24. Insomnia

Fanfic finalizada.

Capítulo Único

am I a fool? waiting for you? what if you never come back?


— Oi... É o caso você não saiba... Então como estão as coisas aí? Bem aqui não tem nada de novo, além do que você já deve saber, fiz outra música de sucesso... Depois fiz mais duas. Enfim... Apesar dessa tentativa ser inútil, me diz ... Eu sou um tolo por esperar por você?

☁🌙

these memories in my head, are so vivid to see


Eu sei que enxergar uma pessoa em específico num mar de gente é difícil, mesmo que ela esteja em um dos camarotes VIPs. Estádios são imensos e por mais altos que sejam, é impossível enxergar claramente. Mas de uma forma ou de outra, eu consigo sentir quando está aqui e quando não. E nesse momento eu sei que não está.
Claro que pode existir mil possibilidades para ela não ter vindo essa noite, mas porra, nunca perde os shows em Londres, apesar da agenda apertada ela sempre arruma um jeito. Já a vi trocar o horário de plantões no hospital por minha causa. Hoje o Wembley está lotado, mas a pessoa que eu mais queria não veio.
Eu nunca tinha percebido essa minha necessidade dela até o momento que veio a existir a possibilidade de que eu poderia perdê-la para uma proposta de trabalho incrível. E talvez seja esse o meu medo, de que ela fosse embora do nada.
No camarim Katie me dá uma garrafa de água e eu deito no sofá cansado feliz depois de ter feito o que eu mais gosto na vida. Checo o celular com apenas um intuito, e imagino a emergência que deve ter tido no hospital já que não respondeu minhas mensagens.

: Me encontra na minha casa.

Demorou para que eu finalmente chegasse em casa, que não é nada perto do estádio, mas eu prefiro mil vezes vir para cá do que qualquer outro hotel. Amanhã que começaria a saga nos hotéis.
Vince costuma dizer que um hotel perto do estádio é sempre o melhor. Eu costumo discordar pois adoro passear pela cidade e olhar pela janela da van. É melhor ainda quando tira algum dia de folga e me acompanha. Eu ainda pretendo levar ela pra conhecer o mundo, não que ela precisasse de mim para isso, seu passaporte é de dar inveja a qualquer um muito antes de mim.
Faço todo o meu ritual pós show de me lavar e
tweetar agradecendo a presença hoje. Deixo para comer depois que chegasse, eu poderia tirar um cochilo até lá, mas não prego os olhos por 5 minutos quando ouço o barulho da companhia.
— Oi, por que não entrou? — Pergunto a ela segurando seu rosto e depositando um beijo ali e voltando para o sofá, acreditando que me seguirá.
— Oi... É que, bem eu não pretendia passar da porta. — A olho confuso do sofá, e ela se vira para fechar a porta. Quando olha para mim de novo solta um suspiro. — Mas seria muito frio da minha parte te dizer isso do lado de fora.
Tudo bem, estou me controlando para não pensar em que merda está acontecendo aqui e porque ela está tão estranha. Impossível eu não começar a pensar no pior. Escondo todo o medo que eu sinto daquela frase e aponto o lugar ao meu lado com a cabeça, entende e senta ali. Ela encara o chão e percebo que o momento que eu tanto queria adiar finalmente chegou. Brinco com uma mecha do seu cabelo e ela me olha, mas não há sorriso.
Sempre odiei quando tínhamos conversas tensas.
. — ela diz baixinho. — Eles diminuíram o meu prazo para hoje. E sabe, estou me sentindo péssima.
— Por que?
— Porque eu aceitei, sem falar com você primeiro.
Prendo a respiração por um segundo sem saber o que dizer. Porra.
A primeira coisa que passa na minha cabeça no momento é achar que não sou significativamente importante para ao ponto de não ter falado comigo antes. É um pensamento egoísta, sou ciente disso, mas saber que ela tomou a decisão tão rápido assim sem nem falar comigo me incomoda.
Mas que merda é essa que estou pensando. aceitaria esse trabalho sem pensar duas vezes se não fosse por mim, ela nem sequer solicitaria um prazo para pensar. Permaneço calmo e ponderado, mesmo com uma pequena vontade interior de querer surtar ou ficar bravo, porque nunca fui esse tipo de pessoa.
— Não se sinta, eu já sabia que isso ia acontecer.
— Sabia?
— Sabia.
Me aproximo e a puxo para um abraço. balança os pés deixando que os saltos brancos batam no chão e encolhe as pernas me abraçando pelo torso.
— Quando você vai?
— Amanhã.
— Amanhã? Mas já? — Pergunto mais exaltado do que eu realmente queria. Menos de um dia é muito pouco para pensar em se acostumar a ficar sem a pessoa que você tanta ama.
— Está tendo um sério conflito na República Centro-Africana e milhares de pessoas estão sofrendo com os ataques violentos. Eles precisam de equipes médicas para ontem, por isso adiantaram o prazo para os médicos decidirem.
— E quando você volta? — Pergunto esperançoso e ao mesmo tempo triste pelo conflito
. — Não sei. — Suspiro porque por dentro estou triste de verdade, mas nunca gostei de demonstrar. Felizmente sabe quando isso acontece.
— Então só temos hoje?
— Acho que sim. — Responde apoiando o queixo nas duas mãos que estão em cima do meu peito. — Mas ainda dá pra fazer muita coisa hoje sabia?
Dou um sorrisinho.
— Você sabe que se eu não tivesse uma turnê para começar amanhã eu mesmo te deixava lá, não sabe? Eu posso adiar o primeiro show.
— Sei. — responde ficando em cima de mim, me deixando entre as suas pernas. — Mas não vou deixar você fazer isso e muito menos me aproveitar do seu jatinho particular.
Desliza a ponta dos dedos na minha testa indo até a lateral da minha cabeça. olha profundamente nos meus olhos antes de me beijar. Abraço pela cintura com os dois braços, querendo que fiquemos ali para sempre.
Quando afasta nossos lábios me encara novamente e diz perto:
— E se quer saber, eu também faria tudo pra que a gente tivesse um tempinho a mais juntos.

