fãs.
Só pode conferir as mensagens no começo da noite, depois da reunião com Zig e de mais uma sessão de fotos, dessa vez com o atleta dos saltos ornamentais Michael Hixon.
Sou fã. Dos dois! Declarara uma amiga dela.
Homão da porra! Ainda não te perdoei. Sua assistente escrevera. a deixara em Los Angeles fazendo trabalho burocrático, ao invés de levá-la para Londres.
Será que ele vai conseguir ir pra Copa? Questionara um seguidor.
VOCÊ TB É FÃ DELE? Outro surtara.
O que você tá fazendo com Mohamed Salah???? Alguém perguntara e acabara enfim chamando atenção para o encontro.
É verdade! Trabalho ou lazer?
Onde foi isso? Ele tá aqui?
Tem mais fotos? Posta aí!
Havia muitas mensagens mais ou menos com este conteúdo, tendo sido alcançado o objetivo da postagem.
Louco pra ver os jogos do Egito esse ano! observara, mas, por ser algo impessoal, ela quase nem percebera que o comentário era dele.
No entanto, ele tinha enviado um direct também.
Que sorriso, ! Que vontade de ver esse sorriso de perto de novo... De ter você sorrindo assim só pra mim.
Se ele pudesse vê-la naquele momento, teria visto o sorriso que tanto queria. Ela não queria que uma simples mensagem a afetasse tanto, mas não conseguia escapar disso. Olhou para a mala, aberta sobre a cama, e o sorriso se transformou em uma sonora gargalhada. Talvez, no fim das contas, ela não tivesse que evitar...
Seu projeto já acabou? Você teria como pegar um avião amanhã, me encontrar na Filadélfia e passar três dias comigo? Digitou, enquanto se lembrava da primeira viagem que fizera com aquela mala horrorosa.
Algumas semanas antes...
saiu do avião já correndo para a área onde deveria pegar a bagagem despachada, bufando e xingando mentalmente o agente de Jimmy Garoppolo, por ter antecipado o horário da sessão de fotos, e feito com que ela acabasse pousando em São Francisco em cima da hora. Tinha comprado sua passagem antes da mudança, não conseguira trocá-la, e agora não sabia se seria capaz de chegar ao estádio dos San Francisco 49ers, que ficava a uma hora de carro, pontualmente.
Para seu desespero, as malas ainda demoraram a começar a aparecer na esteira, e ela não sabia se ficava com mais raiva da companhia aérea ou dos demais passageiros, que pareciam calmos demais, conversando uns com os outros ou mexendo em seus celulares, enquanto aguardavam.
Quando a primeira mala surgiu, com sua estampa xadrez, nas cores vermelha, azul e verde, a agarrou e andou o mais rápido que pode com ela, em direção à saída. Ficou grata por finalmente ter tido alguma sorte e também por ter levado aquela bolsa com rodinhas, graças à insistência da mãe, apesar de estar carregando nela apenas o suficiente para uma viagem de quatro dias. A bagagem de mão, com suas ferramentas de trabalho, já era pesada o suficiente.
Um motorista previamente contratado já a esperava e seu atraso para a sessão foi de apenas cinco minutos, que na verdade passaram despercebidos, pois o famoso quarterback estava dando uma entrevista, que acabou somente meia hora depois. A garota só não ficou ainda mais irritada com a falta de consideração do agente do jogador porque pode usar o tempo extra para conversar com o fotógrafo escolhido para ser seu assistente nas sessões feitas naquela cidade, preparar melhor o equipamento e estudar o local escolhido para as fotos.
Felizmente, gostava muito do que fazia. Adorava registrar momentos únicos, explorar as diferentes fontes de luz, conseguir captar padrões de cor singulares, contrastes. Amava especialmente clicar pessoas que não ganhavam a vida fazendo pose e estava encantada por seu mais novo projeto, no qual entraria parte do material resultante daquele photoshoot.
Sua paixão era tanta que, depois de conseguir todas as imagens que desejava, ainda se dedicou ao trabalho por horas, tratando tudo com auxílio do photoshop e do lightroom, em seu laptop, no quarto de hóspedes do apartamento de uma amiga, que não a deixara ir para um hotel. Não pegou no celular durante tempo o bastante para ter quatorze conversas não lidas no whatsapp, quando finalmente se lembrou de dar uma olhada nele.
Tanto a mãe quanto a irmã queriam saber se ela tinha chegado bem, o pai estava curioso para saber se Garoppolo era ou não um esnobe, e o irmão insistia para que pegasse um autografo do jogador para ele. Sua secretária relembrava os horários de seus compromissos do dia seguinte e a agente de Catherine Bellis insistia para que ela convencesse a garota a se maquiar para a sessão de fotos que fariam. A amiga de quem era hóspede pedia que ficasse à vontade para fuçar a geladeira, mas a aguardasse para jantarem juntas, e a prima mandara cinco áudios que ela decidiu ouvir mais tarde.
Havia também mensagens em alguns grupos de amigos e nos de colegas de profissão, mas uma imagem ela não reconheceu e nem o número correspondente.
