-R. M. C.
Prólogo
Nunca acreditei em carma.
Mas, enquanto corro alucinada pelos corredores da Universidade de Chicago, carregando a minha mochila em farrapos, molhada da cabeça aos pés pela chuva inesperada e com o cheiro de café impregnado na blusa que foi o último presente que recebi da minha tia que morreu na semana passada, avalio se deveria ter comprado os biscoitos daquelas escoteiras no dia anterior.
Sacudo a cabeça, rindo do efeito do desespero sobre mim. Se eu não conseguir entrar na classe da Sra. Hamilton depois de tanto esforço, juro que sou capaz de decepar a cabeça do primeiro que passar.
A imponente porta de madeira me aguarda no fim do corredor. Suspiro, contente por ter chegado apesar de todos os empecilhos que se materializaram no meu caminho nesta manhã de terça feira.
Paro em frente à porta e pondero se devo bater antes de entrar. É a minha primeira aula com essa professora e, apesar de não conhecê-la pessoalmente, na teoria estou apta para narrar todo o seu histórico na universidade.
A despeito das belas pernas, dos cabelos loiros e do porte elegante, Eloise Hamilton não faz o tipo querida pelos alunos. Seu método é rigoroso, suas aulas cansativas e seu sorriso macabro. Aos 53 anos, essa mulher conserva mais inimigos do que amigos, sendo o primeiro grupo composto majoritariamente por ex-alunos reprovados em sua disciplina. O estudo das teorias da dinâmica capitalista não é nem de longe tão complexo quanto os trabalhos que ela passa no primeiro dia de aula para duplas de alunos que terão até o final do semestre para entregar o documento.
A minha preocupação instantaneamente desaparece porque prevejo que Susan, uma companheira de classe, já está na sala e como combinado já me designou como sua dupla. Percebo, durante este momento de serenidade, que há uma fresta na porta e posso discernir a voz ruidosa de Hamilton. Empurro a porta lentamente, não querendo chamar a atenção ou interromper a sua fala. Contudo, para meu azar, quando já estou encostando-a e procurando por Susan na sala lotada, a professora me nota.
- Bem, senhor Palance, parece que sua parceira chegou.
Engasgo. Lanço um olhar de desentendimento em sua direção e ela aponta discretamente para o relógio no pulso e entendo que esta é a razão para eu não ter o direito de argumentar. Procuro uma cadeira vazia e me alojo ali, entre dois asiáticos concentrados, aguardando pelo intervalo e rezando para que a fala da professora tenha sido apenas uma brincadeira de mau gosto, um meio de me fazer pagar pelo meu atraso.
***
- Isso não é justo. Tenho o direito de escolher a pessoa com quem quero trabalhar até o fim do semestre. – meu tom é educado, apesar de estar visivelmente irritada.
Os passos de Hamilton ecoam pelo espaço enquanto eu a sigo, e tenho vontade de pegar o maldito salto fino de seu sapato e cravar em sua cabeça.
- Não acredito que esteja em posição de exigir algo, senhorita...
- . – completo. – Sei que chegar atrasada em sua primeira aula revela certo descaso, mas eu fui impedida por forças cósmicas de chegar até aqui a tempo.
- Bom, não acho que o fato de o universo conspirar contra você seja problema meu. O caso é que avalio meus alunos e formo as duplas de acordo com o grau de interesse e, já que não conheço o coeficiente de rendimento de todos na sala, estabeleço que a frequência e a pontualidade sejam os quesitos responsáveis pela composição das duplas.
- Esse seu sistema de seleção tem sérias falhas. – aponto e ela para de caminhar imediatamente. – A maioria dos indivíduos que hoje chegam cedo para as aulas é porque sofreram nos períodos anteriores e, preocupados com o atual, tentam consumir o máximo de conteúdo possível. O resto da turma é composto por pessoas assustadas com o seu legado de reprovações. – sei que estou passando dos limites com tanta petulância e, receosa com o que possa acontecer, aperto o casaco em volta de meu corpo.
- Se a senhorita demonstrasse o mínimo de inteligência também estaria roendo as unhas até sangrarem, contudo, permanece a contestar meus métodos. – sua voz soa altiva e eu me encolho. – Portanto, se quiser continuar a assistir minhas aulas e ter a ínfima chance de ser aprovada nesta disciplina deve aceitar os meus termos. Vai encarar as consequências da sua falta de pontualidade passivamente, desenvolver o projeto com quem eu estabelecer e respeitar a minha autoridade sem questionamentos. Estamos de acordo?
Uma veia na minha testa salta e tenho de fechar minhas mãos em punho para me impedir de esbofeteá-la. Penso no sacrifício que terei que fazer para suportar esses seis meses ao lado do aluno mais descompromissado da classe. Aceitar a perspectiva de que provavelmente vou acabar tendo que fazer o projeto sozinha e ainda acrescentar o nome do infeliz não parece muito motivadora, mas concordo com um resoluto meneio de cabeça.
O sorriso macabro, então, aparece em seus lábios vermelhos.
