Capítulo Único
Seria um ano intenso e muito difícil, pensava . As aulas mal começaram em Alfea e a fada já estava se sentindo encurralada. Ainda passando a mão freneticamente pelos braços doloridos, ela podia sentir o olhar feio das amigas sobre si. Pelo canto do olho, confirmou os semblantes desgostosos.
— Eu já pedi desculpas! — reiterou nervosa — Não fiz por querer! — alegou, vendo as demais apenas passarem por si para andar mais rápido na frente.
— Vê se não fode com o resto, .
— Como se você não errasse nunca, Astrid.
Estavam voltando para a escola após mais uma das aulas de poções em campo do Professor Paladino. A aula aconteceu em torno de um exercício: conseguir os ingredientes necessários para uma poção de desencantamento para magias de hipnose. Muito fácil se não fosse pelas plantas saberem lutar. Antes que e seu grupo pudessem terminar a tarefa, as folhas iam terminar com elas. Apesar das dificuldades, as fadas não se assustavam. A qualidade e nível das aulas era condizente com o que estavam aprendendo, o problema é que tinha uma questão martelando na cabeça que tirava a concentração.
No discurso de início do ano letivo, a diretora Faragonda adiantou alguns dos desafios que teria pelo ano, incluindo uma amostra do que seria a prova final: enchantix. Uma evolução que garantiria poderes superiores, a transformação e forma final de uma fada que só viria diante de um sacrifício de amor e coragem: salvar uma criatura do próprio mundo. Contudo, como ela salvaria alguém da terra natal, se estava proibida de pisar lá?
Foi com esses pensamentos preenchendo a mente que falhou na tentativa de magia de convergência com as amigas de quarto. Sem estar focada, era certo de que a tentativa de união das magias sairia errado. Todas foram arremessadas pelo ar. Mal sabia que a possível solução dos problemas estava mais próxima do que imaginava.
Pouco a pouco, a turma ia alcançando os portões de Alfea a pé, sendo todas recepcionadas e conferidas na chamada pela rígida inspetora Griselda.
— Senhorita . — o par de olhos atentos por trás das armações pontudas conferia a lista — Está aqui. — a fada pôde vê-la fazer um check enorme contra o pergaminho com uma pena extravagante.
Aqui. O termo ecoou em sua mente.
Quanto tempo a deixariam ficar na escola se soubessem que talvez não fosse capaz de completar sua transformação?
A presença de especialistas na escola sempre causava um estardalhaço. Por ser uma escola somente de fadas, todas ficavam com os hormônios agitados e mais interessadas quando haviam figuras do sexo oposto no mesmo local, embora existisse um sistema de escapadas e elas acontecessem com frequência. Bastavam quererem. Entretanto, o pouso de uma nave enorme no meio dos jardins de Alfea em plena madrugada não era para alegrar ninguém. Sequencialmente, as luzes dos dormitórios foram se acendendo um a um, com as cabeças das fadas surgindo nas varandas em curiosidade.
reconheceu a pessoa que desceu do transporte e foi de encontro com a diretora e inspetora. O coração vacilou de preocupação por um instante. Quando vieram a chamar no quarto, sentiu o sangue congelar.
— Mais calma, senhorita . — Griselda corria em seu encalço em direção à diretoria.
— Meus pais… Está tudo bem com os meus pais? — foi a primeira coisa que saiu ao dar entrada na sala após a corrida desenfreada, ainda de pijama e descabelada.
— Boa noite, . — foi só o que o especialista disse.
— Eles estão bem ou não? — marchou em passos curtos, eufórica, puxando-o pelo colarinho do uniforme de Fonte Rubra.
— Senhorita ! — a inspetora repreendeu a falta de modos — Ainda deve respeito à diretora.
Danasse os modos. Todo mundo sabia que Etiqueta não era exatamente a aula forte dela.
— Está bem. Acalme-se, . Você também, Griselda. O jovem veio em nome da Guarda Real de Ficeres com um pedido oficial de ajuda.
A fala atraiu a atenção da fada que acabou afrouxando um pouco as mãos, sem removê-las de lá ainda. Os olhos recaíram em um pergaminho esticado na mesa com o brasão da terra natal estampado.
— Eles estão bem. — ouviu sussurrar em seu ouvido à medida que tirava as mãos sobre si.
— Como sabe, , um feiticeiro das trevas voltou recentemente, escapando da Dimensão Ômega, a prisão de penalidade máxima que se acreditava ser impossível de burlar. As Winx têm lidado com possíveis pistas dele nos últimos dias, mas temo que os problemas possam ser maiores do que imaginamos. Valtor não tem escrúpulos e não medirá forças para conquistar o que quer. Achamos que o aconteceu em Ficeres pode ser mais uma das obras do bruxo. Quero que tenha isso em mente enquanto te explicará melhor e com mais detalhes.
Ela estava ciente da existência de tal ameaça. O equilíbrio da Dimensão Mágica estava abalado. Vários mundos se chocando. Uma das Winx, Layla, até voltou cega em uma das missões.
— Uma ação de Valtor em Ficeres? — a recém-chegada franziu o cenho — Disseram que ele estava atrás dos segredos mágicos de cada reino. Ficeres não usa magia, não há nada que possa interessá-lo lá.
Silêncio e uma troca de olhares breves entre a diretora e o especialista acontece. — O senhor poderá esclarecer essa parte. Alfea não costuma e não pode interferir em políticas de nenhum reino.
— Mas se envolve Valtor, o correto não seria informar às Winx que já lidaram com o tal?
— A princesa Mia de Ficeres está desaparecida, . — se pronunciou oficialmente na sala pela primeira vez desde que entrou, muito mais sério do que estava acostumada a ver — Você sabe das políticas em Ficeres. Não é permitido o uso de magia ou presença de nenhum ser mágico. As Winx nunca poderiam entrar. O paradeiro de Mia é desconhecido e acreditamos que nem ela sabe que está sendo sequestrada. Há algumas semanas, iniciamos uma operação para transferência dela para um abrigo secreto de segurança máxima em outra Dimensão em decorrência dos últimos ataques que ouvimos de outros lugares. Segundo nosso planejamento, eles deveriam ter alcançado o segundo posto de checagem ontem, mas os rastros sumiram. Mia não sabe o caminho. Deve estar sendo redirecionada, alheia das intenções dos inimigos.
— Qual a ligação com Valtor? Por que ele teria interesse em Ficeres?
engoliu seco. Olhou para o ponto oposto do que ela estava. Manejou a cabeça várias vezes.
— Porque assim como você… Mia também é uma fada.
Ficeres era o reino onde e nasceram, ficava nos limites da Dimensão Mágica. Raramente se via seres falando daquelas terras, porque por um decreto do rei há quase duas décadas: a magia se tornou estritamente proibida. Pela ambição e busca incessante por poder dos ancestrais, o reino deles ruiu, levando a rainha, deixando o rei e sua filha como símbolos da esperança. Ficeres estava fadada a ser uma civilização que buscava a autossuficiência na força bruta do homem. Não era o pote de ouro dos olhos de ninguém, pois sem recursos mágicos, não despertava o interesse de quase ninguém.
Depois da morte da rainha, virou uma caça às bruxas.
Qualquer um que demonstrasse um resquício de magia ou fosse flagrado usando feitiços seria deportado. foi. Apesar dos pais não emanarem uma faísca de magia, os poderes de fada se fizeram notórios nela. Com doze anos, precisou abdicar de uma vida comum e da companhia dos pais para viver fora. Sabiam dela, sentia os olhares de repulsa e por mais que tentasse, a pouca idade não permitia controle sobre as habilidades que se manifestaram e iam ganhando intensidade. A Guarda bateria na porta dos . Dito e feito, fora convidada a se retirar pacificamente.
Uma humilhação diante de tantos olhos.
Por receios de um rei traumatizado, famílias estavam se desfazendo. não foi a primeira e nem a última.