Peço desculpas por entrar em contato assim, já que não nos conhecemos, mas eu estou com a sua mala.
Leu a primeira frase do estranho, e seus olhos correram automaticamente da tela do celular para a mala chamativa encostada em uma parede, enquanto sua testa se franzia em confusão.
Imagino que você também esteja com a minha, já que a sua foi a única que sobrou do nosso vôo.
Gostaria de saber como podemos fazer para destrocá-las, pois estou precisando muito das minhas coisas e imagino que você também precise das suas.
Largando o aparelho sobre a mesa, se levantou e caminhou até a mala, a fim de olhar a etiqueta colocada pela companhia aérea, que deveria ter seu nome e seus dados, mas que ela não conferira ao pegar a bagagem. Tinha esperança de que aquela mensagem fosse um engano, apesar de o mensageiro ter seu número de telefone e saber que ela havia viajado de avião recentemente.
Infelizmente, estava realmente com a mala de alguém chamado , o que poderia ter descoberto antes, se ao menos tivesse pensado em trocar de roupa, ao invés de ter apenas jogado os sapatos em algum lugar do quarto e amarrado os cabelos com um elástico, mantendo os jeans e a camiseta que usara para fotografar Garoppolo.
Eu to mesmo com a sua mala
Acho que te devo desculpas
Ela enviou e o viu começar a digitar algo logo em seguida.
Não tem problema. De verdade. A gente só precisa mesmo destrocar.
Como podemos fazer?
Ele soou simpático e teve o impulso de olhar sua foto de perfil, antes de responder. Não foi possível descobrir muita coisa, no entanto. usava óculos de sol e a imagem estava um pouco escura.
Eu preciso fazer umas compras
Talvez eu possa aproveitar...
Tem algum shopping que fique bom pra você?
Não havia nada que precisasse realmente adquirir no momento, e ela não gostava de lugares muito convencionais para fazer suas compras, mas um shopping center pareceu-lhe um bom lugar para marcar um encontro com uma pessoa estranha. podia ter ficado com sua mala não por vontade própria, e sim por imposição do destino – ou da pressa da garota – , mas isso não o tornava automaticamente confiável.
A garota aguardou em frente a uma grande loja de departamentos, conforme combinado, observando as pessoas à procura de alguém que carregasse uma mala igual à que estava a seu lado. Nada, porém, poderia tê-la preparado para o homem que surgiu, arrastando o objeto com rodinhas. A aparência dele tirou seu fôlego e a deixou tão desconcertada que, ao invés de olhar para a pessoa que estava aguardando, focou na inconfundível e terrível estampa xadrez.
— ? — O rapaz chamou, fazendo com que ela fosse obrigada a olhar para seu rosto.
— Hã... Oi! — respondeu, talvez um pouco mais alto do que o normal, mas ele não pareceu perceber que ela não agia de um jeito muito normal, pois sorriu e lhe estendeu a mão.
Ela aceitou o cumprimento e não sentiu nenhuma faísca sobrenatural, daquelas que os autores de romance gostam de incorporar às suas narrativas sobre o primeiro toque, mas a firmeza da mão dele na sua fez com que encolhesse os dedos dos pés dentro do sapato.
— Me desculpa por pegar sua mala. E muito obrigada por vir fazer a troca aqui — ela disse, quando se soltaram.
— Tudo bem — ele assegurou. — Eu queria mesmo tomar um cappuccino com chantilly, desses que a gente até tenta fazer em casa, mas nunca ficam perfeitos, sabe? Você me acompanha?
— Claro — respondeu, conseguindo dar um sorriso enfim, e ele a guiou até uma cafeteria.
Escolheram uma mesa em um canto, no qual as malas poderiam ficar sem atrapalhar outros clientes, olharam os cardápios, cheios de opções deliciosas, e fizeram enfim seus pedidos ao garçom, que anotou tudo e voltou para perto do balcão.
— Eu queria te pedir desculpas, mais uma vez — insistiu ela. — Eu tava em cima da hora pra um compromisso e nunca imaginei que outra pessoa pudesse estar com uma mala igual a minha.
— , você não precisa continuar me pedindo desculpas. É sério! Se eu estivesse puto, com certeza preferiria tomar esse café sozinho — observou.
— É verdade, mas é que eu não me conformo com o meu descuido! Mesmo que eu precisasse correr, e que eu jamais pudesse achar que mais alguém teria essa mala tenebrosa, eu... — Ao se dar conta do que tinha falado, ela parou, respirou fundo e mordeu o lábio inferior. Definitivamente, a estava afetando demais, para ela estar com aquela espécie de hemorragia verbal.
— Tenebrosa, hein? — ele riu.
— Deus! Eu tento me desculpar e acabo te acusando de ter um péssimo gosto pra malas. Vou ter que me desculpar... de novo.
— A mala é tenebrosa. Eu concordo. Eu fui a Los Angeles com uma mala preta, bem discreta, mas ela arrebentou, quando eu tava me preparando pra voltar e eu tive que correr até uma loja...
