- Então está terminado mesmo?
- Está...
- Você tem certeza?
- Tenho...
- Não vai me ligar no meio da noite?
- Não.
- Então tudo bem. Eu vou sair por essa porta e você não vai poder voltar atrás. Eu não quero saber de ligações suas no meio da noite, desesperada, falando que está arrependida, e nem quero saber de visitas inesperadas.
- Eu não vou fazer isso.
E então o garoto foi embora. Ele era , meu namorado. Ou melhor, ex-namorado. A garota, por algum acaso, era eu, . Ele falava aquelas coisas por causa das nossas brigas anteriores. Eu sempre falava que queria terminar, mas, à noite, quando eu via que me sentia sozinha sem ele, voltava atrás, discava seu número e falava que não queria terminar mais. Mas, daquela vez, eu não iria fazer isso. Eu estava decidida que iríamos terminar.
Sabe quando a relação fica desgastada? Brigas por qualquer motivo, nenhum dos dois sente mais aquele fogo do início do namoro? Era exatamente assim que andava o nosso namoro. Por isso eu sempre queria terminar, mas era quase impossível. Eu tinha esperado demais e meu namorado era quase necessário pra minha vida. Mas, como já disse, daquela vez seria diferente.
Depois que saiu, resolvi que organizaria a minha vida. Peguei todas as nossas fotos, bilhetes e presentes e coloquei dentro de uma caixa. Guardei-a na prateleira mais alta da minha estante para que eu evitasse vê-la e ficar tentada a pegá-la.
Saí de casa e fui jantar. Eu não sabia ao certo em qual restaurante eu iria. Queria uma coisa mais casual, um lugar onde eu pudesse conhecer outra pessoa. Acabei me decidindo por um restaurante alemão que estava ali por perto.
- Eu quero um Dry Martini, por favor. – Pedi para o barman quando me sentei.
- Quantos anos a senhorita tem mesmo? – Ele me retornou. Malditas roupas. Usar tênis com calça jeans nunca ajudou ninguém a parecer mais velho.
- Vinte e um. Por quê?
- Identidade, por favor. – Comecei a olhar dentro da minha bolsa. Não estava lá.
- Olha, eu não trouxe, mas pode confiar em mim. Eu tenho vinte e um anos.
- Perdão. Sem identidade, sem bebida.
- Que droga. – Revirei os olhos e fiquei de costas para ele, que ria.
- Então vamos fazer assim... – Ouvi a voz do rapaz. – Eu abro uma exceção pra senhorita se a senhorita me abrir uma exceção.
- Abrir exceção você quer dizer abrir as pernas? Não, obrigada. Eu prefiro ficar sem o meu Dry Martini.
- Calma, gata. Não precisa ser tão... – Imitou um barulhinho de gato. – Arisca.
- Olha, querido... – Minha voz subiu de tom. – Eu não vim aqui para falar com você. Eu queria comer e beber um pouco. Já que não vai dar, eu vou...
- Ele está te incomodando? – Um rapaz alto, de olhos e cabelo apareceu do meu lado.
- Um pouco. – Respondi.
- Quantas vezes já falei que não é para dar em cima das clientes? – Perguntou ao barman. Percebi um leve sotaque em sua fala. – Pode ir atender outros. Eu cuido dela.
- Eu sou . – Estendeu a mão para mim. – E peço perdão pelo meu barman. Ele tem problemas com garotas bonitas.
- Ah, tudo bem. – Sorri e peguei em sua mão. – Eu sou .
- Quer beber alguma coisa? – Se sentou ao meu lado.
– Eu queria um Dry Martini, mas eu esqueci minha identidade, então eu vou querer uma Coca-Cola, mesmo.
- Bom... Eu vou fechar meus olhos para sua aparência de adolescente. – Fiz cara de espantada e ele riu. – E vou te dar um Dry Martini.
- Obrigada. – Sorri. – E, confie em mim, eu tenho vinte e um anos.