Mas, enquanto corro alucinada pelos corredores da Universidade de Chicago, carregando a minha mochila em farrapos, molhada da cabeça aos pés pela chuva inesperada e com o cheiro de café impregnado na blusa que foi o último presente que recebi da minha tia que morreu na semana passada, avalio se deveria ter comprado os biscoitos daquelas escoteiras no dia anterior.
Sacudo a cabeça, rindo do efeito do desespero sobre mim. Se eu não conseguir entrar na classe da Sra. Hamilton depois de tanto esforço, juro que sou capaz de decepar a cabeça do primeiro que passar.
A imponente porta de madeira me aguarda no fim do corredor. Suspiro, contente por ter chegado apesar de todos os empecilhos que se materializaram no meu caminho nesta manhã de terça feira.
Paro em frente à porta e pondero se devo bater antes de entrar. É a minha primeira aula com essa professora e, apesar de não conhecê-la pessoalmente, na teoria estou apta para narrar todo o seu histórico na universidade.
A despeito das belas pernas, dos cabelos loiros e do porte elegante, Eloise Hamilton não faz o tipo querida pelos alunos. Seu método é rigoroso, suas aulas cansativas e seu sorriso macabro. Aos 53 anos, essa mulher conserva mais inimigos do que amigos, sendo o primeiro grupo composto majoritariamente por ex-alunos reprovados em sua disciplina. O estudo das teorias da dinâmica capitalista não é nem de longe tão complexo quanto os trabalhos que ela passa no primeiro dia de aula para duplas de alunos que terão até o final do semestre para entregar o documento.
A minha preocupação instantaneamente desaparece porque prevejo que Susan, uma companheira de classe, já está na sala e como combinado já me designou como sua dupla. Percebo, durante este momento de serenidade, que há uma fresta na porta e posso discernir a voz ruidosa de Hamilton. Empurro a porta lentamente, não querendo chamar a atenção ou interromper a sua fala. Contudo, para meu azar, quando já estou encostando-a e procurando por Susan na sala lotada, a professora me nota.
- Bem, senhor Palance, parece que sua parceira chegou.
Engasgo. Lanço um olhar de desentendimento em sua direção e ela aponta discretamente para o relógio no pulso e entendo que esta é a razão para eu não ter o direito de argumentar. Procuro uma cadeira vazia e me alojo ali, entre dois asiáticos concentrados, aguardando pelo intervalo e rezando para que a fala da professora tenha sido apenas uma brincadeira de mau gosto, um meio de me fazer pagar pelo meu atraso.
- Isso não é justo. Tenho o direito de escolher a pessoa com quem quero trabalhar até o fim do semestre. – meu tom é educado, apesar de estar visivelmente irritada.
Os passos de Hamilton ecoam pelo espaço enquanto eu a sigo, e tenho vontade de pegar o maldito salto fino de seu sapato e cravar em sua cabeça.
- Não acredito que esteja em posição de exigir algo, senhorita...
- . – completo. – Sei que chegar atrasada em sua primeira aula revela certo descaso, mas eu fui impedida por forças cósmicas de chegar até aqui a tempo.
- Bom, não acho que o fato de o universo conspirar contra você seja problema meu. O caso é que avalio meus alunos e formo as duplas de acordo com o grau de interesse e, já que não conheço o coeficiente de rendimento de todos na sala, estabeleço que a frequência e a pontualidade sejam os quesitos responsáveis pela composição das duplas.
- Esse seu sistema de seleção tem sérias falhas. – aponto e ela para de caminhar imediatamente. – A maioria dos indivíduos que hoje chegam cedo para as aulas é porque sofreram nos períodos anteriores e, preocupados com o atual, tentam consumir o máximo de conteúdo possível. O resto da turma é composto por pessoas assustadas com o seu legado de reprovações. – sei que estou passando dos limites com tanta petulância e, receosa com o que possa acontecer, aperto o casaco em volta de meu corpo.
- Se a senhorita demonstrasse o mínimo de inteligência também estaria roendo as unhas até sangrarem, contudo, permanece a contestar meus métodos. – sua voz soa altiva e eu me encolho. – Portanto, se quiser continuar a assistir minhas aulas e ter a ínfima chance de ser aprovada nesta disciplina deve aceitar os meus termos. Vai encarar as consequências da sua falta de pontualidade passivamente, desenvolver o projeto com quem eu estabelecer e respeitar a minha autoridade sem questionamentos. Estamos de acordo?
Uma veia na minha testa salta e tenho de fechar minhas mãos em punho para me impedir de esbofeteá-la. Penso no sacrifício que terei que fazer para suportar esses seis meses ao lado do aluno mais descompromissado da classe. Aceitar a perspectiva de que provavelmente vou acabar tendo que fazer o projeto sozinha e ainda acrescentar o nome do infeliz não parece muito motivadora, mas concordo com um resoluto meneio de cabeça.
O sorriso macabro, então, aparece em seus lábios vermelhos.
Capítulo 1
O aroma de café me entorpece. As olheiras que se formam debaixo de meus olhos me envelhecem uma década e, sentada em uma cadeira pré-histórica, eu já posso ser confundida como parte da mobília. Ouço o barulho da porta da cafeteria batendo e, mesmo estando de costas para ela, posso identificar com clareza quem acabou de entrar.