— Ela é só uma criança! — a garotinha via a mãe cair de joelhos no chão, aos prantos, implorando para que fosse diferente daquela vez.
— A gente se vê no povoado, mamãe e papai. Sou uma mocinha crescida já, lembram? Vou me cuidar e comer frutas.
O afastamento não foi para sempre. Ela só não podia cruzar mais as fronteiras para entrar em Ficeres. Se quisesse ver os pais, eles precisariam sair. Tudo que os tinham estava naquele reino. Achou injusto fazer os progenitores abrirem mão de tudo por si. Com uma dúzia de primavera nas costas, prometeu que iria aprender a se cuidar para não preocupar ainda mais os pais.
Abriu mão de muita coisa para descobrir que o tempo todo a princesa estava no mesmo barco, mas teve oportunidades diferentes.
— Se continuar olhando tanto para dentro desse poço com tanta intensidade, vou acreditar que está pensando em se jogar daí.
Agora, estavam fora da sala de Faragonda. As autoridades voltaram para seus quartos, enquanto e estavam no lado externo da escola. Ele sem saber ao certo o que ela pensava e ela sem saber o que queria que pensassem.
— Talvez, eu queira TE jogar aí.
— Vamos lá, , os caras afrouxaram as regras por você.
— Por mim, jamais. — inflou as bochechas com ar dentro e soltou — Acho engraçado você falar “os caras”, sabendo que é um deles. Vocês me tiraram a chance de crescer em Ficere, de viver como uma criança normal com pais presentes. Quando acho que me acostumei com a injustiça, descubro que há uma exceção. — ela riu sem humor — Porque meu sangue não é azul, porque eu não sou da família real, não pude fazer minhas escolhas. — cansada de olhar para o fundo do poço, virou-se para encostar a lombar contra as pedras empilhadas.
— Não sei como foi, ou como é, mas estava lá, lembra?
foi um dos outros pilares de sua infância.
Até partir, cresceram e aprenderam juntos na escola do povoado. Os adultos não entendiam: ambos viviam discutindo por qualquer coisa, se irritavam, mas estavam sempre juntos.
— Não foi assim! — batia os pés, como se a força depositada contra o solo fosse reverberar em suas palavras.
— Como que não foi? — replicou muito mais contido em postura, com o deboche escorrendo no canto da boca — Você é muito chata, . Mesmo que eu prove tudo que falei na sua cara, ainda vai dizer que é mentira.
— Porque é!
— Não, é porque você é chata.
Os pais só assistiam ao diálogo sem pé e nem cabeça, torcendo para que no final do dia essa energia estivesse esgotada para garantir a todos uma longa noite de sono.
O dia que tanto martelava na mente da fada também se repetia em constante loop na cabeça do especialista. Questionava-se se tivesse tentado algo diferente naquele dia, os rumos teriam sido outros. Tinha 12 anos. Era um bobalhão. Como poderia ser ouvido e levado a sério pelo rei?
No dia da partida de , estava em cima de uma árvore assistindo a… Amiga… Ser levada. Poderia considerá-la assim, não poderia? Com tanta movimentação, é claro que ela não se lembraria dele. Com pedras nas mãos, estava pronto para mirar na cabeça daqueles guardas que a cercavam.
— Isso não vai funcionar, moleque.
sentiu a alma sair do corpo pelo susto. Era apenas seu pai. Olhou para o homem escorado no tronco lá embaixo e alternou para que estava cada vez mais longe.
— Sabe que é crime bater na guarda real, filho? — o genitor indagou, embora duvidasse que aquele pedaço de gente pudesse causar um arranhão naqueles homens treinados.
Os dedos pequenos estreitaram o aperto contra os minérios.
— Ela mal consegue caminhar sozinha sem tropeçar, pai. É só uma idiota. — suspirou como forma de jogar a frustração para fora.
— Os já cuidaram de tudo. Eles vão continuar juntos. Quem precisa se cuidar é você. Sua mãe te mataria, se fosse preso por rebeldia e vandalismo. — brincou, esticando os braços para mostrar que o pegaria se pulasse naquele instante.
Antes de ceder, observou a cena uma última vez.
Ele definitivamente cresceria forte para não deixar que os mais próximos fossem magoados.
Despertando do transe, continuou a conversa:
— Acredite, não foi muito mais fácil para Mia. Enquanto você era jogada para o mundo, a princesa não podia nem se dar ao luxo de sair para sentir o calor que emana do sol. Viver trancada em uma torre não me parece um sonho real. Eles precisam de você, .
— Um mar de oportunismo e conveniência. Precisam de mim até a princesa estar de volta. Depois, serei excluída de novo. — exibiu uma linha fina que supostamente era um sorriso.
não teve como rebater. As mãos fecharam-se em punhos, mas o ato passou despercebido pela fada que estava distraída demais com o leve balançar da grama que começava a estar alta demais.
— Vai ser sempre assim. — ele estava tentando a jogar no fundo do poço ou confortá-la? — Seria ingenuidade sua esperar que as coisas se resolvessem em um piscar.
— E é ingenuidade sua achar que aceitaria ajudar num piscar de olhos.
— De você, eu não espero nada. — curto e grosso — É um pedido da Guarda Real. Não faço questão de você. — e lá iam eles para aquele loop de altos e baixos na convivência. achava que reagia melhor diante de confrontos. Ela se fez forte assim. — Aliás, fadas não deveriam ser altruístas e empáticas?
— Não com filhos da puta. — retrucou tão rapidamente, sem preocupação em se censurar, que fez o especialista gargalhar.
— Escuta… — ele se escorou de lado ao lado dela — É sempre ótimo ser xingado por você, mas nosso tempo está contado. Você vem, ou não?
Se fosse observadora, teria percebido o maxilar tensionado do homem ao seu lado. Como um membro da guarda de Ficere e um aluno em treinamento de Fonte Rubra, ele aprendeu a manipular as próprias emoções. Situações perigosas exigiam uma mente centrada. No entanto, não tinha certeza se tinha conseguido fisgá-la com suas provocações. Ele precisava dela mais do que ela precisava deles.
O dever de uma fada é proteger sua nação.
Ao chegarem em Ficeres, não houve tempo para passeios. A dupla foi de encontro com a equipe de buscas que tentava refazer os passos do grupo que escoltava Mia. Logo que se juntaram, sentiu o julgamento. Se alguém ousasse soltar um “A”, teria briga. Foram eles que pediram ajuda, então por que continuavam com o tratamento frio? Parecia até que era a maior assassina dos últimos tempos. O mundinho deles iria desabar quando descobrissem que a princesa também era mágica. Sorriu maldosa com o efeito dominó que seria. Contudo, advertiu: de todos os presentes nesse resgate, somente eles dois tinham conhecimento das verdadeiras cores da herdeira do trono e o sumiço dessa ainda era desconhecido para os civis. Estavam pisando em ovos e ele contava com a discrição dela. Como se já não tivesse abusado nos pedidos, pediu para que usasse os poderes somente em último caso. Sendo assim, ela havia sido convocada por quê?
— Vai ficar plantada aí, ou ajudar? — o dominador de seus pensamentos das últimas horas cobrou de maneira autoritária.
— Panaca! — murmurou começando a se mover.
adoraria dizer que aquela rigidez era uma tentativa dele de crescer para cima dela diante dos colegas de tropa, mas a realidade é que era assim com ela tendo espectadores ou não.
Suados, exaustos e sem nenhuma pista, viu que era a sua hora de brilhar.
— Imaginei que poderíamos cair nesse limbo. Então, trouxe um plano B. Alguém tem um item pessoal da princesa? — indagou balançando os dedos, fazendo uma flor surgir entre as mãos, sendo protegida por uma cúpula.
— O que pretende? — que mal sentou direito foi ao encontro dela — Precisa me comunicar o que está pensando e o que vai fazer, . Não está sozinha na missão e sua presença aqui está amarrada a várias condições.