- Eu já disse que vou fechar meus olhos para sua idade. – Ele pegou um copo com outro barman, que rapidamente preparou minha bebida, e em seguida me entregou. – Aqui está.
- Obrigada. – Levei até a boca.
- Quer comer algo?
- Bom, eu não conheço muito a culinária alemã, então eu não sou a melhor pessoa para pedir alguma coisa, sabe...
- Vamos ver o que eu posso te oferecer então... – Arqueou uma sobrancelha, pensativo. – Gosta de repolho?
- Honestamente? – Enruguei o nariz. – Não muito.
- Olha... Você já facilitou minha escolha. Já eliminou metade do cardápio. – Riu. – Vou pedir pra você um prato de Wurstsalat. O que acha?
- Se eu soubesse o que é isso... – Sorri. – Poderia dar minha opinião.
- Salsicha, cebola, azeite, sal e pimenta no pão de centeio. E, olha, se você não gostar de salsicha, infelizmente vai ficar com fome. É a outra metade do meu cardápio. – Ele me fez rir.
- Não... Salsicha está dentro das minhas opções, sabe...
- Então pode ser isso mesmo?
- Com uma condição.
- Pode falar. – Ficou de pé.
- Você vai ter que se sentar comigo. – Pedi.
- Não sei se eu posso.
- Vamos lá... – Segurei em seu ombro. – É tão coisa de fracassado ficar bebendo sozinho no bar. Eu não quero ficar sozinha e você também não.
- A questão não é essa. – Mais uma vez percebi seu sotaque. – Eu tenho que ficar andando por aqui. Não é tão fácil quanto parece ser dono de um restaurante.
- Você é dono daqui?
- Sou. – Sorriu.
- Então eu não vou mais te encher. – Soltei seu ombro. – Eu vou parar de te atrapalhar. Prometo.
- Então vamos combinar assim... – Se sentou ao meu lado. – Eu faço companhia para você enquanto eu puder, mas quando eu precisar ir, você não vai falar nada.
- Combinado. – Abri um grande sorriso.
Ficamos conversando sobre diversas coisas enquanto esperávamos a comida chegar. me contou que era inglês de nascimento, mas que, ainda pequeno, tinha ido morar na Alemanha, lugar de onde toda sua família era. Me contou também que decidira abrir o restaurante porque ele tinha vontade de conhecer melhor sua cidade natal e, para permanecer em Londres, precisaria de um sustento e nada melhor do que um restaurante de comida que era acostumado a comer para matar um pouco as saudades.
Aproveitei também para contar um pouco da minha vida, das coisas que eu fazia. Falei da faculdade e do pequeno emprego que eu tinha em um escritório de publicidade. Nada de muito especial, mas me ajudava a pagar o aluguel. Contei que era inglesa e que era muito raro eu sair de Londres. Acabei desabafando com o cara que eu mal conhecia, falando dos meus problemas e do meu recente término com . Confessei que estava mal e ele tentou me acalmar, dizendo que tudo ficaria bem e era normal beber muito nos primeiros dias. Só então olhei para os meus copos. Eram sete. Sete copos de Dry Martini sobre o balcão. Por sorte eu tinha comido alguma coisa, caso contrário, eu estaria ainda mais bêbada.
Olhei para o relógio. Mesmo com a visão um pouco embaçada por causa do álcool, percebi que já era quase uma da manhã. Estava na hora de eu deixar trabalhar. Me levantei cambaleante e, me despedindo com um aceno leve, saí do restaurante.
Fui andando até minha casa. Não era longe, mas o caminho era definitivamente mais longo para mim, uma vez que eu estava bêbada.
Ainda tonta, abri a porta da sala e, com a intenção de não cair, apoiei-me na primeira coisa que apareceu. Infelizmente, era minha estante. O pé dela não estava muito bom e, dessa forma, ela cambaleou comigo e isso fez aquela caixa que eu tinha colocado ali mais cedo cair. Meus olhos se encheram de lágrimas quando vi a primeira foto que caiu. Saí rapidamente da sala em direção ao meu quarto. Me enfiei embaixo do chuveiro e tomei um banho frio, tentando eliminar o máximo de álcool possível do meu organismo.
