A paisagem passava um tanto quanto rápida pela janela do táxi, mas mesmo assim ela pôde apreciar a beleza do lugar. Todo aquele verde da vegetação, misturado com o azul claro e perfeito do mar e com o amarelo alaranjado do Sol, que brilhava de um jeito que nunca tinha visto antes. Afinal, um Sol desses em Londres só apareceria se nevasse na Índia, ou seja, nunca. Na verdade, nem o Sol mais ameno da sua cidade ela via direito, vivia dentro de um tribunal de justiça ou então de seu escritório. Era muito mais fácil encontrá-la num desses dois lugares do que dentro de sua própria casa, esta mais abandonada impossível. observava as pessoas vestidas com roupas leves, caminhando pela beira da praia, tomando drinks chamativos e sorvetes apetitosos. O caminho até seu hotel era um pouco longo, pois o aeroporto ficava distante da beira do mar, consequentemente longe dos resorts mais chiques.
Olhava distraída para um casal que dividia um drink vermelho enquanto tomavam Sol nas espreguiçadeiras mais bonitas que havia visto, quando o táxi parou. Não desviou seu olhar. Nunca pensaria que uma espreguiçadeira poderia ser bonita, mas aquela era. Na verdade, qualquer coisa naquela cidade era linda. Finalmente estava de férias. Virou-se para o outro lado e viu o imenso hotel de luxo que a esperava. Bem no alto, estava escrito “Platinum Coast Resort”. Pagou o motorista do táxi, que tinha o maior bigode já visto, e desceu do carro, colocando seus óculos escuros na cabeça e soltando um longo suspiro seguido de um sorriso de satisfação. O bigode, digo, homem largou as malas ao seu lado e agradeceu a ela, que nem bola deu. Ele então voltou para o assento do motorista e arrancou o carro logo em seguida. esperou que algum mensageiro do resort – aqueles que carregam as malas dos hóspedes - aparecesse para levar suas malas para dentro, visto que não conseguiria levar tudo sozinha, nem que fosse uma mala somente se daria ao trabalho de levar. Persistia com o sorriso nos lábios quando um menino - sim, um menino, devia ter uns dezoito anos - de pele bronzeada chegou até ela, olhando-a não tão discretamente de cima a baixo. Modéstia à parte, ela sabia que era incrivelmente linda, nem aparentava a idade que tinha, apesar de não tirar férias há três anos e as rugas de estresse começarem a aparecer de leve em seu rosto. Aquela viagem serviria para mandar essas malditas embora. Sorriu de um jeito sedutor para o menino, que parecia hipnotizado, e então pareceu acordar e, finalmente, pegou as suas malas carregando-as para dentro do hotel.
- Por favor, madame. - ele falou timidamente, em um péssimo inglês, convidando-a para segui-lo.
Ela o acompanhou mantendo seu sorriso, ainda encantada com o lugar. Olhava em volta como se não acreditasse. A recepção parecia ser feita de ouro. A luz era amarelada, os lustres dourados, o chão liso e extremamente lustroso e encerado, que ia de tons creme ao marrom. No balcão podia-se ver três recepcionistas, dois, pelo menos, trabalhando bastante, atendendo um hospede, ou atendendo o telefone e outra tamborilava os dedos impacientemente em cima do balcão de mármore, as unhas compridas cobertas pelo esmalte rosa batendo na pedra fazia um barulho irritante. Aproximou-se deles para iniciar seu check-in quando ouviu seu nome.
- ! Bem vinda a Cancún, querida! - um homem de terno, muito bem arrumado, porém um pouco inadequando para o lugar, chegou até onde ela estava usando uma bombinha para asma, abraçando-a.
- George! - retribuiu o abraço caloroso.
- Estava a sua espera. - ele disse, desfazendo-se do abraço e usando a bombinha novamente. - Você vai ter as melhores férias da sua vida! - riu e logo em seguida puxou o ar fortemente, sendo obrigado a apertar sua bombinha novamente.
- Nossa, que promessa! Vou acreditar, hein? - ela riu junto. - Afinal, preciso compensar esses três anos de muito trabalho.
- Com certeza vai, meu bem! Até porque são férias merecidas a uma promotora trabalhadora e vitoriosa. Acha que eu não sei que você ganha a maioria dos casos que pega?
- Ah, não exagera, George. - não deixou a modéstia de lado dessa vez. Seria demais também, não é?
- Bem, , vou te deixar a vontade para fazer o check-in. Qualquer coisa, mande me chamar, pra você eu venho correndo. Aproveite!
- Own, George! Você é um amor. - lhe deu um beijo na bochecha de agradecimento. - E cuide dessa asma, hein? - falou mais alto para que ele ouvisse e então seguiu o que ia começar a fazer antes do dono do resort aparecer.
Pois é, George Fritz era o dono do Platinum Coast Resort e super amigo de . Ela estava feita. Riu sozinha.
Atirou-se como uma criança na cama king size que havia no meio do quarto. Ainda não acreditava que estava de férias e em Cancún. Olhou para o teto e viu que havia um mosqueteiro na cama, mas não era um mosqueteiro qualquer, era daqueles como se fosse da cama de uma princesa. Levantou a cabeça e apoiou os cotovelos no colchão para ver o que mais tinha na sua suíte master. O quarto era branco com detalhes em creme, cores neutras, ótimo para um lugar que tenha praia. Em frente a cama havia um móvel que suportava uma televisão de aproximadamente 30 polegadas de plasma. A TV era tentadora, mas quem assistiria a alguma coisa estando em Cancún? Abaixo da TV, havia um frigobar. Esse sim seria bastante utilizado. Logo ao lado deste móvel, tinha a porta para o banheiro. Entretanto o mais maravilhoso do quarto estava ao lado esquerdo da cama: a sacada. Ainda dentro do quarto, no encontro de uma parede com outra, havia uma poltrona grande e aparentemente fofa. levantou e caminhou até a porta de correr para admirar a bela vista que teria de sua sacada. Ou George a amava muito, ou ela tinha muita sorte. Preferia ficar com a primeira opção, pois sorte não é muito companheira de . A vista dava para o mar; era maravilhoso, esplendoroso, espetacular! Podia ver as centenas de pessoas deitadas a beira do mar, com cadeiras, espreguiçadeiras que o próprio hotel disponibilizava, assim como os guarda-sóis. Alguns coqueiros dificultavam um pouco a vista para a praia, mas quem se importava? Eles faziam parte da maravilhosa paisagem que ela tinha a sua disposição.
De repente, ouviu alguém bater a sua porta e foi logo abrir. Era o mesmo menino que tinha carregado suas malas. E ele estava fazendo o mesmo serviço, porém levando da recepção até o quarto.
- Desculpe incomodar, senhora. Vim trazer suas malas. - ele disse do mesmo jeito tímido da outra vez.
- Por favor, não me chame de senhora! - quase teve um troço, fazendo o menino se assustar. - Pode colocar em qualquer lugar.
- Com licença. - entrou de cabeça baixa e deixou próximo ao guarda-roupas. Parou, ainda de cabeça baixa, ao seu lado, fazendo ir em busca de gorjeta para o garoto. - Obrigado. Se a senhora, digo, senhorita, precisar de alguma coisa é só ligar para a recepção.
- Eu que agradeço. - fechou a porta rapidamente para não ter mais oportunidade do garoto pedir mais gorjetas.
Estava perto da hora do almoço, no entanto não queria perder nenhum segundo de suas tão esperadas férias. Colocou seu melhor biquíni, um vestido curto e solto, que a deixava mais magra, pegou seu protetor solar, colocou seus óculos escuros novamente e seu chapéu e desceu para a piscina. Quando chegou lá, se deparou com uma imensa e redonda piscina, contendo um chafariz no meio, que ora jorrava água, ora parecia desligado. Em volta dela não faltavam espreguiçadeiras e guarda-sóis, sem contar nos pequenos quiosques que vendiam bebidas e petiscos. “
Que eu saiba esses quiosques ficam na praia.”, pensou, estranhando a presença deles ali. Deu de ombros e se abancou em uma espreguiçadeira livre. Passou seu protetor solar e deitou-se a fim de ter um bronzeado perfeito no fim das férias.
Ao sentir o Sol queimando sua pele, resolveu virar de costas. Mas antes de fazer tal movimento, avistou em um dos quiosques um homem somente de calção, com um Ray Ban, sem camisa e também sem calçado. Abaixou os óculos até a ponta do nariz na tentativa de ver melhor aquele espetáculo de homem. Ele tinha os cabelos molhados e um corpo definidíssimo, conversava com o barman de uma maneira bastante descontraída, como se fossem amigos de infância, ria e batia no braço do outro, que o acompanhava na risada. Não poderia deixá-lo escapar. Numa melhor oportunidade, iria falar com ele, como quem não quer nada. Sorriu e deitou-se completamente de costas.