☁🌙


— Porra. – A voz irritante de Vincent e o barulho de algo caindo no chão me faz abrir os olhos. Maldito sono e maldita lembrança. Coço os olhos e levanto irritado ao lembrar que horas antes, meu agente me deu um chá de raiz valeriana. Normalmente as pessoas ficam putas porque são acordadas, no meu caso, e se me fazem dormir. Sonhar na minhas circunstâncias é horrível.
— Que inferno, Vince! Porque me fez dormir?
— Dormir? Você no máximo só tirou um cochilo de 30 minutos porque não dorme a dias, e isso está me preocupando! – Ele diz e eu coço os olhos tentando mantê-los abertos. Se ele acha que trinta minutos era pouco eu acho o contrário.
Levanto devagar indo até a cômoda para revirar as minhas gavetas. Felizmente Vince não mexeu ali, e os meus remédios estão intactos. Pego um comprimido de CX717¹ e me dirijo ao banheiro para pegar água. De verdade não sinto sono a semanas, e quando sinto é deplorável.
— Qual é a minha agenda? – Grito lá de dentro. Vince não responde nada e aparece no batente da porta.
você não acha que está na hora de tirar umas férias? – Balanço a cabeça de imediato negando, logo depois de tomar o comprimido e lavar o rosto. Volto para o quarto enquanto Vincent me segue. – Não falo isso como seu agente, falo isso como seu amigo.
— Não, sem chance. Vince dê um jeito de encher essa agenda, eu preciso me manter ocupado, mas chega desses talk shows. –Ele suspira porque sabe que é inútil discutir comigo. Abro o armário atrás de algo para vestir. Separo um jeans preto uma camisa e jaqueta da mesma cor.
— E o que você tem em mente?
— Não sei, que tal uma turnê surpresa?
você acabou de terminar uma turnê.
— Por isso mesmo que uma surpresa seria legal. – Paro de frente para Vince e ele me encara observando as roupas na minha mão, talvez imaginando a besteira que eu faria naquela noite. – Foi uma tour pela Europa, tem vários países que eu queria conhecer ainda. Quem sabe Brasil, México, África do Sul.... Transforme num World Tour.
, precisa parar de tomar esses remédios, eles não te fazem bem.
— Eu já tenho uma insônia ferrada, os remédios só me ajudam a não ficar cansado. – Respondo fechando a gaveta da cômoda.
— Não acha melhor ir ao médico ?
— Me liga quando começar a resolver as coisas da turnê e não precisa se preocupar comigo hoje à noite.
Ignoro a pergunta dele e digo por último antes de entrar no banheiro novamente e fechar a porta.
Entro na água fria. Médicos não vão servir para nada nesse momento. Iriam talvez tentar descobrir uma coisa que eu já sei. Sei muito bem quem vem roubando meu sono ultimamente, ela tem nome, sobrenome e um endereço que infelizmente eu não conheço mais.

☁🌙


— Sabia que você não pode misturar remédios com álcool? Dizem que anula os efeitos. – Hailee pergunta se encostando na parede ao meu lado.
A Albatroz é uma boate conhecida e o pai de Hailee é o dono do lugar. Sempre nos esbarramos por ali, por pura coincidência ou ela faz isso acontecer propositalmente. Quando eu e fomos ali como casal e nos encontramos com Haillee a garota fechou a cara e passou por nós sem falar nem um “oi”. Nesse dia percebi que era a segunda opção. Ela sempre foi apaixonada por mim, e bem, eu nunca correspondi porque já tinha alguém na minha vida para ocupar esse lugar. Tinha.
— Ou potencializa. – Respondo olhando para o seu perfil. Ela tem uma trança embutida na lateral, deixando exposta sua orelha cheia de piercings. Hailee dá um sorrisinho de lado e fica de frente para mim. O polegar desliza pela minha têmpora direita.
— Porque seus olhos estão sempre vermelhos?
Cannabis. – Minto na cara dura e tento dar um sorriso convincente. Hailee aparentemente gosta da resposta pois sorri também. Costumo fumar de vez em quando, mas esse não é o motivo da minha esclerótica estar vermelha. Apenas Vince sabe do meu problema de insônia e eu gostaria que continuasse desse jeito.
— Você tem um ai? – Confirmo abrindo o bolso da jaqueta e puxando um beck de lá, Haille o coloca na boca e eu seguro o seu maxilar para acendê-lo com o isqueiro. Ela traga ficando um passo mais próxima e assoprando a fumaça na minha cara. Eu encaro seus lábios convidativos por uns 10 segundos, mas é quase automático virar o rosto quando ela se aproxima para me beijar.
— Tenho que ir, Hails. – Seguro a sua cabeça e lhe dou um beijo na testa, deixando Hailee para trás.
Eu não tenho nada de mais importante para fazer, porém esse lugar com toda essa música alta já está me enchendo o saco. Me sinto mal, talvez Hailee pense que eu faço isso por causa dela. Por mais que ela seja legal, inteligente e bonita eu não consigo ficar com ela.
Saio pela porta dos fundos noite a dentro nessa rua vazia. Felizmente não há uma alma viva aqui e muito menos paparazzi. A atenção sempre fica toda para a porta de entrada.
Pego o celular e disco o número do celular pessoal que tinha me dado. Olho para o céu estrelado enquanto chama.

“Oi, aqui é a . Talvez eu esteja bastante ocupada para atender agora, mas vou ouvir seu recado com bastante carinho!”

Suspiro já imaginando que cairia na caixa de mensagens, mas não custa nada tentar. Mesmo que ainda não tenha tido resposta das outras mil mensagens que deixei naquela caixa.
— Oi , é o ... de novo. Estou naquela boate, sabe, a que a gente se conheceu e você cuidou de mim depois que eu briguei com um cara. Os paparazzi estavam todos na porta da sua casa no dia seguinte. — Ri com a lembrança, tinha sido muito engraçado. — Você não gostou nenhum um pouco, mas deu risada depois. Acho que foi o jeito mais aleatório que eu tive de conhecer alguém, mas ainda bem que eu conheci né? Enfim, eu só queira saber ser vocês está bem, e também... Ainda não entendo porque diabos você não fala comigo, quer dizer, eu sinto a sua falta e só queria saber o motivo do seu sumiço. Bem, eu ainda to esperando uma mensagem, se é que você ainda usa esse número.
Desligo o aparelho e olho a rua por algum tempo, não faz mais sentido ficar ali fora. Dou meia volta, o que é um tremendo erro já que vou parar na rua da Albatroz, e estou sozinho. Demora segundos para me ver cercado de gente. Fãs e o que eu mais odeio: paparazzi.
Sorri para elas e tento tirar algumas fotos com os celulares delas enquanto ignoro totalmente os flashs das outras câmeras. Eu adoro as minhas fãs, gosto de dar atenção para elas, mas esse certamente não é o melhor momento. Não falo muito, só agradeço os comentários positivos.
Tenho que dar um jeito de sair daqui, minha visão está começando a ficar embaçada. Mas aparentemente quanto mais pessoas iam embora satisfeitas, mais apareciam. Até que noto algo, ou melhor, alguém que pode me ajudar.
Hailee está parada na porta da boate conversando com os seguranças. Ela me vê percebendo o meu pedido de “socorro”. De imediato vem até mim com um deles.
Não demora e já estamos do lado de dentro novamente, mas por incrível que seja eu não me sinto mais confortável. Me sinto preso ali, e os intensos olhos verdes de Hailee me encarando não ajuda nenhum um pouco. Preciso sair daqui de carro para me livrar do assédio, andar talvez seja melhor, mas não aqui com toda essa atenção, todos os olhos e câmeras apontados para a balada mais famosa de Londres, repleta de celebridades.
Uma melancolia sem igual me abate enquanto espero que tragam o meu carro, pois Hailee me olha esperando por algo que aparentemente eu nunca iria poder suprir. Ela nunca me negou ajuda quando precisei, eu também sempre fiz o que pude, mas não consigo dar o que ela mais quer.
.
Eu não consigo seguir com a minha vida amorosa por causa dela, e sim, me sinto péssimo com isso. Porque se eu decidir esquece-la vou entender como desistência, e acho que eu nunca vou desistir dela.
Hailee fica parada bem na minha frente e coloca as mãos nos meus ombros, respira fortemente e molha os lábios com a língua. Há uma frustração perceptível na sua feição.
— Ela não vai voltar, .
E saí meio irritada.
E eu fico.
Meus olhos lacrimejam de dor e angústia e quando alguém me estende as chaves do meu carro só consigo pensar em como talvez a minha saúde mental deve estar fodida.