- Está atrasado. – digo sem nem sequer me virar para vê-lo.
- Isso é doentio. – ele diz puxando uma cadeira e sentando-se à minha frente.
É incrível como nem mesmo virar a madrugada afeta o humor de . Seu sorriso é contagiante e ele está tão animado que eu poderia jurar que está a caminho de mais um evento em memória de Shakespeare. Não que ele goste de romance, na verdade, o que ele aprecia é a veia trágica de William.
Corro os olhos pela sua vestimenta tentando achar o motivo para o atraso. veste o de sempre: camisa xadrez, calça jeans e tênis, apesar de ser exageradamente vaidoso. Sigo, então, para seu rosto. Os olhos sempre brincalhões e um tanto quanto maliciosos; o sorriso cafajeste despontando em seus lábios; seus cabelos propositalmente bagunçados, que, com toda certeza, levaram um século para ficar do jeito que ele desejava. Um conjunto que, devo admitir, é estranhamente bonito.
- Admirando-me outra vez, ? – insinua e eu rolo os olhos teatralmente.
- Sabe que não. Estou apenas tentando aceitar o fato de que você passa mais tempo em frente ao espelho do que eu. – respondo prontamente.
- Nossa! – exclama e eu sorrio, me deliciando com a vitória.
- Esfolei seu ego?
- Imagina. Apenas me surpreende você saber o que é um espelho, já que certamente nunca teve acesso a um. – seu humor é ácido e eu tenho que controlar meu instinto de agredi-lo.
- Idiota. – limito-me a murmurar e beberico o meu café já morno. – A propósito, já finalizou o suporte teórico do nosso projeto?
- Sim. Também revisei a definição e fiz algumas alterações.
- Essa é minha parte, . – alerto-o incomodada. – Não deveria modificá-la sem a minha autorização.
- Se você a fizesse da maneira certa, eu não precisaria pedir para ajustá-la.
Encaro-o, chocada com a sua prepotência. Dois meses atrás, quando descobri que ele seria minha dupla no projeto, fiquei estupefata porque pensei que o trabalho recairia todo sobre mim. Agora que sei que sua expressão de indiferença nas aulas do curso de Economia não revela seu descaso, mas sim esconde seu brilhante potencial, estou possessa. Sinto meu rosto queimar de raiva e meus lábios se crispam. Então, pateticamente, ele ri.
- Estou brincando, . Divirto-me quando você fica à beira de um ataque de nervos. – ele esclarece ainda com o maldito sorriso no rosto.
- Você tem o melhor rendimento do curso. Seu ego está bem respaldado nas suas notas invejáveis. – finalmente revelo o que descobri na primeira semana de aula do semestre, assim que comecei a elaborar um dossiê sobre o meu parceiro.
- Gosto de tratar as pessoas de igual para igual. – ele diz, enquanto analisa o cardápio pouco variado da cafeteria.
- Está sendo bem sucedido? – arrisco-me a perguntar.
Tenho ciência de que meu relacionamento com não é dos mais cordiais. Não somos amigos, não conversamos sobre amenidades e só nos encontramos em locais públicos quando queremos discutir algum detalhe do trabalho. Tudo que sei sobre ele é resultado das minhas pesquisas virtuais, arquivos da universidade e conversas triviais com amigos em comum que às vezes deixam escapar alguma informação. Não que eu o persiga, apenas gosto de ter a sensação de que sei com quem estou lidando. Não que esse seja o caso também.
É ridículo admitir, mas Palance é praticamente um desconhecido.
- É difícil quando o indivíduo em questão não é muito diferente de uma pedra. – ele debocha e eu rio a contragosto.
- Patético. – digo, e tento focalizar a conversa mais uma vez em nosso trabalho. – Entrei em contato com a secretária daquela empresa que reverte parte de seus lucros em projetos sociais. Pedi, educadamente, que ela tentasse conseguir uma hora com a diretora da empresa para que nós pudéssemos entrevistá-la para o nosso trabalho de conclusão de disciplina. – ajeita a postura na cadeira enquanto eu me preparo para dar a péssima notícia. – Ela disse que é impossível. Segundo ela, Heather Sinfield é incrivelmente ocupada e jamais teria tempo para alunos do 6° período de economia da Universidade de Chicago. Ela também deve ignorar o fato de que esta é uma das mais respeitadas faculdades do país e um dos principais centros de estudos econômicos do mundo, mas tudo bem. – dou de ombros sendo corroída pelo meu próprio sarcasmo.
Bufo, nervosa, e põem suas mãos sobre as minhas de forma condescendente.
- Vou conseguir isso. – ele pisca maroto.
- Vantagem de se ter um pai rico que é dono da metade da cidade suponho. Aliás, poderíamos falar com ele e o inserirmos em nosso trabalho. Ele faz várias obras de caridade também. – recordo-o e faz uma careta de reprovação.