— Se ficar repetindo essas condições é melhor me deixar voltar para Alfea. Quer ou não encontrar a princesa? — o casal se entreolhou por vários segundos sem desviar — Foi o que pensei. — sorriu vitoriosa diante a um dos poucos momentos em que o especialista não rebatia — Pode me garantir que Mia e eu temos quase a mesma estatura?
— Pode se dizer que sim. — ele deu os ombros tendo afirmações duvidosas dos outros homens.
— É bom que seja mesmo, ou corremos o risco de não funcionar.
— Qual é o plano, ? — insistiu, menos paciente do que na primeira vez.
— Feitiço de transferência de corpos. — a fada sorriu empolgada — Flora me ensinou alguns truquinhos e eu finalmente vou poder colocar minhas habilidades com feitiços em prática. — se não carregasse a flor, teria batido palmas.
— Quer dizer que nunca fez isso? — o tom do colega subiu um pouco.
— Fica calmo! Não vai dar nada de errado se as informações que deu sobre a estatura da princesa estiverem mesmo corretas.
— Então, como vai ser?
Todos se aproximaram até fechar uma roda onde, no centro, depositou a flor.
— Essa rosa possui propriedades de transferência. O item pessoal que me cederem da princesa será usado para localizar e conectá-la comigo. Uma vez feita a ligação, vou ativar o feitiço para que seja teletransportada para onde está e ela fique no meu lugar.
— Se a flor tem a capacidade de estabelecer a conexão entre vocês e ceder a localização, não é só nos informar para irmos atrás e dispensar o feitiço? — um dos guardas que ela não sabia nomear perguntou.
— A magia é uma troca. A natureza não pode nos ceder nada de graça. Um corpo pelo outro, me parece bem justo.
— Está maluca? — a mão de alcançou seu pulso, uma olhada rápida e os colegas e a compreensão foi mútua, de repente todos se distanciaram deles — Nosso objetivo é resgatar uma pessoa e não perder outra!
— Tem um plano melhor? Isso já funcionou uma vez. Mia estará de volta e eu vou saber me virar para achar vocês.
— Não sabe onde ela pode estar. Não sabe quais são as condições de lá…
— E é exatamente por isso que temos que trazê-la de volta o quanto antes.
— Seus pais vão me matar quando souberem o que deixei fazer. — passou a mão pelos cabelos.
— Pois é. Lide com a fúria deles quando aparecer com um braço arrancado. — sorriu zombeteira.
— …
— Vamos começar. — entrelaçou os dedos das duas mãos para fingir que estava os estralando e inclinou a cabeça de um lado para o outro, como se fizesse o mesmo com o pescoço. só soube rolar os olhos com o teatro da fada.
— Mas é muito atriz mesmo! — reclamou para o ar antes de retornarem para o círculo.
Correria. Gritaria. Perseguição.
Assim que o feitiço ativou, a troca foi instantânea. Mia surgiu no lugar de , exatamente na mesma posição que estava. Por outro lado, nem ao menos teve tempo para raciocinar. Deixou o braço voar contra o rosto de um dos guardas traidores e então se iniciou a fuga. Enquanto voava, depositando tudo de si sobre as asas, acariciava a mão que ainda formigava em consequência do atrito recente.
— É mais fácil terem quebrado a minha mão com a mandíbula do que eu ter feito estrago. — resmungou, alternando o voo em movimentos zigue-zague para distração. Além da mão, havia um outro detalhe que a preocupava. Ninguém estava seguro. Durante a troca, sentiu os pensamentos serem invadidos. Eles sabiam da localização atual da princesa e seria uma questão de tempo até chegarem nela outra vez. Precisava impedir. Todavia, precisava parar de olhar para o futuro e encarar o que estava diante de si: homens ao estilo armário prontos para revidar o murro.
Estava relativamente longe do acampamento que montaram na região onde obtiveram as últimas pistas do paradeiro de Mia. Transformada, tentava dar conta do máximo de criaturas possível, afastando-os com barreiras em alguns momentos, em outros soltando ataques certeiros. Ainda não havia conseguido conquistar o enchantix, então a limitação dos poderes tornava a luta mais lenta e cansativa. Quando finalmente conseguiu alcançar os aliados, o acampamento já estava desfeito, consumido por chamas.
— Nós cuidamos deles! — assegurou com a espada em riste — Tira ela daqui! — ordenou agressivo ao mesmo tempo em que se livrava de duas criaturas peçonhentas. não ousou contrariar. Usou parcela da força que ainda lhe restava para ajudar a Guarda a limpar o território. Esses segundos de ocupação bastaram para perderem o controle sobre Mia. Em um piscar, assistiram horrorizados a princesa se debater enquanto era arrastada pelo chão para uma direção oposta da que estavam.
Ela precisava de ajuda.
— Chatas. — uma figura se materializou por um redemoinho de ar diante delas.
— Stormy? — reconheceu uma das irmãs bruxas que viviam
— Tchau, fadinha! — a feiticeira não estava para conversas. Com um simples gesticular de dedos, jogou a adversária para longe com uma rajada de vento forte, sem se importar de estar levando também as criaturas que estavam sob seu comando.
A força descontada em também afetou Mia que tentava desesperadamente se agarrar em um cipó a beira de um precipício.
— Droga! — a bruxa exasperou. Valtor queria a outra viva.
Então, iniciou-se uma corrida.
e Stormy pela mão de Mia.
Chegando com as tropas, a última coisa que viu foi a figura de Mia sumindo pelo penhasco, arrastando consigo numa velocidade surreal. Quando tentaram se aproximar para interferir, viu uma das bruxas que tentaram dominar a Dimensão Mágica uns dois anos atrás sobrevoar até eles. Com apenas um golpe, o especialista sentiu sua consciência se esvair.
— Porque fez isso? Poderia estar morta.
O penhasco de onde escorregaram e rolaram era realmente fundo. A sorte do dia de ambas é que se chocaram contra uma pedra no meio do caminho que as levavam para um acesso.
tentou insistentemente se transformar para que pudesse retornar voando com suas asas, carregando Mia, mas estava sem energias.
— Teremos que caminhar um pouco. Vamos, princesa. — ignorou o questionamento, tomando a frente.
No caminho apertado dentro do morro, coletava pedras e as descartava à medida que encontrava outras mais consistentes e bem delineadas. Sem poderes, ela estaria ferrada para um embate. Precisava garantir a segurança de Mia.
— Sabe que se fosse a situação inversa, não teria feito o mesmo. Não sabe? — a garota dava alguns saltos entre os passos para desviar do solo irregular da caverna, sem perder o ritmo de caminhada da outra. — Não teria me arriscado para te segurar da queda.
— Bom, isso mostra que as pessoas são diferentes e pensam diferente. É minha missão.
Mia ficou pensativa. Ainda que fosse o dever de , o olhar de horror dela ao tentar segurar em sua mão para tentar içar para cima, antes de despencar, ficou gravado. Estava acostumada com atos de doação e salvamento, contudo eram sempre tão frIos e automáticos que na primeira mínima demonstração de humanidade, o coração da princesa foi tocado.
— deve estar se descabelando atrás de você neste exato momento. — iniciou uma nova conversa — Ele não confia em mim, mas enquanto estiver aqui a pedido da Coroa, vai ter que me aturar e engolir meus métodos.
— Está brincando, não está? — Mia parou de andar, fazendo imitá-la.
— Sobre o quê?
— Tudo o que falou há uns 5 segundos atrás. Se fosse pelo meu pai, nunca teria pisado em Ficeres novamente, . — comentou sem um resquício de vergonha na voz — Foi quem intercedeu e depositou uma fé cega na magia, em você e seus poderes.
— Obviamente está equivocada, Alteza.
— foi bem duro na sessão da Corte. Disse que não teríamos chances sem uma fada no grupo.
Sem querer, o coração de falhou algumas batidas com a revelação.
— Tenho certeza de que no momento que falamos sobre a missão, ele disse que foi decisão total do seu pai.
A princesa de Ficeres mordeu o lábio muito intrigada com o que acontecia diante de si.