☁🌙

I can't find the peace and when I close my eyes, I feel it all again


Já dentro do condomínio, paro o carro algumas quadras antes da minha casa. Bato a cabeça no volante antes de sair do automóvel, está impossível dirigir. Me assusta a possibilidade de me machucar já que não estou raciocinando direito e começo a pensar que na verdade, Vince tinha sim mexido nos meus remédios, pois estou ficando cansado demais. Fecho a porta sem prudência alguma e começo a andar com as mãos no bolso. Pelo menos aqui eu consigo perambular pelas ruas escondendo meus olhos vermelhos mantendo a cabeça baixa.
Levo as mãos a cabeça querendo gritar e início passos mais firmes no chão, minha respiração começa a ficar falha e é tão difícil a tarefa de manter meus olhos abertos depois de piscar. Parece tentador deixá-los fechados.
Maldito Vincent, eu o mataria por isso.
Assim que chego em casa não titubeio em me encaminhar para o meu quarto e me jogar na cama de barriga para cima, encarando o meu teto ao qual fiz questão para que pintassem de azul marinho.
Sinto o vazio, como se algo tivesse sido tirado brutalmente de mim. Sinto a angustia, o desespero, a tristeza profunda. Me sinto tão perdido, nunca senti tanto a falta dela, como quando quero lhe contar algo e me dou conta de que ela não está aqui para escutar. Era quem eu procurava quando não estava legal, era ela o meu porto seguro. É assim que a gente aprende que nenhum “adeus” dói mais do que aquele de quem vai embora, mas continua dentro da gente.
E vai aqui um pobre lamento de o quanto eu queria que ela tivesse ficado, preciso dar voz ao meu lado egoísta da coisa porque ele existe, é bem menor que o lado altruísta que entende que existem pessoas em situações difíceis, pessoas essas que precisam da ajuda de outras, mas ele existe.
Diria que queria tanto que ela tivesse ficado porque me sentia a pessoa mais sortuda do mundo. Queria tanto que ela tivesse ficado porque não existe ninguém igual a ela e ela desperta o melhor em mim. Me recomeçava todos os dias em que acordávamos sendo um do outro. Eu queria tanto que ela tivesse ficado porque talvez eu a fizesse entender que eu não consigo contar os dias sem ela aqui e meu peito sufoca com essa ausência.
foi uma das poucas que teve a empatia de se sensibilizar e na frente de tantos outros, se voluntariar. Vou amá-la para sempre por isso. Ela que me ensinou na maior parte do tempo a pensar mais um pouco nos outros, ser mais solidário, eu não tinha a mente tão desconstruída antes dela. Nunca me enxerguei como uma 'celebridade' fútil, mas vi melhor quantas delas existiam. Que usavam a situação de outras para favorecer a própria com eventos de caridade que aparentavam ter boas intenções, mas por baixo dos panos não era nada disso.
Eu conseguia listar muito mais do que eu diria a ela caso ela tivesse ficado. Tenho as palavras claras na mente, elas rodam em sincronia enquanto olho para o teto e tenho uma das mãos atrás da cabeça.
Chego a final conclusão de que é inútil ficar acordado, Vince tem razão, mas não consigo encontrar paz enquanto durmo e quando fecho os meus olhos sinto tudo de novo.

☁🌙


— Anda, , eu quero ver você virar tudo! — Scott diz enquanto eu encaro o copo cheio. Pela lógica de todos presentes nessa roda, o sucesso do álbum é meu, logo eu é quem vou beber tudo. Viro de vez dando o que eles querem, talvez me arrependa de tudo amanhã, fodida será a ressaca, mas no momento só consigo pensar em esvaziar a minha bexiga.
Nunca tinha visto a Albatroz tão lotada, vou empurrando as pessoas de leve abrindo espaço até o banheiro. Não consigo distinguir se o motivo de eu cair em cima de uma mulher loira é porque me empurraram ou porque já estou bêbado o suficiente para perder todo o meu equilíbrio. O lado bom é que ela não olha de cara feita, até me ajuda a levantar. Reconheço o seu rosto como sendo o de Kathryn Newton, ela dá um sorriso divertido e eu fico meio sem jeito por ter a empurrado daquela forma.
nunca pensei que nos encontraríamos assim.
— Acho que nunca tivemos a oportunidade.
— Ah agora você está tentando me deixar brava. — Ela cruza os braços na altura do busto e eu ergo as sobrancelhas na sua direção, não fazendo ideia ao que ela se refere. Kathryn é uma excelente atriz e não seria nada bom deixá-la irritada, mas logo percebo que o seu tom é de brincadeira. — Soube que você foi convidado para a estreia de Big Little Lies e não foi.
Abro a boca recordando o ocorrido e tento pensar no que dizer. Falar que eu odeio dramas daquele tipo de série quando ela faz parte do elenco principal não me parece uma boa ideia, talvez eu dormisse nos 10 primeiros minutos do seriado. Então uso a desculpa que qualquer cantor já deve ter usado uma vez na vida.
— Eu estava em Bali, fazendo um show.
— Eu ouvi o seu álbum novo. — Ela muda de assunto drasticamente e eu retribuo seu olhar bastante interessado.
— E o que achou?
— Muito bom.
— Ah é? Então você pode...
É a última coisa que digo antes de sentir algo duro acertar o meu maxilar e tudo ficar escuro.

