Andando pelo corredor, avistei a luz de um dos três quartos acesa, a porta, entreaberta, e as fotos do mural jogadas no chão, aos recortes. O lençol da cama havia sido rasgado. Então, perguntei-me o que acontecera. Ao entrar no banheiro, encontrei a garota daquelas imagens, sentada com as costas na parede e o lençol enrolado no pescoço. Agachei-me perto dela e percebi que não respirava. O rosto, inchado, e os lábios, rachados e sem cor. Olhando para os seus braços vi cortes por toda pele.
Continuei minhas anotações, enquanto tiravam fotografias do seu corpo.
Continuei minhas anotações, enquanto tiravam fotografias do seu corpo.
Capítulo Um
I have been here many times before
Hurt myself again today
And the worst part is there's no one else to blame
Santana College; Denver; Segunda-feira - 9:57a.m.
O céu, cizento e sem núvens, dava um ar sombrio ao prédio do colégio, naquela manhã de ínicio da semana. Nenhum aluno estava do lado de fora, e o silêncio reverberava pelos corredores.
- Doutora Stuart, me acompanhe. - a diretora pediu, seguindo em direção à sua sala.
Atrás dela estavam os detetives e o chefe do departamento da Polícia Americana.
Ravena, um deles, sentou-se em uma poltrona, cruzou a perna e pegou o gravador.
- Está frio. Preferem que eu feche a janela? - a senhora perguntou.
- Não. Queremos apenas fazer algumas perguntas a respeito da morte da aluna .
Ela suspirou.
- O que querem saber?
- Tudo.
- estudava neste recinto desde que a família mudou para a cidade, há sete anos.
- Tinha um grupo social?
- Os professores comentavam que ela, na maioria das vezes, ficava dentro da sala de aula após os términos, resolvia as atividades rapidamente e não conversava ou interrompia-os. Era uma aluna empenhada.
- Quatro dias antes do ocorrido, recebeu uma mensagem com as siglas K.J., cujo informava sobre uma briga que a envolveria no pátio; enviaram no horário do intervalo e a rede vinha daqui.
- Nenhum aluno tem permissão para entrar na diretoria sem a minha autorização. - retrucou de forma incisiva.
- Não duvido disso, mas nem todos seguem as regras. Onde esteve na sexta-feira?
- Saí para uma reunião.
Malcom levantou da poltrona ao lado de Ravena, dando voltas pela sala.
- O pátio é aquele ali? - apontou para o espaço vago, pela janela de vidro.
A senhora Willians assentiu, sem virar a cabeça.
- Alguém avisou de que a agrediriam naquele pátio. Por quê?
- Existem pessoas boas, e eram seus amigos.
- Então K.J. é o seu amigo virtual?
- Sim.
- Por que um amigo não avisaria pessoalmente sobre o perigo que envolvia o outro?
- Medo.
Ravena franziu a testa.
- Do que teriam medo? A escola não é mais um lugar seguro?
- Mantemos os nossos alunos em ordem. Nunca recebemos críticas sobre a segurança.
- Uma aluna deste colégio morreu.
- Longe daqui.
Ravena olhou para Malcom.
- Terminamos com o interrogatório.
Santana College; Denver; 12:20p.m.
- Entre. - Ravena pediu, avistando a garota de cabelo ruivo e grandes olhos castanhos na porta da Detenção.
Ela sentou-se em frente a detetive, mantendo os ombros caídos e a cabeça baixa.
- Qual é o seu nome completo?
- Sarah Louise Zadled.
- Conheceu ?
- Estudávamos na mesma classe.
Ravena apoiou as costas na cadeira.
- Olhe para mim. O que sabe a seu respeito?
- Não éramos próximas. sentava atrás, na última carteira, e...
- E...
- Haviam garotos do time de rugby que faziam o mesmo. - suspirou.
- Imagino que ela sentia-se desconfortável.
Sarah hesitou.
- Na verdade, passou a andar com eles até o fim do semestre; bebiam à vontade no estacionamento e iam a festas.
- Há alguém com o apelido de K.J.?
A garota balançou a cabeça.
- Não, senhora.
- Kevin Jullian, talvez?
Ela negou.
- Certo. - a detetive cruzou as mãos. - Lembra-se de quando foi a primeira vez que os encontrou juntos?
- Depois das férias de verão. Soube que Thomas deu uma festa de boas-vindas aos calouros.
- Preciso de datas.
- Foi em Setembro... É tudo o que sei.
- Houve muitas brigas dentro do grupo?
- Às vezes escutava discussões no fundo da sala.
- Em que lugar esteve dois dias atrás?
- Na Biblioteca.
Departamento da Polícia Americana; Denver; 15:30p.m.
- Estas fotos foram pegas no quarto da garota. - Ravena avisou, enquanto passava uma por baixo da outra.
Malcom recolheu a segunda.
- Ela parece o tipo de adolescente alegre.
- estava mais para uma adolescente em crise.
- O que a mãe dela falou a respeito?
- Não sabe nada sobre a vida da filha, o que é negligência da sua parte.
- Há um quadro de suspeitos no mural. Começamos pela diretora, passamos pela aluna Sarah Zadled, queremos saber quem é K.J., até chegarmos ao culpado.
- Tem duas digitais no lençol.
Malcom cruzou os braços.
- Encontraram mais mensagens no celular dela. A primeira diz “Não conte a ninguém!” e “Shhh! Não chore.”
- Algum contato?