— O que há de errado com esse garoto? — deixou escapar em voz alta.
definitivamente confiava em . Quando não se podia cruzar os limites do castelo sem ser notada, a única coisa que restava para ela fazer e não morrer de tédio era cumprir os deveres reais, incluindo participar de decisões da Corte e outras reuniões chatas. Mia recordava como se fosse ontem das passadas apressadas e pesadas do especialista dentro da sala, diante dos Conselheiros. Lembrava-se de como ele rebateu avidamente e argumentou com maestria para que deixassem a fada entrar. Fada que hoje sabia ser . A exceção da vida dele.
— Definitivamente há muita coisa errada com ele, mas temos algo estranho aqui também agora. — Os sentidos aguçados desenvolvidos em Alfea em contato com a natureza não falhavam. O perigo estava próximo. — Ande mais rápido, nossos inimigos já estão dentro dos túneis.
— Me mostre o caminho, — a voz da herdeira do trono de Ficeres tremeu.
— Se sair viva daqui, terá que revogar algumas leis para ajudar pessoas parecidas comigo. — tentou amenizar o terror que viu nos olhos da outra. Mia nada respondeu.
— Achei vocês! — aquela voz fina e inundada de raiva fez o coração de saltar. Stormy as encurralou.
— Não mais. — desferiu um ataque rápido e desatou a correr puxando a princesa pela mão.
— Truques baratos não funcionam comigo! — escutaram a bruxa gritar ao fundo.
O cérebro de quis entrar em ebulição. A bruxa não havia caído em sua magia de ilusão. Não importava quanta coragem carregava, a estudante de Alfea não achava que tinha potencial para vencê-la. Pelas histórias, todas as Trix eram oponentes formidáveis. Precisava ser realista e considerar que não sairia ilesa. Apenas precisava enviar Mia para a superfície outra vez.
Pelo menos, não estavam as três juntas nessa ocasião.
Uma virada ali, segue reto aqui, esquerda, esquerda e esquerda outra vez.
Fim de linha para elas.
Antes que tivessem a oportunidade de fazer um retorno para tentar outro caminho, o óbvio não podia mais ser adiado. Era o momento para colocar à prova tudo que aprendeu. Não seria uma das favoritas de Griselda a toa. Tinha bons reflexos para defesa e isso daria um tempo para um plano.
Enquanto se encolhia ao máximo contra a parede de fundo da caverna, dominada por temores, Mia assistia cambalear alguns metros mais à frente, agarrada às pedras soltas. Ela estava destransformada, somente com as roupas de civil dadas em Ficeres.
— Fadinhas insuportáveis. Sabe que eu me cansei da brincadeira? — a bruxa bateu o indicador contra a bochecha fingindo estar distraída com os pensamentos — Levarei a herdeira… AGORA! Morta não, mas desacordada. — sorriu perversa.
Se teve uma coisa que conversou muito com durante a missão, foi a importância de Mia e o significado dela diante Ficeres. Ela era o futuro de toda uma nação. Se esperava mudanças, teria que confiar na nova geração que iria se formar sob os comandos da princesa. Foi com essa motivação que se colocou à frente.
— De você eu já cansei. Adeus, fadinha!
fechou os olhos com força e tentou se proteger escondendo o corpo com as mãos. Então, um sentimento estranho começou a dominar, como se estivesse mais leve, tão solta que poderia flutuar e pular pelo ar. Abriu os olhos assustada.
Atrás, Mia estava igualmente de olhos esbugalhados. O feitiço da adversária de ricocheteou em nada. Depois, um círculo de ar começou a contornar a fada fazendo os cabelos chicotearem com o vento. Viu ela analisar o próprio corpo e encarar as mãos sem ação.
Era uma sensação boa pelo menos. sentia o coração disparado por uma ansiedade que não tinha origem certa, mas gostou, como se tudo estivesse se alinhando em seu interior e triunfar já não soava tão impossível.
Atenta, Mia assistiu de perto uma das cenas mais bonitas que poderia esperar presenciar um dia. havia se transformado, mas o conjunto não era nada igual ao que se via antes. O tamanho das asas novas e o brilho que emanava iluminava aquele fim de mundo todo.
Enchantix.
Bem conforme a diretora Faragonda descreveu e alertou que poderia acontecer durante a missão.
Agora, era uma fada completa.
Livre de todos os sentimentos que a fazem duvidar de si, olhando para o próprio corpo, ela sentia os novos poderes fluírem por cada célula como pequenos choques. De repente, só queria rir à toa. Pular até os pés reclamarem. O céu era o limite e o chão parecia de algodão. Quase riu com as sensações provocadas sem necessidade de um cogumelo tóxico ou uma erva venenosa.
— Vamos terminar com isso e ir para casa, seu troninho está com saudades, Mia.
Os poderes da nova transformação eram memoráveis. As asas batiam tão leves, considerando que carregava a princesa consigo. Nem mesmo um furacão parecia poder derrubá-las. De energias renovadas, largaram uma Stormy desacordada lá atrás e decidiram refazer o caminho de onde começaram após a queda. Até mesmo suas deduções estavam mais sensíveis. Nunca iria lembrar todos os atalhos que pegaram em fuga da bruxa, mas por algum motivo conseguia ver através das paredes, como se uma seta neon brilhasse só para ela indicando a saída.
Sobrevoando o acampamento, puderam ver a Guarda Real derrotada e desacordada. — Ah, não! — as expressões foram dominadas por lamentação.
deu um pouso meio desengonçado para Mia. Agora que sabia que estavam seguras, não se importou em demonstrar que a prioridade era outra. Acelerou em direção ao único corpo que parecia se fazer existente diante dos olhos cheios de brilho instantes atrás.
— . ! — escorregou de joelhos para puxar o tronco dele mais próximo de si — , acorda, por favor! — logo sentiu as bochechas ficarem úmidas de lágrimas. Voltou o corpo desacordado para o chão e encostou a cabeça no peito dele na tentativa de captar qualquer sinal.
As batidas estavam tão fracas.
Quase perdeu a razão.
As Trix não tinham escrúpulos.
Seria obrigada a usar a pólvora de fada. Quase tudo, senão tudo, podia ser consertado com aquilo. Derramou um pouco sobre e os segundos seguintes pareceram se arrastar como anos.
Ao abrir os olhos devagar, um pequeno sorriso ladino foi se desenhando na boca do especialista. Ainda desnorteado, só conseguiu pensar em como estava tendo uma das visões mais belas que poderia desejar. estava em seu campo de visão e toda a beleza da fada parecia estar sendo beijada pela luz do céu.
Mia deixou o corpo cair para trás em alívio por saber que estava bem e não demoraria para todos ficarem assim também. Contudo, a princesa se surpreendeu mesmo foi com desabando sobre , agarrando-o como um brinquedo que poderia fugir em qualquer instante.
De volta ao reino, seguras, não esperava que fosse convocada pela princesa antes de deixar o reino para voltar à Alfea.
— As leis de Ficeres não vão mudar. — brandou Mia, chocando o cetro que carregava entre os dedos contra o piso polido do castelo.
Os boatos que corriam no palácio eram esses mesmo. Embora o rei estivesse tocado, a ação de fora apenas uma em um milhão. Qualquer guarda teria feito o mesmo e eles não poderiam mudar todo o regulamento por uma exceção.
— Eu sei. já havia conversado comigo sobre isso.
— Mas irei me esforçar o dobro para que possamos construir uma nova geração mais tolerante para reabrir algumas portas. O Reino de Ficeres tem uma dívida de gratidão com você, . Não me esquecerei disso.
— Me soa bem! Espero que num futuro não muito distante, possamos nos esbarrar nas vilas com frequência. Condenar o futuro de algumas pessoas por erros do passado não me parece mais tão justo. Aguarde novidades. — finalizou com uma piscadela.
— Obrigada. — dobrou os joelhos levemente em sinal de reverência.