— Ufa! — Ela colocou dramaticamente a mão no peito. — Que alívio! Não só por eu não ter ofendido seu gosto, mas por você não ter tanto mal gosto. Quando a minha secretária apareceu com essa mala, eu quase tive um treco. Eu pensei seriamente em não usar, viu? Mas a Iggy foi tão carinhosa e tão atenciosa, escolhendo uma mala toda feita de material reciclado, sabendo que eu dou o maior valor a isso, que eu acabei vindo com ela.
— Interessante, porque foi a mesma razão pela qual eu comprei essa mala, na tal loja pra qual eu tive que correr. — Ela o olhou, desconfiada, e ele riu. — É sério! Produção sustentável de bens não é só algo que me interessa, é o meu trabalho.
O garçom chegou com uma bandeja cheia nas mãos, e colocou a xícara com o cappuccino na frente de , e a do chocolate quente na frente dela. Fez confusão em relação ao croissant de pecorino que ela pedira e a fatia de torta de maçã que ele escolhera, mas nenhum dos dois falou nada. Ambos apenas agradeceram e mudou os pratinhos de lugar.
— Huuuum... Isso aqui tá muito bom — comentou ela, depois de uma mordida no croissant. — Mas, vem cá... Me conta mais sobre esse lance de trabalhar com produção sustentável. Eu to super curiosa! O que exatamente você faz?
— Eu elaboro planos pras empresas fazerem coleta de produtos descartados, reutilização dos materiais, a menor emissão de poluentes possível... essas coisas. Eu tava em Los Angeles pra dar uma entrevista pra um programa de TV, pra explicar como os consumidores podem contribuir, enviando alguns descartáveis pras empresas, ao invés de jogar no lixo e tal. É um trabalho legal. Eu me orgulho dele.
— E deve mesmo! Sem pessoas como você, a gente rapidinho ia ficar sem um planeta pra habitar. — observou tomar um gole de sua bebida. Ele era lindo, e não era só isso. — Então você mora aqui, em São Francisco?
— Uhum — confirmou. — E você em Los Angeles, certo?
— Aham. Como vo-...?
— Veio fotografar alguém? — indagou, de forma casual, e ela franziu a testa, confusa.
— É — confirmou. — Como você sabe? — Ele fez mistério, bebendo mais um gole de café, enquanto ela o encarava, ansiosa.
— No ano passado, meu irmão me deu a biografia ilustrada do Magic Johnson de presente. — Ele não precisou dizer mais nada, pois ela entendeu imediatamente. Não só havia seu nome no livro, por ter sido coautora, responsável por toda a parte das imagens, como também uma foto sua na orelha de cada exemplar.
— Ah, tá! — riu, aliviada. — E o que você achou?
— Ótimo! Você podiam fazer de outros caras como ele. Eu com certeza compraria.
hesitou por um momento. Além da família, de seu editor, de alguns assistentes e dos atletas que tinham concordado em participar, ninguém sabia ainda sobre seu atual projeto. Alguma coisa em , no entanto, inspirava confiança e principalmente fazia com que ela quisesse prolongar a conversa.
— A gente poderia, sim, pensar nisso. Mas agora, na verdade, eu to trabalhando num projeto só meu, que eu queria fazer há anos, só com fotografias de gente ligada ao esporte. Eu vim pra cá pra fotografar o Jimmy Garoppolo, a Catherine Bellis e o Andrew McCutchen.
Tendo morado a vida toda em São Francisco, era torcedor dos 49ers e dos Giants e ficou empolgadíssimo com o fato de jogadores dos seus times, de futebol americano e beisebol, respectivamente, terem sido escolhidos por e terem aceito o convite da fotógrafa. Além disso, ela se revelou uma grande fã de esportes em geral, assim como ele, então assunto foi algo que não faltou.
— Mais um chocolate? — ofereceu, depois de fazer sinal para que o garçom se aproximasse.
— Não, obrigada. Na verdade, eu tenho que ir. Eu to hospedada na casa de uma amiga e ela vai ficar chateada se eu não jantar com ela.
— Uma água e a conta, por favor — ele disse, então, ao garçom. — Até quando você fica em São Francisco?
— Até segunda de manhã. Eu vou aproveitar pra passar o fim de semana e desanuviar um pouco.
— E o jantar de amanhã pode ser comigo, ou a sua amiga também ficaria chateada? — questionou, sorrindo, e ela só pode pensar que, depois de uma conversa ótima, na qual ela descobrira que ele, além de gatérrimo era tão ligado em questões ambientais e esportes quanto ela, ainda dar um sorriso como aquele era covardia!
— Acho que ela aguenta — brincou.
não tinha colocado nada na bagagem compatível com um encontro, e Kimberly usava uma numeração bem diferente da dela, o que fez com que ela tivesse que visitar um shopping pela segunda vez em dois dias, depois de sua sessão de fotos com Bellis.