- Ridícula. – ele aponta e se afasta, levantando-se em seguida. De início, penso que ele está realmente zangado e que está me abandonando, mas depois de ficar de pé por algum tempo, ele me chama impaciente. – Venha logo, . Vou te mostrar o que sou capaz de conseguir sozinho.
Ao acompanhá-lo, tenho a plena noção de que aquilo é um desafio.
***
Estou perplexa.
E completamente furiosa.
Saio caminhando pela calçada movimentada, me desviando das pessoas que carregam seus enormes guarda-chuvas enquanto eu sou atingida por uma enxurrada de pingos grossos e gelados. De qualquer forma, não é isso o que me incomoda, mas sim o fato de Palance ter conseguido em 15 minutos o que eu não consegui em 30 dias.
Ouço gritar meu nome diversas vezes e, a contragosto, viro-me na direção do seu chamado. Após procurar por ele durante algum tempo, observo que se encontra seco, resguardado na entrada da empresa que acabamos de visitar. Reviro os olhos quando ele me chama com um gesto manual e, pateticamente, me vejo seguindo-o como um cachorro.
- Você é algum tipo de suicida? O céu está desmoronando e você, seguindo uma linha de raciocínio brilhante, quer se aventurar a chegar a sua casa embaixo de uma chuva dessas. Vai acabar adquirindo uma pneumonia e morrendo. Daí terei que fazer todo o trabalho sozinho. – ele cospe as palavras em minha direção, tentando mascarar sua preocupação, e eu o ignoro, vendo a água escorrer vagarosamente pelo meu corpo.
- Olha, eu não quero discutir com você, mas...
- Não há discussão. Vamos esperar a chuva cessar antes de voltarmos para casa.
Revolto-me com o fato de ele se achar no direito de dar as ordens, desconsiderando a minha opinião. De súbito, levanto-me na ponta dos pés e mordo sua bochecha. Ele geme e coloca a palma no lado esquerdo da face, tentando através de uma massagem aliviar a dor.
- Está maluca? Por que fez isso? – ele está chocado com minha ação inesperada.
Passo a língua pelos lábios como se os tivesse saboreando e, após uma análise cuidadosa, revelo os fatos:
- Tenho certeza de que não é feito de açúcar.
***
- Você me seguiu? – pergunto impressionada, com uma toalha na cabeça, ao dar de cara com parado na soleira da porta do meu modesto apartamento.
- Você mordeu minha bochecha sem razão admissível, não acho que te devo alguma explicação.
Então, sem ser convidado, ele adentra o cômodo deixando um rastro de água por onde passa.
- Imbecil, você está molhando minha casa. – alerto-o.
- Isso não é exatamente uma casa, não é mesmo? – ele ironiza após uma análise criteriosa do espaço. – É brincadeira, . – conclui, antes que eu me emburre. –Arranje-me uma toalha.
- Não sei se notou, mas não gosto de receber ordens. – cruzo os braços em frente ao peito.
- Foi um pedido.
- Não ouvi você dizer “por favor”. – arqueio a sobrancelha, tentando intimidá-lo.
- Está implícito, querida. – ele zomba e eu desisto de guerrear com o babaca.
Após trazer a toalha para e secar o chão molhado, vou até a cozinha preparar um café para tomarmos. Enquanto a água ferve, me direciono até meu quarto e noto assustada ao passar pela sala que está apenas de cueca.
- O que significa isso? Que indecência é essa? – questiono exasperada.
- Bom, você não esperava que eu continuasse dentro de roupas encharcadas, não é mesmo? Não há lógica alguma nisso. – ele responde como se fosse óbvio – Você também deve fazer o mesmo se tem algum apreço pela sua saúde.
- Não vou ficar nua.
- Ainda não estou pedindo para que fique.
Escancaro minha boca. Isso é um atentado ao pudor e eu, definitivamente, sou o pudor.
- Você está me desrespeitando, Palance. – aviso e ele parece achar isso genuinamente engraçado porque se dobra de tanto rir. – O que é tão engraçado, seu tarado?
- Você leva a vida tão a sério que não é capaz de distinguir nem piadas de assédio. Por favor, , não estou interessado em você sexualmente e muito menos romanticamente. Então, fique tranquila quanto a isto. – ele pisca e por algum motivo me sinto ofendida. - Se você tiver alguma roupa larga talvez eu possa vestir para amenizar seu constrangimento.
- Não será necessário, Palance. Afinal, não estou interessada em você sexualmente e muito menos romanticamente.
Após copiar suas palavras, ponho-me a tirar as roupas.
Não sei se ficou desconcertado com a minha atitude, não sei se demonstrou algum sinal de bel-prazer enquanto me despia, pois evitei encará-lo durante o profano espetáculo.
- Consegui te convencer de que tenho a capacidade de resolver as coisas por mim mesmo? – pergunta relaxado, apoiando os braços atrás da cabeça. – Posso ser bastante persuasivo quando quero.
- Há uma linha vigorosa entre persuasão e perversão, meu caro. – saliento e vou em direção à cozinha buscar café e biscoitos.
- Está me acusando de seduzir aquela secretária? – ele pergunta pasmo, me seguindo.
