CAPÍTULO 01 – Meet you
22 de julho de 2009
Início das férias de verão.
Bem, eu poderia estar em Newquay curtindo a praia junto com meus amigos, mas desde que meus pais se separaram no ano passado, as coisas ficaram meio “apertadas” aqui em casa, financeiramente falando. Então, para ajudar minha mãe com os gastos, resolvi me candidatar em um emprego de meio período em uma cafeteria que ficava entre o caminho da minha casa para escola. E, falando em escola, era meu último ano escolar, e já estava pensando na pressão que seria escolher uma Universidade – ou ser escolhida por alguma delas –, mesmo estando um pouco indecisa quanto a qual profissão seguir. Esperava que minhas ótimas notas e meu currículo exemplar me ajudassem a conseguir uma vaga em uma boa faculdade. Mas isso não era a minha prioridade no momento.
Como havia dito anteriormente, era início das férias de verão e meu primeiro dia de trabalho no Café Poético. Fui contratada como garçonete por meio período, por enquanto no turno da noite – enquanto as aulas não retornavam. O Café Poético era gerenciado pelo Adam, junto de sua esposa Diana, que recém chegaram a Manchester e eram casados há cinco anos. Eu simplesmente achava linda a forma como os dois se tratavam e eram companheiros. Meus pais costumavam ser assim no passado. Com o tempo, as brigas foram aumentando, e eles decidiram se separar. Graças a Deus que tudo ocorreu amigavelmente, e hoje eu morava com a minha mãe aqui em Manchester, enquanto meu pai mudou-se para Madrid, pois recebera uma proposta de emprego bem melhor por lá.
Ao que parece, meu primeiro dia de trabalho ocorreu no dia mais agitado no Café. Muitos pedidos rolando, e eu no meio da correria para atender todos os clientes e tentando me adaptar a rotina de atendimento. Com pouco mais da metade do meu expediente, muitas mesas atendidas e o cansaço já se abatendo sobre o meu corpo, decidi tirar meus vinte minutos de descanso e aproveitar para comer alguma coisa.
— Então, , o que está achando do seu primeiro dia de trabalho? — Adam perguntou quando me viu fazendo caretas de alívio ao finalmente poder sentar, e com certa liberdade para fazer uma boquinha.
— Bem corrido, na verdade. Não achei que o atendimento estaria tão agitado hoje.
— Não se preocupe, nem todos os dias serão assim. Há dias que quase não aparecem clientes, torna tudo muito monótono e a hora, que não passa nunca — ele disse, rindo — Com o tempo, você se acostuma com essa rotina.
— É, eu imagino. É preferível essa correria mesmo, conhecer pessoas novas. Só espero que não apareçam aqueles clientes rabugentos para me destratar.
— Não se preocupe, . Nos poucos mais de oito meses que estamos trabalhando por aqui, não tivemos o desprazer de ter esse tipo de clientela. Mas é bom saber que você, de certa forma, está preparada.
— Assim espero, Adam. Bom, ‘tá no finzinho do meu descanso. Vou me preparar para voltar à correria.
Terminei de comer o meu lanche e passei a ajudar a Diana no balcão com alguns pedidos. Ela me ensinou como preparar um cappuccino, no caso dela futuramente precisar da minha ajuda com isso. Faltando pouco menos de uma hora para o fim do meu expediente, apenas duas mesas estavam ocupadas: em uma delas uma moça, por volta dos 25 anos, bebia seu café enquanto apreciava um livro. Pelas feições que ela fazia a cada mudança de página, imaginava que a história realmente tenha lhe impressionado. Em outra mesa, um grupo de amigos ria enquanto um deles gesticulava exageradamente e parecia contar alguma piada ou história engraçada. Automaticamente lembrei de Olivia e Harry. Deviam estar curtindo muito as praias sem mim. É, as férias passariam lentamente.
***
Quase um mês se passou desde o meu primeiro dia no Café Poético. Já melhor adaptada à minha função que ora era garçonete, ora bartender, dependendo da necessidade dos meus patrões. Às vezes eu ganhava boas gorjetas, em outras, algumas cantadas bem desnecessárias. Nos últimos dias, houve um aumento na clientela, bem comemorado por Adam e Diana, porém perceberam que havia a necessidade da aquisição de outro empregado, já que, em breve, eu terei que mudar meu turno para mais cedo por conta da escola.
Colocaram o anúncio de emprego, e logo apareceram algumas pessoas interessadas. Algumas bem esquisitas, se é que assim podia dizer. Entre os que me chamaram atenção, podia destacar a moça loira com um piercing na sobrancelha e o ar de deboche em suas palavras, o cara moreno com olhar de psicopata e que conferia se ninguém o encarava a cada cinco minutos. E ele. Com um sorriso cativante, um pouco tímido, por volta dos vinte e dois anos, disse que precisava do emprego para ajudar a pagar a faculdade de música. Não sei o que levou Adam a contratar naquela tarde – talvez o reconhecimento, já que, quando mais novo, ele tentara a carreira musical, mas teve que abandonar seu sonho por problemas de saúde. Porém, eu o agradeceria pelo resto da vida.
Duas semanas se passaram desde a contratação de , e realmente foi uma mão na roda. O trabalho foi melhor dividido, já não ficava desesperada com tantas mesas para atender ao mesmo tempo, e ele era uma boa companhia em dias monótonos. Nesse meio tempo, entre um intervalo e outro, e nas vezes que ele foi me deixar em casa quando era muito tarde pra voltar sozinha, pude conhecer um pouco sobre ele. Morava sozinho em Manchester há dois anos, tinha vindo em busca do sonho de trabalhar com música. Tinha uma irmã mais nova, chamada Kate, e seu pai abandonou a família quando ele tinha apenas quinze anos – aparentemente, isso o afetava muito, pois o mesmo não quis entrar muito em detalhes – e, quando adolescente, tinha problemas para socializar com os colegas, porque gostava de coisas exóticas. faz bem o tipo rockstar, estilo despojado, algumas tatuagens pelo corpo e aquele bendito sorriso que fazia suas pernas fraquejarem. Parecia que meu mais novo amigo e colega de trabalho estava mexendo um pouco demais comigo.
— , já fechei o caixa. Limpei o balcão como você me pediu.
— Obrigada, , só estou terminando de limpar as mesas e já poderemos sair. Hoje foi bem puxado, não vejo a hora de chegar em casa, tomar um banho bem gostoso e ir dormir — falei, quase sussurrando, demonstrando todo meu cansaço do dia.
— Verdade, . Hoje foi um dia bem corrido, estou exausto.
— Bom, eu terminei. Se quiser, eu posso fechar, e você já pode ir pra casa. Veio direto da faculdade para cá, deve estar morto de cansado.
— Não, senhorita. Como bom menino que dona Sam criou, eu lhe deixarei em casa primeiro. Isso não são horas de moças inocentes voltarem para casa sozinhas.
— E quem lhe disse que eu sou inocente?
— Bem, nesse caso, irei com você para garantir que as outras pessoas estejam seguras nas ruas — ele falou ,sorrindo. Maldito sorriso que me deixava sem chão.
Caminhamos até a minha casa, que ficava a poucos quarteirões de distância, conversando e contando histórias da nossa infância.
— Quando eu era criança, não tinha muitas meninas na vizinhança, então eu costumava brincar com os meninos na rua. Nunca gostei de brincar de bonecas. Eu gostava de subir nas árvores e “roubar” as frutas e comê-las verdes. Certa vez, fui subir numa goiabeira, escorreguei e caí de cara no chão. Passei uns bons dias com a bochecha dolorida e metade do rosto machucado. Parecia que eu tinha levado uma surra bem feia — eu disse, rindo, lembrando como meus colegas ficavam rindo de mim.
— Nossa, , você era mesmo muito pentelha quando era criança. O máximo que eu fazia quando criança era jogar pedra na casa dos vizinhos que enchiam o meu saco, ou bagunçar na escola, como todo bom menino — ele falou, fazendo uma careta engraçada, como se quisesse esconder o que realmente ele costumava aprontar.
— Bem, jovem e humilde senhor. Chegamos à minha casinha e, como pode ver, eu não feri ninguém no caminho — sorri em vitória, relembrando sua brincadeira de mais cedo.
— Okay, senhorita, estás devidamente entregue em seu estimado endereço — falou isso e fez um pequena reverência.
— Até segunda-feira, . Esteja preparado para mais uma semana de atribulações.
— Ainda não entendi por que você ainda insiste em ser tão formal quanto ao meu nome. Eu já te disse que te considero uma amiga, pode me chamar de .
— Sei lá, é uma das infinitas manias que eu tenho. Me desculpe. A partir de agora, eu só te chamarei de — vi um sorriso brotar em seus finos lábios.
— Certo, — deu ênfase no meu apelido — Até segunda — e se retirou vagarosamente em direção à sua casa.
Início das férias de verão.
Bem, eu poderia estar em Newquay curtindo a praia junto com meus amigos, mas desde que meus pais se separaram no ano passado, as coisas ficaram meio “apertadas” aqui em casa, financeiramente falando. Então, para ajudar minha mãe com os gastos, resolvi me candidatar em um emprego de meio período em uma cafeteria que ficava entre o caminho da minha casa para escola. E, falando em escola, era meu último ano escolar, e já estava pensando na pressão que seria escolher uma Universidade – ou ser escolhida por alguma delas –, mesmo estando um pouco indecisa quanto a qual profissão seguir. Esperava que minhas ótimas notas e meu currículo exemplar me ajudassem a conseguir uma vaga em uma boa faculdade. Mas isso não era a minha prioridade no momento.
Como havia dito anteriormente, era início das férias de verão e meu primeiro dia de trabalho no Café Poético. Fui contratada como garçonete por meio período, por enquanto no turno da noite – enquanto as aulas não retornavam. O Café Poético era gerenciado pelo Adam, junto de sua esposa Diana, que recém chegaram a Manchester e eram casados há cinco anos. Eu simplesmente achava linda a forma como os dois se tratavam e eram companheiros. Meus pais costumavam ser assim no passado. Com o tempo, as brigas foram aumentando, e eles decidiram se separar. Graças a Deus que tudo ocorreu amigavelmente, e hoje eu morava com a minha mãe aqui em Manchester, enquanto meu pai mudou-se para Madrid, pois recebera uma proposta de emprego bem melhor por lá.
Ao que parece, meu primeiro dia de trabalho ocorreu no dia mais agitado no Café. Muitos pedidos rolando, e eu no meio da correria para atender todos os clientes e tentando me adaptar a rotina de atendimento. Com pouco mais da metade do meu expediente, muitas mesas atendidas e o cansaço já se abatendo sobre o meu corpo, decidi tirar meus vinte minutos de descanso e aproveitar para comer alguma coisa.
— Então, , o que está achando do seu primeiro dia de trabalho? — Adam perguntou quando me viu fazendo caretas de alívio ao finalmente poder sentar, e com certa liberdade para fazer uma boquinha.
— Bem corrido, na verdade. Não achei que o atendimento estaria tão agitado hoje.
— Não se preocupe, nem todos os dias serão assim. Há dias que quase não aparecem clientes, torna tudo muito monótono e a hora, que não passa nunca — ele disse, rindo — Com o tempo, você se acostuma com essa rotina.
— É, eu imagino. É preferível essa correria mesmo, conhecer pessoas novas. Só espero que não apareçam aqueles clientes rabugentos para me destratar.
— Não se preocupe, . Nos poucos mais de oito meses que estamos trabalhando por aqui, não tivemos o desprazer de ter esse tipo de clientela. Mas é bom saber que você, de certa forma, está preparada.
— Assim espero, Adam. Bom, ‘tá no finzinho do meu descanso. Vou me preparar para voltar à correria.
Terminei de comer o meu lanche e passei a ajudar a Diana no balcão com alguns pedidos. Ela me ensinou como preparar um cappuccino, no caso dela futuramente precisar da minha ajuda com isso. Faltando pouco menos de uma hora para o fim do meu expediente, apenas duas mesas estavam ocupadas: em uma delas uma moça, por volta dos 25 anos, bebia seu café enquanto apreciava um livro. Pelas feições que ela fazia a cada mudança de página, imaginava que a história realmente tenha lhe impressionado. Em outra mesa, um grupo de amigos ria enquanto um deles gesticulava exageradamente e parecia contar alguma piada ou história engraçada. Automaticamente lembrei de Olivia e Harry. Deviam estar curtindo muito as praias sem mim. É, as férias passariam lentamente.
Quase um mês se passou desde o meu primeiro dia no Café Poético. Já melhor adaptada à minha função que ora era garçonete, ora bartender, dependendo da necessidade dos meus patrões. Às vezes eu ganhava boas gorjetas, em outras, algumas cantadas bem desnecessárias. Nos últimos dias, houve um aumento na clientela, bem comemorado por Adam e Diana, porém perceberam que havia a necessidade da aquisição de outro empregado, já que, em breve, eu terei que mudar meu turno para mais cedo por conta da escola.
Colocaram o anúncio de emprego, e logo apareceram algumas pessoas interessadas. Algumas bem esquisitas, se é que assim podia dizer. Entre os que me chamaram atenção, podia destacar a moça loira com um piercing na sobrancelha e o ar de deboche em suas palavras, o cara moreno com olhar de psicopata e que conferia se ninguém o encarava a cada cinco minutos. E ele. Com um sorriso cativante, um pouco tímido, por volta dos vinte e dois anos, disse que precisava do emprego para ajudar a pagar a faculdade de música. Não sei o que levou Adam a contratar naquela tarde – talvez o reconhecimento, já que, quando mais novo, ele tentara a carreira musical, mas teve que abandonar seu sonho por problemas de saúde. Porém, eu o agradeceria pelo resto da vida.