Seu estômago começou a dar sinal de vida, ou melhor, de falta de vida. A fome o fazia se contorcer, fazendo um barulho angustiante, parecia realmente que o estômago estava morrendo. Era hora de sair debaixo daquele Sol maravilhoso. Isso não significava que não ia voltar depois. Era só o tempo de comer alguma coisa. Sentou-se e olhou em volta procurando aquele lindo homem, mas não o encontrou. Coçou sua coxa, fazendo uma careta.
- Tem muito mosquito por aqui. - a mulher loira que estava ao seu lado falou.
- Oi? - não entendeu.
- Já te picaram. - ela apontou para a mão de , que ainda coçava sua coxa e riu escandalosamente. - Claire, prazer.
- Ah, prazer, . - sorriu fraco. - É, mosquitos adoram meu sangue. - forçou uma risada para não parecer antipática.
- Entendo como é, sempre trago repelente na minha bolsa para não haver problema.
- Pois é, trago sempre o meu também, já que eles amam meu sangue. Mas esqueci de colocar.
- Eles quem? - Claire riu novamente.
- Os mosquitos, quem mais seria? - estava começando a ser irritar com a mulher.
- Olha, nem te conto! - riu mais escandalosa do que da outra vez. riu fraco.
- Bom, vou almoçar. Tchau! - se adiantou a terminar aquela conversa.
- Têm ótimas comidas na beira da praia.
- Obrigada pela dica. - e saiu quase correndo dali, recebendo outra risada em resposta.
Seria possível que aquela mulher só sabia rir? Parecia uma hiena! odiava gente hiena e Claire só confirmava ainda mais sua irritação com essas pessoas. No entanto, a dica dela de comer na beira da praia não era má. Pelo menos valeu para alguma coisa. Riu anasaladamente, mas logo parou com medo de se tornar uma hiena como ela. Correu para seu quarto pegar o repelente, pois haviam muitos mosquitos por ali mesmo e pareciam ter atacado ela de primeira.
Enquanto esperava seu almoço, passava seu repelente, que, convenhamos, não era dos mais cheirosos. Mas era necessário, senão voltaria sem sangue para Londres. Ria sozinha com seus pensamentos malucos. De repente, sentiu um odor forte vindo do seu lado direito, um cheiro que ardeu suas narinas. Olhou para o lado e encontrou nada mais, nada menos que aquele homem lindo da piscina. Arregalou os olhos num espanto, o que fez o homem perceber que estava sendo observado. Largou a toalha que se secava na cadeira e olhou para ela.
- Oi, perdeu alguma coisa? - ele disse, levantando uma sobrancelha. sacudiu a cabeça, voltando com sua cara de nojo.
- Esse seu cheiro arde meu nariz! - ela falou com o cenho e o nariz franzidos e ele olhou para o tubo de desodorante na mão.
- Oh, desculpe se incomodo. - falou irônico e apertou o tubo direcionando para sua axila de propósito, para implicar.
- Obrigada por deixar seu odor tomar conta do meu ar. - ela falou irônica também.
- Como se esse seu fosse dos melhores. - apontou para o repelente em sua mão.
- Muito melhor que esse desodorante puro álcool.
estava se sentindo uma criança com aquela discussão idiota. Sua opinião sobre o cara também tinha mudado. Era lindo, de perto então, perfeito; mas implicante demais. Ela odiava gente que a irritava desse jeito. Ela não era mais adolescente pra ficar com essas discussõezinhas pra chegar em algum lugar mais interessante. Gostava de ir direto ao ponto, uma conversa informal antes pra se conhecer e se rolar rolou, nada dessas brincadeiras retardadas. A sorte dela é que eles foram interrompidos por um garçom trazendo seu almoço super saudável. não era mais jovenzinha pra comer qualquer coisa, cuidava bem da sua saúde. O prato era um risoto com mussarela de búfala e filé de peixe. Viu na mesinha do implicante um prato quase vazio de camarões fritos. Revirou os olhos. “
Fritura! Deve ter uma péssima saúde.” No fundo, ela até estava com inveja, não podia comer camarão, pois era alérgica e evitava fritura para manter sua ótima saúde, mas sabia que era bom.
- ! - ouviu a voz da hiena a chamando e quis se esconder, mas era tarde demais.
- Oi, Claire. - sorriu, fingindo simpatia.
- Seguiu meu conselho, amiga? - falou, olhando comer sua comida e, óbvio, riu.
De onde vinha aquela intimidade toda? Amiga? Não fazia uma hora que tinha conhecido aquela mulher e ela já estava desse jeito? Tudo bem, talvez fizesse mais de uma hora, mas, mesmo assim, ela não deu intimidade o suficiente para ser chamada de amiga.
- Pois é, segui.
- Posso me sentar aqui com você? - foi se acomodando ao lado de , que nem teve a chance de responder, pois Claire já havia se abancado. - Mas, , me conte um pouco mais sobre você. Com o que você trabalha? Deve ganhar bem, né? Pra vir passar as férias em Cancún...
- Sou promotora. - sua educação ainda permitia que respondesse.
- Ah, é mesmo? Que legal! Deve ser muito bom ser promotora, né? Ganha muitos casos? E você é de onde? - pronto, abriu a matraca.
- Sou de Londres.
- Nossa, acho Londres uma das cidades mais lindas que já conheci. Sou dos Estados Unidos, bem mais perto aqui de Cancún, não precisei atravessar o oceano. - riu. - Você não me perguntou, mas eu vou falar. - riu novamente. - Sou dona de casa, ganho uma pensão de 20 mil do meu ex marido. Você que é promotora deve saber, tenho um filho com ele, então ele precisa me dar uma pensão senão... - já não prestava mais atenção. Não só pela chatice daquela perua ao seu lado, mas pela bela cena que admirava. O cara implicante do desodorante saia do mar entregando uma prancha de surf a outro cara, que ela nem conseguiu ver como era. Ele balançou os cabelos molhados a fim de tirar o excesso de água e quase babou. Conversou com quem ela achava que era o dono da prancha e riu. O cara da prancha riu junto com ele, parecia engraçado o que acontecia ali, mas não entendia o que era. Deram tapinhas um das costas do outro, coisas de homens e o do desodorante se direcionou à sua cadeira, que, consequentemente, estava ao seu lado. - ? Você ouviu o que eu falei?
- Não, desculpa. - ela voltou a si, ouvindo o que antes era só uma voz irritante se tornar palavras claras.
- Perguntei se você me ajudaria a entrar com um processo contra meu ex marido. Acho que ele anda me pagando muito pouco. O nosso filho tem 6 anos e está tendo mais necessidades, sabe?
- Sinto muito, Claire, mas estou de férias e quando voltar a trabalhar, vai ser em Londres. - respondeu, ainda observando o cara de corpo escultural voltar.
- NOSSA! - Claire falou de repente e, por um momento, achou que ela estava brava porque se recusou a falar de trabalho, mas logo viu que ela também olhava para o mesmo cara. Sentiu uma pontada de ciúmes. - Que deus grego é esse?
- Quem? - disfarçou seu incômodo com o comentário de Claire.
- Aquele homem perfeito vindo em nossa direção. - apontou para ele. - Pena que é novinho. Eu com meus quarenta... Não conta pra ninguém, ok? Sabe que eu estou inteirona, mas ninguém precisa saber minha idade. - e soltou sua risada já bastante conhecida por . - Mas, continuando, ficaria muito escandaloso. Ou não? Tem muitas aí que pegam garotinhos. Eu com esse corpinho – levantou para mostrar o corpo, passando as mãos pelas laterais do quadril ao mesmo tempo que balançava este. - pegaria fácil. Quantos anos ele deve ter? 26?
já não aguentava mais aquela mulher falando, ainda mais falando daquele homem. Tudo bem que ele era implicante e usava um desodorante com muito álcool, mas ela já tinha o visto antes. Ela disfarçou e arranjou uma desculpa para sair dali. Voltou para o hotel, sem dizer a Claire, claro, se não era capaz de ela a seguir.