☁🌙

what if we never know why hearts deceive us the night calls to dreamers


— Mas que porra... — Digo assim que consigo abrir um pouco os olhos, minha cabeça dói e tudo parece girar. Ao que percebo estou deitado em algum lugar que não se parece nada com a Albatroz. Tento me levantar, mas duas mãos me empurram novamente em direção ao sofá e eu bato as costas ali de um modo nada delicado. Gemo de dor quando olho para frente curioso em descobrir o ser que me empurrou. É uma mulher que está sentada em um banco de frente para o sofá que eu estava. Se eu não estivesse tão zonzo talvez prestasse mais atenção em quão bonita ela era.
— Ei, príncipe do pop, vamos com calma que você ainda não está apto para levantar. — Ergo as sobrancelhas na sua direção. Ela possui uma caixinha branca de primeiros socorros no colo. O cabelo está preso e reparo nas suas roupas, certo de que são roupas de festa e deduzo que ela estava presente no momento que seja lá o que porra aconteceu comigo.
— Quem é você e o que aconteceu? — Pergunto me sentando.
— Eu sou a , mas você pode me chamar de . — Ela diz dando talvez o sorriso mais simpático que já vi na vida. — Se lembra de estar conversando com Kathryn? — Balanço a cabeça concordando. — E você também se lembra de Jon Jones vindo furioso na sua direção e lhe acertando em cheio? — diz tocando diretamente o ponto do meu rosto que foi atingido, pude sentir dor e um pouco de sangue na boca. Não deve estar nada bonito.
— Jon Jones? O lutador? — assente continuando a limpar o sangue que ainda deveria ter no meu rosto. — Mas porquê...
— Bem, acho que ele não gostou muito da sua aproximação a minha amiga Kathryn.
— Mas só estávamos conversando.
— Eu sei, mas para o louco do Jon isso é o suficiente, eles são ex-namorados. — Abro a boca e balanço a cabeça com tudo ficando mais claro, mas ainda têm algumas coisas que não entendo.
— Que lugar é esse?
— É a sala de emergência da Albatroz. Pelo estado em que você ficou deduzi que sua inconsciência duraria pouco tempo, e achei melhor te trazer para cá ao invés de chamar uma ambulância e dar tudo que a mídia quer.
Fico em silêncio por algum tempo quando termina o curativo no meu rosto. É admirável e impossível não perceber que ela sabe exatamente o que está fazendo, como se cuidar de pessoas que foram nocauteadas fosse algo comum para ela. Mas é mais que isso, consigo perceber o cuidado e destreza que possuí. Eu poderia muito ficar desconfiado, mas não me transmite nada que me de motivos para tais coisas
. — Então você me conhece?
— O Reino Unido todo te conheço, quem sabe o mundo. — Responde dando de ombros e me sinto feliz com isso, sem saber direito por quê. — Mas não se engane, não sou sua fã.
— Assim você me ofende, as minhas músicas não são tão ruins. — Digo em tom de brincadeira e ela ri procurando algo dentro da caixa. Percebo que me sinto incrivelmente melhor
. — Não é nada disso, é que a acho que a minha idade e a minha profissão me impedem de acompanhar qualquer artista.
— Você é médica? — Questiono quando ela pega um otoscópio e posiciona o meu rosto bem de frente para o dela, levantando as minhas pálpebras com os dedos para enxergar melhor com a luz vinda do objeto.
— Adivinhou. — Ela sorri e guarda quase tudo que tinha pegado e me estende um comprimido. — Seus sinais vitais estão bons, tome isso vai ajudar com a dor e você já pode ir, acredito que o Jon deva ter sido colocado para fora e você não vai precisar se preocupar com ele.
— Espera! — Digo e olha para trás antes de sair pela porta. Eu levanto devagar tentando me aproximar dela. — Tenho que te agradecer.
— Não foi nada . — Ela fala meio sem graça, desviando seus olhos dos meus e eu seguro na sua mão praticamente a obrigando a me olhar de novo.
— Vou me sentir mal se te disser apenas um 'obrigado'. — sorri e me puxa para fora daquela sala que ficava localizada a poucos metros do chão podendo ser acessada através de uma escada. Nós dois observamos ao nosso redor, as pessoas e o ambiente em si. Parece tudo tão chato vendo daquele angulo que não êxito em aceitar quando pergunta:
— Quer sair daqui?
Descemos a escadas e vou em direção à saída, mas ela me puxa na direção contrária. — Por ai não!
me leva até a portas dos fundos que está bloqueada por um dos seguranças, mas ela aparenta estar familiarizada com a situação já que um simples sorriso é o suficiente para que o homem dê espaço e nos deixe passar. Quando saímos há um carro ali, preparado para a "fuga", ela entra no carro e o liga e eu encaro ainda de pé pensando se vou mesmo entrar no carro de uma médica desconhecida que cuidou muito bem de mim após o nocaute de um lutador profissional. Isso me lembra que eu nunca gostei muito de UFC.
— Se quer me agradecer do jeito certo, vai fazer as minhas vontades, mesmo que por uma noite popstar.
— Vince diria que enlouqueci fazendo isso. — Digo entrando no carro, afivelo o cinto e dá a partida.
— Quem é Vince?
— Meu agente.
— E porque ele diria isso?
— Porque sou um quase bêbado no carro de uma desconhecida.
— Eu poderia te colocar em situações constrangedoras e cobrar milhões por fotos reveladoras de portais de fofoca, ele tem pelo que se preocupar. — Finjo a melhor faceta de indignação e dou risada. — Mas relaxe, dinheiro é uma coisa da qual eu não preciso.