— Nunca estará sozinha. O garotão que aguarda do lado de fora é só mais uma prova. Esse está na sua mão há eras. Use essa informação com sabedoria… — por mais que suspeitasse que já tivesse consciência do fato.
— Eu já pedi desculpas! — reiterou nervosa — Não fiz por querer! — alegou, vendo as demais apenas passarem por si para andar mais rápido na frente.
— Vê se não fode com o resto, .
— Como se você não errasse nunca, Astrid.
Estavam voltando para a escola após mais uma das aulas de poções em campo do Professor Paladino. A aula aconteceu em torno de um exercício: conseguir os ingredientes necessários para uma poção de desencantamento para magias de hipnose. Muito fácil se não fosse pelas plantas saberem lutar. Antes que e seu grupo pudessem terminar a tarefa, as folhas iam terminar com elas. Apesar das dificuldades, as fadas não se assustavam. A qualidade e nível das aulas era condizente com o que estavam aprendendo, o problema é que tinha uma questão martelando na cabeça que tirava a concentração.
No discurso de início do ano letivo, a diretora Faragonda adiantou alguns dos desafios que teria pelo ano, incluindo uma amostra do que seria a prova final: enchantix. Uma evolução que garantiria poderes superiores, a transformação e forma final de uma fada que só viria diante de um sacrifício de amor e coragem: salvar uma criatura do próprio mundo. Contudo, como ela salvaria alguém da terra natal, se estava proibida de pisar lá?
Foi com esses pensamentos preenchendo a mente que falhou na tentativa de magia de convergência com as amigas de quarto. Sem estar focada, era certo de que a tentativa de união das magias sairia errado. Todas foram arremessadas pelo ar. Mal sabia que a possível solução dos problemas estava mais próxima do que imaginava.
Pouco a pouco, a turma ia alcançando os portões de Alfea a pé, sendo todas recepcionadas e conferidas na chamada pela rígida inspetora Griselda.
— Senhorita . — o par de olhos atentos por trás das armações pontudas conferia a lista — Está aqui. — a fada pôde vê-la fazer um check enorme contra o pergaminho com uma pena extravagante.
Aqui. O termo ecoou em sua mente.
Quanto tempo a deixariam ficar na escola se soubessem que talvez não fosse capaz de completar sua transformação?
A presença de especialistas na escola sempre causava um estardalhaço. Por ser uma escola somente de fadas, todas ficavam com os hormônios agitados e mais interessadas quando haviam figuras do sexo oposto no mesmo local, embora existisse um sistema de escapadas e elas acontecessem com frequência. Bastavam quererem. Entretanto, o pouso de uma nave enorme no meio dos jardins de Alfea em plena madrugada não era para alegrar ninguém. Sequencialmente, as luzes dos dormitórios foram se acendendo um a um, com as cabeças das fadas surgindo nas varandas em curiosidade.
reconheceu a pessoa que desceu do transporte e foi de encontro com a diretora e inspetora. O coração vacilou de preocupação por um instante. Quando vieram a chamar no quarto, sentiu o sangue congelar.
— Mais calma, senhorita . — Griselda corria em seu encalço em direção à diretoria.
— Meus pais… Está tudo bem com os meus pais? — foi a primeira coisa que saiu ao dar entrada na sala após a corrida desenfreada, ainda de pijama e descabelada.
— Boa noite, . — foi só o que o especialista disse.
— Eles estão bem ou não? — marchou em passos curtos, eufórica, puxando-o pelo colarinho do uniforme de Fonte Rubra.
— Senhorita ! — a inspetora repreendeu a falta de modos — Ainda deve respeito à diretora.
Danasse os modos. Todo mundo sabia que Etiqueta não era exatamente a aula forte dela.
— Está bem. Acalme-se, . Você também, Griselda. O jovem veio em nome da Guarda Real de Ficeres com um pedido oficial de ajuda.
A fala atraiu a atenção da fada que acabou afrouxando um pouco as mãos, sem removê-las de lá ainda. Os olhos recaíram em um pergaminho esticado na mesa com o brasão da terra natal estampado.
— Eles estão bem. — ouviu sussurrar em seu ouvido à medida que tirava as mãos sobre si.
— Como sabe, , um feiticeiro das trevas voltou recentemente, escapando da Dimensão Ômega, a prisão de penalidade máxima que se acreditava ser impossível de burlar. As Winx têm lidado com possíveis pistas dele nos últimos dias, mas temo que os problemas possam ser maiores do que imaginamos. Valtor não tem escrúpulos e não medirá forças para conquistar o que quer. Achamos que o aconteceu em Ficeres pode ser mais uma das obras do bruxo. Quero que tenha isso em mente enquanto te explicará melhor e com mais detalhes.
Ela estava ciente da existência de tal ameaça. O equilíbrio da Dimensão Mágica estava abalado. Vários mundos se chocando. Uma das Winx, Layla, até voltou cega em uma das missões.
— Uma ação de Valtor em Ficeres? — a recém-chegada franziu o cenho — Disseram que ele estava atrás dos segredos mágicos de cada reino. Ficeres não usa magia, não há nada que possa interessá-lo lá.
Silêncio e uma troca de olhares breves entre a diretora e o especialista acontece. — O senhor poderá esclarecer essa parte. Alfea não costuma e não pode interferir em políticas de nenhum reino.
— Mas se envolve Valtor, o correto não seria informar às Winx que já lidaram com o tal?
— A princesa Mia de Ficeres está desaparecida, . — se pronunciou oficialmente na sala pela primeira vez desde que entrou, muito mais sério do que estava acostumada a ver — Você sabe das políticas em Ficeres. Não é permitido o uso de magia ou presença de nenhum ser mágico. As Winx nunca poderiam entrar. O paradeiro de Mia é desconhecido e acreditamos que nem ela sabe que está sendo sequestrada. Há algumas semanas, iniciamos uma operação para transferência dela para um abrigo secreto de segurança máxima em outra Dimensão em decorrência dos últimos ataques que ouvimos de outros lugares. Segundo nosso planejamento, eles deveriam ter alcançado o segundo posto de checagem ontem, mas os rastros sumiram. Mia não sabe o caminho. Deve estar sendo redirecionada, alheia das intenções dos inimigos.
— Qual a ligação com Valtor? Por que ele teria interesse em Ficeres?
engoliu seco. Olhou para o ponto oposto do que ela estava. Manejou a cabeça várias vezes.
— Porque assim como você… Mia também é uma fada.
Ficeres era o reino onde e nasceram, ficava nos limites da Dimensão Mágica. Raramente se via seres falando daquelas terras, porque por um decreto do rei há quase duas décadas: a magia se tornou estritamente proibida. Pela ambição e busca incessante por poder dos ancestrais, o reino deles ruiu, levando a rainha, deixando o rei e sua filha como símbolos da esperança. Ficeres estava fadada a ser uma civilização que buscava a autossuficiência na força bruta do homem. Não era o pote de ouro dos olhos de ninguém, pois sem recursos mágicos, não despertava o interesse de quase ninguém.
Depois da morte da rainha, virou uma caça às bruxas.
Qualquer um que demonstrasse um resquício de magia ou fosse flagrado usando feitiços seria deportado. foi. Apesar dos pais não emanarem uma faísca de magia, os poderes de fada se fizeram notórios nela. Com doze anos, precisou abdicar de uma vida comum e da companhia dos pais para viver fora. Sabiam dela, sentia os olhares de repulsa e por mais que tentasse, a pouca idade não permitia controle sobre as habilidades que se manifestaram e iam ganhando intensidade. A Guarda bateria na porta dos . Dito e feito, fora convidada a se retirar pacificamente.
Uma humilhação diante de tantos olhos.
Por receios de um rei traumatizado, famílias estavam se desfazendo. não foi a primeira e nem a última.
— Ela é só uma criança! — a garotinha via a mãe cair de joelhos no chão, aos prantos, implorando para que fosse diferente daquela vez.
