31. Just Saying

Última atualização: 20/10/2015

Capítulo Único

Observei novamente a sala e a vi; ela estava lá sozinha. não havia dado sinal de vida e nem Katherine. Isso era bom, estava tudo sob controle. Entrei no recinto e sentei na última bancada, limpei os óculos no suéter e olhei o relógio, os mesmos sete minutos de sempre. Sr. Jones entrou na sala e se sentou em sua cadeira.
- Bom dia, alunos! – Exclamou.
O cara tinha uns trinta e poucos anos, mas lembrava muito o Joe Jonas na época de Camp Rock. O mais excepcional da aula dele era como as saias de 94% das meninas ficavam mais curtas em questão de segundos.
- , o que você está fazendo sozinho? Onde está ? – Perguntou.
- Não faço ideia, professor – Dei de ombros.
Ele olhou para mim e depois para . Era agora.
- Sente-se com a Srta. – Apontou para a bancada da garota. Assenti e levantei. Enquanto eu andava, ele avisou – Da próxima, peçam para Katherine e não faltarem à revisão.
Parei ao lado da bancada e me encarava.
- , certo? – Assenti – Prazer, – A garota sorriu e estendeu a mão. – Bom, eu sou muito falante, então se eu tiver falando demais pode me mandar calar a boca. Senta aí, cara – Bateu na banqueta ao seu lado. Sentei e sorri nervoso. Normal, não? Ela era minha paixão desde o fundamental. Suspirei e coloquei a mochila no chão.
- Tanto a prova quanto essa revisão estão muito fáceis, são perguntas que qualquer criança da quinta série acertaria. Não me decepcionem. – Ele disse entregando as folhas xerocadas.

I. Aproximadamente, qual o número total de átomos diferentes que constituem o planeta Terra?
II. Em um átomo, o que determina um elemento químico?
III. Quais são as três partículas fundamentais da matéria?
IV. Dos elementos químicos naturais, qual é o mais simples e qual é o mais complexo?
V. 99,9% da matéria do Universo é formada por dois elementos químicos. Quais são eles?
VI. Onde são formados elementos químicos mais pesados (com maior número de massa)?
VII. Dos elementos químicos naturais, apenas dois encontram-se no estado líquido. Quais são eles?
VIII. Cite três elementos químicos, mais pesados que o hidrogênio, essenciais para a vida?
IX. Cite três elementos químicos incomuns.
X. Qual é o elemento químico mais abundante na crosta terrestre?
XI. Explique as forças de manutenção existentes e atuantes no núcleo atômico, responsáveis por sua estabilidade.
XII. De modo geral, apenas a Camada de Valência exerce influência considerável sobre as propriedades dos elementos químicos. Explique este fato.
XIII. No que se baseia o efeito blindagem?
XIV. Em geral, elementos químicos de átomos muito densos possuem tendência à emissões radioativas, ao passo que elementos de átomos muito leves, não. Com base na estabilidade do núcleo atômico, como este fato poderia ser explicado?
XV. A Química baseia-se em conhecimentos provenientes da eletrosfera atômica, região periférica que comporta as partículas negativas do átomo. A Física estuda mais enfaticamente o núcleo atômico, região central que contrabalanceia a carga negativa existente na eletrosfera com carga positiva, em mesmo módulo desta, garantindo a estabilidade do átomo. E região de interação entre estas duas áreas constitui um dos maiores mistérios destas duas ciências, uma vez que é composta exclusivamente de vazio. Detalhe e comente este parágrafo.


- Me diga que você sabe responder isso – disse após ler as perguntas.
- Claro que sei, você se esqueceu de que está falando com o “passa cola” daqui? – Peguei uma caneta que estava no bolso da calça e escrevi meu nome no topo da folha.
- Para mim, você tem cara de womanizer. O que acha? – Riu puxando a caneta da minha mão e escrevendo também seu nome na folha.
- Eu acho que não é legal iludir as pessoas – Rolei os olhos, peguei novamente a caneta e comecei a responder a primeira pergunta.
- Vai responder tudo sozinho? Não se importa? – Perguntou.
- Costumo fazer isso com . Você se importa?
- A Katherine faz isso comigo – Deu de ombros.
- Que decepção, qualquer criança da quinta série pode fazer isso – Tomei uma feição séria e apontei o dedo na direção dela.
- Meu Deus, que vergonha – Ela bateu na própria testa deixando à mostra as dez coroas diferentes tatuadas nos dedos.
- Menos conversa e mais estudo aí – Jones bateu palmas fazendo com que nós prendêssemos a gargalhada que íamos soltar.
- Quantas tatuagens você tem? – Questionei.
- Tecnicamente, são quatro. As coroas, eu considero que uma complementa a outra; tenho Free Yourself nos calcanhares; If you don't live for something, you'll die for nothing mais ou menos na altura do estômago e Destroy what destroys you na nuca. Só.
- Entendi. – Assenti, respondendo a antepenúltima pergunta da revisão. – E sua mãe, o que ela acha? – Encarei-a.
- Ah, ela gosta dessas coisas, quem não gosta muito é o Cory, meu namorado. – Suspirei, logo voltando minha atenção para a folha.