— Tem certeza que é mesmo médica?
— O meu diploma em Oxford afirma que sim, por que?
— Porque é muito divertida para ser médica, médicos são tão sérios e ocupados que parece que eles não têm muito tempo para viver.
— Que bom então que eu consegui fugir desse estereotipo. — Ela sorri e percebo o claro tom que usa, como o de quem repreendesse o que eu acabo de afirmar. Encaro o seu perfil e há algo tão diferente nela, ao ponto de eu querer fazer essa loucura. – Acabei de terminar a residência então creio que o tempo que tenho para viver esteja acabando.
— Quantos anos você tem?
— 26 no próximo mês.
— Caramba, e já é formada?
— Eu entrei cedo na Faculdade, mas e você? Quantos anos tem?
— 26 nesse mês. Mais precisamente na próxima semana.
— E que tipo de superfesta está pensando em fazer? Num iate? Numa mansão em Beverly Hills cheia de modelos? Num cassino em Vegas?
— Por que acha que eu comemoraria desse jeito?
— Não sei, só pensei que não é assim que as celebridades costumam comemorar?
— Quem está estereotipando agora?
— Touché.
ri e eu a acompanho. Fico em silêncio por algum tempo apenas observando ela dirigir e o caminho que fazia, sem fazer a mínima ideia de para onde poderia estarmos indo, mas acho melhor não perguntar, tenho a leve sensação que vai me surpreender.
— Então você e Kathryn são muito amigas?
— De anos, apesar de ela ser um pouco mais nova. Ir a Albatroz hoje foi ideia dela, apesar de eu contestar muito no início porque poderíamos ter feito outra coisa.
— Ela devia ter te escutado. — Digo calmamente e me olha meio indignada quando para no sinal vermelho e eu dou de ombros. — Não me olhe assim, eu não teria sido nocauteado se vocês não estivessem lá.
gargalha e suspiro meio aliviado por ela ter entendido a brincadeira. Não são muitas as pessoas que entendem as brincadeiras que eu faço.
— Confesso que deu um pouco de emoção na minha noite. — Reviro os olhos e ela ri mais uma vez. Me dou a liberdade de ligar o rádio e colocar na estação da 6 Music. Começo a cantar a minha própria música que tocava e observo o jeito como aperta os dedos no volante quando o carro volta a andar.
— Não me diga que eu canto tão mal assim.
— Não é isso e não me faça ser a milionésima pessoa a te dizer que a sua voz é maravilhosa. — Sorrio com aquilo e mal percebo quando para o carro perto de vários outros a céu aberto. De dentro do carro a música que toca do lado de fora fica abafada, e não se parece com nada que eu já tenha escutado. Procuro com os olhos algum sinal de festa através dos vidros, mas é impossível enxergar dali.
— Mas vai me dizer que lugar é esse?
— Não se preocupe, é um lugar que ninguém vai dar a mínima se você é . – A encaro desconfiado, é um misto de medo e animação. – Vamos, se você não gostar deixo você ir embora para o seu castelo de vidro na hora.
— Castelo de vidro?
— É como eu imagino que são as casas de gente famosa. – Responde encolhendo os ombros e eu solto uma risada. me lança um olhar encorajador em direção a minha porta. Ela abre a própria e coloca um pé para fora.
— Eu espero o que “obrigado” não me custe caro, Dra. .
— Te garanto que não vai. – Ela dá uma piscadela antes de finalmente colocar todo o corpo para fora do veículo eu saio um segundo depois.
Venta um pouco e observo começar a andar, agitando os braços no ritmo da música que agora é mais audível. Ando um pouco atrás dela, há uma descida até o local onde a possível festa acontecia, e dali de cima eu consigo ver tudo.
A criatividade que o ser humano possuí de transformar o estacionamento de um aeroporto abandonado numa festa ao ar livre é animalesca. Há vários carros lá em baixo e consigo perceber que não são carros comuns. Luzes coloridas penduradas em todos os postes dão a iluminação necessária para que as pessoas consigam se divertir e dançar frente a parede de som que tocava um reggaetown contagiante. Mas uma coisa em específico me chama a atenção, mais do que as demais.
Um pouco a frente é onde está o verdadeiro tumulto. Os carros bonitos misturados a pessoas diversas formavam uma passarela sendo um palco perfeito para uma disputa de racha de outros dois automóveis que se encontravam lado a lado.
— Bem-vindo a parte latina de Londres. — Ela diz ficando do meu lado. Não está frio, mas sinto meu braço arrepiar quando encosta o braço no meu.
— Uau. – É a única coisa que digo antes de se enfiar na minha frente, atrapalhando a minha vista para o lugar. Abaixo a cabeço e consigo centralizar os meus olhos nos dela.
— Escuta... – Ela faz uma pausa e morde os lábios antes de continuar. – Eu acho que a gente pode se divertir, mas eu não vou obrigar você nem nada.
Dou um passo na sua direção e apoio a mão nos seus ombros, percebo que ela não estava esperando a súbita aproximação e sinto que as coisas estão começando a ficar interessantes.
— Você me deixou curioso o suficiente. — Ela dá um sorriso de satisfação que eu retribuo sem hesitar.
— Então anda logo. – Ela diz começando a se afastar de costas. – A noite chama os sonhadores, .
Se vira e começa a correr ladeira a baixo e eu vou atrás. Curioso até onde aquela mulher poderia me levar.