— A gente se vê no povoado, mamãe e papai. Sou uma mocinha crescida já, lembram? Vou me cuidar e comer frutas.
O afastamento não foi para sempre. Ela só não podia cruzar mais as fronteiras para entrar em Ficeres. Se quisesse ver os pais, eles precisariam sair. Tudo que os tinham estava naquele reino. Achou injusto fazer os progenitores abrirem mão de tudo por si. Com uma dúzia de primavera nas costas, prometeu que iria aprender a se cuidar para não preocupar ainda mais os pais.
Abriu mão de muita coisa para descobrir que o tempo todo a princesa estava no mesmo barco, mas teve oportunidades diferentes.
— Se continuar olhando tanto para dentro desse poço com tanta intensidade, vou acreditar que está pensando em se jogar daí.
Agora, estavam fora da sala de Faragonda. As autoridades voltaram para seus quartos, enquanto e estavam no lado externo da escola. Ele sem saber ao certo o que ela pensava e ela sem saber o que queria que pensassem.
— Talvez, eu queira TE jogar aí.
— Vamos lá, , os caras afrouxaram as regras por você.
— Por mim, jamais. — inflou as bochechas com ar dentro e soltou — Acho engraçado você falar “os caras”, sabendo que é um deles. Vocês me tiraram a chance de crescer em Ficere, de viver como uma criança normal com pais presentes. Quando acho que me acostumei com a injustiça, descubro que há uma exceção. — ela riu sem humor — Porque meu sangue não é azul, porque eu não sou da família real, não pude fazer minhas escolhas. — cansada de olhar para o fundo do poço, virou-se para encostar a lombar contra as pedras empilhadas.
— Não sei como foi, ou como é, mas estava lá, lembra?
foi um dos outros pilares de sua infância.
Até partir, cresceram e aprenderam juntos na escola do povoado. Os adultos não entendiam: ambos viviam discutindo por qualquer coisa, se irritavam, mas estavam sempre juntos.
— Não foi assim! — batia os pés, como se a força depositada contra o solo fosse reverberar em suas palavras.
— Como que não foi? — replicou muito mais contido em postura, com o deboche escorrendo no canto da boca — Você é muito chata, . Mesmo que eu prove tudo que falei na sua cara, ainda vai dizer que é mentira.
— Porque é!
— Não, é porque você é chata.
Os pais só assistiam ao diálogo sem pé e nem cabeça, torcendo para que no final do dia essa energia estivesse esgotada para garantir a todos uma longa noite de sono.
O dia que tanto martelava na mente da fada também se repetia em constante loop na cabeça do especialista. Questionava-se se tivesse tentado algo diferente naquele dia, os rumos teriam sido outros. Tinha 12 anos. Era um bobalhão. Como poderia ser ouvido e levado a sério pelo rei?
No dia da partida de , estava em cima de uma árvore assistindo a… Amiga… Ser levada. Poderia considerá-la assim, não poderia? Com tanta movimentação, é claro que ela não se lembraria dele. Com pedras nas mãos, estava pronto para mirar na cabeça daqueles guardas que a cercavam.
— Isso não vai funcionar, moleque.
sentiu a alma sair do corpo pelo susto. Era apenas seu pai. Olhou para o homem escorado no tronco lá embaixo e alternou para que estava cada vez mais longe.
— Sabe que é crime bater na guarda real, filho? — o genitor indagou, embora duvidasse que aquele pedaço de gente pudesse causar um arranhão naqueles homens treinados.
Os dedos pequenos estreitaram o aperto contra os minérios.
— Ela mal consegue caminhar sozinha sem tropeçar, pai. É só uma idiota. — suspirou como forma de jogar a frustração para fora.
— Os já cuidaram de tudo. Eles vão continuar juntos. Quem precisa se cuidar é você. Sua mãe te mataria, se fosse preso por rebeldia e vandalismo. — brincou, esticando os braços para mostrar que o pegaria se pulasse naquele instante.
Antes de ceder, observou a cena uma última vez.
Ele definitivamente cresceria forte para não deixar que os mais próximos fossem magoados.
Despertando do transe, continuou a conversa:
— Acredite, não foi muito mais fácil para Mia. Enquanto você era jogada para o mundo, a princesa não podia nem se dar ao luxo de sair para sentir o calor que emana do sol. Viver trancada em uma torre não me parece um sonho real. Eles precisam de você, .
— Um mar de oportunismo e conveniência. Precisam de mim até a princesa estar de volta. Depois, serei excluída de novo. — exibiu uma linha fina que supostamente era um sorriso.
não teve como rebater. As mãos fecharam-se em punhos, mas o ato passou despercebido pela fada que estava distraída demais com o leve balançar da grama que começava a estar alta demais.
— Vai ser sempre assim. — ele estava tentando a jogar no fundo do poço ou confortá-la? — Seria ingenuidade sua esperar que as coisas se resolvessem em um piscar.
— E é ingenuidade sua achar que aceitaria ajudar num piscar de olhos.
— De você, eu não espero nada. — curto e grosso — É um pedido da Guarda Real. Não faço questão de você. — e lá iam eles para aquele loop de altos e baixos na convivência. achava que reagia melhor diante de confrontos. Ela se fez forte assim. — Aliás, fadas não deveriam ser altruístas e empáticas?
— Não com filhos da puta. — retrucou tão rapidamente, sem preocupação em se censurar, que fez o especialista gargalhar.
— Escuta… — ele se escorou de lado ao lado dela — É sempre ótimo ser xingado por você, mas nosso tempo está contado. Você vem, ou não?
Se fosse observadora, teria percebido o maxilar tensionado do homem ao seu lado. Como um membro da guarda de Ficere e um aluno em treinamento de Fonte Rubra, ele aprendeu a manipular as próprias emoções. Situações perigosas exigiam uma mente centrada. No entanto, não tinha certeza se tinha conseguido fisgá-la com suas provocações. Ele precisava dela mais do que ela precisava deles.
Ao chegarem em Ficeres, não houve tempo para passeios. A dupla foi de encontro com a equipe de buscas que tentava refazer os passos do grupo que escoltava Mia. Logo que se juntaram, sentiu o julgamento. Se alguém ousasse soltar um “A”, teria briga. Foram eles que pediram ajuda, então por que continuavam com o tratamento frio? Parecia até que era a maior assassina dos últimos tempos. O mundinho deles iria desabar quando descobrissem que a princesa também era mágica. Sorriu maldosa com o efeito dominó que seria. Contudo, advertiu: de todos os presentes nesse resgate, somente eles dois tinham conhecimento das verdadeiras cores da herdeira do trono e o sumiço dessa ainda era desconhecido para os civis. Estavam pisando em ovos e ele contava com a discrição dela. Como se já não tivesse abusado nos pedidos, pediu para que usasse os poderes somente em último caso. Sendo assim, ela havia sido convocada por quê?
— Vai ficar plantada aí, ou ajudar? — o dominador de seus pensamentos das últimas horas cobrou de maneira autoritária.
— Panaca! — murmurou começando a se mover.
adoraria dizer que aquela rigidez era uma tentativa dele de crescer para cima dela diante dos colegas de tropa, mas a realidade é que era assim com ela tendo espectadores ou não.
Suados, exaustos e sem nenhuma pista, viu que era a sua hora de brilhar.
— Imaginei que poderíamos cair nesse limbo. Então, trouxe um plano B. Alguém tem um item pessoal da princesa? — indagou balançando os dedos, fazendo uma flor surgir entre as mãos, sendo protegida por uma cúpula.
— O que pretende? — que mal sentou direito foi ao encontro dela — Precisa me comunicar o que está pensando e o que vai fazer, . Não está sozinha na missão e sua presença aqui está amarrada a várias condições.
— Se ficar repetindo essas condições é melhor me deixar voltar para Alfea. Quer ou não encontrar a princesa? — o casal se entreolhou por vários segundos sem desviar — Foi o que pensei. — sorriu vitoriosa diante a um dos poucos momentos em que o especialista não rebatia — Pode me garantir que Mia e eu temos quase a mesma estatura?