- De qualquer forma, quando os dois faltarem de novo, pode se sentar comigo – disse colocando novamente a touca da Obey e desamassando a saia do uniforme.
- Amorzão, o que está fazendo com o passa cola? – Uma voz masculina disse pelas minhas costas.
- Não fale assim dele, Cory – se aproximou do namorado e deu-lhe um selinho.
Cory Sttancy/meu pior pesadelo sempre carregava Deena Lavigne e Marissol Robson a tiracolo. Duas líderes de torcidas gatas e o jogador de futebol bonitão, que clichê. Elas se dizem muito amigas de , mas eram as primeiras da lista de amantes do namorado dela.
- Vamos hoje ao cinema? – A garota sorriu.
- Não vai dar, meu amor. Deena vai me ajudar com filosofia – Ele fez bico e Deena assentiu.
- Eu queria tanto assistir Milionésima dor e é o último dia em cartaz, Cory, por favor. – Replicou.
- Hoje não, ...
- Eu ajudo vocês com filosofia.
- Não quero te ocupar, baby. – Como ela podia acreditar? Deena era burra como uma porta.
- Tudo bem, então... – Suspirou.
- Quando sair em DVD, você compra e eu assisto com você, tudo bem? – concordou – Vou indo – Ele beijou-a novamente e seguiu pelo corredor com Marissol e Deena.
virou-se novamente para mim, e seu sorriso não era mais de uma pessoa feliz, era de uma pessoa que fingia ser feliz.
- Quer que eu te acompanhe até a lanchonete? – Perguntei.
- Acho... Que não. – Ela apontou com a cabeça para o fim do corredor. De lá vinham uma Katherine brava e um risonho. – Qual foi Katherine? Dois tempos de aula? O que aconteceu?
- Esse vagabundo arrombado aqui ficou me interrompendo, e depois sabe o que ele fez? Ele me jogou dentro do carro dele e disse que iríamos dar uma volta. Ele é lunático – Katherine gesticulou.
- Pois é... – A amiga concordou, encarando fixamente o pescoço de Katherine.
- O que, ? – Perguntou.
- Eu tenho certeza que quando eu saí da sua casa hoje, mais cedo, esse vermelho não estava no seu pescoço, e isso me leva a acreditar que o não é o único culpado na história. – Arqueou as sobrancelhas.
- Tenho certeza que foi um bicho, eu vou conferir – Ela lançou um olhar maníaco na direção de e foi provavelmente ao banheiro.
-Você a fez perder duas aulas no mesmo dia para uma rapidinha no seu carro? – perguntou quando já íamos para a cantina. – Olha, você deve meter muito bem. – Ela forçou algumas palmas baixas, logo arrancando um riso meu.
- É uma especialidade do papai – bateu no próprio peito, orgulhoso. – Se quiser experimentar qualquer dia, você tem meu número – Deu uma piscadela para ela.
- Meu amigo, se você for bom assim, eu nem ligo. Vou direto para a sua casa – Respondeu fazendo-nos gargalhar.
Assim que entramos na lanchonete, e seu namorado acenaram na direção de . Katherine, de forma mágica, também estava com eles, juntamente com Michael. Eu achava legal a relação deles. era a rebelde sem causa, a estrela do time, depois de Cory, Katherine era a “nerd” e Michael... Bom, o Michael era o Michael. E o mais impressionante era que cada um do grupo dos cinco, individualmente, era famoso por algo.
- Tchau, garotos – sorriu e correu para se sentar com os amigos.
Outra coisa que me levava a pensar novamente no por que de ela e Cory namorarem. Era óbvio que o cara tinha vergonha dela. Apesar de tudo, ela era uma loser sim e os amigos dela eram loseres sim – menos ; ele não era loser, ele era do time, namorava uma loser e não tinha a mínima vergonha dela. Era muito bonito, Deus no céu e na terra.
- Você já tinha conversado com a alguma vez, ? – Perguntei .
- Muitas vezes, nas festas, que eu invado, claro – riu – ela sempre fica junto comigo, enquanto o namorado vai para a cama com alguma das amantes. Ela não vê porque não quer ou se faz de boba. – Ele apontou com a cabeça para a mesa “popular”, onde Cory quase engolia Marissol com os olhos.
- Por que você não me disse? Seria muito mais fácil de ter começado a conversar com ela – Bufei pegando uma bandeja com o lanche do dia.
- Por que você não procurou saber melhor da lista de contatos dela? – Ele fez o mesmo e rolou os olhos.
- Certo, foi erro meu – Respondi.
Segui para a – mesa que ninguém gostava – nossa mesa. Ela ficava atrás da de , coisa que claro, sempre me levou a ser o único que realmente adorava sentar ali.
Encarei o sanduíche natural na minha mão. Eu odiava creme de ricota. Que tipo de ser criou aquilo? Mas era a sorte de hoje, não é? Mordi meu lanche e bebi um gole do suco. Estava péssimo.
- Sabe , eu odeio o Cory, mas sabe aquele gostosão que sentou com você hoje na aula de química? – Olhei de canto de olho para a mesa da frente, e todos me encaravam rindo, continuei focado no sanduíche. – Além de bonito, ele é inteligente. – O maldito do era da minha turma de química. Como lidar com a vontade de jogar meu sanduíche horrível no melhor amigo da minha futura namorada? – , olha pra mim, gato. Você se esqueceu da noite de ontem? Aquilo foi tudo para mim, foi a melhor transa da minha vida. Olha para mim. , você não se lembra como eu gemi o seu nome não? Eu repito para você... – Encarei-o com os olhos arregalados, até que o interrompeu entre risos.
- , para de fazer o menino passar vergonha.
- Gente, ajuda aqui – Michael pediu, ainda com um sorriso no rosto. Ele batia nas costas de , que estava em uma mistura de risos feat. Tosse. – Katherine levantou um dos braços da amiga que não demorou a parar de tossir.
- Nossa... Eu disse para ele que ele tem cara de womanizer, né galera? – Perguntou sorrindo e os amigos concordaram.