☁🌙


— Você conhece alguém aqui? – Pergunto a assim que penetramos aquele mar de gente.
— Não, não. – Ela responde saltitando.
Todos ali parecem bem animados, felizes e são bem dançantes. Todo mundo praticamente anda enquanto dança e não demorou para que aderisse ao movimento. Pareciam tão simpáticos com tantos sorrisos que desconfiei que talvez tivesse amigos presentes ali. Mas logo percebo que talvez estivessem sob um longo efeito de substâncias naturais ou sintéticas. Nada que já não tenha visto antes.
— Onde estamos indo exatamente?
— Pegar bebidas, você não quer? – Balanço a cabeça concordando imaginando onde seria o lugar já que não consigo enxergar bar algum ou algo parecido. — Pode esperar aqui? Eu não vou demorar.
— Tudo bem.
— Aqui tem muita gente, muitos estrangeiros, só... tome cuidado com os porto-riquenhos ok?
— Por que?
Pergunto confuso, mas sai antes. Fico ali observando o lugar e de fato estava certa, ninguém aqui parece me reconhecer ou se importar comigo o que é um alívio. Dá para perceber que muitos aqui não são ingleses e me agrada. Eu com certeza visitaria mais países latinos.
15 minutos depois eu estamos sentados numa estrutura de metal, ambos com uma garrafa na mão.
— Como você descobriu esse lugar? — dá um gole na bebida antes de responder.
— Pelo meu primo, quando eu era mais nova eu sempre quis saber para onde ele ia à noite quando vinha nos visitar aqui em Londres. Uma vez ele me levou escondida.
— Visitar? Ele não é daqui?
— Isso. Ele não é daqui, a minha família toda na verdade por parte de pai. São costa-riquenhos.
— Legal, eu tenho descendência árabe, meu pai é paquistanês.
— Nossa, interessante.
— Sério mesmo? — afirmou mais de uma vez com a cabeça e eu sorri com aquilo. — Não está com medo?
— Não, porque eu teria?
— Ah não sei... As pessoas geralmente se assustam. É muito conflito pra um lugar só e todo mundo acha que os árabes são todos ‘terroristas’.
Olho para o gargalo da minha garrafa evitando contato direto. Tenho a mania imbecil de achar que sempre vou estar apto para falar desse assunto, mas não hora percebo o quanto ainda é difícil. Por sorte, não me transmite desconforto.
— Sinto muito. — Ela fala entortando a cabeça para tentar encarar o meu rosto, sinto a sua mão ficar em cima da minha. — Deve ser bem difícil, ainda mais, sabe, com você sendo você.
— Às vezes é, a fama tem seu preço, . Mas foi a vida que eu escolhi então estou feliz com ela. — Ela volta a sua posição ereta original afastando a mão da minha, eu faço o mesmo e encaro o seu perfil.
— Acho que fama nunca funcionaria para mim.
— Por que?
— Porque você precisa ter um espírito muito forte para lidar, se não, qualquer coisa pode te derrubar. — Ela morde os lábios antes de dar um último gole na bebida e olha para mim. — E eu prezo muito a minha privacidade, ter milhares de pessoas o tempo todo interessadas em saber da minha vida, sei lá, me deixaria louca.
— Então teremos um problema. — ergue uma das sobrancelhas para mim como se me questionasse silenciosamente e eu respondo enquanto abro os braços para estica-los e levar as mãos à cabeça. — Não vamos poder ser amigos.
— Não vou dizer que não quero ser sua amiga, porque eu estaria mentindo.
— Então é só dizer que quer.
— Não posso, as pessoas já devem inflar o seu ego o suficiente.
— Isso é verdade.
Volto a atenção para a minha garrafa estava um pouco a baixo da metade enquanto já havia terminado a dela. O silêncio que se instala dura pouco, já que em segundos já está de pé e sinto a energia que exala do seu corpo, como se estivesse pronta para fazer qualquer coisa. Ela rouba a garrafa da minha mão e a deixa ao lado da sua, em seguida agarra o meu antebraço direito com as duas mãos e exerce pressão o suficiente para me fazer levantar.
— Vem, , vamos dançar.
— Não sei dançar. — Respondo titubeando enquanto ela me puxa.
— Aqui você vai aprender.
Garante começando a me guiar para o meio daqueles corpos felizes e dançantes. Eu não sei o que fazer com os meus pés e muito menos com as minhas mãos, já parece estar na sua zona de conforto. Ela pega as minhas mãos e as levou até os seus quadris e logo em seguida começa a mexer todo o corpo no ritmo da música do J Balvin. Eu tento acompanha-la ignorando o fato de que esteja passando vergonha, mas ninguém aqui parece se importar muito com os meus dois pés esquerdos.
Desisto algumas vezes de mexer o meu próprio corpo porque me encanta o modo como mexe o dela, de um lado para o outro, sem dar a mínima para nada. Os cabelos voam, e o peito dela sobe e desce deixando sua respiração ofegante conforme os movimentos interruptos. me olha e ri, certamente do jeito em que eu fico parado lhe observando. Ela aproxima o rosto do meu e fala bem próximo do meu ouvido:
— Tive uma ideia! Fique aqui. — Ela sai antes que eu posso concordar com a cabeça.
De início obedeço ao que me pede, mas o fato álcool estar subindo para a minha cabeça atiça a minha curiosidade pelo local. Todos pareciam tão tranquilos só tendo a palavra "diversão" em mente que começo a me sentir excluído. Quero me sentir tão louco quanto todos eles. Dou um jeito de encontrar o lugar de onde tinha conseguido bebidas para nós.
Um sujeito de boné segura um cooler e imagino que ele deva vender alguma coisa. Percebo que as coisas aqui são vendidas avulsamente entre os frequentadores, isso justifica a falta de um bar.
— Cara, o que você tem ai? — Pergunto ao me aproximar. Ele me encara de cima abaixo abrindo a tampa do cooler.
Todo tipo de cosas, si quieres olvidar incluso tu nombre esta noche, estás hablando con la persona correcta. — Ele pisca na minha direção e franzo a testa. Não consigo entender nada daquele espanhol arrastado, só espero que ele consiga entender o meu inglês.
— Só queria uma cerveja, sabe? — Gesticulo com os lábios para que ele entenda, mas o homem parece tão confuso quanto eu. — Cerveja. Cer-ve-ja. — Ele abre a boca soltando um "ah" inaudível e fico feliz que ele tenha entendido. Logo coloca a mão dentro do cooler tirando de lá uma garrafa e me entrega.
— Cinco. — Ele fala o que eu imagino ser o preço e só entendo porque ele ergue os cinco dedos da mão. Lhe entrego uma nota e ele sai sorrindo em agradecimento.
Tento voltar ao lugar em que estava com enquanto bebo no gargalo da garrafa. Isso definitivamente é uma cerveja e uma muito boa. Olho o rótulo para identificar a marca, mas é cheia de nomes em outro idioma. Espero até que volte, e em pouco minutos já sinto meu corpo mais relaxado, me dá até vontade de dançar. É como se tudo estivesse ficando maior, o som mais alto, o espaço, apesar de sentir várias pessoas ao meu redor.
Começo a me entreter tanto com o pessoal que mal percebo quando aparece na minha frente ficando de frente para mim segurando os meus pulsos.
— Oi.
Eu digo sorrindo.
— Oi. — me responde animada.
Eu abaixo um pouco a cabeça para encará-la e porra... e ela está tão bonita enquanto me olha com aqueles olhos grandes e sorri. A voz dela se mistura com a música e parece que tudo está girando, eu entendo bem o que ela fala, mas mesmo assim uso isso como desculpa para aproximá-la mais de mim, lhe puxando pela cintura. E ela repete o que tinha dito.
— Quer participar da próxima racha?
A ideia tentadora começa a girar na minha cabeça, eu dou uma risada pensando em Vince. Ele me mataria caso soubesse que estou pensando na possibilidade de participar de uma racha, mas no meu atual estado eu poderia dizer sim para absolutamente tudo. Pular de um avião sem paraquedas me parece uma ótima ideia.
Meu Deus, o que estou pensando? Começo a desconfiar que deveria ter algo naquela cerveja que comprei, mas sem me preocupar. Na verdade, parece tudo tão engraçado.
— Tenho uma ideia melhor. – Agarro pela mão e começo a puxá-la para um lugar mais afastado que tinha visto quando fui atrás de bebida.
A ideia da racha é empolgante, mas não quero nada agora que me deixe longe dela no momento. Eu simplesmente sento que preciso ficar perto dela.
— Pra onde está me levando?
— Aqui. – Respondo quando paramos atrás de uma caminhoneta branca. Longe do alvoroço. Fico de frente para , e ela encosta na parte traseira do veículo.
— O que estamos fazendo aqui?
— Lá está muito barulhento.
— Essa é a sua ideia melhor? Ficar aqui?
Mordo os lábios e balanço a cabeça concordando, pisca algumas vezes e sinto cada pedacinho do meu rosto sendo observado. Percebo que suas mãos estão inquietas e as seguro gentilmente pelos pulsos, deixando que abracem a minha cintura e uso o momento para me aproximar mais.
— É uma ideia ruim? – Pergunto.
— Não mesmo.
Fico contente com a resposta e não economizo tempo em finalmente beijá-la. Sinto como se tudo estivesse aumentado e a sensação é incrível. desliza as mãos pelas minhas costas, agarra o meu cabelo, passeia pelos meus braços. Adoro o toque dela. Uso o meu para fazer pressão nos lugares certos enquanto as nossas bocas se encaixam e moldam um beijo prazeroso. A língua dela enrola na minha com facilidade sincronia e nenhum de nós tínhamos pressa.
Lhe dou um selinho demorado e fala logo em seguida:
.
— Oi. – Respondo ainda com os lábios bem próximos do seu rosto.
— Nunca mais chegue perto dos porto-riquenhos!
Ela diz no seu melhor tom repreensivo e eu ri, e lhe puxei pela mão.
— Vamos, doutora, temos uma racha para ganhar!

