Olhei novamente ao sul, através da chuva densa que caía sobre meu corpo, encharcando meus cabelos. Lá no fundo, perto das colinas, estava ele. Porém, não estava tão perto como eu esperara, a alguns quilômetros. Sua mão levantou-se timidamente, dando-me um breve aceno, em seguida caíram sobre a lateral de seu corpo, fazendo um sorriso brotar em seu rosto. Um sorriso que, apesar da fraca luz e da distância, era observado com nitidez por meus olhos.
- ! – A voz de minha mãe veio até meus ouvidos com o sopro deixado pelo vento, aparentando o canto de uma cigarra, ou, quem sabe, o cavalgar de um quadrúpede na estrada lamacenta que dava a minha casa, de onde com certeza a voz se originara.
Desviei meu olhar da sua silhueta para o oeste, à direção de minha casa. O sol se punha, deixando seus raios iluminarem a fumaça que obviamente saía da chaminé da pequena fábrica de meu pai. Novamente, seu corpo estava na direção que eu olhava.
- Você tem que ir? – Perguntou-me. A voz de , rouca e abafada pela chuva, soou tão perto de mim que fez-me arrepiar da cabeça aos pés. Sua mão ergueu-se trêmula até meu rosto, porém eu sentia fracos toques do que seria sua pele em contato a minha.
- Por que você voltou, ? Você está morto, não está?
Eu não podia mais ter certeza de sua morte, apesar de ter visto seu corpo jovial preso a diversos machucados, e também o visto ser enterrado dentro de um caixão amadeirado e coberto por areia até não ter mais vestígios do marrom-escuro, há sete meses. Sofri tanto com sua morte, porém sete meses depois eu já havia superado o buraco que ficara em meu coração, mostrando-me que faltava alguma coisa. Eu sabia que não teria mais , e eu tentei recomeçar minha vida, o que era impossível pelas minhas tentativas mal-sucedidas de ser feliz.
Agora, o motivo de tanta dor e infelicidade estava aqui, parado a minha frente e tocando meu corpo com a mesma delicadeza que tocara um dia. Porém, agora eu não sentia as correntes elétricas, eu apenas sentia o acelerar de meu coração em meu peito.
- Eu voltei por você. – Seus lábios mexeram-se tão calmamente, como se quisesse que aquela frase entrasse em meus pensamentos e nunca mais saísse dos mesmos.
- Por quê? – Retornei a questionar, sentindo a minha primeira lágrima de saudade escorrer. Eu ansiei tanto pelo momento que meu corpo ia sentir o seu de novo, só não sabia que seria tão cedo. Talvez quando eu morresse, isso aconteceria, e nós teríamos uma vida inteira só para nós depois das nuvens. Mas eu não estava morta, e também não estava sonhando.
- Porque eu a amo. – Novamente, senti meu coração acelerar ainda mais. Seu corpo inclinou-se graciosamente à frente, até seus lábios encostarem os meus. A sensação era de que eu estava beijando o vento. Eu precisava tanto dessas palavras, tanto desse contato... Mas nada parecia real. Talvez uma ilusão de minha mente fértil.
Ao abrir meus olhos, constatei que não estava beijando o vento, pelo contrário, a primeira coisa a observar foram os seus olhos brilhando para mim.
- , venha para casa, agora! – Minha mãe retornou a gritar, desta vez sua voz soou mais alto.
Olhei para o ilusório, mas não demorei muito meu olhar sobre o seu corpo e retornei à sanidade, correndo para casa. As árvores altas passavam borrando, enquanto eu tentava, em vão, não deixar as lágrimas atrapalharam meu caminho. Parei, levando minha mão até os olhos e secando-os. Mais alguns minutos correndo na estrada, e encharcando minhas botinas com a lama desagrádavel, avistei o chalé rústico, e a fábrica ao lado dele poluindo o ar do nosso campo. Minha mãe estava na porta a esperar-me, ao seu lado tinha um garoto, seus olhos tão familiares.
O garoto levantou a mão, acenando a mim, e, por um momento, seu gesto me pareceu também tão familiar. Mamãe já me olhava furiosa, com certeza brava por eu ter ido novamente à floresta e demorado demais por lá. Ultimamente isso acontecia muito, exceto por eu encontrar lá.
- Já estava ficando preocupada com você! - Ela envolveu-me em seus braços, apertando-me com força. - Nunca mais demore tanto, . Você me deixa preocupada.
- Tudo bem, mãe - disse. Meu olhar estava preso ao garoto ao seu lado, que ainda sorria cativante a mim. Tudo nele era-me familiar.
- Ah! - Ela exclamou, atraindo minha atenção. - Este é Charlie, primo do e vai ficar aqui durante um tempo, já que os tios dele se mudaram depois do ocorrido. - Mamãe não gostava de tocar sobre esse assunto perto de mim. - Você o conhecia? – Perguntou baixinho, para que apenas eu ouvisse.
Olhei confusa para o garoto, vendo-o mexer os lábios pronunciando um mudo: Eu voltei por você.
- Sim - respondi sorrindo, tentando ao máximo não transparecer toda a minha felicidade. Eu o tinha de volta. Ele sempre seria meu.
Fim
N/a: Hey, galera, minha primeira short fic. Primeiramente, sem pedras please SUADHSDUHDSAU Escrevi essa fanfic enquanto esperava Danny Jones cantar ópera. Ela é fruto de novelas das duas, já que eu a vejo quando não tem nada pra fazer D: Queria destacar um fato super importante: Primeiramente, pelo que eu saiba sobre o assunto reencarnação, um espírito só pode se reencarnar em um corpo de um bebê. Não quero desrespeitar nenhuma crença, e não faço ideia se isso pode ocorrer mesmo. Mas eu me baseiei mais ou menos assim: do mesmo jeito em que um espírito maligno pode usufruir de um corpo humano, levei em consideração a um espírito do bem, usando um corpo humano para acabar uma missão interminada, e que não poderia esperar o crescimento de um feto.
Espero que tenham entendido a "moral da história". Que é o amor pode superar qualquer coisa desse mundo, até mesmo o sobrenatural. E quando você encontra a sua metade da laranja, ela sempre será destinada a você.
Espero que gostem, e não me matem USDHUSDAHDSAUH
Xx, @maSaysOh.