Bocejei e apaguei a luz do abajur, peguei o celular no criado mudo e abri a galeria. Lá estava ela, na primeira pasta. Aquela era a última foto que ela havia postado nas redes sociais, estava em uma festa. O vestido cinza chumbo colado realçava suas curvas; os cabelos bagunçados deixavam o ar natural que ela sempre carregava; com maquiagem fraca dava para saber que como o original era bom, não era necessário muita coisa para ela ficar linda. E os pés... Ah, os pés dela. Já ouvi uma música que dizia que o cara conhecia o amor dele pelo cheiro, não que não fosse cheirosa, longe disso, ela era muito cheirosa. Mas eu conhecia o meu amor pelos pés. Não importa o que a garota usava, sempre havia um sapato ou meia de uma cor ou estampa da qual nenhuma outra garota usaria. Naquela ocasião, lá estava o tênis de salto alto com uma meia, quase imperceptível, quadriculada de cinza com vermelho e branco.
Outra coisa que me chamava totalmente a atenção nela era seu sorriso. Era o sorriso mais lindo que eu já havia visto, um sorriso de uma pessoa honesta. Mas aquele era também um sorriso que me machucava, toda a vez que ela lançava-o para o namorado que não dava valor algum para a pessoa incrível que ela era. Eu não conseguia pensar em como Cory tinha coragem de magoar, ofender ou não dar atenção àquela metamorfose angelical. E olhando aquela formação maravilhosa em seu rosto, eu percebia somente uma coisa. Eu queria fazê-la feliz pelo resto da minha vida, só para ver aquele sorriso toda vez que olhasse para ela.

Duas Semanas Depois...