Depois do banho, coloquei meu pijama e tomei coragem para encarar as fotos e as lembranças espalhadas pelo chão.
Pictures, perfect memories scattered all around the floor (Imagens, memórias perfeitas espalhadas por todo o chão)
Reaching for the phone ‘cause I cant fight it anymore (Buscando o telefone porque eu não consigo mais lutar)
And I wonder if I ever cross your mind (E eu penso se eu já passei pela sua cabeça)
For me it happens all the time (Porque comigo acontece o tempo todo)
Me sentei entre toda a bagunça esparramada. Elas só me traziam as melhores lembranças. Momentos em que eu senti a mais pura felicidade, momentos em que eu me senti amada de verdade. Algumas fotos eram simples, fotos que tirávamos para guardar para mostrar, no futuro, para nossos filhos como nós tínhamos nos amado.
Uma foto em especial fez minhas lágrimas começarem a rolar com mais intensidade. Nós estávamos em um parque. As folhas amareladas de outono cobriam as árvores. estava com um casaco preto e eu estava com um sobretudo marrom, com meu cachecol rosa para dentro dele e um gorro colorido cobria meus cabelos que estavam com as pontas levantadas pelo vento. Minhas mãos cobertas pelas luvas da mesma cor do cachecol estavam pousadas em seus ombros, enquanto eu sorria abertamente. Ele, por sua vez, não estava olhando para a câmera. Seus lábios estavam sobre a minha bochecha e era aquele gesto o motivo do meu grande sorriso.
Era impressionante, mas eu conseguia reviver aquele momento na minha cabeça quantas vezes fossem necessárias, porque, apesar de tudo que acontecera, aquele tinha sido um dos melhores dias da minha vida.
- Pára com isso, ! – Eu gritava enquanto ria. – Eu quero tomar meu sorvete, amor! Por que você não pediu um pra você? – Eu tentava terminar em paz o meu sorvete de morango.
- , quem disse que eu quero seu sorvete? – Ele girava ao meu redor enquanto eu tentava quase que inutilmente me desviar de seus braços que, sempre mais forte do que os meus, me prendiam.
- Por que então você está me segurando e vindo com essa sua língua enorme na minha direção?
- Hm, então eu tenho uma língua enorme? – Ele parou de me prender e deu um sorriso malicioso. – Eu sei o que eu poderia fazer com ela.
- Ai, seu pervertido. – Dei um tapa em seu braço e me virei, continuando a tomar meu sorvete.
- Credo, . – Ele me abraçou pela cintura e apoiou seu queixo em meu ombro. – Eu não pensei nada demais. – Me virei para ele, jogando a casquinha, já vazia, na lixeira que estava ao nosso lado. Coloquei minhas mãos, cobertas com a luva cor-de-rosa que combinavam com o meu cachecol, sobre seu ombro, olhando para dentro dos seus olhos. Eram os olhos mais bonitos que eu poderia imaginar. – Sabia que eu não consigo mais imaginar minha vida sem essa garota linda que resolve tomar sorvete em pleno outono?
- Sério? – Não pude evitar sorrir. Percebi também que um daqueles fotógrafos de parque, que sempre registravam os melhores momentos e então cobravam por eles, estava se aproximando. – Mas então... O que você pode fazer com a sua língua enorme?
- Quer saber de verdade? – Seus olhos se iluminaram e então ele me lambeu. Fiz uma careta e vi um flash em nossa direção.
- Que nojo, ! – Berrei.
- Hm, amor, você sabe que você é uma delícia. – Foi então que seus lábios pousaram sobre meu rosto e eu sorri abertamente. Mais um flash em nossa direção. – Eu vou querer ver essas fotos. – Sussurrou em meu ouvido.