- Por favor, você desperdiçou uma quantidade espantosa de energia e charme para tentar convencê-la de marcar uma hora com Sinfield. – rebato atrevida – Contra fatos não há argumentos.
- Os fins justificam os meios. - ele revela e me ajuda a levar as coisas para a sala. Vira a cabeça para trás durante o percurso e completa ao me encarar malicioso - Gosto mais desse.
O sofá pequeno nos deixa a uma distância indecente e, só com roupas intimas, tenho que me esforçar para ocultar a vergonha que estou sentindo. Contudo, não posso o deixar vencer esse jogo de quem menos se importa e por isso me equilibro habilmente na ponta do sofá, na esperança que esse maldito perfume que ele usa não me induza a fazer uma loucura.
- No que está pensando, ?
- Nas perguntas que iremos fazer para Heather. Elas precisam ser boas para mostrá-la de que seu tempo não foi desperdiçado com universitários tolos. – minto e assente em concordância.
- Iremos os dois?
- É melhor ir apenas você, por via das dúvidas. – ele vinca a testa, sem entender a razão e eu esclareço sarcástica – Porque você sabe, caso as perguntas não a impressionem é só você tirar a roupa e fazer seu show.
- Está me chamando de prostituto? – ele se finge de ofendido.
- Se a carapuça serviu. – pisco maldosa e ele não consegue conter uma risada acalorada.
Um silêncio se instala no cômodo assim que as risadas cessam e, novamente constrangida pela falta de roupas, saio em busca de um cobertor dando o frio como desculpa. Quando retorno para a sala, encontro observando meio abobalhado algumas fotos que estavam presas em um mural.
- Você parece feliz. – ele diz entusiasmado.
- Pois é. - concordo me juntando a ele para observar as imagens.
- Essa é a sua irmã? – ele pergunta ao apontar para a imagem de uma garota com um olhar mal-intencionado e com uma torta na mão. Ela é incrivelmente parecida comigo a não ser pela cor do cabelo que é oposta a do meu.
- Sim, mas agora Estella está grávida, então, sabe, parece uma baleia que engoliu uma porca. – dou de ombros.
- Quanta delicadeza. – ele revira os olhos. – Vocês não são próximas?
- Ah, somos muito próximas. Tão próximas que ela me incumbiu de organizar todos os eventos de sua vida. Casamento, chá de panela, despedida de solteira e, agora, estou responsável por planejar o chá de bebê. Espero que ela dê meu nome à criança. – digo, zombando do excesso de responsabilidade em mim investido.
- É uma garotinha, então?
- Não se sabe ainda. Na última ultrassonografia o bebê estava com as pernas fechadas, tímido que nem o pai, então não deu para ver. Se ela não descobrir rápido, o enxoval vai ser todo amarelo. – faço uma careta e ri. É estranho, mas ele parece verdadeiramente interessado em descobrir coisas sobre a minha nada-interessante-vida.
- Falta muito para nascer?
- Bom, ela está com cinco meses, mas tem que tomar certos cuidados, pois foi diagnosticada com pré-eclâmpsia. – parece não entender, portanto, explico o que significa – Ocasiona a elevação da pressão arterial e a placenta é pouco vascularizada.
- É muito grave?
- Bom, se não for tratada essa condição pode trazer sérias complicações para a gestante e seu bebê, até mesmo fatais. – ele arregala os olhos e eu tento anuviar as informações tanto para ele quanto para mim. – Mas relaxa, ela está sendo muito bem acompanhada por uma equipe de médicos e se mudou recentemente para Naperville porque não dá para permanecer em Chicago já que esta é cidade mais estressante dos EUA. – no fim, tento convencer não só , mas a mim também.
segura as minhas mãos frias e oberva meus dedos longos e finos. Delineia o contorno da minha mão com seus dedos e há algo em seu toque que me acalma. Pensar na situação da minha irmã é complicado demais para mim, visto que ela é a única integrante viva da minha família. Digo, ainda tem a vovó Anne, mas ela vive em Melbourne e não tenho condições financeiras de viajar até à Austrália sempre que precisar de conselhos e de sermões. Ou simplesmente de abraços.
- Vai dar tudo certo. – sussurra em meu ouvido e passa os braços em volta do meu corpo em um abraço bizarro.
Estou sensível demais para dizer o quanto isso é indecente e obsceno, portanto, me aconchego ainda mais nele, tentando suprimir as sensações incomodas que me invadem. Não sei exatamente quanto tempo ficamos ali, agarrados um ao outro compartilhando calor, mas foi tempo suficiente para eu adormecer em seus braços.
E quando eu abri meus olhos, já havia ido para muito longe. E ao estender minha mão tudo o que eu sentia era frio. No fim, não sei precisamente quanto tempo ele demorou a se retirar e muito menos se fui trazida para cama com dignidade e sem abusos. Apenas sinto cócegas na bochecha esquerda e mesmo sabendo que não há a marca de uma mordida ali, caso contrário eu teria despertado, sei que ele pressionou seus lábios demoradamente sobre meu rosto com a intenção de que, quando eu acordasse, recordasse da sensação esquisita que ele deixou em mim.