- Não. Levantamos todos os nomes com as letras K e J, na escola, e os interroguei, mas nenhum deles é.
- Era de se esperar. Alguém a avisava e dava conselhos, mas não queria ser descoberto.
- É o que mais me intriga.
Departamento da Polícia Americana; Denver; 18:43p.m.
Julliet chegou à Delegacia, sentindo a nuca doer. Sentando-se em um banco confortável, tirou da bolsa pertences pessoais da filha.
- Boa noite. - a detetive a cumprimentou, observando o que era colocado sob à sua mesa.
- Noite.
Ela pegou a carta.
- Onde isto estava guardado? A senhora já leu?
Julliet balançou a cabeça, cabisbaixa.
- Na minha gaveta. Não tive coragem.
- Sabe que pode ter o que tanto procuramos aqui dentro?
- Eu sei, mas - fungou. - Não consigo. Minha filha...
- Sinto muito. - Ravena segurou a mão dela, em um gesto de consolo, depois desdobrou o papel.
“[...] Não recebi mais mensagens. Quem quer que seja, cansou de conversar comigo”
Ela leu o restante e guardou no envelope.
- Encontrei este DVD pela manhã. - Julliet disse.
- O que tem nele?
- Veja.
Ravena pediu ao policial que trouxesse um aparelho de DVD e esperou a imagem aparecer na tela.
estava lá.
Vestia blusa larga e usava batom escuro, sentada no sofá, com as pernas cruzadas e o cabelo despenteado. Os olhos, vermelhos, e a voz, embargada.
Era a sala de sua casa.
Julliet contou que havia saído para o trabalho naquela manhã e deveria está no colégio. Durante a gravação, a garota comentou sobre as mensagens que recebia e a fazia sentir-se segura. Falou que aos 15 anos fumou ópio pela primeira vez para esquecer a dor. Começara a sofrer a Síndrome do Pânico, fugindo de lugares públicos, e automutilar-se após um confronto com algumas alunas.
“Metade da minha vida, chorei. Na outra metade tentei parar de fazer isso, mas não consigo. Me ajude! Machuquei-me outra vez hoje. Olhe as minhas pernas. - as estendeu, cheias de cicatrizes. - Cortei com o canivete. E o meu cabelo. - puxou uma mexa. - Desfiei-o todo.”
Ela arranhou o rosto e gritou.
Ravena tapou a boca.
“Por favor!”, soluçou.
Quando o silêncio pairou na sala e seu corpo estava deitado como se tivesse sem vida, escondeu o rosto, tremendo.
“Não se assuste. Às vezes é pior.”
Julliet não conseguiu assistir àquilo.
Ravena desligou o aparelho, silenciosamente.
Capítulo Dois
Be my friend
Hold me, wrap me up
Unfold me, I am small and needy
Warm me up and breathe me
Santana College; Denver; Terça-feira - 10:05a.m.
- Senhor Would, entre. - Ravena pediu ao rapaz de 1,80m, corpo atlético e cabelo loiro.
Ele sentou-se à vontade, desdenhando-a.
- Como está, detetive?
- Curiosa.
- Eu também. Por que mandou me chamar? Sou um dos suspeitos?
- Acha que é? - retrucou, desafiando-o.
Thomas deu de ombros.
- É o que parece.
- Qual era a sua relação com ?
- Nenhuma.
- Soube que namoraram durante meses...
Ele soltou um riso sarcástico.
- Jamais beijaria aquela garota fedida e estúpida.
Ravena segurou as mãos sob a mesa para não dar-lhe uns tapas.
- Então, não gostava dela?
- Acertou.
- Por quais motivos?
- Ela vivia nos lugares errados nas horas erradas.
- fazia parte do seu grupo de amigos e você não gostava dela. Não acha que é bastante interessante tamanha tolerância?
- Está me culpando por algo, detetive?
- Por enquanto, não, apenas quero esclarecer os fatos.
Ele coçou a barba rala.
- Estou perdendo o treino. O técnico não gosta quando chegamos atrasados.
- Se sair daqui será detido. - arqueou a sobrancelha.
- Falta muito?
- Já ouviu falar em K.J.?
- Não. - bocejou.
- Qual foi a última vez que viu ?
Thomas abriu a mão, prestando atenção nas linhas que a preenchia.
- Semana passada, passeando pelo corredor.
- Você ou ela?
- Fui ao banheiro e no caminho a avistei.
- O que fazia?
- Nada. Estou falando a verdade.
- Volte para a aula. O chamaremos, caso precisemos de mais informações.
Ravena esfregou os olhos, andando pelos corredores extensos e vazios até o estacionamento. Ao descer as escadas, encontrou um rapaz sentado no topo do corrimão, com o cigarro entre os dedos e a fumaça saindo de seus lábios. Os olhos dele observavam além do pátio.
A detetive parou ao seu lado e tocou-o no ombro.
- É proibido fumar.
Ele olhou para a mulher, depois para o cigarro e, por fim, jogou-o no chão.
- Qual é o seu nome? - perguntou Ravena.
- Você é da polícia?
- Sou.
- Não quero me meter em mais encrenca. - pulou nos degraus e subiu o restante.
Ela o observou ir e seguiu para a viatura.
Departamento da Polícia Americana; Denver; 13:00p.m.
- Trouxe café. - Malcom a entregou um copo de plástico revestido. - O Xerife está possesso por termos o isolado das investigações. Alega que roubamos a parte dele no trabalho.