- Eu vou querer distância dessas fotos, se você quer saber a verdade. – Revirei meus olhos enquanto me soltava de seus braços. Arrumei minha roupa e meu gorro. Logo depois, segui , que já observava as fotos junto ao fotógrafo.
- Quanto é cada uma?
- Cada uma é cinco libras. – O fotógrafo respondeu a pergunta do meu namorado.
- Cinco libras?! – Me espantei. – Amor, você não vai comprar isso! É muito caro.
- Claro que eu vou comprar, amor. E vou comprar as duas. Uma pra ficar com você e uma pra ficar comigo. – Entregou o dinheiro. – Obrigado. Qual você quer?
- Ah! Já que você já comprou mesmo... Eu vou querer a foto que você está me beijando, não me lambendo.
- Que bom! – Seu rosto se iluminou. – Eu queria a que eu estava te lambendo.
Nós dois rimos e, então, saímos do parque para irmos para minha casa. Lá, para variar, nós brigamos. Era sempre assim, depois de um dia maravilhoso, nós tínhamos uma briga terrível e eu acabava por mandá-lo sair da minha casa. O motivo da briga tinha sido a minha indecisão. Eu nunca sabia o que fazer, qual emprego aceitar, se eu queria continuar no meu curso, se eu queria ir morar com ele, dentre diversas outras coisas.
- Você sabe o que você quer por acaso, ? Sabe? Porque eu não sei! Me desculpe se eu sou uma pessoa comum, que erra, se confunde e volta atrás. Me desculpe por isso.
- A questão não é se eu sei o que eu quero. Eu sei o que eu quero. – Ele me pegou pelos ombros. – Eu sei o que eu quero porque eu tenho nas minhas mãos nesse instante. – Respirou fundo. Ele sabia que citar as frases do meu filme preferido, PS: Eu Te Amo, sempre me amolecia. – Você sabe? Você sabe o que você quer? Porque é melhor você me dizer se eu não for o que você quer.
- Ou o quê? – Resolvi entrar na brincadeira. Eu estava completamente amolecida, mas, já que ele estava tocando no meu ponto fraco, porque não usar minha fraqueza contra ela mesma? Eu sabia de cor as frases do filme e, aproveitando a raiva que, mesmo em menor quantidade, corria em mim, eu poderia mandá-lo para fora da minha casa, da forma que eu queria falar antes dele citar as falas do Gerard Butler. – Você vai embora?
- Você quer que eu vá?
- Se você quiser.
- Não me use como desculpa. Eu vou se você quiser. - Ele tinha mesmo decorado
- Então vá se você quiser. – Arqueei uma sobrancelha, ainda presa pelos ombros.
- Não me obrigue!
- Se você quiser ir, é só dizer tchau! – Me soltei dele, virando as costas e cruzando meus braços.
Então ele saiu do meu apartamento. Eu sabia que ele nunca iria aceitar brigar comigo se fingindo de irlandês. Isso teria que ser, para sempre, a minha fantasia. Algum tempo se passou. Eu estava sentindo falta de uma coisa. No filme, Gerry sempre voltava para Holy. não estava voltando para mim. Meus olhos começavam a se encher de lágrimas quando eu ouvi o barulho da maçaneta se virando.
- Acabamos, amor? Eu posso voltar? – Agora sim. Essa era a cena que eu me lembrava.
- Pode. – Eu me virei para ele e corri para seus braços. Naquele momento, eu me sentia a própria Holy. – Me desculpe. Me desculpe.
- Me desculpe, amor. Me desculpe. – Ele me beijou. – Eu só queria que você fosse mais decidida. – Nossa brincadeirinha, que não era tão de brincadeira assim, tinha acabado. - Você tem que aprender a tomar certas decisões. Não pode continuar dependendo de mim para tudo e não pode ficar dividida para sempre.
- Eu sei. Me desculpe. – Segurei em sua nunca e beijei-o com paixão. – Eu tomei uma decisão agora. Eu decidi que não iria cair nos seus braços quando você começou a citar o filme. Eu estou aprendendo, não estou? – Minhas lágrimas começaram a rolar.