Cheguei na escola encarando os pés de todas as garotas. No meio de todos os sapatos bonequinha e meias ¾ brancas, onde estavam os vans vermelhos com meias ¾ florescentes?
Michael, , , Katherine e estavam juntos em um canto. Como ele havia se enturmado tão rápido? Como não estava com eles, segui para dentro da escola. Será que Sr. Jones iria permitir que eu sentasse com novamente se eu fingisse que ia morrer se não fizesse isso? Joguei meu cabelo para trás. Há quanto tempo eu não o cortava?
Parei no corredor anterior ao da sala de química para jogar o papel de biscoito que estava no meu bolso no lixo. Era o corredor do armário de . O corredor estava quase vazio, mas ela estava lá, sim, ela estava. Passei a manga do suéter preto por cima dos óculos para ter certeza.
Ela chorava encostada em seu armário. Cory, provavelmente a insultava, pois gesticulava como se sua vida dependesse daquilo. Ele bateu as costas das mãos uma na outra, em um claro sinal de desdém. Virou as costas e sumiu pela volta do corredor. Os soluços de ficavam cada vez mais altos e seus joelhos começavam a se dobrar. Corri até onde ela estava e segurei-a pelo tronco. me abraçou e colocou a cabeça na curva do meu pescoço. Suas lágrimas molhavam meu pescoço que estava descoberto. Ajudei-a a se sentar no chão e continuei abraçado com ela .
- Vai ficar tudo bem, anjo – sussurrei afagando seus cabelos.
- Ele e Marissol, juntos... Desde o início – Disse entre soluços.
Vê-la daquela forma estava acabando comigo, me dilacerando por dentro... Era fora da minha realidade, uma pessoa – especialmente o amor da minha vida – extremamente simpática e sorridente jogada em meus braços daquela forma... Não havia palavra para descrever.
Na verdade havia sim...
Traumatizante.
O sinal estridente soou pelos corredores, logo eles estariam lotados. Já era impressionante o fato de ainda não ter passado ninguém ali.
- , você precisa ir ao banheiro lavar o rosto. – A garota assentiu, ajudei-a a se levantar e apoiei-a até o banheiro que havia no corredor. – Vou chamar a Katherine, fique bem. – Ela assentiu novamente e adentrou o banheiro.
Corri até chegar ao corredor central, o corredor que ligava todos os corredores. e os outros vinham em minha direção, mesmo, provavelmente, não tendo me visto lá. Corri até encontra-los e cheguei ofegante. Nota mental, participar mais da educação física.
- Katherine, você pode ir no banheiro do segundo corredor das salas do primeiro ano, tipo agora?
- Por quê? – Perguntou assustada.
- Só vai, por favor. – Ela assentiu e saiu correndo na direção que eu tinha vindo.
- Preciso conversar com vocês – Apontei para e que se entreolhara. Os dois deram de ombros.
- Agora? – A garota perguntou.
- Depois do almoço.

- Eu só acho estranho você se mudar todo por causa dela. Ela te acha incrível por quem você é, afirmou.
- Ela é só elogios pra você, cara – bateu no meu ombro.
- O caso nem é só ela, eu não me sinto mais eu. É como se eu estivesse usando as roupas de outra pessoa, vocês entendem? – Eles assentiram.
- Antes de virmos, pensamos quais seriam as primeiras coisas que faríamos, então vamos começar pelo óbvio. O uniforme. Elit same, grande parte da escola compra seu uniforme aqui, você é o próximo.
- Aqui é onde a grande parte rica da escola compra seu uniforme. To fora – Disse dando as costas para a loja.
- Por que, ? – segurou meu braço antes que eu descesse a escada.
- Eu não tenho dinheiro para comprar nem uma gravata dali. Não sei se sabem o significado disso, mas eu sou pobre.
- Vamos pagar para você. A já fez muita coisa para nós e nunca fizemos nada para ela. Queremos vê-la feliz, e não vejo forma melhor disso acontecer do que ela ficar com você – sorri. Quando ia protestar ela continuou. – Você vai nos pagar ficando com ela, simples. A única condição é que não pode passar dos R$ 3.000,00.
- Fechou? – perguntou e eu assenti. – É assim que se fala – E então ele bateu nas minhas costas e doeu... Além da educação física, talvez eu precisasse ir à academia.
Nós entramos na Elit Same, pois eles vendiam os uniformes das melhores escolas do estado, mas como bolsista, minhas variáveis eram os brechós.
- Já sei que você é viciado nos seus suéteres, como eles são lisos e tem cores boas, pode continuar com eles, mas esqueça os sapatos e calças sociais, sério, você parece meu avô. – comentou, jogando alguns pares de jeans, alguns coletes e blazeres. – Se troca, vai. – Olhei para que estava no fim da loja e ele assentiu, como se dissesse ‘Vá antes que ela mude de ideia’. Segui para o mostruário, mudei basicamente tudo. As únicas coisas que se mantiveram foram a camisa e a gravata. Saí de lá e já fui recebido com um sorriso de .
- Outra pessoa – concordou – Coloca suas coisas de novo que nós vamos levar.
pagou as roupas e depois fomos para uma loja de sapatos e, além de sapatos, ela me manipulou – sendo que o dinheiro nem era meu – à levar cintos novos e algumas pulseiras de couro e relacionados. “Vai ficar bem em você”, ela me disse.
Muitas peças de roupa, vidros de perfume, um tempo no salão e duas horas depois, saímos do shopping cheios de bolsas.
- Pare de reclamar, . Nós aceitamos que você pague o resto – bufou, enquanto colocava as sacolas no porta-malas.
Entramos no carro e seguimos para meu prédio sem falar muita coisa. Passamos em frente à mansão de Cory. Ele tirava caixas do carro da mãe dele e me lembrava a primeira vez em que conversei com . Ela me disse que Cory morava sozinho... Mentiras e mais mentiras.
estacionou na porta do “meu lar” e eu desci batendo a porta. abriu o vidro dela enquanto abria o porta-malas e eu pegava minhas coisas.
- Se precisar de qualquer coisa, pode ligar, – Ela sorriu e eu assenti em concordância.
Não demorou para o carro sumir na esquina sem fazer muito barulho. Virei as costas para a rua e entrei no prédio. O porteiro me cumprimentou, como sempre fazia, respondi com certa dificuldade e continuei meu caminho. Subi até o terceiro e último andar. Parei em frente à porta 15, minha porta, no caso. Coloquei as compras no chão e busquei a chave de casa no bolso do uniforme que eu ainda usava. Destranquei a porta e coloquei as sacolas para dentro, logo trancando-a novamente. Tirei os sapatos e deitei no sofá. Já estava escurecendo; eu havia literalmente passado o dia no shopping.
Me dirigi ao banheiro e encarei meu reflexo no pequeno espelho, a figura que eu via me representava muito mais que o meu antigo eu. O antes cabelo “tigela” virou um topete – que eu particularmente achei bem estiloso. Os óculos que havia descoberto que eram falsos, haviam ido para o lixo, deixando meu rosto mais visível, e meus olhos mais atrativos, segundo . As poucas espinhas que eu tinha foram embora com uma limpeza de pele... Esse era eu 2.0.
Sorri para mim mesmo. O novo não acabaria com minha pobreza, inteligência ou vergonha. Mas acabaria com tudo que eu não era mais. E se não me quisesse assim, bola pra frente. Poderia não existir ninguém como ela, mas se fosse o caso, existiria a perfeita para mim.