- Obrigada. - Ravena girou na cadeira de rodinhas. - Tenho mais um suspeito. - levantou e escreveu o nome dele no mural, com uma foto. - Thomas Would.
- Ex-namorado de .
- Na verdade, segundo ele, nunca namoraram.
- Acredita nisso?
- Teve argumentos.
- Quem é o próximo?
- Trisha, atual namorada dele e quem combinou a agressão física contra .
Santana College; Denver; Quarta-feira - 09:00a.m.
- Trisha Emerson.
A líder de torcida morena e com cabelo amarrado adentrou a sala, ajeitando sua saia leve.
- Qual é o problema? - perguntou, mascando chiclete.
Ravena estendeu um guardanapo.
- Cuspa. Tenho perguntas para fazer.
Ela abaixou a cabeça e revirou os olhos.
- Sou obrigada a respondê-las?
- Se cooperar, saíra mais cedo.
- Quero a presença do meu advogado.
A detetive ajeitou o óculos.
- Está em um interrogatório.
- Não matei ninguém!
- Espero que esteja falando a verdade.
- não era a minha inimiga.
- Então por quais motivos planejou atacá-la?
As pernas da cheerleader começaram a tremer.
- Ela se meteu em meu relacionamento... - as tocou, em um gesto para fazê-las parar. - Descobri que estava dando em cima do meu namorado.
- E a ameaçou.
- Apenas avisei que havia descoberto o seu joguinho e não deixaria barato.
- O seu namorado jamais ficaria com ela.
Trisha surpreendeu-se.
- Como sabe disso?
- Ele me contou.
- Não foi o que me disseram.
Ravena passou as mãos no rosto.
- Não deveria acreditar em tudo o que dizem. Quem te avisou?
- Sarah.
- Qual das?
- Sarah Zadled.
“Droga!” a detetive pensou.
- Quando Sarah fez isso? Mantem uma relação fraterna?
- Aparentemente ela não gostava de , como ninguém parecia gostar. Não somos amigas.
- Fique aqui. - Ravena mandou, erguendo-se com os papéis e, em seguida, abriu a porta; pediu para que chamassem a tal aluna.
A ruiva chegou rapidamente e olhou para Trisha, enquanto fechavam a sala atrás dela.
- Olá, senhorita Zadled. Sente-se.
A cheeleader abaixou a cabeça, vendo-a pelo canto dos olhos, sentar ao seu lado.
- Sabe o que vocês têm em comum? Ambas não gostavam de por motivos diversos. Mas a chamei de novo - encarou a ruiva. - Por ter espalhado boatos e influenciado em um ataque contra ela.
- É mentira!
- Conte-me exatamente o que fez na sexta-feira e não poupe os detalhes.
- Já falei o que sabia. O que disse à polícia, Trisha? - perguntou à cheerleader. Malcom, que mantinha-se extremamente quieto, na parede, soltou:
- Você ajudou?
- Não, eu.. - Sarah desviou os olhos para a sua figura rígida. - Não ajudei.
- Então quem foi, uh? - posicionou-se sob à mesa.
- Minhas mãos estão limpas. - respondeu de forma agitada. - Não tenho o que temer.
- Muitos não gostavam dela. - Ravena interveio.
- Não vi no dia da sua morte. Estive na Biblioteca, na maior parte do tempo, estudando. As aulas foram suspensas duas horas mais cedo, devido à uma pane no sistema elétrico. - parou, tomando folêgo. - Fiquei na sala para terminar de escrever o que tinha na lousa. Ela seguiu o grupo de Thomas Would, sem que ele soubesse. A última vez que a encontrei foi no estacionamento, discutindo...
- Com quem?
- Trisha. - respondeu baixo.
Malcom suspirou, saindo da Detenção, e Ravena olhou para a outra aluna.
- Não querem facilitar as investigações. - comentou em tom irritadiço. - Por que discutiam?
- Eu não queria machucá-la. - Trisha percebeu que a culpa seria jogada para si. - estava lá, pedindo para aceitá-la no grupo; dizia que faria o que quiséssemos. Chuck, então, pegou os seus livros e jogou-os no chão. Aproveitei para pedir que parasse de dar em cima do meu namorado.
Sarah umedeceu os lábios.
- Ele pisou neles.
- Qual fora a reação dela?
- não reagiu. Todos ao redor riam e a insultavam. Thomas começou a falar que se ela não fosse tão esquisita, poderia pensar em beijar os seus lábios grossos e machucados. O empurrei e fui para cima dela.
- Tudo o que contou até agora está gravado.
A cheerleader assentiu.
- Pediam para que eu batesse cada vez mais forte e bloqueasse os seus tapas. Quando a soquei no rosto, ela caiu, desacordada. Lembro de ter visto alguém socorrê-la depois.
Ravena levou a mão à face, paralisada.
- Imagino que tenham ido embora?
- Thomas mandou sairmos.
- A família da vítima tem o direito ao processo e, segundo a mãe dela, abrirão. Bullying no Estado é visto como assédio moral, violação de direitos; por esses motivos, torna-se crime. Voltem para a aula.
Trisha levantou em um pulo, e Sarah fez o mesmo.
- É . - a ruiva avisou na porta. - O nome de quem socorreu .
Departamento da Polícia Americana; Denver; 20:30p.m.
- Os pontos ligam o aluno Thomas Would. - Ravena falou, traçando uma seta com o pincel até a foto do capitão do time de rugby.
Malcom mantinha os olhos fechados e a cabeça no encosto da poltrona.
- As impressões digitais estão aí.