Havia escolhido aquilo para relaxar, mas talvez o momento não estava muito propício para isso. Mesmo assim, insistiu. Estava deitada em uma maca, com um creme verde no rosto e uma máscara de pepinos tapando seus olhos. O cabelo estava preso num coque alto e protegido com uma faixa branca para não melecar de creme. Estava só de toalha, pois depois iria para a sessão de massagem. A cena da praia não lhe saia da cabeça. Parecia até cena de filme, em câmera lenta e tudo mais. Ele – ainda não sabia o nome do bendito – saindo do mar com aquela prancha, entregando para o amigo e em seguida sacudindo a cabeça de um lado para o outro, respingando água por tudo que era lado, depois mostrava aquele sorriso exuberante com dentes claros; tudo isso em câmera lenta. Suspirou sem saber se era um suspiro bom ou ruim.
- Finalmente te achei, ! - George entrou na sala mega iluminada com luzes fluorescentes brancas.
- George! Que bom ouvir tua voz. - ainda tinha os pepinos nos olhos.
- Você é um amor, . - ele disse de uma forma afeminado. Na verdade, ele era sempre afeminado, só quando tratava de negócios sua postura mudava, parecendo ser bastante hétero. riu. - Mas eu 'tava procurando você.
- Eu 'tava na praia almoçando.
- Ah, sim. São ótimas as comidas de lá, não é? - ela só concordou com a cabeça de leve, pois os pepinos poderiam cair.- Então, tenho um passeio pra você amanhã durante o dia todo. - George disse, animado. - É um passeio de barco com tudo que tem direito. O passeio é pra conhecer as maravilhas desse lugar, na hora do almoço o barco para em uma ilha paradisíaca.
- Nossa, deve ser um passeio incrível.
- Pode ter certeza que é!
- Você que é um amor, George! Consegue essas coisas perfeitas pra mim. - ela tirou rapidamente os pepinos dos olhos para enxergar seu amigo e os dois riram.
- Você merece, meu amor. - mandou um beijo para ela antes que colocasse os pepinos de volta. - Não esqueço que quem fez eu estar aqui foi você. Devo muito a você, de verdade.
- Que isso, fiz de coração. E você sabe que eu amo meu trabalho.
- Ok, chega de agradecimentos, preciso voltar pro meu trabalho. - eles riram.
- George! Me disseram que você 'tava aqui e... - o cara, sim, aquele mesmo do desodorante, entrou correndo na sala, mas logo parou ao ver enrolada em uma toalha com creme e máscara de pepino no rosto. Ela levantou os pepinos para ter certeza de que era ele. - Desculpa, não sabia que tinha gente aqui. - ficou levemente constrangido.
- Não tem problema. - disse, sorrindo de um jeito que não queria sorrir. Ela recém havia dito que ele fedia e já estava sorrindo para ele.
- Eu só precisava falar com você, George, sobre o passeio de amanhã. - se direcionou ao homem e estava prestando cada vez mais atenção na conversa, mas fingia que não estava nem aí.
- Ah, claro. 'Tava falando para sobre isso. - George sorriu. - Aliás, , esse é o , amigo de Londres também. Estudamos juntos no colégio. - tirou só um pepino de um olho para não mostrar tanto interesse. Balançou a cabeça de leve e sorriu. - E, , essa é , a mulher mais incrível e talentosa que Londres já viu.
- Ok, sem exageros, Geor. - ela falou corada, porém o creme verde não a entregava.
- Exagero nenhum, ! - ele disse ofendido, o que lhe fez faltar o ar, puxou seu remédio para asma do bolso bombeando rapidamente dentro da boca. - , é promotora e me fez sair da miséria ganhando uma causa dificílima, que nem eu acreditava que pudesse ganhar. E olhe só onde estou agora. - já mais calmo e recomposto, mexeu as mãos como se mostrasse todo o hotel. - Mérito dela.
- Parabéns! Se George diz, é verdade. - ele riu com uma leve pitada de sarcasmo. Ainda implicante!
- Obrigada. - disse seca.
- Bom, eu já estava saindo. , me acompanha? Explico melhor sobre o passeio no caminho.
Ao ouvir a porta sendo fechada novamente, sentou-se num pulo, tirou os pepinos e jogou-os num potinho de inox ao lado da maca. Desceu desta segurando sua toalha, atrás de uma pia para limpar aquele creme do rosto. Não ia para massagem nenhuma, estava muito agitada. Tudo bem que a massagem ajudaria a relaxar, mas não queria relaxar.
A noite de sono foi maravilhosa, aquela cama era maravilhosa, o quarto extremamente confortável. Acordou espreguiçando-se com um sorriso leve no rosto, apesar do barulho do telefone tocando insistentemente.
- Alô.
- Senhora ? - a voz de uma mulher com um sotaque estranho falou do outro lado da linha e se contorceu com aquele “senhora”, mas não deixaria isso estragar aquela manhã que acabara de começar e tinha tudo para ser incrível.
- Sim, sou eu.
- Senhora, o Senhor Fritz está a sua espera na recepção. Mandou avisar que o barco já chegou.
- Ah, sim! - lembrou-se do passeio. - Descerei em um minuto. - Obrigada.
- Ok, não tem de quê. - a recepcionista falou, simpática.
Levantou-se e espreguiçou-se novamente. Aquilo não era sonho, estava mesmo de férias e em Cancún. Chegou mais perto de sua sacada para confirmar. Lindo, maravilhoso, fantástico! Podia ver a água azul cristalina em meio as árvores, até a areia da praia conseguia ser linda, quase branca, fofinha e limpa. Respirou fundo, sugando aquele perfeito ar da manhã.
- Olá, George! - chegou com um excelente bom humor, colocando seus óculos escuros na cabeça. Estava vestindo seu maiô bordô com detalhe no decote e um short jeans, em um braço levava sua bolsa e a outra mão segurava seu chapéu (
veja o look).
- Olá, querida. - retribuiu seu beijinho na bochecha. - Só estão esperando por você no barco.
- Jura? Oh, droga! Odeio fazer as pessoas esperarem. - mudou sua expressão para uma bastante apreensiva. - Mas não deu tempo nem de tomar café da manhã.
- Calma, o café da manhã é no barco mesmo. E não faz mal esperarem um pouquinho.
- Ah, bom. Mesmo assim, odeio que me esperem!
- Deixa de ser boba! Assim perde todo o encanto quando for casar. Ninguém vai ficar naquela expectativa esperando você entrar na igreja.
- Cala a boca, Geor! - odiou o rumo que o assunto tinha tomado. - Eu nem vou me casar, não precisa se preocupar. Já estou ficando velha e nem tenho tempo para o amor mesmo.
- , pare de falar bobagem! Você é jovem e linda, vai achar alguém a sua altura. - ele disse, rolando os olhos. - Ora, sem tempo para o amor... - falou baixinho. - Agora, corre lá, antes que cansem de esperar por você.
- Você é contraditório! - riu e saiu do resort em direção a praia, onde o barco estava parado.
O barco não era um iate como esperava. Não que ela fosse tão exigente a esse ponto, mas só imaginou que poderia ser um iate pelo resort perfeito que estava hospedada. Era tudo de luxo, por que o barco não seria? Mas dava para o gasto, era um barco bem grande e confortável. Serviam um café da manhã muito gostoso. Enquanto todos comiam, os guias explicavam como seria o passeio. Um pouco distante dela estava , não conseguia sentir o cheiro do desodorante fedorento, então estava ótimo. Mas algo dentro dela queria muito que ele estivesse mais perto. Olhava sem discrição para ele e nem ao menos percebeu. Pode ver que, olhando para seu croissant no pequeno prato a sua frente, deu um sorriso mais do que pretensioso e só então se deu conta que olhava descaradamente para ele. Constrangida, voltou o olhar para a paisagem, como quem admirasse, porém era o que menos fazia depois da vergonha que passou. O que estava acontecendo com ela? Isso não era normal, nunca havia dado tanta importância a um homem. A última vez que fez isso estava no colegial. Seus pensamentos foram interrompidos com o guia anunciando algum lugar por qual passavam.
A manhã passava lentamente dentro daquele barco balançante. A paisagem estava linda, porém aquele balanço não era nada agradável, ainda mais depois de comer. Viu, de canto de olho, se aproximar do banco em que estava. Não desviou o olhar, continuou olhando para frente, onde as imagens não conseguiam ser muito nítidas, elas subiam e desciam de uma forma extremamente enjoativa. Começava a ficar pálida e com o olhar mais estagnado ainda.
- Você 'tá se sentindo bem? - se aproximou de , até parecendo preocupado com sua aparência.
negou com a cabeça e, no segundo seguinte, correu até a beira do barco, apoiando-se com a cabeça para o lado do mar e colocando para fora tudo que tinha comido no café da manhã. Voltou ao seu assento suada e com uma aparência péssima.