Duas semanas se passaram desde a contratação de , e realmente foi uma mão na roda. O trabalho foi melhor dividido, já não ficava desesperada com tantas mesas para atender ao mesmo tempo, e ele era uma boa companhia em dias monótonos. Nesse meio tempo, entre um intervalo e outro, e nas vezes que ele foi me deixar em casa quando era muito tarde pra voltar sozinha, pude conhecer um pouco sobre ele. Morava sozinho em Manchester há dois anos, tinha vindo em busca do sonho de trabalhar com música. Tinha uma irmã mais nova, chamada Kate, e seu pai abandonou a família quando ele tinha apenas quinze anos – aparentemente, isso o afetava muito, pois o mesmo não quis entrar muito em detalhes – e, quando adolescente, tinha problemas para socializar com os colegas, porque gostava de coisas exóticas. faz bem o tipo rockstar, estilo despojado, algumas tatuagens pelo corpo e aquele bendito sorriso que fazia suas pernas fraquejarem. Parecia que meu mais novo amigo e colega de trabalho estava mexendo um pouco demais comigo.
— , já fechei o caixa. Limpei o balcão como você me pediu.
— Obrigada, , só estou terminando de limpar as mesas e já poderemos sair. Hoje foi bem puxado, não vejo a hora de chegar em casa, tomar um banho bem gostoso e ir dormir — falei, quase sussurrando, demonstrando todo meu cansaço do dia.
— Verdade, . Hoje foi um dia bem corrido, estou exausto.
— Bom, eu terminei. Se quiser, eu posso fechar, e você já pode ir pra casa. Veio direto da faculdade para cá, deve estar morto de cansado.
— Não, senhorita. Como bom menino que dona Sam criou, eu lhe deixarei em casa primeiro. Isso não são horas de moças inocentes voltarem para casa sozinhas.
— E quem lhe disse que eu sou inocente?
— Bem, nesse caso, irei com você para garantir que as outras pessoas estejam seguras nas ruas — ele falou ,sorrindo. Maldito sorriso que me deixava sem chão.
Caminhamos até a minha casa, que ficava a poucos quarteirões de distância, conversando e contando histórias da nossa infância.
— Quando eu era criança, não tinha muitas meninas na vizinhança, então eu costumava brincar com os meninos na rua. Nunca gostei de brincar de bonecas. Eu gostava de subir nas árvores e “roubar” as frutas e comê-las verdes. Certa vez, fui subir numa goiabeira, escorreguei e caí de cara no chão. Passei uns bons dias com a bochecha dolorida e metade do rosto machucado. Parecia que eu tinha levado uma surra bem feia — eu disse, rindo, lembrando como meus colegas ficavam rindo de mim.
— Nossa, , você era mesmo muito pentelha quando era criança. O máximo que eu fazia quando criança era jogar pedra na casa dos vizinhos que enchiam o meu saco, ou bagunçar na escola, como todo bom menino — ele falou, fazendo uma careta engraçada, como se quisesse esconder o que realmente ele costumava aprontar.
— Bem, jovem e humilde senhor. Chegamos à minha casinha e, como pode ver, eu não feri ninguém no caminho — sorri em vitória, relembrando sua brincadeira de mais cedo.
— Okay, senhorita, estás devidamente entregue em seu estimado endereço — falou isso e fez um pequena reverência.
— Até segunda-feira, . Esteja preparado para mais uma semana de atribulações.
— Ainda não entendi por que você ainda insiste em ser tão formal quanto ao meu nome. Eu já te disse que te considero uma amiga, pode me chamar de .
— Sei lá, é uma das infinitas manias que eu tenho. Me desculpe. A partir de agora, eu só te chamarei de — vi um sorriso brotar em seus finos lábios.
— Certo, — deu ênfase no meu apelido — Até segunda — e se retirou vagarosamente em direção à sua casa.
CAPÍTULO 02 – Ich Liebe Dich
31 de agosto de 2010
says:
“Hey, , vamos aproveitar esse Sol maravilhoso e vamos fazer um piquenique no parque? Sei que você não é muito fã de coisas ao ar livre, mas é um bom jeito de curtir nosso dia de folga, bjs”
says:
“Engraçadinho, acho uma boa ideia! Eu levo a cesta com as guloseimas e você providencie um bom lugar e as bebidas (nada de álcool, mocinho) :D”
says:
“Não entendi a parte do álcool, ‘tá me chamando de alcoólatra? haha
Me encontre às 16h, no Didsbury Park, bjs”
Sorri com a última mensagem de . Vinha me sentindo confusa com meus sentimentos sobre ele. Desde que começamos a sair em abril, que bastava eu ouvir alguém mencionando o nome dele que já começava a sentir todas aquelas benditas borboletas no estômago e aquela vontade louca de sorrir sempre que ele me olhava com aquela cara de menino pidão. Acontece que me descobri apaixonada por ele, talvez desde a primeira vez que o vira. O que só me deixava mais aterrorizada com tudo isso. Da última vez que eu realmente me apaixonei por alguém, as coisas não deram muito certo, e eu sofri muito.
Mas eu sei, com ele era diferente. Sinto que era diferente todas as vezes que ele me fazia sorrir com alguma piada boba. Todas as vezes que nos beijávamos era como se uma sinfonia tocasse minha música favorita e fogos explodissem ao nosso redor em comemoração. É, eu sei, muito ridículo. Sabe o que era mais ridículo? Eu não tenho certeza se era recíproco, porque eu simplesmente não tinha coragem para me declarar para ele. Óh, céus, que bela covarde eu era.
Às quatro da tarde cheguei ao parque, carregando a cesta com as comidas prometidas. Tive que sair um pouco depois do previsto porque esqueci que a cesta ficaria muito pesada para carregar, então optei por vir de táxi. Logo o avistei de longe, com sua camiseta branca que deixava seu braço tatuado à mostra, jeans surrado e tênis.
— Hey, , cheguei! — acenei enquanto me aproximava — Será que você poderia me ajudar com cesta? Acho que exagerei nas comidas e ela está muito pesada para eu carregar — dei um sorriso sapeca.
— Claro, meu bem. Como você está se sentindo no dia mais quente do ano? — tomou a cesta de uma das minhas mãos e segurou a outra, entrelaçando os nossos dedos, o que sempre me deixava corada – não sabia por quê.
— Estou me sentindo um sorvete derretido. Você sabe o quanto eu odeio o calor, apesar de que aqui nunca é tão quente assim, mas hoje se superou – falei, chorosa, enquanto caminhávamos.
— Sei sim, por isso escolhi um local com bastantes árvores para que pudéssemos sentar e apreciar a pouca brisa e, claro, aproveitar as maravilhosas comidas que você fez para nós.
— Então é por isso que me chamou, só para aproveitar da minha comida. Que audácia, ! — fingi desapontamento e dei um sorriso brincalhão.
— Claro que não! Eu adoro sua companhia, na verdade, adoro tudo sobre você — fiquei vermelha como pimentão e desviei o olhar.
— Eu sei, impossível não gostar de mim, sou maravilhosa — desconversei e fiz uma piadinha presunçosa para disfarçar aquele momento estranho para mim.
— Sim, é maravilhosa, e eu gostaria que você fosse mais segura de si como é quando está fazendo alguma piadinha sobre si mesma — fez um carinho na minha bochecha, que automaticamente me fez fechar os olhos — E sabe o que eu mais gosto em você? Quando você fica vermelhinha com cada elogio que te faço, fica muito fofa. O quando fico embasbacado quanto a sua inteligência, sua perseverança.
— Okay, . Você conseguiu me deixar sem palavras — sorri sem graça.
— E olha que nem foi do jeito que estou acostumado a deixar as moças sem palavras – sorriu, malicioso.
— ! — ele gargalhava enquanto eu estapeava seu braço.
— Então, , me conta, como vão as coisas? Tivemos pouco tempo para conversar essa semana agora que você mudou de turno no café, senhora mais nova universitária.
— Nada de mais, só eu na correria da mudança. Minha mãe chorou horrores agora que ela vai mudar para Leicester e me abandonar para sempre — choraminguei exageradamente.
— Deixa de ser boba, vai aproveitar todas as festas da faculdade, participar de todos os grupos de estudos possíveis, aprender coisas novas.
— Falando em coisas novas, faz umas duas semanas que comecei a estudar alemão e simplesmente estou apaixonada. Apesar de que algumas palavras são muito difíceis de pronunciar, mas a gramática é bem parecida com a nossa, então não está sendo tão grotesco como eu achei que seria.
— Nossa, , que legal. E qual a palavra que você achou mais difícil de pronunciar até agora?
— Entschuldigung.
— O que isso significa? — perguntou, alarmado, achando que eu o tinha xingando ou coisa parecida.
— Significa que estou pedindo licença, mas olha o tamanho dessa palavra só para pedir licença, é horrível — acabei rindo do meu próprio “sofrimento”.
— O que mais você aprendeu?
— Ah, algumas saudações, a dizer “eu te amo”, essas coisas de praxe quando se começa a aprender um idioma diferente.
— E como se diz “eu te amo” em alemão? — ele perguntou, misterioso.
— Ich liebe dich — respondi, receosa com a pergunta.
— Eu também — e me beijou.
says:
“Hey, , vamos aproveitar esse Sol maravilhoso e vamos fazer um piquenique no parque? Sei que você não é muito fã de coisas ao ar livre, mas é um bom jeito de curtir nosso dia de folga, bjs”
says:
“Engraçadinho, acho uma boa ideia! Eu levo a cesta com as guloseimas e você providencie um bom lugar e as bebidas (nada de álcool, mocinho) :D”
says:
“Não entendi a parte do álcool, ‘tá me chamando de alcoólatra? haha
Me encontre às 16h, no Didsbury Park, bjs”
Sorri com a última mensagem de . Vinha me sentindo confusa com meus sentimentos sobre ele. Desde que começamos a sair em abril, que bastava eu ouvir alguém mencionando o nome dele que já começava a sentir todas aquelas benditas borboletas no estômago e aquela vontade louca de sorrir sempre que ele me olhava com aquela cara de menino pidão. Acontece que me descobri apaixonada por ele, talvez desde a primeira vez que o vira. O que só me deixava mais aterrorizada com tudo isso. Da última vez que eu realmente me apaixonei por alguém, as coisas não deram muito certo, e eu sofri muito.
Mas eu sei, com ele era diferente. Sinto que era diferente todas as vezes que ele me fazia sorrir com alguma piada boba. Todas as vezes que nos beijávamos era como se uma sinfonia tocasse minha música favorita e fogos explodissem ao nosso redor em comemoração. É, eu sei, muito ridículo. Sabe o que era mais ridículo? Eu não tenho certeza se era recíproco, porque eu simplesmente não tinha coragem para me declarar para ele. Óh, céus, que bela covarde eu era.
Às quatro da tarde cheguei ao parque, carregando a cesta com as comidas prometidas. Tive que sair um pouco depois do previsto porque esqueci que a cesta ficaria muito pesada para carregar, então optei por vir de táxi. Logo o avistei de longe, com sua camiseta branca que deixava seu braço tatuado à mostra, jeans surrado e tênis.
— Hey, , cheguei! — acenei enquanto me aproximava — Será que você poderia me ajudar com cesta? Acho que exagerei nas comidas e ela está muito pesada para eu carregar — dei um sorriso sapeca.
— Claro, meu bem. Como você está se sentindo no dia mais quente do ano? — tomou a cesta de uma das minhas mãos e segurou a outra, entrelaçando os nossos dedos, o que sempre me deixava corada – não sabia por quê.
— Estou me sentindo um sorvete derretido. Você sabe o quanto eu odeio o calor, apesar de que aqui nunca é tão quente assim, mas hoje se superou – falei, chorosa, enquanto caminhávamos.
— Sei sim, por isso escolhi um local com bastantes árvores para que pudéssemos sentar e apreciar a pouca brisa e, claro, aproveitar as maravilhosas comidas que você fez para nós.
— Então é por isso que me chamou, só para aproveitar da minha comida. Que audácia, ! — fingi desapontamento e dei um sorriso brincalhão.
— Claro que não! Eu adoro sua companhia, na verdade, adoro tudo sobre você — fiquei vermelha como pimentão e desviei o olhar.
— Eu sei, impossível não gostar de mim, sou maravilhosa — desconversei e fiz uma piadinha presunçosa para disfarçar aquele momento estranho para mim.
— Sim, é maravilhosa, e eu gostaria que você fosse mais segura de si como é quando está fazendo alguma piadinha sobre si mesma — fez um carinho na minha bochecha, que automaticamente me fez fechar os olhos — E sabe o que eu mais gosto em você? Quando você fica vermelhinha com cada elogio que te faço, fica muito fofa. O quando fico embasbacado quanto a sua inteligência, sua perseverança.
— Okay, . Você conseguiu me deixar sem palavras — sorri sem graça.
— E olha que nem foi do jeito que estou acostumado a deixar as moças sem palavras – sorriu, malicioso.
— ! — ele gargalhava enquanto eu estapeava seu braço.
— Então, , me conta, como vão as coisas? Tivemos pouco tempo para conversar essa semana agora que você mudou de turno no café, senhora mais nova universitária.
— Nada de mais, só eu na correria da mudança. Minha mãe chorou horrores agora que ela vai mudar para Leicester e me abandonar para sempre — choraminguei exageradamente.
— Deixa de ser boba, vai aproveitar todas as festas da faculdade, participar de todos os grupos de estudos possíveis, aprender coisas novas.