- Por que demoraram tanto?
- Sabemos que há duas digitais na corda; uma delas é da vítima, e a outra é do sexo masculino. Mas o que não sabíamos é que esse alguém já tem passagem pela polícia e não é o capitão.
Hold me, wrap me up
Unfold me, I am small and needy
Warm me up and breathe me
Santana College; Denver; Terça-feira - 10:05a.m.
- Senhor Would, entre. - Ravena pediu ao rapaz de 1,80m, corpo atlético e cabelo loiro.
Ele sentou-se à vontade, desdenhando-a.
- Como está, detetive?
- Curiosa.
- Eu também. Por que mandou me chamar? Sou um dos suspeitos?
- Acha que é? - retrucou, desafiando-o.
Thomas deu de ombros.
- É o que parece.
- Qual era a sua relação com ?
- Nenhuma.
- Soube que namoraram durante meses...
Ele soltou um riso sarcástico.
- Jamais beijaria aquela garota fedida e estúpida.
Ravena segurou as mãos sob a mesa para não dar-lhe uns tapas.
- Então, não gostava dela?
- Acertou.
- Por quais motivos?
- Ela vivia nos lugares errados nas horas erradas.
- fazia parte do seu grupo de amigos e você não gostava dela. Não acha que é bastante interessante tamanha tolerância?
- Está me culpando por algo, detetive?
- Por enquanto, não, apenas quero esclarecer os fatos.
Ele coçou a barba rala.
- Estou perdendo o treino. O técnico não gosta quando chegamos atrasados.
- Se sair daqui será detido. - arqueou a sobrancelha.
- Falta muito?
- Já ouviu falar em K.J.?
- Não. - bocejou.
- Qual foi a última vez que viu ?
Thomas abriu a mão, prestando atenção nas linhas que a preenchia.
- Semana passada, passeando pelo corredor.
- Você ou ela?
- Fui ao banheiro e no caminho a avistei.
- O que fazia?
- Nada. Estou falando a verdade.
- Volte para a aula. O chamaremos, caso precisemos de mais informações.
Ravena esfregou os olhos, andando pelos corredores extensos e vazios até o estacionamento. Ao descer as escadas, encontrou um rapaz sentado no topo do corrimão, com o cigarro entre os dedos e a fumaça saindo de seus lábios. Os olhos dele observavam além do pátio.
A detetive parou ao seu lado e tocou-o no ombro.
- É proibido fumar.
Ele olhou para a mulher, depois para o cigarro e, por fim, jogou-o no chão.
- Qual é o seu nome? - perguntou Ravena.
- Você é da polícia?
- Sou.
- Não quero me meter em mais encrenca. - pulou nos degraus e subiu o restante.
Ela o observou ir e seguiu para a viatura.
Departamento da Polícia Americana; Denver; 13:00p.m.
- Trouxe café. - Malcom a entregou um copo de plástico revestido. - O Xerife está possesso por termos o isolado das investigações. Alega que roubamos a parte dele no trabalho.
- Obrigada. - Ravena girou na cadeira de rodinhas. - Tenho mais um suspeito. - levantou e escreveu o nome dele no mural, com uma foto. - Thomas Would.
- Ex-namorado de .
- Na verdade, segundo ele, nunca namoraram.
- Acredita nisso?
- Teve argumentos.
- Quem é o próximo?
- Trisha, atual namorada dele e quem combinou a agressão física contra .
Santana College; Denver; Quarta-feira - 09:00a.m.
- Trisha Emerson.
A líder de torcida morena e com cabelo amarrado adentrou a sala, ajeitando sua saia leve.
- Qual é o problema? - perguntou, mascando chiclete.
Ravena estendeu um guardanapo.
- Cuspa. Tenho perguntas para fazer.
Ela abaixou a cabeça e revirou os olhos.
- Sou obrigada a respondê-las?
- Se cooperar, saíra mais cedo.
- Quero a presença do meu advogado.
A detetive ajeitou o óculos.
- Está em um interrogatório.
- Não matei ninguém!
- Espero que esteja falando a verdade.
- não era a minha inimiga.
- Então por quais motivos planejou atacá-la?
As pernas da cheerleader começaram a tremer.
- Ela se meteu em meu relacionamento... - as tocou, em um gesto para fazê-las parar. - Descobri que estava dando em cima do meu namorado.
- E a ameaçou.
- Apenas avisei que havia descoberto o seu joguinho e não deixaria barato.
- O seu namorado jamais ficaria com ela.
Trisha surpreendeu-se.
- Como sabe disso?
- Ele me contou.
- Não foi o que me disseram.
Ravena passou as mãos no rosto.
- Não deveria acreditar em tudo o que dizem. Quem te avisou?
- Sarah.
- Qual das?
- Sarah Zadled.
“Droga!” a detetive pensou.
- Quando Sarah fez isso? Mantem uma relação fraterna?
- Aparentemente ela não gostava de , como ninguém parecia gostar. Não somos amigas.
- Fique aqui. - Ravena mandou, erguendo-se com os papéis e, em seguida, abriu a porta; pediu para que chamassem a tal aluna.
A ruiva chegou rapidamente e olhou para Trisha, enquanto fechavam a sala atrás dela.
- Olá, senhorita Zadled. Sente-se.
A cheeleader abaixou a cabeça, vendo-a pelo canto dos olhos, sentar ao seu lado.
- Sabe o que vocês têm em comum? Ambas não gostavam de por motivos diversos. Mas a chamei de novo - encarou a ruiva. - Por ter espalhado boatos e influenciado em um ataque contra ela.