— Pode se dizer que sim. — ele deu os ombros tendo afirmações duvidosas dos outros homens.
— É bom que seja mesmo, ou corremos o risco de não funcionar.
— Qual é o plano, ? — insistiu, menos paciente do que na primeira vez.
— Feitiço de transferência de corpos. — a fada sorriu empolgada — Flora me ensinou alguns truquinhos e eu finalmente vou poder colocar minhas habilidades com feitiços em prática. — se não carregasse a flor, teria batido palmas.
— Quer dizer que nunca fez isso? — o tom do colega subiu um pouco.
— Fica calmo! Não vai dar nada de errado se as informações que deu sobre a estatura da princesa estiverem mesmo corretas.
— Então, como vai ser?
Todos se aproximaram até fechar uma roda onde, no centro, depositou a flor.
— Essa rosa possui propriedades de transferência. O item pessoal que me cederem da princesa será usado para localizar e conectá-la comigo. Uma vez feita a ligação, vou ativar o feitiço para que seja teletransportada para onde está e ela fique no meu lugar.
— Se a flor tem a capacidade de estabelecer a conexão entre vocês e ceder a localização, não é só nos informar para irmos atrás e dispensar o feitiço? — um dos guardas que ela não sabia nomear perguntou.
— A magia é uma troca. A natureza não pode nos ceder nada de graça. Um corpo pelo outro, me parece bem justo.
— Está maluca? — a mão de alcançou seu pulso, uma olhada rápida e os colegas e a compreensão foi mútua, de repente todos se distanciaram deles — Nosso objetivo é resgatar uma pessoa e não perder outra!
— Tem um plano melhor? Isso já funcionou uma vez. Mia estará de volta e eu vou saber me virar para achar vocês.
— Não sabe onde ela pode estar. Não sabe quais são as condições de lá…
— E é exatamente por isso que temos que trazê-la de volta o quanto antes.
— Seus pais vão me matar quando souberem o que deixei fazer. — passou a mão pelos cabelos.
— Pois é. Lide com a fúria deles quando aparecer com um braço arrancado. — sorriu zombeteira.
— …
— Vamos começar. — entrelaçou os dedos das duas mãos para fingir que estava os estralando e inclinou a cabeça de um lado para o outro, como se fizesse o mesmo com o pescoço. só soube rolar os olhos com o teatro da fada.
— Mas é muito atriz mesmo! — reclamou para o ar antes de retornarem para o círculo.
Correria. Gritaria. Perseguição.
Assim que o feitiço ativou, a troca foi instantânea. Mia surgiu no lugar de , exatamente na mesma posição que estava. Por outro lado, nem ao menos teve tempo para raciocinar. Deixou o braço voar contra o rosto de um dos guardas traidores e então se iniciou a fuga. Enquanto voava, depositando tudo de si sobre as asas, acariciava a mão que ainda formigava em consequência do atrito recente.
— É mais fácil terem quebrado a minha mão com a mandíbula do que eu ter feito estrago. — resmungou, alternando o voo em movimentos zigue-zague para distração. Além da mão, havia um outro detalhe que a preocupava. Ninguém estava seguro. Durante a troca, sentiu os pensamentos serem invadidos. Eles sabiam da localização atual da princesa e seria uma questão de tempo até chegarem nela outra vez. Precisava impedir. Todavia, precisava parar de olhar para o futuro e encarar o que estava diante de si: homens ao estilo armário prontos para revidar o murro.
Estava relativamente longe do acampamento que montaram na região onde obtiveram as últimas pistas do paradeiro de Mia. Transformada, tentava dar conta do máximo de criaturas possível, afastando-os com barreiras em alguns momentos, em outros soltando ataques certeiros. Ainda não havia conseguido conquistar o enchantix, então a limitação dos poderes tornava a luta mais lenta e cansativa. Quando finalmente conseguiu alcançar os aliados, o acampamento já estava desfeito, consumido por chamas.
— Nós cuidamos deles! — assegurou com a espada em riste — Tira ela daqui! — ordenou agressivo ao mesmo tempo em que se livrava de duas criaturas peçonhentas. não ousou contrariar. Usou parcela da força que ainda lhe restava para ajudar a Guarda a limpar o território. Esses segundos de ocupação bastaram para perderem o controle sobre Mia. Em um piscar, assistiram horrorizados a princesa se debater enquanto era arrastada pelo chão para uma direção oposta da que estavam.
Ela precisava de ajuda.
— Chatas. — uma figura se materializou por um redemoinho de ar diante delas.
— Stormy? — reconheceu uma das irmãs bruxas que viviam
— Tchau, fadinha! — a feiticeira não estava para conversas. Com um simples gesticular de dedos, jogou a adversária para longe com uma rajada de vento forte, sem se importar de estar levando também as criaturas que estavam sob seu comando.
A força descontada em também afetou Mia que tentava desesperadamente se agarrar em um cipó a beira de um precipício.
— Droga! — a bruxa exasperou. Valtor queria a outra viva.
Então, iniciou-se uma corrida.
e Stormy pela mão de Mia.
Chegando com as tropas, a última coisa que viu foi a figura de Mia sumindo pelo penhasco, arrastando consigo numa velocidade surreal. Quando tentaram se aproximar para interferir, viu uma das bruxas que tentaram dominar a Dimensão Mágica uns dois anos atrás sobrevoar até eles. Com apenas um golpe, o especialista sentiu sua consciência se esvair.
— Porque fez isso? Poderia estar morta.
O penhasco de onde escorregaram e rolaram era realmente fundo. A sorte do dia de ambas é que se chocaram contra uma pedra no meio do caminho que as levavam para um acesso.
tentou insistentemente se transformar para que pudesse retornar voando com suas asas, carregando Mia, mas estava sem energias.
— Teremos que caminhar um pouco. Vamos, princesa. — ignorou o questionamento, tomando a frente.
No caminho apertado dentro do morro, coletava pedras e as descartava à medida que encontrava outras mais consistentes e bem delineadas. Sem poderes, ela estaria ferrada para um embate. Precisava garantir a segurança de Mia.
— Sabe que se fosse a situação inversa, não teria feito o mesmo. Não sabe? — a garota dava alguns saltos entre os passos para desviar do solo irregular da caverna, sem perder o ritmo de caminhada da outra. — Não teria me arriscado para te segurar da queda.
— Bom, isso mostra que as pessoas são diferentes e pensam diferente. É minha missão.
Mia ficou pensativa. Ainda que fosse o dever de , o olhar de horror dela ao tentar segurar em sua mão para tentar içar para cima, antes de despencar, ficou gravado. Estava acostumada com atos de doação e salvamento, contudo eram sempre tão frIos e automáticos que na primeira mínima demonstração de humanidade, o coração da princesa foi tocado.
— deve estar se descabelando atrás de você neste exato momento. — iniciou uma nova conversa — Ele não confia em mim, mas enquanto estiver aqui a pedido da Coroa, vai ter que me aturar e engolir meus métodos.
— Está brincando, não está? — Mia parou de andar, fazendo imitá-la.
— Sobre o quê?
— Tudo o que falou há uns 5 segundos atrás. Se fosse pelo meu pai, nunca teria pisado em Ficeres novamente, . — comentou sem um resquício de vergonha na voz — Foi quem intercedeu e depositou uma fé cega na magia, em você e seus poderes.
— Obviamente está equivocada, Alteza.
— foi bem duro na sessão da Corte. Disse que não teríamos chances sem uma fada no grupo.
Sem querer, o coração de falhou algumas batidas com a revelação.
— Tenho certeza de que no momento que falamos sobre a missão, ele disse que foi decisão total do seu pai.
A princesa de Ficeres mordeu o lábio muito intrigada com o que acontecia diante de si.