— Falando em coisas novas, faz umas duas semanas que comecei a estudar alemão e simplesmente estou apaixonada. Apesar de que algumas palavras são muito difíceis de pronunciar, mas a gramática é bem parecida com a nossa, então não está sendo tão grotesco como eu achei que seria.
— Nossa, , que legal. E qual a palavra que você achou mais difícil de pronunciar até agora?
— Entschuldigung.
— O que isso significa? — perguntou, alarmado, achando que eu o tinha xingando ou coisa parecida.
— Significa que estou pedindo licença, mas olha o tamanho dessa palavra só para pedir licença, é horrível — acabei rindo do meu próprio “sofrimento”.
— O que mais você aprendeu?
— Ah, algumas saudações, a dizer “eu te amo”, essas coisas de praxe quando se começa a aprender um idioma diferente.
— E como se diz “eu te amo” em alemão? — ele perguntou, misterioso.
— Ich liebe dich — respondi, receosa com a pergunta.
— Eu também — e me beijou.
CAPÍTULO 03 – Making Love
30 de novembro de 2010
’s POV
00:00
Cheguei cansado em meu prédio, desesperado por um demorado banho e uma boa noite de sono. Convenci o Adam a deixar a minha banda tocar no café essa noite, e o nosso pocket show foi um sucesso, além de garantir uma nova clientela para o local. Achei estranho o fato da não ter comparecido ao show. Confesso que me deixou um pouco chateado a falta da presença dela. Devia ter acontecido alguma coisa.
Ao abrir a porta do meu apartamento, percebi que a sala de jantar estava iluminada apenas por algumas velas. Vi uma garrafa de vinho e duas taças. Havia apenas um prato sobre a mesa e notei que tinha um bilhete sobre ele.
“Parabéns, meu amor! Resolvi te fazer uma surpresa de aniversário. Desculpe-me por não comparecer ao seu show, tenho certeza de que foi maravilhoso assim, como tudo que você faz. Como pode ver, eu tinha decidido fazer uma jantarzinho para nós dois. Entretanto, percebi que existem coisas melhores e mais prazerosas que podemos fazer juntos. Desde que você venha ao seu quarto, é claro”
Dirigi-me ao meu quarto. Algumas pétalas de rosas espalhadas pelo chão do corredor e a porta do quarto entreaberta. Notei que o quarto também está à luz de velas. Ao adentrar em meu quarto, encontrei minha bela namorada deitada em cima da minha cama, com um sorriso malicioso em seu rosto de menina. Estava estonteante com um vestido azul, que marcava todas as suas maravilhosas curvas.
— Oi, meu bem, feliz aniversário! — caminhou lentamente até mim e me beijou delicadamente, de uma forma que acendeu tudo em meu corpo.
— Obrigado, amor, adorei a surpresa. Confesso que fiquei chateado por você não ter comparecido ao show, mas vejo que foi por um ótimo motivo — sorri com a carinha de culpada que ela fez.
— É a primeira data especial desde que estamos juntos, então pensei em algo bem original – nem tanto assim – para marcar o nosso relacionamento.
— Besta! Sabe que, para mim, tudo que fazemos juntos é especial, até mesmo aquela vez que você ficou bem doente e eu te acompanhei ao hospital, e olha que nem estávamos namorando ainda — ri da reação de surpresa que ela fez ao ouvir aquelas palavras.
— Ah, já ia me esquecendo! O seu presente, senhor sou-mais-velho-que-você-cinco-anos — me entregou uma caixa com um laço enorme, e me surpreendi ao abri-la — Levei duas semanas para fazê-la e sei que ainda temos poucas fotos juntos, mas coloquei aquelas que achei bem especiais e, ao lado, coloquei o meu ponto de vista sobre a ocasião.
— Uau, , quem diria que você é boa em artes manuais.
— Eu sei, você ‘tá achando bem brega e tudo mais. Aposto que você detestou — bufou enquanto se jogava na cama — Mas o amor é feito disso, de declarações bregas e clichês. Isso que torna tudo tão perfeito — e sorriu docemente.
— Eu adorei, meu amor, de verdade. E achei maravilhoso todo seu empenho em tornar esse dia tão especial para mim. Aliás, para nós — e, ao dizer isso, vi o sorriso que estampava em seu rosto se alargar da forma que eu adorava. Jurei a mim mesmo que sempre faria de tudo para manter aquele lindo sorriso em seu rosto.
— Então vamos às comemorações — sorri, pervertido — Não esse tipo de comemoração, seu safado — e riu novamente — Tem um vinho maravilhoso nos esperando e alguns petiscos que eu mesma fiz questão de preparar. E, bem, eu queria ser a primeira a te parabenizar no seu dia.
— Então vou apenas tomar uma ducha rápida, não é justo você está deslumbrante e o aniversariante, parecendo um cachorro de rua — gargalhou com a minha comparação sem nexo.
— Okay, . Vou preparando a mesa para nós.
Dez minutos depois, de banho tomado e cheiroso novamente, me dirijo à sala do meu apartamento. Sentei-me ao lado da , que me entregou a outra taça de vinho. Conversamos sobre amenidades. Resolvi colocar uma música – a nossa música – para tocar e a convidei para uma dança. Ela encostou a cabeça em meu peito enquanto trocávamos alguns passos no pequeno espaço entre os móveis. Acariciei seus cabelos, só apreciando esse momento entre nós dois, acompanhando a letra da minha música predileta e como, de certa forma, ela encaixava perfeitamente na nossa história.
You make it real for me
And I'm running to you, baby
You are the only one who saves me
That's why I've been missing you lately
'Cause you make it real for me
(James Morrison — You Make it Real)
Senti uma vontade enorme de beijá-la, de tocar cada parte do seu corpo e degustar cada centímetro de pele que ela possuía. Aproximei meu rosto do seu e mordi levemente sua orelha porque sabia o quanto ela era sensível. Desci pelo pescoço, beijando e lambendo a pele arrepiada da região. Beijei-a. Sem segundas intenções, sem malícia, apenas pelo simples prazer de ter sua boca colada na minha. E, Deus, como era bom beijar essa mulher! Já tive algumas namoradas, alguns romances, mas nada chegou tão perto do que sentia por ela. Era um sentimento que crescia todo dia, e ficava extremamente feliz por tê-la em minha vida.
A música se encerrou. Fiz uma pequena reverência à minha adorável parceira de dança, que sorriu e repetiu meu gesto em agradecimento. Segurei levemente em seu queixo, dando-lhe um beijo em sua bochecha, e puxei-a pela mão até o meu quarto.
Voltei a distribuir beijos pelo seu pescoço, dessa vez com minhas mãos explorando toda a pele exposta de suas costas, graças ao vestido frente única que a mesma estava usando. Sorrateiramente encontrei o zíper lateral e desci-o vagarosamente enquanto encarava seus belos olhos castanhos. O que encontrei em seu olhar era um misto de sentimentos, e me vi com uma necessidade tremenda de terminar com as carícias e todos os movimentos lentos e arrancar de vez aquele vestido, torná-la minha. Mais uma vez. E todas as vezes seriam insuficientes para demonstrar todo o meu amor por aquela mulher.
Terminei de retirar o vestido de seu corpo enquanto me olhava nos olhos e fazia o mesmo com a minha camisa. Os beijos se tornavam mais necessitados, os gemidos de súplica da ecoando pelo quarto. Suguei seu lóbulo enquanto escutava-a arfar a cada pequeno toque meu sobre seu corpo. Suas unhas pintadas de um belo tom de vermelho arranhavam cada parte desprotegida das minhas costas. A cada novo contato, era como se eu sentisse minha pele queimar, vibrar necessitada por mais de seu corpo, de seus beijos, de seu cheiro.
Desci os beijos e chupões por todo o seu colo desnudo, apreciando a bela visão que tinha de todo o seu corpo. Senti-a puxando os cabelinhos de minha nuca quando minha mãe livre perpassava sobre o centro de sua calcinha. Minha garota estava tão pronta para mim, tão entregue. Seus gemidos sôfregos eram um deleite para os meus ouvidos, me deixavam extasiado, excitado.
— …
— Sim?
— Eu te amo!
— Eu também te amo.
Retirei a única peça de roupa que cobria seu corpo. Encarei-a, admirando todo o seu corpo, e seu olhar dizia, implorava, para que eu parasse de torturá-la. Beijei-a com necessidade, demonstrando o quanto também precisava dela. Beijei cada centímetro de seu corpo, decidido a, no fim, provar seu gosto já tão conhecido por minha língua. Seu corpo tremia a cada novo toque da minha língua em seu ponto de prazer. Estava me divertindo com suas reações, mas aquilo também estava me deixando louco. Procurei por uma camisinha em uma de minhas gavetas e vesti-a.
E foi assim, na minha cama, com nós dois em completo êxtase, que eu juntei meu corpo ao dela, tornando-nos um só.
’s POV
00:00
Cheguei cansado em meu prédio, desesperado por um demorado banho e uma boa noite de sono. Convenci o Adam a deixar a minha banda tocar no café essa noite, e o nosso pocket show foi um sucesso, além de garantir uma nova clientela para o local. Achei estranho o fato da não ter comparecido ao show. Confesso que me deixou um pouco chateado a falta da presença dela. Devia ter acontecido alguma coisa.
Ao abrir a porta do meu apartamento, percebi que a sala de jantar estava iluminada apenas por algumas velas. Vi uma garrafa de vinho e duas taças. Havia apenas um prato sobre a mesa e notei que tinha um bilhete sobre ele.
“Parabéns, meu amor! Resolvi te fazer uma surpresa de aniversário. Desculpe-me por não comparecer ao seu show, tenho certeza de que foi maravilhoso assim, como tudo que você faz. Como pode ver, eu tinha decidido fazer uma jantarzinho para nós dois. Entretanto, percebi que existem coisas melhores e mais prazerosas que podemos fazer juntos. Desde que você venha ao seu quarto, é claro”
Dirigi-me ao meu quarto. Algumas pétalas de rosas espalhadas pelo chão do corredor e a porta do quarto entreaberta. Notei que o quarto também está à luz de velas. Ao adentrar em meu quarto, encontrei minha bela namorada deitada em cima da minha cama, com um sorriso malicioso em seu rosto de menina. Estava estonteante com um vestido azul, que marcava todas as suas maravilhosas curvas.
— Oi, meu bem, feliz aniversário! — caminhou lentamente até mim e me beijou delicadamente, de uma forma que acendeu tudo em meu corpo.
— Obrigado, amor, adorei a surpresa. Confesso que fiquei chateado por você não ter comparecido ao show, mas vejo que foi por um ótimo motivo — sorri com a carinha de culpada que ela fez.
— É a primeira data especial desde que estamos juntos, então pensei em algo bem original – nem tanto assim – para marcar o nosso relacionamento.
— Besta! Sabe que, para mim, tudo que fazemos juntos é especial, até mesmo aquela vez que você ficou bem doente e eu te acompanhei ao hospital, e olha que nem estávamos namorando ainda — ri da reação de surpresa que ela fez ao ouvir aquelas palavras.
— Ah, já ia me esquecendo! O seu presente, senhor sou-mais-velho-que-você-cinco-anos — me entregou uma caixa com um laço enorme, e me surpreendi ao abri-la — Levei duas semanas para fazê-la e sei que ainda temos poucas fotos juntos, mas coloquei aquelas que achei bem especiais e, ao lado, coloquei o meu ponto de vista sobre a ocasião.
— Uau, , quem diria que você é boa em artes manuais.
— Eu sei, você ‘tá achando bem brega e tudo mais. Aposto que você detestou — bufou enquanto se jogava na cama — Mas o amor é feito disso, de declarações bregas e clichês. Isso que torna tudo tão perfeito — e sorriu docemente.
— Eu adorei, meu amor, de verdade. E achei maravilhoso todo seu empenho em tornar esse dia tão especial para mim. Aliás, para nós — e, ao dizer isso, vi o sorriso que estampava em seu rosto se alargar da forma que eu adorava. Jurei a mim mesmo que sempre faria de tudo para manter aquele lindo sorriso em seu rosto.
— Então vamos às comemorações — sorri, pervertido — Não esse tipo de comemoração, seu safado — e riu novamente — Tem um vinho maravilhoso nos esperando e alguns petiscos que eu mesma fiz questão de preparar. E, bem, eu queria ser a primeira a te parabenizar no seu dia.
— Então vou apenas tomar uma ducha rápida, não é justo você está deslumbrante e o aniversariante, parecendo um cachorro de rua — gargalhou com a minha comparação sem nexo.
— Okay, . Vou preparando a mesa para nós.
Dez minutos depois, de banho tomado e cheiroso novamente, me dirijo à sala do meu apartamento. Sentei-me ao lado da , que me entregou a outra taça de vinho. Conversamos sobre amenidades. Resolvi colocar uma música – a nossa música – para tocar e a convidei para uma dança. Ela encostou a cabeça em meu peito enquanto trocávamos alguns passos no pequeno espaço entre os móveis. Acariciei seus cabelos, só apreciando esse momento entre nós dois, acompanhando a letra da minha música predileta e como, de certa forma, ela encaixava perfeitamente na nossa história.
And I'm running to you, baby
You are the only one who saves me
That's why I've been missing you lately
'Cause you make it real for me
(James Morrison — You Make it Real)
Senti uma vontade enorme de beijá-la, de tocar cada parte do seu corpo e degustar cada centímetro de pele que ela possuía. Aproximei meu rosto do seu e mordi levemente sua orelha porque sabia o quanto ela era sensível. Desci pelo pescoço, beijando e lambendo a pele arrepiada da região. Beijei-a. Sem segundas intenções, sem malícia, apenas pelo simples prazer de ter sua boca colada na minha. E, Deus, como era bom beijar essa mulher! Já tive algumas namoradas, alguns romances, mas nada chegou tão perto do que sentia por ela. Era um sentimento que crescia todo dia, e ficava extremamente feliz por tê-la em minha vida.