- Nossa, não deve estar acostumada com o balanço de barco, né? - ele disse, dando um tempo para ela respirar.
- Não estou acostumada com esse seu desodorante fedido. - fechou a cara.
- Sei bem, todas ficam tontas perto de mim. - riu, saindo por cima.
Depois daquilo o tempo pareceu passar um pouco mais rápido. já se sentia melhor, mas não se atrevia a olhar nem trocar uma palavra com aquele cara do desodorante. também preferiu não falar mais nada, até porque a última palavra foi a dele. O barco logo parou para um mergulho, mas não quis encarar a água. voltou da água chegando muito próximo dela e só sacudiu a cabeça, molhando-a por completo. Ela sentiu seu corpo quente esfriar de uma hora para outra e bufou de raiva, porém continuou sem falar uma palavra com ele. A próxima parada era para o almoço. não fazia a mínima questão de comer alguma coisa, estava vendo que poderia vomitar novamente se colocasse qualquer pedaço de comida na boca.
- Não foi pra água, não vai almoçar... - arriscou conversar novamente com ela. - O que você veio fazer nesse barco afinal?
- Isso, por algum acaso, interessa a você?
- Sim.
- Mas eu não vou lhe dar satisfações. - ela falou um pouco grossa, o que já estava se tornando costume. - Não quis descer e não vou comer pra não correr o risco de vomitar de novo. - respondeu sem se dar conta.
- Obrigado pela resposta. - sorriu vitorioso, o que irritou ainda mais por ter caído na dele. - Ok, mas é sério. Precisa comer alguma coisa. Vai passar o dia com o estômago vazio?
- Vou sim.
- Ó, pode pegar um pouco do meu camarão. - ofereceu educadamente. se babou, porém recusou. - Estou sendo educado, come, vai.
- Não quero, obrigada.
- Você precisa comer!
- Eu. Não. Quero. Comer. - falou pausadamente.
- Pega, é sério! - ele alcançou um camarão dos grandes para ela e viu que ela olhou com vontade de pegar. - Come!
- Porra, eu não quero! Por que tanta preocupação com minha alimentação?
- Não posso? Vi você passar mal e achei que com estômago vazio você não iria aguentar. O passeio vai até o final da tarde e é só agora que você poderá comer.
- Ok, e por que eu teria que comer a
sua comida? Eu tenho direito de escolher uma comida muito melhor que essa. - olhou com desprezo para os camarões de .
- Bom, você quem sabe. - falou ofendido.
sabia que ele estava certo e até estava com um pouco de fome. Não aguentaria até voltar para o hotel. Foi para um lugar em que ele não pudesse vê-la, o que era um pouco difícil dentro de um barco relativamente pequeno, e pediu uma comida simples.
- Bla bla bla, não quero comer. - ouviu a voz de ironizar.
Será possível que esse cara poderia largar do pé dela? Parecia perseguição.
- Senti fome.
- Meio segundo depois de dizer que não queria comer?
- Você quer parar de me perseguir e implicar comigo?
- Hum, deixa eu pensar... Não. - falou com um sorriso também irritante. - Sem camarões, então? - falou observando o prato dela.
- Isso já está passando dos limites, deixa eu comer em paz?
- Não gosta de camarões? - ele continuou como se ela não tivesse dito nada e rolou os olhos.
- Gosto. - respondeu, dando uma garfada. - Só não posso comer.
- Explicado. Alérgica?
- Sim.
- Custava ter dito isso antes?
- Eu não tinha por que dizer. Custava você ter aceitado meu não?
- Eu não tinha por que aceitar.
estava quase rosnando de raiva. Como ele conseguia ser tão chato?
- Tinha sim. E ponto final. - ela disse mais alto, chamando atenção dos que estavam em volta.
O barco voltou a se movimentar, tomando o rumo de outro lugar lindo para se conhecer. decidiu deitar na proa para tomar banho de sol e não ter perigo de enjoar novamente, olhando a paisagem se mexer. Sentiu que alguém sentou-se ao seu lado. Pelo cheiro soube quem era. Respirou fundo para não chutá-lo para longe. Jogá-lo no mar seria uma possibilidade.
- Será que podemos manter uma conversa civilizada? - falou bem próximo do ouvido dela, fazendo-a se arrepiar.
- Isso só depende de você e sua implicância. - ela respondeu, de olhos fechados.
- Ainda não entendi qual o problema entre a gente. É meu desodorante?
- É você. - respondeu. - Com seu desodorante, claro. - completou rapidamente. Ele riu.
- Se esse é o problema, eu não uso mais. Mas você também poderia descartar seu repelente.
- Sem meu repelente, eu fico sem sangue. Não tenho culpa se os mosquitos amam o sabor dele.
- Eu posso ser implicante, mas você é muito teimosa. - ele disse e não respondeu nada. - Ok, deixa eu me apresentar...
- Eu sei seu nome, George apresentou você pra mim. - interrompeu com descaso.
- Deixa eu me apresentar
melhor: - continuou, mantendo a paciência. - Meu nome é , sou assistente administrativo, tenho 29 anos e moro em Londres como você. Linda essa coincidência, não?
- Ô! - ironizou.
- E você não vai me falar de você?
- George já falou.
- Verdade. Mas não sei sua idade.
- Não precisa saber.
- Combinamos manter uma conversa civilizada.
- Eu não combinei nada. - agora, era a vez de irritar . Sorriu de canto.
- Ok, . Se você prefere assim. - saiu irritado.
abriu os olhos para ver onde ele tinha ido. Talvez ela tenha ido longe demais. Não queria que ele se distanciasse. Pensou durante um curto tempo e foi atrás dele.
- . - ela o chamou. Ele estava sentado no chão do barco, com as pernas para fora. Burlando as regras. - Desculpe, não queria ser grossa.
Ele não falou nada, nem se quer virou-se para vê-la. Então, ela sentou-se ao seu lado, burlando as regras também.
- Bom, sou , promotora de justiça, 35 anos e moro em Londres. - ela disse.
- Prazer, . - ele virou para ela com um sorriso adorável. - Aliás, sou . - exaltou seu sobrenome e esticou a mão para ela apertar.
- O prazer é meu. - sorriu também. Talvez aquilo não fosse tão ruim assim. - Conversa civilizada. - disse como se aceitasse a combinação feita antes e ele sorriu concordando.
É, aquilo não era nada ruim. poderia ser adorável. A conversa foi rolando até alguem chamar-lhes a atenção por estarem com as pernas para fora do barco. Tudo bem que isso não fez com que eles parassem de conversar, só os fez perceber o quão adolescente aquela atitude era. Riram juntos ao perceberem isso, fazendo-os lembrar dessa época tão fervilhante.
- Você consegue imaginar George andando de skate? - falou, achando graça de sua lembrança.
- O quê? George? Aquele ser engomado e elegante andando de skate? - riu, batendo palmas.
- É, ele andava comigo na época da escola. Tínhamos o nosso grupinho, era eu, ele e mais outro amigo, o Brady, que sumiu pelo mundo. Nunca mais soubemos dele. Mas era sempre nós três, o tempo todo, em qualquer ocasião. Podia ser festa, grupo de trabalho da escola, ou, o que mais fazíamos, sair para andar de skate. Íamos para a escola de skate, mas o que gostávamos mesmo era de ir num parque depois da aula que tinha aquelas rampas, sabe? Era sensacional. Não sei por que parei de andar. Sempre amei aquilo.
- Nossa, deu até vontade de andar de skate. - ela riu. - Você surfa? - ela perguntou curiosa.
- Não, não. - ele abanou o ar.
- Vi você ontem saindo do mar com uma prancha.
- Anda me observando, é? - ele riu e ela ficou levemente corada. - Só arrisquei, gosto do esporte. Skate, na verdade, é uma prancha. Deve ter relação.
- É verdade. - ela riu, recompondo-se da vergonha. - Eu entendo seu sentimento de “por que não continuei com isso”. - ela fez aspas com a mão e ele ficou curioso, esperando que ela continuasse. - Eu surfava na época da faculdade. Era muito bom, ia seguido à praia mesmo quando estava um pouco frio, participava de competições... Isso não significa que eu ganhava. - riu. - Mas aquele espírito de competição me atiçava, eu adorava me preparar e tudo mais. Além de tudo, eu tinha um corpo perfeito.
- Que isso, ainda tem. - pela primeira vez viu ficar tímido.