- Está atrasado. – digo sem nem sequer me virar para vê-lo.
- Isso é doentio. – ele diz puxando uma cadeira e sentando-se à minha frente.
É incrível como nem mesmo virar a madrugada afeta o humor de . Seu sorriso é contagiante e ele está tão animado que eu poderia jurar que está a caminho de mais um evento em memória de Shakespeare. Não que ele goste de romance, na verdade, o que ele aprecia é a veia trágica de William.
Corro os olhos pela sua vestimenta tentando achar o motivo para o atraso. veste o de sempre: camisa xadrez, calça jeans e tênis, apesar de ser exageradamente vaidoso. Sigo, então, para seu rosto. Os olhos sempre brincalhões e um tanto quanto maliciosos; o sorriso cafajeste despontando em seus lábios; seus cabelos propositalmente bagunçados, que, com toda certeza, levaram um século para ficar do jeito que ele desejava. Um conjunto que, devo admitir, é estranhamente bonito.
- Admirando-me outra vez, ? – insinua e eu rolo os olhos teatralmente.
- Sabe que não. Estou apenas tentando aceitar o fato de que você passa mais tempo em frente ao espelho do que eu. – respondo prontamente.
- Nossa! – exclama e eu sorrio, me deliciando com a vitória.
- Esfolei seu ego?
- Imagina. Apenas me surpreende você saber o que é um espelho, já que certamente nunca teve acesso a um. – seu humor é ácido e eu tenho que controlar meu instinto de agredi-lo.
- Idiota. – limito-me a murmurar e beberico o meu café já morno. – A propósito, já finalizou o suporte teórico do nosso projeto?
- Sim. Também revisei a definição e fiz algumas alterações.
- Essa é minha parte, . – alerto-o incomodada. – Não deveria modificá-la sem a minha autorização.
- Se você a fizesse da maneira certa, eu não precisaria pedir para ajustá-la.
Encaro-o, chocada com a sua prepotência. Dois meses atrás, quando descobri que ele seria minha dupla no projeto, fiquei estupefata porque pensei que o trabalho recairia todo sobre mim. Agora que sei que sua expressão de indiferença nas aulas do curso de Economia não revela seu descaso, mas sim esconde seu brilhante potencial, estou possessa. Sinto meu rosto queimar de raiva e meus lábios se crispam. Então, pateticamente, ele ri.
- Estou brincando, . Divirto-me quando você fica à beira de um ataque de nervos. – ele esclarece ainda com o maldito sorriso no rosto.
- Você tem o melhor rendimento do curso. Seu ego está bem respaldado nas suas notas invejáveis. – finalmente revelo o que descobri na primeira semana de aula do semestre, assim que comecei a elaborar um dossiê sobre o meu parceiro.
- Gosto de tratar as pessoas de igual para igual. – ele diz, enquanto analisa o cardápio pouco variado da cafeteria.
- Está sendo bem sucedido? – arrisco-me a perguntar.
Tenho ciência de que meu relacionamento com não é dos mais cordiais. Não somos amigos, não conversamos sobre amenidades e só nos encontramos em locais públicos quando queremos discutir algum detalhe do trabalho. Tudo que sei sobre ele é resultado das minhas pesquisas virtuais, arquivos da universidade e conversas triviais com amigos em comum que às vezes deixam escapar alguma informação. Não que eu o persiga, apenas gosto de ter a sensação de que sei com quem estou lidando. Não que esse seja o caso também.
É ridículo admitir, mas Palance é praticamente um desconhecido.
- É difícil quando o indivíduo em questão não é muito diferente de uma pedra. – ele debocha e eu rio a contragosto.
- Patético. – digo, e tento focalizar a conversa mais uma vez em nosso trabalho. – Entrei em contato com a secretária daquela empresa que reverte parte de seus lucros em projetos sociais. Pedi, educadamente, que ela tentasse conseguir uma hora com a diretora da empresa para que nós pudéssemos entrevistá-la para o nosso trabalho de conclusão de disciplina. – ajeita a postura na cadeira enquanto eu me preparo para dar a péssima notícia. – Ela disse que é impossível. Segundo ela, Heather Sinfield é incrivelmente ocupada e jamais teria tempo para alunos do 6° período de economia da Universidade de Chicago. Ela também deve ignorar o fato de que esta é uma das mais respeitadas faculdades do país e um dos principais centros de estudos econômicos do mundo, mas tudo bem. – dou de ombros sendo corroída pelo meu próprio sarcasmo.
Bufo, nervosa, e põem suas mãos sobre as minhas de forma condescendente.
- Vou conseguir isso. – ele pisca maroto.
- Vantagem de se ter um pai rico que é dono da metade da cidade suponho. Aliás, poderíamos falar com ele e o inserirmos em nosso trabalho. Ele faz várias obras de caridade também. – recordo-o e faz uma careta de reprovação.