A música se encerrou. Fiz uma pequena reverência à minha adorável parceira de dança, que sorriu e repetiu meu gesto em agradecimento. Segurei levemente em seu queixo, dando-lhe um beijo em sua bochecha, e puxei-a pela mão até o meu quarto.
Voltei a distribuir beijos pelo seu pescoço, dessa vez com minhas mãos explorando toda a pele exposta de suas costas, graças ao vestido frente única que a mesma estava usando. Sorrateiramente encontrei o zíper lateral e desci-o vagarosamente enquanto encarava seus belos olhos castanhos. O que encontrei em seu olhar era um misto de sentimentos, e me vi com uma necessidade tremenda de terminar com as carícias e todos os movimentos lentos e arrancar de vez aquele vestido, torná-la minha. Mais uma vez. E todas as vezes seriam insuficientes para demonstrar todo o meu amor por aquela mulher.
Terminei de retirar o vestido de seu corpo enquanto me olhava nos olhos e fazia o mesmo com a minha camisa. Os beijos se tornavam mais necessitados, os gemidos de súplica da ecoando pelo quarto. Suguei seu lóbulo enquanto escutava-a arfar a cada pequeno toque meu sobre seu corpo. Suas unhas pintadas de um belo tom de vermelho arranhavam cada parte desprotegida das minhas costas. A cada novo contato, era como se eu sentisse minha pele queimar, vibrar necessitada por mais de seu corpo, de seus beijos, de seu cheiro.
Desci os beijos e chupões por todo o seu colo desnudo, apreciando a bela visão que tinha de todo o seu corpo. Senti-a puxando os cabelinhos de minha nuca quando minha mãe livre perpassava sobre o centro de sua calcinha. Minha garota estava tão pronta para mim, tão entregue. Seus gemidos sôfregos eram um deleite para os meus ouvidos, me deixavam extasiado, excitado.
— …
— Sim?
— Eu te amo!
— Eu também te amo.
Retirei a única peça de roupa que cobria seu corpo. Encarei-a, admirando todo o seu corpo, e seu olhar dizia, implorava, para que eu parasse de torturá-la. Beijei-a com necessidade, demonstrando o quanto também precisava dela. Beijei cada centímetro de seu corpo, decidido a, no fim, provar seu gosto já tão conhecido por minha língua. Seu corpo tremia a cada novo toque da minha língua em seu ponto de prazer. Estava me divertindo com suas reações, mas aquilo também estava me deixando louco. Procurei por uma camisinha em uma de minhas gavetas e vesti-a.
E foi assim, na minha cama, com nós dois em completo êxtase, que eu juntei meu corpo ao dela, tornando-nos um só.
CAPÍTULO 04 – First Big Fight
28 de outubro de 2011
Fazia dois dias desde que viajara com a banda para fazer alguns shows por todo Reino Unido, e, droga, eu já estava sentindo saudades. Sorte – ou azar – que eu estava com bastante coisa apra fazer na faculdade. Sempre soube que vida de universitário não era fácil e que o aumento das responsabilidades conforme a vida adulta chegava só fizeram as coisas piorarem. Via o meu namorado cada vez menos. Claro que era sempre uma festa quando ele voltava de viagem e nos trancávamos no quarto por dois dias só para matar a vontade e a saudade que sentíamos um do outro. Mas, conforme o tempo passava, ficava mais difícil conseguir combinar nossos dias livres, e, quando acontecia o milagre de estarmos livres no mesmo dia, estava muito cansada para dar a atenção que ele merecia. Ou ele muito ocupado com assuntos da banda para poder passar um tempo comigo.
Eu tinha dezenove anos, no início da minha carreira acadêmica, com um namorado futuro rockstar. Entretanto, podia dizer que esse relacionamento tinha caído na rotina. Por estarmos nos vendo cada vez menos, meus surtos de inseguranças foram aflorados. Qual é?! Quando se vinha de um relacionamento ridículo, mesmo que fosse um namoro bobo de adolescente, você criava um pé atrás com tudo. Claro que nesse pouco mais de um ano de namoro, nunca me dera motivos para duvidar de sua honestidade, mas, em meio às crises, eu sempre achava que não era boa o bastante para ele e que a qualquer momento ele ia encontrar muito melhor que eu.
Sempre que ele viajava, me sentia um pouco deprimida. Nunca o contara sobre as minhas inseguranças – não só para com nosso relacionamento, mas com relação a minha própria vida também – e tinha apenas a Olívia como confidente. Era a ela a quem recorria quando me sentia sozinha e precisava desabafar sobre meus anseios. Okay que o Danny era meu melhor amigo também, mas ele não era muito bom com conselhos amorosos, apesar de sempre que estava triste, ele me vir com uma piadinha infame apenas para me fazer sorrir da bobagem que dissera.
Depois de mais uma longa conversa com a minha amiga sobre como “eu devia valorizar todos os meus maravilhosos atributos”, como ela mesmo dissera, resolvi que eu não precisava ficar me martirizando quanto a essas besteiras. Eu era linda, jovem – por enquanto –, inteligente, e todos os outros valores que eram o suficiente para eu começar a me amar do jeitinho que eu era. Resolvi ir à casa do e dormir por lá. Assim, quando ele chegasse no dia seguinte, eu já fazia uma surpresa com uma mega café da manhã de boas-vindas.
Estacionei em frente ao seu prédio, acenei levemente ao Joseph – porteiro do prédio há mais de cinco anos – e me dirigi ao elevador. Quando cheguei em seu apartamento e abri a porta, deu de cara com uma desconhecida jogada no sofá do meu namorado.
— Oi, quem é você? — ela me olhou, curiosa por ter entrado no apartamento com a chave.
— Eu que pergunto, quem é você e o que faz esparramada no sofá do meu namorado? — perguntei um pouco irritada pela audácia e pela surpresa “desagradável”.
Antes da mesma responder, apareceu no corredor com uma toalha secando os seus cabelos, sem camisa. Ele me olhou, assustado, por não esperar a minha presença em seu apartamento.
— Então essa é a viagem pra Liverpool que só faria você voltar amanhã, huh? Bom saber — falei, apontando para a desconhecida, segurando a vontade de chorar.
— ?! Do que você ‘tá falando? Eu acabei de chegar e…
— Muito bem acompanhado, pelo que vejo.
— Para de falar besteira! A Ellie é uma antiga amiga que veio me visitar — tentou se explica e percebi que ele tentava ao máximo não se exaltar.
— Besteira? Você me diz que chegaria amanhã, e eu chego na sua casa e me deparo com uma completa desconhecida no seu sofá. O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA?
— , acho melhor eu ir… Não é uma boa hora — disse a moça desconhecida cujo nome eu não prestei atenção, e notei que ela já estava fechando a porta.
— Ótimo, , obrigado pela ceninha ridícula que você acabou de fazer na frente de uma grande amiga minha.
— Ceninha ridícula? Então me diga qual adjetivo devo dar a cena que me deparo no seu apartamento, “uma moça ruiva, bonita, jogada no seu sofá, e você aparecendo no corredor quando eu achei que, na verdade, você estaria em Liverpool”? Um drama, não é mesmo?
— ! Entenda, Ellie e eu somos amigos, apenas isso. Que droga! Eu não aguento mais esse comportamento infantil!
— Desde quando sentir ciúmes é infantil, ? E que amiga é essa que eu nunca ouvi falar? Eu conheço todos os seus amigos, e você nunca mencionou nenhuma Ellie…
— É que… É complicado…
— O que é tão complicado que eu não possa entender?
— Nós tivemos um… relacionamento difícil e… ela tinha sumido da minha vida. É isso, .
— O que você quis dizer com relacionamento difícil? É uma maneira de amenizar e dizer que vocês foram namorados e você escondeu isso de mim?
— , você não entende… Eu...
— Como… Como você quer que eu entenda, se você mentiu pra mim! Logo você, a quem eu entreguei a minha confiança, o meu coração… Olha, , é melhor eu ir.
— Não, , precisamos conversar.
— AGORA VOCÊ QUER CONVERSAR? AGORA QUE EU DESCUBRO QUE A ÚNICA PESSOA QUEM PENSEI QUE NUNCA MENTIRIA PARA MIM MENTIU? ME POUPE — gritei, deixando as lágrimas escaparem de uma vez por todo meu rosto avermelhado de raiva. E decepção.
— EU NÃO MENTI PARA VOCÊ!
— , eu te contei cada detalhe da minha vida, esperando que, em troca, você agisse da mesma forma. Aprendi a duras penas que um relacionamento só existe se houver uma reciprocidade, e acabo de perceber que ela não existe entre nós. Não do jeito que eu imaginava que existisse – disse, tentando me acalmar e deixar a razão falar naquele momento.
— Você… Você por acaso está terminando comigo? — vi o desespero em seus olhos. Senti uma pontada em meu coração, mas mantive a minha decisão.
— Eu só preciso clarear a minha mente, acho melhor a gente dar um tempo.
— Você só pode estar brincando comigo!
— ! Pelo amor de Deus! Você não sabe o quanto eu sofro todas as vezes que você viaja. Quantas noites sem dormir imaginando que você pode encontrar alguém… Alguém muito melhor que eu — sentei no sofá, derrotada. Senti meus olhos arderem.
— Quê? Quantas vezes teremos que ter essa discussão? Posso ter errado em omitir sobre a Ellie, mas eu já deixei claro o quanto eu te amo e o quanto você é importante para mim.
— , há tempos que esse relacionamento tem caído na rotina. A gente mal tem se visto, até mesmo se falado, ou você não percebeu?!
— É claro que eu percebi! E eu tenho feito de tudo que está ao meu alcance, assim como sei que você dá o seu máximo. O problema é que essa sua insegurança vem nos separando, . É desgastante ter essa mesma briga várias e várias vezes.
— Ótimo, já que claramente o problema dessa relação sou eu, estou me retirando.
Peguei minhas coisas, que estavam esparramadas na mesinha de centro, e saí batendo a porta. Fui de escadas porque não queria que ninguém me visse chorando. Entrei no meu carro e desabei.
***
Deitada em minha cama, olhos inchados, pensando em todos os momentos que tivemos. Desde a primeira vez que o vi em sua entrevista de emprego no Café Poético, até a nossa última briga. Desde que a banda vinha crescendo, aumentaram também as brigas, mas nenhuma chegou perto de ser tão grande quanto aquela. Eu nunca havia cogitado terminar com ele, muito menos dar um tempo. Só conseguia pensar nas sensações ruins que tudo isso me trazia, e, droga, já sentia falta dele me fazendo cafuné para eu conseguir dormir.
Optei por um banho quente, relaxante. Quem sabe assim conseguisse dormir e organizasse meus pensamentos. Enchi a banheiro, acrescentei os sais e entrei.
Agora pensando claramente, nós estávamos errados.
Ele, por omitir o relacionamento com a tal Ellie.
Eu, por deixar que meus receios dominassem a minha razão.
Um bom descanso e algumas horas de sono seriam suficientes, e no dia seguinte eu o procuraria para uma conversa de verdade, entre adultos. Eu me deixei levar pelo calor do momento, e todo mundo sabia que eu era muito sensível, mas que eu também podia ser explosiva às vezes. É, incrível como um banho quente nos faz pensar melhor em nossos atos.
Já debaixo dos lençóis, quase perto de dormir profundamente, senti um peso ser adicionado sobre a cama. Não precisava me assustar, sei de quem se tratava. Viro o corpo para ficar de frente para ele e vi o estado deplorável em que ele se encontrava: olhos inchados e vermelhos, cheirando a álcool, cabelo bagunçado. Senti o seu toque sobre o meu rosto, me fazendo carinho.
— …
— Sim?
— Por favor, não me deixa, meu amor…
— , isso não é hora para conversar. Olha o seu estado! Toma um banho, pegue alguma das duas roupas que devem estar no meu closet e deite-se. Amanhã com mais calma, conversaremos, ‘tá bom?
— Okay…
Tive vontade de rir ao perceber a carinha de desolação estampada em seu rosto. Fez exatamente como eu pedi. Tomou um banho, trocou de roupa e deitou-se ao meu lado. Por todo o receio de manter algum contato comigo, notei que os efeitos da bebida deveriam ter passado. Dei boa noite e me virei de costas para ele.
***
Acordei e percebi que não tinha mais ninguém na cama. Senti-me um pouco decepcionada, mas tentei entender que aquele não era o momento. Levantei, escovei os dentes e desci as escadas a fim de procurar algo para comer. Ouvi uns barulhos vindo da cozinha e um cheiro delicioso de panquecas vindo de lá. Me surpreendi com apenas de cueca e avental preparando o nosso café. Com o detalhe: é que ele, como preguiçoso que era, nunca quis aprender a cozinhar dignamente – pelo menos para uma pessoa solteira – bem.
— Bom dia! — disse, tentando arrumar a bagunça que estava o meu cabelo e pegando um copo de suco em cima do balcão.
— Bom dia! — respondeu, parecendo não muito entusiasmado — Resolvi preparar o café, em agradecimento por você não ter me enxotado da sua casa de madrugada.
— Você sabe muito bem que eu não faria isso.
— Eu sei… E também precisamos conversar — me encarou, sério, com seu olhar sobre mim.
— É, precisamos — afirmei, desviando de seus glóbulos e hipnotizantes.
— Por onde devemos começar?