Ajeitei o blazer e abaixei minha cabeça meio desconfortável. Olhares tortos e sussurros me alcançavam de todos os lados.
- Esse não é o passa-cola? – Levantei os olhos, vendo Karen da turma de aritmética falando com sua irmã.
Segui meu caminho, levantando a cabeça somente quando virei o corredor de ; ela estava mexendo em algo no seu armário. O corredor estava novamente vazio. me disse que era por isso que gostava de lá, normalmente ficava sozinha.
Me aproximei dela e encostei nos armários ao seu lado.
- Bom dia – Sorri.
A garota deu um pequeno pulo e olhou para mim. Arregalou os olhos e me olhou dos pés a cabeça.
- ? – Perguntou.
Engoli em seco, mas mantive meu sorriso.
- Sim.
- Nossa... Eu pensei que não tinha como você ficar mais bonito, mas... Uau... Olha pra você – Sorriu.
- Estou bem mesmo? – Suspiro.
- Está ótimo. Sério. Estou boba, você está maravilhoso – Disse, segurando meu rosto – Onde estão seus óculos?
- Eram falsos, sabe como é... nerd não é nerd sem óculos.
- Eu adoro sua versão nerd. Agora você deixou de ser nerd? – fez bico, fechando o armário.
- Nunca deixarei o nerd que há em mim... – Respondi, pensando quantos “nerds” tínhamos dito em poucas frases. Escutei o sinal tocando e a morena arrumou a mochila no ombro.
- Vou indo, . Verei Patrick Jones duas vezes na semana agora – Rolou os olhos.
- Por quê? – Questionei.
- A Carmen, de biologia se aposentou. Enquanto não acham ninguém novo, vamos ficar com o Patrick – A garota bufou.
- Sorte que minha aula de biologia é com o Sr. Jackson – Ri, coçando a nuca.
- Cale a boca, falou? – socou meu ombro e colocou o boné que estava preso em sua saia. – Jones odeia atrasos, até depois. – Ela acenou, mas antes que saísse segurei seu braço, fazendo com que ela me olhasse.
- Você não aceitaria sair comigo hoje? – Perguntei, suando frio.
Minha mente estava a mil por hora, havia treinado em casa o fim de semana inteiro. Planejava um discurso com direito a serenata. Mas não colou. No final as palavras simplesmente saíram, quase que sozinhas.
- Claro, por que não? – Respondeu, soltando –se do meu aperto.
- Te busco as sete?
- Sim – assentiu. – Agora eu realmente preciso ir, licença. – Ela piscou e se dirigiu à, provavelmente, sua sala de aula.
Encostei-me no armário e entrelacei as mãos nos cabelos, foi fácil. Mas também seria uma desumanidade se tivesse sido mais complicado, eu demorei sete anos para tomar a coragem de falar com ela e quando consigo, seria difícil? Deus cumpriu sua parte do dia.