Kim não só a convenceu a comprar uma roupa um pouco mais ousada do que aquelas com as quais estava acostumada, como também a entrar em um salão de beleza, e fazer unhas, depilação completa e massagem corporal. No final, teve que admitir que foi bom não querer contrariar a amiga, pois as interferências constantes da agente da jovem tenista durante o photoshoot tinham deixado pontos de tensão nos músculos de suas costas.
— Você tá maravilhosa — a amiga assegurou, quando ela ficou pronta para sair. Depois de passar tanto tempo correndo para lá e para cá de camiseta, calça jeans e tênis, era estranho usar um vestido e sapatos de salto fino. Ela nunca fora insegura em relação à própria aparência, mas estava com receio de ter exagerado na produção.
— Ele chegou — disse, mexendo no celular e encontrando uma mensagem de no whats. — Torce pra eu ainda saber andar com essas coisas nos pés e não passar vergonha — pediu, apreensiva como uma adolescente, algo que não ficou muito feliz em perceber.
O nervosismo, entretanto, não era necessário. Ela caminhou sem problemas, e aquelas coisas nos pés e todo o resto deixaram momentaneamente sem fala. Quando ele encontrou a própria voz de novo, repetiu o elogio de Kim, mais de uma vez, e teve vontade de fazer outros, bastante impróprios para aquele momento. Não disse nada a , mas resolveu levá-la a um lugar mais elegante do que aquele que havia escolhido inicialmente, e agradeceu muito mentalmente por conseguir uma mesa, sem que tivesse feito reserva antes.
Tudo correu maravilhosamente bem, durante o jantar. A comida estava deliciosa, o vinho, gelado, a música ambiente ótima, o atendimento impecável, e a conversa tão fluida quanto fora a do dia anterior. Quanto mais papeavam, mais os dois descobriam interesses em comum, afinidades e facilidade em falar um com o outro sobre as mais diversas coisas.
conseguia falar com leveza de assuntos como a perda da irmã, vítima de câncer com apenas vinte anos, e , que era uma pessoa espiritualizada, compartilhava do pensamento dele, que preferia celebrar o fato de alguém como Cindy terem feito parte de sua vida. era intensa ao falar sobre sua visão política, mas não deixou de rir quando contou uma piada que ouvira de um amigo, que não poupava republicanos nem democratas.
Só não se pode dizer que não existia qualquer tensão entre eles, porque havia a do tipo sexual... e era forte! Quando enfim deixaram o restaurante e entraram no carro, esperava que ele a convidasse para esticar em algum lugar e ficou decepcionada ao perceber que ele fazia o caminho para a casa de Kimberly, o que a deixou lacônica.
— Tá tudo bem? — perguntou, após estacionar em frente ao prédio.
— Tá — respondeu, tentando esconder a frustração, mas sem conseguir agir normalmente. Ela nunca tinha sido nada boa em fingir, nem mesmo nas pecinhas de teatro da escola.
— Tá mesmo? To te achando tão calada de repente — insistiu, preocupado.
— É só cansaço — assegurou. Tinha criado expectativas e estava desanimada porque as coisas não tinham acontecido da forma como esperava, mas ele não tinha feito nada realmente reprovável, então usou um tom mais convincente.
— Certo. — Ele tirou o cinto de segurança e se virou na direção dela, que fez o mesmo. — Eu amei essa noite.
— Eu também... gostei muito. — Foi difícil falar (até mesmo raciocinar!) com ele subitamente fazendo carinho no rosto dela. Ele dava sinais que ela não conseguia ler, olhando para sua boca, e umedecendo os próprios lábios com a língua, depois de ter optado por levá-la diretamente para a casa de Kim.
segurou o rosto dela com as duas mãos e a beijou. Inicialmente foi sutil, como se esperasse permissão, mas o beijo se tornou intenso quando ela segurou o pescoço dele e não mostrou qualquer intensão de resistir. Ele se aproximou mais e enterrou os dedos no cabelo dela, dando desta vez sinais bem claros do seu interesse, e fazendo assumir que ele estava tentando ser respeitoso, ir devagar, apesar de jamais ter conhecido nenhum cara que realmente fizesse esse tipo de coisa.
— A gente pode se ver amanhã? — ele inquiriu, ofegante, ainda segurando o rosto dela, que teve vontade de bufar. Não estava a fim de esperar por um segundo encontro e nem via qualquer razão para isso.
— Eu não tenho muito tempo aqui, — falou. — A gente não tem tempo pra cumprir etapas, como pessoas que pretendem ter um relacionamento.
— Então...
— Então, eu não quero te ver amanhã. Eu quero passar a noite com você hoje — declarou, sem rodeios.
Se já não estivesse excitado, com certeza teria ficado naquele momento. Adorava mulheres que sabiam o que queriam e que não escondiam seus desejos.
Ele também queria , desde o momento em que ela mordera o lábio, no dia anterior, constrangida por não ter controlado a própria língua, teoricamente o acusando der ter um péssimo gosto. Ao deixar o restaurante, não a convidara para passar a noite em seu apartamento apenas porque pareceu-lhe estranho fazer esse tipo de convite a alguém com quem sequer tinha trocado um beijo.