- Está, meu bem. – Me deu um selinho. – Eu vi que você continuou as falas. Você foi perfeita. Você está aprendendo a se decidir, a não ser tão vulnerável e eu te amo por isso. Você sabe que eu te amo?
- Eu também te amo, . Eu vou sempre te amar. Me desculpe por ser indecisa e sem pulso às vezes. Eu vou melhorar por você. Eu prometo.
- Não precisa pedir desculpas. Eu te amo. – Me segurou pela cintura e olhou em meus olhos. – Do jeito que você é.
Nossas brigas sempre terminavam assim. Era geralmente muito barulhenta, cheia de gritos e ele geralmente terminava do lado de fora do meu apartamento. Em raros casos, quando ele se lembrava da minha paixão por cinema, conseguia pensar em alguma frase que se encaixasse e me fazia amolecer, conseguindo acabar nossa briga rapidamente. Na maioria das vezes, ele saia pela porta e nossa briga só terminava quando eu, no meio da noite, ligava para ele ou simplesmente aparecia na porta da sua casa.
Não que eu tivesse ignorado as outras fotos que estavam perto de mim, mas eu estava especialmente concentrada na foto do parque. Eu nunca tirara uma foto tão bonita e tão espontânea com . Todas me traziam uma lembrança, mas aquele dia tinha me marcado, principalmente por eu ter percebido que ele realmente se preocupava e se interessava por mim a ponto de decorar frases do meu filme preferido.
Vi uma lágrima caindo sobre o papel brilhante e, o mais rápido que pude, o sequei para não danificá-lo e coloquei de lado, já pressentindo o que viria a seguir. Em pouco tempo, eu estava com o rosto enfiado em meus joelhos, molhando exageradamente a calça do meu pijama. Levantei minha cabeça um pouco, controlando meu choro, e fitei meu sofá. O telefone estava lá em cima. Tão perto. Tão ao meu alcance. Tentei ficar de pé, mas eu ainda estava sob o efeito do álcool, o que me fez cair.
- Droga. – Murmurei. – Se o estivesse aqui...
Perdi minha luta para as lágrimas mais uma vez. Por que eu tinha que pensar nele o tempo todo? Será que eu, nem que apenas por uma vez, passei pela cabeça dele?
Fui engatinhando até o sofá e segurei meu telefone. Eu fiquei olhando para os botões e repassando mentalmente aquele número que eu sabia de cor. Eu deveria ligar?
Versão
- Eu não vou fazer isso. – Foi a última coisa que disse para mim antes que eu saísse definitivamente da casa dela. Por alguma razão, eu achava que dessa vez seria de verdade. Nossa separação tinha sido estranha. Pela primeira vez, não incomodamos vizinhos com nossos gritos e, para ser sincero, não houve nenhum tipo de briga.
Pensar que eu ficaria sem para sempre me doía profundamente. No fundo, eu sabia que nós nos amávamos. O nosso maior problema eram as discussões, mas eu já estava quase acostumado com elas. Fazia parte da nossa convivência, tinha se tornado uma rotina. Particularmente, eu não achava que brigar com minha namorada enfraquecia o nosso amor. Bom, pelo menos da minha parte.
Fui para meu apartamento e me joguei no sofá. Eu não estava com fome e não tinha vontade de sair para lugar nenhum. Só de pensar em ficar com alguma garota, meu estômago revirava. Eu me sentia mal com o pensamento de trair . Ela era minha namorada, certo? Eu sabia que ela ligaria no meio da noite ou apareceria na minha porta, como ela sempre fazia. Ou não?
Eu não sabia mais o que pensar. Eu só queria conseguir tirar aquela garota dos meus pensamentos por alguns segundos. Nem que fosse para eu simplesmente me sentir mais leve, porque meus ombros pareciam estar carregando um peso enorme, um fardo muito grande pra mim.