- É mentira!
- Conte-me exatamente o que fez na sexta-feira e não poupe os detalhes.
- Já falei o que sabia. O que disse à polícia, Trisha? - perguntou à cheerleader. Malcom, que mantinha-se extremamente quieto, na parede, soltou:
- Você ajudou?
- Não, eu.. - Sarah desviou os olhos para a sua figura rígida. - Não ajudei.
- Então quem foi, uh? - posicionou-se sob à mesa.
- Minhas mãos estão limpas. - respondeu de forma agitada. - Não tenho o que temer.
- Muitos não gostavam dela. - Ravena interveio.
- Não vi no dia da sua morte. Estive na Biblioteca, na maior parte do tempo, estudando. As aulas foram suspensas duas horas mais cedo, devido à uma pane no sistema elétrico. - parou, tomando folêgo. - Fiquei na sala para terminar de escrever o que tinha na lousa. Ela seguiu o grupo de Thomas Would, sem que ele soubesse. A última vez que a encontrei foi no estacionamento, discutindo...
- Com quem?
- Trisha. - respondeu baixo.
Malcom suspirou, saindo da Detenção, e Ravena olhou para a outra aluna.
- Não querem facilitar as investigações. - comentou em tom irritadiço. - Por que discutiam?
- Eu não queria machucá-la. - Trisha percebeu que a culpa seria jogada para si. - estava lá, pedindo para aceitá-la no grupo; dizia que faria o que quiséssemos. Chuck, então, pegou os seus livros e jogou-os no chão. Aproveitei para pedir que parasse de dar em cima do meu namorado.
Sarah umedeceu os lábios.
- Ele pisou neles.
- Qual fora a reação dela?
- não reagiu. Todos ao redor riam e a insultavam. Thomas começou a falar que se ela não fosse tão esquisita, poderia pensar em beijar os seus lábios grossos e machucados. O empurrei e fui para cima dela.
- Tudo o que contou até agora está gravado.
A cheerleader assentiu.
- Pediam para que eu batesse cada vez mais forte e bloqueasse os seus tapas. Quando a soquei no rosto, ela caiu, desacordada. Lembro de ter visto alguém socorrê-la depois.
Ravena levou a mão à face, paralisada.
- Imagino que tenham ido embora?
- Thomas mandou sairmos.
- A família da vítima tem o direito ao processo e, segundo a mãe dela, abrirão. Bullying no Estado é visto como assédio moral, violação de direitos; por esses motivos, torna-se crime. Voltem para a aula.
Trisha levantou em um pulo, e Sarah fez o mesmo.
- É . - a ruiva avisou na porta. - O nome de quem socorreu .
Departamento da Polícia Americana; Denver; 20:30p.m.
- Os pontos ligam o aluno Thomas Would. - Ravena falou, traçando uma seta com o pincel até a foto do capitão do time de rugby.
Malcom mantinha os olhos fechados e a cabeça no encosto da poltrona.
- As impressões digitais estão aí.
- Por que demoraram tanto?
- Sabemos que há duas digitais na corda; uma delas é da vítima, e a outra é do sexo masculino. Mas o que não sabíamos é que esse alguém já tem passagem pela polícia e não é o capitão.
Capítulo Três
Ouch, I have lost myself again
Lost myself and I am nowhere to be found
Yeah, I think that I might break
Lost myself again and I feel unsafe
Departamento da Polícia Americana; Denver; Quinta-feira - 8:00a.m.
- Senhora . - Ravena a cumprimentou, apontando para a cadeira.
A mulher acomodou-se, segurando firmemente um objeto.
- Encontrei ontem à noite isto. É outro DVD que fora escondido no baú da minha filha. Está escrito Breathe Me no espaço em branco e ela pediu para que fosse entregue a quem a enviava mensagens de conforto.
- O mesmo garoto que a socorreu.
Santana College; Denver; 8:30a.m.
A viatura do FBI parou no prédio do colégio que estudara. Malcom e Ravena desceram do carro e subiram as escadas em direção à sala da diretora Morganna Willians. As impressões digitais estavam em uma pasta abaixo do ombro do detetive, e as algemas na cintura de Ravena. “Achamos o culpado da morte da aluna ”, e a senhora o fez contar imediatamente quem era.
Enquanto seguiam pelos corredores, os olhos da detetive observavam os bancos e o chão de ladrilhos, imaginando sentada ali sozinha e deprimida. Ao chegarem à sala do estudante, a senhora Willians pediu a ele para acompanhá-la.
O garoto tinha a aparência serena, olhos bonitos e o cabelo cheio. Era alto, mas não tanto. Vendo a polícia ali, seus braços se retesaram.
A diretora o puxou.
Entrando na Detenção, sala que servia como interrogatório, o fez sentar-se na cadeira e saiu após pedido de Malcom.
- , te achamos.
O garoto engoliu a saliva.
- Está com medo?
- Não tenho mais medo de nada.
- Deveria, não sei lidar com assassinos.
- Está me acusando?
- Tenho as suas digitais e vieram do lençol encontrado no pescoço de , na última sexta-feira. Esse nome é desconhecido para você? Aliás, assaltar lojas de conveniência deve ser excitante, não é mesmo?
Ele apertou os punhos.
- morreu.
- Você a matou!
- Não. - negou, balançando a cabeça várias vezes.
- Acabou, garoto.