Incapaz de resistir, ele a beijou novamente, antes de recolocar o cinto e dar partida no carro, rumo ao loft onde residia. Felizmente não era muito longe, mas maldisse mentalmente os vizinhos que pegaram o elevador com eles, e ainda saltaram no mesmo andar, obrigando-o a manter suas mãos longe de até já estarem dentro de casa.
Suas bocas se encontraram, sedentas, enquanto ele a levantava no colo. Era ótimo que soubesse o caminho e não houvesse muitos objetos de decoração no local, pois assim chegou ao quarto sem causar nenhum acidente. Colocou a garota no chão, devagar, mas sem se soltar dela, e abriu com calma o fecho que ficava na parte de trás do vestido que ela usava, aproveitando para deslizar os dedos na pele macia, ao longo da coluna.
Ela o empurrou de leve, enfiando uma das mãos entre os dois, e abriu os botões da camisa dele, o cinto e a calça. Antes ocupado com o zíper, ele chegara à barra do vestido e o levantara, expondo o quadril e a bunda, que agora alisava e apertava, beijando-a com mais fervor.
Os beijos dele provocavam nela uma vontade de mais e mais beijos, mais e mais longos, tirando seu fôlego, diminuindo sua força, afetando seu equilíbrio. O corpo dela era receptivo ao seu toque, os pelos se arrepiando, a pele se aquecendo, o coração aumentando a frequência.
Logo as mãos de estavam dentro do vestido, subindo na direção dos seios, mas não os tocaram. Ele interrompeu o beijo, para tirar a peça de roupa do corpo dela, e a levou para a cama, fazendo com que se deitasse. o observou tirar a camisa, bem como uma camiseta de malha que usava embaixo e a calça, juntando-se a ela na cama quase como viera ao mundo.
Ele pairou acima dela, encarando-a, com as pupilas dilatadas. Tocou seus lábios com o polegar, e elas o sugou, sensualmente, fazendo com que ele sentisse a pressão em seu pênis aumentar, dentro da cueca. Beijando-a de novo, dessa vez com uma calma deliberada, provocante, tocou seus seios por sobre o sutiã, até sentir o mamilo enrijecer. O quadril dela se ergueu quase imperceptivelmente, sem que ela nem mesmo percebesse.
Por mais que a boca de estivesse se tornando um vício bom, tinha outros lugares a explorar com a dele, e foi descendo pelo queixo, pescoço e clavícula, até chegar aos seios. Ele a ergueu da cama, colocando a mão atrás da e abrindo o sutiã, do qual se livrou rapidamente, colocando a boca no lugar que deixara sensível pouco antes. O gemido dela o estimulou a continuar e ele lambeu o outro seio, beliscando gostosamente o primeiro.
Ela enterrou os dedos no cabelo dele quando sentiu o rapaz deixando seu seio e dando selinhos em seu abdômen, repetidas e repetidas vezes, até chegar ao baixo ventre. Ele ajoelhou entre as pernas dela e tirou sua calcinha, observando seu corpo por alguns segundos, se alimentando daquela imagem que, para ele, era belo e admirável como qualquer quadro valioso exposto em uma galeria de artes.
Ele provou o gosto dela e aumentou a excitação de ambos até um ponto quase doloroso, até esticar o braço e pegar um preservativo na gaveta da mesa de cabeceira, que ela tomou de sua mão, fazendo questão de colocá-lo para aproveitar e tocar sua ereção, provocando-o, assim como ele tinha acabado de fazer com ela.
Então os dois se conectaram da forma mais íntima possível e, a partir desse momento, tudo passou a ser mais rápido e menos sutil. O corpo dele batia contra o dela, emitindo um ruído alto, os gemidos dela eram frequentes e deram lugar a gritos, quando o orgasmo a atingiu, e o gozo dele também escapou junto a um som gutural.
se jogou na cama ao lado de e segurou a mão dela. Ficaram deitados assim, lado a lado e de mãos dadas, até ele recuperar as forças e se levantar, a fim de jogar a camisinha fora. Quando ele voltou, a tinha adormecido, mas ela o acordou para uma segunda vez ainda melhor, pouco mais de uma hora depois, e uma terceira aconteceu na cozinha, antes de ela resolver que estava na hora de se despedir.
Ele tentou convencê-la a dormir no loft, mas ela ainda tinha fotos a fazer e precisava de algumas horas de sono tranquilo, sem interrupções, para que pudesse chegar ao trabalho bem descansada e concentrada. Então ele a levou até a casa de Kim, pela segunda vez naquela noite.
— Eu ainda quero te ver amanhã — declarou, quando chegaram ao destino. — Na verdade, hoje, né? — O céu estava lindíssimo, colorido pelo alvorecer.
— Eu também. — Ela sorriu, despedindo-se com um beijo feito para deixar gostinho de quero mais.