- Ridícula. – ele aponta e se afasta, levantando-se em seguida. De início, penso que ele está realmente zangado e que está me abandonando, mas depois de ficar de pé por algum tempo, ele me chama impaciente. – Venha logo, . Vou te mostrar o que sou capaz de conseguir sozinho.
Ao acompanhá-lo, tenho a plena noção de que aquilo é um desafio.
Estou perplexa.
E completamente furiosa.
Saio caminhando pela calçada movimentada, me desviando das pessoas que carregam seus enormes guarda-chuvas enquanto eu sou atingida por uma enxurrada de pingos grossos e gelados. De qualquer forma, não é isso o que me incomoda, mas sim o fato de Palance ter conseguido em 15 minutos o que eu não consegui em 30 dias.
Ouço gritar meu nome diversas vezes e, a contragosto, viro-me na direção do seu chamado. Após procurar por ele durante algum tempo, observo que se encontra seco, resguardado na entrada da empresa que acabamos de visitar. Reviro os olhos quando ele me chama com um gesto manual e, pateticamente, me vejo seguindo-o como um cachorro.
- Você é algum tipo de suicida? O céu está desmoronando e você, seguindo uma linha de raciocínio brilhante, quer se aventurar a chegar a sua casa embaixo de uma chuva dessas. Vai acabar adquirindo uma pneumonia e morrendo. Daí terei que fazer todo o trabalho sozinho. – ele cospe as palavras em minha direção, tentando mascarar sua preocupação, e eu o ignoro, vendo a água escorrer vagarosamente pelo meu corpo.
- Olha, eu não quero discutir com você, mas...
- Não há discussão. Vamos esperar a chuva cessar antes de voltarmos para casa.
Revolto-me com o fato de ele se achar no direito de dar as ordens, desconsiderando a minha opinião. De súbito, levanto-me na ponta dos pés e mordo sua bochecha. Ele geme e coloca a palma no lado esquerdo da face, tentando através de uma massagem aliviar a dor.
- Está maluca? Por que fez isso? – ele está chocado com minha ação inesperada.
Passo a língua pelos lábios como se os tivesse saboreando e, após uma análise cuidadosa, revelo os fatos:
- Tenho certeza de que não é feito de açúcar.
- Você me seguiu? – pergunto impressionada, com uma toalha na cabeça, ao dar de cara com parado na soleira da porta do meu modesto apartamento.
- Você mordeu minha bochecha sem razão admissível, não acho que te devo alguma explicação.
Então, sem ser convidado, ele adentra o cômodo deixando um rastro de água por onde passa.
- Imbecil, você está molhando minha casa. – alerto-o.
- Isso não é exatamente uma casa, não é mesmo? – ele ironiza após uma análise criteriosa do espaço. – É brincadeira, . – conclui, antes que eu me emburre. –Arranje-me uma toalha.
- Não sei se notou, mas não gosto de receber ordens. – cruzo os braços em frente ao peito.
- Foi um pedido.
- Não ouvi você dizer “por favor”. – arqueio a sobrancelha, tentando intimidá-lo.
- Está implícito, querida. – ele zomba e eu desisto de guerrear com o babaca.
Após trazer a toalha para e secar o chão molhado, vou até a cozinha preparar um café para tomarmos. Enquanto a água ferve, me direciono até meu quarto e noto assustada ao passar pela sala que está apenas de cueca.
- O que significa isso? Que indecência é essa? – questiono exasperada.
- Bom, você não esperava que eu continuasse dentro de roupas encharcadas, não é mesmo? Não há lógica alguma nisso. – ele responde como se fosse óbvio – Você também deve fazer o mesmo se tem algum apreço pela sua saúde.
- Não vou ficar nua.
- Ainda não estou pedindo para que fique.
Escancaro minha boca. Isso é um atentado ao pudor e eu, definitivamente, sou o pudor.
- Você está me desrespeitando, Palance. – aviso e ele parece achar isso genuinamente engraçado porque se dobra de tanto rir. – O que é tão engraçado, seu tarado?
- Você leva a vida tão a sério que não é capaz de distinguir nem piadas de assédio. Por favor, , não estou interessado em você sexualmente e muito menos romanticamente. Então, fique tranquila quanto a isto. – ele pisca e por algum motivo me sinto ofendida. - Se você tiver alguma roupa larga talvez eu possa vestir para amenizar seu constrangimento.
- Não será necessário, Palance. Afinal, não estou interessada em você sexualmente e muito menos romanticamente.
Após copiar suas palavras, ponho-me a tirar as roupas.
Não sei se ficou desconcertado com a minha atitude, não sei se demonstrou algum sinal de bel-prazer enquanto me despia, pois evitei encará-lo durante o profano espetáculo.
- Consegui te convencer de que tenho a capacidade de resolver as coisas por mim mesmo? – pergunta relaxado, apoiando os braços atrás da cabeça. – Posso ser bastante persuasivo quando quero.
- Há uma linha vigorosa entre persuasão e perversão, meu caro. – saliento e vou em direção à cozinha buscar café e biscoitos.
- Está me acusando de seduzir aquela secretária? – ele pergunta pasmo, me seguindo.