☁🌙


Acordo e checo a hora no celular, passa das 4 da tarde. Não acredito que dormi quase que um dia inteiro, e ainda me sinto cansado. Dormir me fez bem, apesar dessas malditas lembranças.
Me jogo em baixo do chuveiro pensando se vou mesmo fazer o que estou pensando. Eu quero mais que tudo descobrir o paradeiro de . Que pessoa some assim do nada? Já fazia quase um mês que ela não entra em contato e não responde nenhuma das minhas tentativas. Só me arrependo de ter deixado tudo chegar nesse ponto, eu devia ter agido a muito tempo. Não faz o meu estilo ficar parado esperando que as coisas acontecessem, mas talvez a saudade que senti no momento que ela foi embora tivesse sido tanta que me cegou para o resto. Me afundou numa melancolia misturados ao medo de perde-la. Mas vou dar um jeito de descobrir o que aconteceu, nem que para isso eu tivesse que ir até a África do Sul.
Saio do banheiro determinado e começo a me arrumar rapidamente pensando no primeiro destino do dia: a casa dos pais dela.
amava toda a sua privacidade, por isso o nosso relacionamento nunca foi aberto ao público. Nunca neguei em entrevistas que estava apaixonado, mas sempre preservei em primeiro lugar. Por esse motivo ainda não tinha conhecido os pais dela. Estou nervoso, não era nessas circunstâncias que eu queria conhece-los e espero que eles não estranhem o meu aparecimento repentino na porta da casa deles.
Uso o Waze para não me perder durante o caminho. Os pais e moram em um bairro do outro lado da cidade. Demora 20 minutos até que chego no bairro e começo a desacelerar procurando a rua que fica a casa deles.
Nesse tempo meu celular começa a tocar e vejo o nome de Vince na tela, atendo e coloco no viva-voz.
— Vince.
onde diabos você está? Vi fotos de você ontem com Hailee na Albatroz, mas ninguém o viu saindo.
— Calma, Vince, de lá fui pra casa.
Paro num farol e observo outro carro buzinar para um segundo que ultrapassava ainda no amarelo.
Está dirigindo? — Vince pergunta um pouco espantado. — Sabe que não é bom dirigir no seu estado, já lhe disse milhares de vezes!
— Estou bem, até dormi ontem.
- Ah é mesmo? — Ele diz e tenho quase certeza que está sorrindo.
— Devia estar puto com você por ter mexido nos meus remédios, mas obrigado, me fez bem.
Estou aqui para cuidar de você, esse é o meu trabalho. — Sorri lembrando do modo que a minha mãe falou com Vince quando assinei meu contrato com ele, a maneira que lhe pediu para cuidar de mim. — Mas falando em trabalho, estou resolvendo as coisas para a sua turnê.
— Ah, quanto a isso acho que mudei de ideia.
Sério?
— Sim, preciso de um tempo para descansar.
Estou autorizado a cancelar toda a sua agenda então?
— Por favor.
Tudo bem, onde está indo?
— Resolver essa pendência de uma vez por todas, volto logo.
Me ligue se precisar de algo.
— Okay, Vince, tchau.
Ele finaliza a chamada e volto a tela para o aplicativo que indica que já estou no lugar apontado. Paro em frente à casa e desço do carro. Tiro os óculos escuros, apesar da minha péssima aparência. Toco a campainha e espero alguns segundos até que alguém atenda.
Uma mulher não muito velha atende a porta. Ela tem metade do cabelo preso e usa um avental lilás. Dou um sorriso de canto, ela me lembra muito .
— Boa tarde, meu nome é , desculpa aparecer assim do nada, mas você por acaso é a mãe da ?
? — Ela pergunta e eu balanço a cabeça. Sinto que meu nome não é muito estranho para ela. Felizmente ela dá um sorriso. — já me falou de você. — Ela me estende a mão e eu aperto meio sem jeito. — Sou Nancy , é um prazer.
— O prazer é todo meu.
— No que eu posso te ajudar?
— Bem... — Começo a falar encarando o chão, não pensei que pudesse ser difícil assim, ainda mais se recebesse uma notícia ruim. Mas tomo a coragem necessário e encaro a mulher na minha frente. — É que é queria saber dela.
Nancy observa e sinto lamento no seu olhar, fico assustado.
— Você quer entrar, querido?