- Obrigada. - respondeu do mesmo jeito.
- Não imaginava que você fazia o tipo radical.
- Eu não era radical, só surfava. - ela riu.
- Ok, mas é um esporte considerado radical. - ela concordou com a cabeça e ficaram uns instantes calados, parecendo relembrar esses momentos bons da juventude.
Foram acordados dos pensamentos com o guia anunciando outra parada para mergulho com direito a fotos embaixo d'água.
- Agora você vai, né? - falou, levantando de seu assento.
- Eu não, vou ser comida por tubarões.
- O quê? A surfista com medo de tubarões? - ele debochou. - Vamos lá, esses caras não seriam malucos de nos largar num lugar que tenha tubarões.
- Mas algum tubarão pode fugir do seu bando e tomar um rumo diferente e vir parar aqui.
- Ai, , vamos logo! - ele já estava pronto para pular.
Contrariada - ou nem tanto - ela tirou seu short, chapéu e óculos e pulou junto com ele. Deu um gritinho ao sentir a água gelada, fazendo rir. A água era realmente incrível, ainda mais vendo assim de pertinho. Estavam numa área de uns quatro metros de profundidade e ainda assim conseguia ver o chão. Os peixes passavam por ela com a maior naturalidade. Ela achava tudo aquilo tão lindo, que nem percebeu que se distanciou dela. Ao procurar por ele, viu que estava um pouco mais afastado de todos.
- Ei, o que você 'tá fazendo aí? - ela gritou para ele, nadando até lá. - Não me deixa sozinha. Você é quem vai me proteger se vier um tubarão me pegar.
- Venha pra cá, então. - ele riu do medo que expressava.
- Não é legal rir do medo dos outros. - ela falou, quando estava bem próximo a ele.
- É que você fica tão adorável com medo. - ele continuou rindo. - Até parece que eu sou super-herói. Mas, tudo bem, eu protejo você de qualquer mal que venha a ocorrer. - ele estufou o peito, se gabando.
- Não é pra se achar! - falou, cortando os naipes dele. - Se não me proteger será um homem morto, já vou avisando. - apontou o dedo indicador para ele, tentando intimidá-lo.
- Se eu não proteger você, não vai ter como me matar, já vai estar morta. - sorriu vitorioso. Ela apenas rolou os olhos.
De repente, enxergou uma barbatana vindo na direção dos dois e começou a berrar loucamente.
- Eu disse! Eles 'tão vindo nos atacar! E a gente 'tá longe do barco! - ela berrava, pulando nas costas de para se proteger. Estranhava que ele estivesse tão calmo. - Você não vai fugir? - ela perguntou desesperada.
- Fugir de adoráveis golfinhos? - ele disse calmamente, fazendo carinho no animal que já estava bastante próximo.
soltou o ar e saiu de cima de . Ela já havia passado por tantos constrangimentos e mais esse agora.
- Não acredito que confundi com tubarões. - ela falou baixo, sem saber o que realmente dizer depois do seu escândalo. Estava quase chorando, gritava desesperada, foi ridículo.
apenas riu e a convidou para brincar com os golfinhos. Logo em seguida, o fotógrafo chegou para tirar foto com eles. Algumas foram tiradas embaixo d'água com os peixinhos simpáticos. No fim, conseguiu esquecer o constrangimento e se divertir com aqueles bichinhos amáveis. Eles pulavam e faziam graça. Ela nunca havia ficado tão perto de um animal daqueles. Na verdade, nunca havia visto um golfinho ao vivo.
Voltaram para o barco e, logo em seguida, fizeram a última parada. Era a tal ilha paradisíaca. não poderia discordar, era perfeita. Era praticamente deserta, se não fosse por eles, visitantes. Foi considerado patrimônio da cidade ou sabe-se lá o que, só sabia que era proibido morar lá. O que é muito correto, pois certamente iriam destruir aquela maravilha que a natureza havia proporcionado. Se achava que a areia lá da praia em frente ao resort era branca, fofa e limpa era porque não tinha visto essa ainda; o mesmo se fala do mar, este conseguia ser mais cristalino ainda; as árvores então, de vários tons de verde. Não conseguia imaginar que um lugar poderia ser tão perfeito.
Passaram pelo menos uma hora na ilha, ela e agora sempre juntos. Ele vinha com suas implicâncias, às vezes, mas estava gostando daquilo. Quando já estavam no barco indo de volta para o hotel, pediu um drink. Já estava mais confiante com o balanço do barco. usava o enjoo de mais cedo para implicar com ela. Como gosta de implicar, nunca viu! Ela estava começando a aprender a lidar com ele, levava na esportiva. Chegaram absurdamente rápido em frente ao Platinum Coast. Logo na recepção, encontraram George com seu iPad. Parecia atucanado com alguma coisa.
- George! - gritou ao lado do homem, assustando-o. Riu da sua reação, fazendo rir discretamente.
- , isso não é jeito de chegar! - ele ficou mais nervoso. Consequência: ataque de asma.
- Me desculpe, cara! - ficou um pouco culpado por causar a crise no amigo, mas ainda ria um pouco.
- Tudo bem, tudo bem. - falou rapidamente depois da última puxada em sua bombinha. - Como foi o passeio? Se divertiram? Vejo que ficaram amigos. - disse, sorrindo e olhando ora para , ora para .
- Foi divertido. - respondeu, sorrindo.
- Fora o começo, né, ?
- voltou a falar do enjoo. fez uma careta e George ficou curioso.
- O que aconteceu no começo?
- Só fiquei um pouco enjoada, só isso. - ela se prontificou a responder.
- Mas 'tá tudo bem, agora? - George ficou preocupado.
- 'Tá sim, Ge! - ela sorriu, achando graça do jeito dele.
- Ai, queridos, sinto não dar mais atenção pra vocês agora, mas preciso resolver algumas coisas. - ele disse, parecendo bastante chateado.
- O que aconteceu? - perguntou , mostrando um pouco de preocupação.
- Olhem aqui. - apontou para seu iPad. - Recebi uma proposta de compra do resort. A proposta é muito boa, mas também gosto muito do meu lindo hotel.
- Céus! Os caras são milionários para fazer essa proposta, ainda mais à vista. - lia o que estava escrito sem acreditar. - Sabe que posso te ajudar nisso.
- Eu também, posso ver o setor financeiro. - se prontificou.
- Gente, vocês estão de férias. Não quero que fiquem trabalhando. - George se recusou.
- A gente sai do trabalho, mas o trabalho não sai da gente. Força do hábito. - riu.
- Quer saber minha opinião? - falou, sério. - Eu não venderia. Não foi você mesmo que disse que suou para conseguir isso tudo? Com a ajuda de e tudo mais? E quando vender, o que vai fazer da vida?
- tem razão, Geor. - apoiou uma mão no ombro do homem.
- É, talvez tenha, mesmo. Preciso pensar mais.
- Ei! - chamou George antes que ele saísse dali. - Posso usar seu iPad pra dar uma olhadinha nos meus e-mails? - sorriu forçado.
- Não, senhora! Acabamos de falar que você está de férias, desligue-se de tudo lá fora. Agora, é só Cancún, meu bem. - George escondeu o aparelho em suas costas e fez beiço, fazendo rir da cena.
- 'Tá bom. Vou subir pra tomar um banho. - jogou um beijo no ar e se direcionou aos elevadores.
Naquela tarde ela decidiu ficar na piscina. Não havia visto ainda e, por mais que não quisesse, se sentiu aflita por isso. Sua companhia era a hiena Claire. Depois do passeio de ontem, em que ficou o dia inteiro fora, consequentemente longe dela, havia esquecido como ela era chata e inconveniente. Seus assuntos fúteis conseguiam ser mais enjoativos do que o balanço daquele barco. A partir de certa hora, não ouvia mais o que ela falava, apenas abstraia sua presença. Sem ao menos dar satisfações, foi até a piscina para dar um mergulho, deixando Claire falando sozinha.
- ! , estou falando com você! - conseguiu ouvir antes de mergulhar por inteiro.
Ao voltar a superfície, viu o que ela tanto queria. estava sentado, com um lindo sorriso nos lábios, onde estavam suas coisas, apenas esperando-a voltar. Ela saiu rapidamente da água, indo até ele.
- Você sumiu. - ela comentou ao chegar ao seu lado, pegando uma toalha para se secar.
- Estava vendo algumas coisas. - ele continuou com o sorriso.
- Vocês se conhecem? - Claire, que estava olhando para , tentando seduzi-lo até há pouco, ficou surpresa ao ver os dois conversando.
