Última atualização: 13/09/2018

Capítulo Único

Baby came home today
(Minha querida veio pra casa hoje)
She told me to stay away
(Me disse pra ficar longe)
She told me her man was afraid
(Ela disse que o homem dela estava com medo)
She told me I better behave
(Me disse que é melhor eu me comportar)

Quase duzentos anos de existência para descobrir o amor, e o que lhe acontece?
Ele simplesmente desaparece por ser incapaz de lidar com um pequeno detalhe.
Quem não tem segredos? – Pensou revoltado, magoado, indeciso e tentado enquanto encarava a belíssima ruiva desacordada em seu sofá de couro preto.
- Inferno! – Praguejou, agoniado, enquanto se afastava da mulher e fechava os olhos escuros, massageando a têmpora como se realmente houvesse uma dor de cabeça.
Ele odiava o sentimento que corroía o seu morto coração, mas, naquele momento, parecia mais vivo do que nunca. Jurava ter sido capaz de ouvir até algumas batidas – riu debochadamente com o pensamento mais absurdo de todos.
Ficaria louco a qualquer momento, ou já estava.
Sabia que seu juízo havia ido para as cucuias quando não escolheu cravar suas presas afiadas na carne macia e quente da sua amada – agora, odiada. Poderia ter se deliciado com cada gotinha do sangue quente que corria pelas veias dela, mas foi impedido por sua beleza angelical.
E que de anjo não tinha nada.
Fazia mais de um século desde que abandonou a sua humanidade e passou a drenar a vida de belas mulheres. Viveu anos suficientes para presenciar casais apaixonados, separados. Cruzou o caminho de pessoas que exalavam o amor, a paixão por seus poros e, até mesmo, na própria corrente sanguínea. Presenciou fatos que comprovavam que amor era pura furada e, mesmo assim, lá estava ele apaixonado por uma mulher que não foi capaz de suportar o seu segredo.
Todos têm segredos. Alguns escondem que fizeram cirurgias plásticas ou a verdadeira idade, como se fossem muito mais novos. E com ele era quase a mesma coisa, tinha apenas duzentos e dez anos.
Apenas isso.
E, claro, preferia um pescoço quentinho ao invés de uma pizza portuguesa.
Só isso... um mero segredinho.
Poderia estar curtindo a sua eternidade tranquilamente, mas lá estava ele lutando contra o seu inerte coração e seus instintos.
Andou de um lado ao outro da sala do pequeno apartamento enquanto tentava se acalmar. Parecia transtornado enquanto ouvia as batidas do coração que achou ser o seu, mas era apenas o da vítima. Sabia que tinha duas opções: sugar todo o sangue da jovem ou deixá-la ir embora em paz, mas ele não sabia o que fazer.
Perder foi como perder o seu próprio rumo.
Sabia como se chamava, mas não sabia dizer quem era.
Ele queria apenas parar de pensar nela e se deliciar na sua velha vida, mas ele não era tão forte assim. Queria curtir os milhares de pescoços que estavam circulando pelo seu futuro. Só não era capaz disso.
Amava a mulher com todas as forças e só queria ser apenas um namorado normal. Não achava necessário que ela soubesse do seu segredo. Ele queria apenas fazê-la feliz e seguir o seu eterno futuro, mas ela não quis assim.
- O que eu faço? – Perguntou para si mesmo enquanto observava a mulher se mexer durante o profundo sono.
Quebraria sua própria promessa?
E se voltasse?
Conseguiria estar com ela mesmo depois de ter drenado aquela mulher até a morte? Como ela confiaria no seu próprio autocontrole? Seria digno de agir como um namorado humano e normal?
Diversos questionamentos e apenas uma escolha.
Observou as suas mãos pálidas e frias que estavam limpas fisicamente, mas através dos seus próprios olhos era capaz de enxergar todo o sangue das vítimas que passou por elas.
Poderia culpar sua amada por ter partido?
Observou a ruiva e se aproximou silenciosamente, ajoelhando-se em frente a ela. O seu aroma suave impregnando as suas narinas e todo o ambiente. Conseguia ouvir a respiração e as batidas tranquilas do coração. Inspirou o cheiro com a boca salivando, olhos fechados, curtindo cada segundo da expectativa em saborear aquele líquido quentinho e salgado escorrendo por sua língua.
Seria o paraíso...
Não. Não seria.
sabia que o seu verdadeiro paraíso era ao lado da sua amada. Nem mesmo a sede ou um estoque infinito de sangue seria capaz de lhe trazer a verdadeira felicidade. Ele sabia que hoje poderia ter a felicidade.
Ao lado de conquistou a sua humanidade.
E perdeu.
Perdeu a amada e toda a falsa humanidade que fingiu ter por ela.
A partir daquele momento, tomou uma decisão. Na verdade, bem lá no fundo, sabia que jamais seria capaz de quebrar a sua própria promessa. Iria esperar por sua amada pacientemente, pois acreditava que ela iria voltar para ele.
Ela voltaria para a casa deles.
Poderia não saber disso, mas ela era dele e apenas dele.
E, ali, em frente aquela desconhecida mulher, decidiu continuar lutando contra os seus instintos. Não tocaria naquela mulher ou em qualquer outra.
Ergueu-se novamente, caminhou até a janela e abriu-a, pulando-a com movimentos ágeis, como de um gato, e subiu no telhado, sentando ali e admirando a bela Lua que só lhe lembrava da sua amada.

I think if you found her
(Acho que se você a encontrasse)

That even you would know
(Até você saberia)

She's mine, she's mine
(Ela é minha, ela é minha)

That girl is mine, she's mine, ooh
(Aquela garota é minha, ela é minha, ooh)


FIM



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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