— Que tal você começar pela sua mentira? — perguntei, demonstrando o quanto estava magoada por ele ter escondido aquilo de mim.
— , eu não menti para você… É só que… Bem, melhor eu dizer logo o que aconteceu. Eu conheço a Ellie desde criança. Fomos vizinhos por muito tempo e nos tornamos melhores amigos desde sempre. Ela foi minha primeira em tudo, assim como fui para ela. Eu era completamente apaixonado por ela, mas ela nunca quis a exclusividade. Ela sempre foi um espirito livre, aventureiro e nunca gostou de se comprometer. Mesmo eu sabendo disso – afinal, eu era seu melhor amigo – resolvi arriscar. Até que ela começou a se envolver com gente barra pesada e drogas, o que ocasionou inúmeras brigas entre nós. Me doía vê-la daquela forma. A garota que eu conheci na infância, cheia de vida, que cativava tudo à sua volta, havia se perdido. Um dia, ela simplesmente sumiu. Me deixando apenas um bilhete dizendo que me amava, mas que ela precisava fugir de casa e finalmente conhecer o mundo lá fora. Depois disso, nunca mais eu tive contato com ela até eu chegar em Liverpool e dar de cara com ela na minha porta ontem de manhã. Eu resolvi chegar um dia antes para te fazer uma surpresa, mas eu que fui surpreendido. — soltou cada palavra enquanto me encarava profundamente, e a única coisa que eu enxergava em seus olhos era a segurança que eu tanto precisava.
— Não sabe a surpresa que foi para mim também. Tanta coisa se passou na minha cabeça, .
— Conversei com ela, que me atualizou dos últimos seis anos em que esteve sumida. Passou uns apuros, encontrou alguém que finalmente colocou um pouco de juízo naquela cabeça. Estão juntas há dois anos. Não há nada que você precise se preocupar, e me desculpe por ter escondido isso de você, mas… Eu não sei, só seria mais fácil esquecer.
— Acho que agora é minha vez de falar. Bem, eu também tenho pelo que me desculpar. Eu achei que tivesse aberta completamente para você, mas a minha insegurança esteve ali para atrapalhar o nosso relacionamento. E eu deixei que isso acontecesse e dominasse a minha razão. Virou essa bola de neve enorme. Eu deveria ter conversado com você, como dois adultos que somos. Bem, acho que devo desculpas a Ellie também, por quase tê-la matado com a força do meu pensamento — brinquei, tentando deixar o clima menos tenso entre nós.
— Acho que com essa piadinha ridícula aí, posso afirmar que está tudo bem entre a gente, não é?
— Sim, meu bem. Eu te perdoo. Desde que você me perdoe também e prometa que, daqui pra frente, tudo será discutido nessa relação.
— Claro que prometo! Tudo para que você permaneça na minha vida, assim como tem que ser — um sorriso imenso surgiu, e não me contive em juntar nossas bocas.
Nada como começar um belo dia com uma deliciosa refeição e sexo de reconciliação com quem a gente ama.
Fazia dois dias desde que viajara com a banda para fazer alguns shows por todo Reino Unido, e, droga, eu já estava sentindo saudades. Sorte – ou azar – que eu estava com bastante coisa apra fazer na faculdade. Sempre soube que vida de universitário não era fácil e que o aumento das responsabilidades conforme a vida adulta chegava só fizeram as coisas piorarem. Via o meu namorado cada vez menos. Claro que era sempre uma festa quando ele voltava de viagem e nos trancávamos no quarto por dois dias só para matar a vontade e a saudade que sentíamos um do outro. Mas, conforme o tempo passava, ficava mais difícil conseguir combinar nossos dias livres, e, quando acontecia o milagre de estarmos livres no mesmo dia, estava muito cansada para dar a atenção que ele merecia. Ou ele muito ocupado com assuntos da banda para poder passar um tempo comigo.
Eu tinha dezenove anos, no início da minha carreira acadêmica, com um namorado futuro rockstar. Entretanto, podia dizer que esse relacionamento tinha caído na rotina. Por estarmos nos vendo cada vez menos, meus surtos de inseguranças foram aflorados. Qual é?! Quando se vinha de um relacionamento ridículo, mesmo que fosse um namoro bobo de adolescente, você criava um pé atrás com tudo. Claro que nesse pouco mais de um ano de namoro, nunca me dera motivos para duvidar de sua honestidade, mas, em meio às crises, eu sempre achava que não era boa o bastante para ele e que a qualquer momento ele ia encontrar muito melhor que eu.
Sempre que ele viajava, me sentia um pouco deprimida. Nunca o contara sobre as minhas inseguranças – não só para com nosso relacionamento, mas com relação a minha própria vida também – e tinha apenas a Olívia como confidente. Era a ela a quem recorria quando me sentia sozinha e precisava desabafar sobre meus anseios. Okay que o Danny era meu melhor amigo também, mas ele não era muito bom com conselhos amorosos, apesar de sempre que estava triste, ele me vir com uma piadinha infame apenas para me fazer sorrir da bobagem que dissera.
Depois de mais uma longa conversa com a minha amiga sobre como “eu devia valorizar todos os meus maravilhosos atributos”, como ela mesmo dissera, resolvi que eu não precisava ficar me martirizando quanto a essas besteiras. Eu era linda, jovem – por enquanto –, inteligente, e todos os outros valores que eram o suficiente para eu começar a me amar do jeitinho que eu era. Resolvi ir à casa do e dormir por lá. Assim, quando ele chegasse no dia seguinte, eu já fazia uma surpresa com uma mega café da manhã de boas-vindas.
Estacionei em frente ao seu prédio, acenei levemente ao Joseph – porteiro do prédio há mais de cinco anos – e me dirigi ao elevador. Quando cheguei em seu apartamento e abri a porta, deu de cara com uma desconhecida jogada no sofá do meu namorado.
— Oi, quem é você? — ela me olhou, curiosa por ter entrado no apartamento com a chave.
— Eu que pergunto, quem é você e o que faz esparramada no sofá do meu namorado? — perguntei um pouco irritada pela audácia e pela surpresa “desagradável”.
Antes da mesma responder, apareceu no corredor com uma toalha secando os seus cabelos, sem camisa. Ele me olhou, assustado, por não esperar a minha presença em seu apartamento.
— Então essa é a viagem pra Liverpool que só faria você voltar amanhã, huh? Bom saber — falei, apontando para a desconhecida, segurando a vontade de chorar.
— ?! Do que você ‘tá falando? Eu acabei de chegar e…
— Muito bem acompanhado, pelo que vejo.
— Para de falar besteira! A Ellie é uma antiga amiga que veio me visitar — tentou se explica e percebi que ele tentava ao máximo não se exaltar.
— Besteira? Você me diz que chegaria amanhã, e eu chego na sua casa e me deparo com uma completa desconhecida no seu sofá. O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA?
— , acho melhor eu ir… Não é uma boa hora — disse a moça desconhecida cujo nome eu não prestei atenção, e notei que ela já estava fechando a porta.
— Ótimo, , obrigado pela ceninha ridícula que você acabou de fazer na frente de uma grande amiga minha.
— Ceninha ridícula? Então me diga qual adjetivo devo dar a cena que me deparo no seu apartamento, “uma moça ruiva, bonita, jogada no seu sofá, e você aparecendo no corredor quando eu achei que, na verdade, você estaria em Liverpool”? Um drama, não é mesmo?
— ! Entenda, Ellie e eu somos amigos, apenas isso. Que droga! Eu não aguento mais esse comportamento infantil!
— Desde quando sentir ciúmes é infantil, ? E que amiga é essa que eu nunca ouvi falar? Eu conheço todos os seus amigos, e você nunca mencionou nenhuma Ellie…
— É que… É complicado…
— O que é tão complicado que eu não possa entender?
— Nós tivemos um… relacionamento difícil e… ela tinha sumido da minha vida. É isso, .
— O que você quis dizer com relacionamento difícil? É uma maneira de amenizar e dizer que vocês foram namorados e você escondeu isso de mim?
— , você não entende… Eu...
— Como… Como você quer que eu entenda, se você mentiu pra mim! Logo você, a quem eu entreguei a minha confiança, o meu coração… Olha, , é melhor eu ir.
— Não, , precisamos conversar.
— AGORA VOCÊ QUER CONVERSAR? AGORA QUE EU DESCUBRO QUE A ÚNICA PESSOA QUEM PENSEI QUE NUNCA MENTIRIA PARA MIM MENTIU? ME POUPE — gritei, deixando as lágrimas escaparem de uma vez por todo meu rosto avermelhado de raiva. E decepção.
— EU NÃO MENTI PARA VOCÊ!
— , eu te contei cada detalhe da minha vida, esperando que, em troca, você agisse da mesma forma. Aprendi a duras penas que um relacionamento só existe se houver uma reciprocidade, e acabo de perceber que ela não existe entre nós. Não do jeito que eu imaginava que existisse – disse, tentando me acalmar e deixar a razão falar naquele momento.
— Você… Você por acaso está terminando comigo? — vi o desespero em seus olhos. Senti uma pontada em meu coração, mas mantive a minha decisão.
— Eu só preciso clarear a minha mente, acho melhor a gente dar um tempo.
— Você só pode estar brincando comigo!
— ! Pelo amor de Deus! Você não sabe o quanto eu sofro todas as vezes que você viaja. Quantas noites sem dormir imaginando que você pode encontrar alguém… Alguém muito melhor que eu — sentei no sofá, derrotada. Senti meus olhos arderem.
— Quê? Quantas vezes teremos que ter essa discussão? Posso ter errado em omitir sobre a Ellie, mas eu já deixei claro o quanto eu te amo e o quanto você é importante para mim.
— , há tempos que esse relacionamento tem caído na rotina. A gente mal tem se visto, até mesmo se falado, ou você não percebeu?!
— É claro que eu percebi! E eu tenho feito de tudo que está ao meu alcance, assim como sei que você dá o seu máximo. O problema é que essa sua insegurança vem nos separando, . É desgastante ter essa mesma briga várias e várias vezes.
— Ótimo, já que claramente o problema dessa relação sou eu, estou me retirando.
Peguei minhas coisas, que estavam esparramadas na mesinha de centro, e saí batendo a porta. Fui de escadas porque não queria que ninguém me visse chorando. Entrei no meu carro e desabei.
Deitada em minha cama, olhos inchados, pensando em todos os momentos que tivemos. Desde a primeira vez que o vi em sua entrevista de emprego no Café Poético, até a nossa última briga. Desde que a banda vinha crescendo, aumentaram também as brigas, mas nenhuma chegou perto de ser tão grande quanto aquela. Eu nunca havia cogitado terminar com ele, muito menos dar um tempo. Só conseguia pensar nas sensações ruins que tudo isso me trazia, e, droga, já sentia falta dele me fazendo cafuné para eu conseguir dormir.
Optei por um banho quente, relaxante. Quem sabe assim conseguisse dormir e organizasse meus pensamentos. Enchi a banheiro, acrescentei os sais e entrei.
Agora pensando claramente, nós estávamos errados.
Ele, por omitir o relacionamento com a tal Ellie.
Eu, por deixar que meus receios dominassem a minha razão.
Um bom descanso e algumas horas de sono seriam suficientes, e no dia seguinte eu o procuraria para uma conversa de verdade, entre adultos. Eu me deixei levar pelo calor do momento, e todo mundo sabia que eu era muito sensível, mas que eu também podia ser explosiva às vezes. É, incrível como um banho quente nos faz pensar melhor em nossos atos.
Já debaixo dos lençóis, quase perto de dormir profundamente, senti um peso ser adicionado sobre a cama. Não precisava me assustar, sei de quem se tratava. Viro o corpo para ficar de frente para ele e vi o estado deplorável em que ele se encontrava: olhos inchados e vermelhos, cheirando a álcool, cabelo bagunçado. Senti o seu toque sobre o meu rosto, me fazendo carinho.
— …
— Sim?
— Por favor, não me deixa, meu amor…
— , isso não é hora para conversar. Olha o seu estado! Toma um banho, pegue alguma das duas roupas que devem estar no meu closet e deite-se. Amanhã com mais calma, conversaremos, ‘tá bom?
— Okay…
Tive vontade de rir ao perceber a carinha de desolação estampada em seu rosto. Fez exatamente como eu pedi. Tomou um banho, trocou de roupa e deitou-se ao meu lado. Por todo o receio de manter algum contato comigo, notei que os efeitos da bebida deveriam ter passado. Dei boa noite e me virei de costas para ele.
Acordei e percebi que não tinha mais ninguém na cama. Senti-me um pouco decepcionada, mas tentei entender que aquele não era o momento. Levantei, escovei os dentes e desci as escadas a fim de procurar algo para comer. Ouvi uns barulhos vindo da cozinha e um cheiro delicioso de panquecas vindo de lá. Me surpreendi com apenas de cueca e avental preparando o nosso café. Com o detalhe: é que ele, como preguiçoso que era, nunca quis aprender a cozinhar dignamente – pelo menos para uma pessoa solteira – bem.
— Bom dia! — disse, tentando arrumar a bagunça que estava o meu cabelo e pegando um copo de suco em cima do balcão.
— Bom dia! — respondeu, parecendo não muito entusiasmado — Resolvi preparar o café, em agradecimento por você não ter me enxotado da sua casa de madrugada.
— Você sabe muito bem que eu não faria isso.
— Eu sei… E também precisamos conversar — me encarou, sério, com seu olhar sobre mim.
— É, precisamos — afirmei, desviando de seus glóbulos e hipnotizantes.
— Por onde devemos começar?
— Que tal você começar pela sua mentira? — perguntei, demonstrando o quanto estava magoada por ele ter escondido aquilo de mim.