- Não importa o que aconteça, você sempre será um bocó, gargalhou, jogando a cabeça para trás.
- Cale a boca, – Bufei enquanto amarrava meus sapatênis.
- Que tipo de pessoa usa bege em seu primeiro encontro, ? Só quem quer espantar a acompanhante – Ele rolou os olhos e continuou rindo.
Joguei o paletó azul claro por cima, dobrei as mangas até os cotovelos e deixei-o aberto.
- Está tão ruim assim? – Perguntei.
- A paleta de cores não é minha preferida; preto, bege, azul claro e vermelho. Mas você está uma graça – Riu.
- Então chegou a hora – Respirei fundo.
assentiu e remexeu o bolso jogando a chave de seu carro para mim.
- Boa sorte, cara!
- Obrigado! – Agradeci, pegando o papel com o endereço de em cima da cômoda. – Vai ficar aqui? – Ele assentiu. – Quando for sair, deixe a chave atrás da planta do lado de fora da porta, escutou? – Ele sorriu amarelo e assentiu novamente. – Ok então, tchau. Boa noite!
- Boa – Escutei a resposta, enquanto já saia pela porta de “casa”.
Desci as escadas correndo e acenei para o porteiro quando passei por ele. Da porta do prédio, observei o golf preto de , 65% arranhado, e 35% descascado. Não que eu fosse um ingrato, mas era literalmente o que eu tinha para hoje.
Entrei no carro, seguindo o endereço do papel. Meu plano inicial era um piquenique no parque, mas eu não tinha nem a cesta e nem a toalha branca e vermelha quadriculada, e piquenique sem esses dois itens, não é piquenique.
Tentei ligar o rádio, mas o aparelho fez uns barulhos parecidos com uma vaca mugindo, desliguei-o e ignorei sua existência. Olhei pela janela, observando duas senhoras vendendo flores, e eu iria ceder ao clichê. Encostei no meio-fio e puxei o celular do bolso.

SMS para :
Quais são as flores preferidas dela?

SMS para :
Cravos. Vão sair?

SMS para :
Obrigado e sim.

SMS para :
De nada e boa sorte.