Não tinha imaginado que passaria aqueles dias com ninguém, além da amiga, mas a realidade é que não seria nada mal ter um pouco mais de conversa interessante, bons programas e especialmente sexo arrasador. Havia muito tempo que não tinha nenhum tipo de aventura sexual ou romântica, estando sempre focadíssima no trabalho, o que só se agravara quando conseguira patrocínio e editora para o projeto de sua vida.
e praticamente não desgrudaram um do outro, durante todo o resto do tempo que ela passou na cidade. Ele aproveitou o momento em que ela estava em sua última sessão de fotos, com McCutchen, para resolver coisas de trabalho pendentes, e depois curtiu o restante da semana com ela, sem se preocupar com mais nada.
Visitaram China Town, o Parque Yerba Buena Gardens e o Pier 39. Foram ao cinema, e compraram chocolates na Ghirardelli Square e alguns presentes para a família dela na Union Square. Ele a levou para conhecer o irmão, e ela o apresentou a Kim. E também passaram um bom tempo na casa dele, fazendo aquilo que só podia ser feito com privacidade.
Na noite de domingo, a última de em São Francisco, fez um espaguete à carbonara e abriu um chardonnay francês que ganhara de um cliente. Eles comeram e assistiram a dois filmes na Netflix, antes de transar no sofá, no chuveiro e na cama, e pegar no sono, ainda nus.
acordou no meio da madrugada e encontrou se preparando para ir embora. Ela achava mais fácil sair sem se despedir oficialmente, por isso se levantou em silêncio, vestiu a roupa e estava tentando chamar um táxi, mas ele não pensava como ela.
— Eu faço questão de te levar — asseverou, pegando a chave do carro sobre o aparador.
O percurso até a casa de Kimberly foi aparentemente tranquilo, mas a verdade é que eles não estavam à vontade como sempre ficavam na presença um do outro. Por mais que soubessem, desde o início, que seu tempo juntos seria breve, acabaram vivendo uma coisa intensa demais para que dessem as costas para ela sem um certo desconforto.
— Que horas é o seu voo, amanhã? — Ele quebrou o silêncio, quando virou a esquina, entrando na rua em que Kim vivia.
— Às dez — respondeu, com os olhos fixos na janela do automóvel.
— Não é tão cedo... — comentou, apenas por não ter muito o que dizer.
— Não... — concordou, também apenas para não deixá-lo sem resposta. — Foi ótimo te conhecer, — afirmou, tentando usar um tom brincalhão, quando ele parou o carro. Soltou o cinto de segurança e se aproximou dele, com a intenção de lhe dar um beijo rápido e sair de uma vez do veículo.
Ele, contudo, tinha outros planos e a segurou pela mão, beijando sua boca de forma profunda e lenta.
Os dois já tinham trocado muitos beijos intensos, longos, mas aquele tinha uma coisa que os outros nunca tiveram. Aquele era marcado pelo peso da despedida, pelo profundo desejo de não dizer adeus, em contraste com a plena consciência de que seria inevitável.
— Eu te ligo — ele disse, fazendo carinho no dorso da mão dela, relutante em largá-la.
— Claro. Vou ficar esperando — respondeu, e ele a encarou, franzindo a testa. — O que foi?
— Por que a ironia? — indagou, contrariado.
— Quando é que vocês, homens, ligam, ? — perguntou de volta, sincera, ainda que arrependida de ter sido sarcástica.
— Eu não posso falar pelos outros homens, mas eu ligo quando encontro alguém que mexe de verdade comigo. É por isso que eu vou te ligar — garantiu, sorrindo. — Você pode se defender com ironias à vontade.
Ela deu um sorrisinho amarelo, antes de dar um último selinho nele e sair do carro. Não podia discordar dele no que dizia respeito a estar se defendendo, mas, se fazia isso, era justamente porque acreditava que eles nunca mais voltariam a se ver... ou mesmo a se falar.
Foi uma surpresa quando ele ligou realmente, dois dias depois de sua volta para Los Angeles, e ela demorou a se acostumar com a troca de mensagens que veio depois disso, mas agora ali estava ela, colocando lingerie sexy na mala porque teria companhia em sua viagem de trabalho à Filadélfia.
tinha conseguido comprar passagens de ida e volta, e seu avião rumo à Costa Atlântica decolaria ainda de madrugada. O dela sairia de Los Angeles um pouco mais tarde, mas, graças à pequena diferença de fuso horário, chegaria ainda a tempo de almoçarem juntos no Parc Brasserie, antes de fazer o check-in no Rittenhouse Hotel, onde ela já tinha um quarto reservado.
Antes de fechar a mala e finalmente se preparar para dormir, a garota ainda decidiu trocar algumas blusas e calças que tinha colocado na bagagem por outras um pouco mais bonitas, apesar de, no processo, ter chegado à conclusão de que seria bom dar uma atualizada no guarda-roupa. Ela gostava do casual, mas talvez alguns programas pedissem um pouquinho mais do que jeans e camisetas. E talvez estivesse apaixonada e quisesse se sentir não só bonita, mas a garota mais linda em quem colocaria os olhos.