— , eu não menti para você… É só que… Bem, melhor eu dizer logo o que aconteceu. Eu conheço a Ellie desde criança. Fomos vizinhos por muito tempo e nos tornamos melhores amigos desde sempre. Ela foi minha primeira em tudo, assim como fui para ela. Eu era completamente apaixonado por ela, mas ela nunca quis a exclusividade. Ela sempre foi um espirito livre, aventureiro e nunca gostou de se comprometer. Mesmo eu sabendo disso – afinal, eu era seu melhor amigo – resolvi arriscar. Até que ela começou a se envolver com gente barra pesada e drogas, o que ocasionou inúmeras brigas entre nós. Me doía vê-la daquela forma. A garota que eu conheci na infância, cheia de vida, que cativava tudo à sua volta, havia se perdido. Um dia, ela simplesmente sumiu. Me deixando apenas um bilhete dizendo que me amava, mas que ela precisava fugir de casa e finalmente conhecer o mundo lá fora. Depois disso, nunca mais eu tive contato com ela até eu chegar em Liverpool e dar de cara com ela na minha porta ontem de manhã. Eu resolvi chegar um dia antes para te fazer uma surpresa, mas eu que fui surpreendido. — soltou cada palavra enquanto me encarava profundamente, e a única coisa que eu enxergava em seus olhos era a segurança que eu tanto precisava.
— Não sabe a surpresa que foi para mim também. Tanta coisa se passou na minha cabeça, .
— Conversei com ela, que me atualizou dos últimos seis anos em que esteve sumida. Passou uns apuros, encontrou alguém que finalmente colocou um pouco de juízo naquela cabeça. Estão juntas há dois anos. Não há nada que você precise se preocupar, e me desculpe por ter escondido isso de você, mas… Eu não sei, só seria mais fácil esquecer.
— Acho que agora é minha vez de falar. Bem, eu também tenho pelo que me desculpar. Eu achei que tivesse aberta completamente para você, mas a minha insegurança esteve ali para atrapalhar o nosso relacionamento. E eu deixei que isso acontecesse e dominasse a minha razão. Virou essa bola de neve enorme. Eu deveria ter conversado com você, como dois adultos que somos. Bem, acho que devo desculpas a Ellie também, por quase tê-la matado com a força do meu pensamento — brinquei, tentando deixar o clima menos tenso entre nós.
— Acho que com essa piadinha ridícula aí, posso afirmar que está tudo bem entre a gente, não é?
— Sim, meu bem. Eu te perdoo. Desde que você me perdoe também e prometa que, daqui pra frente, tudo será discutido nessa relação.
— Claro que prometo! Tudo para que você permaneça na minha vida, assim como tem que ser — um sorriso imenso surgiu, e não me contive em juntar nossas bocas.
Nada como começar um belo dia com uma deliciosa refeição e sexo de reconciliação com quem a gente ama.
CAPÍTULO 05 – Commitment
14 de fevereiro de 2013
Hoje era dia dos namorados.
e eu combinamos de viajar até Lacock – um vilarejo bem charmoso que ficava a mais ou menos três daqui de carro –, porque ele sabia que eu era apaixonada por Harry Potter, e algumas gravações foram realizadas por lá. Por ser uma cidade menor, achamos que seria o lugar ideal e aconchegante para comemorar essa data. Sei que era uma data bem comercial, que as pessoas só pensavam nos presentes que precisavam comprar e etc. Mas, para mim, não era bem assim. Essa data me mostrava que eu tinha ao meu lado um homem incrível, que passara por muita coisa e era bastante apegado à família.
E quem diria que ele me suportaria por todo aquele tempo. Todo mundo sabia o quanto eu sempre fui um pouco neurótica com relacionamentos, graças ao meu ex-namorado maluco. Finalmente encontrei alguém que eu sei que não era perfeito, mas que se superava todos os dias– assim como eu – para manter esse relacionamento estável. Eram pouco mais de três anos juntos, e todos os dias eu agradecia aos céus por tê-lo na minha vida. Como todo casal, tínhamos nossas brigas, é claro. Chegamos a terminar uma vez, foi uma briga bem catastrófica, mas percebemos ali que não dava para viver sem o outro.
Fiz o checklist das coisas que eu levaria na mala, verificando se eu não estava me esquecendo de nada. Olhei se todas as portas estavam devidamente trancadas e fui para a sala esperar o vir me buscar. Dez minutos depois, escutei a buzina tão conhecida do carro do meu namorado e corri com a mala para a porta. Ele, todo cavalheiro, se ofereceu para carregá-la e guardá-la no porta-malas do carro. Corri para o banco do carona e conectei o pen drive com minhas músicas para viajar. Conhecia aquela playlist de trás para frente. Iniciava-se os acordes de Sweet Home Alabama, uma de minhas músicas favoritas do Lynyrd Skynyrd.
Sweet home Alabama
Where the skies are so blue
Sweet home Alabama
Lord, I'm coming home to you
— Ainda fico bobo em como você tem um gosto musical tão eclético. Quem te vê ouvindo rock clássico tão empolgada não imagina que você dança Backstreet Boys enquanto limpa a casa — ri, lembrando de quando ele me pegou no flagra dançando Everybody na minha sala enquanto eu limpava os móveis.
— Que bobagem, é muito melhor gostar de várias coisas ao mesmo tempo do que manter a cabeça fechada no seu próprio mundinho.
— Concordo. Só acho engraçado, porque às vezes eu acho que você consegue se conectar muito mais as suas músicas do que eu no palco.
— Que mentira! Ninguém se conecta à música como você. Consegue transparecer cada emoção em cada palavra dita. É genuíno — sorri com a cara de bobo que fez após o meu elogio.
***
Depois de algumas horas de viagem, finalmente chegamos ao vilarejo. Tiramos as malas do carro, e eu necessitava urgentemente de um banho. Entramos na casa, que estava do jeitinho que nós havíamos visto na hora de alugar. Abri a mala, em busca de uma roupa aconchegante e quentinha, enquanto ligava o aquecedor e todo o resto. Saindo do banho, encontrei-o esparramado na cama, tão cansado da viagem quanto eu.
— Ei, preguiçoso! Toma um banho, coloca uma roupa legal, que vamos dar uma olhada pela cidade e depois procurar onde comer — sorriu quando eu afaguei seus cabelos.
— Não tô a fim, ! Tô cansado da nossa longa viagem. Pedimos algo para comer aqui mesmo e a gente aproveita a lareira da sala enquanto assistimos uns filmes.
— Poxa, , em pleno dia dos namorados e você quer pedir comida e ficar em casa. Não foi para isso que eu viajei — bufei — Ah, e eu me ofereci para dirigir, mas você quem recusou minha ajuda. Não reclame.
— Você sabe que qualquer momento ao seu lado é especial para mim, mesmo no dia de hoje. Por favor, amanhã a gente faz tudo o que você quiser, mas hoje fique aqui comigo.
— Não foi isso que eu planejei para hoje, amor…
— Não adianta fazer essa carinha de cachorro que acabou de sair da mudança…
— Não quer ir? Okay, então eu vou sozinha — falei, irritada com a atitude desnecessária dele.
— Você quem sabe.
Zangada, me retirei do quarto em busca da chave do carro e saí daquela casa antes que eu enfiasse umas tapas naquela carinha bonita. Depois de rodar com o carro por uns trinta minutos, decido ceder e não brigar com em pleno dia dos namorados. Procurei um restaurante que tinha sua comida favorita e pedi para viagem. Acabei de perceber que havia esquecido o presente dele na mala. Tudo bem, depois que nos desculparmos por essa briguinha boba, mostraria meu presente para ele. Esperava que ele gostasse.
Estacionei o carro, peguei as sacolas com as comidas. Antes de entrar, percebi que todas as luzes estavam apagadas. Deus, ele realmente foi dormir, deveria estar mesmo muito cansado. Abri a porta, acendi as luzes do andar de baixo. Não consegui fechar a boca em surpresa. Todas as nossas fotos juntos estavam espalhadas pela casa, balões em forma de coração e, no chão, um caminho feito de pétalas de rosas seguia até a porta que levava ao quintal que ficava atrás da casa. Segui cuidadosamente pelo caminho até a porta. Abri-a, imaginando o que mais me aguardava atrás daquela porta.
Quando eu achei que estava no fim da surpresa, estava deveras enganada. O quintal estava todo iluminado por varais de luzes e decorado com várias estrelas. No centro, sentado em um banquinho, meu namorado iniciava as primeiras notas da minha música favorita.
Look at the stars
Look how they shine for you
And everything you do
Yeah, they were all yellow
Your skin
Oh yeah your skin and bones
Turn into something beautiful
You know you know I love you so
You know I love you so
(Yellow — Coldplay)
Em mim, tudo era felicidade. Aquela música, aquela ocasião, aquela pessoa. Era a minha pessoa favorita do mundo todo, e eu o amava. Tanto que nem sabia mensurar o quanto, mas tudo isso, em meio às lágrimas, só mostrava o quanto era recíproco.
— … Droga! Prometi a mim mesmo que não choraria nesse momento porque quero que tudo saia perfeito pra nós e eu preciso fazer isso direito — ajoelhou-se à minha frente — Quatro anos atrás, eu conheci uma menina, que ainda estava no colégio, mas mantinha uma cabeça cheia de sonhos, encantadora ao seu próprio modo, com o sorriso mais lindo que eu já vi. Por algum acaso do destino, você entrou na minha vida e colocou minha vida bagunçada nos eixos. E, desde então, tudo na minha vida é sobre você, sobre nós. E eu me sinto grato todos os dias por ter te encontrado e por saber que tudo o que sinto é recíproco. Bem, lembro que a primeira vez que ouvimos essa música você me disse que gostaria que ela tocasse em seu casamento, por retratar como é o amor verdadeiro. Não sei se tocará no casamento, mas estou garantindo que ao menos tocou durante o pedido — retirou a caixinha de veludo preto de dentro de seu bolso, tremendo, enquanto eu não conseguia mais segurar as lágrimas de felicidade — Óh, céus, esse monólogo todo é para te fazer um pedido: , aceita se casar comigo?
— Por Deus, . Sim, mil vezes sim! — ele colocou o anel no meu dedo anelar, se levantou e me beijou. O beijo mais delicioso da minha vida. Beijo com gosto de felicidade – e lágrimas.
Hoje era dia dos namorados.
e eu combinamos de viajar até Lacock – um vilarejo bem charmoso que ficava a mais ou menos três daqui de carro –, porque ele sabia que eu era apaixonada por Harry Potter, e algumas gravações foram realizadas por lá. Por ser uma cidade menor, achamos que seria o lugar ideal e aconchegante para comemorar essa data. Sei que era uma data bem comercial, que as pessoas só pensavam nos presentes que precisavam comprar e etc. Mas, para mim, não era bem assim. Essa data me mostrava que eu tinha ao meu lado um homem incrível, que passara por muita coisa e era bastante apegado à família.
E quem diria que ele me suportaria por todo aquele tempo. Todo mundo sabia o quanto eu sempre fui um pouco neurótica com relacionamentos, graças ao meu ex-namorado maluco. Finalmente encontrei alguém que eu sei que não era perfeito, mas que se superava todos os dias– assim como eu – para manter esse relacionamento estável. Eram pouco mais de três anos juntos, e todos os dias eu agradecia aos céus por tê-lo na minha vida. Como todo casal, tínhamos nossas brigas, é claro. Chegamos a terminar uma vez, foi uma briga bem catastrófica, mas percebemos ali que não dava para viver sem o outro.
Fiz o checklist das coisas que eu levaria na mala, verificando se eu não estava me esquecendo de nada. Olhei se todas as portas estavam devidamente trancadas e fui para a sala esperar o vir me buscar. Dez minutos depois, escutei a buzina tão conhecida do carro do meu namorado e corri com a mala para a porta. Ele, todo cavalheiro, se ofereceu para carregá-la e guardá-la no porta-malas do carro. Corri para o banco do carona e conectei o pen drive com minhas músicas para viajar. Conhecia aquela playlist de trás para frente. Iniciava-se os acordes de Sweet Home Alabama, uma de minhas músicas favoritas do Lynyrd Skynyrd.
Where the skies are so blue
Sweet home Alabama
Lord, I'm coming home to you
— Ainda fico bobo em como você tem um gosto musical tão eclético. Quem te vê ouvindo rock clássico tão empolgada não imagina que você dança Backstreet Boys enquanto limpa a casa — ri, lembrando de quando ele me pegou no flagra dançando Everybody na minha sala enquanto eu limpava os móveis.
— Que bobagem, é muito melhor gostar de várias coisas ao mesmo tempo do que manter a cabeça fechada no seu próprio mundinho.
— Concordo. Só acho engraçado, porque às vezes eu acho que você consegue se conectar muito mais as suas músicas do que eu no palco.
— Que mentira! Ninguém se conecta à música como você. Consegue transparecer cada emoção em cada palavra dita. É genuíno — sorri com a cara de bobo que fez após o meu elogio.
Depois de algumas horas de viagem, finalmente chegamos ao vilarejo. Tiramos as malas do carro, e eu necessitava urgentemente de um banho. Entramos na casa, que estava do jeitinho que nós havíamos visto na hora de alugar. Abri a mala, em busca de uma roupa aconchegante e quentinha, enquanto ligava o aquecedor e todo o resto. Saindo do banho, encontrei-o esparramado na cama, tão cansado da viagem quanto eu.
— Ei, preguiçoso! Toma um banho, coloca uma roupa legal, que vamos dar uma olhada pela cidade e depois procurar onde comer — sorriu quando eu afaguei seus cabelos.