Chequei o dinheiro na carteira, tinha o suficiente. E se não tivesse o Jhay ia me ajudar, com certeza.
Saí do carro e andei até a barraca, ostentando um sorriso. Ninguém tinha a noção de como eu estava feliz. Eram 18:40, o sol estava se pondo. Estava fresco, a brisa bagunçando as árvores a minha volta, fazendo com que eu me sentisse em um filme.
- Boa noite, senhoras – Elas sorriram – Eu gostaria de um buque médio de cravos.
- Qual cor, rapaz?
- Eu... Eu não sei. Acho que a cor preferida da minha garota é azul.
- Naturalmente, cravos não são azuis, somente os manipulados e flores azuis simbolizam a confiança, harmonia, amizade, fidelidade, amor.
Não era exatamente isso que eu queria simbolizar.
- Pode me dizer significados de outras cores?
A que tinha o cabelo totalmente branco e ainda não havia falado comigo puxou uma folha plastificada de debaixo do balcãozinho de madeira, onde havia os significados das flores brancas, vermelhas, azuis, amarelas, roxas, verdes, laranjas, rosas... Acho que sabia quais eu levaria.
Flores vermelhas: O principal significado das flores vermelhas é o amor. Essa cor simboliza a paixão, atração, fidelidade e amor.
Flores cor de rosa: Simbolizam a delicadeza, beleza, juventude, o amor.
- Quero um buquê médio de cravos vermelhos com rosa.
A senhora que tinha me entregado a folha pegou-a novamente e começou a montar o buquê com os cravos presentes.
- As cores mudam um pouco de significado conforme as flores, mas quanto aos cravos, não muda muita coisa. – Assenti e ela continuou, enquanto cortava o plástico que embalaria as flores e o laço que as amarraria. – Os cravos vermelhos significam respeito, amor e paixão, normamente se oferece em forma de admiração e os cravos cor de rosa remetem à felicidade e gratidão, e quando são oferecidos, as pessoas costumam querer dizer que quem entrega sempre se lembra da outra pessoa.
- É mais ou menos isso – Rio, coçando a nuca.
- Sua namorada voltou de viagem ou algo do tipo? – Ela perguntou sorrindo.
Surto com a ideia.
- Não é minha namorada, ainda não, mas estou otimista.
- Que ótimo, querido! – Respondeu pegando as flores que a outra senhora lhe entregava, enquanto prestava atenção na conversa, ela as colocou no plástico e enlaçou, me entregando. – Dez dólares. – Puxei o dinheiro e entreguei para ela que me entregou o buquê. – Espero que ela seja bonita o suficiente para você – sorriu – E que ela valha a pena.
- Ela vale, tenho certeza. Obrigado! – Acenei me afastando e elas repetiram meu gesto.
Entrei no carro novamente e coloquei as flores no banco do carona. A casa de não ficava longe dali.
Estacionei o carro na frente de sua casa, pegando o buquê no banco ao meu lado. Saí do carro observando o lugar, toda a rua tinha um estilo veneziano. Aconchegante.
Toquei a campainha com os cravos na mão, e elas tremiam. Tremiam muito. Parecia que eu tinha mal de parkison. Contei até três mentalmente e fechei os olhos, não demorando a ouvir a porta sendo aberta. Abri os olhos e não enxerguei ninguém a minha frente, abaixei um pouco o buquê e vi um homem numa cadeira de rodas. Tio da ? Pai? Irmão? Não sei.
- Desculpe o incomodo, aqui é a casa da ?
- Sim, e você é? – Arqueou as sobrancelhas.
- – Sorri.
- me falou de você, entre – ele suavizou a expressão e se afastou da porta, me dando passagem. Entrei na casa observando-a – Feche a porta, por favor.
A casa mantinha a decoração rústica, em cores sérias, e cheirava à lavanda. Eu sentia que estava no lugar errado, mas um lugar errado bem confortável.
- Então... Você é irmão da ? – Ela não tinha me falado de sua família e não havia porta-retratos por perto, ou seja, o chute era minha única opção sem ser ficar quieto.
- Disse isso para me fazer gostar de você? – Ele riu, me olhando. – Sou o pai da , Aaron – Disse, estendendo-me a mão.
- Não... Não, senhor, não foi a intenção – Apertei sua mão, abraçando fortemente o buquê com meu outro braço.
Ele gargalhou, da mesma forma que fizera a quase uma hora atrás, e soltou minha mão. Senti que as mesmas estavam suando e sequei-as na calça.
- Só quero que saiba, garoto – Ele se recompôs – que me contou o que Cory fez com ela, e eu não quero que isso aconteça de novo. Minhas pernas não funcionam, mas meu revólver sim.
Assenti freneticamente.
- Saiba que minhas intenções com sua filha são as melhores.
- Pelo menos, igual ao outro não é, ele nunca trouxe flores pra ela. – Respondeu-me, se dirigindo para a cozinha.
Respirei fundo pela segunda vez no dia. O Sr. me deixou com um medo gigantesco. Agora não era a hora certa para “cagar nas calças”.
- Pai, você tem alguma bala por aí? – Uma voz feminina veio da escada, fazendo com que eu olhasse diretamente para lá. – Oh, , já chegou? Estou tão atrasada assim? – Ela riu, e reparei seu olhar fixado nos cravos.
- Na verdade, eu cheguei adiantado – Sorri me aproximando dela. – São para você. – Disse, entregando-lhe as flores.
Ela abriu a boca em “o”, me fazendo rir e rolar os olhos. Por que ela estaria surpresa? Se eu estava saindo com ela, pra quem mais eu entregaria aquilo?
- Desculpe parecer idiota, é que eu nunca recebi flores, me emocionei um pouco – Ela secou uma lágrima no canto do olho. Ela estava emocionada o suficiente para chorar. A felicidade era tanta que eu queria chorar junto com ela. – Eu só vou colocar na água e já volto.
Quando ela estava indo na mesma direção que o pai que eu reparei quão linda ela estava – mas isso não é novidade – e totalmente simples. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo, o vestido preto tinha o estilo de camisa de futebol americano, mas era acinturado e rodado, marcando suas curvas. A única coisa que completava era as... Como chamam? Tenho certeza que havia citado... Ah, Lita Boots brancas.
voltou para a sala na companhia de seu pai.
- , se for ficar fora até depois das onze, me liga – O mais velho disse e assentiu, beijando a testa do mesmo.
- Fique tranquilo, pai, qualquer problema, não hesite em me ligar. – Ele concordou e olhou para mim.
- Cuide bem da minha filha, entendido? Se machucá-la eu serei seu pior pesadelo.
- Pode deixar, senhor – sorri e observei abaixando a cabeça. – Vamos? – Chamei depois de alguns segundos de silêncio constrangedor.
pegou uma pequena bolsa que estava no sofá para então virar para mim.
- Vamos – Sorriu.
- Tchau, Sr. – Sorri amarelo.
- Bom jantar, garoto.