Lembrou imediatamente da irmã mais velha, que vivia dizendo que, no dia em que ela precisasse sair para algum lugar e não fosse a trabalho, não sabia como a caçula iria se virar. Então, apesar de saber que dar razão a Piper era um perigo, acabou adiando ainda mais o descanso e caminhando as duas quadras que levavam à casa dela, para pegar algumas peças emprestadas.
De qualquer modo, o adiamento em si não fez tanta diferença, porque dormir naquela noite foi algo impossível. Cochilos de quinze ou vinte minutos foram o máximo de repouso que ela conseguiu, diante da expectativa de se encontrar com , tão grande que o fato de que ia fotografar Nolan Patrick ficou totalmente em segundo plano. Sua secretária precisou enviar três recados pela manhã até que respondesse que estava totalmente de acordo com o cronograma de trabalho.
Quando ela finalmente chegou ao Parc Brasserie, acompanhada da inconfundível mala responsável por ter conhecido , ele já a aguardava, com a dele atrás da mesa que escolhera para os dois, do lado de fora, na calçada. Ele levantou, com um sorriso imenso nos lábios, e a tomou em seus braços, beijando seus lábios, bem ali na rua, perto dos outros clientes do restaurante, sem conseguir ser tão discreto quanto talvez devesse. Ela, no entanto, também não se importou com nada nem ninguém, e correspondeu o beijo e o abraço, com o mesmo entusiasmo.
— Você tá linda — elogiou ele, acariciando o rosto dela, que sorriu, confiante. — Com fome? — Indagou, empurrando a mala dela para o canto, antes de se sentar.
— Muita! — respondeu, ocupando uma cadeira ao lado da dele e colocando a bagagem de mão com suas ferramentas de trabalho em outra. — Até serviram um suposto almoço no avião, mas você sabe como é, né? — Ele assentiu.
— Eu tava com tanta saudade — afirmou, segurando uma das mãos dela e fazendo carinho. — Que bom que você acabou concordando em me ver.
Ela segurou o rosto dele e o beijou novamente, sem pudor. Também estava feliz por ter se enchido de coragem e convidado para aquela viagem. Lidaria com as consequências depois, mas, até esse depois aproveitaria ao máximo, e não se permitiria ter pensamentos que pudessem antecipar algum sofrimento. Beijá-lo era uma das coisas mais perfeitas que ela já tinha experimentado na vida, e ela provaria daquela perfeição tanto quanto pudesse.
— Te ver é bom, mas isso é melhor. — Os dois não conseguiam parar de se encarar, nem de sorrir. Porém o clima foi quebrado pelo estômago dele, que roncou sonoramente, fazendo ambos rirem.
— É melhor escolhermos algo.
Não faltavam boas opções no cardápio, mas as escolhas foram feitas rapidamente. Durante o almoço, o casal colocou o papo em dia e, em seguida, atravessou a Rittenhouse Square, arrastando as duas malas idênticas até o hotel, onde preencheram uma ficha e receberam cartões magnéticos para acesso ao quarto.
tinha que estar no Wells Fargo Center, sede do Philadelphia Flyers, em apenas duas horas, mas isso não os impediu de matar a saudade, tomando um banho juntos, e ficou feliz quando foi convidado para acompanhá-la e assistir à sessão que faria com um dos principais jogadores do time de hóquei daquela cidade.
— O cara é meio mimado. Você não achou, não? — Perguntou a , dentro do táxi que tinham chamado para levá-los de volta ao hotel, depois das fotos.
— Talvez seja por isso que ele tem a mãe como empresária — concordou, rindo.
— Quem mais você vai fotografar, nesses três dias?
— Nesse três dias, mais ninguém. Ele é nosso único atleta da Filadélfia. — Ela percebeu a surpresa estampada no semblante dele. — Eu tinha dois dias de folga, antes das próximas sessões, e não conhecia a Filadélfia, então decidi ficar três dias, e não só um. As próximas fotos são em Nova York, que eu já conheço bem.
— Se você não conhece a cidade, não acha melhor a gente dar uma volta, ao invés de ir pro hotel? Tem alguns passeios bem turísticos aqui que são noturnos, com os guias contando umas histórias macabras… Uns lances sobre vampiros, bruxas… Eu me lembro que tem uma que termina num pub. O motorista deve saber onde a gente pega.
ficou animada com a sugestão e os dois só voltaram para o hotel no final da noite, rindo muito ainda das histórias loucas que tinham escutado no passeio. No dia seguinte, conseguiram ir a apenas ao Museu de Arte, porque só acordaram na hora do almoço, depois de uma madrugada inteira fazendo sexo na cama convidativa da suíte e conversando sobre tantos assuntos que nem conseguiriam listar, se alguém perguntasse.
No último dia, apesar de a noite de sono não ter sido diferente da anterior, conseguiram pegar ainda o café da manhã do hotel posto, e foram para a rua, visitar o Observatório, o Museu da Revolução Americana e o Parque Histórico Nacional da Independência. Fizeram algumas compras, pelo caminho, e também almoçaram no Hard Rock Cafe, ouvindo o tipo de música de que ambos mais gostavam.