— Não tô a fim, ! Tô cansado da nossa longa viagem. Pedimos algo para comer aqui mesmo e a gente aproveita a lareira da sala enquanto assistimos uns filmes.
— Poxa, , em pleno dia dos namorados e você quer pedir comida e ficar em casa. Não foi para isso que eu viajei — bufei — Ah, e eu me ofereci para dirigir, mas você quem recusou minha ajuda. Não reclame.
— Você sabe que qualquer momento ao seu lado é especial para mim, mesmo no dia de hoje. Por favor, amanhã a gente faz tudo o que você quiser, mas hoje fique aqui comigo.
— Não foi isso que eu planejei para hoje, amor…
— Não adianta fazer essa carinha de cachorro que acabou de sair da mudança…
— Não quer ir? Okay, então eu vou sozinha — falei, irritada com a atitude desnecessária dele.
— Você quem sabe.
Zangada, me retirei do quarto em busca da chave do carro e saí daquela casa antes que eu enfiasse umas tapas naquela carinha bonita. Depois de rodar com o carro por uns trinta minutos, decido ceder e não brigar com em pleno dia dos namorados. Procurei um restaurante que tinha sua comida favorita e pedi para viagem. Acabei de perceber que havia esquecido o presente dele na mala. Tudo bem, depois que nos desculparmos por essa briguinha boba, mostraria meu presente para ele. Esperava que ele gostasse.
Estacionei o carro, peguei as sacolas com as comidas. Antes de entrar, percebi que todas as luzes estavam apagadas. Deus, ele realmente foi dormir, deveria estar mesmo muito cansado. Abri a porta, acendi as luzes do andar de baixo. Não consegui fechar a boca em surpresa. Todas as nossas fotos juntos estavam espalhadas pela casa, balões em forma de coração e, no chão, um caminho feito de pétalas de rosas seguia até a porta que levava ao quintal que ficava atrás da casa. Segui cuidadosamente pelo caminho até a porta. Abri-a, imaginando o que mais me aguardava atrás daquela porta.
Quando eu achei que estava no fim da surpresa, estava deveras enganada. O quintal estava todo iluminado por varais de luzes e decorado com várias estrelas. No centro, sentado em um banquinho, meu namorado iniciava as primeiras notas da minha música favorita.
Look how they shine for you
And everything you do
Yeah, they were all yellow
Your skin
Oh yeah your skin and bones
Turn into something beautiful
You know you know I love you so
You know I love you so
(Yellow — Coldplay)
Em mim, tudo era felicidade. Aquela música, aquela ocasião, aquela pessoa. Era a minha pessoa favorita do mundo todo, e eu o amava. Tanto que nem sabia mensurar o quanto, mas tudo isso, em meio às lágrimas, só mostrava o quanto era recíproco.
— … Droga! Prometi a mim mesmo que não choraria nesse momento porque quero que tudo saia perfeito pra nós e eu preciso fazer isso direito — ajoelhou-se à minha frente — Quatro anos atrás, eu conheci uma menina, que ainda estava no colégio, mas mantinha uma cabeça cheia de sonhos, encantadora ao seu próprio modo, com o sorriso mais lindo que eu já vi. Por algum acaso do destino, você entrou na minha vida e colocou minha vida bagunçada nos eixos. E, desde então, tudo na minha vida é sobre você, sobre nós. E eu me sinto grato todos os dias por ter te encontrado e por saber que tudo o que sinto é recíproco. Bem, lembro que a primeira vez que ouvimos essa música você me disse que gostaria que ela tocasse em seu casamento, por retratar como é o amor verdadeiro. Não sei se tocará no casamento, mas estou garantindo que ao menos tocou durante o pedido — retirou a caixinha de veludo preto de dentro de seu bolso, tremendo, enquanto eu não conseguia mais segurar as lágrimas de felicidade — Óh, céus, esse monólogo todo é para te fazer um pedido: , aceita se casar comigo?
— Por Deus, . Sim, mil vezes sim! — ele colocou o anel no meu dedo anelar, se levantou e me beijou. O beijo mais delicioso da minha vida. Beijo com gosto de felicidade – e lágrimas.
CAPÍTULO 06 — So Much Has Changed
03 de março de 2015
Cansada.
Era assim que me sentia todos os dias.
Cansada da mesmice que a minha vida se tornara, cansada da rotina em que eu me acomodara a viver. Conforme a minha carreira foi deslanchando, mais responsabilidades me foram delegadas, mais e mais dedicação ao trabalho, menos dedicação ao tempo livre. Acontece que me formei em literatura inglesa e estava muito perto de publicar meu primeiro livro. A editora exigindo muito de mim, quase dedicação exclusiva, e tive que abrir mão de algumas coisas. Percebi agora que talvez, em algum momento dessa trajetória, eu tivesse feito algumas escolhas erradas.
Todos passaram a reclamar dos meus sumiços, dos momentos com amigos que abdiquei para me dedicar a algum evento do meu trabalho. Inclusive . Sim, porque, ao mesmo tempo em que estava alcançando todos os objetivos profissionais, podia dizer que há algum tempo ele já estava em seu auge. A banda lançou seu primeiro CD e alcançou as paradas de sucesso logo na primeira semana. Anunciaram uma grande turnê internacional um tempo depois, com todos os ingressos esgotados em poucas horas. Tudo pelo que nós batalhamos profissionalmente estava se realizando.
Exceto pelo fato de que, com tudo isso acontecendo em nossas vidas – individualmente –, acabamos nos afastando quanto casal. Nunca tivemos um relacionamento perfeito – até porque essa definição não existe –, mas procurávamos conversar sempre que tínhamos algum problema nos corroendo. A solução a curto prazo que havíamos arrumado foi morar juntos, já que, no meio de tanta coisa acontecendo em nossas vidas, os planos para o casamento foram adiados. Até que funcionou no princípio. Ele se mudou para a minha casa – agora nossa – e, por um tempo, as coisas voltaram a se acertar.
Entretanto, ultimamente as brigas se tornaram parte da nossa rotina. Se, no início de tudo, nós dávamos um jeito de poder encaixar nossos horários para poder curtir nossa vida a dois ou para viajar com nossos amigos e/ou família, hoje, no meio daquele furacão, agradecia aqueles momentos de paz, sozinha.
Claro que eu sentia falta de tudo. De quando fugíamos nos nossos dias de folga e fazíamos piqueniques no parque, ou quando viajávamos para cidades vizinhas só pelo prazer de colocar o pé na estrada. Mas o que eu mais sentia falta era do nosso companheirismo, nossa amizade, que também se perdera ao longo do tempo. E o que fazer quando sua vida amorosa estava desmoronando, mas aquele amor ainda existia aceso dentro do seu coração? Pelo jeito, era exatamente como dizem: só o amor não basta para manter uma relação.
***
Estava preparando o jantar quando escutei a porta da sala se abrindo. Percebia a fisionomia cansada de há dias, pois a gravadora exigia que todos os arranjos estivessem prontos antes de iniciar a turnê no próximo mês. Ele se dirigiu às escadas, indo direto para o nosso quarto. Desde a nossa última discussão – há duas semanas – que ele vinha me tratando diferente. Não nos falávamos, não nos tocávamos, não fazíamos sexo.
Agíamos como dois estranhos dentro da nossa casa. Isso me corroía por dentro, e não conseguia evitar que meus olhos ficassem marejados.
Pouco tempo depois, de banho tomado e uma aparência um pouco melhor, ele retornou à cozinha onde estava servindo o jantar. Ele apenas serviu o seu prato, sentou-se à mesa e começou a comer silenciosamente.
— Pela sua aparência, a turnê nem começou e já está sugando toda a sua energia — brinquei, tentando aliviar o clima tenso.
— Sim, o Jason nos faz ensaiar até a exaustão. Estou ficando louco — sua fala exprimiu o quanto aquela semana tinha sido desgastante.
— Imagino, mas mantenha-se firme. É o seu sonho se tornando realidade, como você sempre quis — falei, tentando animá-lo.
— É… Mas eu nunca imaginei que perderia tanta coisa pelo caminho.
— O que quer dizer com isso?
— Nada, . Só estou cansado. Não estou muito a fim de longas conversas.
— Ultimamente você não está a fim de muitas coisas — sorri amarelo, me arrependendo logo em seguida do que disse.
— Sério, ? Quer iniciar uma discussão na hora do jantar?
— Não, . Eu gostaria de ter uma conversa civilizada com meu noivo, mas parece que se torna cada dia mais difícil ter algum tipo de contato com você, mesmo que seja uma simples troca de palavras! — falei, exasperada, de repente despejando todas as angústias que me cercavam nos últimos meses — E desde quando me chama de ? O que houve com todos os apelidinhos?
— Por quê? Por que você não percebe o quanto está sendo difícil para mim também? O tanto de coisa que eu preciso dizer, mas evito na esperança que as coisas possam mudar. Eu venho evitando tanto essa conversa…
— Por quê? É tão ruim assim conversar comigo? Logo comigo, ? — me senti magoada por suas palavras.
— … Minha — ele se levantou, se aproximou e pegou em minha mão — Tenho tanto orgulho de você, de você ter conseguido tudo que almejava. Mas… eu não sei como dizer isso.
— Nossa, já conheço essa composição de palavras — disse, exausta, sabendo o que esperava por mim — Apenas diga a verdade, você me traiu?
— CLARO QUE NÃO! Não seria babaca dessa forma, ainda mais com você.
— Então, , só me diz a verdade, ‘tá bem? O que está acontecendo? Eu não aguento mais viver nesse pé de guerra com você. Isso está nos torturando e acabando conosco e com o nosso relacionamento.
— … É que… Sabe, desde a nossa última briga que eu venho refletindo sobre tudo. Sobre todas as brigas sem nexo, sobre nossas carreiras, nosso relacionamento. Tudo está interligado, e sim, eu percebi o quanto estamos afastados. A verdade estava bem na nossa cara e não conseguimos enxergar isso.
— ...
— , inconscientemente já fizemos nossas escolhas. Tomamos a decisão de seguir nossas carreiras – o que não é nem de longe uma decisão errada. Entretanto, percebi que, ao escolher esse caminho, não estaríamos juntos.
— Não é bem assim, podemos resolver tudo — se aproximou de mim, acariciando meu rosto.
— , quando você fizer a mesma reflexão que eu fiz, vai concordar comigo. Esse relacionamento só existe por nossa própria acomodação. Mas há tempos não somos mais um casal — percebi uma lágrima solitária em seu rosto.
— , você… ‘tá terminando comigo?
— , nosso relacionamento foi lindo mesmo com todos os altos e baixos. Pude aprender tanto contigo ao longo desses quase seis anos juntos – espero que você tenha aprendido um pouco comigo também –, mas, mesmo eu tendo protelado a tomada dessa decisão, é hora de encarar os fatos. Eu te amo, . De verdade e com todo meu coração, mas não é mais do mesmo jeito que deveria ser.
— … Por favor, não faz isso com a gente.
— Meu bem, permanecer nesse ambiente tóxico em que vivemos é o que está nos destruindo de verdade. É o melhor para nós, antes que seja tarde demais e percamos a genuína amizade que construímos. Quando você estiver mais calma e colocar essa cabecinha para pensar, vai ligar os pontos.
— Eu... não queria que fosse assim. Oh, Deus, eu te amo tanto! Mas… todos esses meses, Senhor, era tão difícil de chegar em casa. Fosse pelo silêncio sepulcral de não tê-lo aqui ou pelas gritarias eternas causadas por nossas brigas…
— Relaxa, baby, tudo se acertará para nós. Você, uma escritora renomada com muitos best-sellers, e, eu ganhando muito grammys. Estarei torcendo por você, assim como espero que faça o mesmo por mim, mocinha — e sorriu, aquele que costumava ser o meu sorriso.
— Claro que sim, mesmo você não merecendo, às vezes — sorri em resposta — E agora, como faremos?
— Bem, se não se importar, permanecerei essa noite aqui – no quarto de hóspedes – e, pela manhã, levarei algumas coisas comigo. Talvez eu fique na casa do Will por um tempo até eu me estabelecer.
— Claro que não me importo! É só que… essa casa ficará muito silenciosa sem o som o do seu violão ao fundo.
— Bobinha, venho te visitar e trago um trompete no caso de você saudades do meu barulho — e gargalhou, sendo esta a última vez que sua voz ressoara naquela casa.
Cansada.
Era assim que me sentia todos os dias.
Cansada da mesmice que a minha vida se tornara, cansada da rotina em que eu me acomodara a viver. Conforme a minha carreira foi deslanchando, mais responsabilidades me foram delegadas, mais e mais dedicação ao trabalho, menos dedicação ao tempo livre. Acontece que me formei em literatura inglesa e estava muito perto de publicar meu primeiro livro. A editora exigindo muito de mim, quase dedicação exclusiva, e tive que abrir mão de algumas coisas. Percebi agora que talvez, em algum momento dessa trajetória, eu tivesse feito algumas escolhas erradas.
Todos passaram a reclamar dos meus sumiços, dos momentos com amigos que abdiquei para me dedicar a algum evento do meu trabalho. Inclusive . Sim, porque, ao mesmo tempo em que estava alcançando todos os objetivos profissionais, podia dizer que há algum tempo ele já estava em seu auge. A banda lançou seu primeiro CD e alcançou as paradas de sucesso logo na primeira semana. Anunciaram uma grande turnê internacional um tempo depois, com todos os ingressos esgotados em poucas horas. Tudo pelo que nós batalhamos profissionalmente estava se realizando.