☁🌙


Nancy se aproxima de mim com uma xícara de chá enquanto me acomodo no seu sofá fofo. Paro um bom tempo para observar o lugar, parece uma casa de bonecas, mas extremamente aconchegante. Por um lado entendo quando me dizia o quanto foi difícil sair da casa dos pais.
Aceito a xícara, ela se senta no sofá ao lado e deposita o bule na mesa de centro.
— Então você e estão juntos há muito tempo?
— Não muito no conhecemos pouco antes dela ir. – Levo a xícara a boca tentando esconder a minha ansiedade, estou louco para perguntar o seu paradeiro, mas tento manter a calma e deixar a conversa fluir.
— Ah sim, ela comentava bem pouco.
— Estávamos tentando ir devagar, sabe por causa de toda exposição por conta do meu trabalho...
— Claro, odeia apressar as coisas.
— É... Mas ela está bem? Faz quase um mês que não consigo falar com ela, estou meio preocupado. – Coço a parte de trás da cabeça e nunca desejei tanto estar usando meus óculos escuro. Nancy abaixa a cabeça encarando as próprias mãos depositadas no seu colo.
— Na verdade, , já faz alguns dias que não falo com ela. Acredito que você não saiba, mas as coisas se complicaram por lá... E o sinal é péssimo, deve ser por esse motivo que você não consiga se comunicar através do celular.
Uma onda de alivio me atinge ao mesmo tempo que uma de preocupação vem junto.
— Como assim as coisas complicaram?
— Bem... foi redirecionada para outra equipe isolada no continente, que cuidam de ferimentos mais sérios. Sei que está segura, ela não corre perigo, mas ao que parece este conflito não está nem perto de acabar. Me preocupo com a saúde mental dela, já que todas as vezes que nos falamos ela chorava.
Nancy diz com um pesar na voz e só consigo pensar que está bem, mas ao mesmo tempo não.
— Tem um jeito? De falar com ela...? – Ela assente e se levanta indo até uma bancada que fica atrás do sofá que estou sentando, vindo de lá com um telefone fixo na cor azul. Era um daqueles que se girava os números para poder discar, como se fosse uma roleta.
— Eles possuem um único telefone fixo na base para comunicação e outro para casos de emergência. Se você quiser você pode tentar ligar agora, só que é difícil falar com ela... quase nunca consegue atender.
— Acho que vou tentar. – Respondo puxando o telefone para perto e Nancy abre uma agenda e me mostra um número de telefone. Fecho a mão num punho, pois meus dedos tremem um pouco.
— Quando atenderem vão pedir para dizer o seu nome e perguntar com quem você quer falar. Certamente vão perguntar o parentesco, diga que é irmão dela. Vai ser mais fácil de te deixarem falar com ela se dizer que é alguém da família.
Balanço a cabeça e Nancy sai me deixando sozinho na sala. Começo a discar os números indicados no papel e os meus pés batem no chão enquanto chama. Estaria andando em círculos por todo o lugar caso o telefone fosse sem fio. Chama algumas vezes até que alguém atende.
Base médica República Centro-Africana, solicito que se identifique e me diga com quem deseja falar.
— Meu nome é , gostaria de falar coma Dra. . Sou o irmão dela.
Não sei se a Dra. está disponível agora, aguarde um pouco.
A linha fica muda antes que eu possa dizer alguma coisa, mas acredito que a ligação não caiu. Seguro o telefone na minha orelha enquanto espero torcendo para que atenda. Minutos depois ouço um chiado e em seguida uma voz.
Alô?
É ela.
? – Pergunto sem querer parecer desesperado e sorrio como não fazia em semanas. O que eu não daria para ver a reação dela nesse momento.
- ?! parece surpresa e ao mesmo tempo espantada. Fico esperando que ela diga mais alguma coisa, mas a linha fica muda e segundos depois começo a escutar alguns soluços.
— Por que está chorando?
Desculpa eu...
, está acontecendo alguma coisa? Indago esperando que a pergunta englobe tudo. A minha curiosidade é por esse momento e todo o resto. Ela funga e logo responde.
Não... Quer dizer eu só tô feliz de ouvir a sua voz. — Sorrio comigo mesmo parece até magia ouvir essas palavras.
— Então por que está chorando?
- Porque... Aconteceu tanta coisa que você nem imagina e estou me sentindo péssima por não ter conseguido organizar as coisas, por não ter tentado te ligar. Você deve ter ficado confuso e ainda deve estar , eu sinto muito por isso, eu...
— Ei, , fique calma! – Peço com calma, mas mantenho a firmeza na voz. – Limpe essas lágrimas, está tudo bem, okay? Sua mãe me disse que as coisas ficaram complicadas ai.
É, ficaram. Tudo aqui parece ser mais difícil, eu tento ser forte porque quero muito ajudar todo mundo. Você não sabe como é triste ver algumas cenas todo dia, tenho alguns momentos de descanso e fica tudo na minha cabeça o dia inteiro. Me desculpa pelo sumiço, ás vezes esqueço que tinha uma vida antes de vir para cá.
— Não tenho pelo que te desculpar e você não precisa falar disso agora se não quiser. Estou feliz de saber que você está bem.
-Sinto sua falta. funga novamente e o que eu não daria para poder abraça-la porque sei como fica sensível nesses momentos. Parece que vou explodir de felicidade com aquelas palavras. Ela ainda é minha. – Muita.
— Não mais do que eu. Estou feliz de saber que você está bem, ultimamente era isso que vinha me incomodando.
Eu sei que não era só isso que vinha de incomodando, .
— O que quer dizer?
Você deve querer saber quando eu vou voltar, eu agora achei bom você ter conseguido falar comigo, assim posso tirar o peso das suas costas. Não sei te dizer quando eu volto e não posso ficar te prendendo.
— O quê? — Pergunto espantado enquanto meus olhos se fixam na estante que a mãe tem na sala. Sequer pisco. – Você tá terminando comigo?
Vai ser melhor assim, não acho justo com você. , você é uma estrela tem uma vida toda pra viver, gente no mundo todo pra conhecer, eu não posso ficar te atrasando.
— Mas você não me atrasa! – Levanto um pouco o tom de voz e me assusto comigo mesmo. Sinto um pouco de raiva ao mesmo tempo tristeza, tudo porque não queria perde-la. – , por Deus, não diga uma coisa dessas!
- Mas, ...
— Eu não quero conhecer mais ninguém, eu quero ficar com você. – Digo com toda a convicção possível. Um silêncio se instala por um instante e eu logo trato de continuar. – Eu vou te esperar, , seja o tempo que for.
- Eu não posso deixar que você fique me esperando.
— Mas eu vou, Dra. eu não vou desistir de você então tire essa ideia de terminar comigo da sua cabeça.
Você é teimoso, .
— Sou mesmo e não insista, não me faça ir até ai.
Oh não, tudo bem. Não vou deixar você largar tudo ai vindo até aqui. – Ela responde rápido demais e eu ri, sabendo que nunca me deixaria ir assim mesmo que fosse a minha maior vontade. Daria tudo para vê-la.
— Na verdade eu não largaria nada, estou de férias.
Mesmo assim.
— Hm, já que estou de férias eu poderia mesmo fazer uma viagem até ai.... Sério eu juro que não ia te atrapalhar! – Falo sugestivamente e me grita repreensivamente, como eu adoro que ela faça.
!
— Tá tudo bem. – Dou risada me dando por vencido. – Mas a gente podia viajar quando você voltar, o que acha?
Só se você me deixar escolher o lugar.
— Combinado.
Hm... , preciso desligar, não posso ficar prendendo a linha por muito tempo.
Suspiro meio triste, mas muito mais leve do que quando coloquei os pés naquela casa.
— Certo, eu posso te ligar de novo amanhã? Todo dia na verdade? – Pela primeira vez dá risada e lembro do quanto eu gosto dá risada dela.
- Claro, pode ser que eu não consiga atender, mas eu vou tentar te ligar sempre que der.
— Vou ficar esperando.
Eu te amo, .
— Eu também te amo, .
Tchau.
— Tchau bae.

☁🌙


Sai da casa dos pais de saltitando feliz demais para conseguir descrever, sabendo com absoluta certeza que esperar por ela iria valer a pena e que eu não estaria fazendo papel de idiota. e eu trocamos novos número de telefones e prometemos um ao outro nos falarmos todos os dias e ao contrário do que ela pensa, uma visita surpresa era uma coisa que ainda estava na minha cabeça e eu não desistira da ideia. Eu mesmo iria lá buscá-la caso ela dissesse que estava pronta para voltar amanhã.

Naquela noite deitei a cabeça no travesseiro e fechei os olhos. De um modo arrebatador o sono veio pela primeira vez em semanas, sem que eu precisasse de qualquer medicamento. Se estava segura e em paz, eu também ficaria.


¹: Remédio que permite que o ser humano fique até 51 horas sem dormir.





Fim!



Nota da autora: Meu deuz, eu nem acredito que eu consegui terminar e faltando muito tempo ainda pra acabar o prazo! Gente essa foi a primeira fisctape que eu participei, confesso que sempre tive medo de entrar porque achava que não ia conseguir terminar a tempo ou que não ia conseguir desenvolver nada que ficasse legal, mas até que estou feliz com o resultado. Insomnia é a minha fav do Icarus Falls fiquei muito feliz de ter conseguido pegar a música, eu amo tudo nela principalmente a letra. Teve vários momentos em que eu ficava “mds e agora?” e não conseguia escrever nada, mas felizmente tudo foi fluindo do jeito que eu queria então me contem ai se vocês gostaram por favor rs

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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