- Ahã. - respondeu, desprezando.
- Apresenta o gato pra mim, amiga. - ela logo se aproveitou.
- Claire, esse é . - apontou para o rapaz.
- Prazer, . - esticou sua mão para ele beijá-la.
- Prazer. - sorriu sem graça e beijou a mão dela, para não ficar chato. - Então, , quer dar uma volta comigo? - ele voltou a falar com .
- Claro! Pra onde vamos? - perguntou curiosa, juntando suas coisas.
- Você já vai ver. - pegou a mão dela e saíram dali, deixando Claire sozinha.
Os dois caminhavam pela orla da praia, distanciando-se cada vez mais das pessoas. se batia, na tentativa de matar os mosquitos. olhava de canto, rindo baixo.
- Eles realmente gostam de você, eu não sinto nada. - ele comentou.
- Eu disse! - ela falou, catando seu repelente na bolsa. - Espera, preciso passar.
Os dois pararam, e ela começou a borrifar o conteúdo em sua pele. Olhou para ele e viu que estava com o nariz franzido.
- Desculpe por isso. - ela falou, sorrindo sem graça.
- Tudo bem, eu compreendo.
- Vamos continuar.
- Já chegamos.
- Já? - ela não entendeu muito bem.
- Olhe em volta.
Ela olhou. Era lindo e tudo mais, mas qualquer lugar daquela cidade era lindo.
- Sem pessoas, sem barulhos, sem Claire. - ele explicou.
- Ah, sem Claire! Bem melhor. - os dois riram.
Sentaram-se na areia e ficaram conversando por um bom tempo.
- Pelo jeito você ama seu trabalho, não é? - ele perguntou, olhando para o horizonte, onde o Sol começava a se pôr.
- Amo sim, fora o estresse que me causa. - ela riu fraco. - Sabe, às vezes, não sei até que ponto amei demais meu trabalho, sem dar a chance de amar outra coisa, ou outra pessoa.
- Eu gostaria de amar meu trabalho assim.
- Não, você não gostaria. - ela olhou para ele. - Tenho certeza que você aproveitou sua vida amorosa muito mais que eu.
- Não sei te dizer... - ele ficou pensativo, ainda olhando reto. - Acho que não me realizei em nenhum sentido na vida. Estou aqui pelo George, não tenho um salário bom o suficiente que me sustente aqui.
- Talvez você só tenha tentado dar chance pras outras coisas também. - virou-se para ela.
- Eu dei chance e só me dei mal.
- Quem sabe a recompensa tenha demorado para aparecer? - ela se aproximou mais dele.
- Espero que essa recompensa seja muito boa. - ele disse, olhando para a boca de , que se aproximava cada vez mais.
Ela se apoiou com uma mão na areia, colocando a outra no rosto dele, acariciando sua bochecha. Selou seus lábios calmamente. segurou sua cintura, puxando-a para mais perto, aos poucos foram intensificando o beijo. Após um tempo, quebraram o beijo e não faziam questão de falar nada, apenas ouvia o barulho do mar e de suas respirações. encostou sua cabeça no ombro dele e logo em seguida levantou a cabeça olhando para ele.
- Que foi? - ele perguntou confuso.
- Você realmente parou de usar o desodorante. - ela disse, sorrindo.
- Claro, você ficava com aquela cara de nojo perto de mim. - ele disse, envergonhado, e ela riu. - Você teimosa não deixou de usar o repelente.
- Você acabou de ver que não posso ficar sem ele! - ela disse indignada.
- Ok, estou brincando. - ele riu, puxando a cabeça dela para seu ombro novamente. Tiveram alguns minutos em silêncio. - Quer sair comigo esta noite? Tipo, um jantar?
- É sério? Estamos tendo um encontro? - ela ergueu a cabeça novamente, e ele concordou. - Aceito. - sorriu e voltou a encostar a cabeça no ombro dele. - Meu Deus, quanto tempo isso não acontecia comigo. - falou e riu mais consigo mesma do que com ele, porém ele ouviu e riu fraco.
saiu do banho com a toalha enrolada no corpo, foi até o quarto e separou sua roupa. Iria para arrasar nesse jantar. Voltou para o banheiro e ficou em frente a pia. Passou a mão no espelho para desembaçar um pouco a fim de se ver. Olhou para o balcão da pia pensando o que faria primeiro. Incrível como tinha de tudo naquele banheiro. De coisas masculinas, como creme para barbear, até as femininas - o que era maioria, claro -, como creme hidratante de rosto, tônico facial adstringente, esponjas para banho, entre outras. Algumas dessas coisas já havia usado, como a esponja, no banho em que acabara de sair. Já tinha dito que ia para arrasar, não é? Um banho bem tomado com a esponja, tirando qualquer resquício de areia e pele morta com direito a sais e espuma era o início de sua arrumação. Resolveu usar o tônico agora, seria ótimo para limpar os poros, que deviam estar cheios de protetor solar, repelente, areia e sal do mar. O algodão acusou que ela estava certa. Porém agora devia estar toda limpa, bonita e cheirosa. Riu sozinha de seus pensamentos. Por fim, usou o secador pendurado na parede ao lado do espelho para secar suas lindas madeixas, encerrando com uma maquiagem simples, porém perfeita para a ocasião.
Ao voltar para o quarto e vestir seu lindo vestido tomara-que-caia vinho, que terminava um pouco acima dos joelhos, ouviu seu telefone tocar.
- Sim?
- Senhora , o senhor está a sua espera. Ele pediu para você encontrá-lo na recepção. - a recepcionista de sotaque engraçado deu o recado para .
- Obrigada! Diga que já estou descendo.
- Direi, senhora.
- Obrigada. - e desligou.
Correu para calçar seus sapatos cor pêssego, pegando suas pulseiras e bolsa de mão preta. Ia saindo do quarto ao mesmo tempo que colocava seu anel e brincos quando lembrou de algo importantíssimo. Voltou até a bancada onde estava suas coisas jogadas e borrifou o perfume em seu pescoço e logo em seguida em um pulso, que depois esfregou no outro (
veja o look).
- Agora, sim! - falou sozinha e saiu do quarto.
Chegou até a recepção dourada e não avistou . Estranhou, porém preferiu ficar ali esperando-o. Encostou-se no balcão de mármore, observando suas unhas cobertas pelo esmalte vermelho vivo. Combinava com seu look. Sorriu.
- Desculpe a intimidade, mas que cor é essa das suas unhas? - a recepcionista que havia visto logo que chegara perguntou baixinho para não ser notada por algum superior. Ela devia gostar de esmalte, pois aquele dia estava com um rosa, hoje estava com um lilás.
- Ai, acredita que eu não sei. - riu. - Talvez seja o morango silvestre, que foi um dos que a manicure me sugeriu.
- Ah, sim! Deve ser, conheço bem as cores dos esmaltes. - ela riu tímida.
- Esse seu está muito bonito também. - apontou para as mãos da recepcionista.
- Ah, esse é violet. Adoro ele! - riu baixinho.
- Sinto em ter que interromper essa conversa de menina de vocês, mas o carro está a nossa espera. - se juntou as duas, que conversavam bem de perto para se ouvirem e falou da mesma forma.
- Ei, aí está você! - sorriu e virou-se para vê-lo melhor. Estava extremamente lindo. Usava um terno de linho preto, camisa branca uma gravata azul escura com finas litras brancas na diagonal.
- Você está linda! - ele também a olhava da cabeça aos pés.
- Obrigada! Mas você não fica atrás. - sorriu e piscou um olho, deixando-o um pouco tímido.
- Vamos, bela moça? - ele ofereceu o braço para saírem do hotel. Ela enganchou seu braço no dele e foram até a saída.
Em frente ao resort estava estacionado um Cadillac Provoq Concept. olhava para o carro sem acreditar.
- não precisava pegar um carro tão... - disse, ao ver o manobrista entregar-lhe as chaves.
- Tem que estar a sua altura, . - ele sorriu, beijando o canto de sua boca. - Não fala pra ninguém, mas tem dedo do George no meio. - ele falou em seu ouvido, rindo em seguida.
- George, George... - riu também, caminhando até a porta do carona, a qual segurava educadamente para ela entrar.