- Não a matei! - vociferou e o seu rosto atingiu um tom vermelho. - E o roubo foi um mal entendido!
Ravena ergueu a mão.
- O peguei fumando na escada. Ofereceu droga a ela também?
- nunca quis nada que viesse de mim!
- Esse foi o motivo que o levou a invadir à sua casa e enforcá-la? - Malcom perguntou.
puxou o cabelo com força.
- Não sabem o que estão falando!
- Como entrou na casa e a matou?
- Não a matei, droga! - gritou, chutando a mesa.
O detetive o segurou, percebendo o quanto tremia.
- morria todos os dias! Tentei salvá-la como pude, mas não foi o suficiente!
Ravena o observava, pensativa, enquanto o rodeava.
- É . - a ruiva avisou na porta. - O nome de quem socorreu .
- Mas...
Malcom a olhou.
- Onde esteve e o que realmente aconteceu na tarde de sexta-feira?
O garoto afastou-se do detetive.
- Tudo ocorreu após a briga no estacionamento. Eu estava embaixo de uma árvore...
Usava fones de ouvido, enquanto a música saia em um volume alto. Mexia em meu celular e segurava a mochila. Distante dali, os caras do time pararam perto do carro. Quando me dei conta, vi pessoas aproximando-se de lá.
Respirou fundo.
não reagiu em nenhum momento. Would a insultou com palavras horríveis e a sua namorada a agrediu. O meu pai buzinou várias vezes, mas não me importei e a socorri.
- A boca dela estava cortada. A segurei nos braços e disse para contatarmos a senhora Willians, mas ela preferiu manter o silêncio, então a levei embora. No caminho, pediu para que a deixássemos em um ponto de ônibus.
Na manhã seguinte, a esperei no portão. não apareceu. A procurei no intervalo e em todas as salas. Passaram-se quatro dias pelas minhas contas, até vê-la de novo. Ela não saia mais atrás do time de rugby. Também não mencionou o ocorrido com nenhum funcionário.
Voltei a enviar mensagens, mesmo não podendo ter respostas.
- O que continha nelas? - Malcom perguntou.
- Serviam como uma válvula de escape.
- K.J. - Ravena surpreendeu-se. - Por que o uso dessas siglas?
- Era o seu autor favorito. Se ela as visse, acreditaria no que escrevi. A encontrava assustada pelos corredores. Ninguém a tocava. Se eu pudesse tocar um anjo, o abraçaria para sempre. Acho que era o que queria: alguém que colasse as suas asas e a tirasse do Inferno.
- Prossiga. - Malcom pigarreou.
Topei com naquela sexta-feira no refeitório; estava sentada nas últimas mesas, sem companhia. Não era costume vê-la àquela hora. Mantinha a cabeça baixa e parecia tranquila.
Sentei em um dos bancos, sentindo-a enrijecer o corpo.
- Você tá bem?
Ela não respondeu de imediato.
- Já tive dias piores.
...
- Como se chama?
- Quem?
- A sua dor.
olhou para mim e suspirou.
- Estou anestesiada. Tomo antidepressivos quando acordo e antes de dormir.
- E é o bastante?
- Não. - segurou as laterais da bandeja, levantando. - Tchau.
O intervalo acabou, e segui para a minha sala. Houve um curto-circuito no sistema elétrico, por isso fomos liberados mais cedo. Desci as escadas do segundo andar e fui ao estacionamento.
O fluxo de alunos era grande.
Meus olhos procuraram os dela e acabaram encontrando-os aflitos, enquanto caminhava apressadamente.
Resolvi segui-la até à sua casa naquele dia.
(Coloque para tocar)
- A seguiu. - Malcom desdenhou. - Chegando lá, a enforcou quando ela tirava a maquiagem do rosto.
levantou, apoiando as mãos na mesa.
- Cale a boca!
A vi entrando na casa e esperei. Não havia mais ninguém ali dentro. Subi as escadas e a primeira porta estava travada; presumi que fosse o seu quarto. Escutei o barulho de algo quebrando, então forcei a maçaneta algumas vezes, até conseguir entrar. Notei as fotografias rasgadas perto da cama. Peguei uma delas e vi o corte no lugar em que a namorada de Thomas Would aparecia. A metade foi colada com outra foto e... Era .
- Ela amava Thomas. - Ravena concluiu, em choque.
Largue-as e corri para o banheiro. Quis furar os meus olhos quando achei o seu corpo curvado sob a pia, vomitando. O lençol já havia sido enrolado em seu pescoço e as tiras na torneira. Ela puxava com força, perdendo os sentidos.
A abracei por trás e a deixei no chão.
- Escute, .
- Quem é você?
Ela não enxergava-me com nitidez, via apenas o esboço, e tossia, revirando-se.
- Só escute. - segurei o seu rosto. - Não fale nada, precisa respirar. A ambulância está vindo.
- Lembro da sua voz...
- Shhh!
Vi a lágrima escorrer pelo canto do seu olho.
- Não quero que vá embora. - senti a garganta secar, vendo-a fechá-lo. - Maldita hora que não tenho como apagar o seu presente. Mas ofereço companhia para o futuro, . Nele não haverá pessoas más.
Ela não escutava-me e nem enxergava mais.
- suicidou-se. - Ravena respirou devagar e sentou. - Não está omitindo nenhum detalhe?
negou, em silêncio.
- Teremos que levá-lo à Delegacia.
- Posso ir ao banheiro antes?
A detetive assentiu, avisando que iria acompanhado.