— Quando é mesmo a sua visita àquela fábrica de brinquedos? — perguntou, de repente, ignorando o assunto completamente diferente sobre o qual ele estava falando, enquanto ambos colocavam suas coisas nas malas, no fim da tarde.
— Só na última semana do mês. Por quê?
— Porque… — Deixando a mala de lado, ela foi até e o encarou. — Se você conseguisse trocar sua passagem… Eu sei que é difícil, mas você iria comigo pra Nova York?
— Na verdade, eu… tava esperando que você me convidasse. — Ele sorriu, puxando a garota pela cintura e colando o corpo dela no seu. — Esse três dias passaram muito rápido pro meu gosto.
Ele a puxou pela nuca, beijando sua boca. Segurou sua bunda, coberta pelo jeans justíssimo, apertando o quadril contra o dela e mostrando o desejo que crescia nele, quando sentia o cheiro dela, a pele quente sob seus dedos, os lábios macios nos seus, a língua doce roçando a dele. Lamentou que tivessem hora, mas adorou a ideia de pegar um voo com ela para Nova York e, mais tarde, lá em cima, no meio das nuvens, ele usou uma das mãos para levá-la ainda mais alto.
O tempo deles na Grande Maçã também não foi muito e, em cada um dos quatro dias, a fotógrafa teve pelo menos uma sessão de fotos para o livro. No entanto, os dois já conheciam bem a cidade e não fizeram programas turísticos, aproveitando as horas no quarto do hotel, como se estivessem em uma lua-de-mel. Até algumas refeições foram feitas na cama, como o almoço do último dia, após o qual eles começaram a inspecionar o quarto, a fim de não deixar nenhum item pessoal para trás.
e foram juntos para LaGuardia Airport. Depois de despachar as malas, seguiram para o embarque, de mãos dadas, olharam algumas lojas, já na área restrita, e decidiram comer alguma coisa em uma lanchonete. seria a primeira a voltar para casa e, na medida em que o horário de partida dela se aproximava, a tensão que tinham conseguido evitar por todos aqueles dias começou a surgir e, com ela, um silêncio incomum e desagradável.
— E aí? O que a gente faz? — Foi ela quem teve a coragem de parar de fingir que tudo estava normal, depois de pedir a conta à menina que servira a refeição.
— Como assim? — Ele até sabia sobre o que ela queria falar, mas não tinha tanta certeza sobre precisarem realmente colocar em palavras o que para ele era óbvio.
— A gente vai cada um pra um lado? Guarda tudo isso como ótimas lembranças...?
— Não! Claro que não! — respondeu, resoluto, mas pelo jeito para ela não era nada óbvio.
— Então o que? A gente vai ter um relacionamento à distância? Infelizmente eu não conheço nenhum que deu certo, ... — comentou, frustrada.
— Ei! Vem cá — disse, puxando a garota para mais perto. — Eu também não curto muito a ideia de relacionamento à distância, mas tá fora de cogitação a gente simplesmente virar as costas pra isso que a gente tem um com o outro, sem nem tentar.
— Eu poderia me mudar pra São Francisco. Meu trabalho pode ser feito em qualquer lugar. Mas...
— Mas é muito precipitado mudar de cidade por alguém que você mal conhece, eu sei — completou. — O meu trabalho também pode ser feito de qualquer lugar, mas eu também não me mudaria. Não agora.
— Então a gente volta à estaca zero. Você não acha?
— Não — declarou com toda a calma e sinceridade. — A gente não precisa ter um relacionamento à distância, com todas as cobranças, e tudo mais. A gente pode se encontrar mais vezes, se conhecer mais, e decidir se a gente quer ter um relacionamento e, aí sim, um de nós pode se mudar... Ou os dois. Quem sabe a gente não vem pra Nova York, por exemplo? — Deu de ombros. — Pode ser que a gente tenha um monte de coisas em comum e uma atração forte, mas seja só isso, e a gente perceba e vire bons amigos... Mas também pode ser amor, . Amor. E eu quero descobrir.
Ela o encarou, respirou fundo, levou alguns segundos para processar tudo o que ele dissera, e o deixou bastante apreensivo. Nenhum dos dois registrou a primeira chamada do voo dela para Los Angeles ou a garçonete deixando a notinha sobre a mesa.
— Eu também quero descobrir — ela revelou, enfim sorrindo, e os dois se abraçaram, permanecendo um nos braços do outro por algum tempo, até que uma segunda chamada para o voo das dez horas fosse ouvida.
não estava triste, e sim esperançosa, quando se despediu de e entrou no Portão 11. O voo dele partiria meia hora depois e o embarque seria feito pelo Portão 14. Antes de colocar o celular no modo avião, ela deu uma última conferida nas redes sociais e no whatsapp, como fazia sempre, e já tinha escrito algo, que a fez se apaixonar ainda mais por ele.
Estive pensando
Talvez eles tenham trocado as nossas malas identicamente horrorosas na hora do check-in
E a gente tenha que se encontrar correndo pra destrocar
Que sorte a nossa! (rs)