Chegaram no restaurante La Hibichuela, com características Maia e comida típica. Desceram do belo Cadillac e entregaram as chaves para o manobrista. Ao entrar, viram como a decoração era bonita, tinha esculturas de madeira e de pedra no estilo Maia. Tinha mesas dentro e fora do estabelecimento. O lado de dentro era iluminado por uma luz fraca, deixando o ambiente bastante romântico. Já o lado de fora era mais iluminado, porém as velas nas mesas conservavam o ar romântico na rua também. Preferiram ficar na parte de dentro, pois havia um vento fresco na rua que poderia atrapalhar o jantar. Escolheram uma mesa no canto, perto de uma janela que não dava para a rua e sim para um jardim de inverno com uma uma escultura de algum personagem Maia na pedra.
- Que lugar lindo! - admirava a pedra esculpida ao seu lado.
- Sejam bem vindos, senhores. - um garçom veio atendê-los e com o péssimo hábito de chamá-los de senhor. Tudo bem que era etiqueta, mas preferia que chamassem ela de você. - Aqui está o menu. - colocou um na frente dela e outro na frente de .
- Obrigado. - agradeceu e abriu o cardápio.
- Vejo que são turistas. - o garçom continuou ali, eles concordaram. - Se aceitam uma sugestão minha...
- Claro, seria ótimo! - se animava.
- Já provaram a tequila mexicana, senhores? - ele jogou um olhar sedutor. e trocaram olhares.
- Ainda não.
- Aceitem que eu lhes traga uma dose para cada?
- Claro! - foi a vez de se animar e riu de sua reação.
- Ok, volto em seguida com suas doses. Enquanto isso, podem escolher uma entrada.
- Obrigada. - agradeceu antes dele se distanciar.
Os dois olhavam atentos para o menu, na escolha do que comeriam de entrada. Logo em seguida, o garçom voltou com as tequilas.
- Aqui estão. - colocou-as na mesa. - Já escolheram a entrada.
- Acho que a Salada da Casa seria uma boa, né, ? - disse, voltando a olhar o menu.
- Como o que você quiser. - ele sorriu para ela.
- Uma Salada da Casa, então. - pediu ao homem de pé ao lado da mesa deles.
- Ótima escolha. - disse, anotando em seu bloquinho. - Apreciem nossa tequila. - e saiu.
logo começou a colocar o sal na mão, se aprontando para provar a legítima tequila. riu de sua afobação. Os dois tomaram após um brinde, fazendo uma careta ao sentir o líquido passar pelas suas gargantas. Depois, chuparam o limão, fazendo outra careta. Ao terminar, riram da cena sincronizada.
- Wow, é muito boa! - falou vermelho.
- Muy caliente! - brincou.
Pediram outras doses depois daquela, enquanto a salada não chegava. Já haviam escolhido o prato principal também. Seria o Thermidor, uma lagosta com “molho supremo” - devia ser forte, se conhecessem bem a comida mexicana -, cogumelos, mostarda e vinho branco. Nada de camarões, lembrou.
A salada chegou quando os dois já estavam num nível alcoólico bastante alegre.
- Hm, tem um molhinho bom, prova! - esticou o braço até ele, segurando nas mãos um garfo cheio de salada mergulhada no molho.
aceitou a garfada, mas logo que sentiu o gosto parou de mastigar.
- Que foi? Não gostou? - ficou séria.
- Não, 'tá ótimo! - falou sem graça de boca cheia.
- Então, come logo. - ela disse, sorrindo.
- Ahã, 'tô comendo. - ele disse ainda de boca cheia.
- Engole, então! - começava a ficar nervosa. - Engole! - falou mais alto, chamando a atenção das pessoas que estavam em volta. - Qual é o problema, ?
- Nenhum. - engoliu tudo e e falou sem graça.
ficou sem entender o que havia acontecido. Minutos depois, começou a se coçar por inteiro, ficando cada vez mais vermelho.
- Cacete! - ele disse, coçando o pescoço.
- O que 'tá acontecendo com você? Está mais vermelho que pimentão! - estava ficando assustada.
- Eu tenho alergia a queijo. - ele disse, coçando o braço dessa vez.
- Queijo? Mas você comeu queijo?
- Sim. Tinha nesse molhinho da salada.
- Ah, meu Deus! - se desesperou. - Por que você não me avisou que era alérgico?
- Eu não sabia que vinha queijo no molho! E não achei que uma garfadinha pudesse fazer um estrago tão grande.
Os dois falavam alto, de uma maneira bastante aflita. O garçom que atendia eles logo chegou para saber o que se passava.
- Ele tem alergia a queijo! - falou, sem tirar os olhos de .
- Não seria melhor levá-lo a um hospital? - o garçom ficou preocupado também.
- Não! - berrou. - Espera aí, ando sempre preparada! - começou a mexer em sua pequena bolsa e sacou um remédio de dentro. - Anti-alérgico. Toma.
- Um simples anti-alérgico não vai fazer cócegas em mim. - disse com uma careta, coçando-se por inteiro.
- Não é um simples anti-alérgico. - ela fez uma careta tipo “dã”. - Esqueceu que eu sou alérgica a camarão? Se eu comer alguma coisa que tenha camarão e eu não saiba, eu tomo esse remédio. Foi meu médico que indicou. Toma logo, vai!
O garçom trouxe um copo de água rapidamente e tomou o tal remédio que tinha lhe dado. Passado vários minutos, a reação estava diminuindo até se tornar nada.
- Não é que é bom esse seu remédio? - ele disse, assim que estava mais calmo.
- Pessoa alérgica a alguma coisa precisa sempre andar com um desses. Uma dica pra você. - ela riu, também mais calma. - Mas como é que uma pessoa consegue ser alérgica a queijo? - falou incrédula.
- Ué, conseguindo.
- Tudo bem que eu sofro não podendo comer camarão, mas não poder comer queijo já é demais!
- Pois é, vou fazer o quê? - ele riu, sem graça. - Vamos comer logo nosso prato principal que eu 'tô com muita fome.
- Eu também! Ainda bem que esse não tem queijo. - ela riu.
- Nem camarão. - ele acompanhou.
O jantar terminou bem mais calmo. Apreciaram a lagosta mexicana com seu sabor caliente. E finalizaram com mais uma dose de tequila. Talvez não tivesse saído do jeito que pensava, mas nunca tivera um jantar tão divertido e romântico ao mesmo tempo. pensava o mesmo. Até porque nem se lembrava qual tinha sido seu último jantar romântico. Esperavam em frente ao bonito restaurante o manobrista trazer o carro. Estavam abraçados, se beijando intensamente, quando ouviram alguém forçar uma tosse. Quebraram o beijo para ver quem os interrompia. Ah, sim, era o manobrista com a chave do carro.
- Obrigado. - falou, sorrindo.
- Arriba, muchachos! - o manobrista fez um movimento com suas sobrancelhas, sendo infeliz com sua piada. Se é que aquilo era pra ser uma piada.
Os dois entraram no carro e começaram a rir da idiotice que o cara havia falado. Seguiram em silêncio o caminho de volta, até que parou o carro, deixando sem entender nada. Não havia nada em volta. E esse era o objetivo de .
Ele se aproximou dela, beijando seu pescoço. fechou os olhos, sentido o toque quente de dos lábios dele em sua pele.
- O que a gente 'tá fazendo aqui? - ela perguntou com a voz fraca.
- Aproveitando. - ele disse, ainda depositando beijos em seu pescoço.
Foi subindo até a boca dela e ela respondeu imediatamente. segurou fortemente seus cabelos perto da nuca, enquanto ele apertava sua cintura, tentando aproximar ainda mais seus corpos. No carro era um pouco difícil essa façanha. Então, , num pulo rápido, foi parar no colo de , sem quebrar o beijo. Ele sorriu entre o beijo, aprovando sua atitude. Suas mão agora vagavam pelas coxas de , que já afrouxava sua gravata, começando a abrir o primeiro botão.
- Espera. - ela disse, parecendo voltar a consciência.
- Que foi? - ele ficou preocupado. - Fui longe demais?
- Não, não é isso. - ela voltou para o seu lugar.
Quem tinha ido longe demais era ela. Estava tão necessitada assim? Por mais que não tivesse tempo para o amor, nem jantares românticos, arranjava um tempo para suas diversões. Não poderia estar tão necessitada assim. Mas não compreendia o que tinha que a deixava daquele jeito. Era um sentimento desconhecido por ela ainda.
- Desculpa. - ele ficou um pouco confuso, vendo ela olhar para o nada, quieta.
- Não peça desculpa. - ela olhou para ele com um olhar sacana e ele voltou a sorrir. - Só prefiro fazer isso num quarto. - ela sorriu.
- Achei que fosse radical. - ele sorriu, arrancando o carro.