Ele levantou, apertou a mão dela e seguiu até a porta, sem olhar para Malcom.
- !
- O quê? - virou a cabeça.
- Tenho algo que pertence a você. - Ravena pediu ao colega que buscasse. Quando o viu sair, olhou de volta para o garoto. - Acredito na sua versão. - e sorriu de maneira cordial. - O que diria se a visse mais uma vez?
- Nada.
- Tem certeza?
- Tudo o que falei não mudou o final da história, mas eu, ao menos, tentei.
Malcom voltou e entregou a correspondência à Ravena.
- deixou isto para quem a enviava mensagens.
Ele recolheu.
- Vai vê-la de novo.
assistiu a metade do DVD ao voltar para casa, sentado no sofá. Em várias partes teve que pausar para se recompor; em uma dessas, lembrou do detalhe que não contou à polícia.
Ela não escutava-me e nem enxergava mais. Mesmo assim, aproximei os meus lábios da sua orelha. Os olhos cheios d’água.
- Você era infinitamente melhor do que aquelas pessoas pensam em ser. - sussurrei. - Agradeço por te mostrado que o mundo não está perdido, só faltam garotas como você. - e acariciei as marcas roxas no seu pescoço. - Desculpe por ter escolhido te amar através de mensagens. Quando a gente ama, quer o bem do outro. Manter-te segura do que aconteceria foi o meu exemplo. - beijei a cicatriz na sua boca.
Na madrugada, quando dormia no mesmo lugar, sentiu jogarem algo quente e confortável sob seu corpo, sem acordá-lo.
Estava sonhando.
Com .
“Obrigada”, ela dizia.
Lost myself and I am nowhere to be found
Yeah, I think that I might break
Lost myself again and I feel unsafe
Departamento da Polícia Americana; Denver; Quinta-feira - 8:00a.m.
- Senhora . - Ravena a cumprimentou, apontando para a cadeira.
A mulher acomodou-se, segurando firmemente um objeto.
- Encontrei ontem à noite isto. É outro DVD que fora escondido no baú da minha filha. Está escrito Breathe Me no espaço em branco e ela pediu para que fosse entregue a quem a enviava mensagens de conforto.
- O mesmo garoto que a socorreu.
Santana College; Denver; 8:30a.m.
A viatura do FBI parou no prédio do colégio que estudara. Malcom e Ravena desceram do carro e subiram as escadas em direção à sala da diretora Morganna Willians. As impressões digitais estavam em uma pasta abaixo do ombro do detetive, e as algemas na cintura de Ravena. “Achamos o culpado da morte da aluna ”, e a senhora o fez contar imediatamente quem era.
Enquanto seguiam pelos corredores, os olhos da detetive observavam os bancos e o chão de ladrilhos, imaginando sentada ali sozinha e deprimida. Ao chegarem à sala do estudante, a senhora Willians pediu a ele para acompanhá-la.
O garoto tinha a aparência serena, olhos bonitos e o cabelo cheio. Era alto, mas não tanto. Vendo a polícia ali, seus braços se retesaram.
A diretora o puxou.
Entrando na Detenção, sala que servia como interrogatório, o fez sentar-se na cadeira e saiu após pedido de Malcom.
- , te achamos.
O garoto engoliu a saliva.
- Está com medo?
- Não tenho mais medo de nada.
- Deveria, não sei lidar com assassinos.
- Está me acusando?
- Tenho as suas digitais e vieram do lençol encontrado no pescoço de , na última sexta-feira. Esse nome é desconhecido para você? Aliás, assaltar lojas de conveniência deve ser excitante, não é mesmo?
Ele apertou os punhos.
- morreu.
- Você a matou!
- Não. - negou, balançando a cabeça várias vezes.
- Acabou, garoto.
- Não a matei! - vociferou e o seu rosto atingiu um tom vermelho. - E o roubo foi um mal entendido!
Ravena ergueu a mão.
- O peguei fumando na escada. Ofereceu droga a ela também?
- nunca quis nada que viesse de mim!
- Esse foi o motivo que o levou a invadir à sua casa e enforcá-la? - Malcom perguntou.
puxou o cabelo com força.
- Não sabem o que estão falando!
- Como entrou na casa e a matou?
- Não a matei, droga! - gritou, chutando a mesa.
O detetive o segurou, percebendo o quanto tremia.
- morria todos os dias! Tentei salvá-la como pude, mas não foi o suficiente!
Ravena o observava, pensativa, enquanto o rodeava.
- É . - a ruiva avisou na porta. - O nome de quem socorreu .
- Mas...
Malcom a olhou.
- Onde esteve e o que realmente aconteceu na tarde de sexta-feira?
O garoto afastou-se do detetive.
- Tudo ocorreu após a briga no estacionamento. Eu estava embaixo de uma árvore...
Usava fones de ouvido, enquanto a música saia em um volume alto. Mexia em meu celular e segurava a mochila. Distante dali, os caras do time pararam perto do carro. Quando me dei conta, vi pessoas aproximando-se de lá.
Respirou fundo.
não reagiu em nenhum momento. Would a insultou com palavras horríveis e a sua namorada a agrediu. O meu pai buzinou várias vezes, mas não me importei e a socorri.
- A boca dela estava cortada. A segurei nos braços e disse para contatarmos a senhora Willians, mas ela preferiu manter o silêncio, então a levei embora. No caminho, pediu para que a deixássemos em um ponto de ônibus.