- Por favor, você desperdiçou uma quantidade espantosa de energia e charme para tentar convencê-la de marcar uma hora com Sinfield. – rebato atrevida – Contra fatos não há argumentos.
- Os fins justificam os meios. - ele revela e me ajuda a levar as coisas para a sala. Vira a cabeça para trás durante o percurso e completa ao me encarar malicioso - Gosto mais desse.
O sofá pequeno nos deixa a uma distância indecente e, só com roupas intimas, tenho que me esforçar para ocultar a vergonha que estou sentindo. Contudo, não posso o deixar vencer esse jogo de quem menos se importa e por isso me equilibro habilmente na ponta do sofá, na esperança que esse maldito perfume que ele usa não me induza a fazer uma loucura.
- No que está pensando, ?
- Nas perguntas que iremos fazer para Heather. Elas precisam ser boas para mostrá-la de que seu tempo não foi desperdiçado com universitários tolos. – minto e assente em concordância.
- Iremos os dois?
- É melhor ir apenas você, por via das dúvidas. – ele vinca a testa, sem entender a razão e eu esclareço sarcástica – Porque você sabe, caso as perguntas não a impressionem é só você tirar a roupa e fazer seu show.
- Está me chamando de prostituto? – ele se finge de ofendido.
- Se a carapuça serviu. – pisco maldosa e ele não consegue conter uma risada acalorada.
Um silêncio se instala no cômodo assim que as risadas cessam e, novamente constrangida pela falta de roupas, saio em busca de um cobertor dando o frio como desculpa. Quando retorno para a sala, encontro observando meio abobalhado algumas fotos que estavam presas em um mural.
- Você parece feliz. – ele diz entusiasmado.
- Pois é. - concordo me juntando a ele para observar as imagens.
- Essa é a sua irmã? – ele pergunta ao apontar para a imagem de uma garota com um olhar mal-intencionado e com uma torta na mão. Ela é incrivelmente parecida comigo a não ser pela cor do cabelo que é oposta a do meu.
- Sim, mas agora Estella está grávida, então, sabe, parece uma baleia que engoliu uma porca. – dou de ombros.
- Quanta delicadeza. – ele revira os olhos. – Vocês não são próximas?
- Ah, somos muito próximas. Tão próximas que ela me incumbiu de organizar todos os eventos de sua vida. Casamento, chá de panela, despedida de solteira e, agora, estou responsável por planejar o chá de bebê. Espero que ela dê meu nome à criança. – digo, zombando do excesso de responsabilidade em mim investido.
- É uma garotinha, então?
- Não se sabe ainda. Na última ultrassonografia o bebê estava com as pernas fechadas, tímido que nem o pai, então não deu para ver. Se ela não descobrir rápido, o enxoval vai ser todo amarelo. – faço uma careta e ri. É estranho, mas ele parece verdadeiramente interessado em descobrir coisas sobre a minha nada-interessante-vida.
- Falta muito para nascer?
- Bom, ela está com cinco meses, mas tem que tomar certos cuidados, pois foi diagnosticada com pré-eclâmpsia. – parece não entender, portanto, explico o que significa – Ocasiona a elevação da pressão arterial e a placenta é pouco vascularizada.
- É muito grave?
- Bom, se não for tratada essa condição pode trazer sérias complicações para a gestante e seu bebê, até mesmo fatais. – ele arregala os olhos e eu tento anuviar as informações tanto para ele quanto para mim. – Mas relaxa, ela está sendo muito bem acompanhada por uma equipe de médicos e se mudou recentemente para Naperville porque não dá para permanecer em Chicago já que esta é cidade mais estressante dos EUA. – no fim, tento convencer não só , mas a mim também.
segura as minhas mãos frias e oberva meus dedos longos e finos. Delineia o contorno da minha mão com seus dedos e há algo em seu toque que me acalma. Pensar na situação da minha irmã é complicado demais para mim, visto que ela é a única integrante viva da minha família. Digo, ainda tem a vovó Anne, mas ela vive em Melbourne e não tenho condições financeiras de viajar até à Austrália sempre que precisar de conselhos e de sermões. Ou simplesmente de abraços.
- Vai dar tudo certo. – sussurra em meu ouvido e passa os braços em volta do meu corpo em um abraço bizarro.
Estou sensível demais para dizer o quanto isso é indecente e obsceno, portanto, me aconchego ainda mais nele, tentando suprimir as sensações incomodas que me invadem. Não sei exatamente quanto tempo ficamos ali, agarrados um ao outro compartilhando calor, mas foi tempo suficiente para eu adormecer em seus braços.
E quando eu abri meus olhos, já havia ido para muito longe. E ao estender minha mão tudo o que eu sentia era frio. No fim, não sei precisamente quanto tempo ele demorou a se retirar e muito menos se fui trazida para cama com dignidade e sem abusos. Apenas sinto cócegas na bochecha esquerda e mesmo sabendo que não há a marca de uma mordida ali, caso contrário eu teria despertado, sei que ele pressionou seus lábios demoradamente sobre meu rosto com a intenção de que, quando eu acordasse, recordasse da sensação esquisita que ele deixou em mim.