Another shot of whisky, can’t stop looking at the door (Mais uma dose de uísque, não consigo parar de olhar para a porta)
Wishing you'd come sweeping in the way you did before (Desejando que você entrasse arrebentando do jeito que você fazia antes)
And I wonder if I ever cross your mind (E eu penso se eu já passei pela sua cabeça)
For me it happens all the time (Porque comigo acontece o tempo todo)
Fiquei horas tentando me concentrar no programa que eu supostamente assistia na televisão enquanto bebericava uísque. Já tinha perdido a conta de quantas doses eu já tinha tomado e também não sabia que horas eram, mas já era tarde. Bem tarde. Mais um copo não faria mal. Fui até meu bar e percebi o nível da minha embriaguez quando quase tropecei nos meus próprios pés. Coloquei mais da bebida no meu copo e voltei para o sofá.
Assim que eu sentei, meus olhos automaticamente foram parar na porta. Por que não parava de fazer drama e entrava logo? E por que eu estava bebendo como um louco? Eu sabia que ela viria. Não tinha motivo para desespero. Ok, não era isso que meu sexto sentido me dizia. Eu estava completamente atordoado e a idéia fixa que eu tinha na cabeça era que, daquela vez, nosso término tinha sido sério.
Desde o primeiro momento, eu não conseguia tirá-la da minha cabeça. E não só em relação àquele dia. A primeira vez que eu vira aquela garota espetacular, ela permaneceu na minha cabeça por dias. Naquele momento de profunda tristeza e desolação, eu começava a me perguntar se eu tinha o mesmo efeito nela ou se, simplesmente, ela já tinha pensado em mim. Algumas vezes eu duvidava de ter passado pela cabeça dela sequer uma vez.
Fitei a porta de novo. Meu maior desejo era que aquela maçaneta girasse e entrasse gritando e chorando como das outras vezes. Olhei para as paredes da minha sala. Na parede atrás da televisão, havia uma foto minha com a minha (ex-)namorada. Eu tinha transformado a foto que eu comprara no parque em um dia especial em um quadro. Um quadro grande e em preto e branco para enfeitar a minha parede.
Nossa, como eu amava aquela mulher. Eu nunca sentira tanta necessidade de alguém como eu sentia dela naquele momento. Eu precisava do seu toque, da sua voz, da sua doçura, do seu sorriso. Talvez simplesmente da sua presença. As minhas melhores (e piores) lembranças com ela eram revividas ininterruptamente na minha cabeça ao mesmo tempo em que eu sentia algumas gotas escorrerem pelo meu rosto, vindas diretamente dos meus olhos.
Eu fiquei simplesmente parado, fitando a porta com a minha visão embaçada e, no fim, acho que acabei pegando no sono.
Versão
Os números pareciam tão tentadores. Ainda assim, minha intuição feminina me dizia para não ligar. E então aquela parte do corpo que sempre faz o proibido ser mais atraente se ligou dentro de mim.
It's a quarter after one, I’m all alone and I need you now (São uma e quinze, eu estou totalmente sozinha e preciso de você agora)
I said I wouldn’t call, but I lost all control and I need you now (Disse que eu não ligaria, mas eu perdi todo o controle e eu preciso de você agora)
And I don’t know how I can do without, I just need you now (E eu não sei como eu vou fazer sem você, eu só preciso de você agora)
Olhei para o relógio antes de fazer qualquer besteira. Era uma e quinze da manhã. Não era totalmente apropriado para uma ligação, mas era mais cedo do que eu geralmente ligava. Eu estava sozinha por completo e eu já sentia que eu precisava de .
Passei mentalmente a lista de todos os meus amigos e conhecidos homens que, talvez, pudessem substituí-lo. O último que veio à minha cabeça foi . Simpático, agradável, bonito, pouco conhecido... Não, aquilo estava completamente fora de cogitação. Eu já sabia que meu namorado era insubstituível. Naquele momento, eu desisti. Desisti de tentar terminar nossa relação por mais desgastada que ela estivesse. Desisti de esquecê-lo. Desisti de me enfiar em bares e restaurantes procurando caras legais, que, eu tinha certeza, nunca teriam em mim o mesmo efeito que o tinha.