Exceto pelo fato de que, com tudo isso acontecendo em nossas vidas – individualmente –, acabamos nos afastando quanto casal. Nunca tivemos um relacionamento perfeito – até porque essa definição não existe –, mas procurávamos conversar sempre que tínhamos algum problema nos corroendo. A solução a curto prazo que havíamos arrumado foi morar juntos, já que, no meio de tanta coisa acontecendo em nossas vidas, os planos para o casamento foram adiados. Até que funcionou no princípio. Ele se mudou para a minha casa – agora nossa – e, por um tempo, as coisas voltaram a se acertar.
Entretanto, ultimamente as brigas se tornaram parte da nossa rotina. Se, no início de tudo, nós dávamos um jeito de poder encaixar nossos horários para poder curtir nossa vida a dois ou para viajar com nossos amigos e/ou família, hoje, no meio daquele furacão, agradecia aqueles momentos de paz, sozinha.
Claro que eu sentia falta de tudo. De quando fugíamos nos nossos dias de folga e fazíamos piqueniques no parque, ou quando viajávamos para cidades vizinhas só pelo prazer de colocar o pé na estrada. Mas o que eu mais sentia falta era do nosso companheirismo, nossa amizade, que também se perdera ao longo do tempo. E o que fazer quando sua vida amorosa estava desmoronando, mas aquele amor ainda existia aceso dentro do seu coração? Pelo jeito, era exatamente como dizem: só o amor não basta para manter uma relação.
Estava preparando o jantar quando escutei a porta da sala se abrindo. Percebia a fisionomia cansada de há dias, pois a gravadora exigia que todos os arranjos estivessem prontos antes de iniciar a turnê no próximo mês. Ele se dirigiu às escadas, indo direto para o nosso quarto. Desde a nossa última discussão – há duas semanas – que ele vinha me tratando diferente. Não nos falávamos, não nos tocávamos, não fazíamos sexo.
Agíamos como dois estranhos dentro da nossa casa. Isso me corroía por dentro, e não conseguia evitar que meus olhos ficassem marejados.
Pouco tempo depois, de banho tomado e uma aparência um pouco melhor, ele retornou à cozinha onde estava servindo o jantar. Ele apenas serviu o seu prato, sentou-se à mesa e começou a comer silenciosamente.
— Pela sua aparência, a turnê nem começou e já está sugando toda a sua energia — brinquei, tentando aliviar o clima tenso.
— Sim, o Jason nos faz ensaiar até a exaustão. Estou ficando louco — sua fala exprimiu o quanto aquela semana tinha sido desgastante.
— Imagino, mas mantenha-se firme. É o seu sonho se tornando realidade, como você sempre quis — falei, tentando animá-lo.
— É… Mas eu nunca imaginei que perderia tanta coisa pelo caminho.
— O que quer dizer com isso?
— Nada, . Só estou cansado. Não estou muito a fim de longas conversas.
— Ultimamente você não está a fim de muitas coisas — sorri amarelo, me arrependendo logo em seguida do que disse.
— Sério, ? Quer iniciar uma discussão na hora do jantar?
— Não, . Eu gostaria de ter uma conversa civilizada com meu noivo, mas parece que se torna cada dia mais difícil ter algum tipo de contato com você, mesmo que seja uma simples troca de palavras! — falei, exasperada, de repente despejando todas as angústias que me cercavam nos últimos meses — E desde quando me chama de ? O que houve com todos os apelidinhos?
— Por quê? Por que você não percebe o quanto está sendo difícil para mim também? O tanto de coisa que eu preciso dizer, mas evito na esperança que as coisas possam mudar. Eu venho evitando tanto essa conversa…
— Por quê? É tão ruim assim conversar comigo? Logo comigo, ? — me senti magoada por suas palavras.
— … Minha — ele se levantou, se aproximou e pegou em minha mão — Tenho tanto orgulho de você, de você ter conseguido tudo que almejava. Mas… eu não sei como dizer isso.
— Nossa, já conheço essa composição de palavras — disse, exausta, sabendo o que esperava por mim — Apenas diga a verdade, você me traiu?
— CLARO QUE NÃO! Não seria babaca dessa forma, ainda mais com você.
— Então, , só me diz a verdade, ‘tá bem? O que está acontecendo? Eu não aguento mais viver nesse pé de guerra com você. Isso está nos torturando e acabando conosco e com o nosso relacionamento.
— … É que… Sabe, desde a nossa última briga que eu venho refletindo sobre tudo. Sobre todas as brigas sem nexo, sobre nossas carreiras, nosso relacionamento. Tudo está interligado, e sim, eu percebi o quanto estamos afastados. A verdade estava bem na nossa cara e não conseguimos enxergar isso.
— ...
— , inconscientemente já fizemos nossas escolhas. Tomamos a decisão de seguir nossas carreiras – o que não é nem de longe uma decisão errada. Entretanto, percebi que, ao escolher esse caminho, não estaríamos juntos.
— Não é bem assim, podemos resolver tudo — se aproximou de mim, acariciando meu rosto.
— , quando você fizer a mesma reflexão que eu fiz, vai concordar comigo. Esse relacionamento só existe por nossa própria acomodação. Mas há tempos não somos mais um casal — percebi uma lágrima solitária em seu rosto.
— , você… ‘tá terminando comigo?
— , nosso relacionamento foi lindo mesmo com todos os altos e baixos. Pude aprender tanto contigo ao longo desses quase seis anos juntos – espero que você tenha aprendido um pouco comigo também –, mas, mesmo eu tendo protelado a tomada dessa decisão, é hora de encarar os fatos. Eu te amo, . De verdade e com todo meu coração, mas não é mais do mesmo jeito que deveria ser.
— … Por favor, não faz isso com a gente.
— Meu bem, permanecer nesse ambiente tóxico em que vivemos é o que está nos destruindo de verdade. É o melhor para nós, antes que seja tarde demais e percamos a genuína amizade que construímos. Quando você estiver mais calma e colocar essa cabecinha para pensar, vai ligar os pontos.
— Eu... não queria que fosse assim. Oh, Deus, eu te amo tanto! Mas… todos esses meses, Senhor, era tão difícil de chegar em casa. Fosse pelo silêncio sepulcral de não tê-lo aqui ou pelas gritarias eternas causadas por nossas brigas…
— Relaxa, baby, tudo se acertará para nós. Você, uma escritora renomada com muitos best-sellers, e, eu ganhando muito grammys. Estarei torcendo por você, assim como espero que faça o mesmo por mim, mocinha — e sorriu, aquele que costumava ser o meu sorriso.
— Claro que sim, mesmo você não merecendo, às vezes — sorri em resposta — E agora, como faremos?
— Bem, se não se importar, permanecerei essa noite aqui – no quarto de hóspedes – e, pela manhã, levarei algumas coisas comigo. Talvez eu fique na casa do Will por um tempo até eu me estabelecer.
— Claro que não me importo! É só que… essa casa ficará muito silenciosa sem o som o do seu violão ao fundo.
— Bobinha, venho te visitar e trago um trompete no caso de você saudades do meu barulho — e gargalhou, sendo esta a última vez que sua voz ressoara naquela casa.
CAPÍTULO 07 — Without You
24 de deezembro de 2016
— Tia , corta um pedaço de torta para mim? — o pequeno Sam – filho de Janet, irmã de Olivia – me pediu, com a carinha toda suja de chocolate.
— Claro, meu bem. Mas antes vamos limpar o seu rostinho para sua mãe não vir brigar com a gente, certo?
— Certo! — sorriu, fazendo cara de sapeca.
Olivia me convidou para passar a véspera de Natal junto com a sua família, aqui em Londres. Ollie casou-se com Harry no início daquele ano, em uma cerimônia maravilhosa em uma capela de Manchester. Foi o primeiro contato com depois de quase um ano do nosso término. Depois daquele dia, ele se mudou para um apartamento e, em seguida, embarcou para sua gigantesca turnê. E, como previsto, foi sucesso nos quatro cantos do mundo, com direito a menininhas chorando na porta do hotel. Conquistou tudo que desejou na sua carreira, incluindo grammy de melhor artista revelação. A promessa de mantermos contato e amizade permaneceu apenas como promessa. Pelo menos comigo, já que a amizade com Olivia e Harry permanecia intacta até hoje.
Eu nunca concordei tanto com uma pessoa como na noite em que terminamos. Claro que ali, em sua frente, eu me mantive forte e fingi que concordava. Mas bastou ele se retirar daquela casa – para sempre – para que a realidade se abatesse sobre mim e que eu o tinha perdido. Foram cinco dias de bebedeira e autodepreciarão para finalmente Ollie – minha salvadora – fizesse uma intervenção. Depois de um banho e uma longa conversa, eu finalmente aceitei. Aquele foi o fim mais digno que eu poderia ter, considerando o poço sem fundo que aquela relação havia se tornado.
Aceitei o fim.
Aceitei que ele estava certo.
Aquilo não era mais saudável para nenhum de nós.
Segui em frente, lancei meu livro, que se tornou o livro mais vendido do ano no UK. Mas decidi que não abdicaria das horas de lazer com meus amigos para me dedicar apenas ao trabalho. Após o sucesso do meu livro, fui visitar meu pai em Madrid e conheci sua nova família. Visitei algumas cidades espanholas, aproveitei muito das praias e tudo que a Espanha podia me oferecer.
Para não dizer que a única vez que tive contato com foi no casamento de Ollie e Harry, ele costumava me enviar presentes no meu aniversário. Sempre o presente, sem nenhum cartão. Mas eu sabia que era dele. Eram presentes muito pessoais, e que apenas ele saberia.
Podia dizer hoje, com todas as palavras, que eu o superei. Mas ainda sentia sua falta, que se intensificava em datas comemorativas, como hoje.
Véspera de Natal.
sempre odiou o inverno, porque ele sempre ficava doente muito facilmente. Entretanto, quando chegava a época natalina, seus olhos brilhavam. Costumávamos patinar, fazer guerras de bola de neve, construir bonecos. Quando nevava, ficávamos como duas criancinhas tentando pegar os flocos de neve. Boas lembranças.
No final das contas, ele tinha razão.
— Tia , corta um pedaço de torta para mim? — o pequeno Sam – filho de Janet, irmã de Olivia – me pediu, com a carinha toda suja de chocolate.
— Claro, meu bem. Mas antes vamos limpar o seu rostinho para sua mãe não vir brigar com a gente, certo?
— Certo! — sorriu, fazendo cara de sapeca.
Olivia me convidou para passar a véspera de Natal junto com a sua família, aqui em Londres. Ollie casou-se com Harry no início daquele ano, em uma cerimônia maravilhosa em uma capela de Manchester. Foi o primeiro contato com depois de quase um ano do nosso término. Depois daquele dia, ele se mudou para um apartamento e, em seguida, embarcou para sua gigantesca turnê. E, como previsto, foi sucesso nos quatro cantos do mundo, com direito a menininhas chorando na porta do hotel. Conquistou tudo que desejou na sua carreira, incluindo grammy de melhor artista revelação. A promessa de mantermos contato e amizade permaneceu apenas como promessa. Pelo menos comigo, já que a amizade com Olivia e Harry permanecia intacta até hoje.
Eu nunca concordei tanto com uma pessoa como na noite em que terminamos. Claro que ali, em sua frente, eu me mantive forte e fingi que concordava. Mas bastou ele se retirar daquela casa – para sempre – para que a realidade se abatesse sobre mim e que eu o tinha perdido. Foram cinco dias de bebedeira e autodepreciarão para finalmente Ollie – minha salvadora – fizesse uma intervenção. Depois de um banho e uma longa conversa, eu finalmente aceitei. Aquele foi o fim mais digno que eu poderia ter, considerando o poço sem fundo que aquela relação havia se tornado.
Aceitei o fim.
Aceitei que ele estava certo.
Aquilo não era mais saudável para nenhum de nós.
Segui em frente, lancei meu livro, que se tornou o livro mais vendido do ano no UK. Mas decidi que não abdicaria das horas de lazer com meus amigos para me dedicar apenas ao trabalho. Após o sucesso do meu livro, fui visitar meu pai em Madrid e conheci sua nova família. Visitei algumas cidades espanholas, aproveitei muito das praias e tudo que a Espanha podia me oferecer.
Para não dizer que a única vez que tive contato com foi no casamento de Ollie e Harry, ele costumava me enviar presentes no meu aniversário. Sempre o presente, sem nenhum cartão. Mas eu sabia que era dele. Eram presentes muito pessoais, e que apenas ele saberia.
Podia dizer hoje, com todas as palavras, que eu o superei. Mas ainda sentia sua falta, que se intensificava em datas comemorativas, como hoje.
Véspera de Natal.
sempre odiou o inverno, porque ele sempre ficava doente muito facilmente. Entretanto, quando chegava a época natalina, seus olhos brilhavam. Costumávamos patinar, fazer guerras de bola de neve, construir bonecos. Quando nevava, ficávamos como duas criancinhas tentando pegar os flocos de neve. Boas lembranças.
No final das contas, ele tinha razão.
Fim
Nota da autora: Oi lindinhas!! Foi lindo escrever essa história, e espero que vocês gostem tanto o quanto eu gostei de escrevê-la. Quando eu escolhi, eu já tava com a história toda prontinha na minha cabeça, só que com mais capítulos. Mas a universidade me impediu de escrever tudo. Outra curiosidade, eu iria matar o PP, mas fiquei com uma pena dele e me imaginei quanto leitora que isso seria doloroso demais. Então o final foi totalmente diferente. É isso, qualquer coisa, crítica é só comentar. XX
Outras fanfics:
Ficstape Evolve: 08. Mouth of the River
Ficstape Awesome Mix - Guardians of the Galaxy Vol.01: 07. I Want You Back
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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