Na manhã seguinte, a esperei no portão. não apareceu. A procurei no intervalo e em todas as salas. Passaram-se quatro dias pelas minhas contas, até vê-la de novo. Ela não saia mais atrás do time de rugby. Também não mencionou o ocorrido com nenhum funcionário.
Voltei a enviar mensagens, mesmo não podendo ter respostas.
- O que continha nelas? - Malcom perguntou.
- Serviam como uma válvula de escape.
- K.J. - Ravena surpreendeu-se. - Por que o uso dessas siglas?
- Era o seu autor favorito. Se ela as visse, acreditaria no que escrevi. A encontrava assustada pelos corredores. Ninguém a tocava. Se eu pudesse tocar um anjo, o abraçaria para sempre. Acho que era o que queria: alguém que colasse as suas asas e a tirasse do Inferno.
- Prossiga. - Malcom pigarreou.
Topei com naquela sexta-feira no refeitório; estava sentada nas últimas mesas, sem companhia. Não era costume vê-la àquela hora. Mantinha a cabeça baixa e parecia tranquila.
Sentei em um dos bancos, sentindo-a enrijecer o corpo.
- Você tá bem?
Ela não respondeu de imediato.
- Já tive dias piores.
...
- Como se chama?
- Quem?
- A sua dor.
olhou para mim e suspirou.
- Estou anestesiada. Tomo antidepressivos quando acordo e antes de dormir.
- E é o bastante?
- Não. - segurou as laterais da bandeja, levantando. - Tchau.
O intervalo acabou, e segui para a minha sala. Houve um curto-circuito no sistema elétrico, por isso fomos liberados mais cedo. Desci as escadas do segundo andar e fui ao estacionamento.
O fluxo de alunos era grande.
Meus olhos procuraram os dela e acabaram encontrando-os aflitos, enquanto caminhava apressadamente.
Resolvi segui-la até à sua casa naquele dia.
(Coloque para tocar)
- A seguiu. - Malcom desdenhou. - Chegando lá, a enforcou quando ela tirava a maquiagem do rosto.
levantou, apoiando as mãos na mesa.
- Cale a boca!
A vi entrando na casa e esperei. Não havia mais ninguém ali dentro. Subi as escadas e a primeira porta estava travada; presumi que fosse o seu quarto. Escutei o barulho de algo quebrando, então forcei a maçaneta algumas vezes, até conseguir entrar. Notei as fotografias rasgadas perto da cama. Peguei uma delas e vi o corte no lugar em que a namorada de Thomas Would aparecia. A metade foi colada com outra foto e... Era .
- Ela amava Thomas. - Ravena concluiu, em choque.
Largue-as e corri para o banheiro. Quis furar os meus olhos quando achei o seu corpo curvado sob a pia, vomitando. O lençol já havia sido enrolado em seu pescoço e as tiras na torneira. Ela puxava com força, perdendo os sentidos.
A abracei por trás e a deixei no chão.
- Escute, .
- Quem é você?
Ela não enxergava-me com nitidez, via apenas o esboço, e tossia, revirando-se.
- Só escute. - segurei o seu rosto. - Não fale nada, precisa respirar. A ambulância está vindo.
- Lembro da sua voz...
- Shhh!
Vi a lágrima escorrer pelo canto do seu olho.
- Não quero que vá embora. - senti a garganta secar, vendo-a fechá-lo. - Maldita hora que não tenho como apagar o seu presente. Mas ofereço companhia para o futuro, . Nele não haverá pessoas más.
Ela não escutava-me e nem enxergava mais.
- suicidou-se. - Ravena respirou devagar e sentou. - Não está omitindo nenhum detalhe?
negou, em silêncio.
- Teremos que levá-lo à Delegacia.
- Posso ir ao banheiro antes?
A detetive assentiu, avisando que iria acompanhado.
Ele levantou, apertou a mão dela e seguiu até a porta, sem olhar para Malcom.
- !
- O quê? - virou a cabeça.
- Tenho algo que pertence a você. - Ravena pediu ao colega que buscasse. Quando o viu sair, olhou de volta para o garoto. - Acredito na sua versão. - e sorriu de maneira cordial. - O que diria se a visse mais uma vez?
- Nada.
- Tem certeza?
- Tudo o que falei não mudou o final da história, mas eu, ao menos, tentei.
Malcom voltou e entregou a correspondência à Ravena.
- deixou isto para quem a enviava mensagens.
Ele recolheu.
- Vai vê-la de novo.
assistiu a metade do DVD ao voltar para casa, sentado no sofá. Em várias partes teve que pausar para se recompor; em uma dessas, lembrou do detalhe que não contou à polícia.
Ela não escutava-me e nem enxergava mais. Mesmo assim, aproximei os meus lábios da sua orelha. Os olhos cheios d’água.
- Você era infinitamente melhor do que aquelas pessoas pensam em ser. - sussurrei. - Agradeço por te mostrado que o mundo não está perdido, só faltam garotas como você. - e acariciei as marcas roxas no seu pescoço. - Desculpe por ter escolhido te amar através de mensagens. Quando a gente ama, quer o bem do outro. Manter-te segura do que aconteceria foi o meu exemplo. - beijei a cicatriz na sua boca.
Na madrugada, quando dormia no mesmo lugar, sentiu jogarem algo quente e confortável sob seu corpo, sem acordá-lo.
Estava sonhando.
Com .
“Obrigada”, ela dizia.
FIM!
Nota das autoras: A That salvou esta história, porque não sairia dos meus rascunhos caso não tivesse o ficstape.
Beijos,
Ray.
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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