- Já te disse que não sou radical, só praticava um esporte radical quando eu era mais nova.
- Ok, ok. Não 'tá mais aqui quem falou.
- Isso não quer dizer que eu não goste de coisas fora do convencional. - ela voltou a sorrir de modo sacana para ele, o que pareceu excitá-lo ainda mais. - Só que agora eu quero no quarto.
- Seu desejo é uma ordem, madame. - riu e ele acelerou mais, na tentativa de chegar o mais rápido possível no resort.
A porta do quarto se escancarou com violência quando o casal passou apressado. a fechou com o pé, prensando contra a parede, ocupando-se com as mãos por debaixo do vestido cor de vinho. Ele pôde sentir as formas firmes do quadril e da cintura fina, e brincou com o elástico de sua calcinha de renda macia. Ela o beijava com urgência, os lábios já estavam vermelhos pelo contato. Eles estavam colados um ao outro, beijando-se com voracidade. a puxou para mais perto dele, se isso fosse possível. Pegou-a no colo e ela, como se por instinto, cruzou as pernas pela cintura do homem, e percebeu que ele a queria tanto quanto ela precisava dele naquele momento. A gravata já frouxa foi arrancada rapidamente e jogada longe. mesmo se desfez do paletó. abriu os botões da camisa dele com muito mais pressa dessa vez, puxando-a para cima, a fim de tirá-la de dentro da calça e terminar de desabotoar. Quando estava totalmente aberta, passou as mãos pelo seu peitoral, subindo até os ombros e empurrando a camisa para trás. tirou as mãos de dentro do vestido para deixar a camisa cair no chão. Quando voltou a tocá-la, foi subindo sua mão até que o vestido estivesse praticamente fora do corpo dela. , então, desgrudou seus lábios dos dele para que a roupa passasse por sua cabeça. Suas mãos correram até o cinto de . Depois de lutar um pouco, conseguiu abri-lo, abrindo a calça logo em seguida, que caiu no chão, fazendo companhia às outras peças que ali estavam. Ele os conduziu até a cama e deitou-se por cima dela. Os dois ansiavam por aquilo, um pelo corpo do outro. Ele beijava seu colo, descendo devagar até o busto e deste até sua barriga. Sem conseguir aguentar mais um minuto, deitou-se por cima dela novamente, retirando as últimas peças de roupa que restavam.
- Gostei do seu convencional! - disse, após cair suado ao lado de . - Quero ver o seu inconvencional da próxima vez. - riu fraco, devido ao cansaço.
respondeu com uma risada fraca, pelo nariz. Olhou em seus olhos e lhe deu um longo selinho e, então, deitou novamente sua cabeça no peito dele. Os dois dormiram cansados depois da longa e extasiante noite.
Assim que ouviu o barulho dos pássaros e viu a luz do Sol adentrar o quarto, atravessando a fina cortina, levantou-se, tentando não acordar , que dormia como uma criança. Ele era lindo. Ela ficou observando-o por alguns minutos, pensando nos últimos acontecimentos; se aquilo era certo mesmo, se não estava se deixando levar por uma bobagem. Já sentia algo a mais por , não sabia dizer o que era, mas gosta daquele cara. Talvez isso tudo fosse uma grande idiotice e ela estava agindo como uma adolescente vivendo tudo aquilo, tão intensamente. Sua vida era o trabalho, não tinha como mudar agora, a essa altura do campeonato. Arrumou-se e saiu do quarto. Passou o dia inteiro sumida, pensando em tudo aquilo. Desperdiçou um dia de suas férias para pensar. Mas, tudo bem, fazia um bom tempo que não parava para pensar na sua vida. Férias podem servir para isso também.
Já passava do meio dia. Sentia um pouco de fome, mas não tinha vontade de voltar naquele momento. Estava bom ali, sozinha. Entretanto, aquele momento não durou muito e logo já se viu acompanhada novamente. Ouviu que alguém se aproximava. A pessoa sentou-se ao lado dela.
- Você não trouxe seu repelente. - esticou o braço, entregando-lhe o pote.
- Obrigada. - ela pegou e sorriu fraco.
- Por que você sumiu?
- Pra pensar.
- Aqui é um ótimo lugar para pensar, mas é sempre bom avisar as pessoas pra onde está indo, assim não deixa elas preocupadas.
- Não quis te deixar preocupado. - ela falou num tom de voz mais baixo, mas ainda audível.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes que não souberam contar. Olhavam para o horizonte; barcos passavam ao fundo, surfistas mais perto das pedras, banhistas do lado oposto e ali perto deles ninguém.
- Você gosta do silêncio, não é? - ela perguntou de repente.
- Eu gosto do sossego, silêncio não é a mesma coisa. - ele respondeu, pensando na profundidade do que tinha dito. - Mas por quê?
- Percebi que você procura sempre se afastar da multidão. Primeiro lá no passeio de barco, depois me convidou para vir pra cá, longe “das pessoas, dos barulhos, da Claire” - fez aspas com a mão, reproduzindo a fala de e riu, em seguida, lembrando-se de Claire.
- É, eu gosto do sossego. Claire não é sossego. - ele riu também.
- É bom! Acho que nunca tinha desfrutado disso. Uma coisa tão simples, mas tão longe da minha realidade. - ela disse, olhando para ele. - Na verdade, eu fujo disso. Eu procuro lugares cheio de gente, de barulho, de coisas para fazer para não me sentir sozinha; mas o que eu nunca tinha percebido é que mesmo com tudo isso em volta eu sou sozinha. Agora, aqui sozinha, literalmente, percebi que eu posso ser uma ótima companhia para mim mesma às vezes.
- Você pensou nisso tudo durante esse tempo aqui? - ficou um pouco perplexo com o que ouviu.
- Pensei. E em muitas outras coisas também. - voltou a olhar para frente.
- Por que você saiu do quarto sem falar comigo? Como se estivesse fugindo. - ele perguntou, um tempo depois.
- Eu não sei se estou fazendo a coisa certa, .
- O que seria o certo para você?
- Eu não sei. - demorou para responder, voltando a olhar para ele. - Essa história toda, foi tudo tão rápido. Eu não sei se devo continuar com isso.
- Foi tudo tão rápido e tão bom. - ele completou, olhando para ela também.
- É, foi. Mas assim que acabar as férias isso tudo pode terminar também. Eu não tenho idade para uma historinha de verão.
- Você se acha muito velha. - ele disse, balançando a cabeça negativamente. - Você é linda, jovem, tem muito o que viver, o que errar e o que corrigir.
- Você fala isso porque ainda tá nos vinte. - ela disse, dando uma pausa, olhando para a areia. - Outra coisa que não daria certo. Você é bem mais jovem, .
- , pare de falar bobagem. Números não dizem nada. A sua idade é você quem determina. - disse, levantando o rosto dela. - Olhe para mim. Concordo que não somos mais adolescentes e tudo mais. Mas você mesma me disse que não deu chance para o amor na sua vida. Por que não dá, agora? E não creio que isso seja só um amor de verão, .
- Não sei, não. Eu vivo bem com meu trabalho.
- Vive? - ele duvidou. - Você pode gostar do que faz, mas aposto que isso não te completa por inteira.
- Você pode muito bem estar falando essas coisas bonitas pra mim e assim que as férias acabar nem lembrar que eu existo. E quem é que vai sofrer nessa história?
- Eu não farei isso com você. Não vou te magoar, prometo. - segurou o rosto de . - Vamos dar uma chance? Pode ser que não dê certo, mas pode ser que dê. Não saberemos se não arriscarmos.
- Eu quero tanto dizer sim. - ela disse, colocando uma mão em cima da dele. - Ok, eu preciso ser um pouco mais radical, certo? - ela sorriu, sendo acompanhada por ele. - Talvez você esteja certo. Precisamos arriscar.
Ele sorriu largamente e a puxou para perto, beijando sua boca de uma maneira diferente das outras vezes que haviam se beijado. Era com desejo, carinho, afeto, proteção e, quem sabe, com amor.
- Prometo que compro um Cadillac Provoq Concept para você. - ele falou ao desfazer o beijo e ela riu.
- Preto! - ela exigiu, rindo mais ainda, abraçando-o com força e sentido um certo alivio no peito.
Alívio. Sim, alívio era o que sentia naquele momento. Estava com medo, mas quem não sente medo quando se arrisca a fazer algo desconhecido? Mas ela não voltaria atrás. Sentia que havia feito a coisa certa, independente do que aconteceria mais tarde. Finalmente havia se permitido ser livre. Livre para, enfim, se entregar ao amor.