- Vamos comer no Beyond the sea? – Pude observar os olhos da minha acompanhante brilhando.
- Desculpe , não será dessa vez – Suspirei.
Eu havia encostado o carro a alguns metros dali, e estávamos andando de braços dados na orla da praia. Pra mim eu poderia morrer agora que já estava feliz. Passamos em frente ao Beyond the sea, o restaurante mais caro da cidade, coisa que me deixou com a cara no chão, pois ficava basicamente do lado do Dogão do Jhay, que era onde jantaríamos essa noite.
- Pra que coisas finas quando se tem o Dogão do Jhay, anjo? – Parei em frente ao trailer denominado – Eu sou cliente vip aqui, pode ter o quanto de ketchup quiser e pode pedir também porção extra de batata palha.
A primeira reação dela foi olhos arregalados e boca aberta, mas ela logo foi suavizando a expressão.
- Não é por nada não, mas parece meio sujo.
- Fica tranquila, que você vai adorar.

- Aí então ela falou, você vai virar meu escravo sexual querendo ou não gargalhou e algumas batatas caíram de sua boca.
- A Vitória só se faz de santa, ela é uma pervertida – Ri, olhando-a. Já tinha terminado meu dogão enquanto dava a última mordida no seu.
Enquanto a mesma bebia um pouco de seu refrigerante, seu celular tocou em cima da mesa e nós olhamos para ele ao mesmo tempo.

Cory

Ela desligou, mas ele ligou de novo, de novo e de novo. Ligou tanto que por final decidimos que era melhor pagar e ir embora.
- Eu me diverti demais, foi o melhor encontro da minha vida. – sorriu, limpando um pouco de ketchup que havia em sua bochecha, olhando-se no vidro do carro.
- Posso dizer o mesmo – Respondi, com o mesmo sorriso que eu mantinha a noite inteira.
Estacionei em sua casa e de relance vi seu pai a esperando na janela da sala. Ela tirou meu paletó que estava em seus ombros e colocou-o sob minhas pernas, me encarando fixamente.
- Pode parecer bem estranho, mas senti alguma coisa por você desde aquela aula de química.
- Eu te amo desde o fundamental. – Fechei os olhos.
Suspirei e senti o toque de seus lábios macios. O gosto de ketchup deixava a situação um pouco engraçada. Ela me aproximou pela nuca, enquanto eu pedi passagem com minha língua e ela cedeu. Se nossas línguas dançassem algo, seria tango, apaixonado, sensual, lento, apaixonado e bonito.
Mas como tudo que era bom dura pouco, ela logo se afastou.
Abri os olhos para ver ela da porta de casa acenando para mim e eu somente acenei de volta.

Ia fazer o mesmo ritual da foto de quando recebi uma mensagem dela com a foto que tiramos essa noite. Observei-a da mesma forma que fazia com a foto antiga da festa.
A imagem era acompanhada de uma mensagem.
Durma bem, espero que sonhe comigo. Estou pensando no nosso beijo Xx

Entrei na escola, ouvindo outro mundo de burburinhos, mas dessa vez não eram direcionados para mim. , , , Katherine e Michael se encontravam no mesmo canto de sempre. Me aproximei dos mesmos que me olharam assustados.
- O que está acontecendo? Onde está ? – Perguntei.
- Ela só deixou isso para você, cara – Michael me entregou um pedaço de papel dobrado e apontou para o outro lado da escola.
Cory andava abraçado com , que, assim como ele, ostentava um enorme sorriso. Abri minha boca, estupefato, e abri o papel em minha mão.

Tudo que vai volta. Cory vai aprender que o mundo não é dele. Me aguarde, o que temos ainda não acabou, as memórias de ontem estão na minha cabeça.
Com muito amor, .


Fim.



Nota da autora: Olá pessoas amadas que estão lendo isso. Essa é minha primeira fanfic de ficstape e eu espero que gostem. E é isso, muito obrigada por lerem!
Bejos!

Outras Fanfics:
Waiter [Especial de música braasileira/Finalizada]
Australian Love Affair [5 Seconds Of Summer/Em andamento]
Change your Way [One Direction/ Em andamento]

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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