Logo depois, voltei a fitar o telefone. Disquei o número da casa de e ninguém atendeu. Ele já devia estar com alguma garota. Honestamente, eu não me importei. Esperei cair na secretária eletrônica e deixei uma mensagem.
- ... Eu sei que você deve estar na farra, com dezenas de garotas em volta de você e, de verdade, eu não me importo. Eu sei que eu disse que eu não iria te ligar, mas eu perdi o controle. – Comecei a chorar desesperadamente. – Eu perdi o controle e só então eu percebi que eu preciso de você... Agora. Eu não quero aparecer na sua casa de madrugada chorando e berrando como eu sempre faço, então, por favor, antes que eu entre em crise, me retorne. O mais rápido possível, apesar de o melhor ser... Agora. – E desliguei.
Versão
Acordei com a voz de chorosa perto de mim. Isso me deixou completamente atordoado. Olhei em volta, procurando por ela. Só então percebi que a voz saía da secretária eletrônica do meu telefone. Prestei atenção no que a mensagem falava, mas tudo que eu consegui entender foi um “agora”. Eu deveria ligar para ela? E se ela tivesse falado que tinha arrumado e estava muito mais feliz agora? O que seria de mim? Além de sofrer por ela, ainda faria o papel de completo idiota. Esse papel era a última coisa que eu precisava naquele momento. Decidi que ligaria. Por mais idiota que eu pudesse parecer, eu ia me sentir melhor se esclarecesse as coisas entre nós.
It’s a quarter after one, I’m a little drunk and I need you now (São uma e quinze, eu estou um pouco bêbado e preciso de você agora)
I said I wouldn’t call, but I lost all control and I need you now (Disse que eu não ligaria, mas eu perdi todo o controle e eu preciso de você agora)
And I don’t know how I can do without (E eu não sei o que eu posso fazer sem você)
I just need you now (Eu só preciso de você agora)
Olhei para o meu relógio. Era uma e quinze da manhã. Tudo bem, talvez fosse um pouco mais tarde, mas eu sempre colocava meu relógio alguns minutos atrasado para sentir que eu estava saindo de casa cedo e voltando cedo. Peguei o telefone da base e disquei o número do celular de . Caiu na caixa postal.
- Mas como? – Me perguntei, desligando a chamada. – Ela acabou de me ligar! – Minha frustração era aparente. Me recompus e liguei de novo, já preparado para deixar uma mensagem na caixa de mensagens. – , eu sei que você não está escutando, mas... Mas eu quero te falar que, tudo bem, eu sei que eu estou um pouco bêbado, mas... É, eu também sei que eu pedi pra você não ligar e, no fim, sou eu que estou ligando, mas... Eu te amo, . Te amo demais. Eu estou completamente perdido sem você. Eu preciso de você e agora eu sei disso mais do que nunca. Eu não tenho idéia do que eu vou fazer sem você. Você é uma necessidade, . Eu preciso de você agora. – E foi a minha vez de desligar.
Versão
Continuei chorando desesperadamente por um bom tempo enquanto esperava me ligar. Eu ficava prestando atenção em qualquer barulho agudo que parecia sair do aparelho, mas era sempre tudo em vão, alarmes falsos. Resolvi ligar a televisão e encontrei meu celular, provavelmente sem bateria, ao lado dela. Coloquei-o na carga e o liguei.
Nova mensagem de voz de Lindão
Corei ao ver o que eu tinha escrito. Era ridículo salvar o nome de nos contatos do celular como Lindão . Eu teria que me lembrar de corrigir aquilo depois.
As batidas do meu coração foram gradativamente se acelerando. Ele tinha me ligado. Disquei rapidamente para a caixa postal e escutei a mensagem.