— O que há de errado com esse garoto? — deixou escapar em voz alta.
definitivamente confiava em . Quando não se podia cruzar os limites do castelo sem ser notada, a única coisa que restava para ela fazer e não morrer de tédio era cumprir os deveres reais, incluindo participar de decisões da Corte e outras reuniões chatas. Mia recordava como se fosse ontem das passadas apressadas e pesadas do especialista dentro da sala, diante dos Conselheiros. Lembrava-se de como ele rebateu avidamente e argumentou com maestria para que deixassem a fada entrar. Fada que hoje sabia ser . A exceção da vida dele.
— Definitivamente há muita coisa errada com ele, mas temos algo estranho aqui também agora. — Os sentidos aguçados desenvolvidos em Alfea em contato com a natureza não falhavam. O perigo estava próximo. — Ande mais rápido, nossos inimigos já estão dentro dos túneis.
— Me mostre o caminho, — a voz da herdeira do trono de Ficeres tremeu.
— Se sair viva daqui, terá que revogar algumas leis para ajudar pessoas parecidas comigo. — tentou amenizar o terror que viu nos olhos da outra. Mia nada respondeu.
— Achei vocês! — aquela voz fina e inundada de raiva fez o coração de saltar. Stormy as encurralou.
— Não mais. — desferiu um ataque rápido e desatou a correr puxando a princesa pela mão.
— Truques baratos não funcionam comigo! — escutaram a bruxa gritar ao fundo.
O cérebro de quis entrar em ebulição. A bruxa não havia caído em sua magia de ilusão. Não importava quanta coragem carregava, a estudante de Alfea não achava que tinha potencial para vencê-la. Pelas histórias, todas as Trix eram oponentes formidáveis. Precisava ser realista e considerar que não sairia ilesa. Apenas precisava enviar Mia para a superfície outra vez.
Pelo menos, não estavam as três juntas nessa ocasião.
Uma virada ali, segue reto aqui, esquerda, esquerda e esquerda outra vez.
Fim de linha para elas.
Antes que tivessem a oportunidade de fazer um retorno para tentar outro caminho, o óbvio não podia mais ser adiado. Era o momento para colocar à prova tudo que aprendeu. Não seria uma das favoritas de Griselda a toa. Tinha bons reflexos para defesa e isso daria um tempo para um plano.
Enquanto se encolhia ao máximo contra a parede de fundo da caverna, dominada por temores, Mia assistia cambalear alguns metros mais à frente, agarrada às pedras soltas. Ela estava destransformada, somente com as roupas de civil dadas em Ficeres.
— Fadinhas insuportáveis. Sabe que eu me cansei da brincadeira? — a bruxa bateu o indicador contra a bochecha fingindo estar distraída com os pensamentos — Levarei a herdeira… AGORA! Morta não, mas desacordada. — sorriu perversa.
Se teve uma coisa que conversou muito com durante a missão, foi a importância de Mia e o significado dela diante Ficeres. Ela era o futuro de toda uma nação. Se esperava mudanças, teria que confiar na nova geração que iria se formar sob os comandos da princesa. Foi com essa motivação que se colocou à frente.
— De você eu já cansei. Adeus, fadinha!
fechou os olhos com força e tentou se proteger escondendo o corpo com as mãos. Então, um sentimento estranho começou a dominar, como se estivesse mais leve, tão solta que poderia flutuar e pular pelo ar. Abriu os olhos assustada.
Atrás, Mia estava igualmente de olhos esbugalhados. O feitiço da adversária de ricocheteou em nada. Depois, um círculo de ar começou a contornar a fada fazendo os cabelos chicotearem com o vento. Viu ela analisar o próprio corpo e encarar as mãos sem ação.
Era uma sensação boa pelo menos. sentia o coração disparado por uma ansiedade que não tinha origem certa, mas gostou, como se tudo estivesse se alinhando em seu interior e triunfar já não soava tão impossível.
Atenta, Mia assistiu de perto uma das cenas mais bonitas que poderia esperar presenciar um dia. havia se transformado, mas o conjunto não era nada igual ao que se via antes. O tamanho das asas novas e o brilho que emanava iluminava aquele fim de mundo todo.
Enchantix.
Bem conforme a diretora Faragonda descreveu e alertou que poderia acontecer durante a missão.
Agora, era uma fada completa.
Livre de todos os sentimentos que a fazem duvidar de si, olhando para o próprio corpo, ela sentia os novos poderes fluírem por cada célula como pequenos choques. De repente, só queria rir à toa. Pular até os pés reclamarem. O céu era o limite e o chão parecia de algodão. Quase riu com as sensações provocadas sem necessidade de um cogumelo tóxico ou uma erva venenosa.
— Vamos terminar com isso e ir para casa, seu troninho está com saudades, Mia.
Os poderes da nova transformação eram memoráveis. As asas batiam tão leves, considerando que carregava a princesa consigo. Nem mesmo um furacão parecia poder derrubá-las. De energias renovadas, largaram uma Stormy desacordada lá atrás e decidiram refazer o caminho de onde começaram após a queda. Até mesmo suas deduções estavam mais sensíveis. Nunca iria lembrar todos os atalhos que pegaram em fuga da bruxa, mas por algum motivo conseguia ver através das paredes, como se uma seta neon brilhasse só para ela indicando a saída.
Sobrevoando o acampamento, puderam ver a Guarda Real derrotada e desacordada. — Ah, não! — as expressões foram dominadas por lamentação.
deu um pouso meio desengonçado para Mia. Agora que sabia que estavam seguras, não se importou em demonstrar que a prioridade era outra. Acelerou em direção ao único corpo que parecia se fazer existente diante dos olhos cheios de brilho instantes atrás.
— . ! — escorregou de joelhos para puxar o tronco dele mais próximo de si — , acorda, por favor! — logo sentiu as bochechas ficarem úmidas de lágrimas. Voltou o corpo desacordado para o chão e encostou a cabeça no peito dele na tentativa de captar qualquer sinal.
As batidas estavam tão fracas.
Quase perdeu a razão.
As Trix não tinham escrúpulos.
Seria obrigada a usar a pólvora de fada. Quase tudo, senão tudo, podia ser consertado com aquilo. Derramou um pouco sobre e os segundos seguintes pareceram se arrastar como anos.
Ao abrir os olhos devagar, um pequeno sorriso ladino foi se desenhando na boca do especialista. Ainda desnorteado, só conseguiu pensar em como estava tendo uma das visões mais belas que poderia desejar. estava em seu campo de visão e toda a beleza da fada parecia estar sendo beijada pela luz do céu.
Mia deixou o corpo cair para trás em alívio por saber que estava bem e não demoraria para todos ficarem assim também. Contudo, a princesa se surpreendeu mesmo foi com desabando sobre , agarrando-o como um brinquedo que poderia fugir em qualquer instante.
De volta ao reino, seguras, não esperava que fosse convocada pela princesa antes de deixar o reino para voltar à Alfea.
— As leis de Ficeres não vão mudar. — brandou Mia, chocando o cetro que carregava entre os dedos contra o piso polido do castelo.
Os boatos que corriam no palácio eram esses mesmo. Embora o rei estivesse tocado, a ação de fora apenas uma em um milhão. Qualquer guarda teria feito o mesmo e eles não poderiam mudar todo o regulamento por uma exceção.
— Eu sei. já havia conversado comigo sobre isso.
— Mas irei me esforçar o dobro para que possamos construir uma nova geração mais tolerante para reabrir algumas portas. O Reino de Ficeres tem uma dívida de gratidão com você, . Não me esquecerei disso.
— Me soa bem! Espero que num futuro não muito distante, possamos nos esbarrar nas vilas com frequência. Condenar o futuro de algumas pessoas por erros do passado não me parece mais tão justo. Aguarde novidades. — finalizou com uma piscadela.
— Obrigada. — dobrou os joelhos levemente em sinal de reverência.
— Nunca estará sozinha. O garotão que aguarda do lado de fora é só mais uma prova. Esse está na sua mão há eras. Use essa informação com sabedoria… — por mais que suspeitasse que já tivesse consciência do fato.