- , eu sei que você não está escutando, mas... Mas eu quero te falar que, tudo bem, eu sei que eu estou um pouco bêbado, mas... É, eu também sei que eu pedi pra você não ligar e, no fim, sou eu que estou ligando, mas... Eu te amo, . Te amo demais. Eu estou completamente perdido sem você. Eu preciso de você e agora eu sei disso mais do que nunca. Eu não tenho idéia do que eu vou fazer sem você. Você é uma necessidade, . Eu preciso de você agora. – Desliguei a chamada. Agora eu sabia exatamente o que fazer.
Troquei meu pijama por um short jeans e uma regata cor-de-rosa. Calcei meu chinelo de dedo, joguei um casaco sobre minhas costas e saí correndo do meu apartamento, indo para o de . Eu subi sem ser anunciada pelo porteiro, uma vez que ele sempre pegava o turno da noite e aquela cena era conhecida dele.
Toquei a campainha e esperei alguns instantes para que a porta fosse aberta. À princípio, fiquei sem reação. Eu não sabia o que fazer. Seria certo simplesmente pular no pescoço de , falar que daquela vez eu tinha aprendido a lição e que eu o amava mais do que tudo?
- ... – Seus olhos brilharam para mim. – Eu... Eu... – Tentava formular alguma frase que fizesse sentido.
- Você está bêbado. – Eu abafei um riso enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas.
- Eu... Eu te amo. – Me abraçou forte. Segurei em seus ombros, afundando minhas unhas neles e mergulhei meu rosto na curva de seu pescoço.
Aos poucos, nosso abraço foi se tornando um beijo e, quando dei por mim, já estávamos no sofá da sala, com a porta ainda aberta.
- Acho melhor você ir lá fechar. – Apontei.
- Por que eu deveria? – Arqueou uma sobrancelha. A sobriedade ainda se mantinha, mesmo que vagamente.
- Porque você é o homem.
- E aquela história de direitos iguais e tudo mais? – Riu.
- Vai lá, . – Dei um selinho nele.
- Com uma condição.
- Fala. – Sorri, olhando fundo em seus olhos. Nossa, como eles me passavam paz.
- Na verdade, são duas. – Sorriu de lado.
- Pode falar, meu amor. – Segurei em seu rosto.
- A primeira... – Se debruçou sobre mim, me deitando no sofá e encostando nossos narizes. – Você tem que me prometer que nós vamos evitar ao máximo as brigas e, caso aconteçam, você não vai me mandar embora. Resumindo, você não vai me deixar mais.
- Essa é fácil. – Mordi seu lábio inferior. – Eu prometo.
- A segunda... – Deu um sorriso pervertido. – Enquanto eu fecho a porta...
- Sim... – Imaginei o que viria a seguir.
- Você vai lá pro meu quarto e se prepara pra mim. Eu prometo que eu vou chegar lá em instantes. – Suas mãos passaram dos meus ombros para as minhas coxas, fazendo todo o contorno do meu corpo. – Você não sabe como eu estou sentindo a sua falta. Foi só um dia, mas... Parece que foram anos. – Gargalhei com o tom da sua voz. Ele falava extremamente sério.
- Então está certo. Eu vou lá. Vou ficar te esperando. – Pisquei, empurrando-o para o lado e correndo para o quarto em seguida.
O que aconteceu depois? Ah! Cabe à sua mente imaginar, porque... Se eu contar, perde toda a graça.
Fim
Nota da Autora: Oi, sweeties:)
Espero que tenham gostado. Essa fic eu fiz pra Cathi. Na verdade, era pra ter ficado pronta dia 09/08, aniversário dela, maaaaaaaaaaaaaaaas só consegui terminar de escrever hoje (dia 12/08, hm).
Como vocês devem ter percebido, é baseada na música "Need You Now", da banda Lady Antebellum, que é uma das músicas preferidas da Cathi *-*
Bom, acho que é isso :D Espero que tanto a Cathi quando todas vocês que lerem gostem. Deixem o comentário elogiando, criticando ou, sei lá SAHDUISAHDUIA. Meu twitter também está aberto pra qualquer sugestão, reclamação, dúvida ou elogio.
Beijos, beijos :*